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Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 1 LAVAGEM DE CAPITAIS (LEI Nº 9.613/98 ) INTRODUÇÃO CONTEXTO HISTÓRICO Segundo Gabriel Habib1, a expressão lavagem teve origem nos EUA, por volta da década de 1920, quando a máfia criou várias lavanderias, utilizando-se desse comércio formalmente legalizado para ocultar a origem criminosa de todo o dinheiro auferido ilicitamente, dando-lhe aparência de lícito. No Brasil, infelizmente, é bastante comum que criminosos sejam bem-sucedidos e consigam angariar expressiva quantidade de dinheiro com a prática de ilícitos. Contudo, a fruição descuidada de tais valores pode chamar a atenção de órgãos de fiscalização, tais como a Receita Federal, Banco Central e Polícia Federal, circunstância que exige do criminoso uma maior cautela ao exteriorizar sua riqueza. Assim, é por meio da lavagem de dinheiro que o criminoso buscará afastar a atenção das autoridades quanto à origem de seus bens, razão pela qual ganha em relevância conhecer os mecanismos de repressão desse ilícito. CONCEITO A lavagem de dinheiro consiste na atividade de transformar recursos financeiros obtidos ilicitamente em bens, aparentemente, lícitos, por meio de operações financeiras ou outras transações econômicas. FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS MUITO IMPORTANTE Por se tratar de procedimento, muitas vezes, complexo, a doutrina resolveu classificar a lavagem de dinheiro em 03 fases distintas: 1 HABIB, GABRIEL. LEIS PENAIS ESPECIAIS, VOL. ÚNICO, PÁG. 587. 2019 OBS: Para configurar o crime de lavagem de dinheiro não é necessário que se pratique todas as fases, bastando, portanto, apenas uma delas. INTRODUÇÃO (PLACEMENT) É a primeira fase da lavagem de capitais e consiste no afastamento do agente criminoso do produto do crime, tudo, no intuito de dificultar a origem do dinheiro. Nesta fase, o agente vai introduzir o recurso financeiro ilícito no mercado formal, por exemplo, por meio de depósitos bancários diluídos em pequenos valores ou compra de bens de fácil ocultação, como jóias ou obras de arte. DISSIMULAÇÃO (LAYERING) É nesta fase em que ocorre, de fato, a lavagem do dinheiro. Uma vez inserido o recurso financeiro ilícito no mercado formal, o agente buscará realizar diversas movimentações financeiras ou outras transações econômicas para impedir a descoberta da procedência ilítica dos valores. Por exemplo, imagine-se um site de apostas em que os apostadores ganhariam valores proporcionais a probalidade estatística dos resultados dos jogos. Nesse caso, ainda que os resultados apontassem margem de prejuízo para a “banca”, o negócio ainda seria vantajoso, pois seria possível justificar grande movimentação financeira, mesmo que diluídas em pequenas operações. FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS Introdução Dissimulação Integração Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 2 INTEGRAÇÃO (INTEGRATION) É nesta última fase que o patrimônio ilícito, já devidamente incorporado ao mercado econômico formal, é livemente movimentado pelo agente. Em regra, o agente reinsere os recursos ilícitos na economia por meio de investimentos em negócios lícitos. TIPOS PENAIS ART. 1º, CAPUT, DA LEI Nº 9.613/98 A atual redação do art. 1º, caput, da Lei de Lavagem de Dinheiro é: Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) VI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) VIII - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) Chama bastante atenção a existência de diversos incisos, todos revogados. Na realidade, tal fato tem relação direta com as chamadas gerações da lei de lavagem de capitais. DÚVIDA: Quais são as gerações da lei de lavagem de capitais? Em âmbito internacional, as primeiras leis de lavagem de capitais surgiram para reprimir o tráfico de drogas. Não há dúvidas de que o tráfico de drogas envolve vultosas quantias de dinheiro, razão pela qual surgiu dessa conduta criminosa as primeiras medidas para repressão da lavagem de capitais. Com o desenvolvimento dos mecanismos de repressão da lavagem de capitais, percebeu-se que tal conduta não se restringia ao crime antecedente de tráfico de drogas, ou seja, sua prática era muito mais comum e difundida. Nesse sentido, as leis de lavagem de capitais de 2ª geração apresentavam um rol taxativo de ilícitos antecedentes que permitiam a persecução penal pela ocultação dos bens ilícitos. É possível afirmar que a Lei nº 9.613/98, na sua origem, é classificada como de 2ª geração. Por fim, considerando que a existência de um rol taxativo de crimes antecedentes acaba por limitar em demasia a configuração da lavagem de capitais, as leis de 3ª geração acabaram por extinguir o rol taxativo, permitindo que qualquer ilícito seja antecedente da lavagem. Por exemplo, é o que ocorreu com a Lei nº 12.683/12, que revogou todos os incisos do art. 1º, caput, da Lei de Lavagem, já que neles constavam o rol taxativo dos crimes antecedentes. DÚVIDA: Os tipos penais previstos no Lei de Lavagem de Capitais admitem a modalidade tentada? MUITO IMPORTANTE 1ª Geração: Tráfico de drogas 2ª Geração: Rol taxativo 3ª Geração: Qualquer crime antecedente Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 3 A resposta é SIM. Os tipos penais contidos na Lei de lavagem de capitais admitem a modalidade tentada, nos termos do art. 1º, §3º: § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. Apesar de se tratar de disposição expressa em lei, o tema é bastante cobrado nas provas de concurso público. DÚVIDA: Esconder o dinheiro proveniente de propina nas vestes, na cintura e no paletó é considerado lavagem de capitais? A resposta é NÃO. No Info 955, o STF entendeu que a conduta descrita acima não configura o núcleo do tipo penal “ocultar”. É importante ressaltar que o tipo penal da Lei nº 9.613/98 não exige sofisticação no esquema de lavagem de capitais. Contudo, não é qualquer conduta praticada pelo agente que tem a aptidão de se amoldar ao art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/98. DÚVIDA: O mero recebimento de propina, mesmo que por interposta pessoa, configura o crime de lavagem de capitais? A resposta é NÃO. Segundo o STF (Info 904), o mero recebimento da propina proveniente da corrupção passiva não configura, por si só, o crime de lavagem de capitais, ainda que recebido por interposta pessoa. DÚVIDA: O recebimento de propina por meio de depósitos bancários fracionados pode configurar lavagem de dinheiro? A resposta é SIM. Neste caso concreto, julgado pelo STF, o Tribunal firmou o entendimento de queo pagamento de propina feito por meio de depósitos bancários de valores que não chamariam atenção das autoridades reguladoras seria suficiente para caracterizar o crime de lavagem de capitais. SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: “A”, agente público, recebe R$ 100.000,00 de propina. Para não chamar atenção da instituição financeira e, consequentemente, do BACEN, realiza 20 depósitos de R$ 5.000,00 em sua conta bancária. CARACTERÍSTICAS DO CRIME DE LAVAGEM DE CAPITAIS MUITO IMPORTANTE NATUREZA ACESSÓRIA Diz-se que a lavagem de capitais é um crime acessório (parasitário), pois depende da prática de uma infração penal antecedente. OBS: É importante frisar que a infração antecedente da lavagem de capitais pode ser um crime ou uma contravenção penal. A natureza acessória do crime de lavagem de capitais é evidenciada no art. 2º, §1º, da Lei nº 9.613/98: Art. 2º, § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. Nesse sentido, a peça acusatória deverá apontar a existência da infração penal antecedente, sendo, portanto, um requisito essencial para o recebimento da denúncia. DÚVIDA: O Ministério Público é obrigado a apresentar, na denúncia, uma descrição minuciosa da infração penal antecedente? TEMA DE APROFUNDAMENTO A resposta é NÃO. Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 4 Considerando que o crime de lavagem de capitais tem natureza acessória, é importante que haja a comprovação da existência de crime antecedente. Contudo, segundo o STJ (Info 657), o Ministério Público não é obrigado a descrever de forma exaustiva e minuciosa a infração penal antecedente no bojo da denúncia. Nesse sentido, basta que a peça acusatória aponte a existência de indícios suficientes de que a lavagem tenha origem nesse crime antecedente. NATUREZA AUTÔNOMA Apesar de ser um crime acessório, a lavagem de capitais é autônoma em relação ao crime antecedente. Isso quer dizer que não há relação de prejudicialidade entre a infração penal antecedente e o crime de lavagem de capitais. Por exemplo, se o réu obteve a extinção da punibilidade em razão da prescrição do crime antecedente, tal fato não terá influência na persecução penal do crime de lavagem de capitais. DÚVIDA: O que é autolavagem? É admissível no ordenamento jurídico brasileiro? A autolavagem ocorre quando o mesmo agente que praticou a infração antecedente realiza a lavagem de capitais. Segundo o STF (AP 470), é punível a autolavagem no Brasil. CRIME PERMANENTE MUITO IMPORTANTE Segundo o STF (Info 866), a lavagem de capitais na modalidade “ocultar” é classificada como crime permanente. Daí dizer que, em tese, admitiria a prisão em flagrante. 2 HABIB, GABRIEL. LEIS PENAIS ESPECIAIS, VOL. ÚNICO, PÁG. 595. 2019 Outra consequência importante é a incidência da Súmula nº 711 do STF: Súmula nº 711 do STF: “A lei pena mais gravosa aplica-se ao crime continuado ou permanente se era a lei vigente quando da cessação da permanência ou continuidade.” Em suma, por se tratar de crime permanente, caso sobrevenha lei penal mais grave, esta será aplicada caso a ocultação cesse durante sua vigência. TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA (TEORIA DAS INSTRUÇÕES DO AVESTRUZ) TEMA DE APROFUNDAMENTO De origem norte-americana, a teoria da cegueira deliberada tem relação com o elemento subjetivo do crime de lavagem de capitais. Segundo Gabriel Habib2, “essa teoria tem incidência caso o agente possua consciência da possível origem do dinheiro com o qual está tratando, mas, mesmo assim, deliberadamente cegue-se para tal fato (...) deixando de buscar informações que lhe permitam concluir por tal origem. Por exemplo, o vendedor de uma concessionária de veículos vende grande quantidade de carros que é pago em espécie. Por se tratar de dolo indireto eventual, a teoria da cegueira deliberada encontra grande resistência de aplicabilidade no Brasil. TIPOS PENAIS EQUIPARADOS À LAVAGEM DE CAPITAIS ART. 1º, §1º, DA LEI Nº 9.613/98 Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 5 O art. 1º, §1º, da Lei nº 9.613/98, traz as condutas relacionadas à segunda fase da lavagem de capitais (dissimulação): § 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - os converte em ativos lícitos; II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. ART. 1º, §2º, DA LEI Nº 9.613/98 O art. 1º, §2º, da Lei nº 9.613/98, traz as condutas relacionadas à terceira fase da lavagem de capitais (integração): § 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. CAUSA DE AUMENTO DE PENA Caso a lavagem de capitais ocorra de forma deliberada ou por intermédio de organização criminosa (ORCRIM), o art. 1º, §4º, da Lei nº 9.613/98 prevê aumento de pena de 1/3 a 2/3. COLABORAÇÃO PREMIADA A colaboração premiada não é um instituto exclusivo da Lei nº 12.850/13 (Lei de ORCRIM). Nesse sentido, a Lei de lavagem de capitais, antes mesmo da Lei de ORCRIM, previu a possibilidade de o envolvido colaborar com as investigações ou ação penal, nos termos do art. 1º, §5º: § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) DÚVIDA: O que é a colaboração premiada? A colaboração premiada ocorre quando o investigado/acusado, além de confessar a prática do delito, resolve colaborar com a elucidação dos fatos, fornecendo informações relevantes que irão auxiliar, efetivamente, na colheita de provas contra os demais envolvidos e, em contrapartida, recebe benefícios penais e processuais. AÇÃO CONTROLADA E INFILTRAÇÃO DE AGENTES IMPORTANTE: ALTERAÇÃO LEGISLATIVA – LEI Nº 13.964/19 Da mesma forma que ocorre com a colaboração premiada, a Lei de lavagem de capitais também previu os meios de obtenção de provas: ação controlada e infiltração de agentes, nos termos do art. 1º, §6º: § 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da ação controlada e da infiltração de agentes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) DÚVIDA: O que é a ação controlada? Aumento de pena (1/3 a 2/3) Reiteração ORCRIM Professor: JULIANO YAMAKAWALEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 6 É um instrumento de investigação em que a autoridade policial (ou administrativa), mesmo diante de indícios da prática de uma conduta delituosa, retarda a intervenção para um momento posterior e mais conveniente do ponto de vista da investigação. DÚVIDA: o que é infiltração de agentes? É uma técnica de investigação que consiste em implantar, dentro das organizações criminosas, agentes policiais disfarçados que, dessa forma, conseguirão obter elementos de prova impossíveis de serem coletados por outros métodos de investigação. DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS ESPECIAIS COMPETÊNCIA DÚVIDA: Qual é a competência criminal para a lavagem de capitais? A resposta é DEPENDE. A competência será fixada em razão da infração antecedente. Assim, caso o crime antecedente seja da esfera federal, competirá à Justiça Federal processar o crime de lavagem de capitais. Da mesma forma, se a infração antecedente for da esfera estadual, a competência será, portanto, da Justiça Estadual. O art. 2º, inciso III, da Lei nº 9.613/98, tem a seguinte redação: III - são da competência da Justiça Federal: a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) CITAÇÃO POR EDITAL MUITO IMPORTANTE O art. 2º, §2º, da Lei nº 9.613/98 tem a seguinte redação: § 2o No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo Por outro lado, o art. 366 do Código de Processo Penal: Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. A regra aplicável ao crime de lavagem de capitais é bem específica e, portanto, muito cobrada nas provas de concurso público. Nesse sentido, se, no rito ordinário do Código de Processo Penal, a citação por edital suspende o curso do processo, na apuração de lavagem de capitais, será nomeado um defensor dativo com o prosseguimento do feito. COMPETÊNCIA FEDERAL Infração antecedente federal COMPETÊNCIA ESTADUAL Infração antecedente estadual Lei nº 9.613/98 Na citação por edital, o processo prossegue Código de Processo Penal Na citação por edital, há suspensão do processo e do prazo prescricional Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 7 MEDIDAS ASSECURATÓRIAS DE BENS MUITO IMPORTANTE O art. 4º da Lei nº 9.613/98 disciplina a medida assecuratória de bens em desfavor do investigado/acusado, nos seguintes termos: Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes. § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (...) § 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1o. Inicialmente, é importante destacar a previsão de atuação oficiosa do juiz em relação à decretação de medidas assecuratórias de bens no âmbito da Lei de Lavagem de Capitais. Tal discussão ganha relevância em razão da recente alteração legislativa advinda da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrimes) no Código de Processo Penal (CPP), que proibiu a possibilidade de o Poder Judiciário decretar medidas cautelares (incluindo a prisão preventiva) de ofício. Há quem possa defender a tese de que a Lei de Lavagem de Capitais é especial em relação ao CPP e a alteração dada pelo Pacote Anticrimes não teria a aptidão de afastar a previsão do art. 4º, caput, da Lei nº 9.613/98. Particularmente, acho temerário adotar qualquer posicionamento, seja pela possibilidade ou pela impossibilidade, antes que os Tribunais Superiores se manifestem quanto ao tema. Para efeito de concurso público, acredito que a questão, se abordar o tema, pedirá a literalidade do dispositivo legal, oportunidade em que o aluno deverá adotá-la como resposta. Por outro lado, o art. 4º, §1º, da Lei nº 9.613/98 aponta as hipóteses em que será possível a alienação antecipada dos bens apreendidos: Por fim, o art. 4º, §3º, da Lei nº 9.613/98 exige o comparecimento pessoal do acusado para a liberação dos bens apreendidos. Na prática, tal disposição legal é bastante interessante, pois em investigações que envolvem lavagem de capitais é muito comum os pedidos de levantamento das constrições, mas, dificilmente, o “dono” dos bens tem interesse de se apresentar como tal, já que, certamente, precisará comprovar sua origem lícita. DISPOSIÇÕES GERAIS As disposições gerais foram acrescidas à Lei de Lavagem de Capitais por meio da Lei nº 12.683/12, destacando-se os seguintes artigos: Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito. Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e ALIENAÇÃO ANTECIPADA Risco de deteriorização Custo de manutenção Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 8 demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. Em relação ao art. 17-B da Lei nº 9.613/98, há previsão legal de um importante instrumento investigatório que é a possibilidade de os órgãos de persecução penal terem acesso aos dados cadastrais dos investigados/acusados em diversos bancos de dados e sem necessidade de autorização judicial. Tal instrumento possui correspondente similar na Lei nº 12.850/13 (Lei das ORCRIM). MUITO IMPORTANTE Por fim, o art. 17-D da Lei nº 9.613/98 apresentou um tema bastante polêmico em sede doutrinária. Trata-se do afastamento cautelar do servidor público em decorrência de seu indiciamento. DÚVIDA: O que é o indiciamento? Segundo Renato Brasileiro3, o indiciar é atribuir a autoria de uma infração penal a uma pessoa. DÚVIDA:Quem tem a atribuição de indiciar? Por se tratar de um ato resultado das investigações policiais, trata-se de atribuição privativa do Delegado de Polícia4. Portanto, a controvérsia reside no afastamento cautelar da função pública sem necessidade de apreciação do Poder Judiciário, mas que poderá autorizar, posteriormente, o seu retorno. EXERCÍCIOS 1. (CESPE – 2018/Polícia Federal - Perito) Acerca de crédito tributário, legislação tributária e crime de lavagem de capitais ou ocultação de bens, direitos e valores, julgue o item que se segue. O crime de 3 Lima, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 2020, pág.223. lavagem de capitais ou ocultação de bens, direitos e valores não é admitido na modalidade tentada. 2. (CESPE – 2018/Polícia Federal - Delegado) Com referência à interceptação de comunicação telefônica, ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, ao crime de lavagem de capitais e a crimes cibernéticos, julgue o seguinte item. Situação hipotética: Álvaro, servidor público federal, foi, por cinco anos, presidente da comissão de licitações de determinado órgão público federal. Em diversas ocasiões, Álvaro recebeu valores e bens para favorecer empresas nos certames licitatórios, e os transferiu para o patrimônio de Flávio, seu irmão, que os utilizava nos negócios da empresa da família, com vistas a ocultar o ingresso desses recursos e a sua origem ilícita. Assertiva: Nessa situação, Álvaro e Flávio responderão pelo crime de lavagem de capitais, e será da justiça federal a competência para processar e julgar a ação penal. 3. (CESPE – 2012/TCE-ES - Auditor) Com base no que dispõe o Código Penal (CP) e na interpretação doutrinária da legislação penal, julgue o item seguinte. Considere que Jonas, servidor público, tenha dissimulado a natureza, a origem e a propriedade de bens oriundos de infração penal e que, descoberto, tenha manifestado interesse em exercer a colaboração criminal premiada. Nesse caso, as práticas mencionadas caracterizam crime de lavagem de dinheiro, podendo a colaboração premiada ser exercida a qualquer tempo. 4. (CESPE – 2018/ABIN - Oficial) João integra conhecida organização criminosa de âmbito nacional especializada em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Com o objetivo de tornar legal o dinheiro obtido ilicitamente, ele convenceu Pedro e Jorge, conselheiros fiscais de uma cooperativa de mineradores que atuam na região Norte do país, a modificar valores obtidos em uma mina de ouro. Pedro, sem conhecer a fundo a origem dos valores, concordou em fazer a transação. Antes de concluí-la, entretanto, ele desistiu da ação, e tentou convencer Jorge a fazer o mesmo. Tendo Jorge decidido prosseguir no esquema, Pedro, então, fez uma denúncia sigilosa à polícia, que passou a investigar o fato e reuniu elementos necessários ao indiciamento dos envolvidos. Antes que concretizasse a ação final de registro de valores, Jorge foi impedido pela polícia, que o prendeu em flagrante. Acerca dessa situação 4 Lima, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 2020, pág.225. Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 9 hipotética, julgue o item subsequente. Em relação ao crime de lavagem de dinheiro, a pena de João poderá ser aumentada de um a dois terços, em razão de o crime ter sido cometido por intermédio de organização criminosa. 5. (CESPE – 2015/TCE-RN - Auditor) A respeito dos crimes de lavagem de dinheiro e de abuso de autoridade, julgue o item subsequente. A lei brasileira que criminaliza a lavagem de dinheiro classifica-se como de terceira geração, pois admite que o delito de lavagem de dinheiro pode ter como precedente qualquer ilícito penal. 6. (CESPE – 2013/Polícia Federal - Delegado) No que se refere aos crimes de lavagem de dinheiro, julgue o item subsecutivo com base no direito processual penal. Conforme a jurisprudência do STJ, não impede o prosseguimento da apuração de cometimento do crime de lavagem de dinheiro a extinção da punibilidade dos delitos antecedentes. 7. (CESPE – 2013/Polícia Federal - Delegado) No que diz respeito aos crimes previstos na legislação penal extravagante, julgue o item subsequente. O crime de lavagem de capitais, consoante entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência, divide-se em três etapas independentes: colocação (placement), dissimulação (layering) e integração (integration), não se exigindo, para a consumação do delito, a ocorrência dessas três fases. 8. (FCC – 2019/MPE-MT – Promotor) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos tribunais superiores acerca do crime de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores (Lei n° 9.613/1998), a) a pena será aumentada de metade, se os crimes definidos na Lei n° 9.613/1998 forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. b) somente constitui o crime de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores se o valor em pecúnia envolvido tiver decorrido de um dos crimes referidos no rol exaustivo da Lei n° 9.613/1998. c) a lei de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, muito embora criminalize a conduta de ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de determinados crimes, é omissa quanto à tipificação das condutas de importar ou exportar bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. d) não é punível a tentativa de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores. e) é adotada nos tribunais superiores brasileiros a doutrina norte-americana que aponta a existência de três fases distintas do crime de “lavagem” de bens, direitos e valores: a colocação, o encobrimento e a integração. 9. (AOCP – 2018/SUSIPE-PA – Agente Prisional) Segundo a Lei nº 9.613/1998, havendo indícios do cometimento de infração penal, poderão ser decretadas medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado. Nesse sentido, a alienação antecipada para preservação de valor de bens sob constrição será decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por solicitação da parte interessada, mediante petição autônoma, que será autuada em apartado e cujos autos terão tramitação em separado em relação ao processo principal. Assinale a alternativa correta acerca da referida alienação antecipada. a) O requerimento de alienação deverá conter a relação dos bens que se pretende assegurar, com a descrição breve de cada um deles, resguardando-se as informações sobre quem os detém e lacração do local onde se encontram. b) O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos principais, e intimará o Ministério Público e os advogados de defesa do investigado ou acusado. c) Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por despacho, homologará o valor atribuído aos bens e determinará que sejam alienados em leilão ou pregão, preferencialmente presencial, por valor não inferior a 60% (sessenta por cento) da avaliação. d) Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará que sejam alienados, obrigatoriamente em pregão eletrônico, por valor não inferior a 70% (setenta por cento) da avaliação. e) Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempreque estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. Professor: JULIANO YAMAKAWA LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES MUDE SUA VIDA! 10 (IBADE – 2017/PC-AC – Delegado) A fase da lavagem de capitais, de acordo com as definições do COAF, em que são realizados diversos negócios e movimentações financeiras, a fim de impedir o rastreamento e encobrir a origem ilícita dos valores é denominada pela doutrina de: a) ocultação. b) colocação c) destinação d) evaporação e) integração Comentário da questão 1: A questão está equivocada, diante da redação do art. 1º, §4º, da Lei de lavagem de capitais, que admite a modalidade tentada nos tipos penais. Comentário da questão 2: De fato, considerando que o crime antecedente é de competência da Justiça Federal, o crime de lavagem de dinheiro também o será, nos termos do art. 2º, inciso III. Comentário da questão 3: A Lei de lavagem de capitais admite a possibilidade de colaboração premiada, nos termos do art. 1º, §5º. Comentário da questão 4: Há causa de aumento de pena caso a lavagem de capitais ocorra de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa, nos termos do art. 1º, §4º. Comentário da questão 5: Apesar da Lei de lavagem de capitais, quando promulgada, ser de 2ª geração (existência de rol taxativo), a Lei nº 12.863/12, ao revogar os incisos do art. 1º, transformou-a em 3ª geração. Comentário da questão 6: O crime de lavagem de capitais é autônomo em relação à infração anterior, razão pela qual não há prejudicialidade por conta da extinção de punibilidade. Comentário da questão 7: As fases da lavagem de capitais são: 1) colocação; 2) dissimulação; 3) integração. Comentário da questão 8: Letra E. De fato, com a adoção da teoria norte-americana, as fases da lavagem de capitais são: 1) colocação; 2) dissimulação; 3) integração. Comentário da questão 9: Letra E. De fato, as hipóteses autorizadoras de alienação antecipada são: risco de deterioração e custo de manutenção. Comentário da questão 10: Letra A. A fase da lavagem descrita no enunciado é a dissimulação (ocultação), em que o agente tenta encobrir a origem ilícita do dinheiro, por exemplo, por meio de diversas operações financeiras. GABARITO 1. Errado 2. Certo 3. Certo 4. Certo 5. Certo 6. Certo 7. Certo 8. E 9. E 10. A
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