Prévia do material em texto
27/03/2020 Introdução à Educação a Distância https://sistemas.unip.br/ava/li/?token=48761eaad419475cba844b39dbb876e8&id=36f4f488-1e9e-4499-9440-7396015b9980 1/5 1 - UM POUCO DE HISTÓRIA: DAS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS ÀS UNIVERSIDADES DO SÉCULO XXI Segundo Buarque (1994), em 1486, na Espanha, por ocasião da viagem de Colombo à Índia, e conforme pedido feito pelos reis católicos Fernando e Isabel, uma comissão da Universidade de Salamanca avaliou o projeto do explorador italiano. Seria possível o empreendimento tal como o navegador estava propondo? Os acadêmicos responsáveis por essa análise concluíram que não havia como o empreendimento dar certo: Colombo cometera erros nos cálculos em relação ao diâmetro da Terra. Sabe-se, hoje, que os cálculos de Colombo estavam efetivamente errados; no entanto, a Universidade de Salamanca equivocava-se em recomendar que a viagem não fosse feita. Indiferente a isso, Colombo viajou e, em vez de encontrar as terras que pretendia explorar, descobriu a América. Pode-se perguntar: faltou ousadia e espírito de aventura aos acadêmicos de Salamanca? É provável que sim. As universidades do século XV, tal como algumas universidades do século XXI – e como outras instituições, não necessariamente na área da educação –, tendem a proteger seus dogmas e suas certezas. Como abandonar o que se imagina saber em troca do ainda desconhecido? (BUARQUE, 1994). Por isso, as universidades e outras instituições temem mudanças, resistindo, em especial, ao que pode provocar transformações em suas práticas e estruturas. Continuar leitura SAIBA MAIS Sugerimos dois filmes que propiciam uma boa noção de como era a questão do racionalismo e do método científico, bem como a troca de saberes relacionados à medicina, à astronomia e à filosofia na Idade Média. O FÍSICO. Dir. Philipp Stölzl. Alemanha: 2013. 150 minutos. O NOME da rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. Itália: 1986. 126 minutos. 1 / 9 27/03/2020 Introdução à Educação a Distância https://sistemas.unip.br/ava/li/?token=48761eaad419475cba844b39dbb876e8&id=36f4f488-1e9e-4499-9440-7396015b9980 2/5 Diversas fontes indicam que as primeiras universidades surgiram em Paris e Bolonha. Universitas era o termo utilizado para expressar qualquer associação legal; no entanto, em pouco tempo esse termo passou a ser utilizado para nomear […] a associação de alunos e professores visando fazer avançar o conhecimento. Duas características básicas já estavam presentes: o objetivo do estudo livre e o caráter associativo dos estudiosos em um grupo. Mais dois outros aspectos são igualmente fortes: o desejo de assegurar liberdade às atividades que praticavam e a necessidade de um fórum particular para os debates (BUARQUE, 1994, p. 21). Essas primeiras universidades foram construídas em centros urbanos, nas cidades que se organizavam e cresciam em torno das feiras comerciais em que o excedente produzido nos feudos era trocado e onde os bens e mercadorias vindos do Oriente eram oferecidos. No novo mundo que surgia, as cidades assumiam cada vez mais importância, e nelas instalavam-se e se fortaleciam as corporações de ofícios (as guildas, uma espécie de sindicato de profissionais especializados). Nessas cidades, a população formada por artesãos e mercadores vivia sem se submeter às leis dos senhores feudais e, portanto, nada mais natural que fossem elas o habitat ideal para a construção dos centros do saber. O novo mundo que emergia da derrocada do feudalismo exigia conhecimentos que permitissem as grandes navegações, facilitassem o aumento de produtividade no campo e estimulassem o desenvolvimento de instrumentos para perscrutar os céus e explorar a terra. Para que isso fosse possível, era necessário que o conhecimento fosse produzido e reproduzido em centros destinados aos estudos da natureza, da filosofia e da teologia. Assim, entende-se “a importância das universidades medievais como instituição que construiu e preservou o patrimônio histórico do Ocidente, inaugurando uma nova forma do conhecimento” (OLIVEIRA, 2007, p. 115). Continuar leitura Uma das primeiras universidades surgiu na Itália, em Bolonha, em meio a escolas episcopais e particulares. Na Universidade de Bolonha, criada em 1088, ensinava-se Direito, e seu curso atraiu alunos de todas as partes da Europa. Em seguida, surgiu a Universidade de Oxford, em 1096, na Inglaterra. Sobre Oxford, o historiador francês e sociólogo Alexis Tocqueville (1805-1859) diria: 1 / 9 27/03/2020 Introdução à Educação a Distância https://sistemas.unip.br/ava/li/?token=48761eaad419475cba844b39dbb876e8&id=36f4f488-1e9e-4499-9440-7396015b9980 3/5 Oxford é agora uma das cidades mais curiosas que existem na Europa. Dá muito bem a ideia das cidades feudais da Idade Média. Vê-se lá reunidas numa superfície bastante estreita dezenove faculdades, a maioria das quais conserva com exatidão a arquitetura gótica. (…) ela me parece bastante superior, se não à arquitetura antiga, pelo menos à nossa arquitetura moderna. Tem, além do mais, o mérito de ser original. O primeiro sentimento que se experimenta quando se visita Oxford é um respeito involuntário pela antiguidade que fundou estabelecimentos tão imensos a fim de facilitar o desenvolvimento do espírito humano, e pelas instituições políticas do povo que as preservou intactas atrás dos tempos (TOCQUEVILLE, 2000 apud OLIVEIRA, 2007, p. 118). Figura 3 – Universidade de Oxford, Inglaterra Continuar leitura Uma das primeiras universidades surgiu na Itália, em Bolonha, em meio a escolas episcopais e particulares. A Universidade de Bolonha foi criada em: 1 / 9 27/03/2020 Introdução à Educação a Distância https://sistemas.unip.br/ava/li/?token=48761eaad419475cba844b39dbb876e8&id=36f4f488-1e9e-4499-9440-7396015b9980 4/5 Em termos de práticas de ensino, duas estratégias eram utilizadas: a leitura (lectio) e o questionamento (quaestio). O ensino compreendia a leitura e os comentários de textos e obras tidas como adequadas; nos cursos de Artes, a lógica e a dialética faziam parte do currículo. O jurista formado pela Universidade de Bolonha precisava ser aprovado no examen (um exame privado) e no conventus publicus, um exame público similar a uma cerimônia de nomeação. Nesta, conduzida de forma pomposa em alguma catedral, o aluno discursava e defendia uma tese por meio da arguição de seus colegas. No caso de um artista da Universidade de Paris, os procedimentos eram distintos: após um primeiro exame, o candidato realizava um debate com um professor e, posteriormente, respondia a perguntas de um júri de docentes, mostrando sua competência para seguir a carreira universitária (LE GOFF, 1996). Continuar leitura Exemplo de aplicação Ao longo do tempo, as universidades foram se adaptando às necessidades da sociedade que as organizavam e as mantinham. A Revolução Francesa tingiu as universidades da França com as cores dos movimentos em prol da liberdade e da igualdade. Posteriormente, a universidade napoleônica organizou-se em torno dos projetos do Estado e da divulgação da língua nacional: “cartesiana, tecno-profissional e guia crítico-espiritual do Estado (moderno), [ela] reafirmaria a ilustração francesa através de uma universidade estatal de ensino” (PEREIRA, 2009, p. 43). 1 / 9 27/03/2020 Introdução à Educação a Distância https://sistemas.unip.br/ava/li/?token=48761eaad419475cba844b39dbb876e8&id=36f4f488-1e9e-4499-9440-7396015b9980 5/5 A este contexto social, político e econômico também está associada a criação da Universidade de Berlim, em 1808, no início do século XIX, e que acabou por se tornar modelo e exemplo de universidade moderna. Seu principal objetivo era opor-se aos moldes anteriores. Naquele instante, a pesquisa científica já se encontrava distante das amarras do mundo religioso; por isso, a universidade tinha como metas promover o desenvolvimento científico e, por outro lado, auxiliar no processo de formação intelectual e moral da elite burguesa. Esse projeto se manifestou, emespecial, em torno de alguns eixos: […] a formação através da pesquisa; a unidade entre o ensino e pesquisa; a interdisciplinaridade; a autonomia e a liberdade da administração da instituição e da ciência que ela produz; a relação integrada, porém autônoma, entre Estado e Universidade; a complementaridade do ensino fundamental e médio com o universitário (PEREIRA, 2009, p. 31). Figura 6 – A Universidade de Berlim, em 1900 No projeto da universidade berlinense, cientistas de diferentes disciplinas trabalham de forma colaborativa, tendo como objetivo o desenvolvimento da ciência, de maneira a não se submeter a nenhuma força exterior (PEREIRA, 2009, p. 35). As universidades medievais transformaram-se em centros de saber e eixos disseminadores da cultura do Iluminismo nos séculos XVIII e XIX; no início do século XX, elas tiveram de se adaptar às exigências dos Estados que precisavam se fortalecer e se consolidar – cultural e geograficamente. Em tempos posteriores, elas tiveram que superar outros desafios, em especial os advindos da globalização e internacionalização da economia. E no Brasil? O que houve de específico no processo de criação e de constituição das universidades? Considerando-se o caráter multifacetado da sociedade brasileira, tal percurso merece ser investigado com mais profundidade, como veremos a seguir. 1 / 9