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Mecanismo do parto: Introdução: O nascimento é um processo natural e fisiológico, porém complexo. O entendimento sobre o mecanismo do parto, contratilidade uterina, pelve materna e suas relações com o feto são fundamentais para a adequada assistência obstétrica. Esse resumo discute o mecanismo de parto nas apresentações cefálicas fletidas, que representam 96% de todos os casos. Pelve materna: O canal do parto é constituído pela pelve óssea (sacro, cóccix, ilíacos esquerdo e direito) e pelos tecidos moles (cérvice e musculatura do assoalho pélvico), que oferecem graus variados de resistência à expulsão fetal. Há vários diâmetros de interesse no estudo da pelve e, durante o trabalho de parto, a apresentação fetal procura acomodar-se a todos esses diâmetros ao longo do canal do parto. Há quatro tipos fundamentais de pelves determinadas pela relação da porção posterior do estreito superior (diâmetro transverso máximo) com a região anterior, formando pelves mais arredondadas, ovaladas ou triangulares. Existem os tipos ginecoide, antropoide, androide e platipieloide. Por meio da pelvimetria, pode-se antever o prognóstico do parto com base nos diâmetros mensuráveis da pelve óssea. Os parâmetros hoje utilizados são a conjugata diagonalis (favorável quando entre 12 e 10,5 cm), a conjugata exitus (favorável quando entre 9 e 11 cm), o ângulo de abertura da arcada púbica (favorável se > 90º) e o diâmetro bi-isquiático (favorável se > 9 cm). Contratilidade uterina: Para a avaliação da contratilidade uterina, o método mais utilizado é a tocografia, que é a interpretação gráfica das contrações uterinas durante o trabalho de parto (TP). Pode ser realizada de maneira externa ou interna. A contração uterina pode ser avaliada em relação a: pressão ou tônus, intensidade, frequência, duração e forma de onda contrátil. As contrações ocorrem durante toda a gestação. Inicialmente, com intensidade de 2 a 4 mmHg e com frequência de 1 a 3 minutos (ondas de Alvarez) que podem ser registradas a partir da 9ª semana, mas elas não são sentidas pela gestante. Entre a 13ª e a 30ª semana, contrações de 10 a 15 mmHg, com duração de 30 segundos ou mais (contrações de Braxton-Hicks) estão presentes, ocorrendo esporadicamente até de hora em hora. Após a 30ª semana, sua frequência se aproxima de 1 a cada 10 minutos, adquirindo ritmo regular nas duas últimas semanas antes do parto. Podem ser palpadas e sentidas pela paciente como um endurecimento indolor do útero. Na passagem do período pré-parto para o parto ocorrem mudanças progressivas e graduais na frequência e na intensidade contrátil. Na fase ativa do TP, à medida que a dilatação progride, aumentam a intensidade e a frequência das contrações até o período expulsivo. Após o parto, as contrações rítmicas têm a função de levar à dequitação placentária e fazer a hemostasia do leito placentário com expulsão de coágulos e lóquios da cavidade uterina. Mecanismo de parto: O nascimento fetal compreende o período que vai desde o início das contrações regulares até a expulsão da placenta. O TP pode ser definido como a sequência de contrações uterinas involuntárias e coordenadas que resultam no apagamento e na dilatação do colo uterino. Tais contrações associadas ao esforço voluntário da parede abdominal levam à expulsão, através do canal do parto, dos produtos da concepção. O parto transcorre segundo a Teoria da Menor Resistência. Ou seja, a apresentação fetal tem que se adaptar aos menores diâmetros possíveis, a fim de transpor as dimensões e os contornos mais favoráveis que são alcançados durante o trajeto do parto. Assim, o mecanismo do parto depende da morfologia e da configuração da pelve, da apresentação e do tamanho fetal e da contratilidade uterina. É, portanto, uma combinação de eventos contínuos e simultâneos. Divide-se esse processo em 6 “tempos” diferentes. Tempos do mecanismo: - Encaixamento ou insinuação: É a passagem da maior circunferência da apresentação pelo anel do estreito superior da pelve. Nas apresentações de vértice, é a passagem do diâmetro biparietal. Nas nulíparas, geralmente ocorre nas duas últimas semanas de gestação (insinuação estática) enquanto nas multíparas geralmente ocorre após o início do TP (insinuação dinâmica). A insinuação diz-se terminada quando o ápice da cabeça fetal encontra-se no plano 0 de DeLee. - Descida: Ocorre desde o início do TP e só termina com a expulsão do feto, é a descida do polo cefálico do estreito superior ao estreito inferior. Resulta das forças do TP e do apagamento do segmento inferior uterino. Sua velocidade depende da resistência pélvica e da intensidade das contrações. Como a pelve materna diminui o diâmetro ao longo da passagem do feto, ele usa da flexão para conseguir passar por esse processo. A flexão ocorre tão logo o feto encontra resistência do colo uterino, das paredes pélvicas ou do assoalho pélvico. Outro mecanismo que o feto lança mão é o assinclitismo, que corresponde à lateralização da cabeça, que permite sua passagem pelo canal de parto com um formato próximo a um “J”. Para avaliar o assinclitismo, usa-se o exame de toque tomando como referência a sutura sagital, que se estiver mais próxima do púbis, chama-se assinclitismo posterior, e se estiver mais próxima do sacro, assinclitismo anterior. Quando a sutura sagital está equidistante do púbis e do sacro, chama-se de sinclitismo. - Rotação interna da cabeça: É o processo que ocorre para que a fontanela lambda posicione-se abaixo do púbis materno, com a linha de orientação (sutura sagital) no diâmetro anteroposterior da pelve. Quando a altura da cabeça alcança os músculos elevadores do ânus, ocorre um movimento espiralado, rodando o ápice fetal no sentido de menor resistência. Essa rotação é de 45 a 135º, a depender da variedade de posição do feto. Exemplo: - Feto em ODA: occipto alinhado com a linha pectínea direita -> deverá rotacionar 45º para que o lambda esteja alinhado com o púbis. Com a rotação interna da cabeça e sua progressão no canal, ocorre a penetração dos ombros no estreito superior da pelve. - Desprendimento ou extensão da cabeça fetal: Terminada a rotação interna da cabeça, a base do occipital será colocada sob a arcada púbica, com a sutura sagital orientada na direção anteroposterior. Por movimento de extensão (deflexão), o polo cefálico direciona seu desprendimento seguindo a curvatura inferior do canal de parto (que, nesse ponto, dirige-se para cima); a nuca se apoia na margem inferior da sínfise púbica, e a cabeça oscila em torno desse ponto, avançando e distendendo os tecidos vulvares. O períneo torna-se alongado, a vulva abre-se e o couro cabeludo torna-se visível entre as contrações. Com o progredir da extensão, faz-se um movimento de báscula apoiado na margem inferior do púbis, permitindo a passagem de occipital, bregma, fronte, nariz, boca e mento pela venda vulvar. Para favorecer esse processo, ocorre a retropulsão do cóccix, que culmina em um aumento da conjugata exitus em 1,5 cm. - Restituição ou rotação externa da cabeçafetal: Após a cabeça defletir-se e passar pela vulva, ela rota para a posição anatômica correta em relação ao dorso fetal. Esse é um movimento passivo resultante da liberação das forças exercidas previamente sobre o polo cefálico pela pelve óssea e musculaturas maternas. É a restituição da variedade da posição prévia. - Saída de ombros e expulsão ou desprendimento do ovoide córmico: Desde sua passagem pelo estreito superior da pelve, as espáduas estão com o diâmetro biacromial orientado no sentido oblíquo direto ou do transverso da pelve. Chegando ao assoalho pélvico, sofrem também movimento de rotação interna para orientar o biacromial para a direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sob a arcada púbica e o posterior, junto ao assoalho pélvico, impelindo o cóccix materno para trás. Assim, após o desprendimento da cabeça, continua a descida do feto com a transposição do ombro anterior pela arcada púbica, quando aparece através do orifício vulvar para, a seguir, desprender-se o ombro posterior. É comum a saída dos ombros requerer ajuda manual. Em geral, utiliza-se uma depressão suave da cabeça fetal sem tração exagerada (para não lesar o plexo braquial), ajudando na progressão do ombro anterior sob a sínfise, seguida da elevação suave da cabeça para liberar o ombro posterior e o restante do feto. Camila Brito - Rotinas em Obstetrícia, Freitas, 6ª edição; - Medcel 2019.
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