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Ramos da Agroecologia_Final

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Brasília-DF. 
Ramos da agRoecologia
Elaboração
Henrique Almeida Miranda 
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção ................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5
introdução.................................................................................................................................... 7
unidAdE i
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA ........................................................................... 11
CAPítulo 1
PANORAMA HISTÓRICO .......................................................................................................... 11
CAPítulo 2
SuRGIMENTO ......................................................................................................................... 14
CAPítulo 3
A CONSOLIDAçãO COMO uM SISTEMA ................................................................................ 18
unidAdE ii
O SISTEMA AGROECOLÓGICO ATuAL .................................................................................................. 25
CAPítulo 1
AGROECOLOGIA NA ATuALIDADE .......................................................................................... 25
CAPítulo 2
O SISTEMA DE PRODuçãO AGROPECuáRIA ECOLÓGICA NO BRASIL ..................................... 27
CAPítulo 3
CONfORMIDADE E CERTIfICAçãO ........................................................................................ 37
unidAdE iii
OS RAMOS DA AGROECOLOGIA......................................................................................................... 58
CAPítulo 1
RAMO AGRONôMICO ........................................................................................................... 58
CAPítulo 2
RAMO AMBIENTAL .................................................................................................................. 62
CAPítulo 3
RAMO SOCIOECONôMICO .................................................................................................. 66
CAPítulo 4
RAMOS POLíTICO E LEGAL ..................................................................................................... 69
unidAdE iV
O fuTuRO DA AGROECOLOGIA .......................................................................................................... 74
CAPítulo 1
PERSPECTIVAS DOS RAMOS DA AGROECOLOGIA ................................................................... 74
CAPítulo 2
ESTuDO DE CASO EM COMERCIALIzAçãO DE PRODuTOS AGROECOLÓGICOS ..................... 83
rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 97
AnExo i ........................................................................................................................................ 100
ASPECTOS E OPORTuNIDADES PROfISSIONAIS ...................................................................... 100
AnExo ii ....................................................................................................................................... 101
GLOSSáRIO ......................................................................................................................... 101
5
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos 
conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da 
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que 
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica 
impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
6
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
7
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
8
introdução
A Agroecologia estuda uma variedade de agroecossistemas, e o campo desta ciência 
não está associado com qualquer método particular da agricultura, seja orgânico, 
convencional, intensiva ou extensiva. Além disso, não é definida por certas práticas de 
gestão, tais como o uso de inimigos naturais no lugar de inseticidas, ou policultura no 
lugar de monocultura.
Os agroecologistas não se opõem, por unanimidade, à tecnologia ou insumos na 
agricultura, mas sim defendem a avaliação da forma como, quando e se a tecnologia 
pode ser usada em conjunto com ativos naturais, sociais e humanos. Agroecologia 
propõe uma forma ao contexto ou local específico de agroecossistemas que estudam, 
e, como tal, reconhece que não há uma fórmula universal ou receita para o sucesso e o 
máximo de bem-estar de um agroecossistema.
Em vez disso, pode-se estudar questões relacionadas com as quatro propriedades de 
agroecossistemas: produtividade, estabilidade, sustentabilidade e equidade. Ao contrário 
de disciplinas que estão preocupadas com apenas uma ou algumas dessas propriedades, 
agroecologistas veem todas as quatro propriedades como interligadas e essenciais para o 
sucesso desta prática, reconhecendo que essas propriedades são encontradas na variação 
de escalas espaciais, não se limitam ao estudo dos agroecossistemas apenas em escalas de 
fazenda, expandem-se para a comunidade local e para a sociedade em geral.
O estudo da Agroecologia aborda as quatro propriedades através de uma lente 
interdisciplinar, utilizando ciências naturais para compreender elementos de 
agroecossistemas, como propriedades do solo e interações planta-inseto, bem como 
a utilização de ciências sociais para compreenderos efeitos das práticas agrícolas nas 
comunidades rurais, gargalos econômicos para o desenvolvimento de novos métodos 
de produção, ou fatores culturais que determinam as práticas agrícolas.
Os praticantes e defensores da Agroecologia nem sempre concordam sobre o que a 
Agroecologia é ou deveria ser, a longo prazo. O entendimento sobre Agroecologia 
pode ser primeiro agrupado de acordo com os contextos específicos nos quais eles 
situam a agricultura. Agroecologia é definida pela Organização para a Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como “o estudo da relação entre culturas 
agrícolas e meio ambiente.” (OCDE, 2016). Seguindo essa definição, um agroecologista 
estuda várias relações da agricultura com a saúde do solo, qualidade da água, 
qualidade do ar, meso e microfauna, flora circundantes, toxinas ambientais, e outros 
contextos ambientais.
9
A compreensão da ligação entre agricultura e ecologia abrange interações entre 
plantas, animais, seres humanos e o ambiente no interior dos sistemas agrícolas. 
Consequentemente, a Agroecologia é inerentemente multidisciplinar, incluindo fatores 
de agronomia, ecologia, sociologia e economia.
Agroecologia também é definida de forma diferente de acordo com a localização geográfica. 
Na América Latina o termo muitas vezes carrega conotações abertamente políticas. Tais 
definições políticas do termo geralmente atribuem a ele os objetivos de justiça social 
e econômica; atenção especial, neste caso, é muitas vezes dada ao conhecimento da 
agricultura tradicional das populações indígenas. Os usos norte-americanos e europeus 
do termo, por vezes, evitam a inclusão de tais metas abertamente políticas. Nestes casos, 
a Agroecologia é vista mais estritamente como uma disciplina científica com objetivos 
sociais menos específicas.
Os sistemas naturais, com a sua estabilidade e resiliência, fornecem o melhor modelo 
para atingir a sustentabilidade. Normalmente, os estudos denotam que a agricultura 
em larga escala é inadequada.
A Agronomia tem fornecido importantes subsídios para compreender os processos 
pelos quais a agricultura se tornou insustentável. Muitos pesquisadores têm apontado o 
exaurimento do modelo adotado desde a Revolução Verde. Faz-se também uma crítica 
político-econômica da agricultura moderna. Algumas posições podem ser vistas no 
sentido de que somente mudanças radicais na economia e na política irão reduzir os 
custos negativos da agricultura moderna.
A Agricultura e o sistema alimentar são considerados partes de um complexo 
institucional que se relaciona e se integra com outros ramos da ciência. Todas as cadeias 
de produção de alimentos integram vários aspectos que isoladamente não distinguem as 
necessidades de desenvolvimento ambientalmente correto e socialmente justo. Por isso 
a Agroecologia traz uma nova proposta de produção, alimentação e sustentabilidade.
objetivos
 » Apresentar uma abordagem organizada sistematicamente da 
Agroecologia para facilitar a compreensão dos diversos dispositivos que 
integram a ecologia interna dos agroecossistemas, seus componentes 
sociais e culturais, incluindo nutrição e soberania alimentar, colheita 
genótipo-a-ambiente interações incluindo os de variedades de culturas 
transgênicas, e os (serviços ecossistêmicos) positivos e negativos 
(degradação dos ecossistemas) efeitos dos agroecossistemas no 
ambiente maior, especialmente climáticas.
10
 » Apresentar um panorama histórico do surgimento e da evolução da 
Agroecologia.
 » Mostrar uma abordagem da situação atual.
 » Relacionar e descrever os ramos da Agroecologia.
 » Trazer algumas perspectivas futuras para a continuidade da sua aplicação.
 » Disponibilizar um caso prático de sucesso na implantação de um sistema 
agroecológico.
 » Relacionar aspectos da legislação pertinente ao tema.
 » Abordar a atuação e as oportunidades profissionais na área.
11
unidAdE i
HiStÓriA E 
dESEnVolViMEnto dA 
AgroECologiA
CAPítulo 1
Panorama histórico
O desenvolvimento da agricultura teve um forte impulso quando a população mundial 
começou a migrar intensamente de áreas rurais para as cidades industriais que 
cresciam com a instalação de fábricas e de comércio. Este movimento substituiu a 
produção agrícola e pecuária de subsistência nas propriedades rurais familiares antigas 
pela massa de assalariados nas grandes cidades que foram forçadas a urbanizarem-se 
rapidamente, dado o rápido aumento populacional.
O gráfico a seguir mostra a intensidade do crescimento populacional mundial ao longo 
dos últimos dois mil anos e o seu aumento substancial a partir de 1900, com a melhoria 
das condições de saúde, a urbanização e a industrialização, além da previsão até 2100. 
Pode-se denotar que a demanda por alimentos também cresceu de forma acelerada, 
ocasionando maior pressão sobre o meio ambiente.
Gráfico 1. Crescimento populacional desde o ano 1 d.C. e perspectivas até o ano 2095.
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Ano
Crescimento da população mundial (em bilhões/ano)
fonte: adaptado pelo autor (ONu, 2016). 
12
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
Muitos fatores podem ser apontados como incidentes na explosão demográfica mundial 
registrada nos últimos 200 anos. As famílias abandonaram o campo e a própria 
produção de alimentos e passaram a comprar aquilo que precisavam para suas refeições 
nos centros urbanos. Outro fator é a melhoria da qualidade de vida aliada aos avanços 
da medicina.
Como consequência viu-se uma demanda também crescente por alimentos vendidos 
nas cidades recém-industrializadas. A produção de alimentos e bebidas deixou o caráter 
artesanal e de pequena produção para ser industrializada e produzida em grande escala 
com a especialização do seu comércio, panificadoras, açougues, restaurantes etc.
De uma forma simplificada, o gráfico a seguir representa a teoria preconizada pelo 
economista inglês Thomas Robert Malthus, no final do século XVIII. De acordo com esta 
teoria, a população mundial cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de 
alimentos em progressão aritmética. Desta forma em algum momento da humanidade 
não haveria alimentos para toda a população. Esta teoria não foi comprovada, até 
o momento.
Gráfico 2. Relação entre população e produção de alimentos da teoria Malthusiana.
fonte: Geografia opinativa, 2016.
A história retrata com precisão as mudanças sociais e econômicas ocorridas neste 
período, aproximadamente entre 1850 e 1900, principalmente na Europa e América do 
Norte.
Este modelo industrial de trabalho assalariado foi consolidado após a abolição dos 
regimes de escravidão até então praticados. As fábricas, o comércio e próprio governo 
necessitavam cada vez mais de mão de obra.
13
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
Já no início do século XX (1900 -...) podia-se comprar não apenas aqueles produtos 
típicos de propriedades rurais (carne, temperos, trigo, leite, verduras e frutas) como 
também produtos industrializados (pães, biscoitos, salsichas, iogurtes, doces). A 
indústria alimentícia produzia novos alimentos e novas formas de consumi-los. As 
roupas eram confeccionadas de forma padronizada e estavam disponíveis para venda 
nas grandes ruas de comércio, pois as famílias de migrantes não plantavam mais o 
algodão e nem usavam o tear para as peças individuais.
O início do século XX foi marcado pela prosperidade. O dinamismo da economia 
movia mercadorias para outras cidades por ferrovias e até outros países por navios. A 
geração de riqueza pela indústria e comércio fez surgir grandes indústrias e criou novas 
profissões.
A farta disponibilidade e diversidade de alimentos industrializados contrastava com 
os primeirosproblemas da urbanização acelerada: os horários a serem cumpridos, o 
tráfego de veículos, as habitações sem saneamento básico, a inflação dos preços e a 
criminalidade. Estava estabelecido o estilo de vida urbano, embora a maior parte da 
população ainda se encontrava no campo.
O desenvolvimento da ciência foi o grande motor de sustentação do crescimento. Via-se 
pesquisa, desenvolvimento e inovação em todas as áreas do conhecimento. Não apenas 
conhecimentos industriais como também sociais e políticos em decorrência dos 
problemas da urbanização citados anteriormente. As duas grandes guerras mundiais 
foram o ápice dos conflitos e levaram países a disputarem territórios que trariam, 
segundo os tiranos, mais riqueza para sua nação.
Este modelo de desenvolvimento deu sinais de saturação pouco antes dos anos 1950 
e após a II Guerra Mundial (1939-1945) deu-se início à novas formas de produção, 
comércio e alimentação.
No campo, a Revolução Verde cumpria seu papel de produzir mais alimentos para 
mais pessoas, mas cobrava seu preço: os primeiros sinais de poluição, intoxicação e 
desequilíbrio ambiental foram aparecendo.
Surgiram vários movimentos sociais organizados para contrapor os malefícios que 
eram trazidos com a modernização e o progresso. Protestos nas ruas e principalmente 
grupos e associações eram formados por pessoas que compartilhavam o mesmo ideal e 
respeito ao ser humano, aos animais e à natureza.
14
CAPítulo 2
Surgimento
A prática de uma agricultura baseada em princípios ecológicos se desenvolveu em várias 
partes do mundo a partir do início do século XX e recebeu diversas denominações, 
conforme a região ou os princípios aos quais se reportava, mais conhecidas globalmente 
sob a denominação de “Agricultura Orgânica”, já com um olhar crítico sobre os caminhos 
e as consequências de uma agricultura baseada e muito dependente da industrialização 
crescente do Pós-Guerra, da “modernização” pela Revolução Verde (HAMERSCHMIDT 
et al., 2005). 
A palavra Agroecologia foi utilizada pela primeira vez em 1928, em estudo de descrição 
das características de variedades de milho pelo agrônomo russo Basil Bensin (WEZEL 
et al., 2009).
Ele usou esse termo para indicar a aplicação da ecologia à agricultura. No mesmo período, 
outros autores publicaram documentos ou livros que tratavam com os fundamentos da 
Agroecologia, mas sem mencionar a palavra.
Vários pesquisadores adotaram o termo desde então e desenvolveram trabalhos ao 
redor do mundo nas décadas seguintes. Exemplos são Klages (1928), um engenheiro 
agrônomo dos EUA interessado no cultivo de plantas usando uma base fisiológica, e 
Azzi, um cientista italiano que publicou em 1928 um livro sobre “Ecologia Agrícola”, 
que estabeleceu a fundação de sua obra posterior (AZZI, 1942; 1956). O último livro, em 
particular, concentrado sobre os aspectos ambientais, como clima, solo, desenvolvimento 
e crescimento das plantas cultivadas. Ambos os cientistas, embora não utilizando o 
termo Agroecologia, podem ser considerados os pioneiros da disciplina.
Entre os anos 1930 e 1960, diferentes outros trabalhos foram publicados e a expressão 
Agroecologia foi explicitamente utilizada. A partir da década de 1970, também como uma 
resposta à Revolução Verde e à consequente intensificação e especialização da agricultura, 
houve um crescente interesse pela ecologia aplicada à agricultura. Foi neste período que 
brotou o conceito de agroecossistemas, como ecossistemas aplicáveis e consolidados.
A partir dos anos 1980, Altieri (1989), e mais tarde Gliessman (1997), começaram a 
definir Agroecologia com uma abordagem para proteger os recursos naturais e para 
projetar e gerenciar de forma sustentável, os agroecossistemas. Gradualmente a 
Agroecologia começou a contribuir para o conceito da sustentabilidade aplicada à 
agricultura. Neste período, o tema biodiversidade surgiu juntamente com publicações 
relacionadas.
15
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
No decorrer do século XX, o significado da Agroecologia como uma disciplina científica 
evoluiu e sua identidade também mudou. A partir dos anos 1990, tornou-se também um 
movimento e uma prática. Neste período, o termo começou a ser utilizado para definir 
uma nova maneira de considerar a agricultura e suas relações com a sociedade, ou seja, 
um movimento. Ao mesmo tempo Agroecologia foi reconhecida como um conjunto 
de práticas que visavam desenvolver uma agricultura respeitadora do meio ambiente 
e sustentável em longo prazo, como uma alternativa à alta demanda por insumos da 
agricultura convencional. 
Atualmente a Agroecologia compreende um sistema com vários métodos e enfoques 
diferentes, como mostrados abaixo e definidos em seguida.
figura 1. Métodos de agricultura alternativa. 
fonte: Planeta orgânico, 2016.
a. Agricultura orgânica: é um processo produtivo comprometido com a 
organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos para garantir a 
saúde dos seres humanos, razão pela qual usa e desenvolve tecnologias 
apropriadas à realidade local de solo, topografia, clima, água, radiações e 
biodiversidade própria de cada contexto, mantendo a harmonia de todos 
esses elementos entre si e com os seres humanos (AAO, 2016).1
b. Agricultura biológica: nome dado para a Agricultura Orgânica em 
Portugal.
c. Agricultura biodinâmica: desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf 
Steiner (1861-1925) que propõe uma forma livre e responsável de pensar, de 
perceber a realidade e de atuar, observando e respeitando o ser humano e a 
realidade na qual está inserido. Steiner, fundador da Antroposofia, colocou, 
1 Definição segundo a Associação de Agricultura Orgânica (AAO). Disponível em: <http://aao.org.br/aao/agricultura-organica.
php>. Acesso em: 6 de out. 2016.
16
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
em 1924, a pedra fundamental espiritual do Movimento Biodinâmico, em 
forma de um ciclo de 8 palestras para agricultores (IRS, 2016).2
d. Agricultura natural: o método da Agricultura Natural foi idealizado por 
Mokiti Okada (Japão,1882-1955), como alternativa para os problemas 
decorrentes da prática da agricultura convencional, na década de 1930 
(KORIN, 2016).3 Ao analisar o método agrícola convencional, Mokiti 
Okada manifestou uma profunda preocupação com o emprego excessivo 
de agroquímicos no solo. Observador dos princípios da natureza, criou 
o método da Agricultura Natural para resgatar a pureza do solo e dos 
alimentos, preservar a diversidade e o equilíbrio biológico e contribuir 
para a elevação da qualidade da vida humana
e. Permacultura: segundo o grupo de estudos da Universidade Federal de 
Santa Catarina (UFSC), é um sistema de planejamento para a criação 
de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio com 
a natureza. Surgiu da expressão em inglês “Permanent Agriculture” 
criada por Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970. Propõe 
uma “cultura permanente”, ou seja, que visa a nossa permanência neste 
planeta em harmonia com a natureza (UFSC, 2016).4
f. Agricultura sintrópica: é um sistema que já existe há bastante tempo onde 
agricultores que desenvolvem a técnica não precisam usar agrotóxicos ou 
adubo, já que a própria natureza oferece os insumos para a produção. É 
baseado no cultivo dentro da floresta e em matas nativas ou recuperadas. 
Seu principal expoente é o pesquisador suíço, residente no Brasil, Ernst 
Götsch.
Devido às diversas nomenclaturas e formas de agricultura não industrial convém 
chamar estes métodos de produção ecologicamente responsáveis como Agroecologia de 
forma a sintetizar os conceitos, princípios e sistemas de produção agrícola alternativa 
ao método convencional (agroquímico).
O enfoque nos primeiros anos de popularização dos sistemas de produção da 
agricultura não industrial, trouxe intenso debate na Europa entre representantes das 
indústrias de insumos agrícolas e ativistas dos movimentos de agricultura alternativa. 
Os representantes da agricultura convencional argumentavamque essas denominações 
eram incorretas, pois, mesmo com o uso dos insumos industriais, os processos biológicos 
e os processos orgânicos não deixavam de acontecer.
2 Compilado do conteúdo disponível em: <http://institutorudolfsteiner.org.br>. Acesso em: 6 de out. 2016.
3 Segundo informações de divulgação em: <http://www.korin.com.br/empresa/agricultura-natural/>.
4 Disponível em: <http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/>.
17
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
A Agroecologia é uma ciência emergente, orientada por uma nova base epistemológica 
e metodológica de práticas agrícolas. É um campo de conhecimento transdisciplinar 
que recebe influência do Direito, das ciências agrárias, sociais e ambientais (Ecologia). 
E como ciência interdisciplinar é regida por princípios comuns a outras áreas.
Segundo Caporal (2004), como resultado da aplicação dos princípios da Agroecologia, 
pode-se alcançar estilos de agriculturas de base ecológica e assim, obter produtos de 
qualidade biológica superior. Mas, para respeitar os princípios, esta agricultura deve 
atender requisitos sociais, considerar aspectos culturais, preservar recursos ambientais, 
considerar a participação política e o empoderamento dos seus atores, além de permitir 
a obtenção de resultados econômicos favoráveis ao conjunto da sociedade, com uma 
perspectiva temporal de longo prazo, ou seja, uma agricultura sustentável.
Os agroecologistas são praticantes de algum tipo de agricultura alternativa. Eles podem 
ser os agricultores, extensionistas rurais, funcionários de ONGs e do governo e políticos 
internacionais que trabalham com agricultura. Os atores da Agroecologia têm um 
espectro amplo de conhecimentos, da agricultura para a análise de políticas, de práticas 
de cultivo no campo e de modelagem dinâmica de pragas de plantas, não apenas saberes 
empíricos como também provados cientificamente.
A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquela que tendo como 
base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de 
maneira integrada, aos seguintes critérios:
 » baixa dependência de insumos comerciais;
 » uso de recursos renováveis localmente acessíveis;
 » utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local;
 » aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência 
da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente;
 » manutenção em longo prazo da capacidade produtiva;
 » preservação da diversidade biológica e cultural;
 » utilização do conhecimento e da cultura da população local;
 » produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação.
18
CAPítulo 3
A consolidação como um sistema
O desenvolvimento rural sustentável é o pressuposto para a construção de uma 
sociedade mais equilibrada, que busca utilizar pré-requisitos básicos para alcançar 
a sustentabilidade, apoiando-se, principalmente, na participação política dos atores 
envolvidos, permitindo a obtenção de ganhos econômicos, levando em consideração 
a qualidade de vida da geração presente e das gerações futuras. Nessa perspectiva, a 
participação da sociedade civil em Conselhos de Comunitários de Desenvolvimento 
contribui para a busca de uma sociedade mais justa e equilibrada, e se efetivamente 
constituídos, poderão imprimir novo formato às políticas sociais, estabelecendo nova 
relação entre Estado e sociedade civil.
A proposta da Agroecologia se concretiza em um contexto de totalidade da sua aplicação. 
Portanto, incentivar o desenvolvimento de práticas isoladas pode tornar a perspectiva 
agroecológica incompleta num contexto espacial e temporal, transformando o 
desenvolvimento rural em proposta insustentável em longo prazo.
Essa perspectiva holística da Agroecologia induz à redescoberta do local como espaço 
decisório e de mobilização da sociedade. Para melhor compreensão do conceito de 
local, deve estar clara a concepção de território como fração de espaço, de uso comum 
ou familiar, regulado política e administrativamente por normas próprias e acordadas.
Nesse sentido, o local é o espaço socialmente construído, com base territorial definida 
(segundo critérios geoeconômicos, geopolíticos e geoambientais) para a criação e 
formação de identidades territoriais.
Como defensores de alimentos orgânicos, agroecologistas podem assumir diversas 
identidades ao longo do tempo e da região. A história e evolução da agroecologia remonta 
a pelo menos a década de 1930, em termos de reconhecimento científico ocidental. Wezel 
et al. (2009) traça linhagens distintas da agroecologia com emergências separadas 
de “ciência” na Alemanha, “prática” na França, e “movimento” que ocorre ao lado de 
ciência e prática, tanto nos EUA quanto no Brasil, embora com ênfases diferentes (mais 
ciência nos EUA, mais prática e movimento no Brasil).
A Agroecologia possui dimensões que preconizam os seus princípios. Tais dimensões 
aplicam-se a vários pressupostos de integração entre homem e seu ambiente.
 » Dimensão ecológica: manutenção e recuperação da base de recursos 
naturais. Constitui o aspecto central para se atingirem patamares crescentes 
19
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
de sustentabilidade em qualquer agroecossistema. Há necessidade de 
abordagem holística e de enfoque sistêmico, dando tratamento integral a 
todos os elementos do agroecossistema que venham a ser impactados pela 
ação humana. Enfim, uma noção de preservação e conservação da base 
dos recursos naturais como condição essencial para a continuidade dos 
processos de reprodução socioeconômica e cultural da sociedade em geral 
e da produção agropecuária em particular, numa perspectiva que considere 
tanto as atuais como as futuras gerações.
 » Dimensão social: representa, precisamente, um dos pilares básicos 
da sustentabilidade. A busca por melhores níveis de qualidade de vida 
mediante a produção e o consumo de alimentos com qualidade biológica 
superior, eliminando o uso de insumos tóxicos no processo produtivo 
agrícola, através de novas combinações tecnológicas, sociais e éticas. 
Dessa forma, originando novas formas de relacionamento da sociedade 
com o meio ambiente, estabelecendo conexão entre a dimensão social e a 
ecológica, sem prejuízo da dimensão econômica.
 » Dimensão econômica: a sustentabilidade de um agroecossistema também 
supõe a necessidade de se obterem balanços agroenergéticos positivos, 
compatibilizando a relação entre produção agropecuária e consumo 
de energias não renováveis. De acordo com a Economia Ecológica, 
a sustentabilidade pode ser expressada pela preservação da base de 
recursos naturais que são fundamentais para as gerações futuras.
 » Dimensão cultural: deve-se considerar a necessidade de que as 
intervenções respeitem a cultura local. Os saberes, os conhecimentos 
e os valores locais das populações rurais precisam ser analisados, 
compreendidos e utilizados como ponto de partida dos processos de 
desenvolvimento rural que, por sua vez, devem espelhar a “identidade 
cultural” das pessoas que vivem e trabalham em dado agroecossistema. 
Nesse sentido, a agricultura precisa ser entendida como atividade 
econômica e sociocultural, como prática social realizada por sujeitos que 
se caracterizam pela forma particular de relacionamento com o meio 
ambiente.
 » Dimensão política: o desenvolvimento rural sustentável deve ser concebido 
a partir das concepções culturais e políticas próprias dos grupos sociais. 
Deve considerar o diálogo e a integração com a sociedade maior, por meio 
de representação em espaços comunitários ou em conselhos políticos e 
profissionais, numa lógica que considere aquelas dimensões de primeiro 
nível como integradoras das formas de exploração e manejo sustentável 
20
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
dos agroecossistemas. Assim, deve-se privilegiar o estabelecimento de 
plataformas de negociação nas quais os atores locais possam expressar 
seus interesses enecessidades em igualdade com outros atores envolvidos, 
assegurando o resgate da autoestima e o pleno exercício da cidadania.
 » Dimensão ética: relaciona-se diretamente com a solidariedade entre 
gerações e com novas responsabilidades dos indivíduos em relação à 
preservação do meio ambiente. Dessa forma, exige pensar e tornar viável 
a adoção de novos valores, não necessariamente homogêneos. A dimensão 
ética da sustentabilidade requer o fortalecimento de princípios e valores 
que expressem a solidariedade sincrônica (entre as gerações atuais) e a 
solidariedade diacrônica (entre as atuais e futuras gerações).
Essas dimensões básicas da sustentabilidade são elementos importantes para a 
identificação dos passos que venham a auxiliar o processo de construção de estilos 
de agricultura sustentável sob o enfoque agroecológico. A multidisciplinaridade 
da agricultura sustentável leva ao conhecimento agregado que promove um ciclo 
dinâmico de interações e perspectivas em contínuo desenvolvimento.
É possível perceber uma linha com ações na qual se deve percorrer para se obter o 
sucesso na implantação ou transição para um sistema. A figura a seguir apresenta esta 
linha desenvolvimento.
figura 2. Ciclo construtivo da Agroecologia.
fonte: CRPBz, 2016.
21
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
No início do século XXI, os princípios da agricultura orgânica foram discutidos por dois 
anos e revistos pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica 
(IFOAM), sendo aprovados em Assembleia Geral em 2005. O documento foi traduzido 
e está disponível no site oficial da IFOAM em 12 idiomas, mas não em português. 
O documento enfatiza que os princípios são as raízes pelas quais a agricultura orgânica 
deve crescer e se desenvolver.
Dentre as oito áreas temáticas consideradas importantes para a construção de plataforma 
capaz de promover a identidade dos movimentos orgânicos, quatro foram descritas 
como princípios universais que guiam o desenvolvimento da agricultura orgânica: 
saúde, ecologia, equidade e precaução.
Saúde
O papel da agricultura orgânica deve ser o de sustentar e aumentar a saúde do solo, 
das plantas, dos animais, do homem e do planeta, seja por meio do manejo do solo, 
do processamento dos alimentos, da distribuição ou do consumo. Entende-se que 
somente em solo saudável é possível produzir alimentos que vão sustentar animais e 
pessoas de forma saudável, influenciando a saúde das comunidades que, por sua vez, 
não pode ser separada da saúde do ecossistema no qual se inserem. Assim, quaisquer 
substâncias, sejam adubos químicos, agrotóxicos, drogas veterinárias e aditivos para o 
processamento dos alimentos, que possam, de alguma forma, ter efeito adverso à saúde 
das pessoas, dos animais, das plantas ou do ecossistema devem ser evitadas.
Ecologia
A agricultura orgânica deve assentar-se nos ciclos biológicos, harmonizando e sustentando 
os sistemas ecológicos. Assim, a produção deve basear-se nos processos ecológicos e 
na reciclagem. As culturas, as criações e o extrativismo devem ajustar-se aos ciclos e 
balanços ecológicos da natureza. O manejo orgânico deve ser adaptado às condições 
locais, à ecologia da região, às tradições e cultura locais. Os insumos externos devem 
ser reduzidos através da reutilização, da reciclagem e do manejo eficiente dos recursos 
naturais, inclusive da energia, para que seja possível conservar esses recursos. A caça 
e a coleta devem observar um plano de manejo que não prejudique a sobrevivência 
da espécie.
O balanço ecológico deve ser obtido por meio do desenho de sistemas de produção e do 
manejo da diversidade genética, tanto das plantas cultivadas como da cobertura vegetal 
em geral. Todos que participam da produção orgânica, como produtores, processadores, 
22
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
distribuidores e consumidores, devem proteger o ambiente, incluindo a paisagem, o 
clima, a biodiversidade, o ar e a água, mas também os homens e os animais.
Equidade
A agricultura orgânica deve basear-se em relações que garantam oportunidade de vida para 
todos e assegurem equidade em relação ao bem comum. A equidade é caracterizada pela 
igualdade, respeito, justiça e gestão responsável do mundo compartilhado, tanto entre os 
seres humanos como nas relações com os outros seres vivos. Assim, todos os envolvidos 
com a agricultura orgânica, sejam produtores, trabalhadores rurais, processadores, 
distribuidores, comerciantes e consumidores, devem conduzir as relações humanas sociais 
de modo a assegurar qualidade de vida e justiça a todos os envolvidos. A agricultura 
orgânica deve ter como objetivo produzir alimentos de qualidade em quantidade suficiente 
para contribuir para a redução da pobreza e para fortalecer a segurança alimentar.
Esse princípio enfatiza que se deve proporcionar aos animais de criação condições de 
vida que estejam de acordo com a sua característica, seu comportamento natural e 
bem-estar. Além disso, os recursos naturais e ambientais devem ser usados na produção 
orgânica de forma ecologicamente sustentável e socialmente justa, devendo manter-se 
como legado para as gerações futuras. A equidade requer que os sistemas de produção, 
distribuição e mercado sejam justos e levem em conta os verdadeiros custos ambientais 
e sociais da produção.
Precaução
A agricultura orgânica deve ser planejada e desenvolvida de forma responsável e cuidadosa, 
de modo a proteger a saúde e o bem-estar das pessoas e das gerações futuras, bem como 
a qualidade do ambiente. Assim, deve procurar aumentar a eficiência e a produtividade 
sem colocar em risco a sustentabilidade dos agroecossistemas. O entendimento dos 
ecossistemas e agroecossistemas é ainda incompleto, devendo-se, portanto, tomar todo 
o cuidado.
Precaução e responsabilidade devem permear as tomadas de decisão e as escolhas de 
tecnologias. As decisões devem refletir os valores e necessidades de todos que possam 
ser afetados, por meio de processo transparente e participativo. Os riscos devem 
ser evitados pela adoção de tecnologias apropriadas e pela rejeição de tecnologias 
imprevisíveis, como a engenharia genética.
Atualmente, as normas da agricultura orgânica em vigor no comércio internacional 
dão ênfase às qualidades agronômicas e zootécnicas, deixando de valorizar outras 
23
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
qualidades que guardam forte apelo junto aos consumidores dos produtos orgânicos 
e “verdes”.
Destacar essas e outras qualidades não implica negligenciar o que a ciência ensina a 
respeito da saúde, do ambiente ou sobre os riscos de segurança alimentar. Implica apenas 
reconhecer que as normas, mesmo as reguladoras na área da saúde e da segurança, 
têm dimensões normativas que não podem ser decididas somente em bases científicas. 
Procedimentos justos para integrar a ciência às normas culturais e morais devem ser 
adotados. Cientistas e negociadores (comerciantes e políticos) têm demonstrado, até 
agora, insensibilidade para a natureza problemática da tomada de decisões de regulação 
em qualquer uma das últimas dimensões citadas. Harmonizar normas internacionais 
implica negociar culturas e visões de mundo no seu senso mais fundamental.
os sistemas agroalimentares
Uma das definições mais completas da Agroecologia hoje é a “ecologia dos sistemas 
agroalimentares”. Ele tem o objetivo explícito de transformar sistemas alimentares 
para a sustentabilidade, de tal modo que exista um equilíbrio entre solidez ecológica, 
econômica viabilidade e da justiça social. No entanto, para alcançar esta transformação, 
a mudança é necessária em todas as partes do sistema de alimentação, ou seja, nas 
cadeias produtivas, a partir da semente até a mesa dos consumidores. O envolvimento 
deve ser por quem produz, quem distribui e quem consome; todos devem ser conectados 
em um movimento social que homenageia a profunda relação entre o meio ambiente, os 
alimentos e as pessoas. Nossa realidade globalizadaatual oferece com muita facilidade, 
o sistema de alimentos industrializados não fornece evidências convincentes de que é 
sustentável em qualquer um dos três aspectos da sustentabilidade (econômica, social 
ou ambiental).
A profunda compreensão do que vem a ser uma visão holística e ecológica dos sistemas 
agroalimentares pode desencadear a mudança necessária para restaurar a sustentabilidade 
nos sistemas alimentares nas diversas regiões produtoras.
Os agricultores têm a reputação de serem inovadores e experimentadores, adotando 
voluntariamente novas práticas quando percebem que algum benefício será adquirido, 
ainda mantendo os que provaram ao longo do tempo. Isto é especialmente verdadeiro 
para os pequenos agricultores ao redor do mundo. Mas ao longo dos últimos 50-60 
anos, a inovação na agricultura tem sido impulsionada principalmente por um excesso 
de ênfase em altos rendimentos e lucros na fazenda com uma visão de curto prazo, 
resultando em retornos notáveis para alguns, mas muitas vezes à custa de uma série de 
efeitos colaterais ambientais e sociais negativos.
24
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
Apesar da continuação de uma forte pressão para concentrar-se nos retornos econômicos, 
muitos agricultores estão dispostos a optar por fazer a transição para práticas que 
preservem os recursos naturais e têm o potencial de contribuir para a sustentabilidade 
a longo prazo para a agricultura. Estes produtores rurais estão usando princípios 
agroecológicos para fortalecer o conhecimento local, a experiência e as redes na 
agricultura que se acumularam ao longo dos séculos. Todos estes tipos de esforços 
representam a “transição” ou “transformação” da agricultura em sentido amplo.
A transição para uma gestão baseada na ecologia está fundamentada nos princípios 
da Agroecologia. Estes princípios podem entrar em jogo inicialmente no processo real 
de mudar a forma como o alimento é cultivado. Agricultores que se dedicam ao processo de 
transição sabem, através da intuição, experiência e conhecimento, o que é insustentável 
e o que é, no mínimo, mais sustentável.
25
unidAdE iio SiStEMA 
AgroEColÓgiCo AtuAl
CAPítulo 1
Agroecologia na atualidade
A Agroecologia, ainda hoje, é considerada um campo de estudo novo que analisa os 
agroecossistemas, integrando conhecimentos da agronomia, ecologia, economia, 
sociologia, entre outros.
Há aqueles que defendem a Agroecologia, não como uma disciplina, e sim sob um 
enfoque transdisciplinar, considerando a atividade agrária desde uma perspectiva 
ecológica com teoria e metodologia que utiliza várias disciplinas científicas, construindo 
uma vinculação essencial existente entre o solo, a planta, o animal e o ser humano.
Atualmente a Agroecologia é caracterizada principalmente como um movimento 
sociopolítico, de empoderamento do agricultor em busca de sua identidade e raízes 
culturais. Ela é um mecanismo que oferece ao agricultor autonomia, poder de decisão 
e participação ativa no processo produtivo. Tudo isso acaba por favorecer o local como 
foco de ação.
no mundo
A institucionalização da agricultura orgânica no mundo teve início em 1972, com a 
criação da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM) 
e a publicação de suas primeiras normas em 1978. As normas privativas da IFOAM 
serviram de referência para a comercialização dos produtos orgânicos no mundo até 
a década de 1990 e para o estabelecimento de outras normas locais e regulamentos 
técnicos em diferentes países.
A França foi o primeiro país a regulamentar, ainda nos anos 1980. No início da década 
de 1990, foram criados os regulamentos técnicos para a produção orgânica de origem 
vegetal da Comunidade Econômica Europeia, à época o maior mercado de orgânicos. 
26
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
No final da década, o Codex Alimentarius5 estabeleceu diretrizes para a produção 
orgânica de origem vegetal e em 2001, editou diretrizes para a produção animal. 
O Codex é a norma internacional que serve de referência para as negociações comerciais 
de alimentos nos acordos de barreiras técnicas ao comércio e medidas sanitárias e 
fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para os não alimentos 
(têxteis e cosméticos) devem ser usadas as normas da IFOAM.
Essas normas internacionais de referência são baseadas nas realidades, práticas 
e contextos específicos dos países de clima temperado e dos países de alta renda. 
Hoje existem mais de 80 países com alguma regulamentação da agricultura orgânica 
em algum estágio (implantadas ou em discussão). A pouca flexibilização das normas 
internacionais está refletida nos regulamentos técnicos nacionais, praticamente cópia 
das normas internacionais e regionais, que dificultam o comércio internacional de 
produtos da agricultura orgânica e também o desenvolvimento dos mercados locais em 
países de baixa renda da América Latina e Caribe e da Ásia.
O estabelecimento em 2003, da Força Tarefa Internacional – FAO6/UNCTAD7/IFOAM 
para harmonização e equivalência das normas na agricultura orgânica mostra a 
necessidade de flexibilizar e buscar acordos de reconhecimento mútuo, embora 
respeitando as diversidades os diferentes países. Essa flexibilização deve começar pela 
busca da equivalência de objetivos regulamentares comuns na condução dos sistemas de 
garantia das qualidades orgânicas dos países cujos resultados são iguais, para satisfazer 
às necessidades de inocuidade e qualidade, bem como o imaginário dos consumidores e 
das autoridades competentes. A harmonização virá como consequência das negociações 
de diretrizes internacionais menos específicas e mais evolutivas.
Há tendência de inclusão e aceitação dos sistemas participativos de garantia (SPG) 
em oito legislações dos países de baixa renda na América Latina e Caribe, na Índia 
e na Espanha. O reconhecimento dos SPG pela FAO, em sua 30ª Reunião Regional, 
que ocorreu em abril de 2008, em Brasília-DF, demonstra que esses mecanismos de 
avaliação da conformidade são adequados aos mercados internos e externos.
5 O Codex Alimentarius é uma coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente, códigos de conduta, orientações e outras 
recomendações relativas a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar. Disponível em: <http://www.fao.org/fao-
who-codexalimentarius/en/>.
6 A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla do inglês Food and Agriculture Organization) 
é uma organização das Nações Unidas cujo objetivo é aumentar a capacidade da comunidade internacional para de forma eficaz 
e coordenada, promover o suporte adequado e sustentável para a segurança alimentar e nutrição global. Sítio: <http://www.
fao.org/brasil/pt/>.
7 A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) foi estabelecida em 1964, em Genebra, Suíça, 
atendendo às reclamações dos países subdesenvolvidos, que entendiam que as negociações realizadas não abordavam os 
produtos por eles exportados, os produtos primários. Sítio: <http://unctad.org/en/Pages/Home.aspx>.
27
CAPítulo 2
o sistema de produção agropecuária 
ecológica no Brasil
No Brasil, a Agroecologia tem alcançado resultados significativos em algumas regiões. 
Isso acontece quando são desenvolvidos, simultaneamente e de forma integrada, aspectos 
sociais, culturais, econômicos e ambientais, principalmente junto aos agricultores 
familiares e às comunidades advindas de classes populares.
A rica biodiversidade dos sistemas de produção, a pluriatividade e as formas de 
organização e acesso a mercados próprios, relacionados com os fatores socioeconômicos, 
ambientais e culturais e sua capacidade de garantir, em grande medida, a segurança 
alimentar e nutricional de nossa população, são características marcantes da agricultura 
orgânica e de base agroecológica brasileira.
Nas últimas décadas, tivemos importantes avanços no campo do conhecimento 
agroecológico e orgânico, integrando os saberes tradicionais dos agricultores,assentados da reforma agrária, e dos povos e comunidades tradicionais com o científico, 
refletindo em diversas iniciativas de políticas públicas em setores do ensino superior e 
profissionalizante, no direcionamento da pesquisa e nos métodos e metodologias da 
extensão rural, bem como na ampliação das técnicas e tecnologias de suporte à transição 
agroecológica. Entretanto, diversos desafios ainda se apresentam para diminuir as 
fragilidades e garantir a sustentabilidade desses sistemas de produção.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em atenção a políticas de Agroecologia 
criou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo).
O Planapo (BRASIL, 2016) busca integrar suas ações com o Plano Nacional de 
Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e o 
Plano Nacional de Direitos Humanos, assim como o Código Florestal, o Plano de Ação 
Nacional de Combate à Desertificação e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a 
partir de processo de convivência, mitigação e adaptação, diminuindo a vulnerabilidade 
dos agricultores que se encontram em situação de fragilidade econômica e social 
no campo.
No campo produtivo, o Plano avança ao propor mecanismos capazes de atender à 
demanda por tecnologias ambientalmente apropriadas, compatíveis com os distintos 
sistemas culturais e com as dimensões econômicas, sociais, políticas e éticas no 
campo do desenvolvimento agrícola e rural. Ao mesmo tempo, apresenta alternativas 
28
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
que buscam assegurar melhores condições de saúde e de qualidade de vida para a 
população rural.
Nesse sentido, o Planapo, orientado pelas diretrizes estabelecidas no referido Decreto 
estabeleceu os seguintes macro desafios:
 » ampliação do número de agricultores/as e produtores/as envolvidos/as 
com a produção orgânica e de base agroecológica;
 » incentivo ao registro, à produção e à distribuição de insumos adequados 
à produção orgânica e de base agroecológica;
 » fomento à conservação, ao manejo e ao uso sustentável dos recursos naturais;
 » contribuição para a organização de agricultores e agricultoras em 
cooperativas e redes solidárias, a ampliação das compras e subvenções e 
o número de pontos de venda de produtos;
 » ampliação da utilização de crédito e outras formas de financiamento e 
fomento para o custeio e implantação de infraestruturas produtivas e 
comerciais; 
 » inclusão e incentivo à abordagem da Agroecologia e de sistemas de 
produção orgânica nos diferentes níveis e modalidades de educação e 
ensino, bem como no contexto das práticas e movimentos sociais, do 
mundo do trabalho e das manifestações culturais;
 » democratização da agenda de pesquisa e sua integração com a extensão, 
de modo a socializar o conhecimento agroecológico para técnicos/as, 
agricultores/as e produtores/as;
 » estímulo à agroindustrialização e a outras formas de agregação de valor 
aos produtos orgânicos e de base agroecológica;
 » ampliação do acesso de consumidores a informações e ao consumo de 
produtos orgânicos e de base agroecológica; 
 » reconhecimento e fortalecimento do protagonismo dos/as jovens e das 
mulheres rurais na agroecologia e produção orgânica; 
 » fortalecimento do papel das redes na articulação dos atores e na dinamização 
de ações relacionadas à produção orgânica e de base agroecológica.
Mais informações sobre o programa: <https://www.mda.gov.br/sitemda/sites/
sitemda/files/user_img_19/BrasilAgroecologico_Baixar.pdf>.
29
O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii
figura 3. Logotipo do Planapo.
fonte: Brasil, 2016.
A Agroecologia como um todo, e neste caso na política pública brasileira deve ser encarada 
enquanto ciência, de maneira que ela se posicione em condições de contribuir para 
a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a transformação da agricultura 
brasileira. Assim, pode-se estabelecer medidas para o seu fortalecimento:
 » fortalecer a luta pela terra, de maneira que a reforma agrária seja o 
instrumento capaz de superar o latifúndio, a exploração do homem pelo 
homem e a produção de alimentos saudáveis para a população rural e 
urbana;
 » articular e ampliar o número de instituições de ensino superior para a 
formação de agroecólogos em nível de graduação e pós-graduação, em 
todo o território nacional;
 » manter a articulação junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário 
(MDA) de maneira que as políticas para a agricultura familiar e de base 
agroecológica sejam reforçadas e aprimoradas;
 » criar e fortalecer programas governamentais que reforcem o papel da 
Agroecologia no processo da agricultura brasileira;
 » estimular a organização dos agricultores familiares para a produção e 
comercialização de produtos agroecológicos;
 » fortalecer o intercâmbio de experiências agroecológicas entre os 
agricultores familiares e suas entidades representativas;
 » incentivar o cooperativismo e a solidariedade como instrumentos de 
emancipação econômica e social;
 » incentivar a organização dos agricultores familiares para que se fortaleçam 
em busca de conquistas que garantam vida digna no campo.
30
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
Produção
Estimativas da área total com produção orgânica no Brasil variam de acordo com a 
fonte consultada. Segundo dados da FiBL (Instituto Suíço de Pesquisa em Agricultura 
Orgânica) e da IFOAM, publicados em 2015, a área cultivada e as áreas de pastagem 
no Brasil totalizavam cerca de 887.637 hectares em 2013. Estima-se a área certificada, 
ou sob alguma forma de controle da conformidade com o manejo orgânico, em cerca 
de 6,6 milhões de hectares, incluindo as áreas de extrativismo sustentável na região 
amazônica. As áreas de agroextrativismo estão concentradas na região Norte e as de 
pecuária na região Centro-Oeste. 
Estimativas mostram que, em 2008, existiam 32,6 milhões de hectares certificados 
como orgânicos no mundo, dos quais 6,4 milhões encontravam-se na América do Sul, 
sendo a maior parte de pastagens nativas na Argentina e no Centro-Oeste brasileiro.
Em 2006, os países com o maior número de unidades de produção orgânica certificadas 
eram o México (12 mil unidades), a Indonésia (45 mil unidades), a Itália (36 mil 
unidades), as Filipinas (35 mil unidades) e Uganda (34 mil unidades). As maiores áreas 
com culturas encontravam-se na Europa, seguida dos Estados Unidos (cereais, grãos, 
oleaginosas, vegetais flores e plantas medicinais). As áreas com culturas permanentes 
(olivas, café, frutas e nozes) representavam 37% na União Europeia, 35% na América 
Latina e Caribe e 21% na África. As áreas de pastagens representavam 57% na Oceania, 
19% na América Latina e Caribe e 15% na União Europeia (PESAGRO, 2009).
As áreas com produção orgânica certificada eram ocupadas por: cereais (1,295 milhão 
de hectares); pastagens e produção de proteína (1,166 milhão de hectares); culturas 
permanentes - oliveiras, frutas e nozes (0,555 milhão de hectares); óleo vegetal (0,97 
milhão de hectares); uvas (0,95 milhão de hectares); legumes e verduras (0,92 milhão 
de hectares).
Em 2006, o Brasil tinha cerca de 19 mil unidades controladas, que afirmavam seguir 
as práticas da agricultura orgânica, envolvendo pequenas e grandes unidades de 
produção e processamento. Dos projetos controlados, 70 a 80% eram conduzidos 
por agricultores familiares e/ou trabalhadores rurais, tanto para atender ao mercado 
interno quanto o de exportação. Os projetos conduzidos por agricultores familiares 
forneciam castanha (de caju e da Amazônia), frutas, legumes e verduras, café, cacau, 
mel, óleos essenciais (cosméticos) e algodão colorido, entre outros produtos, para os 
mercados interno e de exportação.
Em 2007, o Projeto Orgânicos Brasil divulgou estudo com o mapeamento da área 
brasileira de produção orgânica certificada, de acordo com os dados de quatro 
31
O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii
certificadoras que trabalham no Brasil (IBD, ECOCERT Brasil, IMO Brasil e BCS), 
todasacreditadas no mercado internacional. O resultado mostrou que existiam 
932.120 hectares de produção orgânica certificada e 6.182.180 hectares de produção 
orgânica que inclui a base extrativista. Juntando-se as duas informações, o Brasil 
poderia ser considerado o segundo país do mundo em área de agricultura orgânica 
controlada. Os produtos de base extrativista no Brasil estão sendo estimulados por 
meio das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, uma iniciativa coordenada 
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e com apoio da Companhia Nacional de 
Abastecimento (CONAB) no estabelecimento dos preços mínimos. 
Mercado
O mercado mundial de produtos orgânicos certificados evoluiu com as vendas no varejo, 
estimadas em US$ 46 bilhões em 2006, US$ 33 bilhões em 2005, US$ 31,4 bilhões em 
2004 e US$ 25 bilhões em 2003 (PESAGRO, 2009).
Há expectativas de que esse mercado cresça 20% ao ano, atingindo US$ 60 bilhões em 
2010 e US$ 100 bilhões em 2012. Os maiores mercados para os produtos orgânicos 
continuam sendo a União Europeia, os Estados Unidos e o Japão. Os produtos orgânicos 
comercializados incluem frutas e legumes frescos, nozes e frutas secas, especiarias, ervas, 
vegetais processados, cacau, óleos vegetais, doces, alimentos processados e bebidas 
de frutas. Itens não alimentares incluem algodão, óleos essenciais para cosméticos e 
flores de corte.
Em 2006, na União Europeia, US$ 17 milhões em vendas estavam concentrados na 
Europa Ocidental, com Alemanha, Reino Unido, França e Itália sendo responsáveis por 
75% das vendas regionais.
A demanda por esses produtos na Suécia, Dinamarca e Holanda é relevante. Quanto aos 
canais de comercialização usados, encontram-se produtos orgânicos em lojas de 
conveniência e supermercados específicos, mas também nas grandes redes de varejo. 
No Reino Unido, ainda é grande a importação de produtos.
Nos mercados internos dos países de baixa renda, são comercializados os excedentes da 
produção para exportação, muitas vezes como produtos convencionais, mas também 
frutas, legumes e verduras in natura, produtos de origem animal (leite de vaca e de 
cabra, carne de frango e ovos) produzidos nos arredores das grandes cidades e produtos 
processados em escala muito pequena. As principais oportunidades brasileiras de 
exportação são as frutas tropicais e os legumes e verduras na entressafra dos mercados 
importadores, além do algodão colorido naturalmente. Os óleos essenciais e outros 
32
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
produtos do agroextrativismo sustentável orgânico também representam boas 
oportunidades de mercado.
Embora a produção ocorra no mundo todo, a demanda permanece concentrada nos 
países de alta renda. A América do Norte e a União Europeia estão experimentando 
a escassez de fornecimento em face de a produção local não atender ao crescimento 
da demanda (que foi estimulado por políticas públicas e privadas e pelo medo 
quanto à inocuidade dos alimentos depois dos escândalos como o mal da vaca louca). 
Nos últimos anos, o crescimento da produção nos países de baixa renda foi de três 
dígitos, mas o mercado doméstico não cresceu. Os consumidores dos países de alta 
renda são os maiores compradores de alimentos orgânicos. Na realidade, em 2006, seis 
países do G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) foram responsáveis por 84% 
das vendas globais de produtos orgânicos.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
(MAPA, em 2003, o mercado nacional era estimado em cerca de US$ 1 milhão, com 
crescimento de 20% ao ano. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), 
ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o 
Brasil exportou 19,5 mil toneladas de produtos orgânicos de janeiro a dezembro de 
2007, gerando divisas da ordem de US$ 12,5 milhões. Em 2008, houve diminuição 
de 35% no volume de produtos orgânicos exportados e aumento de 3,70% no valor 
total recebido pelas exportações de orgânicos. Esses dados permitem concluir que 
houve melhor desempenho, pois, apesar da queda no volume exportado, os produtos 
tinham maior valor agregado. Os produtos exportados em maior volume foram a soja 
e derivados (76%), açúcar, mangas frescas, café, cacau e derivados. Os sete principais 
destinos dos produtos orgânicos brasileiros foram Holanda, Suécia, EUA, Reino Unido, 
França, Canadá e Noruega (PESAGRO, 2009)
O mercado internacional absorve 70% da produção brasileira e registra taxa de 
crescimento da área duas vezes maior do que a média internacional. De acordo com 
a mesma fonte, o Brasil comercializou US$ 250 milhões em 2008. Esses dados são 
bem superiores (20 vezes) aos dados oficiais apresentados pela SECEX. O projeto 
Organics Brasil, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e 
Investimentos (APEX), envolve 70 empresas associadas (de pequeno e grande porte), 
que faturaram US$ 58 milhões em 2008 com a venda de produtos orgânicos. Espera-se 
que, com a implantação da regulamentação da agricultura orgânica, os dados oficiais 
sejam compatibilizados.
A oferta de produtos orgânicos provém de grandes empreendimentos, mas também 
de agricultores familiares organizados, tanto para o mercado externo quanto para o 
interno. A Rede Ecovida, no sul do País, que congrega agricultores familiares e pequenos 
33
O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii
empreendimentos, comercializou, em 2003, cerca de US$ 15 milhões em produtos 
no mercado interno e externo, dos quais 66% em canais de venda direta (mercados 
institucionais, feiras e lojas de consumidores).
Existem parcerias entre a empresa Friboi (maior produtora mundial de carnes bovinas, 
com matriz no Brasil) e a WWF (ONG internacional) para estímulo ao desenvolvimento 
da produção de carne bovina em sistemas de produção orgânicos.
O maior produtor e maior exportador de açúcar orgânico do mundo é a Usina São 
Francisco, em Sertãozinho-SP, que detém mais de 50% da produção mundial de açúcar 
orgânico com a marca Native, processada na própria Usina. Esse projeto foi iniciado 
em 1996 e, em 2000, cultivava cana em 7.540 ha. O açúcar Native tem certificação 
internacional feita pela FVO para o mercado dos Estados Unidos e pela Ecocert para o 
mercado da União Europeia. O grupo se envolveu também com a comercialização de 
café e suco de laranja orgânico. Em 2008, cerca de 80% do faturamento da empresa 
correspondiam à exportação de 60 mil toneladas de açúcar a granel para fabricantes 
de alimentos.
O preço médio do café praticado no mercado externo é de U$ 3,50 por kg e, no mercado 
interno, o valor médio é de US$ 1 a US$ 2 por kg. A Cia. Orgânica de Café vende 30% 
da safra de 1.500 sacas para o Japão, Emirados Árabes e Estados Unidos. O restante 
abastece lojas do Grupo Pão de Açúcar, com quatro tipos de café – grão, sachê, solúvel 
e em pó – e outros comércios varejistas. A recém-criada “holding” Bem da Terra aposta 
no mercado de café gourmet, entre outros produtos, ciente do desafio do crescimento: 
ter escala e baixar preço.
Os produtos orgânicos estão presentes nos diversos canais de comercialização 
existentes, também explorados pelos produtos convencionais. Em 2004, de 611 canais 
de comercialização pesquisados pelo SEBRAE, os supermercados, seguidos das 
lojas/distribuidoras, eram os mais procurados na região Sudeste, enquanto na região 
Sul os mais procurados eram as feiras e depois os supermercados. Observou-se que, nas 
regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, era pequena a comercialização de orgânicos 
em todos os canais, representando somente 6% dos canais de venda de produtos 
orgânicos. Em 2008, a venda de alimentos isentos de agrotóxicos pelo Grupo Pão de 
Açúcar representou faturamento de R$ 40 milhões, com expectativa de que ultrapasse 
os R$ 50 milhões até o final de 2009.
A implantação de alternativas (circuitos curtos de distribuição) aos processos 
tradicionais de comercialização vigentes (atacado e circuitos longos de distribuição 
via grande varejo) é condiçãopara que a agricultura orgânica venha a representar 
verdadeira e profunda transformação das condições de vida, de trabalho e de renda 
34
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
dos agricultores familiares. Uma dessas iniciativas é a Cooperativa de Consumidores 
Ecológicos de Três Cachoeiras – COOPET, no município de Três Cachoeiras, cidade 
com cerca de 6 mil habitantes próximo à cidade de Torres-RS, que tem 100 membros. 
Lá, uma pequena loja da cooperativa fornece produtos orgânicos à população local que, 
antes, só via os produtos passarem embalados nos caminhões para venda nos grandes 
centros urbanos.
Outra iniciativa são as cestas de produtos orgânicos para grupos organizados de 
consumidores, como funcionários de empresas, grupo de acadêmicos, moradores 
de bairros. É o caso da Rede Ecológica, no Rio de Janeiro, que funciona como grupos 
organizados de consumidores nos bairros. Em 2007, estavam em dois bairros e, em 
2008, já eram oito bairros/localidades na cidade do Rio de Janeiro (Urca, Santa Teresa, 
Laranjeiras, Tijuca, Recreio e Freguesia) e cidades vizinhas (Niterói e Seropédica).
Essa rede conta também com a participação de acadêmicos ligados às ciências naturais 
e sociais, ligados ao tema da Agroecologia e às relações campo-cidade/rural-urbano. 
Outra modalidade de venda direta usada pelos produtores são as cestas em domicílio. 
Em 2007, observava-se a tendência de as distribuidoras de produtos orgânicos, com 
sede no estado do Rio de Janeiro, estarem diminuindo a oferta aos supermercados e 
passando a fornecer ou aumentando o fornecimento das cestas em domicílio.
Na quarta edição da Semana do Alimento Orgânico, que aconteceu em maio de 2008 
em todo o país, numa parceria MAPA, MDA e MMA, a CPOrg-RJ distribuiu folheto 
divulgando mais de 20 pontos de venda de produtos orgânicos em feiras e lojas de 
produtos naturais em oito municípios do estado do Rio de Janeiro: Nova Iguaçu, 
Niterói, Campos, Nova Friburgo, Teresópolis, Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Rio de 
Janeiro. Outros canais de comercialização que estão sendo construídos e estimulados 
são os mercados institucionais (merenda escolar, creches, hospitais, restaurantes).
Existem políticas federais, estaduais e municipais de “aquisição dos orgânicos” 
estabelecidas a partir de 2003, com enfoque de segurança alimentar, que estimulam 
os mercados quanto à consciência dos produtores sobre o uso dos insumos e os 
consumidores sobre os benefícios de consumir alimentos orgânicos. Um exemplo 
é o PAA, parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o MAPA, 
executado em âmbito estadual pela CONAB, através do qual as compras alcançaram 
US$ 7,993 milhões em 2005. Entre 2003 e 2007, por meio de estoques originários da 
agricultura familiar, doou 79,8 mil toneladas de produtos (feijão, farinha de mandioca, 
arroz em casca e milho em grãos, entre outros), usados em ações de suplementação 
alimentar para segmentos carentes da população, assistidos por 3.614 entidades de 
interesse público, em 1.514 municípios de 26 estados.
35
O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii
A CONAB comprava de cada agricultor familiar o valor total de R$ 3.500,00 em 
produtos para serem doados a organizações em situação de insegurança alimentar, 
pagando prêmio de até 30% no preço dos produtos orgânicos. Esse valor deve subir 
para R$ 4.500,00/família para os contratos a serem firmados em 2009 para entrega 
em 2010. O programa é justificado por preservar a biodiversidade e a sustentabilidade 
ambiental no gerenciamento dos sistemas, mas também promove a agricultura orgânica 
controlada pelos seus efeitos benéficos à segurança alimentar com a oferta de produtos 
orgânicos a outros segmentos da sociedade.
Apesar de a região Sudeste ter a segunda maior participação no PAA no período 2003-
2007, no Estado do Rio de Janeiro, somente três contratos foram firmados em 2007 
com a CONAB/SUREG-RJ para fornecimento ao PAA em 2008. Na esfera municipal, 
o PAA é operado diretamente pelas prefeituras, em parceria com o MDS. A prefeitura 
de Nova Iguaçu-RJ, por vontade política, adquiriu produtos orgânicos para a merenda 
escolar da associação de agricultores familiares que produzem hortaliças orgânicas em 
faixas de dutos da Petrobras e contam com apoio técnico do Instituto Terra e recursos 
daquela empresa petrolífera.
Em fins de 2008, a Associação dos Produtores Orgânicos de Petrópolis (APOP), que 
congrega produtores da comunidade do Brejal, com apoio da Associação de Agricultores 
Biológicos (ABIO) e dos Escritórios Locais da EMATER-RIO em Nova Friburgo e em 
Petrópolis, firmou contrato com a CONAB/SUREG-RJ para que 10 dos seus membros 
entregassem produtos orgânicos ao PAA em 2009, na modalidade –Doação Simultânea, 
em parceria com o Banco de Alimentos e Colheita Urbana, responsável pelo transporte dos 
alimentos até os beneficiários finais (organizações em situação de insegurança alimentar).
A oferta de produtos da região na merenda, além de estimular a geração de emprego 
e renda, favorece a manutenção do hábito alimentar baseado na cultura local. Foi o 
que fez a Cooperativa Grande Sertão, em Minas Gerais, com produtos processados do 
extrativismo sustentável, com a venda para o PAA e entrega nas merendas escolares e 
nos mercados locais. Essas iniciativas contam também com o apoio do programa da 
Secretaria de Desenvolvimento do Território do MDA e com cooperação internacional 
(movimento Slow Food, ligado à gastronomia).
Em Brasília-DF, o mercado de orgânicos funciona na CEASA, em sistema cooperativo 
entre os produtores (SINDIORGÂNICOS – Sindicato dos Produtores Orgânicos) e 
em parceria com diversas instituições como sistema profissionalizado, dispondo de 
recursos que permitem gestão moderna e competitiva para atender aos consumidores.
Os principais produtos oferecidos incluem hortifrutigranjeiros, leite e laticínios, além 
de sucos, café, achocolatados e geleias.
36
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
O desafio é fornecer produtos da agricultura familiar e, se possível, produtos orgânicos 
para a merenda escolar, pois o marco legal fala de alimentação saudável, alimento 
orgânico e agroecológico.
Resumidamente, o tipo de canal a ser utilizado pelos produtores dependerá do seu nível 
de organização e de relacionamento com o ambiente externo, da existência de grupos 
organizados, dos tipos de produtos existentes e das épocas do ano, de acordo com as 
exigências de cada canal de comercialização ou de consumidores organizados, além dos 
recursos financeiros disponíveis.
Fica clara a importância da organização dos produtores em grupos para negociar 
coletivamente com a municipalidade os apoios necessários para desenvolver o mercado 
local de produtos orgânicos visando atender à população. A parceria com escolas 
técnicas, universidades, institutos de pesquisa e organismos de assessoria técnica é 
importante para a construção das redes de conhecimento agroecológico e dos critérios 
de controle das qualidades orgânicas. A proximidade com o poder legislativo favorecerá 
a implantação de políticas adequadas às realidades locais.
37
CAPítulo 3
Conformidade e certificação
Para a produção de alimentos por meio da Agroecologia é preciso seguir algumas etapas 
uniformizadas que irão conferir um atestado de qualidade ao produto, a certificação 
pelo processo de conformidade. 
Segundo Gliessman (2014) são estabelecidos 5 níveis de transição por pequenos passos 
em direção ao objetivo final da sustentabilidade. Os três primeiros níveis de conversão 
para um sustentável têm foco no sistema alimentar na escala da fazenda. Dois níveis 
adicionais ultrapassam a escala fazenda. Os três primeiros níveis nos ajudam a descrever 
os passos que os agricultores realmente tomam na passagem de agroecossistemas 
industriais ou convencionais, e todos os cinco níveis em conjunto servem como um mapa 
delineando um processo de mudança evolutiva para todo o sistema alimentar global.
nível 1
Aumentar a eficiência das práticas industriais/convencionais,a fim de reduzir o uso 
e consumo de insumos caros, escassos ou prejudiciais para o ambiente. O objetivo 
dessa abordagem é a utilização de insumos de forma mais eficiente, para que menos 
insumos sejam necessários e ainda uma gradual redução de impactos negativos. 
Esta abordagem tem sido a principal ênfase de algumas pesquisas da agricultura 
convencional, por meio do qual foram desenvolvidas inúmeras tecnologias e práticas 
agrícolas. Exemplos incluem o espaçamento ideal das culturas e densidade, melhores 
máquinas, monitoramento de pragas para melhorar a aplicação de pesticidas, melhor 
gestão do tempo das operações e agricultura de precisão para a dosagem correta de 
fertilizante e baixo consumo de água na irrigação. Embora esses esforços busquem 
reduzir os impactos negativos da agricultura convencional, eles não ajudam a quebrar 
a dependência de insumos externos.
nível 2
Substituição de insumos industriais e práticas convencionais, substituindo-os por 
práticas alternativas. O objetivo neste nível de transição é substituir produtos e práticas 
de uso intensivo de recursos degradantes por aqueles que são mais ambientalmente 
benignos. Exemplos de práticas alternativas incluem o uso de plantas de cobertura 
fixadoras de nitrogênio e rotações para substituir fertilizantes nitrogenados sintéticos, 
38
UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
o uso de agentes de controle biológico em lugar de pesticidas, e a mudança para preparo 
de solo reduzido ou mínimo. Neste nível, a estrutura básica do agroecossistema não 
é muito alterada, portanto, muitos dos mesmos problemas que ocorrem em sistemas 
industriais convencionais, também podem ocorrer.
nível 3
Redesenhar o agroecossistema para que ele funcione com base em um novo conjunto 
de processos ecológicos. Neste nível, mudanças fundamentais na concepção geral do 
sistema buscam eliminar as causas de muitos dos problemas que ainda existem nos 
níveis um e dois. Assim, em vez de encontrar formas mais sólidas de resolução de 
problemas, os problemas são impedidos em primeiro lugar. Estudos de reconversão 
de todo o sistema permitem uma compreensão dos fatores limitantes de rendimento 
no contexto da estrutura e função agroecossistema. Um exemplo é a diversificação da 
estrutura das explorações agrícolas e de gestão por meio do uso de rotações, cultivos 
múltiplos e sistemas agroflorestais.
nível 4
Reestabelecer uma ligação direta entre aqueles que cultivam os alimentos e quem 
o consome. A transição ocorre dentro de um contexto cultural e econômico, e nesse 
contexto, deve apoiar a mudança para práticas mais sustentáveis de ambos. Em nível 
local, isso significa que os consumidores valorizam produtos cultivados localmente e 
usam seu dinheiro de forma mais racional. Este apoio se transforma em uma espécie 
de “cidadania alimentar” e torna-se uma força para a mudança do sistema alimentar. 
Quanto mais essa transformação ocorre em comunidades ao redor do mundo, mais 
perto caminhamos para a construção da nova cultura e economia da sustentabilidade 
que é o pré-requisito para atingir o nível cinco. 
nível 5
Sobre os fundamentos criados na escala da fazenda sustentável em agroecossistemas 
de nível três e as relações alimentares sustentáveis de nível quatro. Busca-se construir 
um novo sistema global de alimentos, com base na equidade, participação e justiça, que 
não só é sustentável, mas também ajuda a restaurar e proteger os sistemas de suporte 
de vida da Terra. Ao contrário de níveis de um a quatro, o nível cinco implica mudar 
o escopo global que atinge tão profundamente a natureza da civilização humana que 
transcende o conceito de “transição”. No entanto, o caminho para o nível cinco passa 
necessariamente pela escala da fazenda.
39
O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii
Em termos de pesquisa, agrônomos e outros cientistas têm feito um bom trabalho 
para adaptação dos processos de transição em suas regiões. O trabalho com a ética e a 
economia da sustentabilidade fornece a base para o tipo de pesquisa e ação baseados na 
comunidade. As pesquisas desenvolvem técnicas locais mas focam em eventos globais.
Seguidos os níveis acima, o produtor pode procurar uma forma de certificação da sua 
produção. Após o nível de implantação da agricultura orgânica, o produtor que não se 
encaixar na modalidade de venda direta por agricultores familiares com certificação 
facultativa e quiser fazer uso no Brasil da denominação produto orgânico ou outro 
similar, terá de estar cadastrado no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade 
Orgânica (SISORG).
Os mecanismos de avaliação da conformidade reconhecidos no SISORG devem dar 
garantias aos clientes e consumidores sobre as qualidades orgânicas e de que seguem 
os regulamentos técnicos da agricultura orgânica. São dois mecanismos: a certificação 
e os Sistemas Participativos de Garantia. Portanto, os produtos têm de ser submetidos 
ao controle feito por um OAC (Organismo de Avaliação da Conformidade) ou OPAC 
(Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade). 
Desde a década de 1970, organizações de produtores e consumidores, além de técnicos, 
desenvolvem práticas seguindo os princípios da agricultura orgânica. Em 1994, 
iniciou-se a discussão para a regulamentação da agricultura orgânica no país, que foi 
oficialmente reconhecida em maio de 1999.
Em dezembro de 2003, foi publicada a Lei no 10.831, definindo e estabelecendo condições 
obrigatórias para a produção e a comercialização de produtos da agricultura orgânica. 
Em julho de 2004, foi editada a Portaria no 158, do MAPA, que trata da Comissão 
Nacional para a Produção Orgânica (CPOrg-RJ) e das Comissões da Produção Orgânica 
nas Unidades da Federação (CPOrg -UF), criadas com a função de executar o programa 
Pró-Orgânico.
Em março de 2004, foi criada a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica (CSAO) como 
órgão consultivo de apoio às políticas públicas do MAPA. É composta por membros do 
governo e da sociedade civil. Foi na CSAO que aconteceram as discussões, elaboração, 
aprovação e regulamentação da Lei no 10.831. Os textos do Decreto e das Instruções 
Normativas foram construídos, durante os anos de 2004, 2005 e 2006, por técnicos de 
diferentes ministérios em parceria com diversos segmentos da sociedade civil ligados à 
agricultura orgânica, sob a coordenação do MAPA.
Após a tramitação pela Casa Civil e demais ministérios envolvidos (MAPA, MDA, 
MMA, MS e MDIC), e após a aprovação das alterações pela CSAO, em agosto de 2007, 
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UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl
o Decreto no 6.323 foi publicado no Diário Oficial da União, em 28 de dezembro de 
2007. Os regulamentos técnicos específicos (portarias e instruções normativas) para 
cada atividade e setor foram objeto de consulta pública em maio de 2008. No mesmo 
ano, a CSAO passou a ser chamada de Câmara Técnica da Agricultura Orgânica (CTAO) 
e mudou suas representações (novos mandatos, inclusão e exclusão de membros).
As cinco Instruções Normativas específicas, que regulamentam a atividade da agricultura 
orgânica de acordo com a Lei no 10.831 e com o Decreto no 6.323, foram publicadas em 
2008 e 2009. Em outubro de 2008, a Instrução Normativa no 54, que trata das Comissões 
da Produção Orgânica, em dezembro de 2008, a Instrução Normativa no 64, dos Sistemas 
Orgânicos de Produção Primária – animal e vegetal. Em maio de 2009, as Instruções 
Normativas no 17, do Extrativismo Sustentável Orgânico; no 18, do Processamento e no 19, 
dos Mecanismos de Controle e Informação da Qualidade Orgânica, sendo a IN 17/2009 
e a IN 18/2009 conjuntas com o MMA e o MS, respectivamente. Em julho de 2009, 
foi publicado o Decreto no 6.913/2009, que trata dos produtos fitossanitários com uso 
aprovado para a agricultura orgânica.
As possibilidades de acesso dos produtos da agricultura orgânica ao mercado brasileiro 
estão previstas na Lei no 10.831, nos Decretos no 6.323 e no 6.913 e nas Instruções 
Normativas no 54 e no 64, no 17, no 18 e no 19.
No Brasil, podem ser três

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