Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Metodologia e prática do ensino de História e Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental Unidade 2- Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Ivan Canovas Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Introdução Uma das características que nos diferenciam das demais espécies é a nossa capacidade de questionamento e reflexão sobre os mais diversos assuntos. Com base nessa consideração, tornaram-se comuns indagações como: qual a importância da geografia? Para que ela serve? Quais as metodologias mais adequadas para fazer com que o aluno compreenda os conceitos abordados pela história e pela geografia? Mediante a estes questionamentos é de fundamental importância sua compreensão para o mundo, pois seu objetivo de estudo é o espaço (geográfico e produzido), no caso da geografia; e o vislumbre do passado e suas intervenções no tempo, como é o caso da história, tudo isso alinhado ao contexto em que estamos inseridos. Além disso, é possível encontrar diversas definições para Geografia e espaço geográfico; elas são estabelecidas conforme o período histórico, a evolução da filosofia e da ciência e o próprio desenvolvimento da Geografia. Convém lembrar que, ao longo do tempo, o ser humano sentiu necessidade de entender melhor o espaço que o cerca para o desenvolvimento das mais diferentes atividades: caça, pesca, coleta, agricultura, comércio, entre outras atividades que se tornaram inerentes às habilidades humanas de sobrevivência, praticadas desde os primórdios. Da observação desse espaço e, posteriormente, da observação de espaços cada vez mais amplos, começou a se formar aquilo que, um dia, seria denominado conhecimento geográfico. Desse modo, a geografia e a história começam a constituírem-se como ciências humanas. Nasce com o objetivo de estudar e compreender a ação das sociedades humanas no tempo e no espaço, valorizando elementos naturais sobre a superfície do nosso planeta. Cada ação humana ao longo do tempo imprimiu nossa “pegada” no planeta, seja isso algo positivo ou não. Percebemos que tais transformações necessitam ser discutidas e refletidas em sala de aula e com o apoio e formação de um novo currículo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que nos traz como parâmetro de discussão ações que busquem refletir essa forma do ser humano agir e se relacionar no ambiente onde está inserido. Vejamos as considerações de Damiani (2010): Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia No interior de um tratamento clássico do objeto da geografia política figura o Estado, especificamente o Estado-nação, configurando o território. O caminho da geografia também foi o de reconhecer outros instrumentos de territorialização: outras organizações e instituições, do que adveio uma interpretação que supunha as relações de poder, determinado território e não exclusivamente o Estado. Assim, o termo territorialidade ganha expressão no corpo da ampliação do conceito. Eis o eixo analítico: o espaço, tratado independentemente das relações de poderio, espaço em si; o território abarcando essas relações; e as territorialidades, definindo numerosas formas de poder e uso. Parece que esse último tratamento corrige a versão clássica, dando-lhe maior abrangência. Em um momento em que o Estado nacional aparece frágil, diante de políticas mundiais e interesses privados globalizados, essa versão é ainda mais enaltecida (DAMIANI, 2010, p.17). A partir do momento em que o conhecimento de cunho geográfico começa a se acumular, surgem, como nas demais ciências, linhas de pensamento com o intuito de fornecer subsídios para a sistematização do conhecimento adquirido. Essas linhas de pensamento foram aglutinadas ao longo do tempo, constituindo diferentes escolas geográficas. E na história o movimento não é diferente, passamos todo o momento repensando formas de organizar o pensamento e estruturar informações. Considerar a geografia conhecimento científico, sistematizando-o de forma a nortear os estudos geográficos posteriores, é a principal característica das escolas que foram se formando. Uma ciência deve ter métodos de coleta e pesquisa, bem como seu objetivo de estudo, claramente definidos para validar o que foi aferido ou teorizado anteriormente. Sendo assim, percebe-se que tais ciências se usam de instrumentos de pesquisa, observação e análise. Sendo assim, é isto o que se espera de você, futuro professor, incutir em seus alunos esse sentimento de valorização dessas áreas do conhecimento tão importantes para a humanidade. Bons estudos! Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia 1. História como saber escolar: Base Nacional Comum Curricular Antes de começar a debater questões relacionadas a Base Nacional Comum Curricular, se faz necessário entendermos a forma como este documento foi concebido e sua trajetória de construção. Para isso, traremos como noção introdutória um panorama da Educação pública brasileira, a despeito dos significativos avanços alcançados nos anos recentes pela Educação Nacional, esta política ainda representa grandes desafios a serem enfrentados pelos Estados brasileiros. Mesmo que tenhamos atingindo praticamente a universalidade da cobertura da população em idade escolar no nível fundamental, a qualidade de ensino, da gestão escolar e das desigualdades nas condições de acesso e permanência de crianças e jovens na escola e em universidades ainda são um problema grave, que precisa ser repensado e combatido com política eficientes. O analfabetismo atinge ainda cerca de 10% dos brasileiros com 15 anos ou mais, as matrículas em nível médio são restritas; e a repetência no País é alarmante. Apenas 47% dos jovens entre 15 e 17 anos cursaram o Ensino Médio no ano de 2016, enquanto 15,5% destes estavam foram da escola, sem ter completado esta fase educacional. Veja a seguir o sistema educacional brasileiro estruturado: Característica Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio/Profissionalizante Ensino Superior Público 0 à 5 anos 11 6 à 14 anos 14 anos em diante Sem dados de faixa etária Denominação Creche e pré- escola Duração de 9 anos Duração Variável de 3 à 4 anos Compreende a graduação (4 à 6 anos) e pós- graduação (2 à 4 anos, para Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia mestrado e 6 anos para o doutorado) O que a Lei diz sobre o Ensino? Obrigação das entidades municipais o atendimento; Obrigação do Estado a universalizaç ão desta etapa; Não há obrigatoriedade de oferecimento pelo poder público; Não há obrigatoriedade de oferecimento pelo poder público; Além desses níveis, o sistema atende aos alunos portadores de necessidades especiais específicas preferencialmente na rede regular de ensino. Esse atendimento ocorre desde a educação infantil até os níveis mais elevados de ensino. Atende, também, ao jovem e ao adulto que não tenha conseguido ou concluído a escolarização regular na idade própria, através de cursos e exames supletivos. A inscrição da Educação como “direito detodos”, já constava na Constituição de 1934, elaborada nos primórdios da Era Vargas. Datam deste período, portanto, os primeiros esforços para a implantação de um sistema educacional de âmbito nacional. Mas foi apenas na Constituição de 1988, que ela tornou-se um dever do Estado, devendo ser provisória e universal, ao menos no nível básico. Da mesma forma, é nesta Carta que foram definidas responsabilidades e competências dos diversos níveis de governo para a oferta, bem como as fontes de recursos para seu financiamento. A configuração do sistema, como conhecemos, foi dada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei nº 9.394/96, aprovada pelo congresso nacional em 20/12/1996. Essa lei introduziu diversas exigências ao entes federados, tais como as relativas a um gasto mínimo por aluno, que cada estado deve realizar, em sua jurisdição. Além disso, estabeleceu o aumento do mínimo de dias letivos em todos os estabelecimentos de ensino do país (para 200 dias letivos, perfazendo 800 h/a anuais); a progressiva ampliação de carga horária diária da educação básica para tempo integral; e medidas em grande parte destinadas a qualidade e valorização dos profissionais de ensino. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia A Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases definem as competências governamentais na área da Educação. A oferta privada ou filantrópica de serviços educacionais também é garantida por estes instrumentos legais, desde que normatizada e supervisionada pelos Conselhos de Educação, em nível federal, estadual e municipal: ✔ União: Organiza o sistema federal de ensino, financia as instituições federais, bem como apóia técnica e financeiramente (de forma supletiva e redistributiva) as instituições estaduais, municipais e do Distrito Federal; ✔ Estado: atua prioritariamente no Ensino Fundamental e Médio; ✔ Município: Atua prioritariamente na Ed. Infantil e no Ens. Fundamental; Dada a estrutura federativa do Estado, o princípio que rege o sistema público de ensino é o da colaboração e da solidariedade entre as esferas de governo. Cada uma possui sua própria estrutura regulatória (os conselhos já referidos) e executiva (secretarias estaduais e municipais). O ministério, por sua vez, organiza-se de forma ampla, dispondo de órgãos internos que atuam, de acordo com suas competências, nos diversos níveis e nas modalidades de ensino. Assim fazem no organismo do MEC (Ministério da Educação e Cultura), as seguintes secretarias: ✔ Secretaria da Educação Básica; ✔ Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica; ✔ Secretaria de Educação Superior; ✔ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; ✔ Secretaria de Educação Especial; ✔ Secretaria de Educação a Distância. O ministério da Educação ainda conta com diversos órgãos vinculados, cujas tarefas desde a oferta direta de educação, até a realização de pesquisas e avaliações sobre o sistema de ensino, em todo o país, como é o caso do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), cujo Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia trabalho tem sido fundamental nos esforços de melhoria da qualidade da educação no país. O INEP realiza regularmente as seguintes Avaliações: ✔ Censo Escolar; ✔ Censo Superior; ✔ Avaliação dos cursos de Graduação; ✔ Avaliação Institucional; ✔ Sistema Nacional de Avaliações da Educação Superior; ✔ Exame Nacional do Ensino Médio; ✔ Exame Nacional para Certificação de Competências; ✔ Sistema Nacional de Avaliação Básica; Além dos levantamentos estatísticos e das avaliações, o INEP promove encontros para discutir os temas educacionais e disponibiliza também outras fontes de consulta sobre educação. 1.1. Histórico dos Parâmetros Nacionais Curriculares Como vimos anteriormente, até dezembro de 1996, o ensino fundamental esteve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o Ensino Fundamental, quanto para o Ensino Médio, proporcionar aos alunos a formação necessária ao desenvolvimento de sua potencialidades, como elemento de autorrealização, preparação para o trabalho e para o exercício da cidadania. Também generalizou as disposições básicas sobre o currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório em âmbito nacional para o Ensino Fundamental e Médio. Manteve, porém, uma parte diversificada a fim de contemplar as peculiaridades locais, as especificidades dos planos dos estabelecimentos de ensino e as diferenças individuais dos alunos. Coube aos Estados a formulação de propostas curriculares que serviam de base às escolas Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia estaduais, municipais e privadas, situadas em seu território, compondo assim, seus respectivos sistemas de ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os anos 80, segundo as tendências eu se generalizam nesse período. Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação para Todos, Jómiten, na Tailândia, convocada pela UNESCO, UNICEF, PNUD e o Banco Mundial. Dessa conferência, assim como a declaração de Nova Delhi - assinada pelos novos países em desenvolvimento de maior contingente populacional do mundo - resultaram posições consensuais na luta pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos, capazes de tornar universal a educação fundamental e ampliar as oportunidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. Tendo em vista o quadro de educação do Brasil e os compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério da Educação e do desporto coordenou a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003), concebido como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo processo de negociação, voltado para a recuperação da escola fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com o incremento da qualidade, como também com a constante avaliação dos sistemas escolares, visando seu contínuo aprimoramento. O Plano Decenal de Educação, em consonância com que estabelece a Constituição de 1988, afirma a necessidade e a obrigatoriedade do Estado elaborar parâmetros claros no campo curricular capazes de orientar as ações educativas do ensino obrigatório, de forma adequá-los aos ideais democráticos e a busca de melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras. Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucional vigente mostra a ampliação das responsabilidades do poder público para com a educação de todos, ao mesmo tempo que a Emenda participação dos Estados e Municípios no tocante ao financiamento desse nível de ensino. A LDB, consolida e amplia o dever do poder público para com a educação em geral e em particular para com o Ensino Fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que a educação básica, da qual o ensino fundamental é parte integrante, deve assegurar a todos “a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”, fato que confere ao ensino fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de terminalidade e de continuidade. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Sendo assim, a LDB reforça a necessidade de sepropiciar a todos formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9º, inciso IV , é remetida pela União. Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB consolida a organização curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no trato dos componente curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base nacional comum, a ser complementada por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e na escola na prática, repetindo o art. 210 da Constituição Federal. Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo, tanto para o ensino fundamental quanto para o médio, deve obrigatoriamente propiciar oportunidades para o estudo da língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e natural e da realidade social e política, enfatizando os conhecimentos do Brasil. Também são áreas curriculares obrigatórias o ensino de Arte e da Educação Física, necessariamente integrados à proposta pedagógica. O ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna passa a se construir em componente curricular obrigatório, a partir do 6º ano do Ensino Fundamental (ART. 26 § 5º). Quanto ao ensino religioso, sem onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orientação já adotada das escolas públicas, mas é de matricula facultativa, respeitadas as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis (art. 33). 1.2. Estrutura Organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais Todas as definições conceituais, bem como a estrutura organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais, foram pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, que estabelecem as capacidades relativas aos aspectos cognitivos, afetivos, físicos, éticos, estéticos, de atuação e de inserção social, de forma a expressar a formação básica necessária para o exercício da cidadania. Essas capacidades, que os alunos devem ter adquirido ao término da escolaridade obrigatória, devem receber uma abordagem integrada em todas as áreas constituintes do ensino fundamental. A seleção adequada dos elementos da cultura- conteúdos- é que contribuirá para o desenvolvimento de tais capacidades arroladas como Objetivos Gerais do Ensino Fundamental. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Os documentos das áreas têm uma estrutura comum: iniciam com a exposição da concepção da área para todo o ensino fundamental, na qual aparece definida a fundamentação teórica do tratamento da área que os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, na qual aparece definida a fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os Objetivos Gerais de área, da mesma forma que os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam capacidades que os alunos devem adquirir ao final da escolaridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos por explicitar a contribuição especifica dos diferentes âmbitos do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, de objetivos vinculados ao corpo de conhecimentos de cada área. Os objetivos gerais do Ensino Fundamental e os objetivos de área para o Ensino Fundamental foram formulados de modo a respeitar a diversidade social e cultural e são suficientemente amplos e abrangente para que possam conter as especificidades locais. O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as necessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo e indica os Objetivos de Ciclo de cada área, estabelecendo as conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir para que progressivamente cumpram com as intenções educativas gerais. Segue- se a apresentação dos Blocos de conteúdos e/ou Organizações temáticas de área por ciclo. Esses conteúdos estão detalhadamente explicitadas no documento Parâmetros Curriculares Nacionais, ao ter em mãos os parâmetros, eles te orientam quais são os passos didáticos para o desenvolvimento de algum conteúdo relacionado a história, vejamos o exemplo abaixo: No 1º ciclo (1º e 2º ano), a proposta é a “História Local e do cotidiano”. Neste eixo se propõe conteúdos voltados preferencialmente as diferentes histórias pertencentes ao local em que o aluno convive, dimensionando em diferentes tempos (Parâmetros Curriculares, 1997, p. 40). Nessa proposta pode- se perceber uma clara preocupação com a história local, como ponto de partida , da qual os alunos devem ampliar o seu olhar e perceber o seu entorno, para compreensão de relações mais amplas. Iá no 2º ciclo (3º ao 4º ano), o eixo sugerido: “História das Organizações Populacionais”, cuja proposta é trabalhar diferentes histórias que permitam pensar nas relações entre a coletividade local e a coletividade de outros tempos e espaços. Assim como no primeiro ciclo, esse sugere estudos comparativos Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia para a percepção das semelhanças e diferenças, das permanências e transformações das experiências do homem e do tempo. No terceiro ciclo (5º e 6º ano), o eixo proposto é: “História das relações sociais da cultura e do trabalho”, que se desdobram em dois subtemas: “As relações sociais e a natureza” e “As relações de trabalho”. O primeiro subtema permite que sejam trabalhados questões pertinentes aos recursos naturais, a matéria prima e a produção de alimentos, vestimentas, utensílios e ferramentas, mitos sobre a origem do homem e do mundo...(Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 55). Entendemos que os PCN’s , trabalha a História por meio de eixos temáticos criando novas possibilidades de discussões e debates em sala de aula, mas apresenta um grave problema, pois sugere que se trabalhem assuntos que não pertencem a localidade do aluno e especificidade de sua aplicação. O documento apresenta uma proposta para um determinado padrão de aluno, desconsiderando que no ensino temático devem emergir da realidade a ser estudada. A proposta de se organizar o ensino de História com base em eixos temáticos é uma evidencia da influência da Historiografia, especialmente da Nova História Cultural, na compilação de documentos históricos. A eleição de objetivos e conteúdo de área por ciclos está diretamente ligada os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, da mesma forma que também expressa a concepção de área adotada. Os critérios de Avaliação explicam as aprendizagens fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se constituem em indicadores para a reorganização do processo de ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios não devem ser confundidos com critérios de aprovação e reprovação de alunos. O último item são as orientações didáticas, que discutem questões sobre a aprendizagem de determinados conteúdos e sobre como ensiná-los de maneira coerente com a fundamentação explicitada anteriormente. 1.3. As Competências da Base Nacional Comum Curricular em consonância com um novo currículo escolar Segundo a Legislação brasileira a primeira etapa da Educação Básica, é a Educação Infantil, é a fase que a criança de 0 à 5 anos e 11 meses de idade, está Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia apta a fazer parte do sistema regular de Ensino, seu principal objetivo é o desenvolvimento integral da criança, ou seja, não apenas o cognitivo, mas também o físico e o socioemocional. Esta fase está dividida em dois segmentos: creche (0 à 3 anos) e a pré-escola (04 à 05 anos e 11 meses). Conforme disposto na LDB 9.394/96: Art. 30º. A educação infantil será oferecidaem: I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade; Art. 31º. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Como a Base procura estabelecer um padrão de aprendizagem a todos os brasileiros, foram estabelecidos para Educação Infantil, seis direitos de aprendizagens a serem desenvolvidos: ✔ Conviver; ✔ Brincar; ✔ Participar; ✔ Explorar; ✔ Expressar; ✔ Conhecer-se. Juntamente com os campos de experiências que devem fazer parte da rotina pedagógica desses alunos, sendo eles: ✔ O eu, o outro e o nós; ✔ Corpo, gesto e movimento; ✔ Traços, sons, cores e formas; ✔ Oralidade e escrita; Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia ✔ Espaço, tempo, qualidades, relações e transformações. Na Educação Infantil, constitui-se um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana dos alunos e seus saberes, entrelaçando aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio Cultural. A organização curricular da Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular está estruturada nos cinco campos de experiências como pode ser observado acima, nos quais os objetos de aprendizagem e desenvolvimento devem respeitar a construção e consolidação da aprendizagem. Assim como nos apresenta Jean Piaget: [...] não é menos evidente que quanto mais refinada as estruturas do pensamento, mais a linguagem será necessária para complementar a elaboração delas. A linguagem, portanto, é condição necessária para complementar a elaboração delas. A linguagem, portanto, é condição necessária, mas não suficiente para construção lógica. Ela é necessária, pois sem o sistema de expressão simbólica que constituem a linguagem, as operações permaneceriam no estado de ações sucessivas, sem jamais se integrar em sistemas simultâneos ou que contivessem, ao mesmo tempo, um conjunto de transformações solidárias. Por outro lado, sem linguagem as operações permaneceriam individuais e ignorariam, em consequência, esta regularização que resulta da trova individual e da cooperação (PIAGET, 1967, p.92). Reconhecendo as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem a etapa da Educação Infantil, os objetos de aprendizagem e desenvolvimento estão sequencialmente organizados em três grupos de faixas etárias, sendo divididos: ✔ 0 à 1 ano e 6 meses; ✔ 01 ano e 7 meses à 03 anos e 11 meses; ✔ 04 anos à 05 anos e 11 meses. O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, atende jovens de 6 à 14 anos. Nos dois primeiros anos de Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização. O professor poderá selecionar, de acordo com a faixa etária, um livro para cada aluno, trabalhando e valorizando questões Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia ligadas às diferentes formações de linguagens, respeitando assim o amadurecimento cognitivo do aluno, fazendo com que esta habilidade e competência seja a mais valorosa no ambiente infantil. Esta nova perspectiva de Ensino, trazem algumas alterações para o Ensino Fundamental, reorganizando as áreas do conhecimento, subdividindo-a em quatro estruturas dos saberes: ✔ Linguagens (Língua Portuguesa, Artes, Educação Física e Língua Estrangeira Moderna- Inglês- a partir do 6º ano-); ✔ Matemática; ✔ Ciências da Natureza (Biologia, Química e Física); ✔ Ciências Humanas (História, Geografia e Ensino Religioso). Cada área do conhecimento estabelece competências e habilidades, cujo desenvolvimento deve ser promovido ao longo dos nove anos de educação básica. Nas áreas que abrigam mais de um componente curricular, também serão definidas competências específicas do componente vigente, a serem desenvolvidas pelos alunos ao longo desta etapa de escolarização. As competências específicas possibilitam a articulação horizontal entre as áreas, perpassando todos os componentes curriculares, e também a articulação vertical das disciplinas. Para garantir o desenvolvimento das competências específicas, cada componente deverá apresentar um conjunto de habilidades onde estão relacionados os diferentes objetos do conhecimento. As unidades temáticas de ensino definem um arranjo dos objetos do conhecimento ao longo do Ensino Fundamental, adequando as especificidades de cada componente. Cada unidade temática contempla uma gama maior ou menor de objetos de conhecimento assim, como cada objeto de conhecimento se relaciona a um número variável de habilidades. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Exemplo de como está constituído na nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular): História- 5º ano- Unidade temática: Povos e culturas: meu lugar no mundo e meu grupo social; Objetos do conhecimento: ✔ O que forma um povo: do nomadismo aos primeiros povos sedentários; ✔ As formas de organização social e política: a noção de Estado; ✔ O papel das religiões e da cultura para formação dos povos antigos; ✔ Cidadania, diversidade cultural e respeito às diferenças sociais, culturais e históricas; Habilidade: ● (EF05HI01) Identificar os processos de formação das culturas e dos povos, relacionando-os com espaço geográfico ocupado. ● (EF05HI02) Identificar os mecanismos de organização do poder político com vista à compreensão da ideia de Estado e/ou de outras formas de ordenação social. ● (EF05HI03) Analisar o papel das culturas e das religiões na composição identitária dos povos antigos. ● (EF05HI04) Associar a noção de cidadania com os princípios de respeito à diversidade, à pluralidade e aos direitos humanos. ● (EF05HI05) Associar o conceito de cidadania à conquista de direitos dos povos e das sociedades, compreendendo-o como conquista histórica. Compreendendo a leitura dos códigos: Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia Há de se perceber que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), apresenta uma nova maneira norteadora de apresentar conteúdos, valorizando não somente o objeto do conhecimento apresentado, mas delineando a maneira como este objeto deve ser apresentado ao aluno, trabalhando e desenvolvendo habilidades cognitivas esperadas. 2. Caminhos do Ensino de História Metodologias No campo das ciências humanas devem-se estimular uma formação ética, auxiliando os alunos a construírem um sistema de responsabilidade para valorizar: ✔ Os direitos humanos; ✔ O respeito ao meio ambiente; ✔ A coletividade; ✔ O fortalecimento da solidariedade; Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia ✔ A participação e o protagonismo voltado para o bem comum; ✔ A preocupação com as desigualdades sociais. Como objetivo principal de trabalho no ensino fundamental (anos iniciais), é importante valorizar e problematizar as vivências e experiências individuais e familiares trazidas pelos alunos, por meio do lúdico, de trocas, da escrita. Nesta etapa, o desenvolvimento da percepção está voltado para o reconhecimento do EU, do OUTRO e o NÓS. Para pensar o Ensino de História, é de fundamental importância considerar a utilização de diferentesfontes e tipos de documentos capazes de facilitar a compreensão da relação entre tempo e espaço, das relações sociais que os geraram, todo o conhecimento sobre passado é também um conhecimento do presente elaborado por distintos sujeitos. Reconhecer que diferentes sujeitos possuem percepções diferenciadas da realidade, estejam eles inseridos no mesmo tempo e espaço, ou em tempos e espaços diferentes é função da história. Selecionar e descrever registros de memória produzidos em diferentes tempos e espaços, bem como diferentes linguagens, reconhecendo e valorizando seus significados em suas culturas de origens, são competências a serem trabalhadas pelo ensino de história. Ela também traz como competência específica o estabelecimento de relações entre sujeito e objeto, e seus significados em diferentes contextos, sociedade e épocas. Colocar em sequência, no tempo e no espaço, acontecimentos históricos e processos de transformações e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem como criticar os significados das lógicas de organização cronológica. Para educação brasileira a presença de uma base apresenta de forma clara orientações sobre o que fazer em cada série e quais objetos do conhecimento devem ser buscados por seus educadores. Para educação infantil ela tem um princípio organizativo e indica um conjunto de ações e intervenções relevantes. Para o campo de alfabetização há uma clara indicação sobre o que é alfabetizar, sobre sua necessidade, e que isso deve ser realizado sobretudo no 2º ano. O programa de matemática é muito claro, consistente e apresenta estruturas e sequências claras de ensino. Dentre os principais desafios para Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia implementação dessa nova proposta de ensino está a conscientização dos educadores, em relação a importância da base e a adoção de uma postura voltada mais para a aprendizagem do que para o ensino. Capacitar todos os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, na utilização da BNCC, fazendo com que ela seja uma realidade plena nas 183.500 escolas espalhadas pelo Brasil, é um desafio contundente, pois, compõem um ensino oriundo de realidades públicas e privadas diversas. Dado também que modifica a maneira de atuação desses profissionais, mexendo com o currículo que prepara tais mestres no ensino superior devendo readequar sua composição naquilo que tange aspectos de formação curricular docentes. Fazendo assim com que estes novos professores tenham uma visão mais horizontal do ensino e não vertical como é que ocorre atualmente, sendo formados por áreas específicas do conhecimento e por áreas específicas dos saberes, diferentemente dos PCN’s a Base, que nos apresenta objetivos mais específicos por áreas do saber. Os objetivos dos PCN’s eram amplos e sem delimitação por série, como você pode perceber no diagrama acima, isto não quer dizer que aquilo que foi construído pelos PCN’s deva ser descartado ou desvalorizado pela adoção de uma nova estrutura norteadora de currículo. Sendo assim, a Base Nacional Comum Curricular será importante para servir de referência aos currículos, desde que respeite a diversidade do país com dimensões continentais como é o caso do Brasil, partindo de uma discussão séria sobre o que a sociedade entende por educação de qualidade, não impondo apenas um conjunto de disciplinas obrigatórias, pois se não capacitarmos os profissionais que estão à frente, será novamente um documento bem elaborado, escrito de maneira coerente, que propõe soluções bonitas, mas que na prática não funcionam, como tantas leis, artigos e incisos que temos espalhados pela legislação no Brasil. 3. Fundamentos da Geografia: Geografia como área do conhecimento A origem da geografia vincula-se aos estudos de grandes pensadores da cultura grega. Heródoto (484-425 a.C.), conhecido como o pai da história e da geografia, já que se preocupava em relatar sobre as terras, as populações e os conflitos que observava em suas viagens. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia A palavra “geografia” (geo= terra; grafia=escrita), surgiu no século III a. C., criada pelo filósofo grego Erastóteles (276- 194 a.C.), que dentre os vários estudos realizados, de destacou pelo cálculo, praticamente exato, da circunferência da Terra. Junto com a geografia, nasciam, na Grécia Antiga, a História, a Filosofia e o Teatro, num momento em que os estudiosos se ocupavam de vários temas integrados, atualmente divididos em disciplinas distintas. Segundo Ruy Moeira, “a Geografia, como a História e como o Teatro, é conhecido diluído na Filosofia, que é uma reflexão colocada à prática da vida e, por isto, referenciada pelo conhecimento” (MOREIRA, 2011, p.35) . No contexto da época, a geografia surgia em meio à expansão do comércio grego e às lutas políticas e reformas que conduziram ao estabelecimento da democracia ateniense. Ou seja, era conhecida tanto nas obras que tratavam de assuntos do ser humano quanto nos relatos de viagens que descreviam povos e terras e na elaboração de mapas que atendiam aos interesses do comércio e do Estado. Com a ascensão do Império Romano, a geografia foi afastada de sua vertente social e transformadora. Apossando-se dos conhecimentos geográficos oriundos dos estudos dos gregos, os romanos os utilizaram para fins exclusivamente expansionistas. Assim, essa essência passou a servir o Estado. No século I a. C., o filósofo e geógrafo Estrabão, que estudou Roma, afirmava: “A maior parte da geografia satisfaz a necessidade do Estado. A geografia em seu conjunto tem um vínculo com as atividades dos dirigentes. Os grandes generais, sem exceção, são homens capazes de relacionar em termos espaciais, de pensar a estratégia apropriada na terra e no mar, de unir povos sob um governo comum”. (Estrabão). A geografia foi desenvolvida ao lado de outras áreas do conhecimento, como a astronomia e a matemática. Durante o período da Idade Média, a geografia esteve praticamente ausente no mundo ocidental, pois a visão religiosa vigente explicava os fenômenos da natureza. O teocentrismo ignorava qualquer conhecimento científico que contestasse os dogmas da igreja. Com a expansão marítima europeia, iniciada pelos países ibéricos, no período conhecido como Grandes Navegações (séculos XV e XVI), a geografia se Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia alastrou, ainda limitada à descrição de povos, terras e climas, feita pelos viajantes. Entretanto, a atividade comercial na Europa exigia novos mercados e o aumento dos conhecimentos geográficos. Os estudos de Galileu Galilei (1564- 1642) e Isaac Newton (1642- 1726), entre outros, favoreceu o surgimento de um modelo científico que buscava explicações racionais para compreender os fenômenos do Universo e do mundo físico, utilizando-se de observações, cálculos e uso da lógica. Enquanto a geografia se entrelaçava à física, matemática e astronomia, pensadores como Montesquieu (1689-1755) e Hegel (1770-1831), realizavam estudos sobre as relações do ser humano com a natureza. Você sabia? Foi somente no século XIX que a geografia passou a ser considerada uma ciência, perdendo seu caráter meramente descritivo. Por intermédio da escola alemã, a geografia científica ou moderna iniciou-se, em meio à ascensão do capitalismo e à expansão comercial e industrial do século XIX. Com os precursores de Alexandre von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859),ela passou a ser sistematizada e a surgir nos meios acadêmicos, nas escolas e nas universidades. Embora Humboldt fosse de vertente mais naturalista e Ritter, antropológica, ambos estabeleceram relações entre os fenômenos da natureza e as ações do ser humano. 3.1. Espaço Geográfico Quando se observa uma paisagem, faz-se a “leitura” dela. Segundo Milton Santos, “a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos”. Essa percepção, entretanto, não é suficiente para compreensão da dinâmica desta paisagem, ou seja, das funções e do dinamismo dos elementos que a formam, de como funcionam a organização social, as relações de trabalho e produção, o movimento de capital e mercadorias etc. O espaço da paisagem, adicionado dessa dinâmica da realidade, constitui o objeto de estudo da geografia, chamado espaço geográfico. Assim, para compreender a organização e a produção do espaço, é preciso entender as relações dos homens entre si e entre Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia o homem e a natureza, pois nos espaços estão as materializações dessas relações. O espaço geográfico está sob a constante ação da sociedade. Por ser um espaço social, modifica-se, organiza-se e reorganiza-se por meio do trabalho e das relações econômicas, sociais e políticas que nele se estabelecem. Hoje, de forma mais intensa, o espaço das sociedades humanas é alterado, organizado e reorganizado mais rapidamente. Desta forma, é marcado pela velocidade do avanço tecnológico e pelo aumento na racionalização da produção. Vive-se num meio que o geógrafo Milton Santos denominou “meio técnico-científico informacional”, pontuado pelo uso das tecnologias da informação que estão incorporadas no cotidiano. Há muitas pessoas, entretanto, excluídas dessa revolução tecnológica, o que provoca, ainda, maior choque social e econômico entre as sociedades. 3.2. Lugar Lugar corresponde ao local que possui significado, é onde são vividas as experiências e, por isso, o ser humano identifica-se com ele. Você certamente se identifica com o lugar onde mora e nele estabelece relações de afetividade, como cidade, bairro, escola ou casa. Nesses lugares, possui referências pessoais e está familiarizado com eles. O lugar é, portanto, a parte do espaço em que se vive. 3.3. Paisagem Imagine-se viajando de carro. De onde você observa a paisagem de uma cidade desconhecida. Por meio do olhar, registra mentalmente alguns elementos naturais e humanizados que compõem a paisagem; pode ver aquilo que foi modificado ou construído pela sociedade, percebendo, assim, como está organizada. Quando se observa uma paisagem, percebe-se o resultado de um processo histórico de produção e ocupação do espaço. Nas paisagens, está registrada a interação entre a sociedade e a natureza, construída ao longo do tempo, por meio do trabalho. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia 3.4. Região No cotidiano, o senso comum define região como a localização e extensão. Também tem um sentido conhecido, como unidade administrativa, por meio da qual são exercidos hierarquia e controle por parte do grupo administrativo. Inicialmente observada por meio de aspectos físicos, como clima, relevo e vegetação, concebida então como região natural, a regionalização incorporou outros significados à sua definição. Segundo a geógrafa Bertha Becker, “a região é um instrumento de ação política”. Com isso, esse conceito passou a ter forte caráter político e ideológico, sendo administrado pelo Estado. Compreender o conceito de região facilita o entendimento de como é concebida a regionalização. 3.5. Território Todo espaço definido e delimitado por meio das relações de poder se caracteriza como território. Por meio dessas relações, são criadas fronteiras entre países, regiões, estados, municípios, bairros e, inclusive, áreas de influência de determinado grupo, por exemplo, de uma organização criminosa. Um dos princípios que regem a formalização territorial dos países é a soberania, permitindo que a nação exerça o poder em seu território e que também seja reconhecida internacionalmente perante outros países. Ao redor do planeta, muitas vezes observamos alguns territórios autônomos, que, no entanto, não são soberanos, como é o caso do povo basco, no território espanhol. 4. Ensino de Geografia: Perspectivas Como vimos a geografia é uma ciência que busca analisar as transformações ocorridas no espaço geográfico, suas causas e consequências. Seu foco de estudo reside na relação entre a sociedade e a natureza e para isso conta com alguns conceitos básicos que fundamentam esse estudo. Vimos acima que o espaço geográfico, o lugar, a paisagem, a região e o território são elementos de sua importância para construção desses conceitos. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia A Base Nacional Comum Curricular nos traz um panorama significativo sobre o Ensino da Geografia e o que se espera desse campo investigativo. Vejamos o que o autor Milton Santos nos diz: [...] o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de força cuja aceleração é desigual. Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares [...]. (Santos, 1978, p. 122). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo, que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas da Educação Básica. Este documento oficial deve nortear os currículos dos sistemas e redes de Ensino das Unidades Federativas, como também as escolas públicas e privadas da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. Estabelecendo os conhecimentos, competências e habilidades que, espera-se, que todos os estudantes desenvolvem ao longo da escolaridade básica. Orientada pelo princípio ético, político e estético traçado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN’s). O eixo soma-se aos propósitos de direcionamento da educação brasileira para formação humana e integral do indivíduo, para construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Conforme a LDB - Lei 9.394/96, a Base Nacional Comum Curricular deve nortear os currículos, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas, estabelecendo conhecimentos, competências e habilidades que, se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo de toda escolarização básica. A Constituição Federal de 1.988, coloca por meio do: Art. 210: serão fixados conteúdos mínimos para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar formação básica, comum a respeito de valores culturais, artísticos, nacionais e regionais. A educação deve estar a serviço da (o): Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia ✔ Pleno desenvolvimento da Pessoa; ✔ Preparar para o exercício da cidadania; ✔ Qualificação para o trabalho; A Lei de Diretrizes e Bases, complementa por meio do: Art. 26: Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma partediversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) E o Plano Nacional de Educação (PNE), por meio do: Art. 7°: A união, o Estado, o Distrito Federal e os municípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e implantação das estratégias, objetivo desse Plano: § 1º Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a adoção das medidas governamentais necessárias ao alcance das metas previstas neste Plano Nacional de Educação. Podemos verificar que a Lei respalda a construção de um novo currículo para os componentes de ensino já existentes, com a geografia essa organização é diferente, espera-se que o mesmo construa de maneira sólida e significativa, algo que vá transformar o olhar do aluno, tornando-o um mais crítico e analítico, perante ao problemas e conflitos sociais. Segundo a Base Nacional Comum Curricular, estudar geografia é uma oportunidade para compreender o mundo em que se vive, na medida em que esse componente curricular aborda ações humanas construídas nas distintas sociedades existentes nas diversas regiões do planeta. Segundo a BNCC, o componente curricular geográfico está dividido em cinco unidades temáticas, sendo: ✔ O sujeito e seu lugar no mundo; ✔ Conexões e escalas; ✔ O mundo do trabalho; Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia ✔ Formas de representação e pensamento espacial; ✔ Natureza, ambientes e qualidade de vida. Em todos os componentes se destacam aspectos relacionados ao exercício da cidadania. Como competência a ser desenvolvida destacam-se três objetivos: ✔ Reconhecer a si e ao outro como identidade diferente, de forma a exercitar à diferença entre uma sociedade plural; ✔ Compreender eventos cotidianos e suas variações de significados no tempo e no espaço; ✔ Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural. Com a nova organização do currículo percebe-se que a geografia busca repensar a maneira como foi concebida as questões relacionadas ao ensino desta ciência, na próxima unidade entenderemos como este ensino foi construído ao longo do tempo e como essas perspectivas de ensino estão sendo pensadas para potencializar a didática na área do saber relacionada às ciências humanas. Síntese Nesta unidade entendemos como o Ensino de História e Geografia, foram pensados como ciências humanas, revisitamos sua concepção por meio de uma construção histórica, onde: ● No primeiro tópico foi abordado a história como saber escolar, nele entendemos um panorama da educação atual, foram apresentados dados, oriundos do INEP, onde pudemos vislumbrar a forma como o ensino no Brasil é pensado e construído, ao longo do tempo, vemos que várias mazelas educacionais são alimentadas por uma questão administrativa e de políticas públicas nada eficientes; ● Nesta estrutura de organização, discutimos a importância dos PCN’s, onde mesmo com a adoção de uma Base Comum a todas as escolas do Brasil, este documento não deve ser descartado ou desconsiderado pelos Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia educadores, ao contrário ele complementa aquilo que está sendo proposto pela BNCC, os objetivos trazidos por este documento são amplos, por esta razão a base foi construída, além de auxiliar a construção do currículo ele delimita objetivos de aprendizagens por série, algo que os PCN’s não traziam; ● A Consonância da Base com o currículo é construída desde a primeira infância na educação infantil, por esta razão é de suma importância você futuro professor, estudar a fundo tais conceitos e se aprimorar cada vez mais destes assuntos; ● As metodologias trazidas pelo Ensino de História vislumbra a valorização interpretativa e a construção de um conceito onde o aluno consiga encontrar o seu lugar no mundo, percebendo os atores que o cercam, sendo assim a Base norteia o professor qual o caminho deve ser percorrido para sedimentação desses conteúdos históricos; ● Fundamentamos conceitos que são de suma importância para geografia, pois através deles o professor poderá fazer a leitura de conteúdos específicos na base, habilidade que será requisitada do professor polivalente que assume aulas no Ensino Fundamental; ● No último tópico introduzimos algumas perspectivas do ensino da geografia e como a Base apresenta esses conceitos, sendo aprofundados em uma próxima oportunidade. Bibliografia BECKER, Bertha Koiffmann. A crise do Estado e a região: a estratégia da descentralização em questão. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 48, n.01, trimestral, jan. 1986, p.45) BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília : MEC/SEF, 1997. _______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Primeiro e Segundo Ciclos do ensino fundamental - História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. _______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos do ensino fundamental - História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1998. Metodologia do ensino de História e Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental - Unidade Nº 2 – Metodologias para o Ensino de História e Fundamentos da Geografia BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf Acesso em: 11 ago. 2019. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº9394 de 1996. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 19 ago. 2019. MOREIRA, RUY. Geografia e Práxis: a presença do espaço na teoria e na prática geográfica. Ed: Contexto, 2011. MOREIRA, Ruy. O que é Geografia? São Paulo: Brasiliense. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 19 ago. 2019. PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.1967. PILETTI, Claudino. Didática geral. 24.ed. São Paulo: Ática. 2010 SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec, Edusp, 1978. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
Compartilhar