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TCC - A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO: UMA APROXIMAÇÃO DAS CONCEPÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE A PRATICA DO ABORTO ENTRE AS ADOLESCENTES NO DISTRITO DO GRAJAÚ

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO 
Curso de Serviço Social 
 
 
 
 
Agda Gomes da Silva 
Suelen Teixeira de Paula 
Tayna Alves Reis 
 
 
 
 
A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO: UMA APROXIMAÇÃO DAS 
CONCEPÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À PRÁTICA DO 
ABORTO ENTRE ADOLESCENTES NO DISTRITO DO GRAJAÚ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2016 
 
Agda Gomes da Silva 
Suelen Teixeira de Paula 
Tayna Alves Reis 
 
 
 
 
A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO: UMA APROXIMAÇÃO DAS 
CONCEPÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À PRÁTICA DO 
ABORTO ENTRE ADOLESCENTES NO DISTRITO DO GRAJAÚ 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
para obtenção do título de Bacharel em Serviço 
Social do Curso de Serviço Social da 
Universidade de Santo Amaro - UNISA/SP, sob a 
orientação do Prof. Esp. Henrique Manoel 
Carvalho Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2016 
 
Agda Gomes da Silva 
Suelen Teixeira de Paula 
Tayna Alves Reis 
 
 
 
 
A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO: UMA APROXIMAÇÃO DAS 
CONCEPÇÕES O ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À PRÁTICA DO 
ABORTO ENTRE ADOLESCENTES NO DISTRITO DO GRAJAÚ 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel 
em Serviço Social do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro. 
Orientador: Prof. Esp. Henrique Manoel Carvalho Silva. 
 
Data da Aprovação _____/_____/_____. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof. Esp. Henrique Manoel Carvalho Silva 
(Orientador) 
 
 
Prof. Me. Joana Maria Gouveia Franco Duarte 
(Leitora) 
 
CONCEITO FINAL: ______________________ 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Essencialmente meu primeiro agradecimento é ao Senhor meu Deus 
pela Dádiva do Dom da Vida, por ter me livrado e livrar das coisas ruins do 
mundo que poderiam ter interrompido meu objetivo, por cada despertar, por 
me guiar, iluminar, proteger, fortalecer e dar ânimo para seguir em frente, a 
palavra se resume GRATIDÃO a ti Deus. 
 
 Dedico aos meus pais Srª Isabel Nogueira e Srº Joaquim Gomes que 
são minha vida, a razão pelo o qual me esforço todos os dias para ser a melhor 
filha e fazer com que eles sintam muito orgulho de mim, á estes Mãezinha e 
Paizinho que tanto faz por mim, por cada momento em que eu derramei 
lagrimas de raiva, angustia, medo os Senhores esteve ao meu lado, por cada 
abraço, por cada palavra, por cada gesto de carinho, por cada eu te amo, por 
cada dia sempre me esperar chegar da faculdade. Á ti minha Rainha e meu 
Rei dedico está conquista á vocês, se hoje pude concluir a graduação é por 
dedicação, esforço dos Senhores. Obrigado Vidas por acreditar na filha Agda. 
 
 Ao meu amor irmão Lucas Gomes obrigado filho por ser meu 
companheiro, meu amigo, minha alegria, meu anjo da guarda e me amar, 
você é minha vida conte sempre comigo e obrigado por fazer parte desta 
vitoria. 
 
Existem pessoas que não precisa ser filho dos mesmos pais, são pessoas 
que você encontra ao longo de sua vida e se tornar além de Amigo um irmão. 
Irmão este que sempre me apoio e está ao seu lado. Á você Irmão do Coração 
Cássio Braga meu muito obrigada, esta conquista é meu presente pra você. 
 
 
Á todos meus familiares meu muito obrigado e um especial 
agradecimento aos meus Amigos/as que de alguma forma sempre me 
apoiaram de me deram força amo vocês. 
 
Aos meus Afilhados/as madrinha agradece todo amor e carinho que 
sempre me deram e por serem á alegria da madrinha. 
 
Aos meus Mestres e todo corpo Docente do Curso de Serviço Social 
meus sinceros agradecimentos por se dedicarem e se disporem a transmitir 
vossos conhecimentos e compartilhar valores, princípios nesse caminho de 
formação profissional e de forma especial ao nosso Orientador Professor 
Henrique Manoel e nossa Leitora Professora Joana minha gratidão. 
 
 Obrigado as minhas companheiras de formação Suelen Teixeira e 
Tayna Reis pela dedicação muito obrigada somos guerreiras. 
 
Agradeço aos profissionais Assistentes Sociais do Hospital Geral do 
Grajaú pelo acolhimento recebido há 2 anos por compartilharem das suas 
praticas profissionais, experiências, por estarem sempre dispostos e serem 
generosos a mim auxiliar, sucesso, grata por ter feito parte desta equipe 
maravilhosa. 
 
Um sonho realizado, Gratidão! 
Agda Gomes da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de agradecer primeiramente ao Deus maravilhoso que eu 
descobrir nesses anos, um Deus amigo e compreensivo, que me guiou por todo o 
caminho. 
 
Gostaria de agradecer meus pais Edna e Pedro, meus irmãos Daniele, 
Isabelly e Fábio, meus avós José e Maria e a minha família que sempre foi à fonte 
e base de todo meu esforço, dedicação e persistência e em especial a minha avó 
Maria José, que abriu mão do seu sonho de estudar para dar a melhor chance 
que podia aos seus filhos, esse trabalho de conclusão de curso é por ela e para 
ela. 
 
Agradecer ao Herbert Douglas meu companheiro, amigo, parceiro e razão 
de muitas alegrias que passei pelo caminho. 
 
Sou grata por cada pessoa que nesses quatro anos me desconstruiu e 
ajudou a reconstruir, sou extremamente grata pela Suelen que não se cansa de ser 
manter em um processo dialético. 
 
Agradeço aos meus professores de graduação: Expedito, Alaíde, Débora, 
Marlene, Vera, Luciane, Vanessa Lopes, Alberta, James, Tito, Emanuel, Sonia, 
Veloso, Lourdes, Silvia, Vanessa Carvalho... 
 
E a cada Assistente Social que fez parte da minha história durante meu 
estágio: Minhas supervisoras Silmara, Roberta, Cristina e Daisy e os outros 
profissionais que com enorme generosidade dividiram comigo seus saberes, 
Renata Barbosa, Renata Lima, Renata Braga, Edna, Sonia, Suellen Lopes, 
Efigênia, Beatriz, Nayara, Fernanda, Erika, Danilo, Bruna, Renata, Ana Paula, 
Monica, Suéllen Rosa e minha companheira de estágio Angélica. 
 
Finalmente agradeço as minhas companheiras de TCC, Agda e Tayna que 
após muitos altos e baixos trouxemos a luz esse trabalho pelo qual nutrimos o 
carinho de um filho. 
 
Agradeço o nosso orientador professor Henrique e a nossa leitora 
professora Joana que colaboram de forma tão integral a nossa pesquisa. 
 
Sou muito grata por ter me apaixonado por essa profissão e por não 
desejar mais nada na vida profissional além de SER UMA ASSISTENTE 
SOCIAL. 
 
 Suelen Teixeira de Paula 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Os poemas são pássaros que chegam 
não se sabe de onde e pousam 
no livro que lês. 
Quando fechas o livro, eles alçam vôo 
como de um alçapão. 
Eles não têm pouso 
nem porto 
alimentam-se um instante em cada par de 
mãos 
e partem. 
E olhas, então, essas tuas mãos vazias, 
no maravilhado espanto de saberes 
que o alimento deles já estava em ti. 
 Mario Quintana 
Primeiramente, agradeço a Deus, Pai celeste que com sua graça e força 
divina me deu o dom da vida, e me manteve firme durante essa jornada. 
Agradeço aos meus pais Iramar e Anastacio, que ao longo da minha vida 
sempre estiveram presentes em todos os momentos, dos bons aos ruins, que me 
educaram, que me ensinaram a ser uma pessoa melhor, graças a vocês me tornei a 
pessoa que sou os dois sempre me motivando, quando necessário corrigindo e 
acreditando nos meus sonhos tanto quanto eu, mãe e pai, eu sou parte da vida de 
vocês, e vocês são a minha história, se hoje estou aqui é graças a vocês que 
sempre batalharam e lutaram por mim, e nesse momento não poderia deixar de 
expressar o quanto eu amo vocês. 
Agradeço ao meu irmão, meu parceiro de todas as horas, mesmo com todas 
as implicâncias e desavenças, que já ocorreram, Fabio é e sempre será o amor da 
minha vida! 
Com pesar agradeço a uma pessoa que não esta mais presente em vida, 
porém será lembrada eternamente, minha avó Joana Alves, que sempre foi um 
exemplo de mulher, guerreira e batalhadora, uma mulher que eu amarei até a 
eternidade, que fisicamente não esta mais entre a gente, mas a sinto presente como 
meu anjo da guarda, minha protetora,e onde estiver a levarei em meu coração. 
Vozinha, dona Joaninha, meu eterno anjo, te amo. 
 
Aos amigos/as e primos/as de uma vida, agradeço por cada momento 
compartilhado, pela compreensão nos momentos em que estive ausente, por serem 
minha válvula de escape quando precisava fugir do espaço acadêmico, a cada um 
de vocês que partilharam dos bons e maus momentos expresso meu carinho e 
gratidão! 
Aos companheiros acadêmicos, deixo minha gratidão, por partilharem de 
momentos inesquecíveis, pelo aprendizado que tive com cada um em particular, a 
vivência com vocês me acarretou grandiosamente em conhecimento e respeito, 
aprendi muita coisa com a singularidade de cada um, consegui desconstruir muita 
coisa, me despir de vários pré-conceitos que eram arraigados em minha concepção 
de vida, e que com algumas conversas pude notar o quanto temos de aprender, e 
que esse aprendizado é diário e constante. 
Agda e Suelen em especial agradeço a vocês, obrigada pela parceria, se não 
fosse vocês eu não teria conseguido, de verdade agradeço por cada conversa, cada 
incentivo, pela paciência que tiveram comigo, duas pessoas que quero levar para 
sempre. 
A todo corpo docente do curso de Serviço Social da UNISA, que se 
esforçaram ao máximo para que nos tornemos profissionais brilhantes éticos e 
exemplares. 
Em especial, agradeço ao Prof. Esp. Henrique Manoel Carvalho Silva, que em 
todo momento da pesquisa se fez presente, se dispôs, e de forma brilhante nos 
orientou e sempre pronto a atender e tirar nossas duvidas, foi de grande valia cada 
questionamento e apontamento. 
Agradeço a leitora Prof. Me. Joana Maria Gouveia Franco Duarte pelos 
apontamentos feitos que enriqueceram o trabalho grandiosamente. 
A equipe de Serviço Social do Hospital Geral do Grajaú que fizeram parte 
desta pesquisa deixo a minha gratidão! 
E a todos e todas que, direta ou indiretamente fizeram parte desta pesquisa e 
dessa jornada de formação acadêmica, eu deixo minhas palavras de gratidão. 
Tayna Alves Reis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todas as meninas; mulheres. 
 
Num futuro hipotético: 
Marina é uma menina de 17 anos. 
João, seu namorado, tem 18 anos. 
Os dois namoram há cerca de um ano. 
O casal mantém uma vida sexual ativa. 
Sempre se protegeram. 
João sempre usou camisinha. 
Levavam uma vida normal de um casal de adolescentes. 
Após voltarem de uma festa, resolveram transar. 
Por acaso, pelo fogo da situação, esqueceram da camisinha. 
Uma irresponsabilidade. 
Um erro. 
Mas quem não erra? 
Quem não é irresponsável aos 17 e 18 anos? 
João não conseguiu tirar a tempo. 
Gozou. 
Dentro, 
Fora, 
Ao lado. 
Não tinha mais o que fazer. 
Decidiram que seria melhor não arriscar. 
Tentaram comprar a famosa "pílula do dia seguinte". 
Não conseguiram. 
Ele tentou na conversa. 
Negado. 
Ela tentou na conversa. 
Também negado. 
Os dois apelaram para o drama. 
Nada adiantou. 
A pílula, outrora permitida, passara a ser ilegal. 
O Estado lutava contra o aborto. 
"Um atentado contra a vida", diziam. 
Algumas semanas se passaram. 
Marina se sente enjoada. 
Conta para João. 
Os dois compram um teste na farmácia. 
Marina está grávida. 
Aos 17, nem ensino médio havia terminado. 
João, aos 18, estudava para o vestibular. 
Sem trabalho, 
Sem chão, 
Sem apoio. 
O medo os impedira de contar às suas famílias. 
Não trabalhavam, 
Não tinham dinheiro, 
Estrutura, 
Suporte 
Ou consciência. 
Que tamanha responsabilidade! 
Aos 18 e 17, mal conseguiam cuidar de si. 
Como seria cuidar de um bebê? 
Como seria passar por uma gravidez? 
Tão jovem, a menina seria obrigada a cuidar de outra menina. 
Pensaram em aborto. 
O Estado proíbe. 
A Igreja condena. 
A sociedade julga. 
Por quê? 
 
É uma boa pergunta. 
"É uma vida ali dentro", insistem. 
Mais uma vez, o casal decidiu que era melhor não arriscar. 
Mas arriscaram 
Com a vida. 
Marina decidiu abortar. 
Não importava o jeito. 
A criança não podia nascer! 
Não estavam preparados. 
Marina não podia ser mãe. 
João não podia ser pai. 
A criança seria criada pelos avós. 
Marina ganharia uma irmã ao invés de uma filha. 
João concordou. 
Acharam uma clínica de aborto clandestina. 
Foram até lá certos de sua decisão. 
Juntaram suas mesadas. 
João pegou dinheiro emprestado. 
Marina também pagou. 
Com a vida. 
Já era tarde demais. 
Nunca mais saiu de lá. 
Pelo menos não com consciência. 
Morreu na mesa de cirurgia. 
Arriscou sua vida por medo de ter que cuidar de outra. 
Era obrigada a cuidar. 
Assim como foi obrigada a tomar essa decisão. 
João nada pôde fazer. 
O Estado continuou contra o aborto. 
Insistia que não podia atentar contra a vida. 
Mas matou Marina. 
O Estado que não queria matar, matou. 
O Estado que via no embrião uma vida, não viu o mesmo numa jovem. 
Não deu respaldo. 
Não deu apoio. 
Não deu suporte. 
O sangue escorrido cai na conta do país. 
Marina é só mais um número agora. 
Virou estatística. 
A quinta causa de morte materna no país ganha mais uma. 
O Estado se cala. 
Se omite. 
Prefere salvar quem não nasceu e matar quem está vivendo. 
Todos morrem! 
A criança que está na barriga 
E a criança que seria mãe. 
O Estado assiste 
Calado, 
Omisso 
E culpado. 
Quem é o Estado pra dizer que uma pessoa deve ou não ter filho? 
Quem é o Estado pra impedir que uma pessoa seja dona do próprio corpo? 
A realidade dói. 
O Estado mata. 
E vai matar mais. 
(Marcelo Caldas) 
 
 
RESUMO 
 
A realização deste Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: “A descriminalização 
do aborto: uma aproximação das concepções do Assistente Social frente à prática 
do aborto entre adolescentes no Distrito do Grajaú” se dá para a aproximação das 
concepções do Assistente Social no setor da maternidade de um hospital de ensino, 
frente à demanda do aborto em adolescentes, com foco em compreender se a visão 
do profissional frente a esta demanda é ampla de maneira que ele use seus 
recursos técnicos operativos, ético político e teórico metodológico na garantia do 
atendimento e do sigilo, sendo orientados pelo projeto ético político não permitindo 
que haja a interferência de seus valores pessoais. Para tal, pretende-se ainda, a 
partir da pesquisa de campo, realizando entrevistas com dois Assistentes Sociais. 
Ressalta-se que essa pesquisa tem caráter qualitativo, e que, para a realização das 
entrevistas, será utilizado o roteiro semiestruturado e a técnica da gravação de 
áudio. Com o objetivo de ampliar e contextualizar essa temática faz-se importante os 
estudos junto ao referencial teórico pesquisado, por meio de um vasto levantamento 
bibliográfico. Para tal, serão contextualizados: os conceitos de Aborto, de feminismo, 
fazendo um resgate histórico, também da Saúde Pública e das categorias Criança e 
Adolescente. Com isso, contextualizar o Serviço Social e o trabalho profissional com 
a temática discutida e no espaço do Hospital Geral do Grajaú. Descrever como se dá 
o atendimento do Assistente Social junto as adolescentes que realizam aborto ilegal 
verificando os recursos técnico operativo, ético político e teóricos metodológicos 
necessários para atender tais adolescentes, possibilitando a compreensão da Lei do 
aborto para ampliação de conhecimentos na abordagem com as adolescentes que 
abortam. No decorrer do trabalho, será visto que o aborto é decorrente de duas 
situações, o aborto espontâneo e o aborto induzido. No Brasil embora o aborto 
induzido seja ilegal há situações em que o mesmo é legalizado, utilizando como 
base o Código Penal - Decreto 2848/40 no seu Art. 128 “não se pune o aborto 
praticado por médico: Aborto necessário”. Esse tipo de aborto é o previsto em Lei, 
que ocorre quando a gestação é resultante de estupro ou quando a gestação 
oferece riscos para a vida da mulher, entretanto, não são todos os hospitais públicos 
que realizam esse procedimento. Diante doexposto a pesquisa irá realizar uma 
abordagem reflexiva referente às distintas concepções construídas historicamente a 
respeito das mulheres, da sua função na sociedade e dos direitos sobre seus 
corpos. Concomitantemente sobre a saúde pública, a ilegalidade da questão do 
aborto induzido e a atuação profissional dos Assistentes Sociais frente a essa 
demanda. Entre as principais autoras e autores utilizados, destacam-se a Prado, 
Galeotti e Matos, além de legislações e livros específicos da temática. 
 
Palavras-Chave: Saúde Pública, Aborto, Aborto Induzido, Mulher, Adolescentes, 
Serviço Social e Hospital de Ensino. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The realization of this work Completion of course entitled: "The decriminalization of 
abortion: and the design of the social worker against the practice of abortion among 
adolescents in District Grajaú" is given to the possible understanding of the social 
worker design the maternity sector a teaching hospital, to fulfill the demand of 
abortion in adolescents, focusing on completing the professional vision forward this 
demand is broad so that it uses its technical and instrumental in ensuring the care 
and secrecy, not allowing there the interference of your personal values. To this end, 
it is intended also from the field of research, conducting interviews with two social 
workers. It is emphasized that this research is qualitative, and that for the interviews 
will be used semi-structured script and the technique of audio recording. In order to 
broaden and contextualize this theme makes it important studies with the theoretical 
searched through a vast literature. This will be contextualized: the Abortion concepts 
of feminism, making a small historical review also Health and categories Children and 
Adolescents. Thus, contextualize and co-relate the Social Services, with the practice 
with the theme discussed and space General Hospital Grajaú. Describe how to give 
the care of the social worker with ace teens who perform abortion checking the skills 
and techniques necessary to meet these teenagers, enabling the understanding of 
the abortion law to expand knowledge in dealing with teenagers who have abortions. 
During the work, it will be seen that abortion is the result of two situations, 
miscarriage and induced abortion. In Brazil although induced abortion is illegal there 
are situations where it is legal, using as a basis the Criminal Code - Decree 2848/40 
in its Article 128 "does not punishes abortion practiced by a doctor: Abortion 
necessary.". This type of abortion is allowed by law, which occurs when the 
pregnancy results from rape or when the pregnancy poses risks to the woman's life. 
On the research of the above will hold a reflective approach regarding the different 
conceptions historically constructed about women, their role in society and the rights 
over their bodies. Concomitantly on public health, the illegality of abortion question 
and the professional practice of social workers meet this demand. Among the main 
authors and authors used, we highlight the Danda Prado, Giulia Galeotti and Maurilio 
Castro Matos, and Legislations and specific books of the theme. 
 
Keywords: Public health, Abortion, Induced Abortion, Woman, Adolescents, Social 
Worker, Teaching Hospital. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1: “Cemitério de Mulheres - Mortas por um Estado omisso”. ......................... 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1: Origem das adolescentes........................................................................59 
TABELA 2: Idade das adolescentes..........................................................................59 
TABELA 3: Escolaridade das adolescentes...............................................................59 
TABELA 4: Estado civil das adolescentes..................................................................59 
TABELA 5: Classificação de Aborto...........................................................................60 
TABELA 6: Pré-natal..................................................................................................60 
TABELA 7: Substâncias Psicoativas..........................................................................60 
TABELA 8: Presença do companheiro.......................................................................60 
TABELA 9: Origem do companheiro..........................................................................61 
TABELA 10: Idade do companheiro...........................................................................61 
TABELA 11: Escolaridade de companheiro...............................................................61 
TABELA 12: Renda familiar........................................................................................62 
TABELA 13: Benefício de transferência de renda......................................................62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
ADPF - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 
ART - Artigo 
A.S. - Assistente Social 
CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais 
CF - Constituição Federal 
CFAS - Conselho Federal de Assistência Social 
CONASP - Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária 
CP - Código Penal 
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social 
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social 
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social 
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 
ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social 
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social 
NOB - Normas Operacionais Básicas 
OMS - Organização Mundial de Saúde 
PSE - Programa Saúde na Escola 
PUC/SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
STF - Supremo Tribunal Federal 
SUS - Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 18 
2 NOÇÕES SOBRE O FEMINISMO ......................................................................... 21 
2.1 Feminismo no Brasil.................................................................................... 22 
3 A SAÚDE E ADOLESCÊNCIA .............................................................................. 25 
3.1 Conceito de saúde ...................................................................................... 25 
3.2 Conceito de adolescência. .......................................................................... 29 
3.3 Estatuto da Criança e do Adolescente. ....................................................... 30 
4 UM ENTENDIMENTO SOBRE O ABORTO .......................................................... 31 
4.1 Conceito de aborto. ..................................................................................... 31 
4.2 Classificação de abortamento ..................................................................... 33 
4.2.1 Legislação ....................................................................................... 33 
4.2.2 Medicina .......................................................................................... 35 
4.3 Aborto induzido.............................................................................................37 
4.4 Consequências do aborto induzido. ............................................................ 37 
4.5 O Estado Laico e aborto ............................................................................. 39 
4.6 Legislação do aborto no Brasil. ...................................................................41 
4.6.1 Avanços em outros países da América-Latina.................................43 
5 SERVIÇO SOCIAL ................................................................................................. 46 
5.1 Serviço Social hospitalar......................................................................... 52 
5.2 Contexto histórico do Hospital Geral do Grajaú ...................................... 53 
6 O CAMINHO PERCORRIDO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............. 55 
6.1 A pesquisa: tipo, instrumentos e métodos para a coleta de dados.............55 
6.2 Objeto e objetivos da pesquisa: geral e específicos. .................................. 56 
6.3 O problema e a hipótese. ............................................................................ 57 
6.4 O perfil das adolescentes que abortam. ...................................................... 57 
6.5 Análises dos resultados. ............................................................................. 61 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 677 
REFERÊNCIAIS ...................................................................................................... 678 
ANEXOS E APÊNDICES ........................................................................................ 722 
 
18 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Essa pesquisa almeja proporcionar uma reflexão sobre a temática de aborto 
em adolescentes buscando uma aproximação das concepções dos Assistentes 
Sociais de um hospital de ensino a cerca de como acolhem a demanda de aborto, 
quais são os recursos técnico-operativo, ético-político e teórico-metodológico 
utilizados para garantir o sigilo profissional e não expor as adolescentes, buscando 
esclarecer quais são as mediações reveladas como habilidades e técnicas são 
necessárias para a atuação profissional. 
No decorrer dessa pesquisa foi entendido que o aborto é decorrente de duas 
situações, o aborto espontâneo e o aborto induzido. No Brasil embora o aborto 
induzido seja ilegal há situações em que o mesmo é legalizado, utilizando como 
base o Código Penal – Decreto 2848/40 no seu Art. 128 “não se pune o aborto 
praticado por médico: Aborto necessário”. Esse tipo de aborto é o previsto em lei, 
que ocorre quando a gestação é resultante de estupro ou quando a gestação 
oferece riscos para a vida da mulher. 
A discussão do aborto é atravessada por diversas questões como os direitos 
reprodutivos das mulheres, a saúde pública e o abismo que separa mulheres ricas 
de mulheres pobres, na lógica de uma sociedade de classes, dentro do Sistema 
Capitalista. 
 Segundo Lolatto (2004) em sua tese de mestrado “A intervenção do 
Assistente social frente à solicitação do aborto” traz a questão do aborto como direito 
reprodutivo das mulheres, pois a criminalização resulta em abortos clandestinos 
gerando um problema de saúde pública. O aborto tem como principais defensores os 
movimentos feministas que justificam sua legalidade no direito de escolha da mulher 
de levar ou não sua gestação a diante, e seus opositores são principalmente a Igreja 
e grupos religiosos que defendem a não interrupção da gestação em qualquer 
estágio, argumentando o direito à vida do feto. 
Essa relação entre criminalizar o aborto para defender a vida é equivocada, 
pois muitas mulheres têm a vida ceifada nesse processo. Conforme Villela e 
Barbosa, 2011. 
 
A relação entre a criminalização do aborto e o óbito materno 
comprova que aqueles que defendem a criminalização do aborto 
tomando como argumento a defesa da vida estão equivocados. A 
19 
 
criminalização do aborto não protege a vida, e sim provoca a morte, 
pois não inibe a prática e tira a vida de muitas mulheres. (VILLELA E 
BARBOSA, 2011 p. 58). 
 
O aborto induzindo acaba sendo realizado pela própria gestante ou outras 
pessoas que possuem ou não as técnicas para realizar o procedimento, em locais 
que podem ter ou não as condições de higiene necessária. Há diversas formas de 
se provocar o aborto como através de ingestão de medicamento, ingestão de chás 
abortivos, introdução de objetos pontiagudos e procedimento cirúrgico de 
curetagem. Dentre os métodos de provocar o aborto o medicamentoso é o que tem 
menor taxa de óbitos, entretanto devido a sua ilegalidade pode ter consequências 
para a mulher que pode acabar se automedicando com frequência, de forma 
incorreta. Esses abortos inseguros trazem complicações como infecções pós-aborto, 
hemorragia, trauma genital, aborto incompleto, perda do útero e morte. 
Conforme Villela e Barbosa (2011) essas complicações derivadas do aborto 
inseguro representam um importante ônus para o sistema de saúde, uma vez que o 
aborto seguro representaria metade dos gastos que são utilizados para tratar as 
complicações. 
 
Dados de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) mostram 
que a curetagem pós-aborto é o segundo procedimento obstétrico 
mais realizado nos hospitais públicos do país, superado apenas 
pelos partos [...] As complicações do aborto inseguro representam a 
quinta causa de internação obstétrica no SUS. (VILLELA E 
BARBOSA, 2011 p. 57). 
 
 Na primeira parte do trabalho, será discutido sobre as seguintes temáticas: 
Feminismo e os conceitos que pertencem às categorias Saúde e Adolescência. 
Já nos capítulos seguintes, serão abordados o conceito de Aborto, 
Classificação do Abortamento, Estado Laico e a Legislação do aborto no Brasil. 
Também um breve entendimento sobre o Serviço Social e o Serviço Social 
Hospitalar. Além de percorrer brevemente, sobre a história do Hospital onde se 
sucedeu a pesquisa de campo e a atuação profissional das/os Assistentes Sociais 
frente a essa demanda. 
Foi utilizado como metodologia de pesquisa qualitativa o levantamento 
bibliográfico, também entrevistas, com roteiro semiestruturado para a realização da 
pesquisa de campo com profissionais do hospital de ensino, observação participante 
durante o período de estágio, participação em palestras e seminários que 
20 
 
abordavam a temática e levantamento de indicadores estatísticos do setor da 
maternidade que trouxe o perfil das adolescentes que abortam. 
Diante do exposto na pesquisa foi realizada uma abordagem reflexiva 
referente à temática em questão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
2 NOÇÕES SOBRE O FEMINISMO 
 
Conforme Teixeira e Meneghel (2015), o feminismo surge das revoluções 
burguesas entre os séculos XVIII E XIX na Europa Central e nos Estados Unidos da 
América. Esse movimento social se expandiu pelo mundo com objetivo de um 
projeto emancipatório sob uma ótica feminina de liberdade, direitos, igualdade entre 
outros. 
De acordo com Garcia (2015) para compreender o feminismo é preciso ter 
clareza sobre os conceitos-chave da teoria feminista: o androcentrismo coloca o 
homem (masculino) como uma medida universal, o patriarcado que após ser 
redefinido pela teoria feminista é compreendido como a dominação do homem sob a 
mulher, o sexismo que ideologicamente defende a subordinação, inferioridade e 
exploração das mulheres e manutenção das ações perpetuam essa desigualdade e 
o gênero que explica que o masculino e o feminino não são fatores biológicos e sim 
construções sociais. 
 
O feminismo é uma consciência crítica que ressalta as tensões e 
contradições que encerram todos esses discursos que 
intencionalmente confundem o masculino com o universal. (GARCIA, 
2015 p. 14). 
 
Jaggar (1983) apud Teixeira e Meneghel (2015), mencionam que o feminismo 
ocidental no decorrer de sua história apesar de ter outras correntes, tem como as 
três principais, a liberal, radical, socialista/marxista. 
O feminismo liberal relaciona a opressão das mulheres a uma suposta “falha” 
do liberalismo, algumas ramificações desta corrente compreendem que se as 
mulheres obtivessem igualdade de direitos, teriam reconhecimento equivalente aos 
seusesforços, abandonando uma posição de vitimização. 
 
Segundo as críticas de outros feminismos, o feminismo de 
concepção liberal, fundado em uma noção abstrata de 
cidadão/cidadania e em uma linguagem universal, neutra, termina 
por mascarar as diferenças e por reproduzir um discurso baseado na 
hegemonia masculina. (Jaggar, 1983 p. 151 apud Teixeira e 
Meneghel 2015). 
 
Na corrente radical compreende que o patriarcado existente antecede o 
capitalismo e está diretamente ligado a subordinação feminina. “O sexo e o gênero 
22 
 
se constituiriam em um sistema de dominação dos homens sobre as mulheres 
perpetrado, sobretudo, mediante o controle sobre a sexualidade e a capacidade 
reprodutiva destas”. Para essa corrente o sistema de dominação ocorre de forma 
deliberada e não de modo acidental e é presente em diversos espaços sociais e 
familiares, reforçando a subordinação das mulheres. 
A corrente socialista/marxista ressalta a relevância do gênero e a luta de 
classes, pontuando a opressão de gênero e a divisão sexual do trabalho, onde 
ocorre a desvalorização das tarefas realizadas por mulheres e o oposto com as 
tarefas realizadas por homens. O feminismo analisa o capitalismo e o patriarcado 
como as bases da estrutura da vida das mulheres. 
Diante da temática a corrente socialista/marxista é a mais apropriada para 
analisar a questão, devido apresentar o recorte de classes, levando em conta que a 
discussão central é o diferente grau de riscos que as adolescentes pobres e ricas 
estão expostas quando abortam, justamente pela condição de classe. 
Uma das lutas encampadas pelo feminismo é o direito ao próprio corpo e a 
legalização do aborto. 
 
2.1 O Feminismo no Brasil 
 
Conforme Barsterd no artigo “Legalização e descriminalização do aborto no 
Brasil: 10 anos de luta feminista”, no contexto histórico do Brasil da década de 70 há 
todo autoritarismo da ditadura militar, em reação a repressão política, diversos 
movimentos sociais começam a surgir e outros se ampliar. 
 
[...] no Brasil, na década de 70, não se tratava de ampliar a 
democracia, mas sim, de conquista-la. Igualdade, liberdade, 
autonomia do indivíduo, cidadania, delimitação do poder do Estado 
não faziam parte de nossa tradição política (BARSTERD, S/D p. 
104). 
 
Villela e Barbosa (2011) explanam sobre o feminismo no cenário brasileiro. O 
movimento feminista teve início da década de 1970 e passa a assumir como uma de 
suas lutas a reformulação do CP/40 no que se refere ao aborto induzido, 
compreendendo que a opressão da sociedade patriarcal interfere no exercício da 
sexualidade feminina e no direito de escolha das mulheres. 
23 
 
Reforçam que não há uma pré-disposição biológica, natural ou psicológica 
que determina que todas as mulheres queiram ser mãe e/ou possuam o suposto 
instinto materno, embora as mulheres possuam capacidade para tal. 
 De acordo com Barsterd no artigo “Legalização e descriminalização do aborto 
no Brasil: 10 anos de luta feminista”, a década de 80 foi caracterizada pela intensa 
luta pelo direito do aborto, houve uma enorme mobilização dos movimentos 
feministas pelos direitos reprodutivos, de saúde e de cidadania feminina. 
Este movimento transformou o aborto em uma questão política, entretanto 
enfrentou a oposição religiosa e indiferença de diferentes setores da sociedade. As 
mulheres obtiveram muitas conquistas, porém a luta pelo aborto continuou 
esbarrando no moralismo e na posição da Igreja contraria a essa pratica. 
Já na década de 90 ocorreram movimentações para que os abortos previstos 
em Lei fossem oferecidos na rede pública de saúde, nas esferas municipais e 
estaduais houve uma maior facilidade, pois, possuem a capacidade de ampliar 
direitos desde que estes não se choquem com a legislação federal. Apesar desses 
avanços nos anos 90 o aborto deixa de ser uma das prioridades dos movimentos de 
mulheres que se voltam para problematizar e combater o processo de esterilização 
em massa que estava ocorrendo. 
Em 1993, surge no Brasil um movimento social inspirado nos Estados Unidos 
da América que se intitula “Católicas pelo Direito de Decidir”1 com proposito de lutar 
pelos direitos humanos. 
Foi nessa mesma época que o movimento de mulheres assumiu a 
defesa dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. O debate sobre o 
direito ao aborto entra em cena e a Igreja Católica que contava com 
a força das mulheres na organização das Comunidades Eclesiais de 
Base, perde lideranças femininas que agora querem garantir não só 
a luta contra as injustiças sociais, mas também sua autonomia 
individual. 
 
Esse movimento busca articular o catolicismo com o feminismo, de modo que 
a sexualidade, os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres não seja algo 
considerado vergonhoso ou inapropriado. As Católicas pelo Direito de Decidir 
declaram seu posicionamento a favor do aborto e da laicidade do Estado, sendo 
contra o pensamento conservador que restringe os direitos das mulheres. 
 
1 Disponível em: http://catolicas.org.br/institucional-2/historico/ Acessado em: 28/10/2016. 
24 
 
Realiza pesquisas de opinião encomendadas ao instituto IBOPE que 
evidenciam que a maioria da população católica não criminaliza as 
mulheres que abortam, principalmente nos casos previstos pela lei. 
Nessa ocasião Católicas torna-se nacionalmente uma referência 
pública, que se opõe ao pensamento oficial da Igreja, no que tange à 
moral sexual.2 
Hoje o movimento é presente em 12 países, através da Rede Latino-
americana de Católicas pelo Direito de Decidir. 
Atualmente o movimento de mulheres continua articulado e com 
intensificação e facilidade de acessar as redes sociais temos inúmeros movimentos 
feministas defendendo diferentes pautas, alguns deles pela questão da 
descriminalização e legalização aborto, como a “Frente Nacional pelo fim da 
Criminalização de Mulheres e pela Legalização do Aborto” que é um movimento 
resultante da indignação de pessoas e coletivo ao perceberem a quantidade de 
mulheres e meninas que morrem porque não podem decidir se querem ou não ser 
mães e acabam praticando o aborto de modo inseguro. Outros como o “Vamos 
Juntas” que luta pelo fim dos assédios, oferecendo apoio às mulheres vítimas de 
violência e propagando o sentimento de união entre as mulheres. No ano de 2015 as 
redes sociais foram bombardeadas por inúmeros relatos de mulheres utilizando as 
hashtag “meu primeiro assédio” e “meu amigo secreto”, deixando explicito todas as 
formas de assédio, abuso e violência sofrida pelas mulheres cotidianamente. 
 As mulheres nunca desistiram da luta pelos direitos iguais e principalmente 
pelos direitos sexuais e reprodutivos, se mantiveram contra o moralismo e 
conservadorismo que limita os avanços desses direitos. 
 
 
 
 
 
 
2 Disponível em: http://catolicas.org.br/institucional-2/historico/ Acessado em: 28/10/2016 
 
25 
 
3 A SAÚDE E ADOLESCÊNCIA 
 
3.1 Conceito de saúde 
 
A OMS aponta como definição de saúde, o estado de bem-estar físico, social 
e mental. O conceito de saúde transcende a falta de doenças. 
Segundo a Lei Orgânica de Saúde, Número 8.080, de 19 de Setembro de 
1990, Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 
 
§1º O Dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e 
execução de políticas econômicas e sociais que visem a redução de 
riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de 
condições que assegurem acesso universal e igualitário as ações e 
aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação 
(Legislação Brasileira para o serviço social vol. 2. 2013 p .15). 
 
Conforme Polignano (2001), a necessidade de se criar uma estrutura sanitária 
no Brasil, se deu com a chegada da família real. No Brasil Colônia e no Brasil 
Império,em 1789 havia uma enorme carência de médicos, nesta época existiam 
apenas quatro médicos exercendo sua profissão no Rio de Janeiro, enquanto isso 
em outros estados a atuação era algo mínimo ou inexistente. Em meados de 1808 
foi fundado na Bahia por Dom João VI, o Colégio Médico Cirúrgico no Hospital Militar 
em Salvador e no mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro 
vinculada ao Hospital Militar. 
Por volta de 1889 até meados de 1930, ainda não havia nenhum modelo 
sanitário no país, e com isso as epidemias se proliferavam nas cidades brasileiras, 
no início do século XX o quadro de doenças infectocontagiosas como, por exemplo, 
varíola, malária, febre amarela eram enormes na cidade do Rio de Janeiro, gerando 
graves consequências não somente para a saúde coletiva do estado, mas como 
para os negócios, pois vista a gravidade da situação às embarcações já não 
atracavam mais no porto da cidade, com tudo isso e Presidente do Brasil na época, 
Rodrigo Alves nomeou como Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública da 
Cidade do Rio de Janeiro o Oswaldo Cruz. 
26 
 
Foi então criado um exército com cerca de 1500 pessoas para desempenhar 
as atividades de combate ao mosquito e de desinfecção. Por falta de informações e 
com a voracidade que eram tratados, causou uma revolta na população. 
 
A população, com receio das medidas de desinfecção, trabalho 
realizado pelo serviço sanitário municipal, revolta-se tanto que, certa 
vez, o próprio presidente Rodrigues Alves chama Oswaldo Cruz ao 
Palácio do Catete, pedindo-lhe para, apesar de acreditar no acerto 
da estratégia do sanitarista, não continuar queimando os colchões e 
as roupas dos doentes. A onda de insatisfação se agrava com outra 
medida de Oswaldo Cruz, a Lei Federal Número 1261, de 31 de 
outubro de 1904, que instituiu a vacinação anti-varíola obrigatória 
para todo o território nacional. Surge, então, um grande movimento 
popular de revolta que ficou conhecido na história como a revolta da 
vacina. (POLIGNANO 2001 p.5) 
 
Apesar da brutalidade e dos excessos cometidos, o modelo campanhista 
conquistou grandes vitórias contra as doenças epidemiológicas, erradicando a febre 
amarela da cidade do Rio de Janeiro. Esse método de intervenção se tornou 
hegemônico na área da saúde durante dezenas de anos. 
No Estado Novo, os investimentos na área da saúde foram poucos, em 1930 
foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1942 Higiene e Segurança 
do Trabalho vinculado ao Ministério do Trabalho. Em 1953 foi criado o Ministério da 
Saúde, foi criado também em 1956 o Departamento Nacional de Endemias Rurais. 
Durante o regime militar foi promulgado o Decreto de Lei 200/1967, 
estabelecendo as aptidões do Ministério da Saúde. Em 1970 foi criado a 
Superintendência de Campanhas da Saúde Pública, com a pertinência de executar 
as atividades de erradicação e controle de endemias, sobrevindo o Departamento 
Nacional de Endemias Rurais, conforme Polignano (2001). 
O autor aponta que em 1975 o modelo econômico implantado entra em crise 
por diversos motivos, entre eles a diminuição do fluxo capital. Com os salários 
baixos e retidos, a população sofre com o desemprego e as consequências sociais, 
o aumento da criminalização e a mortalidade infantil. Por conta das insuficiências 
dos recursos o modelo de saúde também entra em crise. 
Para combater fraudes e conter custos, em 1981 o governo implementa o 
Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária – CONASP, adjunto 
ao INAMPS. Foi criado em 1983 Ações Integradas a Saúde – AIS, um projeto que 
visa um modelo assistencial incorporando o setor público. 
27 
 
Assim, a Previdência passa a comprar e pagar serviços prestados 
por estados, municípios, hospitais filantrópicos, públicos e 
universitários. Este período coincidiu com o movimento de transição 
democrática, com eleição direta para governadores e vitória 
esmagadora de oposição em quase 21 todos os estados nas 
primeiras eleições democráticas deste período (1982). 
(POLIGNANO, 2001, p. 20) 
 
Segundo a CF de 1988 no capítulo VIII da Ordem Social na seção II define no 
Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e 
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e 
recuperação. Andrade, Pontes e Martins (2000) apontam no seu artigo 
“Descentralização no marco da Reforma Sanitária no Brasil”, que em 1988 com a 
carta constituinte foram divulgadas às garantias de sistematização da saúde coletiva 
ou individual. 
 
No início da década de 90 o que se observa é que todo o processo 
de regulamentação do SUS já passa a contar não apenas com os 
atores do então Movimento Sanitário, mas também com novos atores 
que entram em cena, como os Secretários Municipais de Saúde, 
liderados pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais de 
Saúde (CONASEMS), e os Secretários Estaduais de Saúde, 
liderados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde 
(CONASS). Foi dando continuidade a este movimento que se iniciou 
todo o processo de pactuação infraconstitucional, onde se publicou a 
chamada Lei Orgânica da Saúde Brasileira, que é composta de duas 
Leis Complementares à Constituição as Leis 8080/90 e 8142/90. 
(ANDRADE, PONTES, MARTINS JUNIOR. Revista Panamericana 
de Salud Pública, v. 8, n. 1-2, 2000 p. 85-91). 
 
Os autores pontuam ainda que para poder regulamentar esta tramitação entre 
o modelo antigo e o SUS, o Ministério da Saúde utiliza de instrumentos normativos, 
que são as Normas Operacionais Básicas - NOB, para regularizar os recursos 
financeiros da União para os Estados e Municípios. Conforme art. 4º do ECA, é 
dever da sociedade, da família, do Estado, da sociedade em geral do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referente a saúde, a 
educação, a profissionalização a vida, ao lazer, ao esporte, a cultura, ao respeito, a 
dignidade, a convivência comunitária e familiar. 
 
 Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer 
circunstancias; 
28 
 
b) Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de 
relevância publica; 
c) Preferência na formulação e na execução das políticas sociais 
públicas; 
d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas 
relacionadas com a proteção à infância e a juventude; 
 
Segundo o Portal da Saúde existe um atendimento diferenciado desde o 
acolhimento até a equipe clinica, estabelecendo um vinculo com os jovens e 
adolescentes, e a família, para possibilitar uma continuidade no tratamento. 
Desde o ano de 2007, existe o Programa Saúde na Escola – PSE, voltado a 
crianças, adolescentes, jovens e adultos das escolas da rede pública. 
 
A articulação entre Escola e Rede Básica de 3Saúde é à base do 
Programa Saúde na Escola. O PSE é uma estratégia de integração 
da saúde e educação para o desenvolvimento da cidadania e da 
qualificação das políticas públicas brasileiras. Sua sustentabilidade e 
qualidade dependem de todos nós. 
 
 O Portal da Saúde informa também que nos últimos anos, a gravidez na 
adolescência tem se tornado um tema de grande importância para discussão. Com 
isso o Ministério da Saúde vem tomando algumas ações, implantando a política de 
direitos sexuais e direitos reprodutivos, o governo vem desenvolvendo alguns 
projetos de prevenção com parcerias entre a Secretaria de Política para Mulheres, 
Ministério do Desenvolvimento Social, disponibiliza métodos contraceptivos, o PSE 
vem promovendo também projetos de prevenção e orientação, tendo como 
ferramenta o diálogo com os jovens e as famílias. 
 
Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas em parceria com o 
Ministério da Educação, Unicef e UNFPA e Unesco articulado com as 
secretarias estaduais e municipais. Uma ferramenta para promover o 
diálogo e ocompartilhamento de experiências. Projeto que contribuiu 
para a sociedade organizada, as famílias, os jovens e a escola 
trabalharem juntos e discutir temas, tais como participação juvenil, 
saúde sexual, saúde reprodutiva, diversidade e cidadania. 
Atualmente são 300 municípios que atuam nesta estratégia. 
 
 Frisando que as intervenções de saúde são de parcerias entre o Ministério da 
Saúde os Secretários Municipais e Estaduais mantendo o respeito das diversidades 
 
3 Fonte: http://dab.saude.gov.br/portaldab/pse.php Acessado em: 14/11/2016 
 
http://dab.saude.gov.br/portaldab/pse.php
29 
 
regionais e com integração com a Secretaria de Política para as mulheres e o 
Ministério da Educação, conforme Portal da Saúde. 
 
3.2 Conceito de adolescência 
 
A palavra adolescente traduzida do latim significa: ad, para + olescere, 
crescer: Crescer para. Segundo Ferreira e Farias (2010), adolescência é definida 
como um momento histórico social que abrange, conforme a Organização Mundial 
de Saúde - OMS, como a segunda década da vida, dos 10 aos 20 anos. 
Conforme ECA, Art.2º, considera-se criança pessoa de até doze anos de idade, e 
adolescente aquele que tenha entre doze a dezoito anos de idade. 
 
Há diversas buscas de definição sobre adolescente em limites 
cronológicos. Elas variam de acordo com a cultura de cada país e 
são definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) entre 10 e 
19 anos e pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 
anos, critério este usado principalmente para fins estatísticos e 
políticos, já nas normas e políticas de saúde do Ministério de Saúde 
do Brasil, os limites da faixa etária de interesse são as idades de 10 
a 24 anos. (FREITAS apud ATAÍDE e GUIMARÃES, 2015 p.19). 
 
Segundo Sprinthall e Collins (2003) faz pouco tempo que a adolescência foi 
reconhecida como um período de desenvolvimento humano, para a história a idade 
dos 12 ou 13 anos era considerada o momento de assumir o papel da vida adulta e 
assumir responsabilidades. 
 
A definição social da adolescência desempenha um papel importante 
na determinação das experiências que os jovens vivenciam durante 
este período das suas vidas. Apesar de investigadores como G. 
Stanley Hall e Sigmund Freud terem enfatizado uma perspectiva 
maturacionista, de acordo com a qual a adolescência era esboçada 
como inevitavelmente turbulenta e difícil, neste momento, parece-nos 
que, provavelmente, a agitação psicológica varia de certa forma em 
função do grau em que os adolescentes se adaptam as variadas 
transformações. (COLLINS e SPRINTHALL, 2003 p. 39 e 40). 
 
O autor ainda traz que, atualmente durante a adolescência se englobam 
ações combinadas de transformações sociais, cognitivas e biológicas, e os domínios 
ou contextos, nos quais são proporcionados a eles pode se afetar no seu 
desenvolvimento psicológico. Conforme Freitas (2015), o baseamento para as 
definições de adolescência é na maioria biológica, psicológica e sociológica, pois é 
30 
 
destes três princípios que são compostas a estrutura que vem a definir o ser 
humano. 
 
Os fatores biológicos apresentam fenômenos marcantes na fase da 
adolescência, porem estes por si só não podem definir 
cronologicamente a adolescência, ainda que vinculados a fatores 
sociológicos, posto que alguns eventos sociais e culturais possam 
atribuir aos sujeitos valores e práticas que irá leva-los a um mais 
rápido amadurecimento psicológico. (FREITAS apud ATAÍDE e 
GUIMARÃES, 2015 p. 21). 
 
 
3.3 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
 
Conforme Freitas (2015), o antigo Código de Menores, teve um histórico de 
políticas para adolescentes, voltado para a correção de conduta inadequada, que no 
século XX eram chamados de crimes, os adolescentes eram considerados 
delinquentes, as instituições existentes na época acolhiam menores que haviam sido 
abandonados ou tiveram alguma atitude fraudulenta. 
Segundo Elias (2009), O Estatuto da Criança e do Adolescente, 
diferentemente do Código de Menores - Lei n. 6.698, de 10 de outubro de 1979, não 
se diz respeito apenas ao menor que se encontre em situação irregular, mas se tem 
por objetivo a proteção integral da Criança e do Adolescente. 
 
Agora, além de se responsabilizar os pais ou responsáveis pela 
situação irregular do menor, outorga-se a este uma série infindável 
de direitos necessários ao seu pleno desenvolvimento. (ELIAS, 2009, 
p.2). 
 
O autor ainda refere que a nova Lei está Conforme a Convenção sobre os 
Direitos da Criança, que foi aceita pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 
novembro de 1989, que foi assinada pelo Governo Brasileiro em janeiro de 1990. 
Segundo Amim (2014), com o ECA, foi possível a articulação entre três 
vertentes: As políticas públicas, o movimento social e os agentes do campo jurídico. 
 
O estatuto da criança e do adolescente é um sistema aberto de 
regras e princípios. As regras nos fornecem a segurança necessária 
para delimitarmos a conduta. Os princípios expressam valores 
relevantes e fundamentam as regras, exercendo uma função de 
integração sistêmica, são os valores fundantes da norma. (AMIM, 
2014 p. 59). 
 
31 
 
4 UM ENTENDIMENTO SOBRE O ABORTO 
 
 
Figura 1: “Cemitério de Mulheres - Mortas por um Estado omisso”. 
Fonte:.www.facebook.com/cass.fapss/photos/gm.861969287282917/16856141216875
16/?type=3&theater. Arte: Thais Almeida Rocha. 
 
4.1 Conceito de aborto 
 
Conforme Prado (1985), a palavra aborto (do latim: abortus.us) é uma 
corruptela do termo técnico abortamento, utilizado por médicos. No dicionário do 
Aurélio a palavra aborto significa “Expulsão de um feto ou embrião por morte fetal, 
antes do tempo e sem condições de vitalidade fora do útero materno”. Ainda no 
dicionário temos a definição médica de aborto, no âmbito médico a definição é: Ação 
ou efeito de abortar. Já no âmbito jurídico a interrupção intencional da gravidez com 
exceção do aborto previsto em Lei no CP/40 é considerada um crime. 
Zugaib (2008) refere que o aborto quando realizado até a décima segunda 
semana gestacional é classificado como aborto precoce, após esse período é 
denominado como aborto tardio. 
Segundo Villela e Barbosa (2011) o aborto sempre esteve presente na 
sociedade, tendo como variável sua aceitação em diferentes culturas. 
 
A interrupção voluntária da gravidez não é um fenômeno recente. O 
abortamento provocado tem estado presente em diferentes culturas e 
32 
 
sociedades. Há registros da prática do aborto na literatura de povos 
antigos, como egípcios, chineses, gregos, assírios e romanos dos 
períodos anteriores ao cristianismo. Portanto, devemos entender que 
o aborto não é um evento das sociedades contemporâneas nem está 
relacionada a maior liberdade sexual das mulheres. (VILLELA E 
BARBOSA, 2011 p. 15). 
 
No Brasil, o aborto é permitido no Código Penal 1940 sob dois aspectos: 
quando a gestação é resultante de estupro ou quando não há outra maneira de 
salva a vida da mulher, mesmo assim, esse aborto não pode ser realizado em 
qualquer local. Em 2004 visando à integridade física e psicológica da mulher e o 
bem-estar da família a Confederação Nacional de Trabalhadores em Saúde e a 
organização Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero - apresentaram 
ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) solicitando o reconhecimento do direito de antecipação 
terapêutica do parto em caso de gravidez de feto portador de anencefalia. Em 2012 
o STF deu parecer favorável ao aborto de feto anencéfalo com auxílio médico sem a 
necessidade de autorização judicial de acordo com a vontade da puérpera. 
No âmbito da saúde o abortamento é dividido em três grupos: aborto legal ou 
previsto em Lei (permitido pela legislação vigente no país), aborto espontâneo 
(quando há a expulsão do feto pelo próprio organismo) e aborto inseguro (é o 
induzido pela mulherou terceiros em situação clandestina). 
O aborto inseguro é ocasionado por diversos fatores, dentre eles a ilegalidade 
de induzir a interrupção da gestação, pessoas incapacitadas para realizar o 
procedimento, condições de higiene inadequadas entre outras. Decorrente disso o 
aborto inseguro é uma questão de saúde pública, segundo Villela e Barbosa, 2011 
 
O aborto inseguro é considerado um grave problema de saúde 
pública em todo o mundo, por estar associado a graves 
conseqüências para a saúde das mulheres, podendo, inclusive, 
provocar a morte. (VILLELA E BARBOSA, 2011 p. 13). 
 
Com base nos números de atendimentos realizados anualmente devido ao 
aborto inseguro pode se constatar a magnitude de seus impactos na saúde pública. 
 
A cada ano, cerca de 230 mil mulheres se internam no SUS para 
tratamento de complicações decorrente de abortos inseguros. E a 
curetagem pós-abortamento é o terceiro procedimento obstétrico 
mais realizado nas unidades de internação da rede pública de saúde 
(Brasil, 2011 p.17apud TEIXEIRA E MENEGHEL 2015). 
33 
 
 
Bonan, Silva & Pirello (2013) reforçam que “De modo persistente, o aborto 
inseguro tem sido uma das principais causas de morte materna no país”. 
De acordo com Teixeira e Meneghel (2015), apesar de todos os riscos que o 
aborto inseguro oferece ele continua sendo uma prática comum por mulheres de 
diferentes classes sociais, faixas etárias, religiosidade e grau de escolaridade. A 
questão central é que as mulheres de maior poder aquisitivo acessam o 
procedimento em clinicas particulares, com suporte profissional e as mais seguras e 
efetivas técnicas abortivas. Contudo mesmo nas melhores clínicas clandestinas não 
há uma fiscalização sanitária, impedido que o serviço prestado seja avaliado como 
seguro. Em situação completamente oposta temos as mulheres de baixo poder 
aquisitivo que realizam o procedimento em casa ou em locais inadequados, sem o 
suporte de profissionais especializados e com os métodos mais arriscados, que 
ocasionam complicações e até óbito da mulher. 
 
 
4.2 Classificação de abortamento 
 
4.2.1 Legislação 
 
Os abortos previstos em Lei ocorrem quando há algum dos critérios que 
impossibilitam a criminalização do ato e são realizados devido ao seu respaldo legal 
no Art. 128 do Código Penal. Estes abortos são divididos em dois tipos, o 
sentimental4 e terapêutico: 
De acordo com Boyaciyan organizador do livro “Ética em ginecologia e 
Obstetrícia” (2011), o aborto sentimental é decorrente de uma gestação ocasionada 
por um estupro. Nesses casos o procedimento pode ser realizado atendendo a 
solicitação da gestante ou quando considerada como incapaz por meio de seu 
representante legal. 
 Para a liberação do procedimento de abortamento em casos de estupro não 
é necessário obter autorização judicial, realizar Boletim de Ocorrência ou exame de 
Corpo de Delito. 
 
4
 Essa conceituação é nos marcos da medicina, não é a discussão central descaracterizar o 
que está posto, mas a nomenclatura atribuída ao aborto decorrente de estupro remete a 
questão moral. 
34 
 
No entanto é obrigatório que a gestante ou seu representante legal assine os 
seguintes documentos: relato circunstanciado do evento, parecer técnico, termo de 
aprovação de procedimento, termo de responsabilidade e termo de consentimento 
livre e esclarecido, essa documentação deve ser elaborada em duas vias, uma com 
a finalidade de ser arquivada em prontuário e a outra de ser disponibilizada para a 
vítima. 
Durante o acolhimento no serviço de saúde a gestante deve receber 
atendimento multidisciplinar, ser orientada referente às medidas judiciais cabíveis, 
sobre a possibilidade de realizar o aborto ou de levar a gestação até o seu término e 
a importância do pré-natal, a mesma deve estar ciente dos mecanismos legais para 
a doação do nascituro ou de sua inserção no âmbito familiar. 
A equipe deve receber a afirmação da violência sofrida pela mulher com a 
presunção de veracidade e objetivando a garantia do direito à saúde. 
Já o aborto terapêutico também denominado aborto necessário, ocorre 
quando há risco de morte materna ou de grave e irreversível lesão para a saúde 
física da mulher, Conforme Verardo (1993). 
 
[...] Uma mulher cuja a gravidez se desenvolveu nas trompas, a 
chamada gravidez ectópica ou tubária. Se o feto não for removido, 
ocorrerá ruptura das trompas, hemorragia interna e, em vários casos, 
morte da gestante. (VERARDO, 1993 p. 24). 
 
O aborto terapêutico concomitantemente acontece quando a gestante 
apresenta indícios psíquicos. 
A medida é recomendada em casos de grave psicoses e debilidade 
mental. Não se incluem, porém, os casos de neuroses, embora se 
saiba que, mesmo nesses casos, uma gravidez indesejada pode 
contribuir para agravar uma neurose, levando em últimas 
conseqüências, ao suicídio. (VERARDO, 1993 p. 24-25). 
 Esse tipo de aborto é realizado por entender que a vida da gestante é 
prioridade em detrimento da vida do feto. Em decorrência dos avanços na área da 
medicina esse tipo de aborto vem se tornando cada vez mais incomum. 
Boyaciyan (2011) cita que há outro tipo de aborto, classificado como seletivo 
e não se enquadra nos critérios legais do Código Penal Brasileiro, sendo apenas 
admissível realizar o procedimento com autorização judicial. Elucida que o aborto 
seletivo é realizado em decorrência da malformação do feto, quando diagnosticado a 
impossibilidade de vida extrauterina. A causa mais frequente é a anencefalia, mas 
35 
 
também pode se mencionar anomalias ósseas, malformações do sistema urinário, 
malformações congênitas múltiplas e erros de fechamento da linha média. 
As gestações de fetos anencéfalos podem ocasionar riscos à saúde da 
puérpera, gerando complicações respiratórias, hipertensão arterial e aumento do 
volume de líquido amniótico, hemorragias pós-parto, descolamento prematuro da 
placenta, mesmo assim, muitas vezes as gestantes encontram dificuldade para 
conseguir a autorização. 
Entretanto em casos como o da Síndrome de Down que é diagnosticada 
ainda no primeiro trimestre não é possível solicitar o procedimento, já que a 
patologia não interfere na possibilidade de vida extrauterina. 
Resultante de uma ADPF que foi encaminhada para o STF em 2004 pela 
Confederação Nacional de Trabalhadores em Saúde e a Organização Anis – 
Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, em 2012 o STF concede parecer 
favorável para o aborto de anencéfalos, com auxílio médico e sem a necessidade de 
autorização judicial se a puérpera assim desejar. 
 
4.2.2 Medicina 
 
Diante da necessidade de uma aproximação com outra disciplina do 
conhecimento para embasar a temática abordada utilizamos o saber da medicina 
através de livros específicos da área. 
 Segundo Zugaib (2008), o abortamento é classificado quanto à sua 
cronologia sendo precoce ou tardio, e quanto à intenção sendo espontâneo ou 
induzido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define “abortamento como a 
expulsão ou extração do feto antes de 20 semanas ou pesando menos de 500g”. 
 
Por aborto, ou abortamento, entende-se a interrupção voluntária, ou 
não, da gestação antes de completar 22 semanas. Quando a idade 
gestacional não é conhecida, utilizam-se como paramentos o peso 
fetal menor que 500g ou ainda estatura que não ultrapasse 16,5 cm. 
Sob o ponto de vista clínico, o aborto pode ser precoce (até 12 
semanas) ou tardio (13-22 semanas). (BOYACIYAN, 2011 p. 173). 
 
Zugaib (2008) em sua obra intitulada “Obstetrícia” apresenta as diversas 
classificações médicas de abortamento. 
36 
 
Como a ameaça de abortamento é caracterizada por uma pequena 
quantidade de sangramento vaginal associado ou não a dor em cólica na região 
pélvica. A taxa de abortamento em mulheres que apresentam sangramento no início 
da gestação é em torno de 40 a 50%, entretanto essa taxa cai para 4 a 10% em 
mulheresque há atividade cardíaca no embrião. 
O abortamento inevitável sucede quando há sangramento vaginal moderado 
ou intenso sempre acompanhado por dor abdominal comumente intensa e 
geralmente são encontrados restos do feto. A intensidade da hemorragia pode 
indicar problemas na saúde da gestante como taquicardia, hipotensão arterial e 
anemia. 
O aborto retido é decorrente da morte embrionária antes da vigésima semana 
gestacional, nesse caso não há a expulsão do feto por dias ou semanas e se ocorrer 
sangramento vaginal normalmente é em pequena quantidade. As mulheres 
comumente perdem os sintomas associados à gestação. 
O abortamento habitual pode ter diversas causas, como genéticas, 
infecciosas, anatômicas, imunológicas, entre outras e atinge cerca de 1% das 
mulheres. Denominado também como recorrente, ocorre quando há três ou mais 
abortos espontâneos consecutivos. 
O abortamento infectado ocorre principalmente em países onde há proibitivo 
legal para a realização da interrupção da gestação, sendo assim as mulheres 
concretizam o procedimento de abortamento induzido em situações clandestinas e 
sem as condições de higiene e esterilização adequadas, resultando em 13% das 
mortes maternas que ocorrem no mundo. 
O abortamento clandestino é associado à morbidade, em casos graves 
podem apresentar sepse, coagulopatia, insuficiência renal, entre outros. Cerca de 
20% das mulheres terão infecção que pode resultar em esterilidade. 
O abortamento completo ocorre principalmente no início da gestação, por 
volta das dez primeiras semanas, nesse período é comum à expulsão completa do 
feto. 
No abortamento incompleto sucede a expulsão parcial do feto, e tem maior 
incidência após há décima semana gestacional. 
37 
 
De acordo com Verardo (1993), o aborto espontâneo acontece sem nenhum 
tipo de interferência externa. Esse tipo de aborto ocorre quando há a expulsão do 
feto pelo próprio organismo decorrente de diversos fatores de ordem natural. 
 
4.3 Aborto induzido 
 
Segundo Verardo (1993) o aborto induzido ou provocado quando realizado 
apenas pelo desejo da genitora é considerado na maioria dos países como ilegal e 
criminoso. Já quando é realizado para salvar a vida da gestante, em casos de 
violência sexual ou em decorrência de feto anencéfalo tem caráter legal em diversos 
países. Esse tipo de aborto ocorre com interferências externas sendo elas de cunho 
mecânico (curetagem, aspiração ou outros) ou químico (remédios abortivos). 
Segundo Prado (1985) há uma dificuldade em caracterizar se a mulher teve 
um aborto espontâneo ou induzido. 
 
É muito difícil, ás vezes quase impossível mesmo a um médico, 
distinguir um aborto provocado de um espontâneo, inclusive quando 
houve intervenção de terceiros. Mais difícil ainda é distinguir entre 
um tombo “planejado” e um acidente ocasional. Há mulheres que 
deliberadamente tomam chá de ervas laxantes ou abortivas, atiram-
se de escadas, carregam pesos excepcionais afim de perder o feto 
sem recorrer a terceiros e quando interrogadas afirmam nunca terem 
praticado um aborto. (PRADO, 1985 p.16). 
 
 
4.4 Consequências do aborto induzido 
 
Conforme Tocci e Pinto (2003) o aborto induzido quando realizado em clínicas 
clandestinas sem as condições adequadas de higiene, preparo profissional e 
acompanhamento médico, ocasionam inúmeras consequências à saúde da mulher, 
e quanto mais tempo de gestação, mais risco sofre a gestante, podendo também 
ocasionar um parto prematuro, onde as crianças podem nascer com má formações e 
até mesmo podendo ocorrer o óbito por prematuridade extrema. Em um dos tipos de 
procedimentos abortivos que é a curetagem, quando mal realizada pode perfurar o 
útero, causando infecções, hemorragias, a perda do útero e podendo levar a mulher 
a óbito. 
 
O aborto pode comprometer a saúde da mulher em graus variáveis. 
A gravidade das complicações mórbidas advindas do abortamento 
38 
 
tende a aumentar com a duração da gravidez. Por exemplo, um 
aborto no segundo trimestre da gestação é mais perigoso do que um 
no primeiro trimestre. Embora também possam ocorrer nos casos de 
aborto espontâneo, as complicações são mais graves e mais 
frequentes no aborto provocado. (PINTO e TOCCI, 2003 p. 59). 
 
As autoras referem que alguns psiquiatras relatam que cada abortamento 
equivale a uma experiência que pode trazer algum tipo de risco a saúde mental da 
mulher, porém a estudiosos que dizem que as consequências psicológicas do aborto 
não são tão piores do que o nascimento de um filho indesejado. 
Algumas consequências psicológicas que podem ser ocasionadas após o 
aborto são: Queda da autoestima, frigidez (perda do desejo sexual), repulsa pelo 
companheiro, frustração e ou culpabilidade do instinto materno e depressões, 
questões que estão intrinsecamente ligados ao tabu que é a temática do aborto. 
 
Do ponto de vista da saúde mental, existe um consenso do que os 
problemas que podem advir também estão relacionados à condição 
de crime pela qual o aborto é tratado no país. Ou seja, se a mulher 
tem que realizar o aborto escondida, se não pode contar com o apoio 
e ajuda de ninguém, se as Leis de seu país dizem que ela está 
fazendo uma coisa errada, cometendo um crime, é compreensível 
que ela se sinta tensa, insegura, assustada e eventualmente 
culpada. (BARBOSA E VILELA, 2011 p. 111). 
 
Segundo Prado (1985) as mulheres que induzem o aborto em casa sem 
auxilio profissional acabam se utilizando de materiais perfurantes e não esterilizados 
como sondas, agulha de tricô, cabides e fios de cobre resultando nas mesmas 
consequências que uma curetagem mal sucedida, podendo ocorrer um aborto 
incompleto onde será necessário o esvaziamento da cavidade uterina, que pode 
resultar desde infecções até a esterilidade e óbito materno. 
De acordo com Vilela e Barbosa (2011), o aborto medicamentoso é realizado 
pela ingestão de remédio utilizado para o tratamento e prevenção de úlcera gástrica 
como o “misoprostol”, anteriormente comercializado como “Cytotec”, que devido a 
sua capacidade de provocar contrações uterinas recebeu uma advertência para as 
gestantes. Esse método oferece riscos á vida da mulher e quando não é obtido o 
êxito na tentativa de abortamento há consequências no feto como sequelas físicas, 
neurológicas e atraso de desenvolvimento, para as gestantes além dos riscos físicos 
há o trauma psicológico e emocional. 
39 
 
Conforme Rocha e Montenegro (2015) é importante fazer um recorte de 
classes levando em consideração as conseqüências do aborto ilegal. Considerando 
que para mulheres de classes mais altas financeiramente, quando optam por realizar 
um aborto, realizarão em clinicas que lhe darão uma estabilidade e condições 
mínimas para realizar o procedimento. Isso quando não vão para países onde a 
pratica é legalizada, enquanto mulheres pobres não têm opção e acabam realizando 
o procedimento em casa ou em lugares que não oferecem condições e sem o 
mínimo de cuidado e nem acompanhamento profissional, colocando em risco sua 
vida. Quando se fala em aborto se fala na violação da sua autonomia, dos direitos 
sexuais, reprodutivo e dessas mulheres. 
 
4.5 O Estado Laico e aborto 
 
Em concordância com a CF de 1988 “Estado Laico significa país ou nação 
onde sua posição frente à religiosidade é indiferente, não apoia ou descriminaliza”. 
O Estado Laico apoia a liberdade de escolha de todos seus os cidadãos desde que 
a doutrina de sua religião não faça interferência nos assuntos do Estado. 
 Segundo o dicionário do Aurélio a definição de Estado é “Governo político do 
povo constituído em nação”, e Laico é “Que não sofre influência ou controle por 
parte da igreja”. Se define como Estado Laico um país que não segue dogmas ou 
padrões religiosos, o Brasil é um Estado laico. 
Como citado acima o Brasil é um Estado Laico como prevêem em sua CF de 
1988 e legislações a liberdade de crença, proteção e respeito a manifestaçõesreligiosas, disposto no artigo 5º inciso VI da CF de 1988 diz que: “É inviolável a 
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da Lei, a proteção aos locais de culto e a suas 
liturgias”; 
De acordo com Alves et al (2011) em seu artigo: “ABORTO, IGREJA E 
ESTADO LAICO: descortinando o véu mariano e reafirmando a necessidade de um 
Estado verdadeiramente laico”, o Estado Laico não deve ser confundido com um 
Estado ateu apesar do Estado Laico não ter uma religião oficial, ele aceita todas as 
crenças religiosas. 
É importante ressalta que América Latina estabelece uma relação intensa 
entre Estado e Igreja, na primeira Constituição foi instituído a religião Católica 
40 
 
Apostólica Romana como oficial onde a Igreja tinha inteira participação nas 
atividades e decisões do Estado. 
 Já em 1891 inícios do período republicano a Constituição definiu o Estado 
Brasileiro como laico, descaracterizando o Brasil como nação que possuía religião 
oficial. 
 
Assim, a Constituição de 1891 proíbe qualquer tipo de participação 
da igreja nas decisões do Estado, todavia, permitia alguns pontos de 
contato entre eles, levando em consideração a intensa religiosidade 
da população. (ALVES et al 2011). 
 
Em conformidade com o CP/40 o Brasil é um Estado Laico que defende a 
liberdade de escolha religiosa, religiões essas que influenciam nos assuntos 
públicos. As duas grandes vertentes da crença religiosa que exercem poder sobre as 
decisões do Estado são o catolicismo e protestantismo onde elas defendem o direito 
à vida e rejeitam a legislação descrita no CP/40 “que garante o direito ao 
abortamento em casos de risco de vida à saúde da mulher, as vítimas de estupro”. 
 Segundo Jurkwicz et al (2004) no “II Seminário Nacional de intercâmbio de 
formação sobre questões éticas religiosas para técnicos (as) dos programas de 
aborto legal” (2004) o catolicismo condena o ato aborto realizado pelas mulheres 
desde século IV sejam em qualquer período ou conjuntura. A Igreja católica expõe 
este assunto com o livro do Antigo e Novo Testamento por não estarem descritos na 
bíblia assim interpretando como diz nas escrituras dos dez mandamentos: “Não 
Matará”, a igreja católica considera o aborto um pecado gravíssimo onde aqueles 
que praticam o ato podem ser excomungados. 
 
Inicialmente, a condenação religiosa ao aborto tomou como 
pressuposto a ideia de que as mulheres não tinham o direito de 
suprimir ao marido sua descendência. Mais tarde, o foco dessa 
discussão deslocou-se para o embrião, considerado como dotado de 
alma - portanto, “um filho de Deus”, a partir de dado momento. 
(FAÚNDES e BARZELATTO, 2004 apud VILLELA e BARBOSA 
2011). 
 
De acordo com Villela & Barbosa (2011) o protestantismo refere que a prática 
do aborto é para garantir a vida da mulher, e que, portanto, a natalidade não 
interfere no seu posicionamento, sendo sua prioridade a gestante. A igreja 
protestante defende que não é a criança que deve ser cuidada e sim a mãe para que 
41 
 
ela possa ter uma gestação tranquila, e se houve complicações durante este período 
da gravidez o médico deverá escolher em salvar a vida da mulher ao invés do feto. 
Conforme a CF de 1988 dispondo acerca do Estado Laico, o conservadorismo 
religioso pode ser observado no Brasil contemporâneo colocando-se não apenas 
imagens religiosas em prédios públicos, mas também nomes de santos em 
hospitais, ruas e escolas, mas necessariamente por influência política que a igreja 
cristã exerce no Estado. 
Anjos et al (2013) afirmam que: 
 
O Estado Brasileiro é Laico essa laicidade pode ser reafirmada com 
a revisão da legislação do aborto, implementado ações que garantam 
maior autonomia de mulheres e homens nas questões reprodutivas, 
permitindo vivenciar suas vontades, escolhas, para que essa decisão 
seja tomada sem prejuízos à saúde. (ANJOS et al 2013 p. 501)5 
 
 Essas questões religiosas reverberam na vida das mulheres que optam 
pelo aborto, e é claro que esta legalização ao aborto é um tabu entre os brasileiros e 
a religiosidade por eles classificar como um pecado, assassinato, crime ou a busca 
pela utilização dos métodos contraceptivos. Segundo o artigo “Discutindo Feminismo 
e Aborto no Âmbito do Catolicismo Romano do Brasil” (2013) a autora diz: 
 
[...] Que as mulheres em vez de preferirem transitar por diferentes 
religiões em busca de preceitos e doutrinas que caibam em suas 
individualidades e demandas pessoais e coletivas, a perspectiva que 
elas trazem é a da permanência na instituição religiosa de sua 
tradição, que é parte de sua história e suas memórias [...]. 
(RAMEIRO, 2013 P 311). 
 
4.6 Legislação do aborto no Brasil 
 
A Lei Número 2848 de 07 de Dezembro de 1940, em seu decreto dispôs no 
artigo 128º do Código Penal menciona que no Brasil é permitida a pratica do aborto 
em dois casos sendo eles: se não há meio de salvar a vida da parturiente e 
gestação decorrente de estupro. 
Em 2012 o STF concedeu um parecer favorável para a interrupção do aborto 
de feto anencéfalo sem a necessidade de apresentar ordem judicial de acordo com a 
vontade da gestante e sob orientação médica. 
 
5Fonte:www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/cdvjornada/jornada_eixo_2011/questoes_de
_genero_etnia_e_geracao/aborto_igreja_e_estado_laico.pdf Acessado em : 28/10/2016 
42 
 
A Constituição Federal de 1988 (CF de 1988) dispõe que o direito à vida é 
fundamental, a partir da autoridade constitucional o Código Penal brasileiro em seu 
capítulo l que trata dos crimes contra a vida. Criminaliza o aborto provocado pela 
gestante ou com sua aceitação. A CF de 1988 não institui qual o marco da vida, 
porém a Convenção Americana de Direitos Humanos internaliza que no Brasil pelo 
Decreto 678/92 menciona “toda pessoa tem o direito que se respeite sua vida, esse 
direito deve ser protegido por Lei desde o momento de sua concepção”. A partir 
dessa alegação algumas forças políticas se opõem fortemente ao aborto, não se 
importando com o desejo da mulher em interromper a gestação, defendem que é 
impossível legalizar o aborto no Brasil definindo que a vida se começa a partir da 
concepção e tal disposição não pode ser confrontada por emendas à Constituição 
de 1988. 
Anjos et al (2013) em seu artigo “Criminalização do aborto no Brasil e 
implicações à saúde pública”, referem: 
 
Por sua vez, os que defendem a legalização do aborto induzido 
diferem o embrião e a noção da pessoa humana. [...] A pessoa 
humana é concebida a partir do início da constituição do sistema 
nervoso central e do cérebro. (ANJOS et al, 2013 p. 501). 
 
Segundo o Projeto de Lei 882 apresentado pelo deputado Jean Wyllys (2015) 
que se encontra na Câmara, onde se discute sobre a legalidade ou ilegalidade da 
realização do aborto no Brasil diz que: 
 
[...]Uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília em 
parceria com o instituto Anis revela que, em todos os estados 
brasileiros, as mulheres que interrompe a gravidez são em sua maior 
parte casadas, têm filhos e religião estando distribuídas em todas as 
classes sociais”. (WYLLYS, 2015). 
 
Diante da legislação vigente, Anjos et al (2013) mencionam: 
 
No Brasil é ilegal abortar, mas é desumano abortar em condições 
inseguras pelo fato de a mulher não ter legalmente o direito sobre o 
próprio corpo e não lhe serem assegurados os seus direitos 
humanos. A legalidade do aborto deve ser discutida a partir de uma 
premissa que considere mulheres como sujeitos de direito. (ANJOS 
et al 2013 p. 502). 
43 
 
Defendem que ainda com a assistência, acesso as informações e métodos 
contraceptivos, a mulher que tenha o desejo e decida por abortar deve ter um 
atendimento de qualidade para realizar o procedimento. 
Conforme Villela e Barbosa (2011) a proibição do aborto legal no país não se 
trata de uma questão de direito penal, mas de uma

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