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Brasília-DF. Ramos da agRoecologia Elaboração Henrique Almeida Miranda Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA ........................................................................... 11 CAPítulo 1 PANORAMA HISTÓRICO .......................................................................................................... 11 CAPítulo 2 SuRGIMENTO ......................................................................................................................... 14 CAPítulo 3 A CONSOLIDAçãO COMO uM SISTEMA ................................................................................ 18 unidAdE ii O SISTEMA AGROECOLÓGICO ATuAL .................................................................................................. 25 CAPítulo 1 AGROECOLOGIA NA ATuALIDADE .......................................................................................... 25 CAPítulo 2 O SISTEMA DE PRODuçãO AGROPECuáRIA ECOLÓGICA NO BRASIL ..................................... 27 CAPítulo 3 CONfORMIDADE E CERTIfICAçãO ........................................................................................ 37 unidAdE iii OS RAMOS DA AGROECOLOGIA......................................................................................................... 58 CAPítulo 1 RAMO AGRONôMICO ........................................................................................................... 58 CAPítulo 2 RAMO AMBIENTAL .................................................................................................................. 62 CAPítulo 3 RAMO SOCIOECONôMICO .................................................................................................. 66 CAPítulo 4 RAMOS POLíTICO E LEGAL ..................................................................................................... 69 unidAdE iV O fuTuRO DA AGROECOLOGIA .......................................................................................................... 74 CAPítulo 1 PERSPECTIVAS DOS RAMOS DA AGROECOLOGIA ................................................................... 74 CAPítulo 2 ESTuDO DE CASO EM COMERCIALIzAçãO DE PRODuTOS AGROECOLÓGICOS ..................... 83 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 97 AnExo i ........................................................................................................................................ 100 ASPECTOS E OPORTuNIDADES PROfISSIONAIS ...................................................................... 100 AnExo ii ....................................................................................................................................... 101 GLOSSáRIO ......................................................................................................................... 101 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução A Agroecologia estuda uma variedade de agroecossistemas, e o campo desta ciência não está associado com qualquer método particular da agricultura, seja orgânico, convencional, intensiva ou extensiva. Além disso, não é definida por certas práticas de gestão, tais como o uso de inimigos naturais no lugar de inseticidas, ou policultura no lugar de monocultura. Os agroecologistas não se opõem, por unanimidade, à tecnologia ou insumos na agricultura, mas sim defendem a avaliação da forma como, quando e se a tecnologia pode ser usada em conjunto com ativos naturais, sociais e humanos. Agroecologia propõe uma forma ao contexto ou local específico de agroecossistemas que estudam, e, como tal, reconhece que não há uma fórmula universal ou receita para o sucesso e o máximo de bem-estar de um agroecossistema. Em vez disso, pode-se estudar questões relacionadas com as quatro propriedades de agroecossistemas: produtividade, estabilidade, sustentabilidade e equidade. Ao contrário de disciplinas que estão preocupadas com apenas uma ou algumas dessas propriedades, agroecologistas veem todas as quatro propriedades como interligadas e essenciais para o sucesso desta prática, reconhecendo que essas propriedades são encontradas na variação de escalas espaciais, não se limitam ao estudo dos agroecossistemas apenas em escalas de fazenda, expandem-se para a comunidade local e para a sociedade em geral. O estudo da Agroecologia aborda as quatro propriedades através de uma lente interdisciplinar, utilizando ciências naturais para compreender elementos de agroecossistemas, como propriedades do solo e interações planta-inseto, bem como a utilização de ciências sociais para compreenderos efeitos das práticas agrícolas nas comunidades rurais, gargalos econômicos para o desenvolvimento de novos métodos de produção, ou fatores culturais que determinam as práticas agrícolas. Os praticantes e defensores da Agroecologia nem sempre concordam sobre o que a Agroecologia é ou deveria ser, a longo prazo. O entendimento sobre Agroecologia pode ser primeiro agrupado de acordo com os contextos específicos nos quais eles situam a agricultura. Agroecologia é definida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como “o estudo da relação entre culturas agrícolas e meio ambiente.” (OCDE, 2016). Seguindo essa definição, um agroecologista estuda várias relações da agricultura com a saúde do solo, qualidade da água, qualidade do ar, meso e microfauna, flora circundantes, toxinas ambientais, e outros contextos ambientais. 9 A compreensão da ligação entre agricultura e ecologia abrange interações entre plantas, animais, seres humanos e o ambiente no interior dos sistemas agrícolas. Consequentemente, a Agroecologia é inerentemente multidisciplinar, incluindo fatores de agronomia, ecologia, sociologia e economia. Agroecologia também é definida de forma diferente de acordo com a localização geográfica. Na América Latina o termo muitas vezes carrega conotações abertamente políticas. Tais definições políticas do termo geralmente atribuem a ele os objetivos de justiça social e econômica; atenção especial, neste caso, é muitas vezes dada ao conhecimento da agricultura tradicional das populações indígenas. Os usos norte-americanos e europeus do termo, por vezes, evitam a inclusão de tais metas abertamente políticas. Nestes casos, a Agroecologia é vista mais estritamente como uma disciplina científica com objetivos sociais menos específicas. Os sistemas naturais, com a sua estabilidade e resiliência, fornecem o melhor modelo para atingir a sustentabilidade. Normalmente, os estudos denotam que a agricultura em larga escala é inadequada. A Agronomia tem fornecido importantes subsídios para compreender os processos pelos quais a agricultura se tornou insustentável. Muitos pesquisadores têm apontado o exaurimento do modelo adotado desde a Revolução Verde. Faz-se também uma crítica político-econômica da agricultura moderna. Algumas posições podem ser vistas no sentido de que somente mudanças radicais na economia e na política irão reduzir os custos negativos da agricultura moderna. A Agricultura e o sistema alimentar são considerados partes de um complexo institucional que se relaciona e se integra com outros ramos da ciência. Todas as cadeias de produção de alimentos integram vários aspectos que isoladamente não distinguem as necessidades de desenvolvimento ambientalmente correto e socialmente justo. Por isso a Agroecologia traz uma nova proposta de produção, alimentação e sustentabilidade. objetivos » Apresentar uma abordagem organizada sistematicamente da Agroecologia para facilitar a compreensão dos diversos dispositivos que integram a ecologia interna dos agroecossistemas, seus componentes sociais e culturais, incluindo nutrição e soberania alimentar, colheita genótipo-a-ambiente interações incluindo os de variedades de culturas transgênicas, e os (serviços ecossistêmicos) positivos e negativos (degradação dos ecossistemas) efeitos dos agroecossistemas no ambiente maior, especialmente climáticas. 10 » Apresentar um panorama histórico do surgimento e da evolução da Agroecologia. » Mostrar uma abordagem da situação atual. » Relacionar e descrever os ramos da Agroecologia. » Trazer algumas perspectivas futuras para a continuidade da sua aplicação. » Disponibilizar um caso prático de sucesso na implantação de um sistema agroecológico. » Relacionar aspectos da legislação pertinente ao tema. » Abordar a atuação e as oportunidades profissionais na área. 11 unidAdE i HiStÓriA E dESEnVolViMEnto dA AgroECologiA CAPítulo 1 Panorama histórico O desenvolvimento da agricultura teve um forte impulso quando a população mundial começou a migrar intensamente de áreas rurais para as cidades industriais que cresciam com a instalação de fábricas e de comércio. Este movimento substituiu a produção agrícola e pecuária de subsistência nas propriedades rurais familiares antigas pela massa de assalariados nas grandes cidades que foram forçadas a urbanizarem-se rapidamente, dado o rápido aumento populacional. O gráfico a seguir mostra a intensidade do crescimento populacional mundial ao longo dos últimos dois mil anos e o seu aumento substancial a partir de 1900, com a melhoria das condições de saúde, a urbanização e a industrialização, além da previsão até 2100. Pode-se denotar que a demanda por alimentos também cresceu de forma acelerada, ocasionando maior pressão sobre o meio ambiente. Gráfico 1. Crescimento populacional desde o ano 1 d.C. e perspectivas até o ano 2095. 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 1 10 00 15 00 16 00 17 00 17 50 18 00 18 50 19 00 19 50 19 55 19 60 19 65 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 20 20 20 25 20 30 20 35 20 40 20 45 20 50 20 55 20 60 20 65 20 70 20 75 20 80 20 85 20 90 20 95 21 00 Bi lh õe s d e pe ss oa s Ano Crescimento da população mundial (em bilhões/ano) fonte: adaptado pelo autor (ONu, 2016). 12 UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA Muitos fatores podem ser apontados como incidentes na explosão demográfica mundial registrada nos últimos 200 anos. As famílias abandonaram o campo e a própria produção de alimentos e passaram a comprar aquilo que precisavam para suas refeições nos centros urbanos. Outro fator é a melhoria da qualidade de vida aliada aos avanços da medicina. Como consequência viu-se uma demanda também crescente por alimentos vendidos nas cidades recém-industrializadas. A produção de alimentos e bebidas deixou o caráter artesanal e de pequena produção para ser industrializada e produzida em grande escala com a especialização do seu comércio, panificadoras, açougues, restaurantes etc. De uma forma simplificada, o gráfico a seguir representa a teoria preconizada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus, no final do século XVIII. De acordo com esta teoria, a população mundial cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos em progressão aritmética. Desta forma em algum momento da humanidade não haveria alimentos para toda a população. Esta teoria não foi comprovada, até o momento. Gráfico 2. Relação entre população e produção de alimentos da teoria Malthusiana. fonte: Geografia opinativa, 2016. A história retrata com precisão as mudanças sociais e econômicas ocorridas neste período, aproximadamente entre 1850 e 1900, principalmente na Europa e América do Norte. Este modelo industrial de trabalho assalariado foi consolidado após a abolição dos regimes de escravidão até então praticados. As fábricas, o comércio e próprio governo necessitavam cada vez mais de mão de obra. 13 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I Já no início do século XX (1900 -...) podia-se comprar não apenas aqueles produtos típicos de propriedades rurais (carne, temperos, trigo, leite, verduras e frutas) como também produtos industrializados (pães, biscoitos, salsichas, iogurtes, doces). A indústria alimentícia produzia novos alimentos e novas formas de consumi-los. As roupas eram confeccionadas de forma padronizada e estavam disponíveis para venda nas grandes ruas de comércio, pois as famílias de migrantes não plantavam mais o algodão e nem usavam o tear para as peças individuais. O início do século XX foi marcado pela prosperidade. O dinamismo da economia movia mercadorias para outras cidades por ferrovias e até outros países por navios. A geração de riqueza pela indústria e comércio fez surgir grandes indústrias e criou novas profissões. A farta disponibilidade e diversidade de alimentos industrializados contrastava com os primeirosproblemas da urbanização acelerada: os horários a serem cumpridos, o tráfego de veículos, as habitações sem saneamento básico, a inflação dos preços e a criminalidade. Estava estabelecido o estilo de vida urbano, embora a maior parte da população ainda se encontrava no campo. O desenvolvimento da ciência foi o grande motor de sustentação do crescimento. Via-se pesquisa, desenvolvimento e inovação em todas as áreas do conhecimento. Não apenas conhecimentos industriais como também sociais e políticos em decorrência dos problemas da urbanização citados anteriormente. As duas grandes guerras mundiais foram o ápice dos conflitos e levaram países a disputarem territórios que trariam, segundo os tiranos, mais riqueza para sua nação. Este modelo de desenvolvimento deu sinais de saturação pouco antes dos anos 1950 e após a II Guerra Mundial (1939-1945) deu-se início à novas formas de produção, comércio e alimentação. No campo, a Revolução Verde cumpria seu papel de produzir mais alimentos para mais pessoas, mas cobrava seu preço: os primeiros sinais de poluição, intoxicação e desequilíbrio ambiental foram aparecendo. Surgiram vários movimentos sociais organizados para contrapor os malefícios que eram trazidos com a modernização e o progresso. Protestos nas ruas e principalmente grupos e associações eram formados por pessoas que compartilhavam o mesmo ideal e respeito ao ser humano, aos animais e à natureza. 14 CAPítulo 2 Surgimento A prática de uma agricultura baseada em princípios ecológicos se desenvolveu em várias partes do mundo a partir do início do século XX e recebeu diversas denominações, conforme a região ou os princípios aos quais se reportava, mais conhecidas globalmente sob a denominação de “Agricultura Orgânica”, já com um olhar crítico sobre os caminhos e as consequências de uma agricultura baseada e muito dependente da industrialização crescente do Pós-Guerra, da “modernização” pela Revolução Verde (HAMERSCHMIDT et al., 2005). A palavra Agroecologia foi utilizada pela primeira vez em 1928, em estudo de descrição das características de variedades de milho pelo agrônomo russo Basil Bensin (WEZEL et al., 2009). Ele usou esse termo para indicar a aplicação da ecologia à agricultura. No mesmo período, outros autores publicaram documentos ou livros que tratavam com os fundamentos da Agroecologia, mas sem mencionar a palavra. Vários pesquisadores adotaram o termo desde então e desenvolveram trabalhos ao redor do mundo nas décadas seguintes. Exemplos são Klages (1928), um engenheiro agrônomo dos EUA interessado no cultivo de plantas usando uma base fisiológica, e Azzi, um cientista italiano que publicou em 1928 um livro sobre “Ecologia Agrícola”, que estabeleceu a fundação de sua obra posterior (AZZI, 1942; 1956). O último livro, em particular, concentrado sobre os aspectos ambientais, como clima, solo, desenvolvimento e crescimento das plantas cultivadas. Ambos os cientistas, embora não utilizando o termo Agroecologia, podem ser considerados os pioneiros da disciplina. Entre os anos 1930 e 1960, diferentes outros trabalhos foram publicados e a expressão Agroecologia foi explicitamente utilizada. A partir da década de 1970, também como uma resposta à Revolução Verde e à consequente intensificação e especialização da agricultura, houve um crescente interesse pela ecologia aplicada à agricultura. Foi neste período que brotou o conceito de agroecossistemas, como ecossistemas aplicáveis e consolidados. A partir dos anos 1980, Altieri (1989), e mais tarde Gliessman (1997), começaram a definir Agroecologia com uma abordagem para proteger os recursos naturais e para projetar e gerenciar de forma sustentável, os agroecossistemas. Gradualmente a Agroecologia começou a contribuir para o conceito da sustentabilidade aplicada à agricultura. Neste período, o tema biodiversidade surgiu juntamente com publicações relacionadas. 15 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I No decorrer do século XX, o significado da Agroecologia como uma disciplina científica evoluiu e sua identidade também mudou. A partir dos anos 1990, tornou-se também um movimento e uma prática. Neste período, o termo começou a ser utilizado para definir uma nova maneira de considerar a agricultura e suas relações com a sociedade, ou seja, um movimento. Ao mesmo tempo Agroecologia foi reconhecida como um conjunto de práticas que visavam desenvolver uma agricultura respeitadora do meio ambiente e sustentável em longo prazo, como uma alternativa à alta demanda por insumos da agricultura convencional. Atualmente a Agroecologia compreende um sistema com vários métodos e enfoques diferentes, como mostrados abaixo e definidos em seguida. figura 1. Métodos de agricultura alternativa. fonte: Planeta orgânico, 2016. a. Agricultura orgânica: é um processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos para garantir a saúde dos seres humanos, razão pela qual usa e desenvolve tecnologias apropriadas à realidade local de solo, topografia, clima, água, radiações e biodiversidade própria de cada contexto, mantendo a harmonia de todos esses elementos entre si e com os seres humanos (AAO, 2016).1 b. Agricultura biológica: nome dado para a Agricultura Orgânica em Portugal. c. Agricultura biodinâmica: desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) que propõe uma forma livre e responsável de pensar, de perceber a realidade e de atuar, observando e respeitando o ser humano e a realidade na qual está inserido. Steiner, fundador da Antroposofia, colocou, 1 Definição segundo a Associação de Agricultura Orgânica (AAO). Disponível em: <http://aao.org.br/aao/agricultura-organica. php>. Acesso em: 6 de out. 2016. 16 UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA em 1924, a pedra fundamental espiritual do Movimento Biodinâmico, em forma de um ciclo de 8 palestras para agricultores (IRS, 2016).2 d. Agricultura natural: o método da Agricultura Natural foi idealizado por Mokiti Okada (Japão,1882-1955), como alternativa para os problemas decorrentes da prática da agricultura convencional, na década de 1930 (KORIN, 2016).3 Ao analisar o método agrícola convencional, Mokiti Okada manifestou uma profunda preocupação com o emprego excessivo de agroquímicos no solo. Observador dos princípios da natureza, criou o método da Agricultura Natural para resgatar a pureza do solo e dos alimentos, preservar a diversidade e o equilíbrio biológico e contribuir para a elevação da qualidade da vida humana e. Permacultura: segundo o grupo de estudos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio com a natureza. Surgiu da expressão em inglês “Permanent Agriculture” criada por Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970. Propõe uma “cultura permanente”, ou seja, que visa a nossa permanência neste planeta em harmonia com a natureza (UFSC, 2016).4 f. Agricultura sintrópica: é um sistema que já existe há bastante tempo onde agricultores que desenvolvem a técnica não precisam usar agrotóxicos ou adubo, já que a própria natureza oferece os insumos para a produção. É baseado no cultivo dentro da floresta e em matas nativas ou recuperadas. Seu principal expoente é o pesquisador suíço, residente no Brasil, Ernst Götsch. Devido às diversas nomenclaturas e formas de agricultura não industrial convém chamar estes métodos de produção ecologicamente responsáveis como Agroecologia de forma a sintetizar os conceitos, princípios e sistemas de produção agrícola alternativa ao método convencional (agroquímico). O enfoque nos primeiros anos de popularização dos sistemas de produção da agricultura não industrial, trouxe intenso debate na Europa entre representantes das indústrias de insumos agrícolas e ativistas dos movimentos de agricultura alternativa. Os representantes da agricultura convencional argumentavamque essas denominações eram incorretas, pois, mesmo com o uso dos insumos industriais, os processos biológicos e os processos orgânicos não deixavam de acontecer. 2 Compilado do conteúdo disponível em: <http://institutorudolfsteiner.org.br>. Acesso em: 6 de out. 2016. 3 Segundo informações de divulgação em: <http://www.korin.com.br/empresa/agricultura-natural/>. 4 Disponível em: <http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/>. 17 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I A Agroecologia é uma ciência emergente, orientada por uma nova base epistemológica e metodológica de práticas agrícolas. É um campo de conhecimento transdisciplinar que recebe influência do Direito, das ciências agrárias, sociais e ambientais (Ecologia). E como ciência interdisciplinar é regida por princípios comuns a outras áreas. Segundo Caporal (2004), como resultado da aplicação dos princípios da Agroecologia, pode-se alcançar estilos de agriculturas de base ecológica e assim, obter produtos de qualidade biológica superior. Mas, para respeitar os princípios, esta agricultura deve atender requisitos sociais, considerar aspectos culturais, preservar recursos ambientais, considerar a participação política e o empoderamento dos seus atores, além de permitir a obtenção de resultados econômicos favoráveis ao conjunto da sociedade, com uma perspectiva temporal de longo prazo, ou seja, uma agricultura sustentável. Os agroecologistas são praticantes de algum tipo de agricultura alternativa. Eles podem ser os agricultores, extensionistas rurais, funcionários de ONGs e do governo e políticos internacionais que trabalham com agricultura. Os atores da Agroecologia têm um espectro amplo de conhecimentos, da agricultura para a análise de políticas, de práticas de cultivo no campo e de modelagem dinâmica de pragas de plantas, não apenas saberes empíricos como também provados cientificamente. A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquela que tendo como base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de maneira integrada, aos seguintes critérios: » baixa dependência de insumos comerciais; » uso de recursos renováveis localmente acessíveis; » utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local; » aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente; » manutenção em longo prazo da capacidade produtiva; » preservação da diversidade biológica e cultural; » utilização do conhecimento e da cultura da população local; » produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação. 18 CAPítulo 3 A consolidação como um sistema O desenvolvimento rural sustentável é o pressuposto para a construção de uma sociedade mais equilibrada, que busca utilizar pré-requisitos básicos para alcançar a sustentabilidade, apoiando-se, principalmente, na participação política dos atores envolvidos, permitindo a obtenção de ganhos econômicos, levando em consideração a qualidade de vida da geração presente e das gerações futuras. Nessa perspectiva, a participação da sociedade civil em Conselhos de Comunitários de Desenvolvimento contribui para a busca de uma sociedade mais justa e equilibrada, e se efetivamente constituídos, poderão imprimir novo formato às políticas sociais, estabelecendo nova relação entre Estado e sociedade civil. A proposta da Agroecologia se concretiza em um contexto de totalidade da sua aplicação. Portanto, incentivar o desenvolvimento de práticas isoladas pode tornar a perspectiva agroecológica incompleta num contexto espacial e temporal, transformando o desenvolvimento rural em proposta insustentável em longo prazo. Essa perspectiva holística da Agroecologia induz à redescoberta do local como espaço decisório e de mobilização da sociedade. Para melhor compreensão do conceito de local, deve estar clara a concepção de território como fração de espaço, de uso comum ou familiar, regulado política e administrativamente por normas próprias e acordadas. Nesse sentido, o local é o espaço socialmente construído, com base territorial definida (segundo critérios geoeconômicos, geopolíticos e geoambientais) para a criação e formação de identidades territoriais. Como defensores de alimentos orgânicos, agroecologistas podem assumir diversas identidades ao longo do tempo e da região. A história e evolução da agroecologia remonta a pelo menos a década de 1930, em termos de reconhecimento científico ocidental. Wezel et al. (2009) traça linhagens distintas da agroecologia com emergências separadas de “ciência” na Alemanha, “prática” na França, e “movimento” que ocorre ao lado de ciência e prática, tanto nos EUA quanto no Brasil, embora com ênfases diferentes (mais ciência nos EUA, mais prática e movimento no Brasil). A Agroecologia possui dimensões que preconizam os seus princípios. Tais dimensões aplicam-se a vários pressupostos de integração entre homem e seu ambiente. » Dimensão ecológica: manutenção e recuperação da base de recursos naturais. Constitui o aspecto central para se atingirem patamares crescentes 19 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I de sustentabilidade em qualquer agroecossistema. Há necessidade de abordagem holística e de enfoque sistêmico, dando tratamento integral a todos os elementos do agroecossistema que venham a ser impactados pela ação humana. Enfim, uma noção de preservação e conservação da base dos recursos naturais como condição essencial para a continuidade dos processos de reprodução socioeconômica e cultural da sociedade em geral e da produção agropecuária em particular, numa perspectiva que considere tanto as atuais como as futuras gerações. » Dimensão social: representa, precisamente, um dos pilares básicos da sustentabilidade. A busca por melhores níveis de qualidade de vida mediante a produção e o consumo de alimentos com qualidade biológica superior, eliminando o uso de insumos tóxicos no processo produtivo agrícola, através de novas combinações tecnológicas, sociais e éticas. Dessa forma, originando novas formas de relacionamento da sociedade com o meio ambiente, estabelecendo conexão entre a dimensão social e a ecológica, sem prejuízo da dimensão econômica. » Dimensão econômica: a sustentabilidade de um agroecossistema também supõe a necessidade de se obterem balanços agroenergéticos positivos, compatibilizando a relação entre produção agropecuária e consumo de energias não renováveis. De acordo com a Economia Ecológica, a sustentabilidade pode ser expressada pela preservação da base de recursos naturais que são fundamentais para as gerações futuras. » Dimensão cultural: deve-se considerar a necessidade de que as intervenções respeitem a cultura local. Os saberes, os conhecimentos e os valores locais das populações rurais precisam ser analisados, compreendidos e utilizados como ponto de partida dos processos de desenvolvimento rural que, por sua vez, devem espelhar a “identidade cultural” das pessoas que vivem e trabalham em dado agroecossistema. Nesse sentido, a agricultura precisa ser entendida como atividade econômica e sociocultural, como prática social realizada por sujeitos que se caracterizam pela forma particular de relacionamento com o meio ambiente. » Dimensão política: o desenvolvimento rural sustentável deve ser concebido a partir das concepções culturais e políticas próprias dos grupos sociais. Deve considerar o diálogo e a integração com a sociedade maior, por meio de representação em espaços comunitários ou em conselhos políticos e profissionais, numa lógica que considere aquelas dimensões de primeiro nível como integradoras das formas de exploração e manejo sustentável 20 UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA dos agroecossistemas. Assim, deve-se privilegiar o estabelecimento de plataformas de negociação nas quais os atores locais possam expressar seus interesses enecessidades em igualdade com outros atores envolvidos, assegurando o resgate da autoestima e o pleno exercício da cidadania. » Dimensão ética: relaciona-se diretamente com a solidariedade entre gerações e com novas responsabilidades dos indivíduos em relação à preservação do meio ambiente. Dessa forma, exige pensar e tornar viável a adoção de novos valores, não necessariamente homogêneos. A dimensão ética da sustentabilidade requer o fortalecimento de princípios e valores que expressem a solidariedade sincrônica (entre as gerações atuais) e a solidariedade diacrônica (entre as atuais e futuras gerações). Essas dimensões básicas da sustentabilidade são elementos importantes para a identificação dos passos que venham a auxiliar o processo de construção de estilos de agricultura sustentável sob o enfoque agroecológico. A multidisciplinaridade da agricultura sustentável leva ao conhecimento agregado que promove um ciclo dinâmico de interações e perspectivas em contínuo desenvolvimento. É possível perceber uma linha com ações na qual se deve percorrer para se obter o sucesso na implantação ou transição para um sistema. A figura a seguir apresenta esta linha desenvolvimento. figura 2. Ciclo construtivo da Agroecologia. fonte: CRPBz, 2016. 21 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I No início do século XXI, os princípios da agricultura orgânica foram discutidos por dois anos e revistos pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), sendo aprovados em Assembleia Geral em 2005. O documento foi traduzido e está disponível no site oficial da IFOAM em 12 idiomas, mas não em português. O documento enfatiza que os princípios são as raízes pelas quais a agricultura orgânica deve crescer e se desenvolver. Dentre as oito áreas temáticas consideradas importantes para a construção de plataforma capaz de promover a identidade dos movimentos orgânicos, quatro foram descritas como princípios universais que guiam o desenvolvimento da agricultura orgânica: saúde, ecologia, equidade e precaução. Saúde O papel da agricultura orgânica deve ser o de sustentar e aumentar a saúde do solo, das plantas, dos animais, do homem e do planeta, seja por meio do manejo do solo, do processamento dos alimentos, da distribuição ou do consumo. Entende-se que somente em solo saudável é possível produzir alimentos que vão sustentar animais e pessoas de forma saudável, influenciando a saúde das comunidades que, por sua vez, não pode ser separada da saúde do ecossistema no qual se inserem. Assim, quaisquer substâncias, sejam adubos químicos, agrotóxicos, drogas veterinárias e aditivos para o processamento dos alimentos, que possam, de alguma forma, ter efeito adverso à saúde das pessoas, dos animais, das plantas ou do ecossistema devem ser evitadas. Ecologia A agricultura orgânica deve assentar-se nos ciclos biológicos, harmonizando e sustentando os sistemas ecológicos. Assim, a produção deve basear-se nos processos ecológicos e na reciclagem. As culturas, as criações e o extrativismo devem ajustar-se aos ciclos e balanços ecológicos da natureza. O manejo orgânico deve ser adaptado às condições locais, à ecologia da região, às tradições e cultura locais. Os insumos externos devem ser reduzidos através da reutilização, da reciclagem e do manejo eficiente dos recursos naturais, inclusive da energia, para que seja possível conservar esses recursos. A caça e a coleta devem observar um plano de manejo que não prejudique a sobrevivência da espécie. O balanço ecológico deve ser obtido por meio do desenho de sistemas de produção e do manejo da diversidade genética, tanto das plantas cultivadas como da cobertura vegetal em geral. Todos que participam da produção orgânica, como produtores, processadores, 22 UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA distribuidores e consumidores, devem proteger o ambiente, incluindo a paisagem, o clima, a biodiversidade, o ar e a água, mas também os homens e os animais. Equidade A agricultura orgânica deve basear-se em relações que garantam oportunidade de vida para todos e assegurem equidade em relação ao bem comum. A equidade é caracterizada pela igualdade, respeito, justiça e gestão responsável do mundo compartilhado, tanto entre os seres humanos como nas relações com os outros seres vivos. Assim, todos os envolvidos com a agricultura orgânica, sejam produtores, trabalhadores rurais, processadores, distribuidores, comerciantes e consumidores, devem conduzir as relações humanas sociais de modo a assegurar qualidade de vida e justiça a todos os envolvidos. A agricultura orgânica deve ter como objetivo produzir alimentos de qualidade em quantidade suficiente para contribuir para a redução da pobreza e para fortalecer a segurança alimentar. Esse princípio enfatiza que se deve proporcionar aos animais de criação condições de vida que estejam de acordo com a sua característica, seu comportamento natural e bem-estar. Além disso, os recursos naturais e ambientais devem ser usados na produção orgânica de forma ecologicamente sustentável e socialmente justa, devendo manter-se como legado para as gerações futuras. A equidade requer que os sistemas de produção, distribuição e mercado sejam justos e levem em conta os verdadeiros custos ambientais e sociais da produção. Precaução A agricultura orgânica deve ser planejada e desenvolvida de forma responsável e cuidadosa, de modo a proteger a saúde e o bem-estar das pessoas e das gerações futuras, bem como a qualidade do ambiente. Assim, deve procurar aumentar a eficiência e a produtividade sem colocar em risco a sustentabilidade dos agroecossistemas. O entendimento dos ecossistemas e agroecossistemas é ainda incompleto, devendo-se, portanto, tomar todo o cuidado. Precaução e responsabilidade devem permear as tomadas de decisão e as escolhas de tecnologias. As decisões devem refletir os valores e necessidades de todos que possam ser afetados, por meio de processo transparente e participativo. Os riscos devem ser evitados pela adoção de tecnologias apropriadas e pela rejeição de tecnologias imprevisíveis, como a engenharia genética. Atualmente, as normas da agricultura orgânica em vigor no comércio internacional dão ênfase às qualidades agronômicas e zootécnicas, deixando de valorizar outras 23 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I qualidades que guardam forte apelo junto aos consumidores dos produtos orgânicos e “verdes”. Destacar essas e outras qualidades não implica negligenciar o que a ciência ensina a respeito da saúde, do ambiente ou sobre os riscos de segurança alimentar. Implica apenas reconhecer que as normas, mesmo as reguladoras na área da saúde e da segurança, têm dimensões normativas que não podem ser decididas somente em bases científicas. Procedimentos justos para integrar a ciência às normas culturais e morais devem ser adotados. Cientistas e negociadores (comerciantes e políticos) têm demonstrado, até agora, insensibilidade para a natureza problemática da tomada de decisões de regulação em qualquer uma das últimas dimensões citadas. Harmonizar normas internacionais implica negociar culturas e visões de mundo no seu senso mais fundamental. os sistemas agroalimentares Uma das definições mais completas da Agroecologia hoje é a “ecologia dos sistemas agroalimentares”. Ele tem o objetivo explícito de transformar sistemas alimentares para a sustentabilidade, de tal modo que exista um equilíbrio entre solidez ecológica, econômica viabilidade e da justiça social. No entanto, para alcançar esta transformação, a mudança é necessária em todas as partes do sistema de alimentação, ou seja, nas cadeias produtivas, a partir da semente até a mesa dos consumidores. O envolvimento deve ser por quem produz, quem distribui e quem consome; todos devem ser conectados em um movimento social que homenageia a profunda relação entre o meio ambiente, os alimentos e as pessoas. Nossa realidade globalizadaatual oferece com muita facilidade, o sistema de alimentos industrializados não fornece evidências convincentes de que é sustentável em qualquer um dos três aspectos da sustentabilidade (econômica, social ou ambiental). A profunda compreensão do que vem a ser uma visão holística e ecológica dos sistemas agroalimentares pode desencadear a mudança necessária para restaurar a sustentabilidade nos sistemas alimentares nas diversas regiões produtoras. Os agricultores têm a reputação de serem inovadores e experimentadores, adotando voluntariamente novas práticas quando percebem que algum benefício será adquirido, ainda mantendo os que provaram ao longo do tempo. Isto é especialmente verdadeiro para os pequenos agricultores ao redor do mundo. Mas ao longo dos últimos 50-60 anos, a inovação na agricultura tem sido impulsionada principalmente por um excesso de ênfase em altos rendimentos e lucros na fazenda com uma visão de curto prazo, resultando em retornos notáveis para alguns, mas muitas vezes à custa de uma série de efeitos colaterais ambientais e sociais negativos. 24 UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA Apesar da continuação de uma forte pressão para concentrar-se nos retornos econômicos, muitos agricultores estão dispostos a optar por fazer a transição para práticas que preservem os recursos naturais e têm o potencial de contribuir para a sustentabilidade a longo prazo para a agricultura. Estes produtores rurais estão usando princípios agroecológicos para fortalecer o conhecimento local, a experiência e as redes na agricultura que se acumularam ao longo dos séculos. Todos estes tipos de esforços representam a “transição” ou “transformação” da agricultura em sentido amplo. A transição para uma gestão baseada na ecologia está fundamentada nos princípios da Agroecologia. Estes princípios podem entrar em jogo inicialmente no processo real de mudar a forma como o alimento é cultivado. Agricultores que se dedicam ao processo de transição sabem, através da intuição, experiência e conhecimento, o que é insustentável e o que é, no mínimo, mais sustentável. 25 unidAdE iio SiStEMA AgroEColÓgiCo AtuAl CAPítulo 1 Agroecologia na atualidade A Agroecologia, ainda hoje, é considerada um campo de estudo novo que analisa os agroecossistemas, integrando conhecimentos da agronomia, ecologia, economia, sociologia, entre outros. Há aqueles que defendem a Agroecologia, não como uma disciplina, e sim sob um enfoque transdisciplinar, considerando a atividade agrária desde uma perspectiva ecológica com teoria e metodologia que utiliza várias disciplinas científicas, construindo uma vinculação essencial existente entre o solo, a planta, o animal e o ser humano. Atualmente a Agroecologia é caracterizada principalmente como um movimento sociopolítico, de empoderamento do agricultor em busca de sua identidade e raízes culturais. Ela é um mecanismo que oferece ao agricultor autonomia, poder de decisão e participação ativa no processo produtivo. Tudo isso acaba por favorecer o local como foco de ação. no mundo A institucionalização da agricultura orgânica no mundo teve início em 1972, com a criação da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM) e a publicação de suas primeiras normas em 1978. As normas privativas da IFOAM serviram de referência para a comercialização dos produtos orgânicos no mundo até a década de 1990 e para o estabelecimento de outras normas locais e regulamentos técnicos em diferentes países. A França foi o primeiro país a regulamentar, ainda nos anos 1980. No início da década de 1990, foram criados os regulamentos técnicos para a produção orgânica de origem vegetal da Comunidade Econômica Europeia, à época o maior mercado de orgânicos. 26 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl No final da década, o Codex Alimentarius5 estabeleceu diretrizes para a produção orgânica de origem vegetal e em 2001, editou diretrizes para a produção animal. O Codex é a norma internacional que serve de referência para as negociações comerciais de alimentos nos acordos de barreiras técnicas ao comércio e medidas sanitárias e fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para os não alimentos (têxteis e cosméticos) devem ser usadas as normas da IFOAM. Essas normas internacionais de referência são baseadas nas realidades, práticas e contextos específicos dos países de clima temperado e dos países de alta renda. Hoje existem mais de 80 países com alguma regulamentação da agricultura orgânica em algum estágio (implantadas ou em discussão). A pouca flexibilização das normas internacionais está refletida nos regulamentos técnicos nacionais, praticamente cópia das normas internacionais e regionais, que dificultam o comércio internacional de produtos da agricultura orgânica e também o desenvolvimento dos mercados locais em países de baixa renda da América Latina e Caribe e da Ásia. O estabelecimento em 2003, da Força Tarefa Internacional – FAO6/UNCTAD7/IFOAM para harmonização e equivalência das normas na agricultura orgânica mostra a necessidade de flexibilizar e buscar acordos de reconhecimento mútuo, embora respeitando as diversidades os diferentes países. Essa flexibilização deve começar pela busca da equivalência de objetivos regulamentares comuns na condução dos sistemas de garantia das qualidades orgânicas dos países cujos resultados são iguais, para satisfazer às necessidades de inocuidade e qualidade, bem como o imaginário dos consumidores e das autoridades competentes. A harmonização virá como consequência das negociações de diretrizes internacionais menos específicas e mais evolutivas. Há tendência de inclusão e aceitação dos sistemas participativos de garantia (SPG) em oito legislações dos países de baixa renda na América Latina e Caribe, na Índia e na Espanha. O reconhecimento dos SPG pela FAO, em sua 30ª Reunião Regional, que ocorreu em abril de 2008, em Brasília-DF, demonstra que esses mecanismos de avaliação da conformidade são adequados aos mercados internos e externos. 5 O Codex Alimentarius é uma coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente, códigos de conduta, orientações e outras recomendações relativas a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar. Disponível em: <http://www.fao.org/fao- who-codexalimentarius/en/>. 6 A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla do inglês Food and Agriculture Organization) é uma organização das Nações Unidas cujo objetivo é aumentar a capacidade da comunidade internacional para de forma eficaz e coordenada, promover o suporte adequado e sustentável para a segurança alimentar e nutrição global. Sítio: <http://www. fao.org/brasil/pt/>. 7 A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) foi estabelecida em 1964, em Genebra, Suíça, atendendo às reclamações dos países subdesenvolvidos, que entendiam que as negociações realizadas não abordavam os produtos por eles exportados, os produtos primários. Sítio: <http://unctad.org/en/Pages/Home.aspx>. 27 CAPítulo 2 o sistema de produção agropecuária ecológica no Brasil No Brasil, a Agroecologia tem alcançado resultados significativos em algumas regiões. Isso acontece quando são desenvolvidos, simultaneamente e de forma integrada, aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais, principalmente junto aos agricultores familiares e às comunidades advindas de classes populares. A rica biodiversidade dos sistemas de produção, a pluriatividade e as formas de organização e acesso a mercados próprios, relacionados com os fatores socioeconômicos, ambientais e culturais e sua capacidade de garantir, em grande medida, a segurança alimentar e nutricional de nossa população, são características marcantes da agricultura orgânica e de base agroecológica brasileira. Nas últimas décadas, tivemos importantes avanços no campo do conhecimento agroecológico e orgânico, integrando os saberes tradicionais dos agricultores,assentados da reforma agrária, e dos povos e comunidades tradicionais com o científico, refletindo em diversas iniciativas de políticas públicas em setores do ensino superior e profissionalizante, no direcionamento da pesquisa e nos métodos e metodologias da extensão rural, bem como na ampliação das técnicas e tecnologias de suporte à transição agroecológica. Entretanto, diversos desafios ainda se apresentam para diminuir as fragilidades e garantir a sustentabilidade desses sistemas de produção. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em atenção a políticas de Agroecologia criou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo). O Planapo (BRASIL, 2016) busca integrar suas ações com o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e o Plano Nacional de Direitos Humanos, assim como o Código Florestal, o Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a partir de processo de convivência, mitigação e adaptação, diminuindo a vulnerabilidade dos agricultores que se encontram em situação de fragilidade econômica e social no campo. No campo produtivo, o Plano avança ao propor mecanismos capazes de atender à demanda por tecnologias ambientalmente apropriadas, compatíveis com os distintos sistemas culturais e com as dimensões econômicas, sociais, políticas e éticas no campo do desenvolvimento agrícola e rural. Ao mesmo tempo, apresenta alternativas 28 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl que buscam assegurar melhores condições de saúde e de qualidade de vida para a população rural. Nesse sentido, o Planapo, orientado pelas diretrizes estabelecidas no referido Decreto estabeleceu os seguintes macro desafios: » ampliação do número de agricultores/as e produtores/as envolvidos/as com a produção orgânica e de base agroecológica; » incentivo ao registro, à produção e à distribuição de insumos adequados à produção orgânica e de base agroecológica; » fomento à conservação, ao manejo e ao uso sustentável dos recursos naturais; » contribuição para a organização de agricultores e agricultoras em cooperativas e redes solidárias, a ampliação das compras e subvenções e o número de pontos de venda de produtos; » ampliação da utilização de crédito e outras formas de financiamento e fomento para o custeio e implantação de infraestruturas produtivas e comerciais; » inclusão e incentivo à abordagem da Agroecologia e de sistemas de produção orgânica nos diferentes níveis e modalidades de educação e ensino, bem como no contexto das práticas e movimentos sociais, do mundo do trabalho e das manifestações culturais; » democratização da agenda de pesquisa e sua integração com a extensão, de modo a socializar o conhecimento agroecológico para técnicos/as, agricultores/as e produtores/as; » estímulo à agroindustrialização e a outras formas de agregação de valor aos produtos orgânicos e de base agroecológica; » ampliação do acesso de consumidores a informações e ao consumo de produtos orgânicos e de base agroecológica; » reconhecimento e fortalecimento do protagonismo dos/as jovens e das mulheres rurais na agroecologia e produção orgânica; » fortalecimento do papel das redes na articulação dos atores e na dinamização de ações relacionadas à produção orgânica e de base agroecológica. Mais informações sobre o programa: <https://www.mda.gov.br/sitemda/sites/ sitemda/files/user_img_19/BrasilAgroecologico_Baixar.pdf>. 29 O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii figura 3. Logotipo do Planapo. fonte: Brasil, 2016. A Agroecologia como um todo, e neste caso na política pública brasileira deve ser encarada enquanto ciência, de maneira que ela se posicione em condições de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a transformação da agricultura brasileira. Assim, pode-se estabelecer medidas para o seu fortalecimento: » fortalecer a luta pela terra, de maneira que a reforma agrária seja o instrumento capaz de superar o latifúndio, a exploração do homem pelo homem e a produção de alimentos saudáveis para a população rural e urbana; » articular e ampliar o número de instituições de ensino superior para a formação de agroecólogos em nível de graduação e pós-graduação, em todo o território nacional; » manter a articulação junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) de maneira que as políticas para a agricultura familiar e de base agroecológica sejam reforçadas e aprimoradas; » criar e fortalecer programas governamentais que reforcem o papel da Agroecologia no processo da agricultura brasileira; » estimular a organização dos agricultores familiares para a produção e comercialização de produtos agroecológicos; » fortalecer o intercâmbio de experiências agroecológicas entre os agricultores familiares e suas entidades representativas; » incentivar o cooperativismo e a solidariedade como instrumentos de emancipação econômica e social; » incentivar a organização dos agricultores familiares para que se fortaleçam em busca de conquistas que garantam vida digna no campo. 30 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl Produção Estimativas da área total com produção orgânica no Brasil variam de acordo com a fonte consultada. Segundo dados da FiBL (Instituto Suíço de Pesquisa em Agricultura Orgânica) e da IFOAM, publicados em 2015, a área cultivada e as áreas de pastagem no Brasil totalizavam cerca de 887.637 hectares em 2013. Estima-se a área certificada, ou sob alguma forma de controle da conformidade com o manejo orgânico, em cerca de 6,6 milhões de hectares, incluindo as áreas de extrativismo sustentável na região amazônica. As áreas de agroextrativismo estão concentradas na região Norte e as de pecuária na região Centro-Oeste. Estimativas mostram que, em 2008, existiam 32,6 milhões de hectares certificados como orgânicos no mundo, dos quais 6,4 milhões encontravam-se na América do Sul, sendo a maior parte de pastagens nativas na Argentina e no Centro-Oeste brasileiro. Em 2006, os países com o maior número de unidades de produção orgânica certificadas eram o México (12 mil unidades), a Indonésia (45 mil unidades), a Itália (36 mil unidades), as Filipinas (35 mil unidades) e Uganda (34 mil unidades). As maiores áreas com culturas encontravam-se na Europa, seguida dos Estados Unidos (cereais, grãos, oleaginosas, vegetais flores e plantas medicinais). As áreas com culturas permanentes (olivas, café, frutas e nozes) representavam 37% na União Europeia, 35% na América Latina e Caribe e 21% na África. As áreas de pastagens representavam 57% na Oceania, 19% na América Latina e Caribe e 15% na União Europeia (PESAGRO, 2009). As áreas com produção orgânica certificada eram ocupadas por: cereais (1,295 milhão de hectares); pastagens e produção de proteína (1,166 milhão de hectares); culturas permanentes - oliveiras, frutas e nozes (0,555 milhão de hectares); óleo vegetal (0,97 milhão de hectares); uvas (0,95 milhão de hectares); legumes e verduras (0,92 milhão de hectares). Em 2006, o Brasil tinha cerca de 19 mil unidades controladas, que afirmavam seguir as práticas da agricultura orgânica, envolvendo pequenas e grandes unidades de produção e processamento. Dos projetos controlados, 70 a 80% eram conduzidos por agricultores familiares e/ou trabalhadores rurais, tanto para atender ao mercado interno quanto o de exportação. Os projetos conduzidos por agricultores familiares forneciam castanha (de caju e da Amazônia), frutas, legumes e verduras, café, cacau, mel, óleos essenciais (cosméticos) e algodão colorido, entre outros produtos, para os mercados interno e de exportação. Em 2007, o Projeto Orgânicos Brasil divulgou estudo com o mapeamento da área brasileira de produção orgânica certificada, de acordo com os dados de quatro 31 O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii certificadoras que trabalham no Brasil (IBD, ECOCERT Brasil, IMO Brasil e BCS), todasacreditadas no mercado internacional. O resultado mostrou que existiam 932.120 hectares de produção orgânica certificada e 6.182.180 hectares de produção orgânica que inclui a base extrativista. Juntando-se as duas informações, o Brasil poderia ser considerado o segundo país do mundo em área de agricultura orgânica controlada. Os produtos de base extrativista no Brasil estão sendo estimulados por meio das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, uma iniciativa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e com apoio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) no estabelecimento dos preços mínimos. Mercado O mercado mundial de produtos orgânicos certificados evoluiu com as vendas no varejo, estimadas em US$ 46 bilhões em 2006, US$ 33 bilhões em 2005, US$ 31,4 bilhões em 2004 e US$ 25 bilhões em 2003 (PESAGRO, 2009). Há expectativas de que esse mercado cresça 20% ao ano, atingindo US$ 60 bilhões em 2010 e US$ 100 bilhões em 2012. Os maiores mercados para os produtos orgânicos continuam sendo a União Europeia, os Estados Unidos e o Japão. Os produtos orgânicos comercializados incluem frutas e legumes frescos, nozes e frutas secas, especiarias, ervas, vegetais processados, cacau, óleos vegetais, doces, alimentos processados e bebidas de frutas. Itens não alimentares incluem algodão, óleos essenciais para cosméticos e flores de corte. Em 2006, na União Europeia, US$ 17 milhões em vendas estavam concentrados na Europa Ocidental, com Alemanha, Reino Unido, França e Itália sendo responsáveis por 75% das vendas regionais. A demanda por esses produtos na Suécia, Dinamarca e Holanda é relevante. Quanto aos canais de comercialização usados, encontram-se produtos orgânicos em lojas de conveniência e supermercados específicos, mas também nas grandes redes de varejo. No Reino Unido, ainda é grande a importação de produtos. Nos mercados internos dos países de baixa renda, são comercializados os excedentes da produção para exportação, muitas vezes como produtos convencionais, mas também frutas, legumes e verduras in natura, produtos de origem animal (leite de vaca e de cabra, carne de frango e ovos) produzidos nos arredores das grandes cidades e produtos processados em escala muito pequena. As principais oportunidades brasileiras de exportação são as frutas tropicais e os legumes e verduras na entressafra dos mercados importadores, além do algodão colorido naturalmente. Os óleos essenciais e outros 32 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl produtos do agroextrativismo sustentável orgânico também representam boas oportunidades de mercado. Embora a produção ocorra no mundo todo, a demanda permanece concentrada nos países de alta renda. A América do Norte e a União Europeia estão experimentando a escassez de fornecimento em face de a produção local não atender ao crescimento da demanda (que foi estimulado por políticas públicas e privadas e pelo medo quanto à inocuidade dos alimentos depois dos escândalos como o mal da vaca louca). Nos últimos anos, o crescimento da produção nos países de baixa renda foi de três dígitos, mas o mercado doméstico não cresceu. Os consumidores dos países de alta renda são os maiores compradores de alimentos orgânicos. Na realidade, em 2006, seis países do G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) foram responsáveis por 84% das vendas globais de produtos orgânicos. No Brasil, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, em 2003, o mercado nacional era estimado em cerca de US$ 1 milhão, com crescimento de 20% ao ano. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil exportou 19,5 mil toneladas de produtos orgânicos de janeiro a dezembro de 2007, gerando divisas da ordem de US$ 12,5 milhões. Em 2008, houve diminuição de 35% no volume de produtos orgânicos exportados e aumento de 3,70% no valor total recebido pelas exportações de orgânicos. Esses dados permitem concluir que houve melhor desempenho, pois, apesar da queda no volume exportado, os produtos tinham maior valor agregado. Os produtos exportados em maior volume foram a soja e derivados (76%), açúcar, mangas frescas, café, cacau e derivados. Os sete principais destinos dos produtos orgânicos brasileiros foram Holanda, Suécia, EUA, Reino Unido, França, Canadá e Noruega (PESAGRO, 2009) O mercado internacional absorve 70% da produção brasileira e registra taxa de crescimento da área duas vezes maior do que a média internacional. De acordo com a mesma fonte, o Brasil comercializou US$ 250 milhões em 2008. Esses dados são bem superiores (20 vezes) aos dados oficiais apresentados pela SECEX. O projeto Organics Brasil, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), envolve 70 empresas associadas (de pequeno e grande porte), que faturaram US$ 58 milhões em 2008 com a venda de produtos orgânicos. Espera-se que, com a implantação da regulamentação da agricultura orgânica, os dados oficiais sejam compatibilizados. A oferta de produtos orgânicos provém de grandes empreendimentos, mas também de agricultores familiares organizados, tanto para o mercado externo quanto para o interno. A Rede Ecovida, no sul do País, que congrega agricultores familiares e pequenos 33 O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii empreendimentos, comercializou, em 2003, cerca de US$ 15 milhões em produtos no mercado interno e externo, dos quais 66% em canais de venda direta (mercados institucionais, feiras e lojas de consumidores). Existem parcerias entre a empresa Friboi (maior produtora mundial de carnes bovinas, com matriz no Brasil) e a WWF (ONG internacional) para estímulo ao desenvolvimento da produção de carne bovina em sistemas de produção orgânicos. O maior produtor e maior exportador de açúcar orgânico do mundo é a Usina São Francisco, em Sertãozinho-SP, que detém mais de 50% da produção mundial de açúcar orgânico com a marca Native, processada na própria Usina. Esse projeto foi iniciado em 1996 e, em 2000, cultivava cana em 7.540 ha. O açúcar Native tem certificação internacional feita pela FVO para o mercado dos Estados Unidos e pela Ecocert para o mercado da União Europeia. O grupo se envolveu também com a comercialização de café e suco de laranja orgânico. Em 2008, cerca de 80% do faturamento da empresa correspondiam à exportação de 60 mil toneladas de açúcar a granel para fabricantes de alimentos. O preço médio do café praticado no mercado externo é de U$ 3,50 por kg e, no mercado interno, o valor médio é de US$ 1 a US$ 2 por kg. A Cia. Orgânica de Café vende 30% da safra de 1.500 sacas para o Japão, Emirados Árabes e Estados Unidos. O restante abastece lojas do Grupo Pão de Açúcar, com quatro tipos de café – grão, sachê, solúvel e em pó – e outros comércios varejistas. A recém-criada “holding” Bem da Terra aposta no mercado de café gourmet, entre outros produtos, ciente do desafio do crescimento: ter escala e baixar preço. Os produtos orgânicos estão presentes nos diversos canais de comercialização existentes, também explorados pelos produtos convencionais. Em 2004, de 611 canais de comercialização pesquisados pelo SEBRAE, os supermercados, seguidos das lojas/distribuidoras, eram os mais procurados na região Sudeste, enquanto na região Sul os mais procurados eram as feiras e depois os supermercados. Observou-se que, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, era pequena a comercialização de orgânicos em todos os canais, representando somente 6% dos canais de venda de produtos orgânicos. Em 2008, a venda de alimentos isentos de agrotóxicos pelo Grupo Pão de Açúcar representou faturamento de R$ 40 milhões, com expectativa de que ultrapasse os R$ 50 milhões até o final de 2009. A implantação de alternativas (circuitos curtos de distribuição) aos processos tradicionais de comercialização vigentes (atacado e circuitos longos de distribuição via grande varejo) é condiçãopara que a agricultura orgânica venha a representar verdadeira e profunda transformação das condições de vida, de trabalho e de renda 34 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl dos agricultores familiares. Uma dessas iniciativas é a Cooperativa de Consumidores Ecológicos de Três Cachoeiras – COOPET, no município de Três Cachoeiras, cidade com cerca de 6 mil habitantes próximo à cidade de Torres-RS, que tem 100 membros. Lá, uma pequena loja da cooperativa fornece produtos orgânicos à população local que, antes, só via os produtos passarem embalados nos caminhões para venda nos grandes centros urbanos. Outra iniciativa são as cestas de produtos orgânicos para grupos organizados de consumidores, como funcionários de empresas, grupo de acadêmicos, moradores de bairros. É o caso da Rede Ecológica, no Rio de Janeiro, que funciona como grupos organizados de consumidores nos bairros. Em 2007, estavam em dois bairros e, em 2008, já eram oito bairros/localidades na cidade do Rio de Janeiro (Urca, Santa Teresa, Laranjeiras, Tijuca, Recreio e Freguesia) e cidades vizinhas (Niterói e Seropédica). Essa rede conta também com a participação de acadêmicos ligados às ciências naturais e sociais, ligados ao tema da Agroecologia e às relações campo-cidade/rural-urbano. Outra modalidade de venda direta usada pelos produtores são as cestas em domicílio. Em 2007, observava-se a tendência de as distribuidoras de produtos orgânicos, com sede no estado do Rio de Janeiro, estarem diminuindo a oferta aos supermercados e passando a fornecer ou aumentando o fornecimento das cestas em domicílio. Na quarta edição da Semana do Alimento Orgânico, que aconteceu em maio de 2008 em todo o país, numa parceria MAPA, MDA e MMA, a CPOrg-RJ distribuiu folheto divulgando mais de 20 pontos de venda de produtos orgânicos em feiras e lojas de produtos naturais em oito municípios do estado do Rio de Janeiro: Nova Iguaçu, Niterói, Campos, Nova Friburgo, Teresópolis, Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Rio de Janeiro. Outros canais de comercialização que estão sendo construídos e estimulados são os mercados institucionais (merenda escolar, creches, hospitais, restaurantes). Existem políticas federais, estaduais e municipais de “aquisição dos orgânicos” estabelecidas a partir de 2003, com enfoque de segurança alimentar, que estimulam os mercados quanto à consciência dos produtores sobre o uso dos insumos e os consumidores sobre os benefícios de consumir alimentos orgânicos. Um exemplo é o PAA, parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o MAPA, executado em âmbito estadual pela CONAB, através do qual as compras alcançaram US$ 7,993 milhões em 2005. Entre 2003 e 2007, por meio de estoques originários da agricultura familiar, doou 79,8 mil toneladas de produtos (feijão, farinha de mandioca, arroz em casca e milho em grãos, entre outros), usados em ações de suplementação alimentar para segmentos carentes da população, assistidos por 3.614 entidades de interesse público, em 1.514 municípios de 26 estados. 35 O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii A CONAB comprava de cada agricultor familiar o valor total de R$ 3.500,00 em produtos para serem doados a organizações em situação de insegurança alimentar, pagando prêmio de até 30% no preço dos produtos orgânicos. Esse valor deve subir para R$ 4.500,00/família para os contratos a serem firmados em 2009 para entrega em 2010. O programa é justificado por preservar a biodiversidade e a sustentabilidade ambiental no gerenciamento dos sistemas, mas também promove a agricultura orgânica controlada pelos seus efeitos benéficos à segurança alimentar com a oferta de produtos orgânicos a outros segmentos da sociedade. Apesar de a região Sudeste ter a segunda maior participação no PAA no período 2003- 2007, no Estado do Rio de Janeiro, somente três contratos foram firmados em 2007 com a CONAB/SUREG-RJ para fornecimento ao PAA em 2008. Na esfera municipal, o PAA é operado diretamente pelas prefeituras, em parceria com o MDS. A prefeitura de Nova Iguaçu-RJ, por vontade política, adquiriu produtos orgânicos para a merenda escolar da associação de agricultores familiares que produzem hortaliças orgânicas em faixas de dutos da Petrobras e contam com apoio técnico do Instituto Terra e recursos daquela empresa petrolífera. Em fins de 2008, a Associação dos Produtores Orgânicos de Petrópolis (APOP), que congrega produtores da comunidade do Brejal, com apoio da Associação de Agricultores Biológicos (ABIO) e dos Escritórios Locais da EMATER-RIO em Nova Friburgo e em Petrópolis, firmou contrato com a CONAB/SUREG-RJ para que 10 dos seus membros entregassem produtos orgânicos ao PAA em 2009, na modalidade –Doação Simultânea, em parceria com o Banco de Alimentos e Colheita Urbana, responsável pelo transporte dos alimentos até os beneficiários finais (organizações em situação de insegurança alimentar). A oferta de produtos da região na merenda, além de estimular a geração de emprego e renda, favorece a manutenção do hábito alimentar baseado na cultura local. Foi o que fez a Cooperativa Grande Sertão, em Minas Gerais, com produtos processados do extrativismo sustentável, com a venda para o PAA e entrega nas merendas escolares e nos mercados locais. Essas iniciativas contam também com o apoio do programa da Secretaria de Desenvolvimento do Território do MDA e com cooperação internacional (movimento Slow Food, ligado à gastronomia). Em Brasília-DF, o mercado de orgânicos funciona na CEASA, em sistema cooperativo entre os produtores (SINDIORGÂNICOS – Sindicato dos Produtores Orgânicos) e em parceria com diversas instituições como sistema profissionalizado, dispondo de recursos que permitem gestão moderna e competitiva para atender aos consumidores. Os principais produtos oferecidos incluem hortifrutigranjeiros, leite e laticínios, além de sucos, café, achocolatados e geleias. 36 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl O desafio é fornecer produtos da agricultura familiar e, se possível, produtos orgânicos para a merenda escolar, pois o marco legal fala de alimentação saudável, alimento orgânico e agroecológico. Resumidamente, o tipo de canal a ser utilizado pelos produtores dependerá do seu nível de organização e de relacionamento com o ambiente externo, da existência de grupos organizados, dos tipos de produtos existentes e das épocas do ano, de acordo com as exigências de cada canal de comercialização ou de consumidores organizados, além dos recursos financeiros disponíveis. Fica clara a importância da organização dos produtores em grupos para negociar coletivamente com a municipalidade os apoios necessários para desenvolver o mercado local de produtos orgânicos visando atender à população. A parceria com escolas técnicas, universidades, institutos de pesquisa e organismos de assessoria técnica é importante para a construção das redes de conhecimento agroecológico e dos critérios de controle das qualidades orgânicas. A proximidade com o poder legislativo favorecerá a implantação de políticas adequadas às realidades locais. 37 CAPítulo 3 Conformidade e certificação Para a produção de alimentos por meio da Agroecologia é preciso seguir algumas etapas uniformizadas que irão conferir um atestado de qualidade ao produto, a certificação pelo processo de conformidade. Segundo Gliessman (2014) são estabelecidos 5 níveis de transição por pequenos passos em direção ao objetivo final da sustentabilidade. Os três primeiros níveis de conversão para um sustentável têm foco no sistema alimentar na escala da fazenda. Dois níveis adicionais ultrapassam a escala fazenda. Os três primeiros níveis nos ajudam a descrever os passos que os agricultores realmente tomam na passagem de agroecossistemas industriais ou convencionais, e todos os cinco níveis em conjunto servem como um mapa delineando um processo de mudança evolutiva para todo o sistema alimentar global. nível 1 Aumentar a eficiência das práticas industriais/convencionais,a fim de reduzir o uso e consumo de insumos caros, escassos ou prejudiciais para o ambiente. O objetivo dessa abordagem é a utilização de insumos de forma mais eficiente, para que menos insumos sejam necessários e ainda uma gradual redução de impactos negativos. Esta abordagem tem sido a principal ênfase de algumas pesquisas da agricultura convencional, por meio do qual foram desenvolvidas inúmeras tecnologias e práticas agrícolas. Exemplos incluem o espaçamento ideal das culturas e densidade, melhores máquinas, monitoramento de pragas para melhorar a aplicação de pesticidas, melhor gestão do tempo das operações e agricultura de precisão para a dosagem correta de fertilizante e baixo consumo de água na irrigação. Embora esses esforços busquem reduzir os impactos negativos da agricultura convencional, eles não ajudam a quebrar a dependência de insumos externos. nível 2 Substituição de insumos industriais e práticas convencionais, substituindo-os por práticas alternativas. O objetivo neste nível de transição é substituir produtos e práticas de uso intensivo de recursos degradantes por aqueles que são mais ambientalmente benignos. Exemplos de práticas alternativas incluem o uso de plantas de cobertura fixadoras de nitrogênio e rotações para substituir fertilizantes nitrogenados sintéticos, 38 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl o uso de agentes de controle biológico em lugar de pesticidas, e a mudança para preparo de solo reduzido ou mínimo. Neste nível, a estrutura básica do agroecossistema não é muito alterada, portanto, muitos dos mesmos problemas que ocorrem em sistemas industriais convencionais, também podem ocorrer. nível 3 Redesenhar o agroecossistema para que ele funcione com base em um novo conjunto de processos ecológicos. Neste nível, mudanças fundamentais na concepção geral do sistema buscam eliminar as causas de muitos dos problemas que ainda existem nos níveis um e dois. Assim, em vez de encontrar formas mais sólidas de resolução de problemas, os problemas são impedidos em primeiro lugar. Estudos de reconversão de todo o sistema permitem uma compreensão dos fatores limitantes de rendimento no contexto da estrutura e função agroecossistema. Um exemplo é a diversificação da estrutura das explorações agrícolas e de gestão por meio do uso de rotações, cultivos múltiplos e sistemas agroflorestais. nível 4 Reestabelecer uma ligação direta entre aqueles que cultivam os alimentos e quem o consome. A transição ocorre dentro de um contexto cultural e econômico, e nesse contexto, deve apoiar a mudança para práticas mais sustentáveis de ambos. Em nível local, isso significa que os consumidores valorizam produtos cultivados localmente e usam seu dinheiro de forma mais racional. Este apoio se transforma em uma espécie de “cidadania alimentar” e torna-se uma força para a mudança do sistema alimentar. Quanto mais essa transformação ocorre em comunidades ao redor do mundo, mais perto caminhamos para a construção da nova cultura e economia da sustentabilidade que é o pré-requisito para atingir o nível cinco. nível 5 Sobre os fundamentos criados na escala da fazenda sustentável em agroecossistemas de nível três e as relações alimentares sustentáveis de nível quatro. Busca-se construir um novo sistema global de alimentos, com base na equidade, participação e justiça, que não só é sustentável, mas também ajuda a restaurar e proteger os sistemas de suporte de vida da Terra. Ao contrário de níveis de um a quatro, o nível cinco implica mudar o escopo global que atinge tão profundamente a natureza da civilização humana que transcende o conceito de “transição”. No entanto, o caminho para o nível cinco passa necessariamente pela escala da fazenda. 39 O sistema agrOecOlógicO atual │ uNiDaDe ii Em termos de pesquisa, agrônomos e outros cientistas têm feito um bom trabalho para adaptação dos processos de transição em suas regiões. O trabalho com a ética e a economia da sustentabilidade fornece a base para o tipo de pesquisa e ação baseados na comunidade. As pesquisas desenvolvem técnicas locais mas focam em eventos globais. Seguidos os níveis acima, o produtor pode procurar uma forma de certificação da sua produção. Após o nível de implantação da agricultura orgânica, o produtor que não se encaixar na modalidade de venda direta por agricultores familiares com certificação facultativa e quiser fazer uso no Brasil da denominação produto orgânico ou outro similar, terá de estar cadastrado no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG). Os mecanismos de avaliação da conformidade reconhecidos no SISORG devem dar garantias aos clientes e consumidores sobre as qualidades orgânicas e de que seguem os regulamentos técnicos da agricultura orgânica. São dois mecanismos: a certificação e os Sistemas Participativos de Garantia. Portanto, os produtos têm de ser submetidos ao controle feito por um OAC (Organismo de Avaliação da Conformidade) ou OPAC (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade). Desde a década de 1970, organizações de produtores e consumidores, além de técnicos, desenvolvem práticas seguindo os princípios da agricultura orgânica. Em 1994, iniciou-se a discussão para a regulamentação da agricultura orgânica no país, que foi oficialmente reconhecida em maio de 1999. Em dezembro de 2003, foi publicada a Lei no 10.831, definindo e estabelecendo condições obrigatórias para a produção e a comercialização de produtos da agricultura orgânica. Em julho de 2004, foi editada a Portaria no 158, do MAPA, que trata da Comissão Nacional para a Produção Orgânica (CPOrg-RJ) e das Comissões da Produção Orgânica nas Unidades da Federação (CPOrg -UF), criadas com a função de executar o programa Pró-Orgânico. Em março de 2004, foi criada a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica (CSAO) como órgão consultivo de apoio às políticas públicas do MAPA. É composta por membros do governo e da sociedade civil. Foi na CSAO que aconteceram as discussões, elaboração, aprovação e regulamentação da Lei no 10.831. Os textos do Decreto e das Instruções Normativas foram construídos, durante os anos de 2004, 2005 e 2006, por técnicos de diferentes ministérios em parceria com diversos segmentos da sociedade civil ligados à agricultura orgânica, sob a coordenação do MAPA. Após a tramitação pela Casa Civil e demais ministérios envolvidos (MAPA, MDA, MMA, MS e MDIC), e após a aprovação das alterações pela CSAO, em agosto de 2007, 40 UNIDADE II │ O sIstEmA AgrOEcOlógIcO AtUAl o Decreto no 6.323 foi publicado no Diário Oficial da União, em 28 de dezembro de 2007. Os regulamentos técnicos específicos (portarias e instruções normativas) para cada atividade e setor foram objeto de consulta pública em maio de 2008. No mesmo ano, a CSAO passou a ser chamada de Câmara Técnica da Agricultura Orgânica (CTAO) e mudou suas representações (novos mandatos, inclusão e exclusão de membros). As cinco Instruções Normativas específicas, que regulamentam a atividade da agricultura orgânica de acordo com a Lei no 10.831 e com o Decreto no 6.323, foram publicadas em 2008 e 2009. Em outubro de 2008, a Instrução Normativa no 54, que trata das Comissões da Produção Orgânica, em dezembro de 2008, a Instrução Normativa no 64, dos Sistemas Orgânicos de Produção Primária – animal e vegetal. Em maio de 2009, as Instruções Normativas no 17, do Extrativismo Sustentável Orgânico; no 18, do Processamento e no 19, dos Mecanismos de Controle e Informação da Qualidade Orgânica, sendo a IN 17/2009 e a IN 18/2009 conjuntas com o MMA e o MS, respectivamente. Em julho de 2009, foi publicado o Decreto no 6.913/2009, que trata dos produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica. As possibilidades de acesso dos produtos da agricultura orgânica ao mercado brasileiro estão previstas na Lei no 10.831, nos Decretos no 6.323 e no 6.913 e nas Instruções Normativas no 54 e no 64, no 17, no 18 e no 19. No Brasil, podem ser três
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