Buscar

CRIME E COSTUME NA SOCIEDADE SELVAGEM!

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CURSO: DIREITO CENTRO DE CIÊNCIAS APLICADAS
PROFESSOR: DOUGLAS ARAÚJO
DISCENTE: MARIA DE FÁTIMA DA SILVA
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA 
NATAL, 2018
DISCENTE: MARIA DE FÁTIMA DA SILVA
CRIME E COSTUME NA SOCIEDADE SELVAGEM
Resenha crítica referente aos 13 primeiros capítulos da primeira parte do livro Crime E Costume Na Sociedade Selvagem de Bronislaw Malinowski da disciplina de Sociologia e Antropologia, pelo curso de Direito da Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte, turno matutino, ministrada pelo Professor Douglas Araújo.
NATAL, 2018
MALINOWSKI, BRONISLAW. CRIME E COSTUME NA SOCIEDADE SELVAGEM (1926): Crime e Costume na sociedade selvagem/Bronislaw Malinowski; Tradução de Maria Clara Corrêa Dias; Revisão técnica de Beatriz Sidou. – Brasília; Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado. 2003. 100p. (Antropologia). 
 
 RESENHA CRÍTICA 
 PARTE I do livro: “Crime e costume na sociedade selvagem”. –
Uma das mais gratificantes sensações que possuem aqueles que se dispõe a estudar a fundo a Antropologia e Sociologia, e usam delas para reparar lacunas durante o decorrer do tempo, é certamente a quebra de conceitos pré-concebidos pela nossa sociedade civilizada. Tomando como base essa premissa, neste trabalho, Crime e costume na sociedade selvagem - considerado a primeira etnografia moderna sobre o chamado “direito primitivo” - Bronislaw Malinowski descreveu,analisou,questionou, redefiniu e galgou um profundo e minucioso estudo sob os povos primitivos melanésios das Ilhas Trobriand e sua estrutura social, econômica, religiosa, apresentando a principal questão de toda sua investigação na pergunta acerca dos motivos pelos quais regras de conduta são obedecidas em sociedades primitivas. 
Partindo desse principio, é apresentada a seguir, uma analise critica, cujo texto fonte fora retirado da primeira parte “A lei primitiva e a ordem” dos treze primeiros capítulos de crime e costume na sociedade selvagem, de autoria de Bronislaw Malinowski, antropólogo, doutorado em física e matemática e considerado um dos fundadores da antropologia social. Na obra analisada, com uma escrita razoavelmente fácil de digerir, se comparada com alguns escritos acadêmicos modernos, Malinowski usa os resultados dos seus estudos – usando o método de investigação de campo que desenvolveu- com os povos das Ilhas Trobriand, para descrever, discutir e analisar a natureza da “lei” entre os povos primitivos e sua importância para a estruturação dessas sociedades. Questionando e derrubando mitos, ele abre um novo campo de prospecção à antropologia. 
No capitulo I (A submissão automática ao costume e o problema real), o autor começa enfatizando que a sociedade organizacional dos primitivos, ao contrario do que supunha o senso comum, o pensamento de massa generalizado que afirmava inexistir qualquer tipo de lei nesta sociedade, não é pautado na falta de “leis”,muito pelo contrario, existe uma complexidade de leis envolvidas na vida social destes povos. “Quando a questão se tornou real, quando se tornou claro que a hipertrofia de regras e não a falta de leis era característica da vida primitiva,a opinião cientifica mudou-se para o extremo oposto. Além de passar a ser visto como cidadão obediente à lei, o selvagem tornou-se um axioma que, submetendo-se a todas as regras e grilhões tribais, segue a tendência natural de seus impulsos espontâneos e, por assim dizer, desliza ao longo da linha da menor resistência.” (pag.15). Malinowski, mesmo intrigado com o comportamento dos primitivos ante as regras impostas “Porém,quando em seguida nos dizem que esses grilhões são aceitos por eles (selvagens),como algo natural, e que ele nunca procura rompe-lo, devemos protestar. Não será contrario a natureza humana aceitar como contraria qualquer coerção, e o homem, civilizado ou selvagem, obedecer a regulamentos e tabus desagradáveis, opressivos e cruéis sem ser a isso compelido? E compelido por alguma força ou motivo irresistível?” (pag.16). Reconhece e evidencia o caráter da importância dessas regras ao estudo mais aprofundado da vida desses primitivos e de como se dá aceitação das mesmas por eles. “Entretanto, essa aquiescência automática, essa submissão instintiva de cada membro da tribo às suas leis é o axioma fundamental, a base da investigação da ordem primitiva e da adesão à norma.” (pag.16). 
 E ainda, ele evidencia que o cumprimento de regras -espontaneamente e voluntariamente -em toda sociedade é de suma importância para seu equilíbrio. Por outro lado, a repreensão para se seguir a risca tais regras e o medo de ser punido caso não siga, não atingem nem o homem civilizado, nem o homem primitivo. Mas são de suma importância para inibir os elementos criminosos da organização social. Como também, a carga de seguir tais regras, tabus, leis estabelecidas em determinadas sociedades, são pesadas, portanto, são seguidas por razões morais, sentimentais ou reais, sendo assim, sem espontaneidade já que seria baseada em algum fator anterior e peso ético.” O fato é que nenhuma sociedade pode funcionar eficientemente se as leis não forem obedecidas de modo voluntario e espontâneo. A ameaça de coerção e o medo da punição não afetam o homem comum, seja ele selvagem ou civilizado, enquanto, por outro lado, são indispensáveis em qualquer sociedade em relação a certos elementos turbulentos ou criminosos. Além disso, há certo número de leis, tabus e obrigações em toda cultura humana que muito pesa sobre todos os cidadãos, exigindo grande auto sacrifício, que é obedecido por razões morais, sentimentais ou reais, embora sem qualquer espontaneidade.” (pag. 18). 
Entretanto, ele não se convence de que os métodos controladores nessas sociedades primitivas seriam oriundos dos “costumes”, “consentimento” geral dos indivíduos ou da “submissão instintiva” sirva para explanar a complexa organização social, regulamentada, religiosa e econômica da tribo. Para Malinowski, assimilar toda uma estrutura complexa encontrada nessas tribos vinculando-o a um “mero sentimento” é pensar de forma incorreta. Com isso, ele aprofunda-se no estudo das origens e de como procede a essa organização social dos primitivos.
Iniciando capitulo II (Economia Melanésia e a teoria do comunismo primitivo), o trabalho de Malinowski começa a tomar forma a partir dos estudos que ele desenvolve com os povos da região da Melanésia. O autor transcreve sobre a estrutura organizacional da sociedade dos primitivos, citando a atividade de pesca,bem como a divisão das tarefas e da economia, enfatizando sua bem organizada estrutura. “Como todos os habitantes das ilhas de coral, eles passam boa parte do seu tempo na lacuna central. Em um dia calmo, ela se agita com canoas levando mercadorias ou pessoas dedicadas a seus muitos sistemas de pesca. Um conhecimento superficial dessas atividades deixará uma impressão de desordem arbitraria anarquia e completa ausência de sistematização. No entanto, a observação mais paciente e cuidadosa revela que os nativos não somente têm sistemas tecnicamente preciosos para apanhar o peixe e complexos arranjos econômicos, como também uma boa organização em suas equipes de trabalho e uma divisão estabelecida de funções.” (pag.22). Evidenciando a complexidade da estrutura social econômico dos povos primitivos, Malinowski primordialmente observa uma equipe de trabalho muito bem estruturada nos subclãs, com suas funções muito bem definidas e suas recompensas para cada trabalhador. “Por razões que serão esclarecidas adiante, cada homem deve tomar seu lugar e desempenhar sua tarefa. Na distribuição do resultado da pesca, cada homem também recebe a justa parte, equivalente a seu trabalho.” (pag.22). Regidos por uma sistematização muito bem articulada, de obrigações, deveres e recompensas muito bem definidos, Malinowski refuta o pensamento de alguns autores que consideram essas comunidadescomo sendo comunidas, socialista, “nada poderia ser mais equivocado do que essa generalização” (pag.22). Ele salienta, “Há uma rigorosa distinção e definição dos direitos de cada um e isso faz com que a posse da propriedade seja qualquer coisa, menos comunista. Temos na Melanésia um sistema composto e complexo de propriedade que de modo algum partilha a natureza do socialismo ou do comunismo.” (pag. 22). Dessa forma, ele vê os direitos, deveres e obrigações de cada um muito bem definidos no clã, sendo assim, Malinowski considera inadmissível atribuir esse conceito a eles. Assim, nessa sistematização de obrigações mutuas entre si, o “individualismo” ou “comunismo” não pode ser usado como definição, insistir nessas definições “só poderia ser ilusória” (pag.22). 
No III capitulo (A força das obrigações econômicas), por conseguinte, ainda analisando a estrutura de pesca da sociedade dos Melanésios, Malinowski aprofunda-se na observação das estruturas que sistematizam tão atividade e percebe a relação e comunicação que esses povos mantém entre si, entre as ilhas, fazendo com que eles vivam em torno de um sistema econômico de troca e também ritualístico. “A aldeia do interior fornece legumes e verduras aos pescadores, e a comunidade costeira paga em peixes. É um arranjo basicamente econômico. Há também um aspecto cerimonial na troca, ao qual deve ser feita segundo um complexo ritual.” (pag. 26). O autor ainda enfatiza a essencialidade de pagar sempre que receber algo, o que caracteriza o sistema de obrigações mutua, e a relação de reciprocidade, como também a dependência que uma comunidade tem da outra. “Acrescenta uma dependência artificial e culturamente criada de um distrito sobre o outro. Dessa maneira, cada comunidade depende muito de seus parceiros.” (pag.26). Portanto, podemos perceber aqui um sistema recíproco que envolve todos dessa sociedade. 
No quarto (IV) capitulo da obra (Reciprocidade e organização dual), Malinowski continua estudando o conceito de reciprocidade dessa vez indo mais fundo em seus estudos. Ele sublinha a carência de teses que tratam a temática da reciprocidade nas tribos primitivas, e destaca apenas um autor que fala com “plenamente”, mas não com veemência sobre o tema “encontrei apenas um autor que sabe avaliar plenamente a importância da reciprocidade na organização social primitiva. O professor Thurnwad, importante antropólogo alemão.” (pag. 27). Malinowski analisa e define que o sistema de trocas não acontece “a esmo”, mas tem toda uma estrutura sociológica econômica a ser seguida entre os membros, ”cada um tem seu parceiro permanente na troca”, (pag.28). Ele ainda ressalta, “dentro de cada comunidade os parceiros são agrupados em subclãs totêmicos. A troca estabelece um sistema de laços sociológicos de natureza econômica, muitas vezes combinado com outros laços entre os indivíduos e indivíduos, grupo de parentesco e grupo de parentesco, aldeia e aldeia, distrito e distrito.” (pag.28). A sistematização dessa estrutura definiu-se como principio recíproco. Tomando como exemplo a pescaria, que o dono da canoa é quem mede as distribuições justas para cada tripulante, esse tipo de controle da ordem social econômica também é observado no chefe da comunidade. Com efeito, fica claro o papel da cada um na tribo, o dualismo sociológico, a ordem estabelecida das relações e as regulamentações muito bem definidas. “Não há nenhuma dispensa em massa de deveres ou aceitação de privilégios, nenhum menosprezo comunista a rótulos e marcas. A maneira livre e fácil como são feitas todas as transações, as boas maneiras de todos, que encobrem quaisquer obstáculos ou desajustes, dificultam para o observador superficial o vivo interesse e o calculo vigilante que perpassam tudo. Para quem conhece intimamente os nativos, nada é mais patente do que isso. O mesmo controle que o mestre exerce em sua canoa, é assumido dentro da comunidade pelo chefe que, em geral, é também o feiticeiro hereditário.” (pag. 28). 
No capitulo V (A lei, o interesse pessoal e a ambição social), Malinowski percebe certa vaidade nos habitantes de Trobriand, mas esse termo não seria usado de um ponto de vista negativo, muito pelo contrario, a vaidade deles está associada à exibição e acumulação de alimentos- o que seria a riqueza para eles- e também, essencialmente distribuí-los depois, o que lhes dava uma sensação de poder, uma “elevação da personalidade” (pag.30). , evidenciando assim a importância dada à generosidade que estes povos primitivos davam para essa qualidade, fazendo com que esta fosse vista como a mais importante virtude. 
No que se diz sobre as leis e as regras, Malinowski evidencia que a estrutura social desses indivíduos está muito mais para um conceito de lei civil, do que o conceito de “meras proibições”, “podemos também ver que a lei civil, consistindo em disposições categóricas, é muito mais desenvolvida do que o conjunto das simples proibições” (pag.30). Ele ainda enfatiza que o mecanismo que faz com que os primitivos se aterem a essas regras é muito mais complexo, tem a ver com a estrutura social disposta de deveres e privilegio mútuos. E também o modo como os primitivos são vistos pelo seu clã, seu status na sociedade, se assim pode-se dizer. Quebrar uma regra sucumbiria todo o sentimento social dessa comunidade para com o individuo transgressor. “Em todos os fatos descritos, o elemento ou o aspecto da lei de efetiva coação social consiste nos complexos arranjos que fazem as pessoas se aterem as suas obrigações. Entre eles, o mais importante é o modo como muitas transações estão ligadas em cadeias de serviços mútuos, cada um dos quais terá que se pago mais adiante. A feição pública e cerimonial sob quais essas transações são realizadas, aliada à grande ambição e a vaidade dos melanésios, também aumenta a força de salvaguarda da lei.” (pag.31). 
No capitulo VI (As regras das leis nos atos religiosos), o autor evidencia a clara presença da lei civil baseada na reciprocidade encontrada também nos rituais religiosos dessa tribo, de interatividade concepção sociológicos. É analisado pela perspectiva do luto, por exemplo, a viúva se martiriza pelo marido falecido, e em reconhecimento a sua dedicação, é recompensada depois, pelos parentes do esposo, mediante um pagamento pelo seu luto. “A viúva chora e se lamenta em tristeza cerimonial, cheia de piedade e temor religioso também porque a força de seu sofrimento satisfaz os irmãos e os parentes maternos do falecido. (...) três dias depois da morte de seu marido, ela recebe um pagamento ritual” (pag. 33). 
No capitulo VII (A lei do casamento), o autor aborda a lei do casamento, outro tijolo importante dessa estrutura social e,como se pode notar,mais uma vez a reciprocidade está atrelada a esse importante acontecimento. Malinowski denota que no casamento os laços não ocorrem somente entre marido e mulher. Ao irmão da esposa, fica incumbido o cuidado com a sua irmã desde o nascimento até o casamento. Afim também de cuidar dos filhos dela e fornecer a toda sua família alimento e suporte necessário. Em reciprocidade, cabem ao seu cunhado a contribuição de retribuir-lhe com presentes. A todo o momento o irmão da esposa sofre as pressões psicológicas impostas pela comunidade. “Em uma família de Trobriand, a mulher deve permanecer sempre sob a guarda especial de um homem - um de seus irmãos, ou, se não, seu parente materno mais próximo. O irmão torna-se o guardião natural dos filhos dela, por sua vez, este deve cuidar em abastecer considerável proporção dos alimentos da casa.”, Malinowski salienta, “Antes de tudo, o marido deve retribuir toda contribuição da colheita anual com determinados presentes periódicos.”. 
Nos demais capítulos (VIII, IX, X, XI, XII, XII), Malinowski continua enfatizando que as obrigações vinculantes estão presentes em todos os aspectos da vida tribal. “A maioria dos atos econômicos, se não todos, pertence a alguma cadeia de presentes e contra presentes recíprocos,que em longo prazo se equilibram,beneficiando igualmente ambos os lados.” (pag.37).Elucida, também, que as obrigações econômicas, as relações entre as comunidades, os rituais de luto, a lei do casamento e os demais fatos ocorridos em uma tribo de primitivos, vão além de um dever baseado no instinto. É uma verdadeira mecânica da estrutura de uma peça pertencente a um maior, onde cada peça é colocada devidamente em seu lugar, e sabe sua função e deve realiza-la sem falha. “Sentimento de grupo misterioso, mas ao trabalho detalhado e elaborado de um sistema, no qual cada ato tem seu lugar e deve ser realizado sem falha.” (pag.). 
Malinowski volta o pensamento abordado no inicio da obra, fazendo um comentário essencial. Para o autor, não tem como definir/distinguir as regras do costume, das leis, da conduta e da moral – se considerar que elas são envolvidas por uma obediência automática. Partindo dessa premissa, ele elucida seu pensamento, ressaltando que, “Assim, embora em meu trabalho a atenção estivesse naturalmente concentrada no mecanismo de lei, eu não pretendia mostrar que todas as regras sociais são legais, mas, ao contrario, eu queria mostrar que as regras da lei constituem apenas uma categoria bem definida no conjunto de costumes.” (pag. 45). Concluindo que: “a reciprocidade, a incidência sistemática e a ambição são os principais fatores nos mecanismos da obrigação da lei primitiva.” (pag. 56). 
Destarte, Bronislaw Malinowski brilhantemente, com seu estudo profundo, minucioso e de um ponto de vista real, concreto sobre os impulsos sociais e as sanções que garantem a conformidade com as normas tradicionais de comportamento, chegou à conclusão que as forças vinculantes da lei civil na Melanésia, estão, por conseguinte, baseada nos serviços mútuos de reciprocidade. Esta obra é, sem sombra de dúvida, um dos maiores presentes dados a Antropologia, que a revolucionou de tal modo que reorganizou o pensamento Antropológico e o elevou para outro nível. Refutando com propriedade e experiência pratica no assunto, teorias anteriores que interpretavam as tribos primitivas como tendo domínio total do indivíduo pelo grupo ou clã, por algum tipo de adesão inquestionável e instintiva às tradições e costumes ou medo do sobrenatural. Preocupando-se em mostrar que há resistência às normas culturais, que o reconhecimento de deveres e obrigações resulta de noções de reciprocidade e publicidade, das ambições e vaidades do indivíduo, e não do indivíduo, não podendo imaginar-se agindo de outra forma do que são. Bronislaw redefine nosso modo de pensar sobre os primitivos, e nos faz perceber, que, afinal, as culturas "primitivas" não menos que as "avançadas" têm normas ideais e hipocrisia prática, e o etnólogo precisa estudar ambas para ter uma compreensão real de seu comportamento. Impulsionando em nosso ser, inquietudes, que nos fazem ir além do pensamento exposto por ele: Somos tão diferentes assim dos primitivos? Essa, pro sua vez, é uma pergunta retórica. A pergunta que melhor se adéqua talvez seja: Quanto de primitivo escondemos dentro de nós? 
Crime e Costume na Sociedade Selvagem não é um livro que agradará a todos, alguns devem lê-lo com um antiácido ao lado, provavelmente causará acidez e queimação estomacal, por suas questões adentrarem tanto ao cerne do nosso ser, mas é de suma importância que se leia, uma obra inestimável, tanto para os acadêmicos quanto para aqueles que querem compreender melhor as relações sociológicas que estruturam a vida dos tribais, o ganho que se tem nessa leitura, foi de uma grata surpresa para mim. Como disse Bronislaw: “O clã muitas vezes é descrito como a única pessoa legal, o único organismo e entidade na jurisprudência primitiva. “A unidade não é o individuo, mas o parentesco”. ”“ O individuo é apenas parte do parentesco”. Sendo assim, tomando como base esse raciocínio, atualmente em nosso clã metropolitano “civilizado”,parece que estamos apenas restritos ao individuo,perdeu-se a identificação com o parentesco, que triste pensar sobre isso, triste, porém extremamente necessário para se constituir o que podemos fazer a respeito. 
 
Referencias Bibliográficas: MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e costume na sociedade selvagem. Brasília/ São Paulo: Ed. UnB/ Imprensa Oficial do Estado, 2003.

Continue navegando