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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS FLÁVIO NASCIMENTO DE SOUSA FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO MATERIAL DE APOIO FLÁVIO NASCIMENTO DE SOUSA COLABORADOR SOBRAL-CEARÁ 1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS 2 NÚCLEO TEMÁTICO: INICIAÇÃO AO CONHECIMENTO EDUCACIONAL 1. Ementa: História, Historiografia e Educação: uma história disciplinar da História da Educação. Os processos de transmissão cultural das sociedades ocidentais e brasileira a partir do século XIX. A Educação no Ocidente: século XIX, século XX e época atual. Modernização e escolarização no Brasil: grupos escolares, escola nova, tecnicismo e formação da cidadania. A importância da História da Educação na formação do educador. A História da Educação: diferentes concepções. Campos de atuação da História da Educação. 2. Objetivo Geral Apreender os diferentes processos de transmissão cultural das sociedades humanas, particularmente das sociedades ocidentais e brasileira na época contemporânea, possibilitando ao estudante a compreensão articulada e coerente dos processos educacionais do passado e suas possíveis relações com a realidade educacional da atualidade. 3. Objetivos Específicos * Conhecer o processo de constituição da História da Educação como disciplina vinculada a formação de professores e como campo de pesquisa histórico-educacional; *Compreender os conflitos e combates em torno da construção dos modelos escolares disseminados nas sociedades contemporâneas e brasileira; * Reconhecer os processos histórico-educacionais que antecederam a montagem do sistema educacional brasileiro nos séculos XIX e XX; * Estudar o processo de modernização da escolarização no Brasil; * Perceber o campo de atuação da História da Educação e do historiador. 4. Conteúdo Programático Unidade I: História, Historiografia e Educação: uma história disciplinar da História da Educação. O aspecto disciplinar da História da Educação: interpretação e heurística. Lugares e saberes no itinerário da disciplina História da Educação. Situações e desafios contemporâneos para a História da Educação Unidade II: A Educação no Ocidente: Século XIX, Século XX e Época Atual. Características da educação contemporânea: educação e ideologia e novos sujeitos educativos. Conflitos educativos no Séc. XIX: liberalismo, romantismo, positivismo, anarquismo e socialismo. As propostas educativas do Séc. XX: escolanovismo e pragmatismo radical, pedagogia marxista, pedagogia cristã, pedagogia cognitiva e tecnologia educativa, desescolarização e cultura midiática. Unidade III: As estratégias de formação de cidadãos/súditos católicos no Brasil Império. Características educativas do Brasil Império. A prioridade a formação das elites condutoras: escolas secundárias e superiores. A educação popular negada: a permanência da escravidão. O ideário monarquista, católico e conciliador do Império Brasileiro Unidade IV: Modernização e escolarização no Brasil: A emergência dos grupos escolares como projeto republicano. Combates pela implantação da escola nova no Brasil. A imposição do tecnicismo pedagógico. A busca de uma escola que forme o cidadão, o profissional e o ser. 3 SUMÁRIO 1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DADOS SOBRE SUA ORIGEM .............................................. 4 2. O MUNDO GREGO E SEU PROCESSO DE EDUCAÇÃO .................................................... 5 2.2. O Que é Humanitas – Paideia (Características Gerais da Educação Grega) ......................... 9 3. A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ......................................................................................... 10 3.1. Linha do Tempo – Educação e Desenvolvimento ................................................................. 11 3.2. Aspectos Históricos da Educação e sua Gênese ................................................................. 11 3.3. Educação no Império ............................................................................................................ 15 4. A ESCOLA NOVA .................................................................................................................. 16 5. A ESCOLA TECNICISTA ........................................................................................................ 18 6. EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: QUAL O SENTIDO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR HOJE? ......................................................................................................................................... 20 7. EDUCAÇÃO NO BRASIL: A HISTÓRIA DAS RUPTURAS ................................................... 22 7.1. Período Jesuítico (1549 - 1759) ........................................................................................... 24 7.2. Período Pombalino (1760 - 1808) ......................................................................................... 24 7.3. Período Joanino (1808 – 1821) ............................................................................................. 25 7.4. Período Imperial (1822 - 1888) ............................................................................................. 26 7.5. Período da Primeira República (1889 - 1929) ....................................................................... 26 7.6. Período da Segunda República (1930 - 1936) ..................................................................... 27 7.7. Período do Estado Novo (1937 - 1945) ................................................................................ 28 7.8. Período da Nova República (1946 - 1963) ............................................................................ 28 7.9. Período do Regime Militar (1964 - 1985) .............................................................................. 29 7.10. Período da Abertura Política (1986 - 2003) ......................................................................... 30 8. REPENSANDO A EDUCAÇÃO (POSSIBILIDADE E LIMITES) ............................................. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 33 4 1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DADOS SOBRE SUA ORIGEM Os historiadores da educação sabem que a História da Educação foi criada, como especialidade da História, em diferentes lugares, no final do século XIX. Nesse processo, como em qualquer campo disciplinar, aconteceram e ainda acontecem polêmicos debates em decorrência do modelo que conformou o seu processo de criação e consolidação. Mais uma vez, podemos perguntar: que modelo é esse? Que tradição esse modelo instituiu? Atualmente, é consenso o entendimento de que a História da Educação se construiu como parte da Filosofia da Educação. Relembramos ao leitor que essa ideia, muito divulgada e aceita, movimenta o debates obre a mudança no perfil da disciplina de História da Educação ao longo do século XX. Pesquisadores do campo da História da Educação vêm estudando os fatores que levaram à aproximação da História e da Filosofia da Educação. Identificamos que não são poucos os fatores apontados como responsáveis por essa aproximação. Na sequência, você vai conhecer alguns deles. A História da Educação, apesar de ser criada como uma das especializações da História, desenvolveu-se muito mais próxima do terreno da Educação, da Pedagogia e, portanto, da Filosofia. O modelo que partilhou as mesmas diretrizes para a História da Educação e para a Filosofia da Educação consagrou-se em 1939, no Brasil, com a criação do Curso de Pedagogia, “como uma seção na Faculdade Nacional de Filosofia” (Decreto-Lei nº1.190) (LOPES, 1986, p. 17). Nesse período, a História da Educação adquiriu o status de disciplina obrigatória. Segundo o Prof. Dr. Dermeval Saviani, filósofo da educação da Unicamp, foi em 1946, com a promulgação em âmbito nacional da Lei Orgânica do Ensino Normal (Decreto-Lei nº 8.530), que essa disciplina, juntamente com a Filosofia da Educação, passou a integrar o currículo de todasas escolas normais do país (SAVIA-NI, 2004; VIDAL, 2003). Posteriormente, com a LDB 5692/61 e com o Parecer 251/62, o Conselho Federal de Educação especificou que o currículo mínimo dos Cursos de Pedagogia deveria contar com a disciplina História da Educação. E assim é até hoje. Conforme os agentes – professores e alunos – da História da Educação iam se familiarizando com o universo dos conteúdos da Educação e da Pedagogia em geral (como as doutrinas pedagógicas e os pedagogos consagrados), os estudos e as pesquisas voltavam-se, como entendem Lopes e Galvão (2001, p. 28), para a história das ideias pedagógicas. A fonte para o desenvolvimento desses recortes temáticos era a obra dos grandes pensadores. Nesse contexto, também observamos que muitos dos compêndios e dos livros didáticos utilizados em História da Educação Geral eram osmanuais da Filosofiaa da Educação, como os de F. Larroyo (1944), R. Hubert (1949),Paul Monroe (1949), Lorenzo Luzuriaga (1951) e Abbagnano (1957), entre outros (LO-PES; GALVÃO, 2001, p. 28). Para a historiadora da educação da USP, Diana Vidal, “essa integração reforçou o afastamento da escrita da história da educação da prática dos arquivos, estimulando as in- terpretações que pretendiam conferir-lhe uma importância moral” (VIDAL, 2003, p. 13). Outro dado é a constatação de que a educação e seus objetos não apresentava muito interesse para os historiadores de ofício. Lopes e Galvão (2001, p. 26) assinalam que “no campo da História, a educação tem sido, tradicionalmente, um objeto ignorado ou considerado pouco nobre”. 5 Um bom exemplo é o livro organizado pelos historiadoresCiro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfás, Domínios da História: Ensaios de Teoria eMetodologia (1997). Os textos, produzidos por 19 profissionais da área, versam sobre diversas histórias: História Econômica, História Social, História das Ideias, História dasMentalidades e História Cultural, História Agrária, História Urbana, História das Pai-sagens, História Empresarial, História da Família e Demografia Histórica, História doCotidiano e da Vida Privada, História das Mulheres, História das Religiões e Religiosi-dades, mas não sobre a História da Educação! A História da Educação, como disciplina nos cursos de formação de professores, adquiriu um caráter mais formativo, de transmissão de valores. Os conteúdos didáticos e pedagógicos ministrados na disciplina de História da Educação visavam muito mais a justificar a tarefa educativa e a fundamentar a formulação das finalidades da educação do que a explicitar ou a definir as características do fenômeno educativo (SAVIANI, 2003, p. 27). Os conteúdos eram impregnados pela postura messiânica e salvacionista disseminada pela civilização cristã, como pontua a historiadora da educação Clarice Nunes. Para esta autora, esses conteúdos visavam à preservação e à permanência dos valores morais e dos ideais humanos (NUNES, 1996). Logo, em sua trajetória como disciplina, a História da Educação firmou-se como uma ciência auxiliar da Pedagogia, ao passo que outras áreas do conhecimento, consideradas matriciais, como a Psicologia, a Biologia e a Sociologia, foram chamadas não para justificar, mas para explicar o fenômeno educativo (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 27; VIDAL, 2003) 3. O MUNDO GREGO E SEU PROCESSO DE EDUCAÇÃO Educação espartana Esparta era uma importante cidade-estado situada na península do Peloponeso. Após a fase heroica, ao contrário das demais cidades gregas, ainda valorizava as atividades guerreiras, desenvolvendo uma educação severa, orientada para a formação militar. Por volta do século IX a.C. o legislador Licurgo (cuja existência real é objeto de questionamento) organizou o Estado e a educação. De início, os costumes não eram tão rudes, e o preparo militar era entremeado com a formação esportiva e a musical. Com o tempo sobretudo no século IV a.C., quando Esparta derrotou Atenas - o rigor da educação acabou assemelhando-se à vida de caserna. Os cuidados com o corpo começavam com uma política de eugenia prática de melhoramento da espécie —, que recomendava fortalecer as mulheres para gerarem filhos robustos e sadios, bem como abandonar as crianças deficientes ou frágeis demais. Após permanecerem com a família até os 7 anos, as crianças recebiam do Estado uma educação pública e obrigatória. Viviam em comunidades constituídas por grupos de acordo com a idade e supervisionados pelos que se distinguiam no desempenho das tarefas exigidas. Como todos os gregos, os espartanos estudavam música, canto e dança coletiva. Até os 12 anos as atividades lúdicas predominavam. Depois, aumentava o rigor da aprendizagem, e a educação física se transformava em verdadeiro treino militar. Os jovens 6 aprendiam a suportar a fome, o frio, a dormir com desconforto, a vestir-se de forma despojada. A educação moral valorizava a obediência, a aceitação dos castigos, o respeito aos mais velhos e privilegiava a vida comunitária. Sob esses aspectos, as organizações da juventude espartana se assemelham bastante às dos Estados totalitários, como o nazismo, no século XX. Ao contrário dos atenienses, os espartanos não eram dados a refinamentos intelectuais, nem apreciavam os debates e os discursos longos. Aliás, a palavra laconismo, que significa “maneira breve, concisa, de falar ou escrever”, deriva de Lacônia, região onde viviam os espartanos. De toda a Grécia, eram as cidades de Lacônia as que ofereciam maior atenção às mulheres, que participavam das atividades físicas, como exercícios de salto, lançamento de disco, corrida, dança. Por ocasião das festividades, exibiam nos jogos públicos toda a força, a beleza e o vigor dos corpos bem treinados. 2.1. Educação ateniense Segundo o historiador grego Tucídides (século V a.C.), Atenas foi “a escola de toda a Grécia”. De fato, a concepção ateniense de Estado fez surgir a figura do cidadão da pólis. Ao lado dos cuidados com a educação fisica, destacava-se a formação intelectual, para que melhor se pudesse participar dos destinos da cidade. Com a ascensão da classe dos comerciantes, em oposição à antiga aristocracia, impôs-se outra forma de exercício de poder e, portanto, uma nova educação. Vimos que, passado o período heroico, a educação ainda era aristocrática e dela se incumbia a família. No final do século VI a.C., já terminando o período arcaico, surgem formas simples de escolas. Embora o Estado já demonstrasse algum interesse, o ensino não se tornou obrigatório nem gratuito, predominando a iniciativa particular. A educação se iniciava aos 7 anos. A criança do sexo feminino permanecia no gineceu, local da casa onde as mulheres se dedicavam aos afazeres domésticos, menos importantes em um mundo essencialmente masculino. Se fosse menino, desligava-se da autoridade materna para iniciar a alfabetização e a educação física e musical. Era sempre acompanhado por um escravo, conhecido como pedagogo. A palavra paidagogos significa literalmente “aquele que conduz a criança” (pais, paidós, “criança”; agogós, “que conduz”). O menino era levado à palestra, para praticar exercícios físicos, sob a orientação do pedótriba (instrutor físico). Ali era iniciado na competição famosa de jogos que constituíam as cinco modalidades do penta tio, tais como corrida, salto, lançamento de disco, de dardo e luta. Fortalecia o corpo ao mesmo tempo que aprendia o domínio sobre si mesmo, já que a educação física nunca se reduzia à mera destreza corporal, mas vinha acompanhada pela orientação moral e estética. Para a educação musical, extremamente valorizada, o pedagogo conduzia a criança ao citarista, ou professor de cítara. A música (a arte das musas), de significado muito amplo, abrangia a educação artística em geral. Assim, qualquer jovem bem-educado aprendia a tocar lira ou outros instrumentos, como cítara e flauta. O canto, sobretudo coral, e a declamação de poesias geralmente eram acompanhados por instrumento musical. A dança,expressão corporal abrangente, incluía o exercício físico e a música. 7 Esse tipo de formação integral se expressa na frase de Platão: “Eles [os mestres de música] familiarizaram as almas dos meninos com o ritmo e a harmonia, de modo que possam crescer em gentileza, em graça e harmonia, e tornar-se úteis em palavras e em ações”. O ensino elementar de leitura e escrita, durante muito tempo, mereceu menor atenção e cuidado do que as práticas esportivas e musicais já referidas. O mestre de letras era geralmente uma pessoa humilde, mal paga e não tinha o prestigio do instrutor físico. Com o tempo, à medida que aumentou a exigência de melhor formação intelectual, delinearam-se três níveis de educação: elementar, secundária e superior. O gramático (grammata, literalmente “letra”), também chamado didáscalo (didasko, “eu ensino”), reunia, em qualquer canto — sala, tenda, esquina ou praça pública —, um grupo de alunos, para lhes ensinar leitura e escrita. Os métodos usados dificultavam a aprendizagem, em que se acentuava o recurso de silabação, repetição, memorização e declamação. Geralmente as crianças aprendiam de cor os poemas de Homero e de Hesíodo, as fábulas de Esopo e de outros autores. Escreviam em tabuinhas enceradas, e os cálculos eram feitos com o auxílio dos dedos e do ábaco, instrumento de contar constituído de pequenas bolas. A educação elementar completava-se por volta dos 13 anos. As crianças mais pobres saíam em busca de um oficio, enquanto as de família rica prosseguiam os estudos, sendo encaminhadas ao ginásio. Esta palavra tem diversos sentidos: inicialmente designava o local para a cultura física onde, com frequência, os gregos se apresentavam despidos (daí sua origem etimológica: gimnos, “nu”). Com o tempo, as atividades musicais se direcionaram para discussões literárias, abrindo espaço para assuntos gerais como matemática, geometria e astronomia, sobretudo sob a influência dos filósofos. Com a criação de bibliotecas e salas de estudo, o ginásio adquiriu feição mais próxima do conceito de local de educação secundária. Dos 16 aos 18 anos, a educação assumiu uma dimensão cívica de preparação militar, instituição que se desenvolveu por volta do século IV a.C. e é conhecida como efebia (efebo, ‘jovem”). Após a abolição do serviço militar em Atenas, a efebia passou a constituir a escola em que se ensinavam filosofia e literatura. Apenas com os sofistas (século V a.C.) teve início uma espécie de educação superior. Aqueles filósofos também se dedicaram à profissionalização dos mestres e à didática, cuidando inclusive da ampliação das disciplinas de estudo. Sócrates, Platão e Aristóteles também ministraram educação superior. Enquanto Sócrates se reunia informalmente na praça pública, Platão utilizou um dos ginásios de Atenas, a Academia, e mais tarde seu discípulo Aristóteles ensinou em outro ginásio, o Liceu. Ainda em Atenas, Isócrates abriu uma escola muito concorrida, que valorizava a retórica. Por causa disso, foi estabelecida uma polêmica com Platão, seu contemporâneo, como veremos. E preciso compreender as mudanças a partir das novas exigências da vida na pólis, pois a política precisava de cidadãos que soubessem convencer pela palavra. Como se vê por este relato, a educação formal atendia os filhos da elite, excluindo os demais. Segundo o legislador Sólon, “as crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia, à caça e à frequência aos ginásios”. 8 Não havia, portanto, atenção para o ensino profissional, já que os oficios se aprendiam no próprio mundo do trabalho. As exceções eram a arquitetura e a medicina, consideradas artes nobres. A medicina, profissão altamente considerada entre os gregos, baseava-se nos ensinamentos de Hipócrates (460-377 a.C.), acrescidos de inúmeras observações, que tornaram a medicina parte integrante da cultura geral grega, ao lado dos preceitos éticos e das regras de conduta. Segundo o helenista Werner Jaeger, esse prestígio decorria da relação da medicina com a paideia, ou seja, o médico era colocado ao lado do pedótriba, do músico e do poeta. Se a saúde fazia parte do ideal grego de educação, é preciso entender que ginastas e médicos concebiam a cultura física na sua dimensão espiritual. No longo período que se estende desde os tempos heroicos até o helenismo, o ideal grego de educação sofreu significativas alterações. Embora o cuidado com o corpo fosse uma constante, de início era dada ênfase à habilidade militar do guerreiro. Em seguida, o cidadão da pólis passou a frequentar os ginásios, onde a educação era predominantemente física e esportiva, até que, por fim, os assuntos de literatura e retórica se tornaram prioritários. Quanto à concepção do corpo, de início o ideal de beleza física foi muito valorizado. Como veremos, o ascetismo da Igreja cristã primitiva, influenciado por um platonismo impregnado pela visão ascética, transformou o corpo em obstáculo para a vida espiritual. Outro aspecto a ser realçado é que, por pertencer a uma sociedade escravista, os gregos desvalorizavam a formação profissional e o trabalho manual. Enquanto a técnica se achava associada à atividade servil, o cultivo desinteressado da forma física e a atividade intelectual permaneceram privilégio das classes ociosas. A Grécia foi ainda o berço das primeiras teorias educacionais, fecundadas pelo embate de tendências pluralistas. Após as inovações dos sofistas, Isócrates exerceu importante atuação, animando a polêmica com Sócrates, Platão e Aristóteles. Embora estes últimos não tenham influenciado a educação do seu tempo tanto quanto os opositores, a contribuição dos filósofos clássicos para a pedagogia encontra-se na concepção de natureza humana, cuja essência é a racionalidade. Essa visão foi retomada pela tradição e marcou profundamente a cultura ocidental, sobretudo a partir da Idade Moderna. A concepção de natureza humana universal serviu de base para o delineamento da tendência essencialista da pedagogia. Ou seja, para Platão, a educação é o instrumento para desenvolver no ser humano tudo o que implica sua participação na realidade ideal, tudo o que define sua essência verdadeira, embora asfixiada pela existência empírica. Também segundo Aristóteles, a educação é um processo da passagem da potência para o ato, pela qual atualizamos a forma humana. A concepção essencialista durou longo período. Segundo o pedagogo Suchodolski, Rousseau (século XVIII) representa “a primeira tentativa radical e apaixonada de oposição fundamental à pedagogia da essência e de criação de perspectivas para uma pedagogia da existência”, processo que assumiu uma forma mais definida no século XIX e sobretudo no XX, como veremos. Por fim, como já dissemos, no mundo contemporâneo pressionado pela especialização e pela tecnocracia, renasce o ideal grego da paideia, da educação integral. 9 2.2. O QUE É HUMANITAS – PAIDEIA (CARACTERÍSTICAS GERAIS DA EDUCAÇÃO GREGA) Tal como na sociedade grega, os romanos usavam o braço escravo para os trabalhos manuais, igualmente desvalorizados. Em contrapartida, a aristocracia se dedicava ao “ócio digno”, ocupando-se com atividades intelectuais, políticas e culturais. Por consequência, os educadores orientavam-se pelo modelo adequado à elite dirigente a fim de formar o indivíduo racional, capaz de pensar de modo correto e de se expressar de forma convincente. Agora vejamos algumas diferenças. A pedagogia grega apresentava duas vertentes: uma que destacava a visão ifiosófica sistematizada, como a de Platão, e outra em que predominava a retórica, como queria a escola de Isócrates. Ora, a pedagogia dos filósofos exigia que o próprio aluno, nos estágios superiores, se dedicasse à filosofia no seu sentido mais amplo, incluindo sobretudoa metafisica. O que representava alto grau de dificuldade, por se tratar da parte nuclear da filosofia que investiga as causas mais fundamentais do ser. Em Roma, no entanto, a reflexão filosófica não mereceu atenção de modo tão sistemático. Quintiliano e outros pedagogos encaravam a filosofia até com certa descrença e, quando a ela recorriam, preferiam os assuntos éticos e morais, influenciados pelos pensadores estóicos e epicuristas do período helenístico. Isso porque os romanos adotaram uma postura mais pragmática, voltada para o cotidiano, para a ação política e não tira a contemplação e teorização do mundo. Daí o prevalecer da retórica sobre a filosofia. Essa tendência, que tornava a trama discurso mais literária que filosófica, acentuou-se no período de declínio, riscos do formalismo oco e do palavreado vazio. De fato, com o tempo, descuidou-se da formação científica e artística, prevalecendo uma cultura de letrados, cuja atenção maior estava nas minúcias das regras gramaticais, nas questões filológicas e artifícios que proporcionavam o brilho nas conversações. Uma das características da cultura romana decorre justamente da expansão do seu território. Enquanto a Grécia composta por inúmeras pólis nunca se constituiu em uma nação, Roma desenvolveu a concepção de império. Apesar das diferenças existentes entre os povos conquistados, não havia discriminação dos vencidos, mas lhes era conferido o direito da cidadania romana, em troca do pagamento de impostos. No caso específico da Grécia conquistada, em vez de impor o latim, os romanos incorporam-lhe o idioma, bem como vários de seus padrões culturais, que se tornaram herança da humanidade. A cultura universalizada pode ser expressa na palavra humanitas no sentido literal de humanidade e, mais propriamente, de educação, cultura do espírito , algo equivalente à paideia grega. Distingue-se desta, no entanto, por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e sobretudo cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano, em todos os tempos e lugares. Essa concepção, muito valorizada por Cícero, não se restringia ao ideal do sábio, muitas vezes inalcançável, mas se estendia à formação do dividuo virtuoso, como ser moral, político e literário. Com o tempo, a humanitas degenerou, restringindo-se ao estudo das letras e descuidando-se das ciências, como veremos. De maneira geral, podemos distinguir três fases na educação romana: 10 - a educação latina original, de natureza patriarcal; - a influência do helenismo, criticada pelos defensores da tradição; - por fim, a fusão entre a cultura romana e a helenística, que já supunha elementos orientais, mas com nítida supremacia dos valores gregos. A fusão dessas culturas trouxe um elemento novo, o bilinguismo, e desde cedo as crianças aprendiam latim e grego. Às vezes, o ensino era trilíngue, quando às duas línguas principais acrescentava-se a língua local. Em todas as épocas, no entanto, permaneceram alguns aspectos da antiga educação, qual seja o papel da família, representado pela onipotência paterna mas não destituída de afeto , e pela ação efetiva da mulher, de que é exemplo o célebre tipo da “mãe romana”. 3. A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A educação, num sentido amplo, cumpre uma iniludível função de socialização, desde que a configuração social da espécie se transforma em um fator decisivo da hominização e em especial da humanização do homem. A espécie humana, constituída biologicamente como tal, elabora instrumentos, artefatos, costumes, normas, códigos de comunicação e convivência como mecanismos imprescindíveis para a sobrevivência dos grupos e da espécie. Paralelamente, e posto que as aquisições adaptativas da espécie às peculiaridades do meio não se fixam biologicamente nem se transmitem através da herança genética, os grupos humanos põem em andamento mecanismos e sistemas externos de transmissão para garantir a sobrevivência nas novas gerações de suas conquistas históricas. Este processo de aquisição por parte das novas gerações das conquistas sociais — processo de socialização — costuma denominar-se genericamente como processo de educação. Nos grupos humanos reduzidos e nas sociedades primitivas, a aprendizagem dos produtos sociais, assim como a educação dos novos membros da comunidade aconteceram como socialização direta da geração jovem, mediante a participação cotidiana das crianças nas atividades da vida adulta. No entanto, a aceleração do desenvolvimento histórico das comunidades humanas, bem como a complexização das estruturas e a diversificação de funções e tarefas da vida nas sociedades, cada dia mais povoadas e complexas, toma ineficazes e insuficientes os processos de socialização direta das novas gerações nas células primárias de convivência: a família, o grupo de iguais, os centros ou grupos de trabalho e produção. Para suprir tais deficiências surgem desde o início e ao longo da história diferentes formas de especialização no processo de educação ou socialização secundária (tutor, preceptor, academia, escola religiosa, escola laica...), que conduziram aos sistemas de escolarização obrigatória para todas as camadas da população nas sociedades industriais contemporâneas. Nestas sociedades a preparação das novas gerações para sua participação no mundo do trabalho e na vida pública requer a intervenção de instâncias específicas como a escola, cuja peculiar função é atender e canalizar o processo de socialização. 11 3.1. Linha do Tempo – Educação e Desenvolvimento 3100a.C. O rei Menés unificou o baixo e o alto Egito e formou um dos primeiros governos nacionais do mundo. 3000a.C. Escritos cuneiformes dos sumérios deram início ao registro da história do Oriente Médio. 2500a.C. A civilização do vale do Indo começou nas cidades de Harappa e Mohenjo-daro, no Paquistão. 2300a.C. Sargão de Acad conquistou os sumérios e unificou suas cidades-estados sob seu governo. 1750a.C. Hamurabi estabeleceu o império babilônico. 1600-1400a.C. A civilização minoana floresceu na ilha mediterrânea de Creta. 1500a.C. A dinastia Chang começou seu governo de 500 anos na China. Séc. XI a.C. Tribos latinas estabeleceram-se ao sul do rio Tibre e etruscos estabeleceram-se na região centro-ocidental da península italiana. 750-338a.C. Atenas, Corinto, Esparta e Tebas desenvolveram-se como as principais cidades-estados da Grécia durante o período helênico. [1] 509a.C. Os latinos revoltaram-se contra seus dominadores etruscos e criaram a República Romana. 338a.C. Filipe II da Macedônia derrotou os gregos e anexou a Grécia ao império macedônico. 331a.C. Alexandre, o Grande, derrotou os persas em Arbela (Irbil) e abriu caminho para a conquista do norte da Índia. 321-185a.C. O império mauria do norte da Índia espalhou-se praticamente por toda a Índia e parte da Ásia central. 221-206a.C. A dinastia Tsin criou o primeiro governo central chinês poderoso e completou a Grande Muralha para proteger a China dos invasores. 202a.C. A dinastia Han começou seu governo de 400 anos na China. 146a.C. Os romanos destruíram Corinto e conquistaram a Grécia. 55-54a.C. Júlio César comandou a invasão romana da Bretanha. 27a.C. Augusto tornou-se o primeiro imperador romano. [2] 70d.C. Forças romanas sob o comando de Tito capturaram e destruíram Jerusalém. 50-meados do Séc. III O império Kusha dominou o Afeganistão e a Índia norte-ocidental. 105- Os chineses inventaram o papel. 293- Diocleciano dividiu o Império Romano em quatro prefeituras e estabeleceu duas capitais - Nicomédia, na Ásia menor, e Milão, na Europa. 313- Constantino deu aos cristãos do Império Romano liberdade de culto através do Edito de Milão. 320- A Índia começou sua idade de ouro sob o governo da dinastia gupta. 395- O Império Romano foi dividido em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente. 476- O comandante germânico Odoacro depôs Rômulo Augústulo, o último imperador do ImpérioRomano do Ocidente. 3.2. Aspectos Históricos da Educação e sua Gênese “Em 1500 a.C., a escrita hieroglífica egípcia e a escrita cuneiforme babilônica (herdada dos sumérios), juntamente com a escrita chinesa do leste, eram as linguagens escritas mais importantes do mundo. Todas eram tremendamente complicadas e não havia motivo para que não permanecessem complicadas até hoje, como a chinesa. 12 Entre egípcios e babilônios existiam os cananeus, que habitavam a costa oriental do mar Mediterrâneo. (Foram chamados fenícios pelos gregos.) Eram negociantes que, entre outras coisas, agiam como intermediários entre egípcios e babilônios. Era necessário que esses negociantes conhecessem tanto a linguagem egípcia como a babilônica e esta era uma tarefa realmente difícil. Um cananeu desconhecido resolveu simplificar a escrita inventando uma espécie de taquigrafia. Pensou que poderia dar um símbolo separado para cada um dos sons emitidos pelos seres humanos na linguagem falada. Assim, seria possível construir palavras de qualquer língua, usando esses símbolos sonoros, que já tinham sido usados pelos egípcios, que preservavam tal esquema para as sílabas ou para palavras completas. O inventor cananeu tinha a idéia de que os sons-símbolos deveriam ser usados exclusivamente e que as palavras seriam construídas com eles combinados. Os dois primeiros símbolos dessa coleção foram o aleph (que era o símbolo usado para designar o boi) e o beth (símbolo que significava casa). Para os gregos, que passaram a adotar esse sistema, tornaram-se alpha e beta, e nós ainda conhecemos o sistema de símbolos como alfabeto. O alfabeto fenício, que foi o primeiro a ser usado, em 1 500 a.C., revolucionou a escrita, tornando muito mais fácil ler e escrever, ampliando portanto as oportunidades literárias. Essa é uma invenção que parece ter ocorrido somente uma vez na história humana. O alfabeto não foi inventado independentemente por qualquer outra sociedade. Todos os alfabetos em uso nos dias atuais (inclusive este em que está escrito e impresso este livro) descendem daquele primeiro alfabeto fenício.” (...) a história da educação, já que o fenômeno educacional se desenrola no tempo e faz igualmente parte da história. Portanto, não se trata apenas de uma disciplina escolar chamada história da educação, mas igualmente da abordagem científica de um importante recorte da realidade. Estudar a educação e suas teorias no contexto histórico em que surgiram, para observar a concomitância entre as suas crises e as do sistema social, não significa, porém, que essa sincronia deva ser entendida como simples paralelismo entre fatos da educação e fatos políticos e sociais. Na verdade, as questões de educação são engendradas nas relações que se estabelecem entre as pessoas nos diversos segmentos da comunidade. A educação não é, portanto, um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos do jogo do poder, por estar de fato envolvida na política. Os estudos sobre a história da educação enfrentam as mesmas dificuldades metodológicas já mencionadas sobre a história geral, com o agravante de que os trabalhos no campo específico da pedagogia são recentes e bastante escassos. Apenas no século XIX os historiadores começaram a se interessar por uma história sistemática e exclusiva da educação, antes apenas um “apêndice” da história geral. Ainda assim, conhece-se melhor a história da pedagogia ou das doutrinas pedagógicas do que propriamente das práticas efetivas de educação. Neste último caso, alguns graus de ensino (como o secundário e o superior) sempre preservaram documentação mais abundante do que, por exemplo, o elementar e o técnico, trazendo dificuldades para a sua reconstituição. 13 A situação é mais difícil no Brasil, até há bem pouco tempo sem historiadores da educação de importância, com enorme lacunas a serem preenchidas. Segundo o professor Casemiro dos Reis Filho, em obra publicada em 1981, “somente depois de realizados estudos analíticos capazes de aprofundar o conhecimento da realidade educacional, tal como foi sendo constituída”, é que poderá ser elaborada uma história da educação brasileira “na sua forma de síntese”. E completa: “Trata-se de um conhecimento histórico capaz de fornecer à reflexão filosófica o conteúdo da realidade sobre a qual se pensa, tendo em vista descobrir as diretrizes e as coordenadas da ação pedagógica”. Outra dificuldade deve-se ao fato de serem recentes entre nós os cursos específicos de educação. As escolas normais (de magistério) criadas no século XIX tinham baixíssima frequência, e o ensino de história da educação não constava no currículo. Quando muito, era oferecida história geral e do Brasil. Naqueles cursos, a atenção maior estava centrada nas matérias de cultura geral, descuidando-se das que poderiam propiciar a formação profissional. Apenas a partir das reformas de 1930 a disciplina de história da educação passou a fazer parte do currículo dos cursos de magistério. Durante muito tempo, porém, a disciplina de história da educação esteve ligada à filosofia da educação nos cursos de nível secundário e superior (magistério e pedagogia), sem merecer a autonomia e o estatuto de ciência já conferidos a disciplinas como psicologia, sociologia e biologia. Além disso, sofria frequentemente o viés pragmático que enfatizava a missão de interpretar o passado para construir o futuro, com forte caráter doutrinário moral e religioso, uma vez que a disciplina ficava a cargo de padres, seminaristas e cristãos em geral. Nas décadas de 1930 e 1940, com a implantação das universidades, foram criadas faculdades de educação, dando oportunidade para a pesquisa e elaboração de monografias e teses. Mesmo assim, nem sempre foi dispensado à história da educação o tempo necessário para os alunos se ocuparem devidamente de tão extensa e complexa disciplina. Diz a professora Mirian Jorge Warde: “Há indícios de que nos anos 50 começa a se esboçar na USP, a partir do setor de Educação e, posteriormente, da relação entre este setor e o Centro Regional de Pesquisa Educacional, o CRPE/SP, algo como um projeto de construção de uma história da educação brasileira, autônoma, apoiada em levantamentos documentais originais, capaz de recobrir o processo de desenvolvimento do sistema público de ensino”. Esse movimento inaugura o diálogo da história da educação com a sociologia da educação, além de ter a intenção de “gerar uma linhagem de pesquisa que produzisse a identidade da história da educação brasileira a partir de fontes empíricas novas”. O período da ditadura militar foi danoso para a educação brasileira, com o fechamento de escolas experimentais e centros de pesquisa e a formação de grupos com forte orientação ideológica que prepararam as leis das reformas do ensino superior em 1968 e a do curso secundário profissionalizante em 1971. No entanto, a reforma universitária trouxe o benefício da criação dos cursos de pós-graduação e a consequente fermentação intelectual que resultou em inúmeras teses, entre as quais aquelas focadas em educação. Além disso, os educadores foram estimulados a se aglutinarem em centros e associações de pesquisa, seja nas universidades, 14 seja pela iniciativa particular. A ampliação das discussões de temas educacionais com a criação de centros regionais e congressos nacionais resultou em incremento da produção científica, sobretudo durante as décadas de 1980 e 1990, inclusive com o acolhimento do mercado editorial, disposto a publicar essas teses e a fazer coletâneas desses pronunciamentos. 1 - A escola tradicional ensinou que a abolição dos escravos foi o fruto da ação dos abolicionistas (geralmente brancos) e culminou com a assinatura da Lei Aurea, em 13 de maio de 1888, pela qual a princesa Isabel outorgou a liberdade aos negros. Por muito tempo, nenhuma ênfase foi dada à ação de Zumbi e seus companheiros nos Quilombos dos Palmares nem a centenas de outros gestos de rebeldiados escravos, considerados como “irrelevantes”. Atualmente, os movimentos de conscientização dos negros lutam para resgatar essa memória, preferindo comemorar a data da morte de Zumbi, 20 de novembro de 1695. 2 - A história é androcêntrica, isto é, feita conforme a visão masculina. Por isso, a mulher aparece como uma sombra, um apêndice, e até o começo do século XX seu mundo se restringia aos limites domésticos, sendo-lhe negada a dimensão pública. Apesar das conquistas, em muitas partes do mundo ela ainda vive em condição subalterna. 3 - A obra sobrevive aos seus leitores; ao final de cem ou duzentos anos é lida por outros que lhe impõem diferentes sistemas de leitura e interpretação. Os temíveis leitores desaparecem e em seu lugar surgem outras gerações, cada uma dona de uma interpretação distinta. A obra sobrevive graças às interpretações de seus leitores. Elas são na verdade ressurreições: sem elas não haveria obra. A obra transpõe sua própria história só para se inserir em outra. Acredito que posso concluir: a compreensão da obra de Sóror Juana inclui necessariamente a de sua vida e seu mundo. Nesse sentido, meu ensaio é uma tentativa de restituição; pretendo restituir seu mundo, a Nova Espanha do século XVII, a vida e obra de Sóror Juana. Por sua vez, elas nos restituem, seus leitores do século XX, a sociedade da Nova Espanha do século XVII. Restituição: Sóror Juana em seu mundo e nós em seu mundo. Ensaio: esta restituição é histórica, relativa, parcial. Um mexicano do século XX lê a obra de uma freira da Nova Espanha do século XVII. 4 - Ao examinar o legado das associações que fermentaram o debate sobre educação, Dermeval Saviani diz que entre as “entidades de cunho acadêmico-científico, isto é, voltadas para a produção, discussão e divulgação de diagnósticos, análises, criticas e formulação de propostas para a construção de uma escola pública de qualidade”, situam-se: a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação, criada em 1977; o Centro de Estudos Educação & Sociedade (Cedes), em 1978; a Associação Nacional de Educação (Ande), em 1979; essas três entidades organizaram as Conferências Brasileiras de Educação (CBE), ocorridas a cada dois anos, de 1980 a 1988 e depois em l991. 5 - Discorrendo sobre a historiografia da educação, o professor José Claudinei Lombardi° destaca, entre outros assuntos, a importância de algumas instituições para o incremento das pesquisas em história da educação no Brasil. São elas: O Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB); fundado ainda no século XIX, em 1838; e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão responsável pelo fomento do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro, fundado em 1951. Em 1985, com a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, o CNPq tornou-se o centro do 15 planejamento estratégico da ciência no Brasil, estimulando a formação de instituições públicas e privadas de pesquisa. Entre estas, no campo da história da educação, foi reforçada a tendência de constituição de coletivos de pesquisa, cuja orientação valoriza a socialização de experiências que resultam de formas de organização coletiva dos pesquisadores. Entre os grupos que se constituíram no Brasil, o autor destaca o Grupo de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR), fundado em 1986 e que se multiplicou em vários grupos de trabalho regionais e tem sido responsável por diversos eventos e publicações. Outra instituição foi a Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), criada em 1999. 6 - “História e historiografia da educação, atentando para as fontes”, in José Claudinei Lombardi e Isabel Moura Nascimento (orgs.), Fontes, história e historiografia da educação. Campinas, Autores Associados/HISTEDBR, 2004, p. 14 1-176. 3.3. Educação no Império A educação romana durante o Império não foi muito diferente da oferecida no período anterior, a não ser por sua complexidade e organização. Nota-se a crescente intervenção do Estado nos assuntos educacionais, porque a administração do Império requereria uma bem montada máquina burocrática, com funcionários que deveriam ter pelo menos instrução elementar. E curiosa a procura de cursos de estenografia (ou taquigrafia), um sistema de notação rápida. Segundo o historiador da educação Marrou, a sua origem remonta talvez ao século IV a.C., mas o uso corrente só aparece bem disseminado no tempo de Cícero. Esse recurso era exigido cada vez mais na atividade dos notários — hoje conhecidos como tabeliães , que inicialmente eram apenas secretários incumbidos de fazer anotações, ao acompanhar os magistrados e os altos funcionários nas suas atividades. Depois suas funções foram adquirindo maior responsabilidade e poder. Embora o Estado se interessasse pelo desenvolvimento da educação, de início pouco interferiu, colocando-se como mero inspetor, mais ou menos distante das atividades ainda restritas à iniciativa particular. Com o tempo, passou a oferecer subvenção, depois a exercer o controle por meio da legislação e por fim tomou para si a inteira responsabilidade. Já no século 1 a.C., o Estado estimulava a criação de escolas municipais em todo o Império. O próprio César concedera o direito de cidadania aos mestres de artes liberais. No século 1 d.C. Vespasiano liberou de impostos os professores de ensino médio e superior e instituiu o pagamento a alguns cursos de retórica, de que se beneficiou o mestre Quintiliano. Pouco tempo depois, Trajano mandou alimentar os estudantes pobres. Mais tarde, outros imperadores legislaram sobre a exigência de as escolas particulares pagarem com pontualidade os professores e também definiram o montante a lhes ser pago. Coube ao imperador Juliano (ano 362) praticamente oficializar toda nomeação de professor, feita pelo Estado. E bem verdade que esse imperador, também chamado O Apóstata, se opunha à expansão do cristianismo e pretendia, com essa medida, impedir a contratação de professores cristãos. 16 Outro destaque da época do Império foi o desenvolvimento do ensino terciário, com os cursos de filosofia e retórica, a que já nos referimos, e a criação de cátedras de medicina, matemática, mecânica e sobretudo escolas de direito. A continuidade dos estudos era exigida no caso de se aspirar a posições mais altas, como cargos próprios da justiça e da administração superior. Durante a República, um jurista aprendia o oficio de maneira informal, bastando acompanhar com frequência o trabalho dos tribunais. Os pretores eram magistrados especiais que julgavam os processos. Com as conquistas romanas, pretores peregrinos se dirigiam às comunidades submetidas e julgavam levando em conta o direito dos diversos povos, o que deu origem ao Direito das Gentes. O crescente número de situações conflituosas exigiu que os juristas, para facilitar o exame dos casos, compilassem os editos dos pretores, as resoluções do Senado, as decisões dos governadores provinciais e as ordenações judiciais dos imperadores. Esse abundante material propiciaria o aperfeiçoamento do Direito Romano. Por isso, já no Império era exigida a formação sistemática por quatro ou cinco anos, tal a complexidade da nova ciência do direito, desenvolvida em grandes centros de estudo como Roma e Constantinopla. Inúmeras bibliotecas foram criadas, e os romanos se apropriaram de manuscritos encontrados nas regiões conquistadas. Ainda floresciam o museu de Alexandria, o Círculo de Pérgamo e a Universidade de Atenas. Em Roma, no século II d.C.. Adriano fundou o Ateneu, no Capitólio, espaço para discussão e cultura. Também as distantes províncias da Espanha. Gália e África receberam o estímulo imperial e criaram escolas, em que estudaram homens da categoria de Sêneca, Quintiliano e posteriormente Marciano Capelia e Santo Agostinho. 4. A ESCOLA NOVA Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino que foi especialmenteforte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX . "Escola Ativa" ou "Escola Progressiva" são termos mais apropriados para descrever esse movimento que, apesar de muito criticado, ainda pode ter muitas ideias interessantes a nos oferecer. Os primeiros grandes inspiradores da Escola Nova foram o escritor Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e os pedagogos Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). O psicólogo Edouard Claparède (1873-1940) e o educador Adolphe Ferrière (1879- 1960), entre muitos outros, foram os expoentes na Europa. No Brasil, as ideias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923). No século XX, vários educadores se destacaram, especialmente após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Podemos mencionar Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971), grandes humanistas e nomes importantes de nossa história pedagógica. 17 Um conceito essencial do movimento aparece especialmente em Dewey. Para ele, as escolas deviam deixar de ser meros locais de transmissão de conhecimentos e tornar-se pequenas comunidades. Lourenço Filho nos fala sobre a escola que Dewey dirigia no final do século passado, na Universidade de Chicago: "As classes deixavam de ser locais onde os alunos estivessem sempre em silêncio, ou sem qualquer comunicação entre si, para se tornarem pequenas sociedades, que imprimissem nos alunos atitudes favoráveis ao trabalho em comunidade." (Lourenço Filho. Introdução ao estudo da Escola Nova. São Paulo : Melhoramentos, 1950. p. 133.) O suíço Claparède - que teve grande influência sobre Piaget - defendia a ideia da escola "sob medida", mais preocupada em adaptar-se a cada criança do que em encaixar todas no mesmo molde. Ferrière e outros pedagogos, como o belga Decroly (1871-1932), insistiam que o interesse e as atividades dos alunos exerciam um grande papel na construção de uma "escola ativa". No trabalho de Ferrière como pedagogo, por exemplo, os passeios e o trabalho em equipe eram especialmente valorizados. A Escola Nova recebeu muitas críticas. Foi acusada principalmente de não exigir nada, de abrir mão dos conteúdos tradicionais e de acreditar ingenuamente na espontaneidade dos alunos. A leitura das obras e a análise das poucas experiências em que, de fato, as ideias dos escolanovistas foram experimentadas com rigor mostram que essas críticas são válidas apenas para interpretações distorcidas do espírito do movimento. Apesar de todo o seu sucesso, a Escola Nova não conseguiu modificar de maneira significativa o modo de operar das redes de escolas e perdeu força sem chegar a alterar o cotidiano escolar. Hoje, quando continuamos a buscar rumos para nossa educação, as ideias e experiências dos autores da Escola Nova, mesmo que contenham algumas concepções ultrapassadas ou ingênuas, podem continuar nos servindo como fonte de prazer literário e de inspiração pedagógica. No Brasil, as ideias da Escola Nova foram inseridas em 1882 por Rui Barbosa (1849- 1923). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859- 1952). John Dewey, filósofo norte americano influenciou a elite brasileira com o movimento da Escola Nova. Para John Dewey a Educação, é uma necessidade social. Por causa dessa necessidade as pessoas devem ser aperfeiçoadas para que se afirme o prosseguimento social, assim sendo, possam dar prosseguimento às suas ideias e conhecimentos. No século XX, vários educadores se evidenciaram, principalmente após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Na década de 30, Getúlio Vargas assume o governo provisório e afirma a um grupo de intelectuais o imperativo pedagógico do qual a revolução reivindicava; esses intelectuais envolvidos pelas ideias de Dewey e Durkheim se aliam e, em 1932 promulgam o Manifesto dos Pioneiros, tendo como principal personagem Fernando de Azevedo. Grandes humanistas e figuras respeitáveis de nossa história pedagógica, podem ser citadas, como por exemplo Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971). 18 5. A ESCOLA TECNICISTA "A escola deveria ser produtiva, racional e organizada e formar indivíduos capazes de se engajar rápida e eficientemente no mercado de trabalho. (...) Para tanto, à imagem da empresa, a escola deveria apresentar uma produtividade eficiente e eficaz." "É claro que os treinamentos de educadores nos anos 70 refletiram, e muito, esta tendência que valorizava fundamentalmente os meios, as tecnologias e os procedimentos de ensino - apresentados sempre como "neutros", "eficientes" e "eficazes". E isto teve conseqüências negativas na educação escolar brasileira que perduram até o presente momento." A Tendência Liberal Tecnicista é modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas. Os procedimentos e técnicas preparam para a transmissão e recepção de informações. A aprendizagem é baseada no desempenho (aprender-fazendo). O Professor é o técnico e responsável pela eficiência do ensino. A Tendência Progressista Libertadora dá ênfase ao não-formal. É crítica, questiona as relações do homem no seu meio, visa levar professores e alunos a atingirem um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social. O homem cria a cultura na medida em que, integrando-se nas condições de seu contexto de vida, pensa sobre ela e dá respostas aos desafios que encontra. A tendência tecnicista é de origem norte-americana, nela o ensino não se centrava no professor e nem no aluno, mas nos objetivos e nas técnicas de ensino que garantem o alcance dos mesmos. Os conteúdos tendem a serem vistos como regras, macetes (SEED, 2005). A educação escolar, nessa época, tinha a função de preparar o indivíduo à sociedade, tornando-o capaz e útil. Ela enfatizava o fazer e não o compreender. O ensino se resumiu ao emprego de técnicas e fórmulas, não havendo nenhuma justificativa e nem explicações sobre as teorias que fundamentavam os conteúdos. O professor e o aluno tornaram-se meros executores de um processo de concepção, planejamento, coordenação e controle que ficava a cargo de especialistas. As possibilidades de melhorias no ensino se limitavam ao emprego de técnicas especiais de ensino e ao controle/organização do trabalho escolar. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A ESCOLA TRADICIONAL, ESCOLA NOVA E ESCOLA TECNICISTA Escola Tradicional Escola Nova Escola Tecnicista Aluno • Passivo • Receptor da tradição cultural • Submetido a horários e currículos rígidos • homogenização • É o centro do processo • Pedocentrismo • Ritmos e interesses individuais • Visto como futura mão de obra Relação entre professor e aluno • Magistrocêntrico • O mestre detém o saber, autoridade, modelo a ser seguido • Aluno é o centro do processo • Esforço do professor para despertar a • Executa em sala de aula aquilo que foi projetada fora dela • Exige distanciamento 19 atenção e curiosi- dade • Prof. Facilitador da aprendiza- gem afetivo • Proletarização do trabalho docente • Propõe a divisão de tarefas Disciplina • Rígida, baseada em castigos e punições • Aluno deve obedecer a regras • Contra os castigos • Prepara para serem autônomos • Estimula discussões para compreensão • Rígida baseada no condiciona- mento Metodologia • Valoriza a aula expositiva • Exercícios de fixação (leitura repetitiva e cópias) • Aprender fazendo • Sistema apostilado • Recursos tecnológicos Conteúdo • Ênfase no esforço intelectual de assimilação de conhecimentos • Teórico+cultura clássica humanista • Abstrações devem resultar das experiências/tem relação com a vida • Conteúdo aprendido e não decorado • Preocupação com a apropria- ção do saber científico(ciências exatas) • Inf. objetivas → Adaptação do individuo ao trabalho Avaliação • Enfatiza aspectos cognitivos • Provas (centro de avaliação) • Processo válido para o próprio aluno • Cooperação e solidariedade • Verificação passo a passo do cumprimento ou não dos objetivos propostos, atendendo a critérios mensuráveis Pensadores (representantes) • Lutero • Augusto Comte • John Locke (aprende pelo contato com a realidade) • Dewey • Taylor • Skinner Cite uma crítica ou problemas encontrados • Ensino intelectualista e livresco, voltado ao passado • Magistrocêntrico • Sist. autoritário e dogmático • Ausência de disciplina • Minimização do professor • Visa à escola estruturada a partir de um modelo empresarial Século que inicia a tendência • Século XVI • Século XIX • Brasil década de 20 • Século XX • Década de 60 Influenciada por qual pensamento • Catolicismo voltado à escola jesuítica • Pensamento iluminista • Liberal • Behaviorismo • Filosofia positivista • Representante da pedagogia liberal 20 • Herdeira do cientificismo Aspecto Axiológico • Surgiu sob o signo da hierarquia e vigilância • Ênfase > no produto • Interessada em métodos e técnicas • Ênfase > nos processos de conhecimento do que no produto • Aprender a aprender • Visa uma escola estruturada a partir do modelo empresarial 6. EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: QUAL O SENTIDO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR HOJE? O presente artigo tem por objetivo, estabelecer uma reflexão sobre a educação na contemporaneidade, fazendo um paralelo com o ideal de educação grega: a “Paidéia”. Observando também as influências do capitalismo na educação escolar. Constatou-se na Grécia o início da “história da educação ocidental”, com o sentido do que representa a palavra educação na nossa realidade atual. No século V a.C. com os sofistas e depois com Sócrates e Aristóteles que o conceito de educação alcançou o estatuto de uma questão filosófica. Os ideais educativos da Paidéia foram desenvolvidos no século V a.C., mas se basearam em práticas educativas anteriores. Mas qual o significado da palavra Paidéia? Não há uma definição concreta para essa palavra. Inicialmente significava criação de meninos, mas adquiri outro sentido. Houve uma ampliação do conceito de Paidéia, que levou a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda a vida, muito além dos anos escolares; seria o ideal grego de formação humana. A partir do século V exigiu-se mais da educação, ela deveria formar o cidadão. A ginástica, a música, a gramática, deixam de ser suficientes. A educação moral resultava do contato direto da criança com um pedagogo, do jovem com o ancião. Os mestres se uniam para dar à criança exemplos de dignidade, de respeito pelas leis das cidades e pelos mais velhos. Até mesmo a ginástica e a música tinham fins morais. Eram trabalhadas qualidades como paciência, tolerância, força e coragem, lealdade, e consideração pelo direito dos outros. Percebemos que a matriz cultural grega mais presente na cena contemporânea é a Odisséia, onde predominam valores como a esperteza e a astúcia, e não a Paidéia. A educação vem mudando seu sentido, seu objetivo ao longo do tempo. Para os gregos representava a felicidade, para os medievais a salvação da alma, e na modernidade: empregabilidade e renda. Um termo constantemente usado na contemporaneidade é “qualidade na educação”. Mas esse termo tem diferentes representações, para o industrial por exemplo, qualidade seria lucro, para o trabalhador poderia ser mais igualdade, para o professor e para o aluno? Seria uma democratização do conhecimento? O fato é que o tema educação de qualidade na escola pública está longe de deixar de ser centro de discussões. Há hoje uma crescente valorização da educação como caminho para melhoria de vida e empregabilidade. De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) “o Ensino médio, como parte da educação escolar, deverá vincular-se ao 21 mundo do trabalho e à prática social” (Art.1º, inciso 2º, lei 9394/96). Com certeza esse é um grande desafio para as escolas públicas. Para Enguita (1989), o desenvolvimento do capitalismo e suas necessidades em termos de mão de obra, foram o fator mais poderoso a influir nas mudanças ocorridas no sistema escolar. Segundo ele as escolas de hoje não são o resultado de uma evolução não conflitiva e baseada em consensos generalizados, mas o produto provisório de uma longa cadeia de conflitos ideológicos, organizativos e, em um sentido amplo, sociais. O capitalismo então teria sido capaz de dar forma à escolarização (p.131). Uria, em um artigo chamado “A escola e o espírito do capitalismo”, faz o seguinte questionamento: “O sistema escolar é produto do sistema capitalista ou, pelo contrário, desempenhou um papel para o nascimento e desenvolvimento desse sistema no ocidente?” (p.137). A escola surgiu antes do capitalismo e da indústria, mas como salienta Enguita (1989), nem a organização do trabalho, nem a escola têm se mantido invariantes no processo de desenvolvimento da sociedade capitalista, e ao que parece abriu-se uma brecha ao evoluirem em sentidos diferentes a qualificação dos postos de trabalho e a qualificação dos trabalhadores. Para Regina Leite Garcia (2002), “a educação desempenha um papel estratégico no projeto neoliberal”. O discurso dos governantes enfatiza sempre a importância de uma escola de qualidade. Apesar desse discurso, percebemos que o grau de interferência do Estado na educação é cada vez menor. O Estado, que em tese foi criado para manter o bem estar social, hoje se preocupa com o bem estar do mercado. O discurso neoliberal apregoa um ensino que deva levar o aluno a estar preparado para a competitividade do mercado. Porém, o que se vê é uma educação excludente. No Brasil, ainda hoje, as origens sociais e econômicas são fatores fortes na determinação dos que têm acesso à educação. Vivemos em um país marcado por desigualdades, e é um desafio para a escola lhe dar com inúmeras diversidades. Preparar o aluno para o mercado de trabalho é uma frase comum na sociedade atual. Mas estaria a escola cumprindo esse papel no qual está inserida dentro desse discurso neoliberal? Uma das mudanças no ensino público foi a criação do EJA (Educação de Jovens e Adultos), mas ao que parece essa mudança se deu somente no nome, que antes era Supletivo. Analisando as políticas públicas para a educação de jovens e adultos, percebemos que estas não só têm se caracterizado pelo aspecto compensatório, como também pela ausências de medidas vindas do poder público, que tornem essa modalidade de ensino uma prática eficaz. O MEC (Ministério da Educação), os PCNs ( Parâmetros Curriculares Nacionais) e os CBCs (Currículo Básico Comum), poderiam representar um certo avanço no modelo educacional vigente, mas ainda não se concretizaram como proposta eficaz. Um dos objetivos gerais de história do ensino fundamental descritos nos PCNs (1998) é: compreender a cidadania como participação social e política, assim como o exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito. O que percebemos é que esse como outros objetivos descritos no PCN não se concretizam enquanto prática efetiva na escola. O que ocorre ainda, apesar de todos os “avanços”, um aprendizado que ainda se baseia mais em uma memorização. O professor de história não tem sozinho a responsabilidade na formação social do aluno, mas poderia sim abrir um campo de novas possibilidades, de reflexões, de indagações. 22 Mas percebemos que assim como as outras disciplinas, não leva o aluno a problematizar, a refletir, podendo ser este um dos motivosque faz dela uma disciplina pouco atraente entre os alunos. A responsabilidade do papel do professor aumenta cada vez mais, além de ser um mediador ou transmissor de conhecimentos, cabe a ele a responsabilidade de inserir valores éticos, religiosos, morais. Porém, em sua formação será que ele foi preparado para lhe dar com tantas situações adversas? A estrutura da escola, a fragmentação curricular em disciplinas e a tarefa de ensinar distribuídas pelos professores que são especialistas em determinado conteúdo, os sistemas de avaliação ao final de etapas, são, segundo Valente (2006), de um modelo de escola que foi concebido como uma indústria para produzir alunos “educados”, cabendo a cada professor desempenhar a função de montador dessa linha de produção; supervisores e coordenadores eram os “gerentes” de uma fábrica que tinha no diretor seu principal responsável. A realidade do ensino na sociedade contemporânea é a da especialização do saber. Há uma compartimentalização do conhecimento, o importante é cada professor dominar seu conteúdo. Porém, como salienta Domingues (2005) hoje é impossível alguém dominar o conhecimento em extensão ou profundidade, qualquer que seja a área do conhecimento, daí a importância do compartilhamento do conhecimento, e a cooperação dos especialistas. Os professores trabalham de forma compartimentalizada, porque também foram formados dessa maneira, portanto, uma mudança de paradigma, passa também pela formação dos professores. Segundo Mello (2006), a formação de professores não é parte da solução, e sim parte do problema da qualidade da educação. Salas cheias, materiais didáticos insuficientes ou de qualidade questionável, professores e alunos desmotivados, evasão escolar, aprovação automática, enfim, são várias as reclamações no que se refere à educação escolar, seja por parte de alunos ou de professores. A escola pode propiciar aprendizagem ou a falta dela. A impressão que temos, é que cada vez mais nos afastamos do ideal grego, mesmo que utópico de educação, a Paidéia. 7. EDUCAÇÃO NO BRASIL: A HISTÓRIA DAS RUPTURAS A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas. A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu. Num programa de entrevista na televisão o indigenísta Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho 23 repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer." Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta. Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo. Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo. Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo. Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que freqüentam os bancos escolares. Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar neste texto. Os períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de importância histórica. Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato momento em que esse texto está sendo lido. A educação brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas direções. 24 7.1. Período Jesuítico (1549 - 1759) A educação indígena foi interrompida com a chegada dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa. No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-seGramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional. 7.2. Período Pombalino (1760 - 1808) Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum. Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcospal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não 25 se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro. Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências européias da época. Além disso, Lisboa passou por um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado. Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras. Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal. Os professores geralmente não tinham preparação para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias. O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação. 7.3. Período Joanino (1808 – 1821) A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para atender as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as idéias fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da História do Brasil. A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira Lima (1921- ) "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da 26 expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura". 7.4. Período Imperial (1822 - 1888) D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos". Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor. Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas. Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios. Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo. Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional. 7.5. Período da Primeira República (1889 - 1929) A República proclamada adotou o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira. Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela científica. 27 Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico. O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da científica. A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de freqüência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão