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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO CURSO DE PEDAGOGIA Claudiane Gomes dos Santos LEITURA: CENÁRIO DESAFIADOR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM DELMIRO GOUVEIA-AL DELMIRO GOUVEIA-AL 2020 CLAUDIANE GOMES DOS SANTOS LEITURA: CENÁRIO DESAFIADOR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM DELMIRO GOUVEIA- AL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas no campus do Sertão, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. Orientador: José Ivamilson Silva Barbalho DELMIRO GOUVEIA-AL 2020 Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza CRB-4/2209 S237l Santos, Claudiane Gomes dos Leitura: cenário desafiador na educação de jovens e adultos em Delmiro Gouveia - AL / Claudiane Gomes dos Santos. - 2020. 63 f.: il. Orientação: Prof. Dr. José Ivamilson Silva Barbalho. Monografia (Pedagogia) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de Pedagogia. Delmiro Gouveia, 2020. 1. Educação de Jovens e Adultos – EJA. 2. Ensino e apren- dizagem. 3. Leitura. 4. Letramento. 5. Alfabetização. I. Título. CDU: 373:004.072.2 Dedico este trabalho aos meus pais Ana Lúcia e José Manoel, exemplos de superação, me ensinaram o amor, e tudo o que sou. AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu Deus vivo que me amparou na hora do desânimo e me deu forças para seguir adiante. A minha família que sempre foi o meu escudo e minha fortaleza. Ao meu esposo Henrique, que sempre me apoiou em todas as minhas decisões, segurou a minha mão quando pensei em desistir e é o responsável por eu ter conseguido ir além, sempre colocou em primeiro plano os meus estudos, foi meu incentivador, conselheiro meu eterno agradecimento. Ao meu orientador, professor Dr. José Ivamilson Silva Barbalho, com quem partilhei saberes, e me ajudou a concretizar esse sonho, o meu muito obrigado. A minha amiga Maria Vilma, levarei sempre comigo amiga da graduação para a vida, obrigada por sempre me apoiar, aconselhar e me mostrar sempre o melhor caminho a seguir, por enxugar minhas lágrimas e me incentivar a ir além dos meus medos, anseios, obrigada. Ao meu amigo Alex Oliveira, que sempre me mostrou o melhor caminho, tornando esse processo mais leve, esteve ao meu lado, me incentivando, levarei para sempre comigo seus conselhos e ensinamentos. A todos da minha equipe, a turma em que eternizei momentos, em especial a minha equipe que permanecemos juntas desde o primeiro período, Joseane, Ana Caroline, Maria Ilma, Maria Vilma, Rafaela Soares, obrigada por tudo. "Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes” Paulo Freire RESUMO O presente trabalho aborda uma reflexão em torno da educação de jovens e adultos (EJA). A mesma é uma modalidade da Educação Básica, tem como proposta oferecer um ensino a pessoas analfabetas ou que não concluíram a educação básica na idade regular. Muitos estudantes permanecem na escola em busca de seus certificados e enfrentam alguns desafios não só na vida escolar, mas também na vida pessoal, aprender a ler ou até mesmo melhorar o que já sabem é uma das dificuldades que os sujeitos da EJA enfrentam no seu cotidiano. Este trabalho procura compreender o desenvolvimento do ensino e aprendizagem da leitura na Educação de Jovens e Adultos na rede municipal de ensino em Delmiro Gouveia-AL. A pesquisa foi realizada em duas escolas noturnas com alunos do primeiro segmento, da rede municipal de ensino localizada na zona urbana, ao todo tivemos a contribuição dos alunos e professores dessa área. A pesquisa é de cunho quantitativo/qualitativo, o instrumento utilizado para a coleta de dados da pesquisa foi o questionário. Contudo, os resultados obtidos na pesquisa demostram que as possíveis causas desafiadoras da leitura na EJA são, a falta de formação continuada dos professores, os recursos, a inadequação do currículo as e especificidades da EJA. Palavras-chave: Educação de jovens e adultos; leitura; formação de professor; currículo ABSTRACT The present work addresses a reflection about the Young and Adult Education (YAE). These is a modality of Basic Education; its proposal is to offer education to people who are illiterate or who have not completed basic education at the regular age. Many students remain in school in search of their certificates and some challenges not only in school life, but also in their personal life, learning to read or even improving what they already know is one of the difficulties that YAE’s subjects endure in their daily lives. This work seeks to understand the development of teaching and learning to read in the Young and Adults Education in the municipal school system in Delmiro Gouveia- AL. The research was carried out in two night schools with students from the first segment, from the municipal education located in the urban area, in all we had the contribution of students and teachers in this area. The research is of a quantitative / qualitative nature, the instrument used to collect data from the research was the questionnaire. However, the results obtained in this research show that the possible challenging causes of reading in the YAE are, the lack of continued training of teachers, the resources, the inadequacy of the curriculum to the specificities of the YAE. Keywords: Young and adult education; reading; teacher training; curriculum LISTA DE SIGLAS CEB- CONSELHO DE EDUCAÇÃO BÁSICA CES- CENTRO DE ESTUDOS SUPLETIVOS CNE- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DCNS- DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA EJA- EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS FAEJA- FÓRUM ALAGOANO DE JOVENS E ADULTOS IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA LDBEN- LEI DE DIRETRIZES E BAZES DA EDUCAÇÃO NACIONAL MEC-MINISTERIO DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA MOBRAL- MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO PEE/AL- PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE ALAGOAS UNESCO- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO CIÊNCIA E CULTURA LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Respostas da questão Qual sua Idade? Escola Balão Mágico, Escola Flor do Deserto ................................................................................................................. 40 Gráfico 2 - Respostas da questão sexo? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .................................................................................................................................. 41 Gráfico 3 - Respostas da questão estado civil? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto ...................................................................................................................... 41 Gráfico 4 - Respostas da questão número de filhos? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .......................................................................................................... 42 Gráfico 5 - Respostas da questão atualmente você trabalha? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .............................................................................................. 42Gráfico 6 - Respostas da questão se trabalha, qual o tipo de trabalho? Escola Balão Magico e Escola Flor do Deserto .............................................................................. 43 Gráfico 7 - Respostas da questão qual o setor de trabalho? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .............................................................................................. 44 Gráfico 8 - Respostas da questão quanto tempo ficou afastado da escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .................................................................... 45 Gráfico 9 - Respostas da questão por qual motivo você parou de frequentar a escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto ......................................................... 46 Gráfico 10 - Respostas da questão porque você voltou para a escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .............................................................................. 47 Gráfico 11 - Respostas da questão de que maneira você vai para escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto. .................................................................. 48 Gráfico 12 - Respostas da questão qual a importância da escola para o seu futuro? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto ......................................................... 49 Gráfico 13 - Respostas da questão qual a disciplina você tem mais dificuldade? Escola Balão Mágico e escola Flor do Deserto ..................................................................... 50 Gráfico 14 - Respostas da questão quantas vezes você lê por semana? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto. ............................................................................ 52 Gráfico 15 - Respostas da questão que leituras você faz? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto. ............................................................................................. 53 Gráfico 16 - Respostas da questão qual rede social você mais usa? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto. ............................................................................ 54 Gráfico 17 - Respostas da questão como você se sente no ambiente escolar? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto .................................................................... 55 Gráfico 18 - Respostas da questão principais dificuldades do professor da EJA? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto ....................................................... 56 Gráfico 19 - Respostas da questão quais as metodologias usadas para alfabetizar e letrar seus alunos? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto ......................... 57 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Percentual de respostas para as questões sobre leitura ......................... 51 Tabela 2 – Formação dos professores Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto. .................................................................................................................................. 56 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 2 PANORAMA DA EJA NO BRASIL ...................................................................... 17 2.1 Contexto Histórico da EJA ........................................................................... 17 2.2 Legislação da EJA ........................................................................................ 21 2.3 Contexto da EJA em Alagoas ...................................................................... 22 3 CONCEPÇÃO DO CURRÍCULO PARA EJA ....................................................... 25 3.1 O Currículo e sua Importância para o Ensino ............................................ 25 3.2 Diretrizes da Legislação para o Currículo da EJA ..................................... 26 3.3 Elaborações do currículo para EJA ............................................................. 28 4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES VOLTADO A EJA ......................................... 31 5 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO .................................................................. 35 5.1 Alfabetização ................................................................................................. 35 5.2 Letramento .................................................................................................... 36 6 METODOLOGIA ................................................................................................... 38 7 RESULTADOS ..................................................................................................... 40 7.1 Análise da coleta de dados com alunos entrevistados ............................. 40 7.2 Análise dos dados coletados dos professores .......................................... 56 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 59 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 61 APÊNDICE ................................................................................................................ 64 15 1 INTRODUÇÃO A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação Básica, tem como proposta oferecer um ensino a pessoas analfabetas ou que não concluíram a educação básica na idade regular. Sendo está voltada a realidade e necessidades daqueles sujeitos que, por algum motivo não concluíram seus estudos e tiveram seus sonhos interrompidos durante sua infância ou adolescência. Nessa perspectiva, esta modalidade de ensino pode ser um campo complexo, pois envolve diversos fatores que vão além do processo pedagógico e dos aspectos educativos. A escolha do tema: Leitura: cenário desafiador na Educação de Jovens e Adultos em Delmiro Gouveia-AL, partiu da necessidade de compreender como se dá o processo de leitura na Educação de Jovens e Adultos, que é significativo para a formação do pedagogo, considerando que durante a formação acadêmica, não foram frequentes as discussões sobre a Educação de Jovens e Adultos. No Estágio Supervisionado III, na EJA e durante esse processo, me deparei com algumas dificuldades, o que me levou a refletir sobre a prática enquanto profissional em formação. Percebi também que muitos jovens, adultos e idosos, tinham muitas dificuldades na leitura e escrita, trazendo atenção para pesquisar a respeito desse tema. Interpretar e compreender o que se lê, são as maiores dificuldades que enfrentam os alunos da EJA. Com isso, encontrar uma maneira de trazer significados e melhorar os conhecimentos já adquiridos, pelos indivíduos da EJA, requer habilidades específicas do educador (a). Pois é sabido que a escola recebe Jovens e Adultos com vivências profissionais, idade e origens distintas, e cada um tem suas singularidades, ritmos diferentes de aprendizagem, o que exige do educador(a) trabalhar com metodologias também diferenciadas e específicas, que despertem o interesse por aprimorar a leitura e a escrita e principalmente a compreensão, além de trabalhar conteúdo da realidade do educando, trazer significados de tudo o que eles têm contato diariamente, contribuindo assim para uma aprendizagem mais significativas, proporcionando a valorização da busca de novos conhecimentos, fazendo-os dar mais importância à possibilidade que a EJA traz de aprender e aprimorar seus conhecimentos. Para tanto, pretendemos por meio dos discursos dos envolvidos, discutir as práticas de alfabetização e letramento, que são desenvolvidas na escola, a fim de Capítulo Introdução 16 descobrir as contribuições das mesmas para o desenvolvimento da aprendizagem desses educandos, ao que tange a prática de leitura, pois entendemos que a leitura tem um papel determinante, na vida dos sujeitos. Entendemos que a necessidadede ler e escrever nos dias atuais é indispensável, porém, é preciso que os objetivos de ensinar estejam ligados ao compromisso e preocupação de que o aluno realmente aprenda, ou seja, para que o aluno aprenda de fato a ler e escrever, é essencial que este consiga interpretar textos nas suas várias formas e intenções. O trabalho, com a leitura dando ênfase, a identidade de cada educando, e suas diferença, trazendo possibilidade de interação e respeito, tendo em vista a necessidade de incentivar a leitura como forma de ampliar os conhecimentos. Para aprofundar o tema em questão é importante fazer um panorama histórico da Educação de Jovens e Adultos, discutir sobre a formação de professores nessa área, concepção de currículo, alfabetização e letramento e discorrer sobre a importância da leitura na Educação de Jovens e Adultos. Partindo desses pressupostos, e a importância de pesquisar sobre esse tema, ao que tange os desafios enfrentados por essa modalidade de ensino. O trabalho está organizado da seguinte forma, na primeira seção apresentaremos o panorama da EJA no Brasil; na segunda abordamos a concepção de currículo para EJA, na terceira falarmos sobre a formação de professores; e na seção seguinte discutimos a alfabetização e letramento; logo depois a metodologia empregada na pesquisa e após apresentamos os resultados e discussões dos dados coletados por meio do questionário respondidos pelo discentes e docentes da rede municipal de ensino que ofertam a modalidade EJA; por fim apresentaremos as considerações finais e as referências utilizadas para a realização deste trabalho. O trabalho tem como objetivo geral, compreender o desenvolvimento do ensino e aprendizagem da leitura na Educação de Jovens e Adultos na rede municipal de ensino em Delmiro Gouveia. E como objetivos específicos: identificar quais são os principais desafios na Educação de Jovens e Adultos; evidenciar quais as metodologias de ensino da leitura são usadas pelos educadores da EJA; observar as práticas de alfabetização e letramento, que são desenvolvidas na EJA; analisar os dados coletados através dos questionários usando Estatística. 17 2 PANORAMA DA EJA NO BRASIL 2.1 Contexto Histórico da EJA São inúmeros os desafios enfrentados pela educação pública brasileira no que se refere ao processo histórico de escolarização da educação de jovens e adultos. A oferta da educação para esses jovens e adultos sempre foi vista de forma compensatória e assistencialista e não como um direito público subjetivo com garantia constitucional que deve ser assegurado a todo cidadão. Sendo assim, muitos conflitos aparecem nas definições encontradas na literatura acerca da nomenclatura de EJA. Não significa que essa modalidade de ensino, hoje Educação de Jovens e Adultos, tenha definições diferentes, mas pela própria história da evolução da EJA no Brasil e no mundo nas diferentes fases do desenvolvimento histórico da sociedade, o tratamento dos termos associados foi-se confundindo e se configurando como complementação de estudos e suplementação de escolarização. (FRIEDRICH et al., 2010). Segundo Gadotti e Romão (2006), os termos educação de adultos, educação popular, educação não-formal e educação comunitária são usados como sinônimos, mas não são. A educação de adultos é caracterizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Cuja sigla na língua inglesa é UNESCO, United Nations Education Social and Cultural Organization) como uma área especializada da educação. Já a educação não formal é utilizada pelos Estados Unidos para fazer referência à educação de adultos dos países de terceiro mundo, onde reserva-se o uso do termo educação de adultos (GADOTTI; ROMÃO, 2006). Ainda segundo os autores citados acima a educação não formal está vinculada a organizações não governamentais, partidos políticos, igrejas, etc. Os quais atendem geralmente os locais onde o Estado se omitiu. A educação popular distingue-se pela compreensão contrária à educação de adultos incentivada pelos organismos oficiais, surgindo nos espaços em que a necessidade dos grupos aparece com muita intensidade e o Estado não tem intenção nem força para atuar. A característica da educação popular nasce com o entendimento da conscientização de Paulo Freire e um profundo respeito aos saberes populares (GADOTTI; ROMÃO, 2006). A Educação de Jovens e Adultos no Brasil foi ofertada desde a década de 1940, por meio de campanhas e programas emergenciais que priorizavam, e hoje ainda Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 18 priorizam a leitura e a escrita de parte dos sujeitos analfabetos. Entretanto, inicia-se bem antes do império, o ensino da EJA começa a se desenvolver no período colonial, momento em que os missionários religiosos exerciam uma ação educativa com a intenção de difundir o catolicismo. Nesse contexto, embora a maior parte da população não tivesse acesso ao ensino e a atenção fosse prioritária às crianças, existiam alguns poucos registros de ensinamentos aos adultos, aos brancos e indígenas, estudos estes que eram baseados no estudo clássico, nas primeiras noções da religião católica. Assim, em 1759, foi expulsa do Brasil a companhia dos jesuítas, tendo como o responsável pela expulsão dos mesmos o Marquês de Pombal, pois a forma como esses jesuítas ensinavam já não era visto como mais importante, eles educavam os cristãos a serviço da ordem religiosa, e não dos interesses do país (SOUZA, 2014, p.12). No entanto, com a chegada da família real no Brasil, apareceu a necessidade do desenvolvimento de atividade, então o trabalhador tinha que estar preparado para atender a aristocracia portuguesa e, com isso ocorreu o processo de escolarização de adultos com o objetivo de servirem como serviçais da corte e para exercer os afazeres exigidos pelo Estado. A realeza procurava facilitar o trabalho missionário da igreja, na medida em que esta procurava converter os índios aos costumes da Coroa Portuguesa. (PILETTI, 1988, p. 165). Concordando com Souza (2014) desta maneira percebemos que o objetivo esperado pela Coroa Portuguesa não era igual à dos jesuítas, isto é, mas proporcionar às pessoas conhecimentos que por meio destes, melhorasse as condições financeiras de Portugal. Esse contexto nos conduz a perceber a trajetória da EJA no Brasil com avanços e recuos no processo de contradições da sociedade capitalista, impregnada pelas marcas da dualidade estrutural. Segundo Paiva (1973) em 1854 surgiu a primeira escola noturna no Brasil cujo intuito era de alfabetizar os trabalhadores analfabetos, expandindo-se muito rapidamente. Durante muitos anos as escolas noturnas eram a única forma de alfabetizá-los após um dia árduo de serviço, e muitas dessas escolas na verdade eram grupos informais, onde poucos que já dominavam o ato de ler e escrever ensinavam aos outros; como em escolas improvisadas em salões, áreas de casa, entre outros, que era comum em tal época. No começo do século XX, com o desenvolvimento industrial, é possível perceber uma lenta valorização da Educação de Jovens e Adultos. Pois o processo Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 19 de industrialização motivou a necessidade de se ter mão de obra especializada, nesta época criou-se escolas para capacitar os jovens e adultos, por causa das indústrias nos centros urbanos, a população da zona rural migrou para as áreas urbanas na expectativa de melhor qualidade de vida. Trabalhadores analfabetos ou que pouco sabiam ler, passaram a ser treinados nas próprias oficinas e fábricas para operarem máquinas. A preocupação não era com a escolarização da população adulta e sim em formar força de trabalho que produzisse a maior quantidade de produtos possível que garantisse mão de obra barata, para enriquecer uns poucos do país. As discussões sobre a situação da Educação de Adultoscontinuaram permeando os espaços de luta de seus defensores. De acordo com Paiva (2003), em 1958 o II Congresso Nacional de Educação de Adultos marca as transformações das ideias nos meios educacionais brasileiros: já se fala em educação permanente e em educação do consumidor, e também em educação para a eficiência na produção. Ainda em 1958 surge a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. E a partir dos anos 60, novas campanhas são deflagradas: Campanha Nacional de Educação de Adultos, concebida por Lourenço Filho; Campanha Nacional de Educação Rural e Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. Logo após, surge o Movimento de Educação de Base, encampado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. Nesse contexto no ano de 1961, em que acontece a ascensão a favor da educação de jovens e adultos, aparecia as ideias Freirianas, levava os sujeitos a refletirem e não aceitarem a exploração da sua força de trabalho e nem as desigualdades sociais existentes. Freire pensava a educação a partir da realidade dos sujeitos, levando em conta seus saberes, suas vivências, seus contextos e suas realidades sociais como ponto de partida para ensinar e aprender com eles. Porém com o golpe militar as ações da EJA foram extintas e Paulo Freire exilado, ocorreram várias mudanças nos campos das políticas sociais nas quais as pessoas que eram responsáveis por essa Educação de Jovens e Adultos são impedidas e até mesmo banidas do próprio país. Nesse sentido, até mesmo alguns dos materiais utilizados por essas pessoas como livros, cadernos e entre outros foram apreendidos, por serem entendido como uma ameaça ao governo militar. Em 1967 foi criado, por meio de da Lei 5.379, de 15 de dezembro, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que propôs uma formação que atendesse ao Estado burguês. O MOBRAL foi um programa criado pelo governo federal, que visava Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 20 erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos, propunha a alfabetização de jovens e adultos visando que os mesmos desenvolvessem técnicas de leitura, escrita e cálculo, idealizado como um sistema que visava basicamente o controle da população. Ainda na mesma década, a educação básica passou por uma reformulação através da promulgada a lei 5.692/71, que regulamentou o ensino supletivo com o intuito de compensar a escolaridade de quem não conseguiu concluir seus estudos no tempo “certo”, com isso apressava a certificação, o que era exigência do mercado de trabalho. Na década de 1980, com a queda do Regime Militar, começa então a redemocratização do país. Surge a constituição de 1988 na qual trouxe importantes avanços para a EJA. Para Paiva À perspectiva do direito como caminho para a efetivação da democracia educacional inaugura, não apenas para crianças, mas principalmente para jovens e adultos, uma nova história na Educação Brasileira. Apesar de a Constituição definir a educação como um direito de todos, o que notamos são programas fragmentados com problemas de concepção pedagógica e metodológica. (PAIVA, 2009, p.13). Paiva (2009) também traz uma reflexão em torno dos programas fragmentados que não leva em consideração o contexto histórico da EJA, e muitas vezes tornam-se programas frustrados sem objetivos, e que não contribuíram para o avanço da EJA. Nesta perspectiva surgem então movimentos como o da Fundação Educar - Movimento de Educação em Parcerias criado no ano de 1985 que substituiu o Mobral, dando continuidade ao programa com incentivo financeiro e técnico. (PARANÁ, 2006). Nesse contexto aconteceram diversas discussões no Brasil em torno da Educação de Jovens e Adultos, nessa perspectiva no ano de 1990, a UNESCO define sendo o ano da alfabetização, ao qual se depara com o cenário desanimador de analfabetismo entre jovens e adultos. (FRIEDRICH et al., 2010). A década de 1990 foi marcada pela relativização nos planos cultural, jurídico e político – dos direitos educativos das pessoas jovens e adultas conquistados em momentos anteriores, e a descentralização da problemática, bem como a situação marginal da EJA nas políticas públicas do país (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 21 2.2 Legislação da EJA Toda a legislação possui sinais de lutas históricas de aspecto social. As disposições legais não são apenas um exercício dos legisladores. Estes, unidos com o modo próprio da representatividade parlamentar, promulgam a variedade das forças sociais. Nesse sentido, as leis podem fazer prosseguir ou não um estatuto que se conduza ao bem social. A aplicabilidade das leis, depende do respeito, da união e da exigência aos princípios estabelecidos e, quando for o caso, dos recursos necessários para uma efetivação concreta. Com a promulgação da Constituição de 1988 o Estado expande o seu compromisso com a Educação de Jovens e Adultos. De acordo com o Art. 208 da Constituição Federal/1988: “O dever do Estado a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurando inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988). Para que o jovem possa ter acesso à escolarização possibilitando ingressar na Educação Básica e de certa forma, se incluírem no meio social e cultural. Sendo assim o ensino supletivo foi implantado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB 5692/71, onde nesta lei um capítulo foi dedicado especificamente para a EJA. Em 1974, o Ministério da Educação (MEC) propôs a implantação dos Centros de Estudos Supletivos (CES), tais centros tinham influências tecnicistas devido à situação política do país naquele momento. “A partir de 1997 a história da Educação de Jovens e Adultos começa a ser registrada no intitulado Boletim da Ação Educativa” (Martins, Agliardi, 2011). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) trata da Educação de Jovens e Adultos no Título V, capítulo II, como modalidade da Educação Básica, superando sua dimensão de ensino supletivo, regulamentando sua oferta a todos aqueles que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino fundamental. Concordando com o artigo 37, “a Educação de Jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” (BRASIL, 1996). Nesse contexto as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 11/2000) - necessitam ser ressaltadas na oferta e estrutura dos componentes curriculares dessa modalidade de ensino, estabelece que: “a modalidade destas etapas da Educação Básica, a Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 22 identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio” Na Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, surgiu um novo termo: a ideia da “qualidade social da educação”. A qualidade igualitária na educação apresenta o conceito de uma oferta de educação onde todos os sujeitos estejam engajados, representadas por modelos de excelência e que seja capaz de atender os diversos interesses da maior parte da população envolvida. Segundo a Resolução CNE/CEB n. 4/2010: Toma como referência a garantia de qualidade, considerando a ideia de um padrão mínimo de qualidade, trazendo variáveis importantes: a garantia de acesso com permanência na escola; a redução da evasão; a redução da retenção; a redução da distorção idade/série na escola regular; a centralidade no estudante com ênfase na sua aprendizagem;o foco no projeto político- pedagógico, no regimento escolar, na preparação dos profissionais da educação, na integração dos profissionais da educação com os estudantes; com os agentes da comunidade interessados na educação e vice-versa. Também ressalta a importância de se atentar no planejamento das ações da escola, no currículo proposto, no diagnóstico da realidade concreta dos alunos da EJA, nas ações de acompanhamento sistemático dos resultados do processo de avaliação interna e externa, na atenção a gestão, na definição de indicadores de qualidade social e por fim na clareza quando ao que seja qualidade social da aprendizagem e da escola (BRASIL, 2010, p. 10). É importante destacar a dificuldade de originar o conceito de qualidade na EJA, ainda de tal modo, partindo desses conceitos compreende-se determinados pontos que podem ser observados na procura de uma educação de qualidade. Contudo, podemos refletir e entender que a trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos lidou com interferências do contexto histórico-sócio-político de cada época e, na atualidade, a evidência na Educação de Jovens e Adultos é de grande importância, e de amplas contribuições para a sociedade como um todo. 2.3 Contexto da EJA em Alagoas Alagoas é um estado da Região Nordeste do Brasil que se encontra entre Pernambuco, Bahia, Sergipe e oceano Atlântico. Com área de 27.767,661 km² e população estimada em cerca de 3.093.994 habitantes (IBGE, 2010), os quais estão Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 23 distribuídos em 102 municípios, sendo Maceió sua capital. Inicialmente, o território alagoano constituía a parte sul de Pernambuco, tornou-se autônomo apenas em 1817. Falar sobre Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Alagoas significa levar em consideração o contexto histórico dos cenários de desigualdades sociais existentes, que muitas vezes não dá condições dignas para esses sujeitos. A trajetória da Educação de Jovens e Adultos no Estado de Alagoas esteve sempre atrelada a campanhas nacionais ou nelas inspirada, cujos objetivos foram sempre ensinar as pessoas jovens e adultas a lerem e a escreverem o próprio nome, em menor espaço de tempo possível, (ALAGOAS, 2006). Portanto, há fragilidade no cumprimento do papel social da escola da EJA em Alagoas; pois ainda prevalece a construção de políticas compensatórias (CAVALCANTE, 2017, p. 98). Para tanto, as campanhas que o estado de Alagoas se inspirava foram desencadeadas em momentos distintos no processo histórico da educação brasileira como: A campanha de 1947, no governo de Gaspar Dutra, passando pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, durante a ditadura militar, até o Programa Alfabetização Solidária – PAS, em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso. As campanhas aliaram-se aos déficits do atendimento no Ensino Fundamental, provocando o aumento em números absolutos de jovens e adultos analfabetos, dificultando o acesso e a conclusão da escolaridade mínima garantida constitucionalmente a todo cidadão brasileiro. (ALAGOAS, 2006, p. 42). As campanhas nacionais foram sempre modelos seguindo pelo estado de Alagoas, com o intuito que os jovens e adultos aprendessem a ler e escrever de forma rápida, contudo é perceptível que não havia uma preocupação na qualidade dessa aprendizagem. Até mesmo após a promulgação da constituição Federal de 1988, as atuações educacionais relacionadas à EJA em Alagoas não proporcionaram transformações imediatas. Segundo Cavalcante (2017) só a partir da década de 1990, que apareceram encaminhamentos diferenciados. Em 1993, o curso de educação básica de Jovens e Adultos, que serviu de modelo para os demais municípios do estado alagoano. Nessa perspectiva a proposta de inclusão da EJA no Plano Estadual de Educação de Alagoas (PEE/AL) está fundamentada em definir a alfabetização de caráter e natureza populares, na perspectiva de superar a concepção das antigas campanhas de alfabetização como sendo de cunho apenas emergencial e Capítulo Panorama Da Eja No Brasil 24 compensatório (ALAGOAS, 2006). Advém da dificuldade de aprendizagem dos alunos oriundos do Ensino Fundamental (ALAGOAS, 2006), envolvendo também os sujeitos que nunca foram em uma sala de aula, por diversos fatores, trabalhar muito cedo para ajudar a família nas despesas, tiveram filho muito cedo e as responsabilidades impediram de frequentar a escola e concluir os estudos na idade regular. Foi só a partir da década de 2000 que os movimentos sociais passaram a fortalecer, e criados a partir da necessidade coletivas entraram em expansão para assegurar seus direitos sociais como saúde, educação e entre outros. (Cavalcante, 2017). Mediante essas circunstâncias surgiram as lutas por uma EJA de qualidade no estado. Funda-se então em Alagoas no ano de 2002 o Fórum Alagoano de Educação de Jovens e Adultos (FAEJA) (CAVALCANTE, 2017). Nesse sentido no ano de 2003 foi desenvolvida a proposta curricular da EJA, que se percebe alguns avanços o documento aponta alguns objetivos: Garantir o acesso, o percurso e o sucesso do estudante trabalhador Jovem e Adulto nas escolas da rede estadual de ensino e em espaços apropriados de forma que contribua para elevação do seu nível de escolaridade. Implantar projetos específicos de educação de Jovens e Adultos articulados com o projeto político pedagógico das unidades escolares da rede estadual de ensino a partir da concentração e da prática de uma escola cidadã; desenvolver uma metodologia própria de formação continuada para educadores em EJA na rede estadual de ensino e fora dela (SEE-AL, 2003 p. 72). Esta proposta trouxe alguns avanços, porém não se efetivou completamente, por enfrentar alguns problemas, de ordem organizacional os envolvidos não conseguir desenvolver temáticas que fossem cruciais no alcance de tais objetivos. 25 3 CONCEPÇÃO DO CURRÍCULO PARA EJA 3.1 O Currículo e sua Importância para o Ensino O conceito de currículo, segundo Sacristán (2000), caracteriza-se como um processo de construção, concretização e expressão de determinadas práticas pedagógicas e em sua própria avaliação, como resultado das diversas intervenções. É importante compreender e entender que o currículo se estabelece numa relação dinâmica a partir do olhar do outro e de si próprio. Nesse conjunto, o discente tem a oportunidade de construir e reconstruir o seu conhecimento por meio de suas histórias e experiências de vida. Nesse sentido: O currículo escolar já deixou há muito tempo de exercer a função de documento burocrático e técnico nas escolas. Atualmente o mesmo é assumido como parte constituinte e essencial na construção da identidade da escola, dos professores e dos alunos. (MIRANDA, SEVERO,2017 p.64) Nesse sentido, o processo de construção e trocas de conhecimentos/experiências na escola tem como instrumento educacional principal o currículo. Uma proposta curricular para a EJA deve pautar-se no compromisso com a formação de Jovens e Adultos, de maneira a proporcionar condições que garantam a luta ativa para o exercício da cidadania numa perspectiva emancipatória (COSTA, 2012). Nesta perspectiva, consideramos a importância de debates no contexto educacional da EJA sobre o currículo, na sua forma organizacional, pois é no currículo que estão diversos materiais pedagógicos que irão orientar a prática do educador, levando em conta sempre a necessidade da formação continuada para que o professor se sinta capaz e motivado para fazer um planejamento que leve em consideração os saberes dos discentes, suas vivências e expectativas. Pois segundo este mesmo autor, crianças, adolescentes, jovens ou adultos que chegam às escolas carregam imagens sociais com que os currículos, as escolas e à docência trabalham, reforçam-nas ou a elas se contrapõem. (ARROYO, 2006, p. 23). Nesse sentido, a organização curriculartem a perspectiva de ampliar a formação dos jovens e adultos nas diferentes dimensões da vida tais como: ética, cultural, cognitiva, afetiva, estética e política. Segundo Souza (2012): Capítulo Concepção Do Currículo Para Eja 26 As práticas da EJA têm sido marcadas pela influência de ambas as concepções de educação: de um lado estão as práticas que dão excessiva ênfase às metodologias de ensino e à utilização de manuais didáticos, que facilitam a aquisição dos requisitos para a leitura e a escrita, de outro estão as práticas que focalizam o conteúdo social no fazer educativo e os processos dialógicos que possam levar ao desenvolvimento da consciência crítica, da emancipação (SOUZA, 2012, p.114). O autor traz duas formas comuns as quais estão organizados o currículo da EJA, para tanto, é importante destacar que o currículo não é algo estático, este é um arcabouço importantíssimo para o êxito das propostas pedagógicas e curriculares de qualquer escola ou instituição educativa, é nele, que podemos incluir, modificar e colaborar, com o desenvolvimento do conhecimento, relacionando-o os conteúdos dentro de uma linguagem acessível a todos os diferentes sujeitos. De acordo com Moreira (2008): É por meio do currículo que as ações pedagógicas se desdobram nas escolas e nas salas de aula. É por meio do currículo que se busca alcançar as metas discutidas e definidas, coletivamente, para o trabalho pedagógico. O currículo corresponde, então, ao verdadeiro coração da escola. Daí a necessidade de discussões permanentes sobre o currículo, que nos permitam avançar na compreensão do processo curricular e das relações entre o conhecimento escolar, a sociedade, a cultura, a autoformação individual e o momento histórico em que estamos situados. (MOREIRA, 2008, p.5). Concordando com o autor, o currículo é o coração da escola, a forma como a escola se organiza e desenvolve-se. O trabalho pedagógico deve estar diretamente ligado ao que diz no currículo, o mesmo, é um caminho a trilhar para alcançar os objetivos traçados pelos docentes, discente e todo o corpo pedagógico da escola. Procurando assim uma melhor forma de desenvolver o trabalho levando em consideração sempre os saberes dos discentes, que estão inseridos em uma sociedade que vive em constante mudanças, então para isso a escola tem que estar acompanhando essas mudanças para que assim o ensino e aprendizagem tenha sentido para ambas as partes envolvidas. 3.2 Diretrizes da Legislação para o Currículo da EJA A organização curricular da EJA, pauta-se em definir a mesma como modelo pedagógico próprio, com o objetivo de criar possibilidades pedagógicas que levem em Capítulo Concepção Do Currículo Para Eja 27 consideração às possibilidades e necessidades de aprendizagens dos jovens adultos que frequentam essa modalidade de ensino. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), sugerem que hajam articulação entre o diálogo, e a contextualização, como eixo norteador para as experiências dos jovens e adultos bem como a articulação de conteúdo curricular (BRASIL,2013). As Diretrizes Curriculares Nacionais, para a EJA apresenta algumas funções, que são: A função reparadora, a função equalizadora e a função permanente ou qualificadora. Na função reparadora não é significado somente a entrada aos seus direitos civis pela restauração de um direito negado: “o direito de uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano”; a função equalizadora da EJA busca dar cobertura a trabalhadores que por algum motivo tiveram uma interrupção forçada, seja pela repetência ou pela evasão, proporcionando a reentrada no sistema educacional; a função permanente ou também conhecida como qualificadora é vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando educação e conhecimentos (BRASIL, 2013). A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394/96, diz que a educação deve estar vinculada ao mundo do trabalho e a prática social (BRASIL 1996). Logo percebe-se que o currículo para EJA segundo o que diz a LDB, deverá pautar-se no trabalho e no social. Nesse sentido deverá ser organizado de forma que os conteúdos estejam ligados a realidade dos educandos frequentadores da EJA. Nessa perspectiva o artigo 27 da referida lei apresenta os conteúdos curriculares da educação básica ao qual está inserida a Educação de Jovens e Adultos, sendo assim destaca as seguintes diretrizes: I – A difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II – consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III – orientação para o trabalho; IV – promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais. (BRASIL,1996). Desta forma configura-se importante as diretrizes apresentadas pela lei para a educação, para o acesso e permanência formal, nesta modalidade de ensino (EJA) e para garantir sua legitimidade. Reconhecendo as especificidades próprias de EJA, a proposta curricular, definida pelo Ministério da Educação, seguimento 1º, descreve: Capítulo Concepção Do Currículo Para Eja 28 A complexidade da vida moderna e o exercício da cidadania plena impõem o domínio de certos conhecimentos sobre o mundo a que jovens e adultos devem ter acesso desde a primeira etapa do ensino fundamental. Esses conhecimentos deverão favorecer uma maior integração dos educandos em seu ambiente social e natural, possibilitando a melhoria de sua qualidade de vida. (BRASIL, 2001, p. 163). Percebe-se que o documento deixa claro que as vivências dos jovens e adultos como uma forma de ampliar sua interação com meio, devem ser levadas em consideração no currículo, contemplando as possibilidades de aprendizagens as quais os educandos da EJA são submetidos, como forma de ampliar domínios exigidos pela sociedade ao qual o jovem está inserido. 3.3 Elaborações do currículo para EJA Pensar em currículo na EJA exige refletir um pouco na história desta, no Brasil, e dos problemas que as concepções que prevaleceram em diferentes períodos criaram e consolidaram algumas das ideias que vêm prejudicando as possibilidades de mudanças no campo. Conforme Macedo (2013), pode-se definir o currículo como organização, seleção, implementação, institucionalização e avaliação de conhecimentos eleitos como formativos, considerando questões éticas, políticas, estéticas e culturais Para tanto, na elaboração do currículo para EJA, deve-se levar em conta as singularidades e especificidades dos sujeitos, suas experiências de vida social, realidade social da escola, para que a construção seja efetiva é preciso que o currículo seja atrativo, significativo para os educandos de forma que os mesmos percebam a importância do que estão aprendendo/melhorando, e permaneçam na escola. Nessa perspectiva para Arroyo (2003) é importante que haja superação a concepção formalista de currículo e incorporar elementos mais dinâmicos. Para tanto ainda segundo o mesmo autor, essa Superação depende do conhecimento que se tem das riquezas das práticas cotidianas, da impossibilidade de trabalharmos do mesmo jeito em classes escolas, espaços distintos. Nesse sentido de acordo com Arroyo (2005) os sujeitos da EJA possuem uma concepção voltada para identidades de classe, raça, etnia e gênero. Nessa perspectiva é importante pensar uma organização curricular educacional, que dê Capítulo Concepção Do Currículo Para Eja 29 ênfase para a participação dos sujeitos caracterizando assim uma relação dialógica, priorizando e respeitando as singularidades dos sujeitos envolvidos nesse processo, de escolhas do que será incluído ou não nos currículos da EJA, e em seguida trabalhado. Para Freire (2000), a educação não é um processo neutro,desvinculado da realidade e do processo político. Nota-se que, para o autor, é importante que o currículo dialogue com os diversos âmbitos que permeiam a sociedade e que por sua vez refletem no cotidiano da escola. Ele ainda deixa a concepção de currículo transformador: a ideia de que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para que o educando construa a sua própria produção ou a sua construção dos conhecimentos. Nesse sentido a leitura de mundo feita pelos alunos compõe a questão curricular do que deve ser ensinado em sala de aula, levando em consideração os conhecimentos científicos que devem ser ensinados aos alunos da EJA. É nesse entendimento de alunos da EJA, como sujeito no mundo (FREIRE, 1997) que faz seu viver no cotidiano e que produz marcos e perfis sobre si mesmo e o mundo que se abre espaço para as verdadeiras experiências dos alunos e para escolhas dos conteúdos que sejam significativos e relevantes para a EJA. Ainda para Freire (2003), objetivo maior da educação e do currículo transformador é a busca pelo fortalecimento do processo de mudança, de conscientização do ser em processo de alfabetização. Sendo assim: Quando definimos currículo, estamos tratando dos resultados da ação humana (aquilo que fazemos) e de seus efeitos (o que ele nos faz), ou seja, cada ser constrói o currículo na mesma medida que o currículo constrói cada ser. (MIRANDA, SEVERO 2017 p.69) Portanto o currículo deve ser pensado a partir do conhecimento que os educandos têm como ponto de partida, seu conhecimento de mundo, cultural, social, tudo isso deve está diretamente ligado ao que determina o currículo para EJA, pois o mesmo abrange uma demanda que vai além das meras dimensões técnicas. É importante que essa deva efetivar uma educação autônoma, emancipatória, critica e principalmente que levem os educandos a refletirem sobre o seu papel e a importância da aprendizagem para os alunos da EJA. Capítulo Concepção Do Currículo Para Eja 30 Da mesma forma, pode-se afirmar que, com a implantação de propostas curriculares críticas e emancipatórias, nas quais os sujeitos da EJA, sejam protagonistas, é possível inovar e revolucionar a Política Educacional no Currículo da EJA. Nesse sentido para as autoras Miranda e Severo (2017), cabe ao educador, a tarefa de desnudar o currículo da EJA, de movimentar diferenças, para viver, ver e sentir a vida e suas proliferações. Sempre com o objetivo de melhorar o desenvolvimento e as possibilidades da EJA. Ainda segundo as referidas autoras: Nada faz crer que somos os donos do saber. Por isso, ao adentrar numa escola da EJA, temos que ter em mente uma única atitude: ouvir. Escutar. Muito mais do que falar, ouvir com alegria faz toda diferença ao se pensar a prática pedagógica (MIRANDA, SEVERO, 2017 p.72). Esse entusiasmo e essa alegria faz com que os educandos se sintam acolhido de forma prazerosa, sem intimidação, buscar sempre na prática uma educação para liberdade, que desperte o gosto no educando, que fascine, e fortaleça esperança, nesses sujeitos que estão em busca de concluir seus estudos, e que precisam de estimulo, apoio e sentido para permanecer na escola. 31 4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES VOLTADO A EJA A formação dos professores precisa estar fundamentada para além do saber técnico, ou seja, deve estar por dentro de outros conhecimentos, próprio do campo em que educadores atuam o que inclui a vivência cultural e as demais redes de saberes de que os sujeitos participam, em diálogo permanente com as práticas pedagógicas (PAIVA, 2012, p. 87). As escolas de formação de educadores e educadoras de jovens e adultos terão de captar e incorporar os traços desse perfil diversificado de educador múltiplo, multifacetado, Arroyo (2006, p.20). Incentivar os adultos a continuar seus estudos não é algo fácil, requer habilidades e prática para mostrar a importância da educação, que é por meio da mesma que, o estudante irá garantir o direito à liberdade de se expressar na sociedade de forma igualitária, onde possa interagir com o meio, mas também exercer sua cidadania. Contudo, há uma certa preocupação com a qualificação dos profissionais em desempenhar essa tarefa que não é fácil já que se trata de pessoas adultas, que tem uma vasta experiência de vida, que trazem consigo saberes e experiências internalizados e que muitas vezes resistem a mudança. Arroyo (2006, p.22), por sua vez, defende que os alunos da EJA são jovens e adultos com rosto, com histórias, com cor, com trajetórias sócio-étnico-raciais. Nessa mesma direção, Ribeiro (1999) propõe o amadurecimento de uma psicologia de adultos visando superar a concepção de que o desenvolvimento é algo que ocorre apenas durante a infância e a adolescência, enquanto que Pereira (1999) defende que a formação contemple vivências na escola básica não só com crianças e adolescentes, mas também com jovens e adultos. Nesse sentido, a formação dos professores que atuam nessa modalidade de ensino, é muito importante Freire (1996) tem suas ideias voltadas para uma educação emancipatória, para o educador o exercício da docência exige; Rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, ética e estética, corporificar as palavras pelo exemplo, assumir riscos, aceitar o novo, rejeitar qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, Concordando com o autor é muito importante, o perfil do educador para o desenvolvimento do educando, já que o mesmo tem o educador como um espelho. Segundo Arroyo (2006, p.18) “O perfil do educador de jovens e adultos e sua formação encontra-se ainda em construção. Temos assim um desafio, vamos ter que inventar esse perfil e construir sua formação”. Capítulo Formação De Professores Voltado A Eja 32 Entretanto, as novas diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia (Brasil ,2006) não trazem nenhuma normatização específica a respeito da formação de um perfil para o educador de jovens e adultos. Isso pode ser associado ao fato de a formação de educadores se encaixar, no geral, no mesmo molde. Para Arroyo (2006), esse caráter universalista, generalista dos modelos de formação de educadores, associado a um caráter histórico desfigurado da EJA, explica por que não temos uma tradição de um perfil de educador de jovens e adultos e de sua formação. Nesta perspectiva o perfil do professor se constitui ao longo da sua carreira, requer formação inicial e continuada, com acompanhamento a longo prazo. Levando em consideração as constantes transformações nas áreas econômicas, política, social, tecnológica e cultural da sociedade. Gatti (1996) afirma que os professores constroem suas identidades profissionais no encontro diário do cotidiano nas escolas, com alicerce em suas vivências. Nesse sentido, a identidade do professor é: Fruto de interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas e expressão sociopsicológica que interage nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história. (GATTI,1996, p.86) Nesse sentido, o professor se reconstroem e se reinventa para o embate do cotidiano, levando em conta todo o processo social, histórico que viveu e que vive a sociedade. Nessa perspectiva, para Arroyo (2006, p.20), “É importante que haja um reconhecimento que o educador da EJA se configura mais como “plural que o educador da escola regular”. Sendo assim é importante que o professor da EJA, deva ter uma sólida formação, científica, técnica e política; estar ligado a uma prática crítica e consciente. Assim, de acordo com o autor Nóvoa (1992, p.54) “a formação de professores não é um conceito unívoco, por isso deve proporcionar situações que possibilitem a reflexão e a tomada de consciência das limitações sociais,culturais e ideológicas da própria profissão docente”. Com isso faz-se necessário a qualificação dos profissionais, é importante uma formação continuada do ensino da EJA, no contexto educacional contemporâneo. O que envolve ter formação específica e fundamentação teórica para compreender as Capítulo Formação De Professores Voltado A Eja 33 formas de construção dos conhecimentos prévios e para poder criar situações de aprendizagem que considerem esses conhecimentos. Segundo Tardif (2002, p.20) “ensinar supõe aprender a ensinar, ou seja, aprender a dominar progressivamente os saberes necessários à realização do trabalho docente”. Não restam dúvidas de que ser professor de EJA implica deter saberes docentes, além de saberes da experiência advindas das práxis pedagógicas. Nesse sentido, a EJA deve priorizar então, uma formação inicial e continuada específica para atender às reais necessidades dos alunos jovens e adultos: garantir a melhoria das condições de mercado de trabalho, às necessidades de aprendizagem, adquirir competências da leitura e da escrita para atingir melhores condições de vida e desenvolver níveis maiores de letramento. Suas práticas educativas devem privilegiar a realidade de vida dos sujeitos e o diálogo constante entre professor e aluno. Pois, conforme Freire (2001, p. 52) “O que se pretende com o diálogo é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível relação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá- la, transformá-la”. Nessa perspectiva o professor que atua na EJA deve procurar se atualizar buscando novos conhecimentos, pesquisando, estudando, pois, os mesmos contribuem com esses alunos de forma que eles acabam se interessando por buscar novos conhecimentos, a partir dessa admiração, que na maioria das vezes tem pelo o professor tomando como um exemplo de estímulo para continuar essa busca por aprender. Um educador bem informado e interessado em aprofundar os conhecimentos propicia interesse aos educandos também pela interrogação do mundo. Ao passo que o educador acomodado suscitará a acomodação e o desanimo dos educandos. O educador necessita saber para onde caminhar com os seus educandos. (SOUZA, 2012, p.140). É importante o interesse de estar sempre em formação, participação em eventos da área educacional, capacitações oferecidas pelo município, especialização; contudo que seja enriquecedor para o desenvolvimento de uma prática. Pois, nessa modalidade de ensino são muito os desafios, cabe ressaltar o desafio de discutir conteúdos e conhecimentos quanto a conjuntura política e econômica da sociedade, com relação ao mundo do trabalho, as relações humanas; é um desafio participar da Capítulo Formação De Professores Voltado A Eja 34 construção de uma sociedade democrática, como ponto de partida os estudos e as investigações dos alunos. Para corroborar essa compreensão, Barreto (2006) salienta que os educadores não podem ser vistos como meros executantes de receitas pedagógicas bem-sucedidas. Ao contrário, devem ser estimulados a se tornarem produtores autônomos de suas práticas. 35 5 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 5.1 Alfabetização A alfabetização é a aquisição do código da escrita e da leitura, a codificação através da escrita e decodificação através da leitura. É um procedimento ativo pelo qual as crianças, os jovens ou os adultos nos primeiros contatos com a escrita constroem e reconstroem hipóteses sobre a natureza e funcionamento da língua escrita. Nesse sentido, é importante que seja levado em conta os saberes e conhecimentos dos educandos, as vivências dos mesmos são fatores importantes no processo de alfabetização. A alfabetização na sua evolução histórica passa por grandes transformações, estas estão ligadas diretamente ao âmbito, social, cultural, político econômico e educacional. Essas transformações ocorridas ao longo dos tempos trazem contribuições para a língua e a alfabetização dos sujeitos. Para muitos estudiosos, alfabetizar entende-se como aprender a ler e a escrever. Emitir opinião sobre esse assunto na atualidade é um pouco complexo, pois o conceito de alfabetização vem passando por várias modificações. Nos primórdios os conceitos de alfabetização ocupavam-se com a aquisição da língua (oral e escrita), sem um aprofundamento e uma reflexão sobre o contexto de vida no qual o indivíduo estava inserido. Assim, Soares (2004, p. 14) diz que sem dúvida não há como fugir, em se tratando de um processo complexo como a alfabetização, de uma multiplicidade de perspectivas, resultantes de diferentes áreas do conhecimento. Para Freire (1979, p.72) “a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador”. É importante que o alfabetizando reflita acerca das propostas, para então repensar e começar a desconstruir os paradigmas criados ao longo dos tempos, como ensino por meio de família silábicas, conteúdo infantil e entre outros, para isso a alfabetização não pode ter respostas prontas. Pois de acordo com Freire (1989), não se pode reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras, mas que esta refere-se também a criação ou a montagem da expressão escrita da oral. Para tanto entende-se que o jovem e o adulto trazem consigo uma bagagem de conhecimento e experiências vocabulares que fazem parte do seu círculo cultural. Capítulo Alfabetização E Letramento 36 Freire destaca que as experiências dos educandos são muito importantes e nos apresenta o método das palavras geradoras ao qual extraem palavras dos vocabulários dos educandos nas suas diversas vivências diárias. Nesse sentido, Estas palavras são chamadas geradoras porque, através da combinação de seus elementos básicos, propiciam a formação de outras. Como palavras do universo vocabular do alfabetizando, são significações constituídas ou reconstituídas em comportamentos seus, que configuram situações existenciais ou, dentro delas, se configuram. Representativos das respectivas situações, que, da experiência vivida do alfabetizando, passam para o mundo dos objetos. O alfabetizando ganha distância para ver sua experiência: “admirar”. Nesse instante, começa a descodificar (FREIRE, 1986, p.6). Esse processo de alfabetização é feito por meio de diálogos entre educador e educando no qual o educador observa as palavras ditas pelos educandos, logo após faz composições das palavras mais comuns utilizadas pelos educandos e inseri dentro a turma. A partir de então começa a acontecer debates partindo da realidade do educando. Nesse contexto a alfabetização dos Jovens e Adultos passa a ter um caráter de conscientização, debatendo os problemas reais do cotidiano dos alunos, a compreensão de mundo. Nesta perspectiva quando as pessoas são alfabetizadas tudo tende a progredir em todos os aspectos de sua vida, uma vez que terá domínio crítico da leitura e da escrita. 5.2 Letramento Letramento é palavra recém-chegada ao vocabulário da educação e das ciências linguísticas. É na segunda metade dos anos 80 que ela surge no discurso dos especialistas dessas áreas. (SOARES, 1999). O termo letramento é a versão em português da palavra literacy que corresponde ao estado ou condição daquele que aprendeu a ler e escrever. Já em 2001 a palavra letramento foi dicionarizada pelo Houaiss que atribui o significado de conjunto de práticas que denotam a capacidade e o uso de diferentes materiais escritos (SOARES, 2003). Nesse sentido, as pesquisas a respeito do letramento vêm sendo cada vez mais frequentes no meio acadêmico para compreender a relação entre os diferentes usos sociais da leitura e da escrita e as práticas de ensino de língua desenvolvidas naescola, incluindo a alfabetização. Contudo, não é suficiente a escola oferecer apenas Capítulo Alfabetização E Letramento 37 o desenvolvimento de capacidades de codificação e decodificação da linguagem escrita. É importante, além disto, desenvolver a leitura e o letramento para as demandas das exigências sociais. Kleiman (2003) em suas conjecturas para a Educação de Jovens e Adultos, “o letramento é, hoje uma das condições necessárias para a realização do cidadão: ele o insere num circuito extremamente rico de informações sem as quais ele, (...) nem poderia exercer livre e conscientemente sua vontade”. Sendo assim, consideramos importante que o profissional que atua na Educação de Jovens e Adultos, tenha conhecimento da vasta variedade de práticas da linguagem, tanto as já convencionais, como as novas formas de expressão presentes no cotidiano, para ampliar, na sua convivência com os educandos, um trabalho voltado às necessidades dos sujeitos, destacando, tudo o que vai ser trabalhado, assim ele logo descobrira quais tem afinidade maior, de modo a ampliar a capacidade comunicativa do aluno e seu papel social. Nesse embate de construção de novos sentidos e significados, a linguagem tem lugar essencial, pois os sujeitos que vivem em constantes interação, já não conseguem desvincular-se do uso da leitura e da escrita em suas vivências sociais e de alguma forma faz-se necessário que a escola colabore para o uso social da leitura e da escrita. Nessa perspectiva, os alunos da EJA fazem parte de um público que, mesmo afastado das instituições escolares no período regular e às vezes por um longo tempo, convivem em uma sociedade letrada e criam estratégias para sua sobrevivência nessa sociedade. (MOLLICA; LEAL, 2007, p 2). Mesmo que muitos desses alunos ainda não sejam alfabetizados, os mesmos fazem o uso social da leitura da sua vida social e pessoal. 38 6 METODOLOGIA A pesquisa se caracterizou como uma pesquisa de campo de tipo qualitativa/ quantitativa com aplicação de questionário para os sujeitos pesquisados. Concordando com Lakatos e Marconi (2003), ao dizer pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Assim, o presente trabalho iniciou-se com um levantamento bibliográfico com vistas à construção de um referencial teórico apto a contribuir para o trabalho de Campo. A escolha da abordagem quantitativa/ qualitativa, justifica-se por entender que existe alguns fatores que podem ou não ser mensurados. Nessa perspectiva os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa se opõem ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa. (GOLDENBERG, 1999). Nesse sentido a pesquisa caracterizou-se por levantamento teórico, que segundo Marconi e Lakatos (2010), está relacionada e envolve toda literatura publicada que tem relação com o tema abordado. Para alcance dos objetivos prendidos na pesquisa entendeu-se necessário utilizar o questionário como instrumento principal. No questionário tinham apenas perguntas fechadas (apêndice), as mesmas foram organizadas levando em consideração o grupo pesquisado, como intuito de não ocasionar insegurança, ou indução de respostas. Os sujeitos da pesquisa foram professores, e alunos de duas unidades escolares da sede de Delmiro Gouveia-AL, atuantes na EJA (primeiro segmento), ao todo três turmas analisadas. Os questionários possibilitaram verificar como os sujeitos se relacionavam com as práticas de leitura desenvolvidas dentro e fora do ambiente escolar, bem como os sentidos que atribuíam a tais práticas. A pesquisa foi realizada em duas escolas da rede municipal de ensino do município de Delmiro Gouveia, ofertam a EJA no período Capítulo Metodologia 39 noturno, com primeiro e segundo segmento, são mantidas por recursos municipais. Foram aplicados questionários sendo, para alunos, professores. A pesquisa era direcionada a alunos do primeiro segmento, com foco na leitura dos alunos. Na Escola Municipal Balão Mágico1, foram no total 16 alunos 2 professores da EJA. Na oportunidade foram aplicados os questionários na referida escola havia apenas uma turma do primeiro segmento ao qual era o foco da minha pesquisa, a turma era multiseriada, alunos do primeiro e segundo período, ou seja, de várias series. No momento da aplicação do questionário para os alunos da escola balão magico, houve a participação direta e ativa dos professores junto aos alunos no momento de responder as questões. Vale ressaltar que foi nesta turma que realizei o estágio supervisionado III, no entanto percebi o grau de dificuldade dos alunos referente a leitura e escrita. Na Escola Municipal Flor do Deserto2, foram no total 22 alunos 2 professores da EJA. Na escola são duas turmas do primeiro segmento, uma com 10 alunos outra com 12 alunos. Foi meu primeiro contato com os alunos e professores daquela instituição, no entanto não houve resistência em aceitar a minha pesquisa. Na primeira turma com 12 alunos, todos responderam o questionário, sempre que tinham dúvida a respeito de alguma questão, levantavam a mão e perguntavam, não senti que tiveram dificuldade para responder o questionário. Já na segunda turma com 10 alunos, senti, que os alunos tiveram mais dificuldade, a maioria não sabia ler, então auxiliei lendo as questões e acompanhado sempre para tirar dúvidas, sempre deixando eles a vontade para responder de acordo com o entendimento de cada um. Foi mais demorado nessa turma, porem todos conseguiram responder. Vale ressaltar que os alunos de ambas as turmas da escola flor do deserto, tiveram autonomia para responder as questões do questionário sem interferência direta das professoras. 1 Nome fictício adotado para a Escola Municipal devido a aspectos éticos da pesquisa. 2 Nome fictício adotado para a Escola Municipal devido a aspectos éticos da pesquisa. 40 7 RESULTADOS 7.1 Análise da coleta de dados com alunos entrevistados De acordo com os dados coleta dos questionários, foram construídos os gráficos que mostram as respostas obtidas. Assim, para a questão qual sua idade? As respostas estão indicadas no Gráfico 1. Gráfico 1 - Respostas da questão Qual sua Idade? Escola Balão Mágico, Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Através da Gráfico 1 é possível verificar que ambas as escolas, a faixa etária de pouco mais de 75% dos alunos está acima de 30 anos, logo, as salas de aula apresentam em sua maioria alunos adultos. Sendo que parte dos entrevistados são idosos, com isso vale ressaltar que as práticas para ensino da leitura devem ser adequadas a essa faixa etária. Considerando vivências e experiências do alunado para a efetivação da aprendizagem. A respeito da sexualidade dos entrevistados, veremos no Gráfico 2, que há uma representatividade tanto feminina quanto masculino. 25% 0% 50% 25% 0 2 4 6 8 10 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 50 anos Acima de 50 anos R - Qual sua Idade? - Escola Balão Mágico 9% 14% 55% 23% 0 2 4 6 8 10 12 14 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 50 anos Acima de 50 anos R - Qual sua Idade? - Escola Flor do Deserto Capítulo Resultados 41 Gráfico 2 - Respostas da questão sexo? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela AutoraPor meio do Gráfico 2 percebemos que ambos os sexos estão frequentando a escola com isso, percebemos que há um interesse por concluir os estudos, destacando nesse ponto que as mulheres estão tendo a oportunidade de estudar novamente, pois a muito tempo isso foi negado, por vários aspectos, casamento, filho, trabalho, entre outros. Ao serem questionados a respeito do estado civil, veremos no Gráfico 3, que na escola Balão Mágico 56% dos entrevistados são solteiros, já na escola Flor do Deserto 50% dos entrevistados são solteiros. Gráfico 3 - Respostas da questão estado civil? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Entretanto, comparando uma escola a outra ambas apresentam, que a maioria dos alunos frequentadores da EJA, o estado Civil é solteiro. Levando em consideração 50%50% R: Sexo? Escola Balão Mágico Masculino Feminino 55% 45% R: Sexo? Escola Flor do Deserto Masculino Feminino 56% 25% 6% 13% 0% R: Estado Civil? Escola Balão Mágico Solteiro Casado Viúvo Divorciado Outros 50% 27% 4% 5% 14% R? Estado civil?Escola Flor do Deserto Solteiro Casado Viúvo Divorciado Outros Capítulo Resultados 42 o estado civil dos entrevistados percebemos através da Gráfico 4 que os entrevistados da escola Balão Mágico 31% responderam que não tem filhos e na escola Flor do Deserto 27% dos entrevistados não tem filhos. Gráfico 4 - Respostas da questão número de filhos? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Para muitos ter filhos e continuar os estudos é algo muito difícil, principalmente para as mulheres, logo percebemos que o quantitativo é considerável de alunos que tem filhos, mas que mesmo assim continuam frequentando a escola. Nesse sentido, filhos e trabalho são os motivos mais citados quando se trata de afastamento da escola, logo mais adiante veremos em porcentagem as respostas referentes a trabalho. Gráfico 5 - Respostas da questão atualmente você trabalha? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora 31% 13% 6% 19% 0% 13% 19% 0 1 2 3 4 5 6 Nenhum 1 filho 2 filhos 3 filhos 4 filhos 5 filhos Mais de 5 filhos R: Número de Filhos? Escola Balão Mágico 27% 0% 23% 23% 9% 5% 14% 0 1 2 3 4 5 6 7 Nenhum 1 filho 2 filhos 3 filhos 4 filhos 5 filhos Mais de 5 filhos R: Número de Filhos? Escola Flor do Deserto 56%31% 13% R: Atualmente você trabalha? Escola Balão Mágico Sim Não Aposentado 36% 59% 5% R: Atualmente você trabalha? Escola Flor do Deserto Sim Não Aposentado Capítulo Resultados 43 No Gráfico 5 com as repostas dos entrevistados a respeito do trabalho, percebemos que a maioria dos alunos da escola Balão Mágico sendo representado por 56% que atualmente trabalha e mesmo assim frequentam a escola no período noturno. Já os entrevistados da escola Flor do Deserto 36% responderam que atualmente trabalha. Constatamos ainda que, a maioria dos entrevistados de ambas as escolas, trabalham de maneira informal, ou seja, não tem a carteira registrada, como veremos logo abaixo no Gráfico 6. Gráfico 6 - Respostas da questão se trabalha, qual o tipo de trabalho? Escola Balão Magico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora De acordo com o gráfico acima, podemos verificar que na escola Balão Mágico, 56% dos entrevistados e na escola Flor do Deserto 50% dos alunos entrevistados responderam que trabalham informalmente, nos dizeres deles, “ fazendo bico” muitas vezes trabalho pesado, sem descanso. Contudo, podemos analisar que mesmo com as dificuldades os mesmos frequentam a escola todos os dias. Esse trabalho informal está relacionado diretamente com o trabalho rural, podemos contatar isso na Gráfico 7, logo mais adiante: 25% 56% 19% R: Se trabalha, qual tipo de trabalho? Escola Balão Mágico Formal (Carteira Assinada) Informal Sem Resposta 0% 50%50% R: Se trabalha, qual tipo de trabalho? Escola Flor do Deserto Formal (Carteira Assinada) Informal Sem Resposta Capítulo Resultados 44 Gráfico 7 - Respostas da questão qual o setor de trabalho? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Por meio da Gráfico 7 é possível perceber que na escola Balão Mágico, 37% dos entrevistados e na escola Flor do Deserto 23%, responderam que o setor de trabalho é o rural. É comum na nossa região, as pessoas trabalharem no setor rural, no plantio de feijão milho, hortaliças e entre outros. Principalmente quando essas pessoas não tem a escolaridade concluída, o limita ainda mais as possibilidades de emprego em outras áreas e de carteira assinada, ou seja, formal. Nesse sentido, entendemos o quanto é importante os estudos, pois o mesmo abre possibilidades para várias outras coisas no sentido da pessoa se desenvolver em diversas áreas, não só referente a trabalho, mas a entender seus direitos, opinar de forma crítica, sendo um cidadão consciente. E podemos constatar que os alunos consideram muito importante os estudos Nesse sentido, quando perguntamos quanto tempo ficaram afastado da escola, veremos as respostas abaixo representado no Gráfico 8. 37% 6% 6% 38% 13% R:Qual o seu setor de trabalho? Escola Balão Mágico Rural Industrial Comercial Outro: Sem Resposta 23% 0% 13% 14% 50% R: Qual o seu setor de trabalho? Escola Flor do Deserto Rural Industrial Comercial Outro: Sem Resposta Capítulo Resultados 45 Gráfico 8 - Respostas da questão quanto tempo ficou afastado da escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Por meio do Gráfico 8 ao qual representam as respostas dos entrevistados é possível perceber que na escola Balão Mágico 31% dos entrevistados ficaram mais de 15 anos afastados da escola, na escola Flor do Deserto 50% ou seja metade dos entrevistados ficaram mais de 15 anos fora da escola, muito tempo longe da escola, das salas de aula, nesse período de afastamento, muitas coisas mudaram, evoluíram e no entanto muitas vezes esses alunos que chagam na escola com dificuldades, desatualizado, e a escola tem que está preparada para atender as necessidades desses alunos, pois é um direto dele de recomeçar. Nessa perspectiva veremos no Gráfico 9, as respostas dos alunos quando questionamos o motivo deles terem ficado muito tempo afastado da escola. 19% 6% 25% 19% 31% 0 1 2 3 4 5 6 5 anos 7 anos 10 anos 15 anos mais de 15 anos R:Quanto tempo você ficou afastado da escola? Escola Balão Mágico 23% 5% 14% 9% 50% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112 5 anos 7 anos 10 anos 15 anos mais de 15 anos R:Quanto tempo você ficou afastado da escola? Escola Flor do Deserto Capítulo Resultados 46 Gráfico 9 - Respostas da questão por qual motivo você parou de frequentar a escola? Escola Balão Mágico e Escola Flor do Deserto Fonte: Elaborada pela Autora Nesse sentido levando em consideração que na escola Balão Mágico 56% dos entrevistados e na escola Flor do Deserto 55% ou seja mais da metade dos alunos de ambas as escolas responderam que o principal motivo do afastamento foi o trabalho. Isso nos leva a crê que, o trabalho ainda é um empecilho na hora de estudar, porém é preciso trabalhar para sobreviver, com isso as chances de desistências dos alunos e muito grande. Muitas vezes conciliar trabalho e escola é muito difícil, e na hora de decidir o que escolher a maioria escolhem trabalho, pois naquele momento pode ser o mais importante. O importante é que podem recomeçar e esses alunos (entrevistados) estão recomeçando, tendo uma nova oportunidade de aprender e desenvolve-se independentemente da idade e do motivo do afastamento, isso é muito importante. Com isso perguntamos para os alunos por qual motivo voltaram para a escola, as respostas estão logo abaixo no Gráfico
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