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1 Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Curso de Pós-graduação Resumo do Livro O JARDIM DE GRANITO A NATUREZA NO DESENHO DA CIDADE Anne Whiston Spirn Desenho Ambiental — AUP5853 Profª Dra. Maria de Assunção Ribeiro Franco Elizabeth Mie Arakaki Rodrigo Boufleur Christian Deni Rocha e Silva 2 Sumário Apresentação........................................................3 Parte I – Cidade e Natureza..................................5 Parte II – Ar..........................................................6 Parte III – Terra....................................................8 Parte IV – Água..................................................10 Parte V – Vida....................................................12 Parte VI – O Ecossistema Urbano......................15 Epílogo – Visões do Futuro.................................16 Bibliografia..........................................................17 3 Apresentação Anne Whiston Spirn nasceu em 1947, é arquiteta paisagista e atualmente é professora de arquitetura da paisagem no MIT (Massachusetts Institute of Tecnology). Em 1984 lançou seu livro mais conhecido, O Jardim de Granito, cujo resumo será apresentado nas páginas seguintes. Em 1998 publicou “The Language of Landscape”, que apresenta o lado poético da interação entre homem, cidade e natureza e se propõe a ser um complemento às idéias expostas em seu primeiro livro. Atualmente Spirn prepara o lançamento de seu livro “Telling Landscape”, que usa a fotografia como base para a pesquisa das interações entre processos naturais e processos culturais. Apenas O Jardim de Granito recebeu uma edição brasileira, em 1995. O ponto de partida para O Jardim de Granito é a idéia de que a cidade faz parte da natureza e, assim, de que ela deve ser construída e planejada de forma a se integrar ao ecossistema existente. No Prólogo, Spirn é veemente ao apresentar a idéia: “A crença de que a cidade é uma entidade separada da natureza, e até contrária a ela, dominou a maneira como a cidade é percebida e continua a afetar o modo como ela é construída. Esta atitude agravou e até causou muitos dos problemas ambientais urbanos.” (p.21) Mais adiante, a autora complementa: “A natureza tem sido vista como um embelezamento superficial, como um luxo, mais do que como uma força essencial que permeia a cidade. (...) A cidade precisa ser reconhecida como parte da natureza e ser projetada de acordo com isso.” (p.21) O Jardim de Granito não é um simples manifesto ecológico, é um apelo à percepção da natureza. Em cada capítulo a autora oferece diversos exemplo que demonstram que diversos problemas urbanos estão relacionados à falta de atenção para com a natureza. Com isso, o livro pretendeu sanar uma carência de informações sobre os ecossistemas urbanos, constituindo um repertório que foi dividido segundo os elementos naturais predominantes nas cidades. Desta forma, O Jardim de Granito foi dividido em seis partes: Cidade e Natureza, Ar, Terra, Água, Vida, O Ecossistema Urbano, além, é claro, de Prefácio, Prólogo e Epílogo. 1. Cidade e Natureza explica os principais elementos da natureza urbana e delineia as transformações por que passou a cidade de Boston a partir de meados do séc.XIX. 2. Em Ar, a autora fala do impacto da poeira e do desconforto na vida urbana e de como o planejamento ambiental urbano pode melhorar a qualidade do ar e o conforto térmico. 3. Em Terra, além do problema de terremotos e deslizamentos de terra em ocupações desordenadas, fala-se também da exploração de recursos minerais e do “A natureza na cidade deve ser cultivada como um jardim, em vez de ser ignorada ou subjugada.” 4 mapeamento de solos firmes. 4. Água aborda sobretudo o problema das enchentes, das secas, da poluição das águas, do uso e manutenção dos recursos hídricos. 5. Vida trata da fauna e da flora das cidades, o problema do plantio e da manutenção de árvores urbanas, a presença de animais de estimação e animais nocivos nas cidades e a presença da vida selvagem em áreas urbanas. 6. Em O Ecossistema Urbano Spirn aborda o problema do lixo, do desperdício, dos resíduos que a cidade constantemente produz e descarta no meio ambiente, o consumo e o desperdício de energia e o impacto dos ritmos e dos mecanismos urbanos sobre o meio ambiente. Cada parte do livro é dividida em dois capítulos; no primeiro é feito o diagnóstico do objeto estudado, no segundo são oferecidos exemplos e soluções para lidar com os problemas elencados no capítulo anterior. Um capítulo chamado Um plano para cada cidade encerra cada parte do livro, em que a autora sintetiza os conceitos explicados anteriormente e os organiza de forma a servir de apoio ao planejamento urbano e ambiental. 5 Parte I Cidade e Natureza No primeiro capítulo a autora defende a integração da cidade e natureza tendo em vista ambas como um processo indissociável, considerando os processos naturais na cidade: “É tempo de desenvolver o que tem sido um apelo romântico aos ornamentos da natureza em um empenho para remodelar a cidade em harmonia com os ciclos da natureza.” O conhecimento destes processos e a aplicação da nova tecnologia podem fornecer estes meios. 6 Parte II Ar Neste capítulo a autora defende a importância da qualidade do ar nas cidades a partir do entendimento dos processos poluentes e como podemos enfrentar o problema a partir de um plano para enfrentar as questões principais relacionadas à poluição na cidade e de proposição de propostas para projetos urbanos. Capítulo II - Poeira e desconforto Venenos no ar As cidades enfrentam hoje uma grande quantidade de poluentes no ar que são venenosos e em determinadas escalas podem causar danos significativos. Os principais agentes encontrados atualmente são: o dióxido de enxofre (SO2), o óxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO) e partículas em suspensão. Hoje o principal vilão é o CO, produto do escapamento dos veículos. A poeira em suspensão no ar carrega partículas que são hospedeiras de vapores tóxicos impregnados em sua superfície. Inversões térmicas e ar estagnado Normalmente, o ar quente sobe e carrega consigo a poluição, dispersando-a. No entanto, pode haver uma inversão térmica e o ar frio incapaz de se elevar para o ar mais quente acima, fica retido próximo ao chão durante horas, ou mesmo dias, carregando todas as emissões venenosas. As inversões térmicas são comuns em vales, cidades-vale e ruas desfiladeiros. Rajadas de vento e calmaria As condições dos ventos são importantes dentro de uma cidade pois eles dispersam os poluentes. A forma geral da cidade, quando é planejada sem observar os padrões dos ventos, aumentam não apenas as possibilidades de concentração de poluentes, mas também intensifica o desconforto dos moradores ao permitir a formação do fenômeno conhecido como ilhas de calor urbano. A ilha de calor Humano As cidades são mais quentes que as áreas rurais circunvizinhas. Numa noite clara, a diferença de temperatura entre as cidades e as áreas rurais é, com freqüência, de 5 a 12 graus C. A forma e a densidade urbana influenciam a intensidade da ilha de calor mais do que o tamanho da cidade. A velocidade do vento, a nebulosidade e a instabilidade atmosférica também afetam sua forma e intensidade. A pavimentação irradia 50% mais calor do que a grama. Um mosaico de microclimas: ruas desfiladeiros, praças e parques As ruas desfiladeiros geralmente, são os locais mais sujeitos aos poluentes do ar. Sua ventilação depende da largura da rua, da altura e forma dos edifícios circundantes, da orientação da rua em relação as direções predominantes dos ventos e do padrão geral dos ventos da cidade ao redor. As ruas movimentadas da cidades, principalmenteas calçadas, são o pior lugar para permanência, recreação, etc... a menos que o ar seja 7 melhorado ou que a área seja bem ventilada e recuada da rua. Devemos perceber que a praça urbana também pode ser um lugar ruim para a permanência. Uma praça nua ao pé de um alto edifício pode ser um dos lugares mais desconfortáveis numa cidade, podendo mesmo ser um perigo. Os ventos varrem para baixo e em volta dos edifícios adjacentes e explodem livremente em uma praça aberta. O parque, ao contrário, absorve menos calor durante o dia e o libera mais rapidamente ao pôr-do-sol. O microclima de um grande parque assemelha-se ao de uma floresta. Capítulo III – Melhoria da qualidade do ar, aumento do conforto e conservação de energia. O plano para cada cidade: Estratégias abrangentes para a melhoria da qualidade do ar, o aumento do conforto e a conservação de energia para o aquecimento e acondicionamento do ar através da cidade devem: - Tratar dos problemas climáticos e de poluição do ar mais críticos da cidade, com especial atenção à melhoria das condições nas áreas mais desconfortáveis e mais contaminadas. - Investigar modos alternativos de transporte e fontes de energia que diminuam a poluição do ar e explorem padrões de assentamento que facilitem sua implementação. - Encorajar a localização de novas indústrias, equipamentos públicos, e rodovias em áreas bem ventiladas, onde não contaminem vizinhanças comerciais e residenciais sob condições prevalentes de ventos ou de inversões térmicas. - Explorar o potencial de plantio de árvores em larga escala dentro da cidade para diminuir o efeito de ilha de calor no verão e mitigar os problemas dos ventos. Sobre os projetos: Qualquer novo edifício, rua, via expressa e parque dentro da cidade deve ser projetado de forma a evitar impactos negativos sobre o clima e a qualidade do ar da área circundante e, sempre que possível, mitigá-los. Qualquer projeto, mesmo o mais moderno deve: - Tratar da relação da sua localização com os problemas críticos do clima e da qualidade do ar da cidade como um todo, bem como com aqueles da posição e da vizinhança imediata. - Explorar os aspectos climáticos regionais e da cidade como um todo que possam ser usados na solução dos problemas acima. - Localizar os playgrounds, ciclovias, pistas de corrida, trilhas e áreas de lazer distantes das vias arteriais, das vias expressas e outras fontes de poluição. - Manter um recuo em relação as principais vias expressas com base no volume de tráfego e nas direções predominantes dos ventos. - Explorar as oportunidades de conservação passiva de energia no projeto e localização dos edifícios e parques. - Orientar os edifícios, ruas e parques para a canalização das brisas desejadas e o bloqueio dos ventos indesejáveis. - Utilizar materiais de construção e de paisagem para a criação de um microclima desejável – tanto para captar e reduzir a absorção de calor, como para aumentar ou diminuir a velocidade do vento. 8 Parte III Terra A terceira parte de O Jardim de Granito explica a relação da cidade com o solo, a forma como as condições geológicas e topográficas influenciam o desenho e a manutenção das cidades. Diz a autora no primeiro parágrafo: “As cidades são estruturas frágeis equilibradas na crosta da terram expostas ao lento mas inexorável processo de erosão e sedimentação, vulneráveis a cada tremor das violentas forças subterrâneas e dependentes de recursos minerais decrescentes.” (p.105) A construção das cidades exige transformações bastante sérias ao solo. Nivelamentos, escavações, perfurações, aterros, dragagens: todas estas alterações que o homem aplica ao solo viabilizam a construção das estruturas urbanas, ao mesmo tempo em que desencadeiam fenômenos tão diversos e graves como deslizamentos e afundamentos, aumentando os riscos e os custos de manutenção da cidade e causando desastres. Apesar da grande quantidade de informações disponíveis sobre a geologia das cidades, ele é mormente utilizado na obtenção de vantagens — o uso imediato — em vez de constituir base de apoio às ações de prevenção de desastres e de conservação dos recursos minerais. Solo instável — a maioria das pessoas acredita que o solo é sólido e estável. Uma estimativa utilizada pela autora informa que problemas geológicos como deslizamentos, terremotos, erosão, erupções e afundamentos do solo custaram cerca de 32 bilhões de dólares, apenas na Califórnia. Desastres causados por terremotos são responsáveis por milhares de mortes a cada ano. “Quando eventos catastróficos ocorrem em áreas densamente ocupadas, os risco de acidente pessoal e danos à propriedade são intensificados” (p.106) Costuma-se imaginar também que os deslizamentos e outros fenômenos relacionados ao solo são eventos imprevisíveis e acidentais. Contudo, o planejamento no uso do solo associada ao levantamento das condições do solo pode prever e evitar desastres. Exemplos significativos do mau uso dos recursos geológicos são a cidade de Veneza, que ano após ano tem observado rebaixamento do solo e tem sofrido com enchentes associadas a isso, e cidades brasileiras que têm suas encostas de morros ocupadas por favelas, sujeitas a deslizamentos em épocas de chuvas. Recursos dilapidados — os recursos minerais não são renováveis. Construir uma cidade, um edifício ou uma casa consome grandes quantidades de pedra e areia, materiais que são retirados do meio ambiente às vezes sem qualquer planejamento ou fiscalização e que jamais retornarão para seu lugar original. Há, além do custo financeiro crescente do manejo dessas matérias-primas, o evidente custo ambiental. 9 Solo contaminado e compactado — a contaminação do solo ocorre como conseqüência da poluição do ar e pelo acúmulo de lixo e resíduos tóxicos em locais inadequados e pode causar a contaminação de lençóis freáticos e comprometer seriamente a saúde dos habitantes. Nas grandes cidades, o chumbo da fumaça dos automóveis e os resíduos dos depósitos de lixo são os principais fatores de contaminação do solo. Além disso, a compactação do solo é outro problema comum nas cidades; a infertilidade e a impermeabilidade do solo compactado inviabilizam a arborização urbana. “A informação necessária para proteger a cidade contra os riscos geológicos e conservar e restaurar seus recursos é obtida atualmente com uma rapidez maior do que nunca. Os processos pelos quais os riscos geológicos surgem e as maneiras pelas quais podem ser intensificados pelas atividades humanas são bem conhecidos.” (p.125) Spirn é veemente ao afirmar que a informação, sobretudo técnica, deve ser usada como base para o planejamento do uso do solo e dos recursos minerais. Na Califórnia, uma região especialmente sujeita a terremotos, os estudos geológicos são condição necessária para a construção de edifícios e para o planejamento do crescimento das cidades. Na cidade de San Francisco, um minucioso mapeamento do solo (topografia e geologia) deu origem ao Plano de Segurança Comunitária, que previne desastres como deslizamentos e enchentes. Códigos de obras devem refletir as informações oferecidas por tais estudos, direcionando os empreendimentos para áreas de solos firmes e evitando que eles sejam realizados em áreas de risco. Um plano para cada cidade — segundo a autora, uma estratégia adequada para uso e gerenciamento do solo nas cidades deve incluir os seguintes itens: reduzir riscos de desastres associados ao solo e proteger os recursos minerais localizar novos edifícios fora de áreas de risco planejar a relocalização e reconstrução após desastres planejar a preservação e o uso dos recursos minerais, incluindo o manejo dessas áreas após a exploração cada projeto de edifício, rua ou parque deve ser elaborado de forma a reduzir e evitar os riscos e ao mesmotempo aproveitar as condições naturais do solo, suas características geológicas e topográficas 10 Parte IV Água A água é condição necessária para a vida. Assim como nossos corpos, as cidades dependem da água para existir. Os habitantes das cidades dependem da água para a higiene pessoal e para a nutrição, comércio e indústria usam a água em seus processos, e, por fim, é a água que retira da cidade a maioria de seus dejetos. Apesar de ser um recurso de extrema importância, a água tem-se tornado cada vez mais escassa por causa do desperdício e da poluição. A inadequação no uso dos recursos hídricos nas cidades causa problemas tão distintos quanto as enchentes, a escassez de água potável e as doenças relacionadas à água contaminada. Como em outros setores do planejamento urbano, há informação abundante sobre os recursos hídricos, a dinâmica da água e a poluição dos rios. Contudo, com freqüência os planejadores ignoram tais informações e tratam separadamente questões que têm a água como elemento comum. O aumento das enchentes — as enchentes seguem uma lógica bastante simples: elas ocorrem quando os leitos dos rios não conseguem escoar a água que recebem. Isso é causado por dois motivos: a impermeabilização do solo, que aumenta a quantidade de água que vai para os rios, e a ocupação das várzeas, que fazem parte do rio. Fatores climáticos, como sujeição a tempestades e furacões, também tornam as enchentes mais freqüentes e acentuam seus efeitos. Águas poluídas — a poluição das águas têm sido associada historicamente a uma série de doenças, como o cólera e a febre tifóide. As características e os efeitos desta poluição variam conforme as características da cidade, como a poluição atmosférica, a topografia e os sistemas de esgoto e de drenagem. Naturalmente, cidades onde as enchentes são freqüentes são também as mais atingidas pelos efeitos da poluição das águas. O principal responsável pela poluição das águas é o esgoto doméstico e industrial; a ausência de planos para o manejo desses resíduos pode disseminar doenças e comprometer o abastecimento de água potável, além de agravar outros problemas ambientais. A escassez dos mananciais — a água que abastece a cidade tem se tornado cada vez mais escassa. Os mananciais têm reduzido consideravelmente por diversas razões: a poluição pelo esgoto residencial e industrial, o desperdício e o excesso de consumo, a contaminação de lençóis freáticos através da contaminação do solo e, sobretudo, a inabilidade no gerenciamento dos recursos hídricos. Spirn informa que em 1975 o consumo de água per capita nos Estados Unidos chegou a 640 litros por dia. Embora números atuais estimem em 300 litros por dia o consumo per capita nos EUA, a maioria dos planos de manejo dos recursos hídricos neste e em outros países tem agregado campanhas de racionalização do consumo e de prevenção ao desperdício. A partir da análise destes fatores a autora conclui que a preservação dos recursos hídricos e a disponibilidade de água estão estritamente relacionados à forma como ela é manejada e consumida. São raros os países totalmente desprovidos de água. Mesmo nestes lugares é possível obtê-la de fontes distantes ou da chuva, à semelhança dos romanos e dos persas, no início da era cristã. 11 “Seja qual for a escala — de um projeto de uma vala de drenagem ou de uma fonte até um plano para toda uma região metropolitana —, a chave para alcançar soluções eficientes e econômicas é uma compreensão das várias maneiras como as águas se movem através da cidade.” (p.161) A água em movimento — o ciclo da água fornece informações valiosas para o gerenciamento dos recursos hídricos. Sistemas de drenagem de águas podem ser utilizados para o abastecimento das cidades. Sabe-se, por exemplo, que o volume de chuvas que caem sobre a cidade de São Paulo é maior do que seu consumo de água. 1 O armazenamento das águas das enchentes — a autora cita como exemplo o sistema de parques de Boston: “Arquitetos paisagistas e historiadores urbanos consideram o sistema de parques de Boston como um marco no planejamento de parques americanos, mas poucos sabem que um terço do sistema foi projetado para o controle das enchentes e melhoria da qualidade das águas e não fundamentalmente para a recreação.” (p.163) A opção de Olmsted para Boston aproveitou as várzeas, preservando assim os rios, embelezando a cidade e inspirando ações semelhantes em outras cidades, como Chicago, Boulder e St. Louis. Recuperação e conservação da água — sistemas de esgoto precisam ser planejados com o objetivo de devolver ao meio ambiente a água tal como ela foi originalmente coletada antes do consumo. Ao mesmo tempo, a preferência por sistemas de baixo consumo de água e a racionalização do uso são ações cada vez mais necessárias e comuns. No paisagismo, o uso de espécies vegetais que não exigem irrigação; nas casas, o aperfeiçoamento dos sistemas hidráulicos; nas cidades, planos que impeçam o encontro de esgoto e águas pluviais, que previnam enchentes e que aproveitem as possibilidades paisagísticas da água que circula pela cidade, em suas diversas formas. Um plano para cada cidade — conforme a autora, um bom plano de manejo dos recursos hídricos de uma cidade deve: tratar dos problemas de enchente, poluição das águas e abastecimento proteger os recursos hídricos localizar parques e áreas nas várzeas e cabeceiras dos rios, como forma de armazenar as águas das chuvas e alimentar os lençois freáticos localizar novas indústrias e áreas ou equipamentos poluidores em áreas distantes dos rios e mananciais localizar novos edifícios fora de áreas de risco de enchentes planejar a relocalização e reconstrução após grandes enchentes aumentar a visibilidade da água na cidade e o acesso público a ela nos projetos urbanos, paisagísticos ou arquitetônicos, projetar e utilizar sistemas de baixo consumo de água, que aproveitem as águas das chuvas, que sejam imunes 1 JACOBI, Pedro. A água na terra está se esgotando? Disponível em http://www.geologo.com.br/aguahisteria.asp. Acessado em 4 de maio de 2006. http://www.geologo.com.br/aguahisteria.asp 12 e/ou que previnam enchentes. 13 Parte V Vida Capítulo VIII - Vegetação Urbana: A luta pela sobrevivência O desaparecimento da arborização na cidade trás como conseqüência: clima mais seco e mais quente, enchentes mais devastadoras, mais erosão e pior qualidade da água, do ar (mais empoeirado), do ruído urbano e desvalorização imobiliária. Neste capitulo a autora defende a vegetação urbana como um processo que deveria ter uma preocupação mais efetiva em relação aos ciclos naturais e menos ornamental. Discute o paisagismo meramente estético como um mecanismo caro principalmente pelo seu caráter pouco sustentável. Hábitats Hostis A expectativa de vida de uma árvore é aproximadamente dez anos nas cidades. A maioria das árvores nas cidades encontra um habitat hostil, insolação inadequada, substrato insuficiente, solo muito compactado dificultado a drenagem da água do solo, etc... Capítulo IX – Cultivo do bioma humano O Cultivo do bioma urbano requer uma mudança radical nos enfoques correntes de seleção e projeto dos espaços livres urbanos e no plantio e manutenção da vegetação urbana. Existem muitos modelos viáveis para as cidades que desejam assegurar a sobrevivência da vegetação urbana que elas plantam, melhorar sua beleza e reduzir os custos de manutenção como Boston, Berlim, Zurique Washington. A necessidade da vida Sendo as plantas organismos vivos, alguns poucos requisitos são essenciais para a sobrevivência como a água, o ar, a luz e os nutrientes. A ausência ou insuficiência de qualquer um deles pode acarretar redução de seu crescimento, declínio e morte.Uma medida mais inteligente é selecionar árvores cujo ambiente nativo seja similar ao de uma rua na cidade como as árvores de várzea. O cultivo da vegetação urbana O sucesso só será garantido se as árvores forem selecionadas entre as espécies apropriadas, plantadas de forma adequada e mantidas com cuidado, uma combinação rara nas cidades modernas. A exploração dos espaços selvagens urbanos Existem muitos espaços selvagens dentro de uma cidade: terrenos baldios, antigas pedreiras, áreas industriais abandonadas, onde podem ser encontradas comunidades de plantas nativas, abandonadas a si mesmas, são auto-sustentáveis e requerem quando muito uma manutenção mínima. Elas evoluíram durante muitos anos em resposta ao clima da região e características específicas da área. 14 O projeto da floresta urbana A possibilidade de florestas urbanas que são administradas para a produção de uma safra auto-sustentada e os lucros obtidos com a produção da madeira pagam a manutenção da floresta, os custos administrativos e a pesquisa florestal. Um plano para a cidade Uma estratégia abrangente para ampliar a taxa de sobrevivência, aumentar a diversidade, melhorar a aparência e diminuir os custos de manutenção das árvores na cidade deve: - Tratar dos problemas mais críticos das comunidades vegetais da cidade, tanto as cultivadas quanto as não cultivadas. - Tratar da evolução dessas comunidades vegetais através do tempo, incluindo uma estratégia para a regeneração das comunidades vegetais que não são auto- sustentáveis. - Explorar a viabilidade de projetar e administrar as árvores nas ruas e nas reservas públicas como recurso renovável e uma fonte de renda. - Investigar um plano de manutenção gradativa para parques municipais de acordo com a intensidade de uso e explorar projetos paisagísticos que facilitam sua implementação. - Explorar várias alternativas paisagísticas adequadas aos diversos parques e reservas da cidade que, dado o clima e os hábitats da cidade, não sobrecarreguem o abastecimento de água nem o orçamento de manutenção do município. - Localizar novos parques e outros espaços abertos de forma a preservar as comunidades de plantas mais significativas e bonitas da cidade e melhorar a sua aparência e identidade. - Explorar o potencial de vegetação para melhorar o clima e a qualidade do ar, a estabilidades das encostas e a qualidade das águas para prevenir as enchentes, aumentar a diversidade da propagação da vida silvestre e melhorar a imagem da cidade. Cada nova rua, praça e parque devem ser projetados para promover a sobrevivência das plantas dentro deles, com um programa de manutenção apropriado a essa função, contexto e recursos disponíveis. O propósito de cada projeto deve: - Tratar da relação entre o local e os padrões gerais da vegetação na cidade, bem como dos problemas potenciais colocados pelas comunidades de plantas das regiões circunvizinhas. - Explorar o hábitat específico oferecido pelo local para aumentar a diversidade das comunidades vegetais. - Corresponder à intensidade com que o local será usado, aos recursos disponíveis para a manutenção e as práticas de manutenção. - Explorar as espécies de plantas nativas e exóticas resistentes que sobrevivem as pressões urbanas. - Utilizar plantas que criem um microclima desejável, filtrem os poluentes do ar, estabilizem encostas e solos sujeitos a erosão, absorvam as águas das cheias, filtrem os poluentes das águas e forneçam abrigo e alimentação para a vida selvagem. Capítulo X – Animais de estimação e animais nocivos Uma estratégia abrangente para a diminuição dos problemas das pragas e o aumento da diversidade da vida selvagem deve: - Tratar dos problemas de pragas mais críticos na cidade, com atenção especial a 15 melhoria das condições nas áreas que apresentem problemas mais graves. - Aumentar a diversidade da vida selvagem nas áreas onde não entre em conflito com as atividades humanas. - Desenvolver novos hábitats para a vida selvagem para aumentar a diversidade dos hábitats na cidade, mediante a aquisição de áreas naturais e a recuperação de terras devolutas e a exploração tanto dos espaços livres públicos como privados para aumentar o hábitat de vida selvagem potencial. - Criar parques e outros espaços livres e explorar corredores públicos e privados (incluindo vias de servidão de rodovias e ferrovias, obras de infra-estrutura, fundos de vales e canais) para ligar hábitats existentes ou potencias da vida selvagem com outros hábitats no interior da cidade e com áreas livres na periferia. Novos edifícios, vias expressas e parques na cidade devem ser projetados para estimularem a diversidade e abundância das espécies de vida selvagem e serem hábitats pouco atrativos para as pragas. Cada projeto deve: - Tratar do relacionamento entre a localização e os problemas causados pelas pragas na cidade e dos problemas mais críticos com as pragas, e dos recursos de vida selvagem na área e em sua vizinhança imediata. - Explorar a proximidade dos hábitats existentes de vida selvagem e dos corredores através de toda a cidade para promover a abundância e diversidade da vida selvagen. - Fornecer hábitats compatíveis com as espécies desejadas, mediante a seleção apropriada de plantas como fontes de alimentação, a disposição das plantas de modo a fornecer abrigo, alimentação e proteção contra os predadores e a manutenção paisagística coordenada com as necessidades da vida selvagem como o acasalamento e a procriação. 16 Parte VI Ecossistemas urbanos Capítulo XII - A cidade como máquina infernal “A cidade moderna é uma máquina infernal que consome e desperdiça enormes quantidades de energia e matéria-prima, produz montanhas de lixo, expele e derrama venenos.” Neste capítulo a autora defende a resolução dos problemas a partir dos ecossistemas urbanos, ou seja, de análises globais avaliando os projetos que podem afetar o ambiente da cidade como um todo, e não como se tem feito, de forma parcial, restrita a certa sítio urbano pois tendem ao desperdício em matéria de riscos e custos. Capítulo XIII – Projeto do Ecossistema urbano “A saúde e o bem-estar dos moradores da cidade dependem de uma provisão eficiente de energia, água, alimentos e outros recursos em quantidade suficiente, e da disposição segura dos resíduos” A partir do entendimento da energia e da matéria, que fluem como ciclos através do ecossistema urbano, ligando o ar, o solo, a água e os organismos vivos numa vasta rede, a autora propõem, para um projeto eficiente para o ecossistema urbano, a identificação das ligações na rede e sua importância para o emprego mais eficiente de atividades, recursos e espaço. Com tal conhecimento, as cidades podem conservar os recursos e minimizar os resíduos; podem dispor e recuperar o lixo de forma econômica e segura e estética; podem projetar partes individuais do sistema para servir a mais de um propósito e avaliar os custos realisticamente. Um plano para a cidade Um plano integral para o gerenciamento do ecossistema urbano deve: - Tratar dos problemas ambientais mais críticos da cidade e da região, explorando as oportunidades de resolver mais de um problema com uma única solução, e melhorar as condições nas áreas mais contaminadas ou nas áreas de risco. - Investigar medidas de conservação de energia e dos recursos e a viabilidade da recuperação dos recursos minerais e energéticos a partir de resíduos, e explorar padrões de assentamento, redes de transportes e sistemas de água e esgotos que facilitem a implementação de tais medidas. - Encorajar a indústria a desenvolver planos para um armazenamento seguro dos resíduos tóxicos até que possam ser reciclados de maneira econômica ou assimilados com segurança. - Ligar processos e características naturais à saúde, segurança e bem estar, demodo que os custos e benefícios sociais relacionados com o ambiente natural possam ser ponderados com outros interesses políticos, econômicos e sociais. Cada novo edifício e parque devem ser projetados de forma a usar o mínimo de energia e matéria-prima, gerar o mínimo de resíduo e, sempre que possível, servir a mais de um propósito. Cada projeto deve, portanto: - Tratar do lugar da área dentro do ecossistema urbano como um todo, incluindo sua relação com os problemas mais críticos da cidade. 17 - Responder aos problemas e as oportunidades colocadas pelo local e sua vizinhança imediata. - Projetar edifícios e o paisagismo para conservar energia e reduzir resíduos. - Explorar os aspectos microclimático, geológico, hidrológico e biológico específico do local. Epílogo Visões do futuro Para a autora, o maior obstáculo para a construção de cidades melhores não é a falta de conhecimento, mas a recusa em aplicá-lo. Há muitos modelos disponíveis e a maioria é muito antiga. Planos modernos presentes em diversas cidades européias foram inspirados no proto-urbanismo das cidades da Grécia antiga e nas recomendações de Vitruvio; o plano de Olmsted para Boston é até hoje usado como inspiração para planos urbanos e paisagísticos adequados ao meio ambiente. As cidades são ao mesmo tempo as maiores causadoras e maiores vítimas dos problemas ambientais. Nelas, embora sofra mais seriamente com estes problemas, o homem pode encará-los com mais objetividade e clareza e solucioná-los. A diferença entre o caos e a harmonia urbana está na aplicação do conhecimento sobre o meio ambiente e sobre os recursos naturais em que a cidade se apóia para existir. “O reconhecimento de que a cidade é parte da natureza deve inspirar novas políticas e reavivar as antigas, levar à formação de novas instituições e alimentar novas pesquisas, as quais devem refletir-se na forma física da cidade. Isto acontecerá apenas através de esforços coordenados de todos aqueles que estudam e modelam a cidade. (...) As razões são prementes. Não está em discussão apenas a criação de uma cidade mais segura, mais bonita, mais eficiente e mais viável economicamente, mas a própria sobrevivência. (...) É tempo de empregar um dos maiores talentos humanos, a capacidade de manipular o meio ambiente, para transformar um ambiente que se tornou hostil à própria vida num habitat humano que sustente a vida e favoreça o crescimento, tanto pessoal como coletivo”. (p.301) 18 Bibliografia BENDER, Richard. Making the metropolis green. Disponível em http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9D05E7DA1138F931A15752C0A962948260. Acessado em 3 de maio de 2006. Nurturing nature in our cities. Disponível em http://www.upenn.edu/gazette/0302/0302pro1.html. Acessado em 5 de maio de 2006. SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito. Edusp. São Paulo, 1995. TARR, Joel. The city and the natural environment. Disponível em http://www.gdrc.org/uem/doc-tarr.html. Acessado em 5 de maio de 2006. The Granite Garden. Website disponível em http://web.mit.edu/spirn/www/gg/home.html. Acessado em 5 de maio de 2006. http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9D05E7DA1138F931A15752C0A962948260 http://www.upenn.edu/gazette/0302/0302pro1.html http://www.gdrc.org/uem/doc-tarr.html http://web.mit.edu/spirn/www/gg/home.html
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