Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
65 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ AULA 05 - A MISTIFICAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E CIDADANIA Autora: Patrícia Dantas Vergasta “Existem verdades que a gente só pode dizer depois de ter conquistado o direito de dizê-las.” Jean Cocteau Oi, Querido(a) discente, Chegamos à nossa quinta aula! Na aula anterior estudamos sobre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), vimos alguns aspectos conceituais que envolvem esse tema. Sabemos que o SUAS foi uma das grandes conquistas da Política de Assistência Social. O SUAS preconiza a efetivação dos direitos sociais e consequentemente o cumprimento da cidadania. Nesse sentido vamos estudar sobre a mistificação dos direitos sociais e cidadania. Para alcançarmos nosso objetivo, iremos discutir temas como a concepção dos direitos sociais e cidadania no Brasil, seus reflexos na sociedade contemporânea e a atuação do assistente social na perspectiva do direito. O primeiro momento contará com uma bibliografia de um dos grandes autores que tratam sobre direito e cidadania no Brasil que é José Murilo de Carvalho. Posteriormente, contaremos com outros autores que tratam sobre o assunto tais como: José Rogério Lopes, Carlos Simões, Sônia Fleury, dentre outros. Bons estudos! UM BREVE ITINERÁRIO SOBRE DIREITOS SOCIAIS Nos dias atuais é comum, em nosso cotidiano, as pessoas associarem a cidadania aos direitos civis, políticos e sociais. Nesse sentido, a plena cidadania só seria exercida quando o cidadão desfrutasse de todos esses direitos. O cidadão que não usufruíssem de nenhum dos direitos, não seria considerado então um cidadão. É importante, nesta aula, deixar claro quais são os direitos civis e políticos para desmembrarmos os direitos sociais e podermos juntos perceber a mistificação desses direitos. De acordo com Carvalho (2002), os direitos civis são aqueles considerados fundamentais, tais como: o direito à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. O mesmo autor diz ainda que a garantia de ir e vir assegurada pela Constituição Federal de 1988 é também um dos direitos invioláveis e por isso fundamental ao indivíduo. 66 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Ainda falando sobre os direitos civis ou fundamentais, podemos afirmar que a liberdade de expressão, de manifestar os pensamentos, sentimentos, são também direitos vinculados aos direitos civis. São esses direitos a base da organização da sociedade civil, visto que são eles que garantem que as pessoas possam ouvir e serem ouvidas, que cada membro da sociedade possa respeitar a liberdade de cada indivíduo. De forma genérica, esses são os direitos civis. Figura 1: Liberdade de Expressão Fonte:http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?ex=2&qu=pessoas%20falando#mt:0 Quanto aos direitos políticos, sabemos que são aqueles que garantem a participação do povo no governo da sociedade. A respeito dos direitos políticos, Carvalho (2002), diz que: Seu exercício é limitado à parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstração políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito ao voto que se está falando. (CARVALHO, 2002, p. 9) De acordo com Carvalho (2002), sem os direitos civis não é possível haver direitos políticos, porém os direitos civis podem existir sem os direitos políticos, visto que não haverá a garantia da liberdade de expressão, de opinião e de organização. Os direitos sociais envolvem a garantia à educação, habitação, trabalho, saúde, salário justo, aposentadoria, ou seja, os direitos sociais devem asseguram, ao cidadão, a participação na riqueza coletiva certamente administrada pelo governo. Para Carvalho (2002, p.10) “[...] se os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos políticos a participação no governo da sociedade, os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva”. São os direitos sociais que viabilizam a redução da desigualdade gerada pelo sistema capitalista de produção, já que eles garantem os mínimos sociais. A base dos direitos sociais está sustentada na justiça social. 67 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 2: Justiça social Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=balan%C3%A7a&ctt=1#pg:5|mt:0| Mencionamos os direitos civis e políticos, pois sem eles, a efetivação dos direitos sociais torna-se precário, sem sentido e de difícil acesso. Há algumas décadas, o cumprimento dos direitos sociais eram associados exclusivamente à assistência social, cabendo apenas a esse sistema a viabilização desses direitos. Entretanto, a assistência social, no âmbito dos direitos sociais, estava relacionada ao trabalho de associações, irmandades, às santas casas de misericórdias, instituições de caridade voltadas para atendimento ao pobre dentre outros. Figura 3: Pobreza Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=pobres&ex=1&ctt=1 Durante um longo período da história, os trabalhadores eram explorados de forma perversa sem ter direito a qualquer tipo de benefício. Os trabalhadores só contaram com a legislação a partir da década de 1930, quando Getúlio Vargas vigora a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Podemos afirmar que, em relação aos direitos sociais no Brasil, houve um avanço significativo a partir da década de 1930, já que com o advento da CLT, despertou, por parte do governo, uma significativa atenção para os trabalhadores e para a área social. Nesse sentido, Carvalho (2002) diz que: Desde o primeiro momento, a liderança que chegou ao poder em 1930 dedicou grande atenção ao problema trabalhista e social. Vasta legislação foi promulgada, culminando na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de 1943. O período de 1930 a 1945 foi o grande momento da legislação social. (CARVALHO, 2002, p.110) 68 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê ncia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Citamos, nesta aula, a década de 1930, porém no decorrer da história houve diversas mudanças no âmbito dos direitos civis, políticos e sociais. O processo ditatorial marcou profundamente a história brasileira como um dos períodos mais repressivos e destituídos de direitos naquele período. Durante a trajetória histórica de avanços e conquistas no âmbito dos direitos sociais, podemos citar a década de 1980 como um marco fundamental de evolução democrática. Sobre isso Carvalho (2002) relata que em 1988 foi redigida e aprovada a constituição mais liberal e democrática do Brasil, considerada como uma constituição cidadã. Figura 4: Constituição Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=livro&ex=1&ctt=1#pg:2| Porém, vale ressaltar que as maiores conquistas na década de 1980 foram no âmbito político, visto que, como sabemos, essa década é considerada perdida para a economia. Nesse sentido, por outro lado, essa foi a época em que mais acirraram as discussões sobre os direitos sociais. De forma geral, o direito é o reconhecimento obrigatório de ações constitucionais obrigatórias consideradas indispensáveis e essenciais ao cidadão. São os direitos que garantem a proteção necessária para a sobrevivência do cidadão. A esse respeito Simões (2009, p.59) diz que: “[...] as garantias têm natureza processual, consistindo nos mecanismos ou instrumentos, que o Poder Público assegura aos cidadãos”. No que se refere aos direitos sociais, como já mencionamos, esses são garantidos de forma primordial pela Carta Magna de 1988, esses direitos são diretamente integrados aos princípios da assistência social. Sobre isso, Simões (2009) afirma: O art. 4º, inciso II, da LOAS integra a universalização dos direitos sociais (art. 6º da Constituição Federal) aos princípios da assistência social.Isso denota uma alteração conceitual, do ponto de vista institucional com relação ao papel tradicional, porque supera a ação meramente assistencialista com relação à população socialmente excluída. (SIMÕES, 2009, p.63). Foi a partir da década de 80 que os direitos sociais passam a integrar a política de seguridade social. Sabemos que a assistência social, em sua origem, foi marcada por práticas de benevolência e caridade, assim também os direitos sociais passaram a 69 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ser dever do Estado e direito de todo cidadão. Todos os direitos sociais são de extrema importância para o cidadão, porém podemos afirmar que o direito ao trabalho é primordial para que a família possa ter acesso aos demais direitos e a uma vida digna. É o trabalho que garante ao cidadão o acesso à habitação, a uma boa alimentação, educação, saúde entre outros direitos. Quando o acesso a determinados serviços tornam-se direitos e garantias do cidadão e dever do Estado, rompe, de forma definitiva, a ideia de assistencialismo sustentada durante várias décadas. Figura 5: Acesso a direitos Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=balan%C3%A7a&ex=1&ctt=1#pg:5| De acordo com Simões (2009, p.63), “os direitos da seguridade social inserem-se no campo dos chamados direitos sociais, assim descritos pelo art. 6º da Constituição Federal”. E reafirma: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desempregados, na forma desta Constituição. (SIMÕES, 2009, p.63) Para continuarmos nossa aula, é preciso relembrar o conceito de Seguridade Social, como uma política pública que assegura os direitos à saúde, previdência e assistência social. A seguridade Social deve atender, de forma prioritária, às necessidades sociais por meio de ações do Estado que possa viabilizar tais direitos. Segundo Simões (2009), a definição específica de Seguridade Social foi instituída pela Constituição Federal de 1988 na perspectiva de garantir os mínimos sociais, em especial os direitos à saúde, previdência e assistência social. Dessa forma, a carta Magna estaria garantindo não apenas os mínimos necessários para a sobrevivência do cidadão, mas, sobretudo, sua participação democrática enquanto membro primordial da sociedade civil. A Seguridade Social não surge na década de 1980, ela é composta por toda 70 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ uma trajetória histórica que marcou as práticas de caridade e voluntariado no Brasil, porém foi apenas nessa década que ela se torna política pública, sendo direito do cidadão e dever do Estado. Vale mencionar que no contexto da Constituição de 1988, a Seguridade Social está fundamentada no Artigo 3º, o qual define os objetivos fundamentais. VOCÊ SABE QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS QUE NORTEIAM A POLÍTICA DE SEGURIDADE SOCIAL? Antes mesmo de citarmos os princípios fundamentais que norteiam a política de Seguridade Social, vale lembrar que esses princípios são pautados e legitimados a partir da Constituição Federal de 1988 em seu artigo 193, o qual afirma que o acesso ao trabalho é fundamental para que haja a promoção do bem-estar e justiça social. A esse respeito, Simões (2009, p.98) afirma que: “[...] a Seguridade, com viga-mestra da Ordem Social, é institucionalizada tendo por base o primado do trabalho como direito e dever de todos e, em seguida, princípios orgânicos”. Pode-se, então, afirmar que o trabalho é a principal base que sustenta a viabilidade a uma vida mais justa e menos desigual, é ele um dos direitos fundamentais que devem ser garantidos a todos a fim de assegurar boas condições de alimentação, moradia, educação e saúde. Retomemos à nossa discussão sobre os princípios fundamentais que norteiam a política de Seguridade Social. Esses princípios institucionais são a garantia que fundamentam os direitos sociais, estão explícitos no artigo 194 da Constituição Federal conceituados como os principais objetivos da política de Seguridade Social.São eles: � Universalidade de Cobertura e Atendimento � Uniformidade e Equivalência das Prestações � Seletividade e Distributividade � Irredutibilidade do Valor dos Benefícios � Equidade de Participação no Custeio � Diversidade da Base de Financiamento � Participação da Comunidade na Gestão Administrativa O primeiro princípio, a universalidade de cobertura e atendimento, se refere ao atendimento a todo e qualquer tipo de cidadão independente de cor, raça, etnia, ou qualquer tipo de discriminação que possa dificultar a viabilidade do acesso aos serviços disponibilizados pela Seguridade Social. A partir desse princípio, todo aquele que necessita da política deve ser atendido, tendo como ponto de partida a igualdade 71 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ entre todos os seres humanos. Figura 6: Universalidade Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=diversidade&ex=1&ctt=1 O segundo princípio, a uniformidade e equivalência das prestações, descreve que todos os serviços disponibilizados pela Seguridade Social devem atender a toda população sem nenhum tipo de distinção entre os serviços. Os serviços descritos devem ser prestados de forma idêntica para toda a sociedade. Sobre esse princípio, Simões afirma que: Os benefícios e serviços devem ser idênticos para toda a população, sem distinção urbana ou rural, independentemente de residência, local de trabalho, profissão ou função ou do valor e tipo de prestação. A distinção entre urbana e rural foi extinta, não podendo mais servir de fundamento social para tratamento diferenciado das prestações securitárias. (SIMÕES, 2009, p.101) O terceiro, seletividade e distributividade, é considerado um os princípios mais complexos da Seguridade Social. Esse é um dos principais instrumentos para a redistribuição de renda que visa à equidade e à justiça social. Para Simões (2009), a seletividade tem como objetivo garantir os mínimos sociais prioritários, enquanto que a distributividade está relacionada à redução das desigualdades sociais e regionais ocasionadas pelo sistema capitalista vigente. Vale mencionar que a seletividade obedece a três critérios básicos: a justiça distributiva, as contingências e a qualificação. A complexidade do princípio da seletividade e a distributividade estão justamente relacionadas à redistribuição da renda social, a qual em nosso país não se dá conforme apontam os critérios constitucionais. E sobre o quarto princípio? Você conhece ou já ouviu falar sobre a irredutibilidade do valor dos benefícios? A irredutibilidade do valor dos benefícios se trata da não redução do valor dos benefícios, independente de qualquer tipo de interferência do sistema econômico, da inflação, etc. O valor disponibilizado como direito ao usuário não deve ser diminuído, qualquer que seja a circunstância. 72 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 7: Benefícios Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=dinheiro&ex=1&ctt=1# O quinto princípio é a equidade de participação no custeio. Esse princípio assegura a igual responsabilidade de todos os indivíduos em relação ao custeio da seguridade social, porém esse custeio sempre será proporcional à renda de cada indivíduo. A diversidade da base de financiamento é o sexto princípio, e está relacionado às diversas formas de financiamento da política de Seguridade Social. Não é apenas o indivíduo por meio de seu trabalho o único tipo de contribuição, mas, sobretudo as empresas, a União, Estados e Municípios, todos esses entes são igualmente responsáveis pela contribuição para o financiamento da Seguridade Social. Sobre esse aspecto, Simões (2009, p.105) diz que: “[...] o custeio é assegurado pelas dotações orçamentárias da União, Estados e Municípios e, supletivamente, por recursos da sociedade civil”. O sétimo e último princípio é a participação da comunidade na gestão administrativa. A respeito desse principio, Simões (2009) afirma que: Finalmente, o objetivo mais importante, de forte conteúdo político, é o instituído no art. 10 e no inciso VII, parágrafo único do art. 194 da Constituição Federal, segundo o qual é assegurada a participação da comunidade nos colegiados dos órgãos públicos, em que seus interesses sejam objeto de deliberação. (SIMÕES, 2009, p.104) No tocante à participação popular, sabemos que a sociedade civil desempenha um papel fundamental quando se trata de participação e decisão política no país. O Brasil vivenciou um longo período de silêncio e repressão policial, período em que o Estado através da força, da violência, enfrentava os males sociais que atingiam a população. Simões (2009, p.105) cita o que fala a Constituição Federal sobre a participação da comunidade, “caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos colegiados.” Vale lembrar que quando falarmos a respeito da descentralização da 73 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ administração, estamos nos referindo à participação direta dos setores da população nas decisões políticas e de forma específica essa participação popular se dá no âmbito municipal, já que é a comunidade, que ao se encontrar vulnerável, pode apontar suas principais dificuldades e propor soluções e/ou alternativas para seus próprios problemas sociais. Agora que já discutimos brevemente sobre os direitos sociais e vimos que de forma geral os direitos sociais foram assegurados pela Constituição Federal de 1988 e que eles são essenciais para que todo ser humano possa viver com dignidade, vejamos qual a relação desses direitos com a questão da cidadania e os mínimos sociais no Brasil. Figura 8: Brasil Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=mapa+do+brasil&ex=1&ctt=1 Vale lembrar ainda que muitos avanços ocorreram noâmbito dos direitos sociais após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Um deles foi a determinação do salário mínimo como o limite mínimo para aposentadorias, pensões, deficiente físico e a todos aqueles idosos a partir de 65 anos idade que não têm como prover seu sustento, isso independente de contribuição. Podemos lembrar ainda, a concessão da licença paternidade para os pais, dando cinco dias de licença do trabalho para eles após o nascimento de seu filho. De acordo com Carvalho (2006), em relação aos direitos sociais, a área da educação foi a que mais evoluiu a partir década de 1980, ficando evidente que esse foi um fator decisivo para a ampliação e efetivação da cidadania. A esse respeito reafirma Carvalho (2006): O progresso mais importante se deu na área da educação fundamental, que é fator decisivo para a cidadania. O analfabetismo da população de 15 anos ou mais caiu de 25,4% em 1980 para 14,7% em 1996. A escolarização da população de sete a 14 anos subiu de 80% em 1980 para 97% em 2000. (CARVALHO, 2006, p.206) Além da significativa evolução na área da educação, outra referência de evolução 74 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ foi no campo da previdência social, porém sua evolução foi algo mais complexo. Um forte exemplo foi a introdução do piso salarial para os trabalhadores rurais, além da renda mensal vitalícia para o idoso e deficiente. Porém, apesar de alguns avanços na área dos direitos sociais, o que podemos constatar é justamente o aumento das desigualdades sociais, o que caracteriza a fragilidade das políticas sociais direcionadas para as famílias que se encontram em estado de vulnerabilidade social. Figura 9: Vulnerabilidade social Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=pobreza&ex=1&ctt=1 Quando pensamos em desigualdade social, é evidente que essa desigualdade está relacionada, sobretudo, à questão regional e racial. Porém, é claro que quando se trata de divisão social de renda, a concentração da renda brasileira está nas mãos de uma pequena parcela da população. Nesse sentido, uma grande parte da população experimenta hoje o gosto amargo de extrema pobreza e miséria absoluta. A mistificação dos direitos sociais e cidadania, que é nosso tema central, está justamente relacionado com a falta de clareza e cumprimento das leis garantidas pela Carta Magna de 1988. Isso também é reflexo da ausência de uma ampla organização e autonomia da sociedade civil em nosso país, além de escolha equivocada de representantes políticos que possam viabilizar tais direitos. CIDADANIA, DIREITOS SOCIAIS E OS MÍNIMOS SOCIAIS. Quando nos reportamos aos direitos sociais, também estamos nos referindo à garantia do mínimo necessário para sobreviver. Sabemos que os mínimos sociais estão diretamente relacionados à questão da cidadania no Brasil, visto que os direitos sociais foram garantias conquistadas após muitas lutas e reivindicações. Nesse sentido, podemos dizer que a Constituição Federal de 1988 não se trata de uma legislação que simplesmente foi promulgada na década de 80 sem qualquer tipo de esforços por parte da sociedade civil, ao contrário, ela é fruto de lutas de grandes conquistas desse referido período histórico. Foi a luta pela efetivação da cidadania que mobilizou milhares de brasileiros de 75 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ diversos segmentos a abraçarem a mesma causa em prol dos diretos e da liberdade e luta pela cidadania. A esse respeito, afirma Lopes (2008, p.95), “[...] a vivência de um processo amplo de luta pela cidadania gerou um clima esfuziante em alguns setores e anunciava um período de futura revisão estrutural na organização da sociedade brasileira”. É nesse contexto de luta pelos mínimos sociais que a questão da cidadania vai, aos poucos, ganhando visibilidade frente aos representantes do governo e das instituições. QUAL SERIA ENTÃO A RELAÇÃO ENTRE OS MÍNIMOS SOCIAIS E OS DIREITOS SOCIAIS? De acordo com Lopes (2008), o conceito de mínimos sociais vem sendo configurado a cada período histórico. Quando nos reportamos aos mínimos sociais, logo os relacionamos à garantia das necessidades básicas da população, tais como: educação, saúde, emprego e renda, habitação dentre outros. Nesse sentido, pode- se afirmar que os mínimos sociais estão diretamente relacionados com a efetivação dos direitos sociais como uma das principais condicionalidades para sua verdadeira garantia. E reafirma Lopes (2008): Porém, à medida que o parágrafo único do artigo 2º da LOAS vincula o provimento dos mínimos sociais com o enfrentamento da pobreza, dos direitos sociais, o conceito em questão ganha uma amplitude que ultrapassa o acesso aos serviços básicos de reprodução da vida moderna para tornar-se um conceito problematizador do próprio padrão desta reprodução. (LOPES, 2008, p.96) Vimos, então, que falar sobre os mínimos sociais na perspectiva de garantia dos direitos sociais não é algo tão simples assim, faz-se necessário que se tenha uma visão ampliada em relação às necessidades básicas do cidadão. SERÁ QUE OS PROGRAMAS SOCIAIS DE RENDA MÍNIMA REALMENTE GARANTEM QUE O CIDADÃO TENHA O NECESSÁRIO PARA SOBREVIVER? A partir desse questionamento podemos refletir algumas questões sobre a mistificação dos direitos sociais e da cidadania. Sabemos que milhares de brasileiros ainda continuam vivendo em situação de pobreza absoluta, não dispondo das mínimas condições de sobrevivência. Quando falamos sobre a mistificação dos direitos sociais, logo nos reportamos à essa falta de cumprimento de tantas legislações, tantos estatutos que teoricamente foram criados para assegurar a todo cidadão brasileiro uma vida mais digna e menos desigual, porém sabemos que de forma geral, muitas 76 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ legislações não passam de mitos, o que apenas vem reforçando a utopia de milhares de famílias que vivem em situaçãode extrema pobreza. Para quem realmente estão direcionados os programas sociais que garantem a renda mínima? Certamente a LOAS garante teoricamente que os programas sociais devem ser direcionados a todos aqueles que deles necessitarem, e é claro que de forma geral quem necessita dessa segurança legal geralmente são todos aqueles que não têm seus direitos sociais garantidos, aqueles cujos direitos sociais são violados. Como já mencionamos nesta aula, vejamos o que nos diz Lopes (2008) sobre os direitos sociais: Aqui, uma primeira intervenção é necessária, no sentido de lembrar o que são os direitos sociais: Segundo Manzini-Covre, “os direitos sociais dizem respeito ao atendimento das necessidades humanas básicas. São todos aqueles que devem repor a força de trabalho, sustentando o corpo humano (...) Dizem respeito (...) ao direito ao trabalho, a um salário decente e, por extensão, ao chamado salário social, relativo ao direito à saúde, educação, habitação etc.”. (LOPES, 2008, p.98) Ainda para Lopes (2008), os mínimos sociais nos remetem aos direitos sociais por se tratar de viabilizar aos excluídos socialmente às condições necessárias de sobrevivência. Refletindo outro ponto, os mínimos sociais também buscam diminuir a distância entre os que nada têm e aqueles que com tantos recursos muitas vezes nem sabem como os distribuir. Essa é uma das formas de distribuir as riquezas socialmente produzidas e redistribuí-la. Porém, a distribuição de renda, via recursos públicos, é uma das formas de evidenciar a falência do Estado em relação à garantia do bem-estar social. Os mínimos sociais, quando pensados no âmbito das políticas públicas, têm-se diversas ações fragmentas e focalizadas por parte do Estado, porém essas ações são reconhecidas de forma geral como modelos descentralizados e capazes de dar respostas às mazelas da questão social. Fonte 10: Questão social Fonte: http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.aspx?qu=balan%C3%A7a&ex=1&ctt=1#pg:12| 77 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ É nesse contexto que os princípios que regem o surgimento da cidadania encontram um espaço fértil para a formação de lutas a favor da ampliação pelos direitos sociais. A cidadania seria, então, condição primordial para que o cidadão tenha todo o acesso necessário aos direitos sociais. É através do exercício da cidadania que as lutas e reivindicações pelos direitos se efetivam em nosso país. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha são exemplos significativos em relação às conquistas políticas em nosso país. No tocante à cidadania, como já mencionamos nesta aula, a Constituição de 1988 é o principal marco que simboliza o resultado do exercício da verdadeira cidadania e democracia no Brasil. Podemos afirmar que o processo de redemocratização vivenciado pelos brasileiros foi fundamental para que a sociedade civil pudesse realmente se apoderar e apropriar de capacidade de decisão. Vejamos a seguir! A CONCEPÇÃO DE CIDADANIA APÓS O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO Existem várias concepções sobre o verdadeiro conceito de cidadania no Brasil. O processo de redemocratização ao dar amplitude ao processo político também enfatiza o exercício da cidadania no Brasil, como algo extremamente vinculado às lutas pela efetivação e garantia dos direitos sociais, esses por sua vez, são alvo das políticas de Assistência Social. Nesse sentido, sobre a cidadania no sentido amplo, Rozicki (2011) afirma que: Em seu sentido amplo, cidadania constitui o fundamento da primordial finalidade do Estado democrático de direito, que é possibilitar aos indivíduos habitantes de um país seu pleno desenvolvimento através do alcance de uma igual dignidade social e econômica.O conceito amplo de cidadania está conectado e conjugado, porque encontra aí seus princípios básicos estruturantes, aos conceitos de democracia e de igualdade.A cidadania, no Estado democrático de direito, efetivada, oferece aos cidadãos, como iguais condições, o gozo atual de direitos, todos assistidos das garantias que permitem a sua eficácia, e a obrigação do cumprimento de deveres. (ROZICKI, 2011, p.01) O processo de redemocratização foi determinante no tocante à ampliação, tanto dos direitos sociais quanto para o exercício pleno da cidadania. O Brasil, durante muitos anos, vivenciou décadas de tortura, silêncio e a não participação da sociedade civil nas tomadas de decisão; porém, por meio do processo de redemocratização que o Brasil retoma sua condição de independência e empedramento da sociedade civil. De forma geral, a cidadania e os direitos sociais são, em nosso país, conceitos que teoricamente apresentam a solução das desigualdades sociais causadas de maneira específica pelo sistema capitalista vigente. Porém, no que se refere à aplicabilidade das leis que garantem esses direitos e cidadania, podemos perceber que na prática 78 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ pouco ou quase nada vem sendo feito para ameninar os males sociais que diariamente vem afetando a população brasileira. É nessa relação contraditória que se pode refletir sobre a mistificação dos direitos sociais e cidadania. Chegamos, então, ao final da nossa quinta aula, deixando curiosidades para que possamos continuar refletindo sobre a efetivação da cidadania plena em nosso país. SÍNTESE Nesta aula, podemos discutir algumas questões referentes à mistificação dos direitos sociais e cidadania. Para que pudéssemos alcançar nosso objetivo, realizamos um breve itinerário sobre a história dos direitos sociais no Brasil, posteriormente vimos quais são os princípios que regem a política de seguridade social e sua relação direta com a efetivação dos direitos sociais, refletimos também acerca da relação entre direitos sociais, mínimos sociais e cidadania. Por fim, encerramos nossa aula mostrando como o conceito de cidade foi ganhando amplitude após o processo de redemocratização do Brasil. Certamente alcançamos o objetivo dessa nossa quinta aula por mostrarmos de forma clara o quanto nosso país ainda tem a conquistar em relação a efetivação dos direitos sociais e cidadania. Vimos que a mistificação está presente de forma gritante em nosso país. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Fazendo uma análise crítica a respeito da garantia dos direitos sociais em nosso país, você acredita na desmistificação desses direitos? Ou vivermos um Brasil de eterna utopia em relação à efetivação da verdadeira cidadania? LEITURAS INDICADAS BRASIL. LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social. 6. ed., Brasília-DF:MDS. DEMO, Pedro. Menoridade dos mínimos sociais: encruzilhadas da assistência social no mundo de hoje. Serviço Social e Sociedade, 55, São Paulo: Cortez, 1997. FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do estado capitalista: as funções da Previdência e da Assistência Social. São Paulo: Cortez, 1997. SPOSATI, Aldaíza. Mínimos sociais e seguridade social: uma revolução na consciência da cidadania. Serviço Social e Sociedade, 55, São Paulo: Cortez, 1997. 79 se rv iç o so ci al n a ár ea de a ss is tê nc ia ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ SITES INDICADOS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htmAcesso em 03 de janeiro de 2012. BRASIL. Cadastro Único. http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/cadastrounico Disponível em: Acesso em 02 de janeiro de 12. REFERÊNCIAS CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. LOPES, José Rogério. Mínimos Sociais, Cidadania e Assistência Social. Revista Quadrimestral de Serviço Social. Serviço Social e Sociedade. Ano XIX. nº. 58. Novembro de 1998. ROZICKI, Cristiane. Direito e cidadania. Disponível em: http://www.nossacasa.net/dire/texto.asp?texto=62. Acesso em 10 de janeiro de 2012. SIMÔES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. 3. ed. Revista Atualizada - São Paulo: Cortez, 2009. (Biblioteca Básica de Serviço Social; v. 3)
Compartilhar