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O-Que-Todo-Presbiteriano-Inteligente-Deve-Saber-Adao-Carlos

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Prévia do material em texto

Conteúdo 
Introdução ..................................................................... 7 
Capítulo 1. 
Quem Somos e de Onde Viemos ...................................... 9 
Capítulo 2. 
Breve Histórico do Presbiterianismo ............................................................................................................... 15 
Capítulo 3. 
A Visão Calvinista do Estado e da Sociedade .................... 23 
Capítulo 4. 
Calvinismo e Capitalismo: Qual é Mesmo a Sua Relação?. 29 
Capítulo 5. 
Os Cinco Pontos do Calvinismo .......................................................... 33 
Capítulo 6. 
Primeiras Tentativas de Implantação no Brasil .......................... 39 
Capítulo 7. 
A Confissão de Fé da Guanabara ..................................... 43 
Capítulo 8. 
A Implantação do Presbiterianismo no Brasil ............................... 49 
Capítulo 9. 
A Reconstituição do Presbiterianismo no Brasil ........................... 55 
Capitulo 10. 
A Estruturação do Presbiterianismo no Brasil ..................... 59 
Capitulo 11. 
Nossos Símbolos de Fé .................................................. 67 
Capítulo 12. 
O Sistema Presbiteriano de Governo ................................ 75 
Capítulo 13. 
Escritura Sagrada: Palavra de Deus ........................................................... 83 
Capítulo 14. 
Deus Pai e a Trindade ................................................................ 91 
Capítulo 15. 
Jesus Cristo, Deus Filho ........................................................... 99 
Capítulo 16. 
O Espírito Santo é Deus .......................................................... 109 
Capítulo 17. 
A Criação do Universo e do Homem ..................................... 115 
Capítulo 18. 
Plano de Salvação ................................................................. 123 
Capítulo 19. 
A Garantia da Salvação .......................................................... 133 
Capítulo 20. 
A Igreja de Cristo .................................................................... 145 
Capítulo 21. 
O Batismo Cristão .................................................................... 153 
Capítulo 22. 
Por Que Não Batizamos Por Imersão .................................... 159 
Capítulo 23. 
Por Que Batizamos Por Aspersão .......................................... 165 
Capítulo 24. 
Por Que Batizamos Nossas Crianças ..................................... 171 
Capítulo 25. 
A Ceia do Senhor ..................................................................... 181 
Capítulo 26. 
Cristão e a Responsabilidade Social ................................ 189 
Capítulo 27. 
Compromisso do Presbiteriano Autêntico ........................ 195 
Capítulo 28. 
E Então Virá o Fim .................................................................... 203 
 
Introdução 
0 que todo Presbiteriano Inteligente deve 
Saber 
Circula na Internet uma crônica afirmando que um amigo do poeta Olavo Bilac, 
pretendendo vender um pequeno sítio, pediu-lhe que redigisse um anúncio para ser publicado 
nojortual. O poeta conhecia muito bem aquele sítio, pois lá estivera várias vezes. Por isso, não 
lhe foi difícil redigir o anúncio. Apanhou o papel e escreveu: "Vende-se encantadora 
propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por 
cristalinas e arejastes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a 
sombra tranqüila das tardes, na varanda". 
Alguns meses depois, Olavo Bilac procurou saber se o sítio já havia sido vendido. 
E a resposta do amigo foi esta: "Depois de ler o texto que você escreveu, descobri o 
tesouro que possuo e desisti de vender o sítio-. 
Nosso objetivo ao escrever este livro é ajudar os leitores presbiterianos a descobrir o 
tesouro que possuem. 
Estamos conscientes de que a Igreja Presbiteriana do Brasil não é uma igreja 
perfeita. Ela é constituída por pecadores como todas as outras igrejas evangélicas. Se a própria 
Igreja Presbiteriana, através de sua Confissão de Fé, afirma que "as igrejas mais puras 
debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro",' seria um contra-senso afirmar que ela 
é completa, rematada, sem defeito. 
Sabemos, também, que a nossa salvação é obra de Deus, e não da igreja a que 
pertencemos. Quem salva é Jesus e não a Igreja. Somos salvos pela graça, mediante a fé em 
Cristo, e não 
pela nossa filiação â Igreja Presbiteriana. Portanto, se pertencêssemos a outra 
denominação evangélica, seríamos igualmente salvos. 
Concordamos que os processos pelos quais uma pessoa recebe, interpreta, retêm e 
transmite os dados de ~experiência não são uniformes. Isso significa que a mesma experiência 
pode ser recebida, interpretada, retida e transmitida pelas pessoas de forma diferente. Portanto, 
não há uniformidade no pensamento humano. Por isto, respeitamos aqueles que pensam 
diferente de nós. 
Mas estamos convictos de que o presbiterianismo é uma forma diferenciada de 
cristianismo. "Quem conhece o presbiterianismo, não sai dele", escreveu o grandeRev.TItontras 
Porter. E Francisco Martins acrescentou: "Quem conhece o presbiterianismo fica, queira ou não, 
empolgado". 
E foi por estarmos conscientes de tudo isto que escrevemos o que todo presbiteriano 
inteligente deve saber. 
Capítulo 1 ____________ 
Quem somos 
e de Onde Viemos 
Uma das coisas mais importantes para todo grupo é ter uma consciência clara da 
sua identidade e objetivos. A identidade tema ver com as raízes, a história, as 
características distintivas. Os objetivos são uma decorrência disso: à luz das raízes , da 
ident idade , das convicções básicas , se rão estabelecidos os alvos, as prioridades, as 
maneiras de sere viver no mundo. 
Isto se aplica perfeitamente aos presbiterianos. 
Todavia, ocorre que muitos presbiterianos ignoram a sua identidade, não sabem 
exatamente quem são, como indivíduos e como igreja. Não conhecendo as suas origens — 
históricas, teológicas, dertontinacionais — eles têm dificuldade de posicionar-se, 
quanto a uma série de questões e de definir com clareza os seus rumos, as suas 
prioridades. Muitas vezes, quando questionados por outras pessoas quanto a suas 
convicções e prát icas , sentem -se f rustrados com sua incapacidade de expor de 
modo coerente e convincente as suas posições. 
Quem Somos 
A Igreja Presbiteriana do Brasil —IPB — é uma federação de igrejas que têm em 
comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de 
culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence â família das igrejas reformadas 
ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da 
Igreja 
Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas 
protestantes suíça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico 
Zuínglio, João Calvino e João Knox. O nome "igreja presbiteriana" vem da maneira como a 
igreja é administrada, ou seja, através de "presbíteros" eleitos pelas comunidades 
locais. Essas comunidades são governadas por um "Conselho" de presbíteros e estes 
oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os Presbitérios, os 
Sínodos e o Supremo Concilio. 
Quanto à sua teologia, a Igreja Presbiteriana do Brasil é herdeira do pensamento do 
reformador João Calvino (1509-1564) e das notáveis formulações confessionais 
(confissões de fé e catecismos) elaboradas pelos reformados nos séculos 16 e 17. Dentre 
estas se destacam os documentos elaborados pela Assembléia de Westminster, reunida em 
Londres na década de 1640. A Confissão de Fé de Westminster, bem como os seus Catecismos 
Maior e Breve, são adotados oficialmente pela 11`11 como os seus símbolos de fé ou padrões 
doutrinários. 
Quanto ao culto, as igrejas presbiterianas procuram obedecer ao chamado 
"princípio regulador". Isso significa que o culto deve ater-se às normascontidas na Escritura, 
não sendo aceitas as práticas proibidas ou não sancionadas explicitamente pela mesma. O culto 
presbiteriano caracteriza-se por sua ênfase teocêntrica (a centralidade do Deus triúno), 
simplicidade, reverência, hinódia com conteúdo bíblico e pregação expositiva. 
A seguir analisaremos três termos importantes cujo significado precisa ser 
corretamente compreendido: reformado, calvinista e presbiteriano. Esses nomes do nosso 
movimento são sinônimos em alguns aspectos e diferentes em outros. 
Reformados 
0 presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois 
que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu 
uma 
segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro 
ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo 
movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O 
entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e 
em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de movimento reformado e 
seus s impat izantes f icassem conhecidos simplesmente como "reformados". 
Inicialmente, o movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Zuínglio. Porém, com a 
morte prematura deste, o movimento veio a associar-se com seu maior teólogo e 
articulados, o francês João Calvino (1509-1564). A propósito, os "protestantes", fossem 
eles luteranos ou reformados, só passaram a ter essa designação a partir da Dieta de 
Spira, em 1529. 
Por tanto , o movimento re formado é o ramo do protestantismo que surgiu na 
Suíça, no século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e João 
Calvino, em Genebra. Esse movimento veio a caracterizar-se por certas concepções teológicas 
e formas de organização eclesiástica que o distinguiram dos outros grupos protestantes 
(luteranos, anabatistas e anglicanos). A tradição reformada foi preservada e desenvolvida 
pelos sucessores imediatos e mais remotos dos líderes iniciais, tais como João Henrique 
Bullinger (1504-1575), Teodoro Beza (1519-1605), os puritanos ingleses e outros. 
Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como 
Igrejas Reformadas (da Suíça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países). Porém, o 
termo reformado é mais que a designação de uma tradição teológica ou eclesiástica. É 
um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarara vida e o mundo a partir 
de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus. 
calvinistas 
O calvinismo, como o nome indica, é o sistema de teologia elaborado pelo mais 
articulado e profundo dentre os reformadores, João Calvino. Esse sistema, 
contido especialmente na obra magna de Calvino, a Instituição da Religião Cristã ou 
Institutos, resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem 
como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como 
criador, preservador e redentor. O calvinismo não é somente um conjunto de 
doutrinas, mas inclui concepções específicas a respeito do culto, da liturgia, do 
ministério, da evangelização e do governo da igreja. 
Normalmente, todos os reformados deveriam ser calvinistas, mas isso nem 
sempre ocorre na prática. Muitos herdeiros de Calvino, embora se considerem 
reformados, não mais se designam ou podem ser designados como calvinistas, por terem 
abandonado certas convicções e princípios básicos defendidos pelo reformador. 
Portanto, todo calvinista é reformado, mas nem sempre a recíproca é verdadeira. 
Presbiterianos 
O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia, 
Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o 
protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja 
teve uma importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema 
episcopal, ou seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia 
maior controle da igreja pelo estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da 
igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um 
governo mais democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas 
Britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do 
mundo, inclusive o Brasil. 
Daí resulta outra distinção importante. Todo presbiteriano é, por definição, reformado 
e, em teoria, calvinista. Porém, nem todos os calvinistas são presbiterianos. Um bom 
exemplo é a Inglaterra dos séculos 16 e 17. Quase todos os protestantes ingleses 
daquela época eram calvinistas, mas muitos deles não aceitavam o sistema de governo 
presbiteriano. Entre eles estavam os anglicanos e os congregacionais, além de outros 
grupos. 
Conclusão 
Em conclusão, ao dizermos que somos reformados, calvinistas e presbiterianos, 
ficam implícitos outros dois elementos igualmente importantes da nossa identidade, que 
nos lembram que não estamos sozinhos na caminhada — somos cristãos e somos 
evangélicos. Se de um lado devemos valorizar a nossa herança, de outro lado não 
devemos nos tornar exclusivistas, lembrando que o corpo de Cristo é maior que o 
movimento ao qual estamos ligados. 
Capítulo 2 _____________ 
BreveHistóriCod, 
Presbiterianismo 
Conforme já observamos, as origens mais remotas do presbiterianismo remontam 
aos primórdios da Reforma Protestante do século 16. Poucos anos após o início da 
dissidência luterana na Alemanha, surgiu na região de língua alemã da vizinha Suíça, mais 
precisamente ria cidade de Zurique, um segundo movimento de reforma protestante, 
freqüentemente denominado "Segunda Reforma". Esse movimento teve como líder inicial o 
sacerdote Ulrico Zuínglio (1484-1531) e, pretendendo reformara igreja de maneira mais 
profunda que o movimento de Lutero, passou a ser conhecido como "movimento 
reformado", e seus seguidores como "reformados". 
Apesar do seu aparente radicalismo, Lutero e seus seguidores romperam com a 
igreja majoritária somente nos pontos em que viam conflitos irreconciliáveis com as 
Escrituras. Especialmente na área crucial do culto, os luteranos julgavam que era legítimo 
manter tudo aquilo que não fosse explicitamente proibido pela Bíblia. Já os reformados 
partiam de um princípio diferente, entendendo que só deviam abraçar aquilo que fosse 
claramente preconizado pelas Escrituras. Foi isso que os levou a uma ruptura mais 
profunda com o catolicismo. 
João Calvino 
Após a morte de Zuínglio em 1531, o movimento reformado passou a ter um 
novo líder, que se revelou muito mais articulado e influente que o anterior: João Calvino 
(15091564). Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França, e 
ainda adolescente foi estudar teologia e humanidades em Paris. Depois de um breve período 
em Orlémis e Bourges, quando se dedicou ao estudo do direito, retornou a Par is para 
dar continuidade aos estudos humanísticos que tanto o fascinavam. Em 1532, publicou o 
seu primeiro livro, um comentário do tratado De Clementia, escrito pelo antigo 
filósofo romano Sêneca. 
Em 1533, Calvino teve uma experiência de conversão à fé evangélica. Forçado a fugir de 
Paris por causa das suas novas convicções, dirigiu-se para a cidade de Angoulême. Pouco 
depois, começou a escrevera sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã ou Institutos, 
publicada em Basiléia em 1536. Nesse mesmo ano, de maneira totalmente inesperada, Calvino 
viu-se convocado a auxiliar na implantação da fé reformada na cidade de Genebra, na Suíça 
francesa. Após um interregno de três anos em Estrasburgo (1538-1541), o reformador 
retomou a Genebra e ali permaneceu até o final da vida. 
Graças à sua vasta e competente produção teológica, sua habilidade como organizador e seus 
contatos pessoais com inúmeros indivíduos e comunidades em toda a Europa, Calvino exerceu 
uma poderosa influência e contribuiu para a disseminação do movimento 
reformado em muitos países. Em 1559, ele fundou a Academia de Genebra, que contribuiu 
de modo decisivo para a formação de uma nova geração de líderes reformados. Dada a 
importância desse reformador, um novo termo surgiu para designar os reformados — 
"calvinistas". 
Nas Institutos, comentários bíblicos, sermões, tratados e outros escritos que produziu, 
Calvino articulou um sistema completo de teologia cristã que ficou conhecido 
como calvinismo. Esse sistema incluía normas específicas, retiradas das Escrituras, 
acerca da doutrina, do culto e da forma de governo das comunidades reformadas. Na 
base do sistema estava a ênfase no conceito da absoluta soberania de Deus como criador, 
preservador e redentor do mundo. A estrutura eclesiástica preconizava o 
presbíteros e a associação das igrejas em presbitérios regionais e em sínodos nacionais. 
Calvino e Serveto 
Muitos livros e palestrantes fazem a afirmação de que João Calvino foi o responsável 
pela morte de um homem chamado Miguel Serveto. Com freqüência essa é uma das 
poucas coisas que as pessoas, principalmente os estudantes, sabem a respeito do reformador. De 
fato, Calvino teve uma participação nesse lamentável episódio, mas é importante 
entender a questão no seu contexto histórico. 
Miguel Serveto era um médico e estudioso espanhol. Credita-se a ele a descoberta da circulação 
pulmonar do sangue. No aspecto religioso, ele era um unitário, ou seja, alguém que negava a 
doutrina da Trindade, tão cara à maioria dos cristãos, fossem eles católicos ou protestantes. 
Serveto conhecia Calvino e trocou cartas com ele sobre questões teológicas, expressando suas 
divergências. Ele também publicou obras expondo suas idéias antitrinitárias. Em 
conseqüência disso, acabou preso, julgado e condenado à morte pela Inquisição na cidade de 
Lião, no sul da França. Finalmente, conseguiu fugir da prisão e foi parar em Genebra, 
mesmo sabendo que as suas idéias não eram bem recebidas nessa cidade. Foi prontamente 
reconhecido e preso pelas autoridades civis. 
Na Europa do século 16, tanto em regiões católicas quanto protestantes, a heresia 
era considerada não só um pecado, mas um crime de alta gravidade. Por causa da união 
entre a igreja e o estado, as questões de crença interessavam às autoridades seculares. 
Considerava-se que as idéias heréticas eram uma séria ameaça à integridade e segurança da 
igreja e do estado. Nessas circunstâncias, Serveto foi levado a julgamento, e Calvino, 
na qualidade de líder da igreja reformada de Genebra, foi convocado para ser a 
nessa época o reformador tinha um relacionamento bastante tenso com as 
autoridades da cidade. 
Não foi difícil para Calvino demonstrar que Serveto era culpado da acusação de heresia. 
Em conseqüência disso, Serveto foi condenado à cruel morte na fogueira. Calvino pediu que 
a morte fosse por decapitação, algo mais rápido e menos doloroso. As autoridades, pouco 
simpáticas ao reformador, insistiram na fogueira, e assim foi feito. Das mais diferentes 
partes da Europa chegaram mensagens concordando com as ações dos genebrinos. Essa 
foi a única execução que teve a participação de Calvino. Outras pessoas receberam a 
pena capital em Genebra naquele período, como acontecia em quase todas as cidades 
européias, mas sem qualquer participação de Calvino. 
A partir do século 17, uma nova mentalidade começou a surgir na Europa, defendendo 
valores como a liberdade de expressão e a tolerância. As ações de Calvino obviamente 
foram muito criticadas, causando constrangimento aos seus herdeiros. Estes, em 1903, no 
transcurso dos 350 anos da morte de Serveto, erigiram em Genebra um monumento em que 
lamentaram o envolvimento do seu líder nessa questão e reafirmaram o compromisso 
com a liberdade de pensamento e expressão. Ninguém deve ser perseguido, torturado 
ou morto por causa das suas idéias, por mais que não concordemos com elas. 
Os reformados atuais entendem que, se por um lado Calvino agiu como um homem do 
seu tempo, por outro lado ele cometeu um erro triste e desnecessário que manchou a sua 
biografia. Todavia, eles também entendem que é injusto, em razão do caso Serveto, 
esquecer todas as contribuições positivas de Calvino como reformador, líder eclesiástico, 
teólogo e escritor. Também erram as pessoas que ficam lembrando esse caso, mas 
convenientemente se esquecem de que na mesma época a Inquisição e as guerras religiosas 
contra os protestantes estavam fazendo centenas ou mesmo milhares de vítimas. Por 
exemplo, de 10 a 20 mil protestantes foram massacrados no 
infame Dia de São Baríolorneu, 24 de agosto de 1572. Para maiores informações 
sobre esse assunto, sugerimos o livro de Abster McGrath, A Vida de João Calvino (Editora 
Cultura Cristã, 2004), especialmente as páginas 137-144. 
Europa Continental 
Logo após o início da carreira de Calvino, o movimento reformado começou a difundir-se 
em muitas regiões da Europa, notadamente na França, no vale do Reno (Alemanha e Países 
Baixos), na leste europeu e nas Ilhas Britânicas. Vários fatores contribuíram pua essa 
difusão. Em primeiro lugar, a ampla divulgação das idéias de Calvino através da 
imprensa e de outros meios; em segundo lugar, o intenso deslocamento de refugiados 
que procuravam escapar da repressão religiosa em seus países; finalmente, o papel 
irradiador desempenhado por Genebra e outras cidades reformadas. Muitos homens e 
mulheres iam a Genebra, eram treinados nos preceitos da fé reformada e retomavam aos 
seus países imbuídos das novas idéias. 
Como era de se esperar, Calvino nutria grande interesse pela propagação da fé evangélica no 
seu próprio país, a França. Ali, apesar de intensas perseguições, o movimento reformado 
experimentou notável crescimento na década de 1550. Em 1559, reuniu-se o primeiro 
sínodo da Igreja Reformada de França, representando centenas de comunidades locais. 
Pela primeira vez, o presbiterianismo era organizado em âmbito nacional. Esse sínodo 
aprovou uma importante declaração da fé reformada, a Confissão Galicana. 
Em virtude da proximidade geográfica, o movimento reformado desde cedo também 
penetrou no sul da Alemanha. O movimento cresceu com a chegada de milhares de 
refugiados vindos de outras regiões, como a França e os Países Baixos. Nos Países 
Baixos, a fé reformada surgiu inicialmente em Antuérpia, em 1555. Em dez anos, 
formaram-se mais de trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes 
huguenotes que fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como 
sua declaração de fé a Confissão Belga, escrita por Guido de Boês em 1561. Quanto à Europa 
oriental, na década de 1540, graças a contatos com cidades suíças, surgi ram igre j as 
re formadas na Polônia , na Boêmia (Checoslováquia) e mais tarde também na Hungria. 
Ilhas Britânicas 
Especialmente importante para a fé reformada foi a sua introdução nas Ilhas Britânicas. 
Nessa região ao é que surgiu o o u t r o n o m e h i s t ó r i c o a s s o c i a d o a o m o v i m e n t o : 
"presbiterianismo'. Esse nome tinha ao mesmo tempo conotações teológicas e 
políticas. Os reis ingleses e escoceses eram firmes partidários do episcopalismo, ou seja, de 
uma igreja governada por bispos. Como esses bispos eram nomeados pela coroa, esse sistema 
favorecia o controle da igreja pelo estado. Assim sendo, a insistência dos reformados da 
Escócia e Inglaterra em uma igreja governada por presbíteros, eleitos pelas congregações e 
reunidos em concilies, era uma reivindicação de independência da igreja em relação ao 
poder público. Tal foi a origem histórica do termo -presbiteriano" ou "igreja presbiteriana". 
O protestantismo reformado foi levado para a Escócia por George Wishart, que 
estudara na Suíça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas 
surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retomo do líder JohnKnox (e. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos 
pés de Calvino e regressou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o 
catolicismo, adotou a fé reformada e criou uma igreja nacional presbiteriana. Sua 
declaração doutrinária ficou conhecida como Confissão Escocesa. 
Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia, formalmente presbiteriana, foi governada 
por uma rainha católica, Maria 
outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal defensor do sistema 
presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os próximos quatro reis escoceses, 
especialmente Carlos II (1660-1685), procuraram impor o anglicanismo e perseguiram os 
presbiterianos. Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente. 
Na Inglaterra, surgiram fortes influências reformadas e calvinistas desde o reinado de 
Eduardo VI (1547-1553). No reinado de Carlos I (1625-1649) ocorreu um evento 
marcante na história do presbiterianismo. Esse rei precisou convocar a eleição de um 
parlamento, o que, para sua surpresa, resultou em uma maioria parlamentar puritana. 
Dissolvido o parlamento, foi feita nova eleição, que tomou a maioria puritana ainda mais 
expressiva. Esse parlamento puritano convocou a célebre Assembléia de 
Westminster (1643-1648), que produziu os "padrões presbiterianos" de culto, governo e 
doutrina. Quando esses documentos foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da 
Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II 
assumiu o trono em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários 
anos de repressão contra os presbiterianos. Com o tempo, os padrões de Westminster 
tornaram-se os principais documentos teológicos adotados pelas igrejas reformadas ao 
redor do mundo. 
Estados Unidos 
O calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que 
serarlicarara em Massachusetts no início do século 17.0 primeiro grupo fixou-se em 
Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salero e Boston em 16291630. Nas 
décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o At lânt ico em busca de 
l iberdade re l igiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pela 
forma de governo congregacional, e não pelo sistema presbiteriano. 
A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos foi criada pelos 
América do Norte no século 18, e pelos seus descendentes. O primeiro presbitério surgiu em 
1706 e o primeiro sínodo em 1717, ambos em Filadélfia, na Pensilvânia. Finalmente, 
em 1789 foi organizada a Assembléia Geral da nova denominação. Os presbiterianos foram 
um dos grupos mais destacados na luta pela independência da nova nação. Entre os 
signatários da declaração de independência estava um ministro presbiteriano, John 
Witherspoon. Outros grupos reformados que se estabeleceram nos Estados Unidos 
foram holandeses, alemães e franceses. 
Em meados do século 19, o problema da escravidão e a Guerra Civil resultaram na 
divisão dos presbiterianos americanos. Surgiram duas grandes denominações, a Igreja 
Presbiteriana do Norte (POUSA), com sua junta de missões estrangeiras sediada em Nova 
York, e a Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS), com o seu comitê de missões em Nashville, no 
Tennessee. Os missionários pioneiros dessas duas igrejas chegaram ao Brasil 
respectivamente em 1859 (Ashbel G. Simonton) e em 1869 (Edward Lane e George Nash 
Morton). 
Capítulo 3 _________________ 
A Visão Calvinista do 
Estado e da Sociedade 
A concepção calvinista acerca do Estado e da sociedade tem como ponto de partida o 
pensamento do próprio reformador João Calvino, conforme expresso nas instituías da 
Religião Cristã e em seus comentários, sermões, tratados e cartas. Essa visão também foi 
articulada por outros líderes e teólogos reformados, contemporâneos de Calvino e 
posteriores a ele, tais como Ulrico Zuínglio, Henrique Bullinger, John Knox, Abraham Kuyper 
e Karl Barth, entre outros, bem como pelos documentos confessionais da fé reformada 
(confissões de fé e catecismos). 
Em seus escritos, Calvino disse muitas coisas importantes a respeito do Estado, da 
sociedade e dos problemas sociais. Todavia, ele não foi um político, um sociólogo ou um 
ativista social, e sim um pastor e um estudioso das Escrituras. Portanto, não se deve dissociar o 
seu pensamento social e econômico da sua reflexão teológica. Esse pensamento 
resultou de seus pressupostos teológicos e bíblicos, dentre os quais, as 
convicções de que Cristo é Senhor de todos os aspectos da existência humana e de que 
a Bíblia contém princípios que devem reger todas as áreas da vida. Dessas duas premissas 
fundamentais — a soberania de Deus sobre toda a vida e a centralidade das Escrituras como 
revelação de Deus — decorre todo o pensamento teológico de Calvino, inclusive as suas 
concepções sobre a ordem política e a ordem social.' 
Por outro lado, não se deve esquecer que Calvino era um homem do seu tempo e que 
vários aspectos da sua reflexão foram condicionados pelas realidades políticas e sociais da 
sua 
época. Isso significa que o seu pensamento padece de algumas limitações, que mais tarde foram 
sanadas por herdeiros da fé reformada. O mais importante é o fato de que, desde os seus 
primórdios, a tradição reformada entendeu que a fé bíblica tem importantes implicações não só 
para o indivíduo, mas para a coletividade, a começar da vida política e da relação entre a 
Igreja e o Estado. 
Igreja e Estado 
Assim como Lutero, também os fundadores da tradição reformada, Zuínglio e Calvino, 
reconheceram a importância e a legitimidade do Estado. Ao mesmo tempo, eles 
destacaram que Igreja e Estado são duas esferas distintas, que não devem ser confundidas. 
Essa distinção entre a Igreja e o Estado significa que cada domínio temo direito de existir e que 
o Estado, assim como a Igreja, também é estabelecido por Deus, devendo, portanto, ser 
igualmente respeitado pelos cristãos 2 Portanto, a Igreja não deve usurpar as funções do Estado 
nem o Estado, as funções e prerrogativas da Igreja. 
Porém, depois de afirmar essa distinção das duas esferas, Calvino insiste que elas não 
devem ficar separadas: "Assim como acabamos de indicar que o governo temporal é 
distinto do Reino espiritual e interior de Cristo, também temos de saber que eles não são 
contraditórios" (Institutos, 4.20.2). Isso leva a uma importante diferença entre o 
pensamento de Lutero e o dos reformadores suíços. Lutero tinha certa indiferença em 
relação ao Estado e queria deixá-lo ao arbítrio da razão humana. Ele transferiu as categorias 
de `lei e evangelho" às categorias de "Estado e Igreja". Para ele, o Estado é a esfera da 
lei; sua marca essencial é a espada. Porém, a Igreja tema ver com o evangelho. Zuínglio e 
Calvino tiveram um entendimento diverso. Eles afirmaram que existe uma relação entre a 
Igreja e o Estado, e isso decorre do fato de que o Senhor proclamado pela Igreja é também 
o Senhor do reino político. 
À luz das Escrituras, Calvino afirma que o governo civil 
é uma dádiva de Deus (ver Romanos 13.1-7) e que o ofício de governante é uma elevada 
vocação, a mais sagrada e honrosa que existe (Institutos, 4.20.4). Ele explica que o propósito 
do regime terreno é "proteger o serviço externo de Deus, defender o sadio ensino da 
piedade e a condição da igreja, regular as nossas vidas para a sociedade humana, 
moldara nossa moral para a justiça civil, reconciliar-nos uns aos outros, e fomentar a paz e 
tranqüilidade comum" (Institutos, 4.20.2). 
A desobediência civil ou a rebelião somente sejustificam quando o Estado quer obrigar 
as pessoas a desobedecerem a Deus. Apesar de o Estado se basear numa ordem divina, 
ele nunca ocupa o lugar de Deus. Tendo ordenado o governo, Deus continua sendo Senhor 
sobre a sua ordenação, e o governo continua estando sujeito a Deus. A obediência a 
Deus e a obediência ao governo temporal são sempre duas coisas diferentes, bem 
como a obediênciaao governo sempre vem depois da obediência a Deus, porque ele é o 
Senhor da Igreja e do Estado? 
Para os próceres da tradição reformada, existe uma relação entre o Estado e a Igreja, assim 
como entre a lei e o evangelho. Não se pode separara justiça de Deus da sua graça. A 
Igreja não pode simplesmente delegara noção de lei ao Estado. Sua proclamação deve incluir 
tanto a lei como o evangelho, visto que ambos são formas da justa graça de Deus .4 Assim 
sendo, o cristão não pode ser indiferente à maneira como as autoridades governam, devendo se 
esforçar e cooperar para que as leis se tomem mais harmoniosas com a vontade de Deus. 
A Responsabilidade Social da Igreja 
A mesma razão que fez com que Calvino se interessasse pela área política também o 
levou a preocupar-se intensamente com as realidades sociais do seu tempo. A revelação 
bíblica testifica acerca do senhorio de Deus sobre todas as dimensões da existência 
humana e Deus deseja que haja justiça e integridade nos relacionamentos. Mais 
de Calvino que se deve buscar o fundamento para as suas posições acerca das questões 
econômicas e sociais.' 
Segundo o reformador de Genebra, a Igreja tinha um tríplice ministério a 
desempenhar nesse campo: didático, político e social.' Através da instrução pública e 
particular por meio dos pastores e mestres, a Igreja devia orientar os seus fiéis quanto ao 
ensino bíblico sobre a administração dos bens concedidos por Deus (mordomia cristã), 
sobre o valor do trabalho e do descanso, aqui incluída a guarda do Dia do Senhor, e 
sobre questões dejustiça social. No exercício desse ministério, a igreja devia, quando 
necessário, repreender os membros que estivessem incorrendo em pecados 
sociais, tais como a ociosidade, a cobrança de juros excessivos, a especulação e 
outros males. 
A Igreja também tinha algumas importantes tarefas a desempenhar com relação ao Estado. 
Em primeiro lugar, a Igreja tinha o dever de orar pelas autoridades constituídas (ver 1 Tm 
2.1-2). Ela também devia exortar o Estado a defender os pobres e os fracos contra os ricos e 
poderosos. Não se trata de substituir a pregação bíblica pelo discurso político, mas de 
fidelidade aos princípios de "sola Scriptura- e "rota Scriptura". 
Finalmente, um outro aspecto importante e indispensável da atuação da Igreja era o 
seu ministério na área social propriamente dita. Embora os cristãos individuais 
tivessem claras responsabilidades dadas por Deus no tocante ao envolvimento 
com as necessidades da comunidade, a Igreja como instituição devia dedicar-se ao serviço 
cristão, socorrendo os necessitados e contribuindo para atenuar ou eliminar os males sociais. 
Conclusão 
Como um homem do seu tempo, Calvino experimentou certos condicionamentos e 
limitações em seu pensamento e ação. Por exemplo, ele aceitou tacitamente a ordem 
social e política então vigente, de forte integração e colaboração entre 
a Igreja e o Estado. Em Genebra, todos os cidadãos eram, em princípio, ao mesmo tempo 
cidadãos do Estado e membros da Igreja reformada. Os males desse sistema hoje são 
óbvios. A Igreja usava as instituições do Estado para impor a sua disciplina a todos os 
moradores, e o Estado, por sua vez, sentia-se livre para interferir em vários aspectos da vida 
da Igreja e da esfera religiosa. Hoje, com o princípio amplamente aceito da separação entre 
Igreja e Estado, entendemos que isso não é mais aceitável. Todavia, corremos o perigo 
oposto de achar que, por causa dessa separação, a esfera religiosa nada tem a ver com a vida 
política e social. 
Foram os herdeiros de Calvino que levaram a sua teologia profundamente bíblica e 
teocêntrica, e o seu revolucionário pensamento social, às suas últimas implicações. John 
Leith observa: "A maior contribuição de Calvino para a teoria política não deve ser buscada 
em quaisquer propostas específicas, mas na sua teologia. A insistência no senhorio de 
Deus, diante do qual todos os seres humanos são iguais, e a insistência na pecaminosidade de 
todas as pessoas, quando traduzidas em ações políticas, foram poderosos incentivos 
para uma ordem política de controle mútuo entre os órgãos governamentais".' 
No início do século 20, foi primeiro-ministro da Holanda o pastor e teólogo reformado 
Abraham Kuyper, que muito fez para promover a justiça e a paz social em seu país.' 
Outro goveritarine, calvinista que se destacou pela sua coerência e equilíbrio, 
principalmente na área sensível da polít ica internacional, foi o presidente norte -
americano Woodrow Wilson (1913-1921). Posteriormente, o reformado suíço Karl Barth 
(1886-1968), o mais influente teólogo do século 20, notabilizou-se por sua corajosa denúncia da 
malignidade do nacional-socialismo de Hitler, o que levou à sua expulsão da Alemanha, onde 
trabalhava como professor. Mais recentemente, houve uma participação decisiva dos 
reformados na luta contra o opressivo regime comunista da Romênia. 
Que as convicções e exemplos de envolvimento político 
e social coerente e bíblico dos fundadores e herdeiros da tradição reformada possam 
servir de encorajamento e incentivo para sermos agentes de reconciliação em nossa 
sociedade enferma, para sermos instrumentos na promoção da justiça e da paz que 
também fazem parte do evangelho de Cristo. 
Capítulo 4 _______________ 
Calvinismo 
e Capitalismo: 
Qual é Mesmo a sua Relação? 
A questão de como se relacionam o calvinismo e o capitalismo tem sido objeto 
de enorme controvérsia, estando longe de produzir um consenso entre os estudiosos. O tema 
popularizou-se a partir do estudo do sociólogo alemão Maus, Weber (1864-1920) intitulado A 
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicado em 1904-1905. Numa tese oposta 
à de Karl Marx, Weber concluiu que a religião exerce uma p r o fu nda i n f l uê nc i a 
s ob re a v id a ec on ô mic a . Ma i s especificamente, ele afirmou que a teologia e a 
ética do calvinismo foram fatores essenciais no desenvolvimento do capitalismo do norte da 
Europa e dos Estados Unidos. 
Os Pressupostos de Weber 
Weber partiu da constatação de que em certos países da Europa um número 
desproporcional de protestantes estavam envolvidos com ocupações ligadas ao capital, â 
indústria e ao comércio. Além disso, algumas regiões de fé calvinista ou reformada 
estavam entre aquelas onde mais floresceu o capitalismo. Na sua pesquisa, ele baseou-se 
principalmente nos puritanos e em grupos influenciados por eles. Ao analisar os dados, 
Weber concluiu que entre os puritanos surgiu um "espírito capitalista" que fez do 
lucro e do ganho um dever. Ele argumenta que esse espírito resultou do sentido cristão de 
vocação dado pelos protestantes ao trabalho e do conceito de predestinação, tido como 
central na teologia calvinista. Isso gerou o individualismo e um novo tipo de 
ascetismo "no mundo", caracterizado por uma vida disciplinada, apego ao trabalho e 
valorização da poupança. Finalmente, a secularização do espírito protestante gerou a 
mentalidade burguesa e as realidades cruéis do mundo dos negócios. 
0 Capitalismo e a Ética Calvinista 
Calvino de fato interessou-se vivamente por questões econômicas e existem elementos na 
sua teologia que certamente contribuíram para uma nova atitude em relação ao trabalho e 
aos bens materiais. Sua aceitação da posse de riquezas e da propriedade privada, sua doutrina 
da vocação e sua insistência no trabalho e na frugalidade, foram alguns dos fatores que 
colaboraram para o eventual surgimento do capitalismo. Mesmo um crítico contundente da 
tese de Weber como André Biéler admite: "Calvino e o calvinismo de origem 
contribuíram, certamente, para tornar muito mais fáceis, no seio das populações 
reformadas, o desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente" (O 
pensamento econômico e social de Calvino, p. 661). 
Todavia, esse e outros autores têm ressaltado como a ética e a teologia do reformador 
divergem radicalmente dos excessosdo capitalismo moderno. Por causa das difíceis 
realidades econômicas e sociais de Genebra, Calvino escreveu amplamente sobre o assunto. 
Ele condenou a usura e procurou limitar as taxas de juros, insistindo que os empréstimos 
aos pobres fossem isentos de qualquer encargo. Ele defendeu a justa remuneração dos 
trabalhadores e combateu a especulação financeira e a manipulação dos preços, principalmente 
de alimentos. Embora considerasse a prosperidade um sinal da bondade de Deus, ele valorizou 
a pessoa do pobre, considerando-o um instrumento de Deus para estimular os mais 
afortunados à prática da generosidade. A tese de que as riquezas são evidência de eleição 
e a pobreza é sinal de reprovação, é uma caricatura da ética calvinista. Para Calvino, a 
propriedade, o lucro e o trabalho deviam ser utilizados para o bem comum e para o serviço 
ao próximo. 
Conclusão 
Em conclusão, existe uma relação entre o calvinismo e o capitalismo, mas não 
necessariamente uma relação de causa e efeito. Provavelmente, mesmo sem o calvinismo teria 
surgido alguma forma de capitalismo. Se é verdade que a teologia e a ética reformadas se 
adequavam ás novas realidades econômicas e as estimularam, todavia, o tipo de 
calvinismo que mais contribuiu para fortalecer o capitalismo foi um calvinismo 
secularizado, que havia perdido de vista os seus princípios básicos. Entre esses 
princípios está a noção de que Deus e o Senhor de toda a vida, inclusive da atividade 
econômica, e, portanto, esta atividade deve refletir uma ética baseada na justiça, compaixão e 
solidariedade social. 
Capítulo 5 ____________ 
Os Cinco Pontos 
do Calvinismo 
João Calvino (1509-1564) faleceu no dia 27 de maio de 1564, antes de completar 55 
anos de idade. Não teve uma vida muito longa, mas realizou uma grande obra. Além de 
suas atividades políticas, administrativas e eclesiásticas, Calvino foi um grande teólogo. 
Após a morte de Calvino, alguns teólogos, sob a influência das tradições 
humanistas, passaram a questionar algumas doutrinas formuladas por ele. Entre estes se 
destacou Jacó Armínio (1560-1609), professor da Universidade de Leyden, na Holanda. 
O sistema de doutrina formulado por Armínio, em oposição às doutrinas formuladas por 
Calvino, é conhecido como arminianistuo. Após a morte de Armínio, um grupo de seus 
seguidores redigiu um documento denominado Rentonstrância (Representação), no qual 
questionavam cinco pontos fundamentais das doutrinas sistematizadas por Calvino. 
A divulgação da Remonstrânc ia gerou grande controvérsia entre os 
protestantes dos Países Baixos. Uns se posicionaram ao lado do calvinismo, outros ao 
lado do arminianismo. Por isso, foi convocado um sínodo para tratar do assunto. 0 
sínodo, constituído de pastores e presbíteros, representando os sínodos provinciais ou 
regionais da Igreja Reformada da República dos Sete Países Unidos (confederação de sete 
províncias, entre as quais estavam Bélgica e Holanda), reuniu-se na cidade de Dort (ou 
Dordrecht), na Holanda. A reunião foi aberta no dia 13 de novembro de 1618 e no dia 6 
de maio de 1619 as deliberações do sínodo foram solenemente 
promulgadas. O documento teológico elaborado pelo sínodo é conhecido como Cânones de 
Dort. 
Os cinco pontos do arminianismo foram rejeitados. E a resposta dada pelo sínodo â 
Remonstrância ficou conhecida como Os Cinco Pontos do Calvinismo: (1) depravação 
total, (2) eleição incondicional, (3) expiação limitada, (4) graça irresistível e (5) 
perseverança dos santos. 
Depravação Total 
Quando falam em depravação total, os calvinistas estão afirmando que, em decorrência 
da queda de nossos primeiros pais – Adão e Eva – o ser humano está totalmente 
corrompido no corpo e na alma e, portanto, nele não há nenhum bem espiritual. 
O Sínodo de Doa afirmou: 
No princípio o homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com 
o verdadeiro e salutar conhecimento de Deus e de todas as coisas espirituais. Sua vontade e 
seu coração eram retos, todos os seus afetos, puros; portanto, era o homem completamente 
santo. Mas, desviando-se de Deus sob instigação do diabo e pela sua livre vontade, ele se 
privou desses dons excelentes. Em lugar disso trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis, leviano 
e perverso juizo em seu entendimento; malícia, rebeldia e dureza em sua vontade e em seu 
coração; e, ainda, impureza em todos os seu afetos. 
Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então a corrupção, de 
acordo como justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com 
exceção de Cristo somente. 
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes 
de qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos do pecado. 
Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco podem retornar a 
Deus, corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar dispostos a essacorreção.1 
Eleição Incondicional 
Os calvinistas crêem, â luz dos ensinos bíblicos, que Deus não permitiu que toda a 
humanidade perecesse eternamente no inferno. Por isto, antes da fundação do mundo, escolheu 
homens e mulheres para serem santos e irrepreensíveis perante ele, e, em amor, os 
predestinou para a salvação (ver Efésios 1.3-14). Esta eleição é incondicional porque não se 
baseia em nenhum mérito ou virtude da pessoa predestinada, mas unicamente no amor e na 
misericórdia de Deus. Também não é o conhecimento prévio de Deus, de que tais pessoas vão 
receber Jesus como Salvador, que levou o Criador a escofitê-Ias para a salvação. Pelo 
contrário, é a escolha feita por Deus que leva essas pessoas ao arrependimento de seus 
pecados e à fé salvadora. Portanto, a eleição ou predestinação para a salvação é um ato 
soberano de Deus totalmente incondicional. "A fé e o arrependimento não são condição, 
mas resultado da eleição, o meio que Deus escolhe para aplicara salvação aos eleitos. 
Deus não elege porque antevê arrependimento e fé. Ele produz arrependimento e fé porque 
elegeu-.' 
Expiação Limitada 
O que é expiação? "O sentido da idéia envolvida nessa palavra é o processo da reunião de 
duas partes, antes alienadas, para que formem uma unidade".' O pecado havia estabelecido 
uma separação entre Deus e o homem. E alguma coisa precisava ser feita para remover a 
culpado pecado e restabelecera união entre Deus e o ser humano. Portanto, quando 
falamos em expiação, estamos nos referindo â obra que foi feita para reconciliar o 
homem com Deus. Jesus tomou o lugar dos pecadores, a culpa deles lhe foi 
imputada e a punição que mereciam foi transferida para ele. 
Os calvinistas crêem que Cristo sofreu o castigo em lugar dos eleitos e que pagou pelos 
pecados de cada um daqueles que Deus havia escolhido para a salvação, isto é, a expiação é 
obra expiatória de Cristo tenha sido incompleta ou imperfeita. A obra de Cristo foi 
completa e perfeita. O termo limitada se aplica apenas à extensão da expiação. Daí a 
afirmação de que o sacrifício de Cristo é suficiente para a salvação da humanidade toda, mas é 
eficiente para salvar apenas os eleitos. 
Jesus declarou: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Eu sou o bom 
pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me 
conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas" (Jo 10.11,14,15). Fica 
claro que Jesus morreu por suas ovelhas, isto é, pelos eleitos. 
A Bíblia afirma que nenhum plano de Deus pode ser frustrado (Jó 42.2). Portanto, se o 
sacrifício de Jesus tivesse o objetivo de salvar todos os homens, todos os homens seriam 
salvos. Mas esse não era o plano de Deus. Ele enviou seu Filho para salvar os seus 
escolhidos. Logo, os escolhidos de Deus serão salvos. E é nessa certeza que nós vivemos e 
descansamos. 
Graça Irresistível 
Os teólogos do Sínodo de Dort, discorrendo sobre a Graça Eficaz, declararam o seguinte: 
"Deus realizaseu bom propósito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da seguinte 
maneira: ele faz com que ouçam o Evangelho mediante a pregação e poderosamente ilumina 
suas mentes pelo Espírito Santo de tal modo que possam entender corretamente e discernir as 
coisas do Espírito de Deus. Mas, pela operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, Deus 
também penetra até os recantos mais íntimos do homem. Ele abre o coração fechado e 
enternece o que está duro, circuncida o que está incircunciso e introduz novas 
qualidades na vontade. Esta vontade estava morta, mas ele a faz reviver; era má, mas ele a toma 
boa; estava indisposta, mas ele a toma disposta; era rebelde, mas ele a faz obediente, ele move 
e fortalece esta vontade de tal forma que, como uma boa árvore, seja capaz de produzir frutos 
de boas obras (1 Co 2.14)114 
A graça de Deus é eficaz, irresistivel, porque "a ação de Deus no coração dos seus eleitos 
não poderá ser eficazmente resistida; isso não quer dizer que os pecadores serão convertidos à 
força, mas que suas vontades serão eficazmente convencidas; serão levados ao 
arrependimento e crerão no evangelho, de modo que acabarão respondendo 
positivamente ao chamado do Espírito Santo"." 
Perseverança dos Santos 
A Perseverança dos Santos é a conclusão natural a que se chega depois de examinar 
os quatro primeiros pontos do calvinismo. "Se o homem é totalmente depravado e não pode 
fazer nada para ajudar a si mesmo no que diz respeito às coisas espirituais; se Deus é 
absolutamente soberano na questão da eleição, fundamentada tão-somente em sua 
própria vontade; se a morte de Cristo realizou -se em favor dos eleitos, 
assegurando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneira irresistivel, conclui-se que 
Deus assegurará a salvação final destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim ", afirmou o 
professor Richard Belcher, do Reformed Theological Sentinary de Charlotte, Estados 
Unidos, na Conferência Fiel de 2002. 
O teólogo Louis Berkhof def iniu a dout r ina da Perseverança dos Santos 
"como a contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da graça divina, 
iniciada no coração, tem prosseguimento e se completa'.s Richard Belcher, na 
Conferência a que nos re fer imos , af i rmou que "a perseverança dos santos é a 
doutrina que afirma que os eleitos continuarão no caminho da salvação (por serem eles o 
objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto da expiação realizada 
por Cristo) visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservará e os santificará 
até o final".' 
Conclusão 
João Calvino não foi o autor dos Cinco Pontos do 
Calvinismo. Nem todos os calvinistas aceitam, integralmente, as afirmações do Sínodo de 
Dort. Mas, apesar disto, é inegável que os Cinco Pontos sintetizam o ensino calvinista. 
Estes Cinco Pontos refletem bem a ênfase doutrinária da Igreja Presbiteriana: a 
soberania de Deus em todas as coisas. Nós cremos que Deus é absolutamente soberano em 
tudo. Nossa Confissão de Fé afirma: "Deus tem, em si mesmo, e de si mesmo, toda a 
vida, glória, bondade, e bem-aventurança. Ele é todo-suficiente em si e para si, pois não 
precisa das criaturas que trouxe à existência; não deriva delas glória alguma, mas 
somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de 
todo ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio 
pua fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser".8 
Capítulo 6 _____________ 
Primeiras Ten tivas 
de Implantação 
no Brasil 
Como já foi mostrado, a fé reformada implantou-se inicialmente no hemisfério norte 
(Europa e América do Norte). Depois, foi levada para várias regiões de colonização 
anglosaxônica em outros continentes. Por fim, deitou raízes entre as populações locais de 
muitos países do chamado "terceiro untada" (Ásia, África e América Latina). 
Apenas dois países ibero-americanos possuem comunidades presbiterianas de 
maior expressão: México e Brasil. A Igreja Presbiteriana Nacional do México, cujos 
primórdios remontam a 1872, possui cerca de 2 milhões de membros, sendo a segunda 
maior denominação evangélica do país. No Brasil, todos os grupos presbiterianos e 
reformados somam por volta de 1 milhão de pessoas. Existem pequenas denominações 
presbiterianas em muitos outros países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, 
Guatemala, Guiana (Inglesa), Paraguai, Perue Venezuela. 
O presbiterianismo foi implantado definitivamente no Brasil a partir de 1859, coma 
chegada do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Todavia, houve tentativas 
anteriores de trazer a fé reformada para o país. Esses esforços ocorreram nos dois 
primeiros séculos da colonização do Brasil. Foi nesse contexto que ocorreram as primeiras 
tentativas dos reformados de anunciar o evangelho a povos pagãos. 
A Invasão dos Franceses 
Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a se interessar pela ocupação e a 
colonização dos novos domínios. 
Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações européias, especialmente a França. O 
militare aventureiro francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571) teve a idéia de 
fundar uma colônia no Brasil. Sua expedição chegou à baía de Guanabara no dia 10 
de novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tutrinararbás, acostumados à 
presença de franceses na região. 0 grupo instalou-se na pequena ilha de Sergipe, mais 
tarde denominada Villegaignon, onde foi construido o Forte Cofigny. 
Sendo inicialmente simpático à causa da Reforma e procurando elevar o nível 
moral e espiritual da sua colônia, Villegaignon escreveu a João Calvino solicitando o 
envio de colonos protestantes. A Igreja Reformada de Genebra atendeu prontamente ao 
pedido, enviando um grupo de evangélicos sob a liderança de dois pastores, Pierre 
Richier e Guillaume Chartier. Os seus objetivos específicos eram implantar a fé 
reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas. No dia 7 de março de 1557, 
eles finalmente entraram no "braço de mar" chamado Guanabara pelos selvagens e Rio 
de Janeiro pelos portugueses. O desembarque no Forte Coligny deu-se no dia 10 de março, 
uma quarta-feira. Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, 
foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas 
Américas, o Novo Mundo. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela 
primeira vez no domingo 21 de março de 1557. 
Infelizmente, Villegaignon acabou entrando em conflito com os huguenotes sobre 
questões doutrinárias e os expulsou da colônia. No dia 4 de janeiro de 1558, eles partiram 
para a França a bordo de um velho navio. O comandante avisou que a viagem iria ser 
difícil e não haveria alimento para todos. Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram 
para voltar à terra. Inicialmente Villegaignon os recebeu de modo cordial, mas logo os 
acusou de serem traidores e espiões. Formulou um questionário sobre 
para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou 
Confissão Fluminense. 
O vice-almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos 
reformados. No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre 
Boutrilon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon teve a vida poupada 
devido a suas vacilações religiosas e ao fato de ser o único alfaiate da colônia. Jacques Le 
Balleur fugiu e foi para São Vicente. Levado preso para a Bahia, ficou encarcerado por 
oito anos, sendo então conduzido ao Rio de Janeiro, onde foi enforcado. Ele e seus 
companheiros ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil. Dentre os 
que conseguiram retomar para a França estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde 
tomou-se pastor e escreveu a célebre obra Viagem à Terra do Brasil. 
Os Holandeses no Nordeste 
A próxima tentativa de introdução do calvinismo no Brasil ocorreu em meados do 
século 17 por meiodos holandeses. Em 1621, eles haviam criado a Companhia das 
índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas 
Américas, especialmente uma rica região açucareis —o nordeste do Brasil. Em 1624, os 
holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. 
Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste. 
Embora os residentes católicos e judeus tenham gozado de tolerância religiosa, a 
igreja oficial da colônia foi a Igreja Reformada da Holanda, que realizou uma grande obra 
pastoral e missionária. Ao longo dos anos foram criadas 22 igrejas e congregações, dois 
presbitérios (Pernambuco e Paratilha) e até mesmo um sínodo (1642-1646). Além da 
assistência aos colonos europeus, a igreja reformada fez um grande trabalho missionário junto 
aos indígenas. Ao lado da pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo 
incluíam a tradução das Escrituras e a ordenação de pastores indígenas, o que não chegou a se 
concretizar. 
Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, 
transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova 
Amsterdã, a futura Nova York. Coma expulsão dos holandeses, as igrejas nativas vieram a 
extinguir-se. 
Eventos Posteriores 
Após a expulsão dos holandeses, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por 
mais de 150 anos. Foi só no início do século 19, com a vinda da fundia real portuguesa, que 
essa situação começou a se alterar. Em 1810, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de 
Comércio e Navegação, cujo artigo XII concedeu tolerância religiosa aos imigrantes 
protestantes. Logo, muitos começaram a chegar, entre eles um bom número de reformados. 
Um dos primeiros pastores presbiterianos a visitar o Brasil foi o Rev. James Cooley 
Fletcher (1823-1901), que aqui chegou em 1851. Fletcher foi capelão dos marinheiros que 
aportavam no Rio de Janeiro e deu assistência religiosa a imigrantes europeus. Ele 
manteve contatos com D. Pedro 11 e outros membros destacados da sociedade; lutou em 
favor da liberdade religiosa, da emancipação dos escravos e da imigração 
protestante. Escreveu o livro O Brasil e os Brasileiros (1857), que foi muito apreciado nos 
Estados Unidos. 
Fletcher não fez nenhum trabalho missionário junto aos brasileiros, mas contribuiu para 
que isso acontecesse. Foi ele quem influenciou o Rev. RobertReid Kalley e sua esposa 
Sarah P. Kalley a virem para o Brasil, o que ocorreu em 1855. Kalley fundou a Igreja 
Evangélica Fluminense, no Rio de Janeiro, em 1858. No ano seguinte, chegou à mesma 
cidade o fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Ashbel Green Simonton. 
Capítulo 7 _____________ 
A Confissão de Fé 
da Guanabara 
Conforme vimos ao tratar da França Antártica, o vice almirante Villegaignon entrou em 
conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias e os expulsou da colônia. No dia 4 de 
janeiro de 1558, eles partiram para a França a bordo de um velho navio. O navio tinha pequena 
capacidade: somados os marujos e os passageiros, havia 45 pessoas a bordo. Logo, 
começou a entrar água em muitos pontos do casco. O comandante avisou que a 
viagem iria ser penosa e não haveria alimento para todos. À vista disso, Jean de Léry e alguns 
companheiros se ofereceram para voltar à terra. Léry desistiu no último momento, quando 
já se encontrava no bote. Os outros eram Pierre Bourdon, Jean du Bourdel, Matthieu 
Verneuil, André Lafon e Jacques Le Balleur. 
Desafio 
Os cinco homens foram parar em uma praia, onde vários indígenas vieram eram ao seu 
encontro. Resolveram voltar para o forte Coligny, onde Villegaignon os recebeu de modo 
cordial. Doze dias depois, ele mudou radicalmente de atitude: concluiu que os calvinistas 
haviam mentido e eram traidores e espiões. Decidiu executá-los por heresia. Como 
representante do rei Henrique 11, podia exigir que eles declarassem publicamente a sua fé. 
Formulou um questionário sobre pontos doutrinários que já havia levantado 
anteriormente e deu-lhes doze horas para responderem por escrito. 
Tudo de que dispunham os huguenotes era um exemplar das Escrituras. Além disso, 
não eram teólogos, e sim leigos 
Para redigir a resposta escolheram Jean du Bourdel, não só o mais velho deles, mas o mais 
letrado e conhecedor do latim. Concluída a redação, com tinta de pau-brasil, Bourdel leu-a 
várias vezes perante os companheiros, interrogando-os sobre cada ponto. O resultado 
foi a bela Conf issão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense. Cada um a 
assinou de próprio punho, indicando que a recebia como sua própria. 
A Confissão de Fé 
Estritamente falando, a Confissão da Guanabara é um credo, pois quase todos os 
artigos começam com a palavra "cremos". Todavia, a sua extensão e a variedade de 
temas a coloca na categoria das confissões de fé, comuns na época da Reforma. Na 
verdade, é um dos primeiros documentos confessionais reformados. A Confissão 
Galicana (1559), a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1566) e a 
Confissão de Fé de Westminster (1648) são todos posteriores. 
A Introdução faz uma bela aplicação do texto de 1 Pedro 3.15. A Confissão de Fé em si 
é composta de 17 parágrafos de diferentes tamanhos que tratam de cinco ou seis 
questões principais: (1) Parágrafos 1-4: a doutrina da Trindade, em especial a 
pessoa de Cristo, com suas naturezas divina e humana. (2) Parágrafos 5-9: a doutrina 
dos sacramentos; a Ceia é tratada em quatro artigos e o batismo em um. (3) Parágrafo 10: 
a questão do livre arbítrio. (4) Parágrafos 11-12: a autoridade dos ministros para perdoar 
pecados e impor as mãos. (5) Parágrafos 13-15: divórcio, casamento dos bispos, 
voto de castidade. (6) Parágrafos 16-17: a intercessão dos santos e orações pelos 
mortos. 
O texto faz diversas referências aos concílios da igreja antiga e aos pais da 
igreja, revelando os conhecimentos históricos dos seus autores. Os parágrafos 1 a 4 
utilizam uma linguagem tirada do Credo Niceno-Constammopolitano (ano 
procedente do Pai e do Filho" (Filioque) são bem conhecidas na história da teologia. O 
parágrafo 3 se refere ao "símbolo", ou seja, o Credo dos Apóstolos ou algum dos outros 
credos antigos. O parágrafo 5 se refere explicitamente ao Concilio de Nicéia (ano 325). 
A confissão também menciona quatro pais da igreja ou escritores da igreja antiga: 
Tertuliano (e.160-c.220)—parágrafo 5; Cipriano (c.200-258) — parágrafos 11 e 15; Ambrósio 
(c.339397) — parágrafos 11 e 13; e, principalmente, Agostinho (354- 430) — parágrafos 5 
(três vezes), 7, 11 e 17. Há também referências a um grande número de passagens 
bíblicas, principalmente na segunda metade do documento. 
Considerando o documento como um todo, percebem-se três características: (a) é 
uma confissão de fé bíblica: está repleta de referências e argumentos extraídos diretamente 
das Escrituras; (b) é uma confissão de fé cristã: expressa convicções e conceitos dos primeiros 
séculos da igreja; (e) é uma confissão de fé reformada: contém pontos importantes do 
calvinismo, como a centralidade das Escrituras, a natureza simbólica dos sacramentos, a 
supremacia de Cristo, a importância da fé, o batismo infantil e a eleição, entre outros. 
0 Martírio dos Huguenotes 
Recebido o texto da confissão, o comandante declarou heréticos vários artigos, 
especialmente aqueles relativos aos sacramentos e aos votos, e decidiu pela morte dos 
reformados. No dia 8 de fevereiro, mandou trazer do continente os signatários 
(Pieira Bourdon ficou na aldeia por se achar enfermo). Lançou^os em uma prisão 
pequena e escura, onde os condenados oraram e cantaram salmos. Decidiu que fossem 
estrangulados e lançados ao mar, pois o carrasco não tinha preparo para eliminá-los de 
outro modo. 
Chegou a sexta-feira 9 de fevereiro de 1558. O primeiro a ser chamado foi o redator da 
Confissão de Fé, Jean du Bourdel. 
conduzido à rocha escolhida para a execução, entoandosalmos e louvores no caminho. 
Orou antes de ser sufocado e lançado às águas. Matüúeu Verticil foi o próximo. 
Perguntou por que estava sendo executado. Diante da resposta, observou que oito meses 
antes o almirante havia confessado publicamente os mesmos pontos doutrinários pelos 
quais condenara à morte os reformados. Após orar, pediu a Villegaignon que, em vez de 
fazê-lo morrer, o tomasse como escravo. O vice-almirante lhe disse que, caso se retratasse, 
iria pensar no assunto. Verneil se negou a isso e foi executado. 
André Lafon deixou-se persuadir por sugestões de auxiliares de Villegaignon, 
que lhe disseram como poderia salvara vida. Declarou que não queria ser obstinado em 
suas idéias calvinistas e se comprometeu a retratar-se quando lhe provassem os seus erros 
pela Palavra de Deus. Foi poupado e ficou preso na fortaleza, como alfaiate do líder e 
dos seus homens. Pierre Bourdon foi conduzido pessoalmente por Villegaignon e 
alguns auxiliares da casa onde se achava gravemente enfermo até a ilha. Disseram-lhe 
que iria receber tratamento. Teve o mesmo fim que os dois colegas. 
Às 10 horas, Villegaignon reuniu toda a sua gente e lhes dirigiu palavras de cautela 
contra a "seita dos luteranos". Em sinal de regozijo pelas execuções, mandou fazer 
farta distribuição de víveres aos seus servos. Ao voltar à França publicou diversos 
escritos contra a fé reformada, sendo devidamente refutado. 
Jacques Le Balleur conseguiu escapar. Alguns acreditam que viera ao Brasil na 
primeira expedição. Além de eloqüente e teólogo, era versado em espanhol, latim, grego 
e hebraico. Surgiu na Capitania de São Vicente em 1559, onde chegou em uma canoa de 
tamoios. Pôs-se a pregar as suas convicções. O jesuíta Luiz de Grã desceu de São Paulo de 
Piratininga (fundada há cinco anos) para desarraigara heresia. Balleur ia ganhando terreno e dia 
a dia aumentava o número dos seus ouvintes. O jesuíta não ousou disputar com ele, mas 
mandou prendê-lo e o 
enviou para a Bahia, sede do governo de Mem de Sá, onde ficou encarcerado por oito 
anos. 
Condenado à morte, a execução foi suspensa por algum tempo. Finalmente, foi 
levado ao Rio de Janeiro para ser executado no lugar onde começara a pregar as suas 
"heresias". Foi enforcado na época da expulsão dos últimos franceses, pouco após a 
fundação da cidade do Rio de Janeiro. No momento da execução, revelando-se 
inábil o carrasco, foi auxiliado pelo padre José de Anchieta, que julgara haver 
convertido o calvinista e temia que a demora da execução o fizesse voltar atrás. 
0 Destino da Confissão 
Os huguenotes que voltaram para a França só chegaram ao destino em fins de 
maio de 1558, após quase cinco meses de viagem. Algumas pessoas que voltaram para a 
França quatro meses depois contaram ao senhor Du Pont, em Paris, que haviam 
testemunhado as execuções. Trouxeram consigo não só a Confissão de Fé, mas todo 
o processo instaurado contra os calvinistas por Villegaignon, entregando-o a Du Pont, de quem 
mais tarde o obteve Jean de Léry. 
Visando a preservação do documento, Léry o entregou no mesmo ano de 1558 a 
Jean Crespin, para que o inserisse "no livro dos que em nossos dias foram martirizados 
na defesa do Evangelho- (História dos Mártires, 1564). 
Léry regressou a Genebra, onde concluiu os estudos teológicos e foi ordenado. 
Foi pastor em Belleville-Sur-Saône, perto de Lyon. Voltou para Genebra em 1562 e, a 
instâncias de amigos, escreveu a sua obra mais famosa, Viagem à Terra do Brasil. A 
seguir exerceu o ministério em Nevers e La Charité. Escapou por milagre do massacre 
de São Bartolomeu e refugiou-se na fortaleza de Sancerre, vindo a escrever uma 
narrativa do cerco dessa cidade, publicada em 1574. Perdeu dois manuscritos da sua 
obra principal (Viagem à terra do Brasil), mas reencontrou o primeiro deles em 1576, 
publicando-o dois anos depois em La Rochelle. 
Em 1910, quando da organização da Assembléia Geral (Supremo Concílio) da Igreja 
Presbiteriana do Brasil, no Rio de Janeiro, os delegados fizeram uma vis i ta â 
i lha de Villegaignon como parte das comemorações do quarto centenário do 
nascimento de João Calvino, transcorrido no ano anterior. Hoje, a pequena ilha abriga a Escola 
Naval, estando situada ao lado do Aeroporto Santos Dumont. Recentemente realizou-se 
nesse local um culto de ação de graças pelo transcurso do 450° aniversário do 
primeiro culto protestante no Brasil. No início de 2008 também serão lembrados os 450 
anos da Confissão de Fé da Guanabara. 
Capítulo 8 _______________ 
Almplantação 
doPresbiteriffinismo 
no Brasil (1859-1903) 
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e desprendimento do 
Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia, 
Simonton estudou no Colégio de Nova Jersey (a futura Universidade de 
Princeton) e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um 
reavivamento em 1855, fez sua profissão de fé e pouco depois ingressou no Seminário 
de Princeton. Um sermão pregado por seu professor, o conhecido teólogo Charles Hodge, 
levou-o a considerar o trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois, 
candidatou-se perante a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados 
Unidos, citando o Brasil como o campo de sua preferência. Dois meses após sua ordenação, 
embarcou para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de 
idade. 
Início (1860-1869) 
Em 22 de abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português. Em janeiro 
de 1862, recebeu os primeiros membros, sendo fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de 
Janeiro. No breve período em que viveu no Brasil, Simonton, auxiliado por alguns 
colegas, fundou o primeiro jornal evangélico do país (Imprensa Evangélica, 
1864), criou o primeiro presbitério (1865) e organizou um seminário (1867). O Rev. 
Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867 (sua esposa, Helen 
Murdoch Simonton, havia falecido três anos antes). 
Os principais colaboradores do pioneiro nesse período foram seu cunhado 
Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as igrejas de São Paulo e Brotas; 
Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes alemães em Rio Claro, 
lecionou no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; e George W. Chamberlain, grande 
evangelista e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do 
"seminário primitivo" foram também grandes obreiros: Antonio Bandeira Trajano, Miguel 
Gonçalves Torres, Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa e Antônio Pedro de 
Cerqueira Leite. 
Outras igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena, Borda da Mata 
(Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas 
foi o Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que se tornou o primeiro 
brasileiro a ser ordenado ministro do evangelho (1865). Ele visitou incansavelmente dezenas de 
vilas 
e cidades no interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho 
da graça. 
Consolidação (1869-1888) 
Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados 
Unidos (POUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da Igreja do Sul (PCUS): 
George Nash Montou e Edward Lane. Eles se fixaram em Campinas, região onde havia 
muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu país 
(18611865). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas 
e em 1873 o famoso, porém efémero, Colégio Internacional. Os missionários da PCUS 
evangelizaram a região da Mogiana, 
o oeste de Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias 
dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle. 
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros 
Amazônia). Os principais foram John Rockwel] Smith, fundador da igreja do Recife (1878); 
DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza;e o Dr. George W. Butler, o "médico amado' de 
Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do Nordeste foi o Rev. 
Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana. 
Enquanto isso, os missionários da Igreja do Norte dos Estados Unidos também 
davam continuidade ao seu trabalho, auxiliados por novos colegas. Seus principais campos 
eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; 
Rio de Janeiro, cuja igreja inaugurou 
o templo em 1874, e Nova Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, 
cujos pioneiros foram Robert Lenington 
e George A. Landes; e especialmente São Paulo. Na capital paulista, o casal 
Chamberlam fundou em 1870 a Escola Americana, que mais tarde veio a ser o 
Mackenzie College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província 
destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio Grande do 
Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu holandês. 
Entre os novos pastores -nacionais" desse período estavam Eduardo Carlos 
Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos 
Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas nor te -
amer icanas também enviaram notáveis missionárias educadoras: Mary Parker 
Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper. 
Dissensão (1888-1903) 
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, que 
assim tornou-se autônoma, desligando-se das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo 
compunha-se de três presbitérios – Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e 
Pernambuco – e tinha vinte 
o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário Presbiteriano, elegeu seus 
dois primeiros professores e dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: 
São Paulo e Minas. 
Nesse período a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos 
missionários, pastores brasileiros e igrejas locais. O Seminário começou a funcionar em 
Nova Friburgo no final de 1892 e no início de 1895 transferiu-se para São Paulo, tendo 
â frente o Rev. JohnRockwell Smith. O Mackenzie College ou Colégio Protestante foi criado 
em 1891, sendo seu primeiro presidente o Dr. Horace M. Lane. Por causa da febre amarela, o 
Colégio Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-
se Instituto Gammon, numa homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R. 
Gammon (1865-1928). 
Uma importante escola evangélica do Nordeste foi o Colégio Americano de Natal 
(1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na mesma época, a 
cidade de Garanhuns começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana. Além 
do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas importantes instituições 
educacionais: o Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em 
Recife. No final desse período, além de estar presente em todos os estados do Nordeste, 
a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e ao Amazonas. 
No Sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do Sul 
e Florianópolis). A igreja também iniciou a sua marcha vitoriosa no leste de Minas. O 
primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá foi o Rev. Matadas Gomes dos Santos (1901). 
As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser pastoreadas por dois 
grandes l íderes , respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e Alvaro Emídio G. dos 
Reis (1897). 
Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma grave crise 
que se abateu sobre a vida da 
igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões 
de Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao 
passo que a Junta preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente através do Mackenzie. 
Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo, 
Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. 
Waddell. 
Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo Carlos Pereira passou a tornar-se mais radical 
em suas posições, perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros. Como 
uma alternativa ao jornal do Rev. Eduardo, O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O 
Puritano em 1899. Em 1900 foi criada a Igreja Presbiteriana Unida, que resultou da fusão 
de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da igreja do Rev. Eduardo. Na 
mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a situação: o debate acerca da 
maçonaria. 
Em março de 1902, Eduardo Carlos Pereira e seus partidários começaram a 
divulgara sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as questões missionária, educativa e 
maçônica. Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise chegou ao seu 
triste desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do Sínodo. Após serem derrotados 
em suas propostas, o Rev. Eduardo e seus colegas desligaram-se do Sínodo e formaram 
a Igreja 
Capítulo 9 ________________ 
A Reconstitui ção 
do Presbiterianismo 
no Brasil (1903-1932) 
No in ício de agos to de 1903, os independentes organizaram o seu 
presbitério, com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo Carlos Pereira, Caetano 
Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otomel Mota, Alfredo Borges Teixeira e 
Vicente Temudo Lessa). Seguiu-se um triste período de divisão de comunidades, luta pela 
posse de propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente 
chegou a vedar aos smodais a Ceia do Senhor. O período mais conflituoso estendeu-se até 1906. 
Nessa época, o Sínodo contava com 77 igrejas e cerca de 6500 membros; em 1907, 
os independentes tinham 56 igrejas e 4200 membros comungantes. 
Recuperação (1903-1917) 
O novo edifício do seminário, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, foi ocupado 
sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os Revs. John R. Smith 
e Erasmo Braga (este a parti r de 1901) e o membro mais destacado da diretoria era o 
Rev. Alvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas, 
passando a ocupar a antiga propriedade do Colégio Internacional. A primeira turma de 
Campinas só se formou em 1912. Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de 
Gouvêa Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Puta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr, 
Jorge Thompson Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira. 
A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade atingida no Leste de 
Minas foi Alto Jequitibá; e no 
Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros pastores daqueles campos foram 
Matarias Gomes dos Santos, Aníbal Nora, Constâncio Omero Orregna e Samuel Barbosa. 
No Vale do Ribeira, o evangelista Willes Roberto Banks continuava em atividade; a família V 
assão daria grandes contribuições à igreja. 
Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois – Norte e Sul – e em 1910 foi organizada 
a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil. O moderador do último 
sínodo e instalador da Assembléia Geral foi o veterano Modesto Carvalhosa, 
ordenado 40 anos antes. A Assembléia Geral foi instalada na Igreja do Rio de Janeiro e o 
Rev. Álvaro Reis foi eleito seu primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de 
Villegaignon para lembrar os mártires calvinistas e comemorar o 4' centenário do 
nascimento de Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha 10 mil membros 
comungantes, outro tanto de menores e cerca de 150 igrejas em sete presbitérios. As 
demais denominações tinham os seguintes números: metodistas – 6 mil membros; 
independentes – 5 mil; batistas – 5 mil; episcopais - cerca de mil. Em 1911, a IPB enviou o 
seu primeiro missionário a Portugal, Rev. João Marques da Mota Sobrinho, que lá ficou até 
1922. 
Os missionários

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