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curso Neurociência

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CURSO
Neurociências e Neurocientistas
Apresentação
O Curso Aberto a Distância de Neuropedagogia é uma iniciativa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) para proporcionar acesso livre aos conhecimentos produzidos pelo meio acadêmico. Os cursos abertos possuem uma proposta de metodologia flexível, que permite a você estudar onde estiver, a qualquer hora e por meio das mais variadas tecnologias. Por meio do cadastro, você poderá acessar a plataforma Eskada conforme sua conveniência e realizar os cursos que achar interessante para complementar sua formação profissional ou ampliar seus conhecimentos em outras áreas.
IDENTIFICAÇÃO
·         Nome do curso: Neuropedagogia
·         Modalidade: a Distância
·         Carga horária: 60 horas
·         Duração:flexível, sem calendário predefinido
·         Entidade promotora: Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
·         Desenvolvimento: Núcleo de Tecnologias para Educação – UEMAnet
·         Setor Responsável: Design Educacional (DE)
·         Público-alvo: estudantes universitários, professores, profissionais do setor público e privado, comunidade em geral.
 
OBJETIVOS
GERAL
Contribuir para um melhor conhecimento, ajudados pelas novas pesquisas em Neurociências, daquilo que nós humanos temos de mais precioso e que utilizamos desde nosso nascimento que são nosso cérebro e nossa capacidade para aprender.
ESPECÍFICOS  Adquirir conhecimentos sobre as neurociências.
·         Descobrir os mecanismos do funcionamento do cérebro.
·         Refletir sobre o papel das neurociências na aprendizagem.
·         Conhecer alguns elementos de base que compõem a dinâmica do funcionamento cerebral.
·         Identificar nossas capacidades, nossas possibilidades e nossas conexões para sermos capazes de desenvolvê-las melhor.
·         Articular os elementos da dinâmica do cérebro e os recursos para uma aprendizagem eficiente.
·         Compartilhar uma reflexão em torno do conceito de aprendizagem.
·         Compreender o significado daquilo que chamamos de “informação”.
·         Ressaltar o impacto dos avanços tecnológicos em nossa vida cognitiva.
PROGRAMA DO CURSO
UNIDADE I: ORIGEM E HISTÓRICO DA NEUROPEDAGOGIA
Neurociências e neurocientistas
Pesquisas e Descobertas em Neurociências
Origem do conceito de neuropedagogia
Por que neuropedagogia?
A neuropedagogia atualmente: a batalha entre conceitos
UNIDADE II: NOSSO CÉREBRO HOJE
O Cérebro um sistema de conexão: o papel do corpo caloso
Componentes de base: Os dois hemisférios
Alguns elementos da nossa vida cerebral: neurônios, sinapses, células da glia,neurotransmissores, impulso nervoso...
Outros elementos da nossa vida cerebral: amídala, cerebelo, córtex, hipocampo, hipotálamo, tálamo...
Exigências físicas do cérebro: movimento, oxigênio e alimentação
Nossas capacidades, conceitos-chave: potencialidade, conectividade e plasticidade
UNIDADE III: RUMO A UMA NEUROAPRENDIZAGEM
Problemas a serem resolvidos:
Como aprendemos hoje?
O que é “informação”?
Como utilizar as novas tecnologias?
Colocando em perspectiva
PROCESSO AVALIATIVO
No que tange ao processo avaliativo, cada participante terá o seu progresso avaliado durante todo o curso. Ao final de cada módulo, haverá uma atividade avaliativa, sendo necessário completar cada etapa, para que possa prosseguir com o curso. Por fim, na conclusão de todos os módulos, você receberá seu certificado automaticamente.
1. Neurociências e neurocientistas
Atualmente, nosso cérebro tornou-se o centro das atenções. Sua história e a maneira como ele funciona vem despertando o interesse de um grande número de cientistas e da maioria das disciplinas que se reúnem sob o termo de Neurociêncelula
As neurociências fazem referência a toda uma categoria de setores ou áreas de exploração do sistema nervoso central (SNC), tanto a morfologia cerebral como a fisiologia, as relações entre a organização cerebral e os processos mentais, ou ainda os distúrbios e as terapias. A história das neurociências está ligada ao conceito de neurônio, forjado por Waldeyer. Ela se impôs nos anos 50 com a neurobiologia que orientou as pesquisas para o nível celular.
É um imenso campo de estudo, onde os pontos de pesquisas são diversos, como o funcionamento do cérebro (desde os aspectos mais elementares: molecular, celular e sináptico); a sensação, a percepção, a aprendizagem, a memória, a atenção, as emoções, o sono, o envelhecimento, as doenças neurológicas e psiquiátricas, o estresse, o comportamento, além das funções cognitivas(1). 
Atualmente, praticamente todas as disciplinas colocaram o “chapéu neuro”. Alguns exemplos: a neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neurobiologia, neuropsicologia, neuropediatria, neuroendocrinologia, neurofísica, neuropsicologia etc. Elas fazem parte de uma família maior, as ciências da bio evolução (paleontologia, antropologia, etnologia, genética, etologia etc).
(1) CNRS, dossier d’actualité veille et analyses n° 80. Setembro, Neurosciences et éducation : la bataille des cerveaux (a batalha dos cérebros)
2. Crescimento das Neurociências
A neurociência também está no centro das preocupações de muitos cientistas voltados para a busca de soluções e tratamentos para doenças, problemas e lesões no cérebro como, por exemplo, a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, os AVC, a dor crônica, o autismo, a depressão, os tumores cerebrais, as lesões da medula espinhal(2).
Ela se enriqueceu a partir dos anos 50, com o avanço considerável provocado pela emergência de novas ciências e novas teorias como a cibernética de A. Wiener e de W. McCulloch, a teoria dos Sistemas e a Nova Comunicação, com a escola de Palo Alto, a termodinâmica, a física quântica e post-quântica, a cosmologia, a informática, a eletrônica... etc.(3).
O fascínio provocado pelas ciências de exploração cerebral parece ser compartilhado por um vasto público. Termos permanecido durante séculos na ignorância de nós mesmos, agora com o advento de todas essas novas ciências e novas tecnologias temos a sensação que podemos conhecer melhor nosso mundo interno. Mas, o desejo de conhecer melhor nosso funcionamento interno talvez seja uma necessidade diante do aumento das ameaças do meio ambiente. 
Um fenômeno interessante que surgiu com as neurociências foi à supressão de todos os tipos de fronteiras, entre continentes, entre disciplinas, entre ciências. As pesquisas são obrigadas a levar em conta o sentido de globalidade, de complexidade e de relatividade. 
Mas, a vida cerebral continua sendo um mistério embora atualmente as técnicas de imageamento/imagiologia nos permitam observar o funcionamento de um cérebro humano, em atividade, dando-nos a possibilidade para compreender os mecanismos fundamentais do ato de aprender e as correspondências entre atividades cognitivas e as ativações cerebrais.
(2) Fonte : Society for neuroscience. University of Washington, citado por http://braincanada.ca/files/ Fiche_informations_FR.pdf 
(3) Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002
3. A Química do Cérebro
As pesquisas que exploram a química do cérebro estão em plena expansão. A descoberta dos neurotransmissores, da endorfina e das novas moléculas lança uma nova luz sobre o funcionamento cerebral. Através dos mecanismos reguladores do cérebro hormonal, os pesquisadores mostram conceitos de importância capital para o processamento da informação. Esses conceitos são palavras-chave indispensáveis para a compreensão dos nossos mecanismos de base. Citemos alguns: Precursor, receptor, reconhecimento, processo de maturação, re-captação, armazenamento, síntese local, retroação, inibição, pré-sináptico etc.(4)
Em 1971, nos Estados Unidos, diante da paixão e da correria rumo ao “neuro”, o biólogo Francis Otto Schmitt, junto com uma equipe de pesquisadores decidiram criar um projeto chamado “The neurosciences Research Program” (NRP). 
De um simples programa de pesquisa, essa nova abordagem sobre o cérebro transformou-se em uma verdadeira disciplina com suas práticas e discursos e uma nova comunidade de especialistas,os neurocientistas. Porém, esse conceito só entrou no imaginário popular na década de 1990, chamada a década do cérebro.(5)
Na verdade, neurociência era uma palavra nova para uma nova visão de como as pesquisas sobre o cérebro deveriam ser conduzidas, na esperança de acabar com o debate sobre o dualismo espírito-cérebro e permitir os grandes avanços sociais e individuais. 
No primeiro artigo sobre as neurociências, publicado em Nature, em 1970, Otto Schmitt explica que as neurociências englobam as ciências do cérebro e do comportamento e que atuam em quatro níveis: molecular, celular, neural e comportamental. Resumindo: o termo “neuro” reuniria as ciências de base do cérebro, incluindo a psicologia e a psiquiatria.
(4) HélèneTrocmé-Fabre, Op.Cit., 2002. 
(5) Joelle M Abi-Rached et Nikolas Rose, Historiciser les neurosciences (Historizar as neurociências), 2014. https://scholar.harvard.edu/files/jabirached/files/abirached_rose_chap2_-_moutaud_chamak. pdf
4. A Química do Cérebro part 2
O objetivo inicial era descrever os “acontecimentos” cerebrais como a cognição ou as emoções, em termos moleculares, ou seja, em termos de neurônios, moléculas, receptores, neurotransmissores e outros elementosos moleculares e celulares.
Como explica M. Abi-Rached e Nikolas Rose, esse projeto “neurocientífico” tinha também outro objetivo, baseado na crença de um conhecimento universal do cérebro, além dos diversos mecanismos subjacentes: celular, molecular, comportamental, linguístico, psicológico que era unificar o objeto de estudo que parecia disperso por meio das disciplinas e escolas de pensamento. Essa abordagem era guiada pela crença profunda na possibilidade de melhorar o bem-estar humano e social graças à ciência (6) . 
Segundo esses mesmos pesquisadores, ainda em 1990, Otto Schmitt ressaltava a função social das neurociências e a possibilidade de resolver os problemas psicológicos, comportamentais, sociais (drogas, violência, esquizofrenia, retardo mental, problemas genéticos etc.).
“As neurociências nos trazem a esperança que uma melhor compreensão das origens biológicas da natureza humana poderá favorecer as perspectivas de bem-estar social e até mesmo de sobrevivência da vida humana neste planeta” (7).
(6) Joelle M. Abi-Rached et Nikolas Rose, Op. Cit. 2014. 
(7) Francis O. Schmitt, Promising trends in Neuroscience, 1970, Nature n° 227, citado por Rached e N. Rose
5. Evolução da Neuro
Durante esse período (décadas de 60 e 70), os investimentos na pesquisas em ciência fundamental foram consideráveis, sobretudo nas pesquisas sobre o cérebro. Esses anos foram marcados pela corrida à superioridade técnico-científica. Tudo o que era suscetível de trazer benefícios sociais significativos era facilmente financiado. 
Ainda segundo esses autores, o que começou como um simples programa acabou por criar uma nova categoria de especialistas, os neurocientistas, mas também uma nova disciplina com suas subdisciplinas (neurociências celular, molecular, cognitiva etc.) e novas plataformas para traduzir os produtos epistêmicos (conhecimentos, técnicas, práticas etc.) em aplicações socialmente e clinicamente significantes. Em 1973, Amherst College foi à primeira instituição a propor diplomas em neurociências. 
A virada “neuro”, só se realizou plenamente durante a década do cérebro. O que é importante ressaltar é a crença e o desejo de intervir no cérebro para melhorar a saúde e o bem-estar dos seres humanos individualmente e coletivamente
Pesquisas e Descobertas em Neurociências
1. Algumas descobertas em Neurociências
A explosão dos conhecimentos sobre nosso órgão de aprendizagem vem do avanço das descobertas em neurociências ocasionado pelo avanço das novas tecnologias. Os anos abaixo relacionados são alguns elementos de referências para nos situar no espaço-tempo. Essas informações, a seguir, provêm do [site] que está na nota de rodapé de n° 8 “compreender o cérebro, um século de neurociências”(8) .
Observe: 
1985 – 2000: Destaque e estudo da plasticidade cerebral (capacidade de aprendizagem, reorganização e adaptação) que permite ao cérebro humano realizar performances extraordinárias;
Os anos 1990: considerado como a década do cérebro. Desenvolvimento da biologia molecular. Identificação e clonagem de neuromediadores, receptores e canais iônicos. Melhor compreensão da fisiologia intracelular e dos mecanismos intrínsecos dos neurônios. Atualização e desenvolvimento da imagiologia funcional do cérebro que permite ver o cérebro humano em ação. Em 1992, foram observadas as primeiras imagens do cérebro através do IRMf (Imagem por Ressonância Magnética Funcional);
1996 – Primeiro transplante de neurônios em pacientes com distúrbio neurológico hereditário, caracterizado pela falta de coordenação e movimentos corporais anormais. (George Huntington é um médico americano, 1850-1916) (equipe de científicos franco/belga);
1999 – Descoberta da capacidade de divisão de certas células dentro do cérebro adulto;
2000 – Arvid Carlsson, Paul Greengard e Eric Kandel – Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina para o conjunto de seus trabalhos e contribuição na descoberta, envolvendo a comunicação e transmissão de sinais entre células nervosas no cérebro e o papel da dopamina na doença de Parkinson;
2000 – Descoberta das células-tronco; 
Anos 2000 – Emergência da noção de « big data » ou « megadados » para armazenar e processar a massa de dados disponíveis na Internet, incluindo os dados da Biologia e os da Neurobiologia; 
2001 – Publicação da sequência do genoma humano; 
2003 – Laureados com o Nobel de Fisiologia e Medicina, os cientistas Peter Mansfield e Paul Lauterbur por seus trabalhos sobre o IRM, iniciados nos anos 1970; 
2004 – Richard Axel e Linda Buck – Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por seus trabalhos sobre a decodificação genética dos receptores de odores e a organização do sistema olfatório;
2008 – Primeira estimulação profunda para o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Esse método foi utilizado para tratar a doença de Parkinson ; 
2010 – Avanços da optogenética. Termo que se refere às proteínas codificadas que respondem à luz para monitorar e controlar a atividade específica dos circuitos neurais; 
2012 – Robert Lefkowitz e Brian Kobilka – Prêmio Nobel de Química por suas descobertas dos receptores acoplados às proteínas G, particularmente abundantes no sistema nervoso; 
2013 – A Europa decide financiar (1,2 bilhões de euros) por um período de dez anos, o “Human Brain Project” que visa simular o funcionamento do cérebro, por computador. No mesmo ano, os Estados Unidos lança o “Brain Initiative”, dotado de 3 bilhões de dólares em dez anos, para mapear o funcionamento dos neurônios ; 
2014 – Yasuo Kurimoto e sua equipe fazem o primeiro transplante de célula-tronco para tratar a DMRI (Degeneração/Degenerescência Macular Relacionada à Idade) ; 
2014 – John O’Keefe, May-Britt Moser e Edvard Moser – Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por sua descoberta do sistema de posicionamento espacial dentro do cérebro “place cells”, no hipocampo e “grid cells” no córtex entorhinal. Espécie de GPS Mental ; 
2014 – Eric Betzig, Stefan W. Hell e William E. Moerner – Prêmio Nobel de Química pela invenção da “nanoscopia”, métodos de imagem em microscopia óptica que permite observar o funcionamento de objetos de tamanho inferior a 200 nm, ou seja, nano-estruturas celulares.
Esses são apenas alguns exemplos de descobertas, mas os pesquisadores em neurociências do mundo inteiro aceleram suas pesquisas. Desde que os cientistas se colocaram sobre o “chapéu neuro”, transformando-se em uma “grande família”, compartilhando suas experiências, fazendo uma análise coletiva de suas hipóteses e “erros”, os avanços têm sido consideráveis e cada dia surge novas descobertas.
Origem e conceito de Neuropedagogia
1. Origem e conceito de Neuropedagogia
O conceito de neuropedagogia é relativamente recente, mas suas raízes estão fixadas em uma longa história passada. Como sabemos aprendizagem, pedagogia, educação, ensino e didática são termos que existem desdea Grécia antiga, talvez mesmo antes. A diferença é que esses conceitos são abordados hoje à luz das novas descobertas sobre o cérebro. 
Nos Estados Unidos ela surgiu sob o nome de MBE (Mind, Brain and the Education Science = Mente, Cérebro e Ciência da Educação). As pesquisas de Tracey Tokuhama-Espinosa oferecem um panorama relevante sobre como evoluiu a história do cérebro e da aprendizagem (9) . 
Foi somente na segunda metade do século XIX e início do século XX que surgiram as descobertas mais significativas sobre o funcionamento do cérebro. Por exemplo, as descobertas sobre as funções específicas, por Paul Broca (1862) e Carl Wernicke (1874),correspondendo a produção e a compreensão da linguagem. Inclusive, essas áreas são chamadas áreas de Broca e de Wernick respecticvamente. 
Broca e Wernicke descobriram que a maioria das pessoas (90% destros e 70% canhotos) tem uma área principal no lobo frontal esquerdo (Broca) e outra área principal no lobo parietal esquerdo (Wernicke) para tratar a linguagem. Em 1909, Korbinian Brodman recenseou as áreas do cérebro e fez um mapa geral. Em 1911, Santiago Ramón y Cajal faz uma descoberta sobre o papel das sinapses ou conexões entre neurônios. Ele mostrou que o neurônio era a unidade estrutural e funcional de base do cérebro (10). 
No final do século XIX, o alemão Heinrich Waldeyer, continuando as pesquisas de Santiago Ramón y Cajal, cria o termo neurônio para designar as células nervosas e o inglês Charles Scott Sherrington propõe o conceito de synapses, para designar a junção funcional que existe entre os neurônios. Esses cientistas influenciaram as neurociências, dando uma nova visão sobre a natureza do cérebro e da aprendizagem.
(9) A Brief History of the science of learning: Part 2 (1970s-present). Tracey Tokuhama-Espinosa, Director of IDEA (Instituto de Enseñanza y Aprendizaje or Teaching and Learning Institute), and Professor of Education and Neuropsychology at the of the University of San Francisco in Quito, Ecuador. 
(10) H. Trocmé-Fabre, 2002 ; T. Tokuhama-Espinosa, 2011; Renato M.E. Sabbatini, Neurônios e sinapses (A história de sua descoberta), http://www.cerebromente.org.br/n17/
2. Outras teorias científicas
Nesse contexto, surgiram outras teorias científicas sobre o assunto, como a da biologia da aprendizagem, cujo foco era a influência da natureza ou da cultura sobre a aprendizagem e a inteligência. A questão subjacente era saber se somos dependentes dos genes que recebemos de nossos pais ou da maneira como fomos criados. Esse debate está na origem do controverso tema da eugenia e dos diversos problemas éticos decorrentes, como por exemplo, a discriminação de pessoas por categorias, etiquetadas como sendo aptas ou não para a reprodução. 
Em 1896, James Mark Baldwin elabora uma teoria sugerindo que o comportamento constante de um indivíduo ou de um grupo influencia sua capacidade de aprendizagem, não estando limitado exclusivamente aos fatores genéticos, ou seja, quando uma aprendizagem é benéfica à sobrevivência da espécie, ela será inscrita nos genes e transmitida às gerações futuras. 
Em seguida surgiram inúmeras outras teorias, tentando conectar o comportamento à biologia, como, por exemplo, a do Behaviorismo (Pavlov, Hull e Skinner). Essa teoria é bastante conhecida, quando Pavlov fez sua experiência com cães, descobrindo assim os princípios de base do comportamento. Nessa teoria dos reflexos condicionados, todas as respostas comportamentais do indivíduo seriam determinadas pela a entrada sensorial. 
3. A organização do comportamento de Hebb
Em 1949, Donald Hebb, psicólogo canadense, lança um livro intitulado The Organization of Behavior (A Organização do Comportamento), que se tornou um livro de referência mundial na área da neuropsicologia. Hebb critica a teoria do estímulo-resposta de Pavlov, porque segundo ele Pavlov não leva em conta, além dos estímulos (aferências sensoriais), outros fenômenos intrínsecos que também intervêm no comportamento, como a generalização perceptiva (estímulos sensoriais diferentes podendo determinar um mesmo comportamento).
Ele está na origem do conceito de “assembleias neuronais” (cell assembly), ou seja, certas conexões sinápticas entre grupo de neurônios quando reforçadas, levam os circuitos formados por esses neurônios a agirem como uma entidade única. 
Segundo ele, os neurônios, mesmo estando distantes uns dos outros colaboram mutuamente no processo da informação dentro do cérebro. Ele considera essas assembleias neuronais como sendo unidades funcionais de base do cérebro e, por exemplo, ele sugere que mesmo na ausência de estímulos externos, uma assembleia neuronal pode sustentar a atividade cerebral autônoma. 
A frase “neurons wire together if they fire together” de Siegrid Löwel é sempre associada ao postulado de Hebb. Resumindo: Se dois neurônios são ativados ao mesmo tempo, as sinapses entre esses neurônios serão reforçadas. A regra de Hebb continua a ser um dos fatores determinantes para se saber quais as sinapses que serão reforçadas em uma rede de neurônios. 
A sinapse de Hebb é fundamental para a nossa compreensão global da plasticidade do cérebro e para a aprendizagem, porque esta última se apoia sobre a plasticidade dos circuitos de nosso cérebro, ou seja, a capacidade dos neurônios de alterar de forma durável a eficácia de sua transmissão sináptica (11). Nesse mesmo contexto, Jean Piaget elabora um novo quadro teórico de referência para a psicologia, chamado o Construtivismo.
(11) Stanislas Dehaene, Le Code de La Cosncience ( O Código da Consciência), Ed. Odile Jacob, 2014; Tokuhama-Espinosa, Op. Cit, 2011 e, Bruno Dubuc, http://lecerveau.mcgill.ca/flash/i/i_07/i_07_ cl/i_07_cl_tra/i_07_cl_tra.html
4. Piaget e a Inteligência Humana
Para Piaget a inteligência humana é de inspiração biológica e evolucionista. O pensamento é uma forma de adaptação do organismo a seu meio ambiente. A inteligência se desenvolve por etapas sucessivas: sensório-motor (0 a 2 anos), correspondendo a passagem de uma atividade reflexa a uma atividade voluntária; pré-operatória (2 a 6 anos), caracterizada pelas funções semióticas e utilização dos significantes, por sinais ou símbolos, mas também caracterizada pela incapacidade de controlar as operações reversíveis; operações concretas (8 a 12 anos), caracterizada pela capacidade que tem a criança para objetivar, dominar as operações lógico-matemáticas e a seriação (capacidade de classificar os objetos de acordo com a forma, a cor, tamanho etc). Essas operações concretas são ações internalizadas, reversíveis, organizadas em sistemas e se refere aos objetos; a fase das operações formais ou do pensamento hipotético-deductível (11/12 a 14/15 anos) é considerada por Piaget como a última fase do desenvolvimento cerebral (12).
Esse modelo de fase após fase, linear e cumulativo, porque sistematicamente ligado a ideia de aquisição e de progresso foi bastante contestado pelas recentes pesquisas que mostram que os bebês já possuem uma capacidade cognitiva bastante complexa que foi ignorada por Piaget e que não se restringe a um funcionamento estritamente sensório-motor. Conclusão: parece que a inteligência, em vez de seguir uma linha ou um plano que leva do sensório-motor ao abstrato, ela prefere avançar de maneira singular e não linear. 
(12) T. Tokuhama-Espinosa, 2011; H. Trocmé-Fabre, 2002.
5. Vygotsky, as ferramentas e interações sociais
Nesse mosaico de ideias, aparece Lev S. Vygotsky, filósofo, epistemologista e psicólogo russo. Se Piaget considera que o entorno social só influencia de maneira “marginal” o desenvolvimento cognitivo, Vygotsky, ao contrário, considera que a criança cresce em interação estreita com dois aspectos da cultura: as ferramentas que ela produz, por exemplo, a língua oral e escrita, e as interações sociais entre adultos e crianças e entre crianças. A popularidade de Vygotsky na educação é tal que ele se tornou o porta-voz da pedagogia ativa, encarnando a ruptura com a pedagogia e a psicologia tradicional. 
Sua principal tese teve o efeito notávelna psicologia mundial dos anos 20 e 30. Como ele lia fluentemente inglês, francês e alemão, tudo que era publicado não lhe escapava. Vygotsky, dando a volta em torno das pesquisas científicas da época e das interpretações teórica propostas concluiu que as relações sociais não são um fator de desenvolvimento psíquico, entre outros, elas são a fonte e a origem do desenvolvimento das funções psíquicas da criança que surgem primeiro no meio coletivo, depois se tornam funções psíquicas integradas à personalidade (13). 
Um dos conceitos mais conhecidos de Vygotsky é o conceito de Zona Próxima de Desenvolvimento, ou área potencial de desenvolvimento cognitivo, onde a criança aprende por meio da interação social com outros que têm mais experiências, mais conhecimentos. Segundo Vygotsky, a criança faz primeiro com a ajuda de outro, para em seguida realizar de maneira autônoma. 
(13) Ludmila Chaiguerova, Yure Zinchenko e Fréderic Yvon, « Vygotsky, une théorie du développement et de l’éducation », 2011. http://www.unige.ch/fapse/leforcas/files/9214/2608/9943/Vygotsky_1-428. pdf
6. Alexander Luria e o conhecimento da memória
Continuando os trabalhos de Vygotsky, Alexander Luria deu um grande impulso à psicologia histórico-cultural. Um de seus questionamentos era saber como a cultura, por meio da linguagem, influenciava o pensamento.
Alexander Luria é um renomado neurologista e psicólogo de origem russa, como Vygotsky. Luria contribuiu de maneira considerável para o conhecimento da memória. Estudou durante mais de quarenta anos os diferentes aspectos do processo mnêmico, ao nível celular, molecular e morfofisiológico. Ele optou por um conceito mais preciso do que o do rastro mnêmico, ou seja, a própria estrutura da atividade mnêmica. Luria confirmou o papel do sistema límbico, sobretudo do hipocampo no “armazenamento” e na consolidação das impressões corticais e na conservação das impressões procedentes da experiência direta (14).  
Suas experiências como, por exemplo, os dois pacientes citados abaixo, a memória sinestesicamente perfeita, prodigiosa de Chereshevsky e a incapacidade de se lembrar de Zasetsky (que foi atingido por uma bala no cortex parieto-ociptal esquerdo), levaram Luria a concluir que existiam vários tipos de memória. Luria contribuiu amplamente para memória como um conceito plural “memórias” (15). 
Entre os anos 60 e 80 surgiu à teoria do “ambiente enriquecido” elaborada por Mark Rosenzweig, Marian Diamond e Arnold Scheibel, entre outros, que até hoje é fonte de controvérsias, ou seja, o mito da necessidade de estímulo precoce, entre 0 e 3 anos de idade suscetível de assegurar o desenvolvimento ideal do cérebro. Segundo essa teoria os três primeiros anos de vida seriam cruciais e determinariam o que o humano iria ser no futuro.
(14) H. Trocmé-Fabre, Op. Cit., 2002. 
(15) Alexandre Luria, L’homme dont le monde volait en éclats (O homem cujo o mundo se fragmentava), 1995
7. As pesquisas de Greenough e Bruer
Em 1997, a partir dessa teoria do “ambiente enriquecido” William Greenough, fazendo experiências com ratos, pode observar que a densidade sináptica podia aumentar quando indivíduos eram colocados em um ambiente complexo, por exemplo, no caso da experiência com outros ratos e diversos objetos a serem explorados. Quando esses ratos foram submetidos a um teste de aprendizagem em um labirinto ficou demonstrado que eles passavam o teste com sucesso e mais rapidez que os outros ratos que se encontravam em ambientes pobres. Resumindo: a lógica da sinaptogênese é que, quanto mais sinapses disponíveis houver, mais a atividade e a comunicação neurais potenciais serão elevadas, mais será possível aprender melhor. 
John Bruer (filósofo americano) afirmou inúmeras vezes que os estudos efetuados sobre esse assunto dos três anos cruciais não permitem formular princípios fundamentais sobre a maneira de melhorar a educação. Como ele diz “as crianças precisam de alguém para cuidar delas. As primeiras experiências são importantes, mas não decide tudo para o resto da vida. As crianças não precisam de “estímulos especiais” para se desenvolverem normalmente (16). 
No meio de todas essas pesquisas e controvérsias, a aprendizagem ganha um espaço importante. Ao mesmo tempo, o interesse por parte dos pesquisadores aumenta no que se refere a certos aspectos envolvidos na aprendizagem como a atenção, a memória, motivação e as emoções.
(16) John T. Bruer, Tout est-il joué avant 3 ans? (Tudo já está determinado antes dos 3 anos ?), Ed. Odile Jacob, 2002
Por que Neuropedagogia?
Sumário
· 1. Por que Neuropedagogia?
· 2. As publicações de Trocmé-Fabre e o conceito de Neuropedagogia
1. Por que Neuropedagogia?
França, na década de 70, Hélène Trocmé-Fabre, uma dessas vozes em permanente questionamento procura novos caminhos para o ato de aprender. Ao longo de sua experiência como professora, em contato permanente com diferentes parceiros da situação de aprendizagem, ela pode constatar que apesar de todos os meios utilizados, como a renovação dos conteúdos, as ferramentas e as diversas abordagens metodológicas, os problemas de assimilação de novos conhecimentos e os problemas relativos ao “como aprender”, a atenção e a motivação, entre outros continuavam sendo ignorados. 
Mas ela observava também que os parceiros do sistema educacional tomavam consciência de que havia uma lacuna entre os recursos dos”aprendentes” e suas realizações; entre os esforços que todos faziam e os resultados obtidos; entre as expectativas de uns e de outros e os objetivos alcançados. Essa constatação levou-a concluir que era preciso mudar de atitude sobre a “aquisição de conhecimentos”. O sistema educacional continuava voltado somente para os conteúdos, dando muito pouco interesse ao “processo” de aprendizagem, aos recursos perceptivos e ao perfil do aluno. Para ela não existe aprendizagem humana possível, sem compreensão de si mesmo, sem compreensão do mundo que nos cerca, sem disponibilidade para com seu próprio ser. 
No início dos anos 80, encorajada e respaldada pelas pesquisas inovadoras sobre o funcionamento do cérebro, mas também pela abordagem sistêmica que já se desenvolviam nos Estados Unidos e em vários lugares do planeta, Hélène Trocmé Fabre decide focar sua tese de doutorado sobre os avanços da neurociências e o envolvimento delas na aprendizagem. 
A pesquisadora cria o conceito de “neuropédagogie” (neuropedagogia), estabelecendo assim um diálogo entre nosso cérebro (neuro) e a pedagogia ( a arte de aprender).
2. As publicações de Trocmé-Fabre e o conceito de Neuropedagogia
Em 1987, Hélène Trocmé-Fabre publica pela primeira vez o livro J’apprends, donc je suis, une introduction à la neuropédagogie (Aprendo, logo existo, uma introdução à neuropedagogia) e que foi lançado em 2016 no Brasil. 
Nosso cérebro, como afirma Hélène Trocmé-Fabre é nosso órgão de aprendizagem por excelência, a pedagogia mais do que qualquer outra disciplina encontra sua legitimidade sob o prefixo “neuro”. Embora ela ainda seja considerada, por muitos, como uma disciplina para professores e que esse conceito tenha se desgastado com o tempo, é mais do que urgente resituá-la, valorizá-la como uma transdisciplina, por meio, entre e para além das disciplinas porque seu objeto principal é o aprender, nossa capacidade fundamental (17). 
A neuropedagogia, como diz Hélène Trocmé-Fabre é um apelo para que retornemos às raízes biológicas da aprendizagem. Um apelo por uma aprendência bionômica, ou seja, que rege a vida. Um apelo por uma aprendizagem/aprendência ecológica, que leva em conta as relações daquele que aprende com seu meio ambiente. Um apelo por uma emergência do ser e sua transposição para além da própria existência porque nascemos para aprender e para descobrir nosso próprio potencial na duração. 
Cada ser humano, seja qual for sua idade, sua origem, sua hereditariedade, seu passado, seu futuro… tem um direito fundamental: o de desenvolver sua inteligência, sua capacidade para compreender o mundo que o cerca, e para saber quem ele é. 
É necessário repetir com insistência:a natureza equipou-nos para aprender, para captar o que vemos, ouvimos e ressentimos. Mas, o mecanismo só poderá funcionar bem se não estivermos sobrecarregados por aquilo que cremos saber… A aprendizagem é um nascimento que deve ser feito sem precipitação, a seu ritmo e na hora exata. 
(17) Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002.
A neuropedagogia atualmente
Sumário
· 1. A neuropedagogia atualmente
· 2. Educar é tarefa de quem?
· 3. Onde está o professor?
1. A neuropedagogia atualmente
“Não nomear bem o objeto é aumentar o sofrimento do mundo” Albert Camus (18)
Atualmente, a “neuropedagogia” vem sendo substituída pelo conceito de “neuroeducação”. Porém algumas perguntas que vêm à mente precisam ser esclarecidas: Trata-se realmente de educar? O que colocamos sob o conceito de “educar”? O que leva os parceiros da situação educacional a preferirem “neuroeducação”, em vez de “neuropedagogia”? 
O verbo “educar” tomou um espaço enorme no panorama da aprendizagem, colocando um véu sobre quase todos os outros verbos envolvidos com o aprender, como por exemplo, o próprio verbo aprender, o verbo instruir, o verbo ensinar. A dificuldade talvez venha do fato de não sabermos exatamente o que colocar sob esses conceitos. Nós não somos capazes de definir com clareza qual é o papel de cada um, quem é quem na história. Nós, os pais, queremos que nossos filhos sejam “educados”, queremos que eles sejam “instruídos”, queremos que eles sejam “ensinados”. E diante da organização da sociedade atual, por razões múltiplas, delegamos cada vez mais essa tarefa à Instituição Educacional. 
2. Educar é tarefa de quem?
Antigamente com frequência, mas ainda hoje ouvimos a expressão “a educação vem do berço”, no sentido de que educar era da incumbência dos pais. Estes deveriam “entregar” à sociedade um ser “já com as regras de bases”, ou seja, as regras de comportamento ético, do respeito aos outros, de respeito às coisas e do respeito de si mesmo. Valores que aprendemos independente de nosso grau de instrução, de nosso grau de ensino e de nossa condição social. Somente aos 7 anos ou até mesmo mais tarde para alguns países, as crianças iam para escola para serem instruídas. Atualmente, nós entregamos nossos filhos à sociedade cada vez mais cedo para serem ao mesmo tempo educados e instruídos. 
Será que quando deixamos a educação de nossos filhos nas mãos da Instituição, mesmo sendo uma Instituição Educacional, não cometemos um erro de apreciação, de percepção, de conceituação? 
Será que é o papel da Instituição e dos professores, educar nossos filhos? O sistema educacional da maneira como ele é organizado só poderá instruir e é o que ele faz se observarmos a etimologia de “instruir” = amontoar materiais, ajuntar. O aluno/aprendente vai amontoando conhecimentos, na maioria dos casos desconectados uns dos outros, com um único objetivo um diploma no final. 
O interessante nessa batalha de conceitos, é o lugar do verbo ensinar. O verbo ensinar tentou realizar a proeza de reunir “educar e instruir”. Porém, vemos por inúmeros exemplos que os resultados não foram alcançados, apesar de todos os esforços e de todos os investimentos. Os professores estão mais desencorajados. O verbo ensinar caiu em uma armadilha, ficando entre uma Instituição desastrosamente burocrática e cada vez mais exigente e uma educação com pais totalmente impotentes diante das imensas transformações do mundo atual. 
O conceito de “ensinar” ao longo do tempo foi se tornando um conceito “fora do solo” e tão flexível que acabou se adaptando a qualquer uso, perdendo seu verdadeiro sentido. 
Provavelmente, será preciso esclarecer o papel de cada um desses conceitos e reajustar a linguagem/língua para podermos encontrar soluções para pais desarmados, professores infelizes, alunos desamparados.  
3. Onde está o professor?
Imagem: http://londrescalling.canalblog.com/archives/2012/10/02/25198645.html
Educar, instruir, ensinar, se eles são pertinentes, eles nunca poderão ser outra coisa que uma faceta do verbo aprender. Logo, é para esse conceito que temos que voltar o nosso olhar. O Ministério da Educação ganharia muito e provavelmente encontraria o verdadeiro sentido se ele fosse chamado de Ministério do Aprender. 
Hélène Trocmé-Fabre estava pelo menos uns vinte anos à frente, quando ela preparou sua tese sobre a Neuropedagogia, onde seu maior centro de interesse era o aprender. Mas, como ela diz: “Em um sistema educacional sobrecarregado de certezas não é possível mudar as mentalidades de um dia para outro”19. Apesar de toda a sua pertinência o conceito de “neuropedagogia” ainda tem encontrado dificuldades para ser aceito, os interessados preferindo substituí-lo pelo conceito de “neuroeducação”. 
A preferência pelo termo “neuroeducação” vem, provavelmente, do fato desse termo entrar no molde já pré-estabelecido. Mudar é talvez correr o risco de perder o controle e o ser humano, como podemos constatar, sempre foi atraído pela vontade de controlar. Ele buscará infinitamente meios, palavras, conceitos que o levam nessa direção. 
Logo, “neuropedagogia?”ou “neuroeducação?” Somente o futuro determinará a prevalência
Resumo da Unidade
Nesta Unidade, compartilhamos uma reflexão em torno do conceito de Neurociências. Ressaltamos o impacto das pesquisas e descobertas que conduziu ao conceito de Neuropedagogia. Como pudemos observar as novas ciências que estudam o cérebro humano se tornaram atualmente imprescindíveis para a aprendizagem. Essa é uma das razões que nos levou a dar enfoque ao cérebro e a nossa capacidade inata que é a capacidade para aprender. O conhecimento desses dois conceitos, cérebro e aprender, nos deram a possibilidade de esclarecer ao mesmo tempo os conceitos de educar, instruir e ensinar.
Nosso cérebro e o verbo aprender são dois elementos fundamentais que nos pertencem inteiramente. Por isso foi importante e urgente mostrar, respaldando-se nas Neurociências, como eles funcionam e como eles se articulam. É totalmente surpreendente saber que foi preciso três revoluções (quântica, biológica e informática) para tomarmos conhecimento deste fato. 
Portanto, nosso intuito foi convidar o leitor aluno/aprendente a conhecer essas descobertas e esse novo campo, tornando-se explorador de seu próprio questionamento, esperando que estando consciente dessa riqueza que nos pertence, desperte nele uma grande alegria e uma enorme sede para conhecer mais.
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	segunda, 18 mai 2020, 17:15
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Questão 1
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Texto da questão
Estudos recentes das neurociências mostram que existe uma relação entre nossas emoções e nossos comportamentos. Alguns dos elementos que interagem em nosso cérebro entram como elementos nessa relação, como por exemplo, os neurotransmissores. Estes entram como reguladores para o nosso bem-estar. Sem eles seríamos incapazes de pensar, compreender, sentir alegria ou tristeza. Eles são importantes para a aprendizagem e a sociabilidade. Muitas vezes, quando a síntese ou a liberação de neurotransmissores é interrompida podem surgir desmotivação, ansiedade e até depressão.
 
Analise as assertivas e marque a opção correta
 
I.      Os neurotransmissores atuam entre as emoções e comportamentos de um organismo.
II.    A capacidade de sentir emoções não é função exclusiva dos neurotransmissores.
III.  Reguladores e neurotransmissores interagem na aprendizagem.
IV. A interrupção da síntese não é inevitável.
V.   Depressão é uma sensação decorrente do processo de sociabilidade.
 
Podemos dizer que a opção que contém as afirmações corretas são:
Escolha uma:
a. II,IV e V
b. I,III e IV     
c. III,IV e V
d. I, II e IV  
e. I,IV e V 
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Sua resposta está correta.B
Questão 2
Correto
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Texto da questão
A teoria do “ambiente enriquecido”, ou seja, da necessidade de estímuloprecoce, entre 0 e 3 anos de idade, suscetível de assegurar o desenvolvimento ideal do cérebro é, até hoje, fonte de controvérsias. Segundo essa teoria, os três primeiros anos de vida seriam cruciais e determinariam o que o humano iria ser no futuro. Outros estudos efetuados sobre esse assunto mostraram em seguida que as primeiras experiências são importantes, mas elas não decidem tudo para o resto da vida.
Considerando as informações do texto, a quem é atribuído a frase: “As crianças não precisam de estímulos especiais para se desenvolverem normalmente, as crianças precisam de alguém para cuidar delas”.?
Escolha uma:
a.
Jean Piaget, biólogo e psicólogo suíço.
b.
Lev Vygotsky, psicólogo e filósofo russo.
c.
James Baldwin, filósofo e psicólogo americano.
d.
Alexander Luria, psicólogo russo.
e. John Bruer, filósofo americano 
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Sua resposta está correta.E
Questão 3
Correto
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Texto da questão
Donald Hebb (1949), neuropsicólogo canadense, está na origem do conceito de “assembleias neuronais” (cell assembly), ou seja, certas conexões sinápticas entre grupo de neurônios quando reforçadas, levam os circuitos formados por esses neurônios a agirem como uma entidade única. Segundo ele, os neurônios, mesmo estando distantes uns dos outros, colaboram mutuamente no processo da informação dentro do cérebro. Ele considera essas assembleias neuronais como sendo unidades funcionais de base do cérebro e sugere que mesmo na ausência de estímulos externos, uma assembleia neuronal pode sustentar a atividade cerebral autônoma. Para ele, se dois neurônios são ativados ao mesmo tempo, as sinapses entre esses neurônios serão reforçadas. A sinapse de Hebb é fundamental para a nossa compreensão global da plasticidade do cérebro e para a aprendizagem, porque esta última se apoia sobre a plasticidade dos circuitos de nosso cérebro, ou seja, a capacidade dos neurônios de alterar de forma durável a eficácia de sua transmissão sináptica.
 
No caso desse texto, identifica-se que é impróprio dizer que assembleia neural:
 
I.      Permite ação de forma completa unindo os circuitos de neurônios.
II.    A distância dos neurônios não impede a relação entre os mesmos.
III.  A autonomia cerebral não é sustentada pela assembleia neural.
IV. As sinapses são reforçadas com a ativação de dois neurônios.
V.   A aprendizagem não se apoia na plasticidade dos circuitos do cérebro. 
 
Identifique as respostas correspondentes:
Escolha uma:
a. I e II  
b. III e II      
c. V e IV    
d. III e V 
e. IV e I
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Questão 4
Correto
Atingiu 3,00 de 3,00
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Texto da questão
Hélène Trocmé-Fabre (2002), autora que criou o conceito de neuropedagogia, diz que ao longo de sua experiência como professora, ela pôde constatar que havia uma lacuna entre os recursos dos “aprendentes” e suas realizações, entre os esforços que todos faziam e os resultados que eram obtidos, entre as expectativas de uns e de outros e os objetivos que se desejava alcançar e que apesar de todos os meios utilizados, os problemas de assimilação de novos conhecimentos e os problemas relativos ao “como aprender”, a atenção e a motivação, entre outros, continuavam sendo ignorados no mundo educacional. O sistema educacional continuava voltado somente para os conteúdos, dando muito pouco interesse ao “processo” de aprendizagem, aos recursos perceptivos e ao perfil do aluno. Essa reflexão a levou ao questionamento: será que pode existir uma aprendizagem humana possível sem compreensão de si mesmo, sem compreensão do mundo que nos cerca, sem disponibilidade para com o seu próprio ser?
 
A preocupação de Hélène Trocmé-Fabre ateve-se:
 
I.      na irregularidade entre os recursos e realizações na aprendizagem.
II.    na neutralidade de assimilação e ampliação de conhecimento.
III.  na excelência e  direcionamento dos conteúdos.
IV. ao perfil do “aprendente” que é importante para a aprendizagem.  
V.   ao sistema educacional que se preocupa com a aplicação dos conteúdos.
 
A opção que contém as assertivas corretas é:
Escolha uma:
a. V e IV    
b. II e III
c. I e IV 
d. III e IV
e. I e II
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Sua resposta está correta.C
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Objetivos desta Unidade
· Conhecer alguns elementos de base que compõem a dinâmica do funcionamento cerebral;
· Identificar nossas capacidades, nossas possibilidades e nossas conexões para sermos capazes de desenvolvê-las melhor; e 
· Articular os elementos da dinâmica do cérebro e os recursos para uma aprendizagem eficiente
“Nossa mente não funciona como uma câmera ou uma máquina. Qualquer percepção é uma criação e toda a memória é uma re-criação”. Oliver Sacks, Um antropólogo em Marte, 2003.
Figura 1: Máquina (link: http://www.ndig.com.br/item/2013/04/ir-registra-mquina-que-prediz-o-futuro-com-98-de-preciso)
Sumário
· 1. O Cérebro um sistema de conexão o papel do corpo caloso
· 2. Aula 2
· 3. Aula 3
· 4. Aula 4
O Cérebro um sistema de conexão: o papel do corpo caloso
1. O Cérebro um sistema de conexão o papel do corpo caloso
Cem bilhões de neurônios quando um bebê humano vem ao mundo! Cem bilhões é muito! Mas, o mais impressionante é que essa quantidade não acaba nesse número. Uma vez que o bebê nasce ele vai fazer proliferar conexões entre seus neurônios e quando esse humano atinge a puberdade, ele chega com uma coleção de 10.000 conexões por neurônio. Logo, para esses cem bilhões isso fará um milhão de bilhões de conexões21. 
Esses cálculos efetuados por Albert Jacquard, matemático e geneticista francês mostra o potencial que temos a nossa disposição. 
Como ele diz é simplesmente fabuloso o que temos dentro de nosso cérebro. Se tivéssemos que contar somente nossos neurônios, cem bilhões?!!!... levaria muito tempo. E se tivéssemos que contar nossas conexões, um milhão de bilhões de conexões, é melhor nem começar, nunca chegaríamos ao final. Iríamos precisar viver muitas vidas, só contando. 
Neste e-Book, tentaremos abordar o funcionamento de nosso cérebro e mostrar alguns elementos que compõem essa dinâmica. Queremos deixar claro aqui que não somos especialistas do sistema nervoso, mas pensamos que precisamos ter um melhor conhecimento dos mecanismos cerebrais envolvidos no ato de aprender para podermos ser autor e ator de nossa história. 
Nosso cérebro é uma estrutura biológica complexa segundo Hélène Trocmé- Fabre, nosso sistema educacional tem a tendência de utilizar somente um de seus níveis que é o cortical (o intelectual). Ignorar a complexidade do cérebro é empobrecê-lo
2. Aula 2
Nosso potencial e as características do funcionamento de nosso cérebro não podem mais ficar nas mãos, exclusivamente, dos especialistas, porque se trata da compreensão de nós mesmos e dos Outros. Conhecendo nossos recursos, seremos capazes de administrá-los e desenvolvê-los melhor. Este é o grande caminho para a Autonomia. 
Nós possuímos uma reserva ilimitada de possibilidades, de configurações, de conexões, de estados mentais. Essa realidade cerebral traduz a riqueza, a diversidade e a unicidade do cérebro humano (não existem dois cérebros iguais em toda a humanidade). Os avanços das neurociências e das novas tecnologias nos proporcionam hoje essa oportunidade. Precisamos agarrá-la com urgência, para que não permanecermos na superfície desse conhecimento. 
Não podemos mais ignorar o mais fantástico de todos os “maestros”, regendo essa extraordinária e extravagante sinfonia do nosso corpo se regulando, na sua relação com o meio ambiente, adaptando-se na sua relação com os Outros, evoluindo, na sua relação consigo mesmo, que é como diz Hélène Trocmé-Fabre, a mais justa definição do aprender. 
Para muitos o tema que segue parece evidente e conhecido. Mas nosso objetivo é partir daqueles que ainda não sabem. Serão apenas breves informações. Os interessados pelo assunto poderão encontrar milhares de outras informações, nos livros especializados e em vários sites na Internet. 
O que precisamos saber em primeiro lugar é que nosso organismo é um sistema, composto de váriosoutros sistemas (sanguíneo, digestivo, endócrino, linfático, muscular, respiratório... e o sistema nervoso...). Este último é composto de dois outros sistemas: O sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. O sistema nervoso central é composto do encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco cerebral) e da medula espinhal. O sistema nervoso periférico é constituído dos 
20 https://www.todamateria.com.br/sistema-nervoso/ 
nervos cranianos e da coluna vertebral, partindo da medula espinhal. 
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sistemanervoso2.php 
http://lecerveau.mcgill.ca/flash/d/d_01/d_01_cr/d_01_cr_ana/d_01_cr_ana.html 
21 O mundo, segundo Albert Jacquard (Conferência em Vanosc-Ardêche, Jean Dornac, Jun 2004). 
http://www.ethologie.info/revue/spip.php?article15
3. Aula 3
 No que se refere a este e-Book, abordaremos somente o sistema nervoso central. O sistema nervoso central é o centro de processamento das “ informações”. É a sede dos nossos pensamentos, nossas emoções, nossa memória, nossa percepção etc. 
O cérebro ocupa a maior parte do encéfalo e está no comando do sistema nervoso. Ele tem o controle de todos os órgãos do corpo, das funções motoras e cognitivas e da produção hormonal. Ele se divide em dois hemisférios (esquerdo e direito) e quatro lobos (frontal, parietal, temporal e ocipital). Ele é composto de células cerebrais, as células da glia e os neurônios que recebem e transmitem as informações. 
Oliver Sacks, neurologista britânico, diz que o cérebro é muito mais do que um conjunto de módulos autônomos onde cada um seria imprescindível para uma função mental específica. Cada uma dessas áreas funcionalmente especializadas deve interagir com dezenas ou centenas de outras, sua integração total cria uma espécie de orquestra da mais alta complexidade que reúne centenas de instrumentos diferentes, onde a partição e o repertório mudam continuamente.
Mas, o cérebro, embora tendo um papel fundamental, ele é uma parte de um todo, porque ele está continuamente em interação com o resto do corpo. Ele assegura, ao mesmo tempo, as funções vitais, controlando a frequência cardíaca, a temperatura corporal, a respiração etc., e as funções ditas “superiores”, como a linguagem, o raciocínio ou a consciência.
Os principais componentes do tecido cerebral são as células gliais e os neurônios (células nervosas ). O neurônio é considerado como a unidade funcional de base do cérebro, por causa de sua importante interconectividade e sua especialização em termos de comunicação. Os neurônios estão organizados em redes funcionais localizadas em diferentes áreas do cérebro.
4. Aula 4
O cérebro evolui e se desenvolve durante toda a vida. Esse desenvolvimento depende, ao mesmo tempo, da biologia e da experiência. As tendências genéticas interagem com a experiência para determinar a estrutura e o funcionamento do cérebro a cada momento. É essa interação constante que faz que cada cérebro seja único.
Reunindo os dois hemisférios cerebrais, encontramos o corpo caloso. O corpo caloso é um grande feixe de fibras nervosas através do qual, os dois hemisférios se comunicam. Milhões e milhões de axones (fibras nervosas, prolongamento do neurônio que conduz o sinal elétrico do corpo celular em direção das áreas sinápticas) colocam em relação regiões semelhantes ou não semelhantes dos hemisférios cerebrais. As regiões conectadas por fibras calosas são chamadas áreas associativas. A rede de fibras é gigantesca. As áreas associativas representam 80% do córtex cerebral. Porém, o mais importante a ressaltar aqui é que nosso corpo caloso não é um feixe de fibras nervosas que separa os dois hemisférios cerebrais, mas um feixe de fibras nervosas que reúne os dois hemisférios cerebrais.
Ele desempenha um papel muito importante na coordenação dos movimentos dos membros. O corpo caloso é totalmente mielinizado por volta do décimo ano (a mielina é uma substância que serve para isolar e proteger as fibras nervosas).
A mielinização começa na extremidade posterior do corpo caloso, na área visual e se propaga de trás para frente, em direção dos lobos frontais. Segundo Hélène Trocmé-Fabre é só quando o processo estiver bastante avançado para reunir os dois hemisférios em sua totalidade, que as tarefas complexas de abstração poderão ser realizadas.
O processo pode ser mais lento com certas crianças. A diferença entre uma criança considerada “retardada” e uma criança considerada “superdotada” (PAH = Portador de Altas Habilidades) consiste no tempo que ambas levarão para assimilar uma informação e adaptá-la. Esse tempo pode variar de três meses (para a criança superdotada) e um ano e meio e às vezes, até dois anos para a criança “retardada”. Por outro lado, na idade de onze anos, o crescimento cerebral não seria o mesmo para as meninas e os meninos. Esse impulso seria duas vezes mais forte nas meninas do que os rapazes. Aos quinze anos ocorreria o contrário.
Trata-se, portanto de adaptar os conteúdos dos programas e a pedagogia para que nenhuma categoria de aprendentes perca a confiança ou percam o interesse pelas atividades escolares que não correspondem às suas aptidões. Do mesmo modo, visto que o desenvolvimento cerebral não se faz de maneira regular, mas por impulsos seguidos de pausas, a pedagogia deveria se adaptar aos períodos de repouso para consolidar os conhecimentos, desenvolver uma aprendizagem experimental, um ensino por tutoria etc.
Segundo Hélène Trocmé-Fabre, a linguagem do corpo caloso (4 milhões de mensagens por minuto !) não recebe a devida atenção do mundo médicoeducacional. Essa forma de conexão parece ser utilizada preferencialmente pelos canhotos do que pelos destros. No mundo ocidental feito para destros é indispensável informar os interessados que ainda recebem uma etiqueta que os incomodam. O corpo caloso é o canal por onde passa uma informação que já foi processada.
Os professores e os pais não devem esquecer que possuímos uma reserva ilimitada, de possibilidades, configurações, conexões, estados mentais, o que traduz a riqueza, a diversidade e a singularidade do cérebro humano.
Alguns elementos da nossa vida cerebral
Sumário
· 1. Os dois hemisférios, os neurônios, as sinapses, neurotransmissores, as células da glia, impulso nervoso etc
· 2. Alguns elementos da nossa vida cerebral
· 3. Como funciona a comunicação dos neurônios?
· 4. As células da glia
· 5. As sinapses
· 6. Os neurotransmissores
· 7. Exemplo de tipos de neurotransmissores (Parte 1))
· 8. Exemplo de tipos de neurotransmissores (Parte 2)
1. Os dois hemisférios, os neurônios, as sinapses, neurotransmissores, as células da glia, impulso nervoso etc
Os dois hemisférios: o equilíbrio do poder (Contraria sunt complementa)
Cada hemisfério cerebral cuida de um lado do corpo. O controle é cruzado. O hemisfério direito cuida do lado esquerdo e o hemisfério esquerdo cuida do lado direito. Eles estão sempre buscando o equilíbrio, embora de acordo com a situação, eles procedam de maneira diferente.
procedam de maneira diferente. O diálogo entre eles é feito através do corpo caloso. Quando há uma ruptura de simetria (usando aqui os termos de Nicolescu Basarab) nesse diálogo, um dos dois hemisférios toma o “controle”, inibindo a intervenção do outro, para poder dar uma resposta adaptada ao que está sendo solicitado.
Apesar de serem complementares, eles não são simétricos. A linguagem, por exemplo, é tratada principalmente pelo hemisfério esquerdo, mas isso não é sistemático porque o hemisfério direito pode intervir quando necessário. Roger Sperry e Michael Gazzaniga mostaram que os hémisférios separados por uma calosotomia podiam funcionar de maneira independente, obtendo raciocínios distintos a partir das informações que cada hemisfério tinha acesso.
Cada hemisfério tem sua especificidade. O hemisfério direito trata as informações visuais e espaciais que permitem a localização no espaço. Ele trabalha de maneira rápida, simultânea, sintética e global. Ele se apoia na experiência. Ele é intuitivo e parte da dedução. O hemisfério esquerdo encarrega-sedas tarefas de compreensão e produção da linguagem. Ele trabalha de maneira lenta, precisa, analítica, detalhada, sequencial, lógica. Ele parte do detalhe rumo à complexidade. 
As atividades de cálculo, a escrita, a fala, a categorização, a diferenciação, a seleção, a compreensão semântica etc., são em geral reconhecidas como sendo específicas do hemisfério esquerdo. Quando este é danificado aparecem os problemas de sintaxe, de denominação, de percepção das sequências. Já a linguagem estereotipada, os sons não verbais, as melodias, os ruídos, os ritmos, as relações espaciais, a compreensão intuitiva… são reconhecidos como características do hemisfério direito. Quando este hemisfério é danificado, observamos que os problemas de percepção periférica, de entonação, de orientação espacial, ou então, mudanças de humor. Por muito tempo, o hemisfério direito foi considerado como passivo e inferior ao hemisfério esquerdo. Com as novas pesquisas, o hemisfério direito vem sendo reabilitado.
Os dois hemisférios analisam. Ambos são capazes de perceber os conjuntos, tanto o hemisfério direito como o hemisfério esquerdo são capazes de reconhecer as fisionomias, o que a maioria das pesquisas passadas atribuía somente ao hemisfério direito. Logo, é importante levar em conta a influência das características dos estímulos e do método utilizado.
Segundo Trocmé-Fabre, não somente é confirmada a necessidade de ir do global para o analítico, do contexto para o detalhe, do geral para o particular, mas os formadores são solicitados a construírem um programa de plena ocupação do cérebro, sobre a base da cooperação dos dois hemisférios. Observe, a seguir, a Figura 7:
2. Alguns elementos da nossa vida cerebral
Esquema A:
As células do nosso cérebro
O sistema nervoso é composto de dois tipos de células: as células da glia e os neurônios.
Os neurônios, como todas as células do nosso organismo possuem uma membrana cercando um citoplasma e um núcleo (o corpo celular) onde se encontram os genes.
A atividade principal dos neurônios é transmitir a informação e para isso eles possuem dois tipos de prolongamentos que os distinguem de outras células. Esses prolongamentos são: os dendritos e os axônios. Os dendritos (vem do grego dendron = árvore) se dividem como ramos de uma árvore, captam a informação e a encaminham para o corpo da célula. O axônio em geral é bem comprido e único. Esse axônio encaminha a informação do corpo da célula para outros neurônios com os quais ele faz conexões que são chamadas de sinapses. Os axônios podem também estimular outros tipos de células, como as dos músculos e das glândulas.
Os neurônios organizam-se entre eles, constituindo uma fantástica rede.
Essas células recebem e transmitem sinais de natureza eletroquímica. Os dendritos e os axônios asseguram a transmissão desses sinais. Os dendritos recebem os sinais e os axônios os transmitem.
Todas as nossas sensações, nossos movimentos, nossos pensamentos e nossas emoções são o resultado da comunicação entre os neurônios. Essa comunicação é assegurada através de dois processos: a condução elétrica e a transmissão química.
A condução elétrica permite ao impulso nervoso viajar rapidamente dentro do mesmo neurônio. Trata-se de uma breve variação elétrica que se propaga dos dendritos ao corpo celular até ao final do axônio.
A transmissão química efetua-se ao nível da sinapse. Ela permite transmitir o impulso nervoso de um neurônio para outro. Essa transmissão é chamada de transmissão química. Trata-se da difusão de moléculas químicas entre os neurônios, permitindo ao impulso elétrico passar para o próximo neurônio.
Segundo Bruno Dubuc, biólogo e pesquisador canadense, não devemos confundir a condução elétrica do impulso nervoso dentro dos neurônios com as sinapses elétricas. Estas podem transmitir o sinal elétrico diretamente de um neurônio para o outro.
Neuropedagogia
 
Alguns elementos da nossa vida cerebral
3. Como funciona a comunicação dos neurônios?
Os neurônios se comunicam entre eles graças a eletricidade e a química.
Os neurônios se comunicam, usando a eletricidade quando se trata do mesmo neurônio e usando a química quando se trata de passar de um neurônio para o outro.
Eles recebem as informações sob forma elétrica, nessa super arborescência, os dendritos, indo até o âmago/núcleo da célula neuronal, onde elas são processadas. O neurônio desencadeia então um novo sinal elétrico que vai se propagar a quase 400km/h, ao longo de filamento. No final desse filamento se encontra um fabuloso conjunto de conexões orgânicas que são chamadas de sinapses. São pontos de contato entre dois neurônios, são espaços microscópicos Figura 8- Corpo caloso de comunicação, através dos quais cada neurônio vai poder comunicar com outros milhões de neurônios. Os neurocientistas falam de bilhões e bilhões de conexões em nosso cérebro, comparáveis à quantidade infinita de grãos de areia.
Quando o sinal elétrico chega à sinapse, ele libera nesse espaço de um milionésimo de milímetro, milhares de moléculas químicas, chamadas neurotransmissores. Esse contato libera uma cascata de tempestades elétricas que se propagam de neurônio em neurônio, através das sinapses.
Na realidade, essa operação sofisticada dura apenas um décimo de milhar de segundos e cada dia de nossa vida, esse fenômeno terá se reproduzido bilhões de vezes.
4. As células da glia
Ouvimos falar menos das células da glia porque o papel delas na comunicação celular é menos evidente. Segundo estudos recentes, é provável que a quantidade de células da glia seja igual à quantidade de neurônios, aproximadamente 100 bilhões.
As células da glia são extremamente importantes porque sem elas os neurônios não poderiam funcionar corretamente. São elas que alimentam, dão apoio e protegem os neurônios. São elas que eliminam os resíduos deixados pela morte neuronal e aceleram a condução nervosa, agindo como um isolante de certos axônios.
5. As sinapses
A sinapse é o ponto de junção entre dois neurônios
A palavra sinapse refere-se ao lugar onde o axônio se encontra com o dendrito. A palavra vem do grego “syn” (conjunto) e “haptein (unir, tocar). Os neurônios apresentam duas maneiras bem diferentes de se unirem:
A sinapse elétrica onde as células se tocam e são conectadas, através de pequenos orifícios, que permite ao impulso nervoso passar diretamente de uma para outra;
A sinapse química onde as células não se tocam e onde o influxo (impulso) nervoso precisa de moléculas específicas para passar de uma célula para outra;
A sinapse química é formada pelo botão terminal do axônio, contendo mensageiros químicos que serão lançados através da fenda sináptica, antes de atingir o dendrito do próximo neurônio; 
Essas moléculas são os neurotransmissores que são liberados pelo neurônio pré-sináptico e que vai se fixar nos receptores situados em apenas algumas dezenas de nanômetros de distância;
 As sinapses químicas são menos rápidas do que as sinapses elétricas, mas, elas são mais flexíveis e maleáveis, uma característica preciosa na base de toda aprendizagem; 
Em uma sinapse química, o influxo (impulso) nervoso só pode circular em um único sentido, ao contrário da sinapse elétrica onde o impulso circula nos dois sentidos. Além do mais, a transmissão nervosa em uma sinapse química leva 0,5 milisegundos, enquanto que com a sinapse elétrica esse tempo é quase inexistente.
Cada neurônio pode fazer mais de mil sinapses com outros neurônios e como temos mais de cem bilhões de neurônios, isso significa que o cérebro humano contém aproximadamente 1.000.000.000.000.000 de sinapses. Cada milímetro cúbico de córtex contém meio bilhão.
6. Os neurotransmissores
Os neurotransmissores são moléculas que agem como « ferry » químicos, permitindo ao influxo/impulso nervoso passar de um neurônio para outro.
Os neurotransmissores liberados na fenda sináptica podem ter dois efeitos opostos sobre o próximo neurônio.
Alguns favorecem a propagação do influxo nervoso no interior do mesmo. Eles são excitadores.
Outros diminuem a probabilidade do neurôniode enviar um impulso. Eles são chamados neurotransmissores inibidores.
É a forma específica do neurotransmissor que vai permitir que ele se fixe no bom lugar para produzir seu efeito.
O neurotransmissor é como uma chave buscando a boa fechadura. Se sua forma é a boa para o neurônio seguinte, ele vai produzir um efeito nesse neurônio.
7. Exemplo de tipos de neurotransmissores (Parte 1))
A acetilcolina é um neurotransmissor excitador bem disseminado, que provoca uma contração muscular e estimula a excreção de certos hormônios. No sistema nervoso central, ele influi, entre outros, no estado de alerta, na atenção, na raiva, na agressividade, na sexualidade, na sede. 
A dopamina que participa no controle do movimento e da postura. Ele modula também o humor e a dependência. 
O GABA (ácido gama-aminobutírico) é um neurotransmissor inibidor muito disseminado nos neurônios do córtex. Ele participa na coordenação motora, na visão e em várias outras funções corticais. Ele regula também a ansiedade. 
O glutamato é um neurotransmissor excitador super importante. Ele está associado à aprendizagem e a memória
O Influxo (impulso) nervoso
O impulso nervoso é um fenômeno de natureza elétrica que ocorre no sistema nervoso, propagando-se ao longo dos neurônios. 
Porém, essa eletricidade em nosso cérebro não é produzida por elétrons como nos fios elétricos de nossas casas. É o movimento de moléculas carregadas eletricamente por meio da membrana do neurônio que causa esse fenômeno.
Essa condução de natureza particular é chamada de condução eletroquímica, ou seja, eletricidade feita com moléculas químicas.
A membrana dos neurônios como a de todas as células possuem pequenos orifícios chamados canais. É por meio desses canais que as moléculas carregadas eletricamente atravessam a membrana. Mas, ao contrário das outras células, os canais da membrana dos neurônios se especializaram de tal maneira que eles conseguem coordenar o movimento dessas cargas elétricas através da membrana para produzir a condução nervosa.
Essa sequência de acontecimentos da condução nervosa pode ser resumida da seguinte forma:
1. Em repouso, os canais da membrana do neurônio criam uma distribuição desigual de cargas: mais cargas negativas dentro e mais cargas positivas fora; 
2. O impulso nervoso, abrindo ou fechando certos canais reverterá o potencial elétrico de ambos os lados da membrana: durante um breve instante dentro se torna mais positivo que fora; e 
3. O potencial de repouso é rapidamente restaurado pelo trabalho dos outros canais. Mas, já na região vizinha, o fenômeno se repete, propagando assim o impulso nervoso ao longo do axônio do neurônio.
É importante notar que a condução nervosa seria inútil sem o outro componente da comunicação neuronal que é a transmissão sináptica que permite ao impulso nervoso passar de um neurônio para outro.
Como os neurônios não se tocam ao nível de suas sinapses, eles precisam de mensageiros químicos chamados neurotransmissores para fazer passar o impulso nervoso de um neurônio para outro. Essa transmissão química do impulso nervoso leva o axônio e os dendritos a desenvolverem estruturas especializadas para facilitála. Os dendritos possuem assim milhares de “espinhos” que brotam em sua superfície. É no sentido desses espinhos que se situam os botões terminais dos axônios, espécie de protuberâncias onde os neurotransmissores são excretados.
A dupla natureza química e elétrica da nossa vida cerebral, e consequentemente, dos nossos meios de comunicação é explicada por J. D. Vincent, com os seguintes termos:
Na comunicação neuronal há um termo técnico para descrever o impulso nervoso chamado de potencial de ação. Trata-se de uma despolarização breve e reversível que se propaga ao longo do axônio.
O potencial de ação que se estabelece na área da membrana estimulada perturba a área vizinha, levando à sua despolarização. O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio.
O exemplo mais citado para explicar o fenômeno do potencial de ação é o princípio da onda produzida pela torcida em um estádio. Algumas pessoas se levantam e se sentam em um mesmo movimento. Seus vizinhos fazem imediatamente a mesma coisa. Em seguida, os vizinhos dos vizinhos fazem também a mesma coisa, etc. Vemos então uma onda humana percorrer o estádio inteiro. O impulso nervoso que viaja nas fibras nervosas é um fenômeno semelhante. Quando a membrana de um neurônio é estimulada, ela se despolariza. Em seguida, numa fração de segundo, ele se repolariza. Imediatamente, quando o ponto estimulado está sendo repolarizado, o ponto vizinho sobre a membrana, por sua vez se despolariza. Em seguida se repolariza quando o ponto vizinho está se despolarizando etc. Uma onda de despolarização que se originou no ponto estimulado se propaga por toda a membrana do neurônio.
O potencial de ação difere do potencial recepetor (potencial sináptico) em vários aspectos. Primeiro, porque esse potencial de ação não se propaga de maneira passiva, mas ativamente através dos canais iônicos especiais, sensíveis à voltagem, que possui o axônio e de um dispositivo específico que permite acelerar a propagação do potencial de ação.
Segundo, esse processo também requer energia por parte do neurônio que dever garantir a manutenção da atividade das bombas iônicas que servem para reequilibrar as cargas elétricas de ambos os lados da membrana após a passagem do potencial de ação.
Os potenciais de ação são de amplitude e de intensidade invariáveis. Sua formação funciona sob o modo do “ou tudo ou nada”. Ou seja, nada acontece se o estímulo não for suficientemente intenso para excitar o neurônio, desencadeando o potencial de ação. Abaixo do limite de excitação do neurônio, nada ocorre, porém, uma vez que a intensidade do estímulo desencadeador supera o limite de excitação, ele não faz nenhuma diferença entre um pouquinho acima do limite ou amplamente acima do limite. Um potencial de ação sempre se produzirá para uma determinada célula. Não existe potencial de ação mais forte ou mais fraco. Passou o limiar, ele é igual independente da intensidade do estímulo.
8. Exemplo de tipos de neurotransmissores (Parte 2)
Neuropedagogia
 
Alguns elementos da nossa vida cerebral
8. Exemplo de tipos de neurotransmissores (Parte 2)
Um neurônio só pode transmitir a informação variando a frequência dos seus potenciais de ação, ou seja, pelo número de potenciais de ação emitidos em um segundo. 
As alterações do potencial de membrana do neurônio. Exemplos de três situações possíveis na comunicação entre neurônios:
1 - O neurônio recebe o potencial excitador que não alcança o limite de excitação, logo não será possível gerar um novo impulso nervoso; 
2 - O neurônio recebe dois potenciais excitadores cuja soma não permite alcançar o limite de excitação do neurônio e produzir um novo impulso nervoso; e 
3 - O neurônio recebe dois potenciais excitadores cuja soma permite alcançar o limite de excitação do neurônio e produzir um novo potencial de ação.
O potencial de ação é uma inversão temporária do potencial elétrico da membrana do axônio que dura apenas alguns milissegundos.
Após a passagem do potencial de ação, há um breve período refratário durante o qual a membrana não pode mais ser estimulada. Esse fenômeno impede o potencial de ação de voltar, obrigando-o a prosseguir, como a chama que percorre um fio de pólvora. 
Os potenciais de ação são mensageiros essenciais para a linguagem neuronal. O impulso nervoso se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Os dendritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular. O axônio conduz o impulso em direção das extremidades, longe do corpo celular. 
Todas as nossas percepções, nossos pensamentos, nossas lembranças não seriam possíveis sem a condução nervosa que permite a propagação do impulso nervoso. 
O impulso nervoso permite ao vivente controlar seus gestos, compreender ume informação para comunicar. 
Desde os anos 70, as pesquisas em neurobiologia produziramuma quantidade considerável de informações sobre interpenetração dos mecanismos eletro lógicos e neuroquímicos.
Esses mecanismos deveriam ser levados em conta no ato de aprender e para que a aprendizagem possa ser coerente: 
A polaridade que é um fator essencial da troca, durante a qual a energia é transformada de uma forma para outra: química – elétrica – química. 
A diversidade dos neurotransmissores e da sua ação.
A descontinuidade que é outra característica da transmissão do influxo nervoso.
Outros elementos da nossa vida cerebral
1. Amídala
Esquema B
Perto da base do sistema límbico se encontra um pequeno aglomerado em forma de amêndoa chamado amídala. A amídala é uma estrutura complexa com cerca de uma dúzia de sub-regiões. Embora esses núcleos não estejam todos envolvidos nas reações de medo e de agressividade, muitos têm conexões que estão ativamente envolvidas com eles. 
Quando a amídala detecta certos estímulos potencialmente perigosos que ameaçam o organismo, ela coloca em alerta outras estruturas do cérebro que coordenam a resposta de fuga ou de luta do organismo. 
Essa estrutura cerebral fica perto do hipocampo e desempenha um papel na aprendizagem, na memória e, sobretudo na regulação e na decodificação de nossas emoções.
Segundo Daniel Goleman, o hipocampo e a amídala são partes essenciais do cérebro olfativo primitivo a partir do qual foram formados o córtex e o neocórtex. A ablação da amídala, acidental ou não, tira toda capacidade de dar um conteúdo emocional ao que vivemos, é o que chamamos “a cegueira afetiva”.
A evolução reuniu vários circuitos do sistema de alarme de nosso organismo na amídala. Por isso, várias entradas sensoriais convergem para informá-la dos perigos potenciais do seu meio ambiente. Essa informação sensorial lhe vem diretamente do tálamo sensorial ou dos diversos córtices sensoriais.
As pesquisas mostram que a amídala determina nossas ações antes mesmo que nosso neocórtex tenha tido tempo de tomar uma decisão refletida. As relações entre essas duas áreas se encontram no âmago da inteligência emocional.
Na presença de um acontecimento temido ou detestado, a amídala reage instantaneamente e passa o alerta para todas as outras partes do cérebro.
Em reação a um estímulo visual ou auditivo, o tálamo é o primeiro a reagir para busca de soluções. Em seguida, ele envia as informações ao neocórtex (área cerebral da visão, ou da audição) que poderá interpretar a informação e decidir sobre aquilo que será feito. Depois, ele transmite, se for necessária, uma parte das informações para a amídala, ou seja, no centro de controle de nossas emoções.
Porém, a descoberta principal foi constatar que o tálamo transmite também a informação diretamente à amídala ao mesmo tempo em que ele a transmite ao neocórtex e que o trajeto é duas vezes mais curto entre o tálamo e a amídala, ou seja, a amídala recebe a informação antes que esta seja interpretada pelo neocórtex. Isso explica porque, algumas vezes, nós reagimos sem compreender o sentido de nossas ações. A amídala envia as ordens para nosso corpo antes mesmo do neocórtex determinar se é uma ordem boa. É como um circuito paralelo, mais rápido.
Outras pesquisas mostraram que nós reagimos a alguma coisa bem antes que nosso cérebro a tenha interpretado. O hipocampo registra os dados do jeito que vêm e a amídala registra o sabor emocional dos acontecimentos no momento de fortes emoções.
É por isso que sempre nos lembramos de uma infinidade de detalhes do dia do nosso primeiro encontro amoroso ou do que fazíamos durante o anúncio da morte de uma pessoa próxima e de detalhes que podem parecer insignificantes, mas que nós nunca reteríamos em um contexto habitual. A excitação da amídala tem por efeito gravar os momentos de emoção com uma força fora do comum.
Em crianças, a amídala é formada bem antes do resto do cérebro, porque ela é mais próxima de sua forma definitiva desde o nascimento, enquanto que o neocórtex continuará a crescer mesmo após o fim da adolescência.
As primeiras emoções importantes dos primeiros anos de vida estão impressas na amídala, em um momento onde ainda não somos capazes de analisar com palavras essas experiências. Quando essas lembranças retornam provocadas por um estímulo externo, elas desencadeiam emoções que estavam enraizadas no início de nossa vida, quando tudo era novo e surpreendente e que ainda nos faltavam ferramentas para analisar e colocar em perspectiva. Podemos compreender então porque perdemos nossa capacidade de julgamento quando estamos sob a influência de emoções fortes.
Ainda segundo Daniel Goleman, a amídala provoca reações impulsivas e ansiosas, mas, do outro lado do circuito que leva ao neocórtex se encontra, nos lobos pré-frontais, um centro que as regula. Esse centro intervém quando temos medo ou quando estamos com muita raiva. A informação processada pelo neocórtex provoca uma reação que é coordenada por esses lobos que planejam e organizam nossas ações. Se uma resposta emocional é necessária, os lobos pré-frontais encarregamse com discernimento, escolhendo em um leque de possibilidades: atacar ou fugir (como os animais que só têm essas duas possibilidades) ou também apaziguar, persuadir, ganhar a simpatia, sentir-se culpado, gemer, desprezar... O córtex préfrontal age como um pai que acalmaria uma criança impulsiva (a amídala), pedindolhe gentilmente para reagir de outra maneira.
A existência dessas conexões entre o cérebro límbico e os lobos pré-frontais pode provocar, em caso de emoção forte, uma espécie de paralisia neuronal, sabotando a capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória ativa, como quando nós estamos contrariados e que isso nos impede de aprender corretamente.
Pesquisadores demonstraram que, ao contrário de que se poderia pensar, os sentimentos são indispensáveis às decisões racionais e ao raciocínio. Quando a complementaridade se estabelece entre o sistema límbico, o neocórtex, a amídala e os lobos pré-frontais, a capacidade intelectual melhora.
2. Cerebelo
O cerebelo é uma parte do cérebro situado em sua base, atrás do tronco cerebral. O cerebelo integra a informação que ele recebe de outras áreas motoras. Ele coordena nossos movimentos para dar mais precisão e fluidez. Ele nos ajuda também a manter nossa postura e nosso equilíbrio, controlando nosso tônus muscular. Quando repetimos um movimento para aperfeiçoar sua técnica, num esporte ou para tocar um instrumento musical, modificamos certas vias nervosas do cerebelo.
Ao contrário do córtex, essas vias não são cruzadas, de maneira que uma lesão que ocorre em um único lado do cerebelo ocasiona um problema do mesmo lado do corpo.
3. Córtex
O córtex cerebral é um tecido orgânico chamado também substância cinza que cobre os dois hemisférios do cérebro.
O córtex cerebral é a parte do cérebro que permite à espécie humana ser tão diferente dos outros animais. Aproximadamente, setenta e cinco por cento dos cem bilhões de neurônios do nosso cérebro se encontram em alguns milímetros de matéria cinza do córtex.
Proporcionalmente ao nosso peso, nós temos o maior córtex de todos os vertebrados. Além das áreas motoras e sensoriais, nosso córtex também é responsável das características únicas à nossa espécie, como a consciência, o raciocínio, a planificação, a imaginação, a linguagem/língua.
No ser humano, o córtex teve que se plissar para poder caber dentro do crânio. Desdobrado, ele recobriria uma área de 20 decímetros quadrados. O córtex é uma floresta exuberante. Os neurônios formam uma verdadeira rede de árvores dendríticas entrelaçadas, atravessada em todos os sentidos pelos axônios. Como se pergunta Emile Godaux (médico, especialista em neurologia): como uma desordem pode produzir alguma coisa de inteligente?
Porém, essa desordem é só aparente. O córtex cerebral é um puzzle onde se encaixam quarenta áreas especializadas, umas ao lado das outras.
4. Hipocampo
O hipocampo é uma parte antiga do córtex que surgiu com os primeiros mamíferos. É a porta de entrada das informações que serão memorizadas. O

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