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ARTIGO THANISE E ANA PAULA

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(IN) APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NOS CASOS DE UNIÃO HOMOAFETIVA.
Thânise Cassero de Souza[footnoteRef:1] [1: Bacharelanda no curso de Direito da URCAMP – campus de São Gabriel-RS. E-mail: thanise97@outlook.com.] 
Ana Paula Pinto da Rocha[footnoteRef:2] [2: Mestre em Constitucionalismo Contemporâneo pela Universidade de Santa Cruz do Sul –UNISC. Professora do Curso de Direito da Universidade da Região da Campanha- URCAMP, Campus de São Gabriel-RS. Advogada. E-mail: anarocha@urcamp.edu.br] 
RESUMO
Sabe-se a grande importância da Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, no ordenamento jurídico, da mesma forma, se faz necessário pontuar certos itens da referida Lei, no que tange a assuntos também de grande relevância. Nesse passo, é necessário agregar a grandiosidade da Lei Maria da Penha, com as dúvidas referentes aos direitos das famílias homoafetivas, assim, o presente trabalho possui como problema de pesquisa a aplicação da medida protetiva de urgência a casais homoafetivos no âmbito da Lei Maria da Penha, em contrapartida a algumas jurisprudências pesquisadas, as quais alegam que a referida lei aplica-se somente a proteção das mulheres. O objetivo central do trabalho é desmistificar a inaplicabilidade da medida protetiva de urgência, quanto às uniões homoafetivas. Através de estudos notam-se diversas opiniões sobre o assunto, bem como, em pesquisas no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, se obtém decisões diversas, onde ocorrem inúmeros entendimentos, sobre a possibilidade de ocorrer a aplicação da medida protetiva para um casal homoafetivo, sendo esta uma relação entre dois homens por exemplo. Desta forma, com o passar dos anos, e ocorrendo um maior entendimento sobre os direitos homossexuais, bem como, um maior esclarecimento sobre a lei Maria da Penha e os direitos nela agregados, que surge uma extrema necessidade de esclarecer esses assuntos de uma forma conjunta, e sanar as dúvidas quanto a aplicabilidade da medida protetiva nas relações homossexuais. 
O estudo realizou-se através de pesquisa bibliográfica exploratória descritiva de abordagem qualitativa, sendo que o método de abordagem utilizado foi o hipotético dedutivo.
Palavras-chave: Lei Maria da Penha – medida protetiva – união homoafetiva.
ABSTRACT
It is known the great importance of Law 11.340 / 2006, popularly known as Law Maria da penha, in the legal system, in the same way, it is necessary to point out certain items of the referred law, with regard to matters also of great relevance, in this step , it is necessary to add the grandeur of the Maria da Penha Law, with the doubts regarding the rights of homo-affective families, thus, the present work has as a research problem the application of the urgent protective measure to homo-affective couples, under the Maria da Penha law , in contrast to some researched jurisprudence, which claim that the said law applies only to the protection of women. The main objective of the work is to demystify the (in) applicability of the emergency protective measure, regarding homo-affective unions. Through studies, it is possible to notice several opinions on the subject, as well as, in research at the Rio Grande do Sul Court of Justice, different decisions are obtained, where there are countless different understandings, about the possibility of the application of the protective measure for a homoaffective couple, this being a relationship between two men for example. Thus, with the passing of the years, and with a greater understanding of homosexual rights, as well as greater clarification about the Maria da Penha law and the rights attached to it, there is an extreme need to clarify these issues in a joint way, and to resolve doubts when the applicability of the protective measure in homosexual relationships.
Keywords:Maria da Penha Law - protective measure – homoaffective union. 
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo esclarecer a aplicabilidade da medida protetiva de urgência em casos de violência no âmbito doméstico dos casais homossexuais, considerando o disposto na Lei Maria da Penha e no Código Penal, bem como levando em consideração o direito dos homossexuais. 
A Lei Maria da Penha é vista, nos dias atuais, como um forte e eficiente mecanismo de prevenção a mulher, no âmbito doméstico, e assim, entendido por muitos doutrinadores e juristas, que sua aplicação ocorre somente na proteção do sexo feminino. 
Em contrapartida, durante pesquisas jurisprudenciais, se verificou entendimentos diversos, no qual se afirma que a Lei tem o objetivo de prevenir minorias, sejam elas mulheres ou não, que sofram violência no âmbito doméstico e familiar.
Desta feita, surgiu o problema de pesquisa em análise, qual seja: Aplica-se a medida protetiva de urgência a casal homoafetivo no âmbito da Lei Maria da Penha?
O estudo realizou-se através de pesquisa bibliográfica exploratória descritiva de abordagem qualitativa, sendo que o método de abordagem utilizado foi o hipotético dedutivo.
O intuito é apontar as posições doutrinárias a respeito dos temas abordados e analisar a concepção jurisprudencial quanto ao conflito, enfatizando o atual posicionamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e do Superior Tribunal de Justiça. 
	A pesquisa justifica-se diante do crescimento significativo de violência contra a mulher no Brasil, notando-se a maior visibilidade e aplicabilidade da Lei Maria da Penha, bem como a dificuldade da população brasileira em saber quem realmente tem direito aos benefícios oferecidos por esta. 
	Fala-se muito nos dias atuais, nos direitos das pessoas homossexuais, bem como o respeito às relações homoafetivas, como legalização do casamento, por exemplo, mas poucos sabem os reais direitos que tem quando se tratando de casos de violência. 
	Nota-se uma necessidade muito grande de associar os assuntos, ou seja, demonstrar os direitos tão pedidos das relações homoafetivas, com atualmente um dos maiores problemas brasileiros, a violência doméstica, por este motivo, o presente trabalho tem por objetivo tratar sobre a (in) aplicabilidade da Lei Maria da Penha em casos de união homoafetiva, esclarecendo ao máximo de pessoas possíveis tanto dentro do centro universitário, bem como fora dele, os reais direitos da pessoa homossexual dentro de uma relação, no âmbito da violência doméstica. 
2. LEI MARIA DA PENHA: ANÁLISE E EVOLUÇÃO HISTÓRICA
	A Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como “Lei Maria da Penha” teve origem na triste história de Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica, casada com um professor universitário e economista. Eles residiam em Fortaleza, com três filhas. Maria da Penha sofreu inúmeras agressões por parte do seu marido, mas as mais marcantes ocorreram em duas oportunidades, sendo a primeira delas em 1983, onde o marido de Maria simulou um assalto, e com uma espingarda atirou em Maria deixando-a paraplégica, e há segunda poucos dias depois do seu retorno do hospital, tentou eletrocutá-la por meio de uma descarga elétrica.[footnoteRef:3] [3: BATTAGLIN, Ivana. O artigo 41 da Lei Maria da Penha e sua necessária interpretação teleológica e sistemática, 2013. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/o-artigo-41-da-lei-maria-da-penha-e-sua-necessaria-interpretacao-teleologica-e-sistematica-por-ivana-battaglin/. Acesso em 05 Abril de 2020. s.p.] 
	As investigações começaram em 1983 e denúncia oferecida em 1984. Em 1991, o réu foi condenado pelo Tribunal do Júri a oito anos de prisão. Recorreu em liberdade, um ano depois, o julgamento foi anulado. Somente em 2002, 19 anos após o fato, é que o mesmo foi preso, no entanto foi solto após cumprir dois anos de prisão.
Durante todo esse período, Maria denunciou reiteradamente todas as agressões que sofreu, no entanto, nenhuma decisão foi tomada, foi então que Maria decidiu fazer uma denúncia pública, e diante da inércia da Justiça resolveu escrever o seu livro. 
A repercussão da história de Maria da Penha Maia Fernandes foi tamanha, que o Centro pelaJustiça e o Direito Internacional – CEJIL juntamente com o Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM, formalizaram a denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, sendo esta a primeira denúncia aceita pela pratica de violência doméstica.[footnoteRef:4] [4: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça/ Maria Berenice – 5. Ed. rev.ampl. e atual- Salvador: editora Juspodivm.2018 p. 22, ibid, p. 23.] 
Em 2001 o Brasil foi condenado internacionalmente a pagar indenização no valor de 20 mil dólares a Maria da Penha Maia Fernandes, bem como foi responsabilizado por negligência e omissão frente à violência doméstica, tendo sido recomendado a adoção de várias medidas, entre elas a simplificação dos procedimentos judiciais penais, a fim de que fosse reduzido o tempo processual.
	Foi baseada nesta triste realidade que foi criada a Lei “Maria da Penha”, a Lei nº 11.340/2006, no intuito de coibir e prevenir a violência doméstica contra a mulher em âmbito familiar, tendo sido sancionada em 22 de setembro de 2006.
Conforme, relata Bianchini:	
As construções culturais elaboradas ao longo dos séculos a respeito dos papéis sociais atribuídos às pessoas conforme sua pertença a determinado sexo biológico geraram muitas vezes relações assimétricas e hierárquicas entre homens e mulheres em prejuízo destas últimas, fazendo surgir hodiernamente a necessidade de previsões legais que observem especificidades tanto no sentido de superar diferenças, as quais, espera-se, um dia não mais existam (caso das previsões legais especialmente direcionadas ao problema da violência doméstica contra a mulher), como também no sentido de garantir que diferenças naturais de fato existentes não se traduzam jamais em redução ou mesmo aniquilação de direitos. As diferenças não podem ser convertidas em desigualdades [footnoteRef:5]. [5: BIANCHINI, Aline. Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Disponível em:<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553600236/cfi/202!/4/2@100:0.00>. Acesso m: 10 Abril. 2020 p.22.] 
Dias relata que muitas vezes a sociedade acaba por aceitar a violência doméstica, até mesmo no modo de falar, ocorrendo um prejulgamento da vítima e da sua situação, banalizando os acontecimentos. 
Nesses termos, Dias, menciona: 
Ditados populares, com natureza aparentemente jocosa, acabam por absolver e naturalizara violência doméstica: “em briga de marido em mulher ninguém mete a colher”; “ele pode não saber por que bate, mas ela sabe por que apanha”. Esses, entre outros ditos repetidos como brincadeira, revelam certa conivência da sociedade para com a violência contra a mulher. Talvez o mais terrível deles seja “mulher gosta de apanhar” [grifo do autor][footnoteRef:6]. [6: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça/ Maria Berenice – 5. Ed. rev.ampl. e atual- Salvador: editora Juspodivm.2018 p. 25.] 
	No mesmo passo, Dias explica que tal fato deprimente relativo à sociedade, ocorre provavelmente pela dificuldade que algumas vítimas têm de denunciar o agressor, ou até mesmo de manter o processo, após a realização da denúncia, que muitas vezes somente é realizada por extremo desespero. 
Trata-se de uma ideia enganosa, certamente gerada pela dificuldade que a vítima tem de denunciar seu agressor. Seja por medo, por vergonha, seja por não ter para onde ir, ou receio de não conseguir se manter sozinha e sustentar os filhos. O fato é que a mulher resiste em buscar a punição de quem ama ou, ao menos amou um dia[footnoteRef:7]. [7: Ibidem, p.25.] 
	Contudo, mesmo sendo notória tal situação, a interferência do Estado, sempre foi evitada quando se tratando de relações familiares, tendo em vista a proteção destinada à família, domicílio, bem como a postura omissa da sociedade. 
Desde que o mundo é mundo humano, a mulher sempre foi discriminada, desprezada, humilhada, coisificada objetivizada, monetarizada. Ainda assim, a violência de que as mulheres são vítimas no reduto doméstico, nunca mereceu a devida atenção da sociedade. [...] Como as situações ocorriam no interior do “lar, doce lar”, ninguém interferia. Afinal, “em briga de marido e mulher, ninguém bota a colher!” [...][footnoteRef:8] [8: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça/ Maria Berenice – 5. Ed. rev.ampl. e atual- Salvador: editora Juspodivm.2018 p. 25.] 
	É de domínio público, que mesmo com o passar dos anos, ainda existem resquícios da sociedade antiga, onde eram cultivados hábitos machistas, onde mulheres não tinham o mesmo “espaço” que os homens na sociedade, eram vistas somente para servir e obedecer aos homens, atos esses, geradores de diversos tipos de violência doméstica, que infelizmente ainda se fazem presentes nos dias atuais, nesse passo, Dias menciona: 
[...] A sociedade ainda cultiva valores que incentivam a violência, o que impõe a necessidade de se tomar consciência que a culpa é de todos. O fundamento é cultural e decorre da desigualdade no exercício do poder que leva a uma relação de dominante e dominado. Essas posturas acabam sendo referendadas pelo Estado. Daí o absoluto descaso de quem sempre foi alvo a violência doméstica [...][footnoteRef:9] [9: . Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.S.p] 
Em 1975, foi realizada a I Conferência Mundial sobre a Mulher, tendo como resultado a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, sendo o primeiro instrumento internacional que buscou tutelar direitos da população feminina. 
Em 1979 o documento foi adotado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, entrando em vigor em 1981. Contudo, apenas em fevereiro de 1984, o Brasil se tornou signatário da convenção. Nesse sentido: 
A convenção prevê a possibilidade de ações afirmativas abarcando áreas como trabalho, saúde, educação, direitos civis e políticos, estereótipos sexuais, prostituição e família. [...] Tem dois propósitos: promover os direitos da mulher na busca da igualdade de gênero e reprimir quaisquer discriminações contra ela [...] [footnoteRef:10]. [10: Id..2018 p. 48, ibid, p. 49.] 
Entretanto, conforme apontado por Dias, “foi a Conferência de Direitos Humanos das Nações Unidas, realizada em Viena, Áustria, no ano de 1993, que definiu formalmente a violência contra a mulher como violação aos direitos humanos”10.
A Constituição Federal de 1988 buscou igualar homens e mulheres, inclusive no âmbito familiar, como se denota nos respectivos artigos constitucionais:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
 I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...]
 § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. [...][footnoteRef:11] [11: BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 Abril.2020.] 
No entanto, as normas constitucionais não foram suficientes para evitar o crescente número de violências domésticas. Com intuito de garantir os direitos das mulheres, em 22 de setembro de 2006, a Lei Maria da Penha foi promulgada. 
Nesses moldes, Dias refere importância da referida Lei, uma vez que os efeitos da violência doméstica, podem se disseminar por diversas gerações e família, assim:
A banalização da violência doméstica levou à invisibilidade do crime de maior incidência no país e o único que tem perverso efeitomultiplicador. Suas sequelas não se restringem à pessoa da ofendida. Comprometem todos os membros da entidade familiar, principalmente os filhos, que terão a tendência de se transformar em agentes repetidores do comportamento que vivenciam dentro de casa [...] [footnoteRef:12]. [12: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010 p. 07.] 
	A Lei tem um objetivo claro, coibir e prevenir qualquer tipo de violência contra a mulher, bem como dar a ela o direito à vida, à segurança, à saúde, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso a justiça, ao lazer, ao trabalho à cidadania, à liberdade, à dignidade, à convivência familiar e comunitária. (Lei nº 11.340/2006), da mesma forma que traz em seu bojo uma série de normas para à proteção da mulher, como a conceituação e hipóteses de violência doméstica, a aplicação de medidas protetivas de urgência, entre outras normas. 
	No artigo 5º, a Lei conceitua como violência contra a mulher, toda ação ou omissão, que cause a vítima, qualquer tipo de lesão, sofrimento físico, sexual ou moral. Ainda, a referida lei, incide em diversas situações, como demonstra no artigo citado, tendoprincipalmente cabimento no âmbito doméstico, ou seja, abrange principalmente situações ocorridas no âmbito familiar ou de coabitação, oque significa dizer, que o agressor não tem que ser obrigatoriamente, marido, companheiro ou ex-companheiro da vítima, sendo possível, ser reconhecida a proteção da Lei Maria da penha, a qualquer situação em que a ofendida em situação de vulnerabilidade, sofra qualquer tipo de agressão, seja do (ex) companheiro ou familiar a quem tenha convívio. 
	Além das formas de violência apontadas no diploma legal, ainda existem doutrinadores, que apontam como forma de violência, a espiritual, mesmo que não incluída no rol citado na lei. Nesses moldes:
Como exemplo de forma de violência não expressamente mencionada pela lei pode ser citada a violência espiritual (destruir as crenças culturais ou religiosas ou obrigar a que se aceite um determinado sistema de crenças). [...] Também a violência política, quando baseada no gênero [...] [footnoteRef:13]. [13: BIANCHINI, Aline. Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Disponível em:<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553600236/cfi/202!/4/2@100:0.00>. Acesso m: 10 Abril 2020 p.50, ibid, 26.
] 
	Da mesma forma, Bianchini enfatiza o quão prejudicial é a violência contramulher, demonstrando assim, que a importância da Lei Maria da Penha, é muito maior que se imagina, nesses moldes: “Estudos demonstram o quanto à violência doméstica e familiar praticada contra a mãe afeta o desenvolvimento psicológico dos filhos, ainda que estes jamais tenham sido vítimas diretas da mesma violência […] 13.
	Sendo assim, na tentativa de diminuir e prevenir ao máximo, a violência doméstica, que foi promulgada a Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, onde foram expostas medidas de prevenção e proteção da vítima, as chamadas medidas protetivas.
3. MEDIDA PROTETIVA: DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO.
	Dentro do contexto claro da Lei Maria da Penha, de coibir e prevenir toda e qualquer violência contra a mulher, no âmbito da sua vida doméstica, a referida, apresenta no decorrer do seu texto, a medida protetiva de urgência, que nada mais é, do que, medidas aplicadas a vítima, para cessar a violência sofrida de forma imediata e eficiente.
No entanto, a Lei n.º 11.340/06 no momento de sua criação, não possuía caráter punitivo, tendo como principal objetivo prevenir e prestar assistência à mulher em situação de vulnerabilidade, com a criação de mecanismos para sua defesa. 
[...] Apesar de não ser uma lei penal, nítido o seu colorido penalizador, ao tratar com mais rigor as infrações cometidas contra a mulher, no âmbito familiar, doméstico e em relações íntimas de afeto. Enquanto no processo penal comum vige o princípio do in dúbio pro reo, no caso de violência doméstica vigora o in dúbio pro mulher. Pela primeira vez é emprestada credibilidade à palavra da mulher. Quando se está diante de um episódio de violência doméstica, é indispensável reconhecer a condição de vulnerabilidade da vítima que jamais dispôs de um instrumento ágil e eficaz para se proteger do agressor [...][footnoteRef:14]. [14: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça/ Maria Berenice – 5. Ed. rev.ampl. e atual- Salvador: editora Juspodivm.2018. p. 103.] 
Uma das inovações da Lei n.º 11.340/06 foi à criação das medidas protetivas de urgência, que visam proteger a ofendida em face do agressor. 
[...] Cabe lembrar que, antes da Lei Maria da Penha, o registro de violência perante a autoridade policial não gerava qualquer iniciativa protetiva imediata. Era necessário o ingresso de um procedimento cautelar de separação de corpos no juízo de família. O tempo decorrido entre o ato de violência e a resposta efetiva do Estado deixava a vítima à mercê do agressor [...] 14. 
		No capítulo II, nota-se primeiramente que as medidas são concedidas dentro das primeiras 48 horas, desde feito o registro da ocorrência e solicitadas às referidas garantias, bem como desde o princípio, a lei mostra a intenção de prevenir novas ocorrências semelhantes, quando no texto da lei, autoriza que no mesmo lapso temporal, seja retirada toda e qualquer arma que o agressor possa ter em sua posse, nesses moldes:
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.[footnoteRef:15] [15: BRASIL (Lei 11.340/2006) Lei Maria da Penha. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 24 set.2019.] 
Cabe salientar, que as medidas não possuem prazo de validade, bem como é importante destacar, que com as alterações legislativas trazidas pela Lei nº13.641, de 3 de abril de 2018, a Lei Maria da Penha, passou a ter caráter punitivo, considerando por Exemplo o crime de descumprimento. Na mesma forma, as medidas não são imutáveis, sendo assim, são passíveis de alteração e substituição a qualquer tempo, conforme a necessidade da vítima no caso concreto. 
Desta forma o artigo 19 da Lei nº11.340/2006referente a concessão da medida: 
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.[footnoteRef:16] [16: BRASIL (Lei 11.340/2006) Lei Maria da Penha. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 24 set.2019.] 
No artigo 22, a Lei preocupa-se em desmembrar, quais as medidas que podem ser aplicadas ao agressor, de forma imediata e cumulativamente, nesses moldes:
Art. 22.Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;
II - Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) Aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; […][footnoteRef:17] [17: BRASIL (Lei 11.340/2006) Lei Maria da Penha. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 24 set.2019.] 
	Segundo BELLOQUE (2011apud, BIANCHINI[footnoteRef:18]) para a divisão das medidas protetivas de urgência, em espécies, “foi levado em consideração o conhecimento das atitudes comumente empregadas pelo autor da violência doméstica e familiar que paralisam a vítima ou dificultam em demasia a sua atuação diante do cenário que se apresenta nesta forma de violência”. [18: BIANCHINI, Aline. Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Disponível em:<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553600236/cfi/202!/4/2@100:0.00>. Acesso m: 10 Abril. 2020 p.187, ibid, p. 186.] 
	Podendo então, serem classificadas as medidas protetivas em grupos, conforme demonstra Bianchini, são as chamadas medidas que obrigam o autor da agressão e medidas dirigidas à vítima, de caráter pessoal.
	O afastamento do lar foi instituído pela Lei nº 10.455/2002, que deu nova redação ao art. 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais), para os casos de violência doméstica.
Art. 69. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência da vítima.
Segundo BELLOQUE (2011, apud, Bianchini, 2018):
O afastamento do autor da agressão do lar visa diminuir o risco iminente de agressão, já que autor da agressão não mais estará dentro da própria casa em que reside a vítima. O patrimônio da ofendida também é preservado, uma vez que os objetos do lar não poderão ser subtraídos ou destruídos. É bastante comum a destruição, por parte do autor da agressão, dos pertences da mulher, inclusive de seus documentos pessoais, como forma de tolher sua liberdade, provocar-lhe baixa estima e diminuir sua autodeterminação, no intento de que ela desista do prosseguimento da persecução criminal.
	Na sequência, o art. 22, inciso III, alínea “a”, possibilita ao juiz proibir que oagressor se aproxime da ofendida, seus familiares, bem como testemunhas, podendo até mesmo fixar limite mínimo de distância que o agressor deverá manter.
Ainda, o agressor pode ser proibido de manter qualquer tipo de comunicação com a vítima, seja pessoal, direto, telefônico, mensagens eletrônicas, mensagens de bate-papo etc. Da mesma forma que pode ficar proibido de frequentar determinados lugares em que a vítima ou seus familiares frequentem com habitualidade.
	Vale ressaltar, que as medidas dirigidas à vítima, não tem caráter criminal, podendo ser aplicada cumulativamente ou não, dependendo da gravidade do caso em concreto.
	Essas medidas têm o objetivo de cessar e prevenir a violência física e psicológica sofrida pela ofendida, sendo possível assim, encaminhar a vítima para programa de proteção e atendimento, sendo esta solicitada pela própria ofendida ou Ministério Público, bem como sendo legitimada Defensoria Pública para tal solicitação. 
	Bem como as outras medidas, para maior proteção dos direitos e segurança da vítima, esta pode ser reconduzida ao seu domicílio, após o afastamento do agressor.
	Ainda, como a própria Lei prevê no seu artigo 13, pode ser utilizado cumulativamente a Lei nº 11.340/2006, o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e Adolescente; vejamos:
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.[footnoteRef:19] [19: BRASIL (Lei 11.340/2006) Lei Maria da Penha. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 24 set.2019.] 
Visto algumas das inúmeras medidas existentes, cabe salientar que com a promulgação da Lei nº 13.641, de 3 de abril de 2018, que alterou a Lei Maria da Penha, passou a ser crime o descumprimento das medidas protetivas de urgência, como dispõe o artigo 24-A: 
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
§3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.
	As medidas protetivas não ostentam prazo determinado de validade, elas permanecem em vigência, enquanto durar a situação que motivou sua aplicação.
	Diante do exposto, considerando a ampliação do conceito de família, o qual atualmente considera a família homoafetiva, passaram a existir situações de violência domésticaentre casais homossexuais, e assim, iniciando a discussão sobre a aplicabilidade ou não, da Lei Maria da Penha, em referidas situações, uma vez, que dia a dia aumenta o número de casos de violência doméstica no país, bem como, nas famílias formadas por casais homossexuais. 
4. (IN)APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NOS CASOS DE UNIÃO HOMOAFETIVA. 
	O ditame constitucional de 1988, em destaque para o artigo 226 e seus parágrafos, reconheceu novos modelos familiares com base na existência do afeto entre as relações dos indivíduos. A Carta Constitucional vem com o intuito de promover os princípios constitucionais que norteiam todo o Ordenamento Jurídico Brasileiro, impedindo qualquer forma de discriminação no que tange à sexualidade do indivíduo, motivo pelo qual autoriza a formação de diversas configurações familiares que não se enquadram necessariamente dentro da proposta estabelecida pelo direito civil codificado[footnoteRef:20]. [20: ALMEIDA, Patricia Silva de. As relações homoafetivas e a possibilidade jurídica da adoção no direito brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011 p. 36/37.] 
	No que tange à união entre pessoas do mesmo sexo, é possível observar que tanto a Constituição Federal quanto o Código Civil de 2002 silenciaram a respeito disso, dando margem para que a doutrina e a jurisprudência passassem a debater o tema em busca de soluções plausíveis para os casos dessas relações. [footnoteRef:21] [21: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 592. ] 
Maria Berenice Dias expressa que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) foi o pioneiro ao reconhecer as uniões homoafetivas, pois em 1999 proferiu a primeira sentença colocando como competente a vara de Família para apreciar estas uniões, conforme ementa de jurisprudência, in verbis: 
RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE SEPARAÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO DOS CASAIS FORMADOS POR PESSOAS DO MESMO SEXO. EM SE TRATANDO DE SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM RELAÇÕES DE AFETO, MOSTRA-SE COMPETENTE PARA O JULGAMENTO DA CAUSAUMA DAS VARAS DE FAMÍLIA, A SEMELHANÇA DAS SEPARAÇÕES OCORRIDAS ENTRE CASAIS HETEROSSEXUAIS. AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento, Nº 599075496, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Breno Moreira Mussi, Julgado em: 17-06-1999).[footnoteRef:22] [22: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Agravo de instrumento n.º: 599075496. Oitava Câmara Cívil. Voto do Relator: Breno Moreira Mussi. Julgado em 17/06/1999. Disponível em https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=599075496&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 10 de maio de 2020.s.p.] 
	
Na opinião de Pinto, à busca pelo reconhecimento dos direitos e efeitos jurídicos existentes entre pessoas do mesmo sexo, está fundamentado no direito constitucional. Por conta disso, qualquer forma de negação a esses direitos caracteriza um afronta à dignidade da pessoa humana. Com isso, qualquer forma de discriminação aos homossexuais vai contra o disposto na Constituição, cujo objetivo principal reside na construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.[footnoteRef:23] [23: PINTO, Carlos Frederico Hrymalak. As perspectivas jurídicas das relações homossexuais. São Leopoldo: Unisinos, 2000 p. 35.] 
	Dessa forma, nota-se que mesmo sofrendo ainda, com extremo preconceito, essas famílias estão sim, incluídas no conceito de família. Assim, diz Almeida, “tais famílias se inserem como verdade fática social, dignas de proteção, tais quais as matrimonializadas, as concubinatárias, as monoparentais e as socioafetivas.” [footnoteRef:24] [24: ALMEIDA, Patricia Silva de. As relações homoafetivas e a possibilidade jurídica da adoção no direito brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. p. 40.] 
	Nesse passo, é notória a grande repercussão que se tem até os dias atuais sobre os direitos homossexuais, e as diversas conquistas desta parte da população no que tange a esse assunto, e juntamente com o aumento de famílias homoafetivas, crescem as dúvidas sobre as medidas protetivas em casos de violência doméstica na família homoafetiva, no âmbito da Lei Maria da Penha. 
“A Lei Maria da Penha, de modo expresso, enlaça no conceito de família as uniões homoafetivas. O parágrafo único do art. 5º reitera que independem de orientação sexual todas as situações que configuram violência doméstica e familiar”. 
Nesse contexto, para Dias:
A partir da nova definição de entidade familiar, trazida pela Lei Maria da Penha, não cabe mais questionar a natureza dos vínculos formados por pessoas do mesmo sexo. Ninguém pode continuar sustentando que, em face da omissão legislativa, não é possível emprestar-lhes efeitos jurídicos. [footnoteRef:25] [25: DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e o direito a diferença, 2010. Disponivel em: http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_633)26__homoafetividade_e_o_direito_a_diferenca.pdf. Acesso em 24 Março.2020.s.p.] 
A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência doméstica contra a mulher, de modo expresso se enquadra nas relações homossexuais. Isto é o que consta o artigo 2°.
Artigo 2° Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.[footnoteRef:26] [26: Ibidem, s. p.] 
	Da mesma forma, o parágrafo único do artigo 5°, afirma que independem de orientação sexual todas as situações que configuram violência doméstica e familiar: 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:             
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.[grifo nosso][footnoteRef:27] [27: Dias, Maria Berenice. Violência doméstica e uniões homoafetivas, disponível em http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_658)35__violencia_domestica_e_as_unioes_homoafetivas.pdf. Acesso em 23 Março. 2020 s.p.] 
	Nesse passo, a extensão da Lei é muito maior, tendo em vista que a proteção é assegurada a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as uniões de pessoas do mesmo sexo são entidade familiar. Violência doméstica, como diz o próprio nome, é violência que acontece no seio de uma família. [footnoteRef:28] [28: Ibidem, s.p.] 
No ano de 2019, o relator Dalvio Leite Dias Teixeira julga procedente o pedido de medida protetiva, solicitado por uma mulher, a qual estava sendo ameaçada pela sua ex-companheira, que não aceitava o fim do relacionamento, in verbis:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER PRATICADA POR EX-COMPANHEIRA. APLICAÇÃO DA LEI N.º 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO JUIZADO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. - A contravenção consistente em perturbação da tranquilidade, praticada contra a vítima por ex-companheira, no contexto da relação familiar, atrai a incidência da lei 11.340/06. Requisitos do art. 5º preenchidos. O fato de a contenda envolver duas mulheres, no âmbito de relacionamento homoafetivo, não afasta a submissão da situação telada à questão de gênero, uma vez que, caracterizada a hipótese de violência doméstica, aplica-se a Lei Maria da Penha, independentemente de o agressor tratar-se de homem ou mulher. Ausência de referência ou restrição específica quanto ao gênero do agressor na legislação especifica. Artigos 2º e 5º, parágrafo único, da Lei nº 11.340/06. Jurisprudência desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça. Na hipótese, considerando que os elementos trazidos aos autos evidenciam que a agressora, em tese, vem perturbando a tranquilidade da vítima exatamente por não aceitar o rompimento de anterior relação íntima afetiva existente, fazendo com que a ofendida tema pela sua integridade física e de seus parentes a ponto de procurar a autoridade policial para registrar ocorrência e solicitar medidas protetivas, tenho que estão delineados traços suficientes sobre a existência de violência doméstica e familiar contra a mulher, a atrair a aplicação da Lei n.º 11.340/2006. Competência do Juizado da Violência Doméstica da Comarca de Santa Maria. Conflito de jurisdição julgado procedente.(Conflito de Jurisdição, Nº 70080833155, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em: 24-04-2019)[footnoteRef:29] [29: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul.Conflito de jurisdição n.º: 70080833155.Oitava Câmara Criminal. Voto do Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira. Julgado em 24/04/2019. Arquivo eletrônico disponível em https://www.tjrs.jus.br/buscas/jurisprudencia/exibe_html.php. Acesso 10 de maio de 2020.] 
	Assim como na decisão acima mencionada, em diversas situações nota-se, que a Lei Maria da Penha é aplicada a casos de violência doméstica quando, presentes os requisitos necessários e primordiais, que de uma forma geral, se aplicam a todas as situações da Lei nº 11.340/2006, quais sejam: vulnerabilidade da vítima em relação ao agressor, relação intima de afeto entre ambos e violência de gênero. 
	Nos mesmos moldes, manifesta-se a Relatora Rosaura Marques Borba:CONFLITO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. O expediente policial indica que o caso concreto se trata, em tese, do delito de lesão corporal praticado pela acusada contra a sua ex-companheira. Assim, diante da situação fática, se percebe a existência de relação íntima entre as partes, bem como de vulnerabilidade da vítima em relação à acusada. É cediço que, em consonância com o parágrafo único do art. 5º da Lei n° 11.340/2006, a Lei Maria da Penha é perfeitamente aplicável a relações homoafetivas, desde que haja a presença cumulativa de três requisitos - existência de relação íntima de afeto entre agressor e vítima, existência de violência de gênero, direcionada à pratica delitiva contra a mulher e situação de vulnerabilidade da vítima em relação ao agressor. CONFLITO DE COMPETÊNCIA JULGADO PROCEDENTE.(Conflito de Jurisdição, Nº 70073939555, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rosaura Marques Borba, Julgado em: 16-06-2017). [footnoteRef:30] [30: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul.. Conflito de Jurisdição n.º: 70073939555. Segunda Câmara Criminal. Voto da Relatora: Rosaura Marques Borba. Julgado em 16/06/2017. Arquivo eletrônico disponível em https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70073939555&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 12 de maio de 2020.s.p.] 
	Nos mesmos moldes, em 2018, restou decidido que, é de competência do Juizado da Violência Doméstica, quando se tratando de conflito de competência, e restando comprovado a situação de vulnerabilidade da mulher/vítima em relação agressor, mesmo se tratando de uma mulher, da mesma forma que visto anteriormente, confirma a necessidade de caracterização de vínculo de relação doméstica, familiar ou afetiva, assim, menciona o relator Sylvio Neto: 
CONFLITO DE JURISDIÇÃO. RELAÇÃO HOMOAFETIVA VÍTIMA MULHER E AGRESSORA MULHER. INCIDÊNCIA DA LEI 11.340. CONFLITO PROCEDENTE. Está pacificado no Superior Tribunal de Justiça: “A Terceira Seção deste Superior Tribunal afirmou que o legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, teve em conta a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica em relações patriarcais. Ainda, restou consignado que o escopo da lei é a proteção da mulher em situação de fragilidade/vulnerabilidade diante do homem ou de outra mulher, desde que caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade.” Situação ocorrida no caso em julgamento, razão pelo qual a competência para o exame do procedimento é do Juizado da Violência Doméstica. DECISÃO: Conflito de competência procedente. Por maioria. (Conflito de Jurisdição, Nº 70077136091, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio Baptista Neto, Julgado em: 25-04-2018).[footnoteRef:31] [31: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70077136091. Primeira Câmara Criminal. Voto do Relator: Sylvio Baptista Neto. Julgado em 25/04/2018. Arquivo eletrônico disponível em:https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70077136091&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 13 de maio de 2020.] 
Em contrapartida, nota-se uma situação em que a vítima de violência doméstica é do sexo masculino, tendo sido descaracterizada a incidência da Lei Maria da Penha, afirmando não ser de competência do Juizado da violência doméstica, uma vez que não se faz presentes os requisitos do artigo 5º da Lei nº 11.340/20006, nesses moldes:
	
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. AGRESSOR E VÍTIMA DE SEXO MASCULINO. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 11.340/06 NÃO CARACTERIZADA. A Lei Maria da Penha é perfeitamente aplicável a relações homoafetivas, entretanto, o entendimento que vem sendo utilizado por este Tribunal é no sentido de que é necessário se fazer presente: relação íntima de afeto entre agressor e vítima, violência de gênero contra a mulher e situação de vulnerabilidade da vítima. Deste modo, sendo a vítima de gênero masculino, imperioso o reconhecimento de competência da 8ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de Porto Alegre para o processamento e julgamento do feito. À UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO CONFLITO DE COMPETÊNCIA.(Conflito de Jurisdição, Nº 70079137758, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rosaura Marques Borba, Julgado em: 11-10-2018).[footnoteRef:32] [32: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70079137758. Segunda Câmara Criminal. Voto da Relatora: Rosaura Marques Borba. Julgado em 11/10/2018. Arquivo eletrônico disponível em: https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70079137758&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 12 de maio de 2020.] 
Verifica-se na situação mencionada anteriormente, que mesmo descaracterizada a incidência da Lei Maria da Penha, ainda assim, afirma a necessidade da presença dos requisitos mencionados na Lei, para que assim, configure violência doméstica, mesmo nos casos em que a vítima é do sexo masculino.
Referente ao conceito específico da violência de gênero cabe destacarmos o pensamento de Strey, ao afirmar que “violência de gênero é aquela que incide, abrange e acontece sobre/com as pessoas em função do gênero ao qual pertencem.”[footnoteRef:33] [33: STREY, Marlene Neves. Violência, gênero e políticas públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 13.] 
Da mesma forma, Dias faz referência sobre a finalidade da Lei Maria da Penha, quando ao gênero, dizendo que: “Afinal, sua finalidade é preservação plena da dignidade da pessoa, fazendo valer o gênero alegado pela pessoa vitimada[footnoteRef:34]”. [34: DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça/ Maria Berenice – 5. Ed. rev.ampl. e atual- Salvador: editora Juspodivm.2018 p. 18, ibid, 81/82.] 
Ainda, Dias refere: 
Nas relações homoafetivas há expressa referência legal assegurando a aplicação das medidas protetivas, independente de quem é o agressor ou a vítima: homem ou mulher. Esse raciocínio decorre do fato de que a intenção legislativa com as medidas de urgência foi criar um mecanismo de proteção de ordem cautelar à pessoa, considerando: a) o dever do Estado de velar pela família (Constituição Federal, artigo 226), especificamente voltado a assegurar “assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”, fornecendo essa proteção a todos igualmente (Constituição Federal, art.226, §8), b)o reconhecimento plural das entidades familiares (sem restrição a numerusclausus). Enfim, as medidas protetivas de urgência representam uma regulamentação constitucional do §8, artigo 226, dando-lhe plena eficácia, e exatamente por isso é aplicável a quaisquer entidades familiares, inclusive quando os sujeitos passivos forem homens, independente de quem seja o agressor. 34
Da mesma forma, nota-se que entre os requisitos do artigo 5º da lei 11.340/2006, consta a situação de vulnerabilidade da vítima, sendo que quando ausente, não configura situação de violência doméstica, não ensejando a aplicação da Lei Maria da Penha, nesses termos: 
APELAÇÃO. PRELIMINAR REJEITADA. INDEFERIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E DE RELAÇÃO DE SUPERIORIDADE E DOMINAÇÃO DA AGRESSORA EM RELAÇÃO A AGREDIDA. 1. Preliminar de não conhecimento do recurso rejeitada por que a decisão que indeferiu o requerimento de medida protetiva e determinou o arquivamento do feito tem força de definitiva, ensejando o manejo do recurso de apelação, nos termos do art. 593, incisoII, do Código de Processo Penal. 2. Correto o indeferimento da medida protetiva, haja que não resultou caracterizada a opressão de gênero e a vulnerabilidade da vítima em relação a sua suposta agressora. PRELIMINAR REJEITADA. APELO IMPROVIDO. (Apelação Crime, Nº 70072278740, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em: 15-03-2017).[footnoteRef:35] [35: BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70072278740. Quinta Câmara Criminal. Voto da Relatora: Cristina Pereira Gonçalez. Julgado em 15/03/2017. Arquivo eletrônico disponível em: https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70072278740&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso 13 de maio de 2020.] 
Dessa forma, observa-se tratar-se de um tema muito polêmico, do qual se retiram diversos pensamentos e decisões. Como já exposto, o tema é de grande relevância, e apresenta diversas opiniões, as quais restam representadas pelos juristas e doutrinadores, os quais muitas vezes defendem a aplicabilidade, baseado em princípios fundamentais, como o princípio da igualdade e da dignidade humana. Assim, verifica-se não ter um entendimento uniforme no Tribunal de Justiça, uma vez, que se trata da interpretação do caso em concreto, bem como da presença de requisitos necessários para aplicação da lei em assunto, tais como situação de vulnerabilidade e relação íntima de afeto.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	
	O presente trabalho teve como objetivo esclarecer sobre a aplicabilidade da Lei Maria da Penha em casos de união homoafetiva, através de opinião de doutrinadores, bem como demonstração de jurisprudências específicas sobre o tema. 
	O presente artigo inicia-se demonstrando a origem da Lei nº 11.340/2006, uma vez que criada baseada em uma grande história de sofrimento, passando a desenvolver o tema sobre medida protetiva de urgência, explicando e demonstrando suas espécies, bem como, no último item trazendo jurisprudências e doutrinas aptas a demonstrar a aplicabilidade da referida lei, no âmbito da família homoafetiva, tema central do trabalho.
	Diante do exposto, nota-se evidente as diversas interpretações entre juristas e doutrinadores, sobre o assunto em referência, uma vez, que se trata de um tema já muito comentado, porém, relativamente novo no âmbito jurídico. 
	As primeiras manifestações sobre o assunto asseguravam uma cultura antiga, a qual era bastante severa no que tange as famílias homoafetivas, portanto essas manifestações não aceitavam como família, se esta fosse formada por pessoas do mesmo sexo, o que impedia a aplicação da Lei Maria da Penha, nesses casos. 
	Com o passar do tempo, e o esclarecimento de diversos pontos, bem como o reconhecimento da família homoafetiva, pela jurisprudência, diversos direitos passaram a ser comentados, bem como instruídos e desmistificados. 
	Nesse passo, a Lei nº 11.340/2006, também passou por mudanças, e esclarecimentos, uma vez que cada vez mais foi solicitada sua aplicação, a ações envolvendo essas famílias. 
	Desta forma, não se deixou de demonstrar as duas hipóteses apresentadas anteriormente no projeto de pesquisa, uma delas, ainda existente, que se refere à parte dos doutrinadores e juristas, que alegam que a Lei defende somente violência contra a mulher, que como demonstrado no trabalho, ainda assim, se aplica em relação homoafetiva, no entanto, somente em se tratando de relação entre mulheres. Já a segunda hipótese, sendo esta mais especificamente ao tema tratado no presente trabalho, trata-se sobre a aplicabilidade da referida Lei em casos de uniões homoafetivas, com o intuito de defender minorias em situação de vulnerabilidade.
	Assim, como a Lei Maria da Penha, aplica-se em casos de violência doméstica, sendo esta no âmbito familiar, sendo praticada por companheiro, ex-companheiro, ou pessoa a qual tenha relação íntima de afeto, desde que presentes requisitos específicos, os quais a lei exemplifica em seu rol de artigos, estando disposto no artigo 5º da referida lei, como vulnerabilidade da vítima em relação o agressor, relação intima de afeto entre ambos e violência de gênero. 
Assim, em se tratando da aplicabilidade da Lei em união homoafetiva, nota-se que, é sim um direito presente na realidade das famílias formadas por pessoas do mesmo sexo, sendo homens ou mulheres, uma vez que presentes os requisitos específicos mencionados pela Lei nº 11.340/2006, acima citados, os quais encontram justificativa em diversos dispositivos legais, como os já mencionados, artigo 5º da Constituição Federal, onde todos são iguais perante a Lei, o artigo 226 também da Constituição Federal que protege a família e a cada um de seus entes, princípio da dignidade humana, entre tantos outros. 
Dessa forma, frente a um tema de grande relevância e bastante extenso, nota-se que após diversas pesquisas, o problema em questão foi resolvido e respondido com respaldo no ordenamento jurídico, uma vez que, demonstrada a situação de vulnerabilidade da vítima em relação ao agressor, tendo estes, situação intima de afeto, independente de orientação sexual, o que é mencionado na própria letra da Lei nº 11.340/2006, no seu artigo 5º, a Lei Maria da Penha, aplica-se em todos os casos de violência doméstica, inclusive os que ocorrem no seio das famílias homoafetivas.
6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Patricia Silva de. As relações homoafetivas e a possibilidade jurídica da adoção no direito brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 Abril.2020.
BRASIL (Lei 11.340/2006) Lei Maria da Penha. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 24 set.2019.
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul.Conflito de jurisdição n.º: 70080833155.Oitava Câmara Criminal. Voto do Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira. Julgado em 24/04/2019. Arquivo eletrônico disponível em https://www.tjrs.jus.br/buscas/jurisprudencia/exibe_html.php. Acesso 10 de maio de 2020. 
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Agravo de instrumento n.º: 599075496. Oitava Câmara Cívil. Voto do Relator: Breno Moreira Mussi. Julgado em 17/06/1999. Arquivo eletrônico disponível em https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=599075496&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 10 de maio de 2020. 
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul.. Conflito de Jurisdição n.º: 70073939555. Segunda Câmara Criminal. Voto da Relatora: Rosaura Marques Borba. Julgado em 16/06/2017. Arquivo eletrônico disponível em https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70073939555&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 12 de maio de 2020.
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70079137758. Segunda Câmara Criminal. Voto da Relatora: Rosaura Marques Borba. Julgado em 11/10/2018. Arquivo eletrônico disponível em: https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70079137758&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em 12 de maio de 2020. 
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70077136091. Primeira Câmara Criminal. Voto do Relator: Sylvio Baptista Neto. Julgado em 25/04/2018. Arquivo eletrônico disponível em: https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70077136091&codEmenta=7706337&temIntTeor=true.Acesso em 13 de maio de 2020.
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul. Conflito de Jurisdição n.º: 70072278740. Quinta Câmara Criminal. Voto da Relatora: Cristina Pereira Gonçalez. Julgado em 15/03/2017. Arquivo eletrônico disponível em: https://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=70072278740&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso 13 de maio de 2020.
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