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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
FACULDADE LEGALE 
 
 
 
 
 
 
 
A CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO VOLUNTÁRIO NO BRASIL VERSUS A 
LIBERDADE DE ESCOLHA DA MULHER 
 
 
WILLIAM MOTTA DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo (SP) 
2021 
 
2 
 
 
 
A CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO VOLUNTÁRIO NO BRASIL VERSUS A 
LIBERDADE DE ESCOLHA DA MULHER 
 
William Motta de Oliveira1 
 
Resumo 
O presente artigo visa discutir sobre a polêmica discussão acerca da legalização da interrupção 
voluntária da gestação, pauta que, não obstante o fato de ser abordada há décadas no Brasil, 
nunca obteve a devida atenção do legislador. Diante disso, o tema proposto para essa pesquisa 
é a criminalização do aborto voluntário no Brasil versus a liberdade de escolha da mulher. Para 
tanto, se estudará o contexto histórico do aborto, a visão do ordenamento legal brasileiro sobre 
o assunto e o posicionamento de outros países sobre tal, bem como as suas consequências na 
prática. 
Palavras-Chave: Direitos Fundamentais. Aborto. Direito Comparado. Direito Penal. 
 
Introdução 
 
O presente Artigo apresentará um estudo sobre o conflito entre a criminalização da 
interrupção voluntária da gestação no Brasil e a liberdade de escolha da mulher sobre seu 
próprio corpo, haja vista que possui os mesmos direitos reprodutivos do homem, assegurados 
pela Constituição Federal. 
Abordar-se-á as diferentes teorias sobre o início da vida humana, trazendo as diversas 
opiniões da ciência, contrapondo-as com o que determina a legislação brasileira. Serão, também, 
trazidos à baila os métodos utilizados no abortamento. Ao final será realizado um estudo da 
forma como o aborto é abordado atualmente na legislação penal brasileira. 
Outrossim, será estudado sobre o aborto no ordenamento jurídico brasileiro, buscando 
demonstrar um contexto histórico da proibição do procedimento. Tratar-se-á, também, a respeito 
dos avanços acerca do tema, através de projetos de lei e jurisprudências, bastante recentes ou 
não. Buscará analisar também o aborto sob o viés do direito comparado, demonstrando a visão 
de diversos países sobre o assunto, tentando traçar paralelos entre a legislação estrangeira e a 
brasileira, a fim de trazer exemplos de eficácia na aplicação da lei que poderiam ser empregados 
no nosso país. Por fim, apresentar-se-á a legalização da interrupção voluntária da gestação como 
uma alternativa ao problema de saúde pública enfrentado atualmente no país. 
A partir desta pesquisa, buscar-se-á apresentar a legalização do aborto voluntário como 
uma forma de garantir o cumprimento dos direitos e garantias fundamentais à dignidade da 
pessoa humana, à cidadania, à não discriminação, à inviolabilidade da vida, à liberdade, à 
 
1 Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUÍ – Campus Santa Rosa 
 
3 
 
 
 
igualdade de gênero, à saúde e o planejamento familiar de mulheres, adolescentes e meninas, 
bem como a proibição de tortura e tratamento desumano ou degradante. 
 
1 O Aborto Voluntário No Brasil 
 
 Apesar da ilicitude, todos os anos milhões de mulheres, de forma clandestina e ilegal, 
interrompem gestações indesejadas, por inúmeros motivos, seja por não ter condições 
socioeconômicas de criar e sustentar uma criança, ou em razão de deformações do feto. 
 Entretanto, devido à falta de regulamentação deste procedimento, muitas dessas 
mulheres vêm a óbito ou ficam permanentemente impossibilitadas de terem filhos, em sua 
maioria, aquelas que não têm condições de pagar por clínicas clandestinas melhor estruturadas, 
revelando a criminalização do aborto como uma forma de eugenia social, causando um 
verdadeiro problema de saúde pública e afrontando os direitos à dignidade humana da mulher 
e liberdade de escolha sobre seu próprio corpo. 
 O principal impasse nesta discussão se encontra no que tange ao fato do aborto 
caracterizar, ou não, um crime contra uma vida humana, trazendo à baila uma pluralidade de 
teorias sobre o início da vida, propriamente dita. Tais posicionamentos são utilizados ao 
argumentar de forma favorável ou contrária à descriminalização. 
 Contudo, acredita-se que no atual contexto social, não há mais que se falar em 
criminalização de um ato cuja prática cabe, tão somente, à mulher decidir, com sua consciência 
e seus valores, uma vez dona de seu próprio corpo e ciente da complexidade e riscos a serem 
levados em conta. 
 
1.1 O Início Da Vida Humana 
 
Quando se trata sobre a interrupção voluntária da gestação, é inegável que uma das 
questões mais polêmicas gira em torno do momento em que se inicia a vida humana, pois não 
há consonância entre as diferentes teorias a respeito do tema, conforme explanado nas palavras 
de Tessaro (2008, p. 38): 
 
Até o momento, não existe consenso na ciência, filosofia ou religião, sobre qual o 
momento em que se inicia a vida. Destacam-se algumas posições majoritárias, tais 
como a fecundação, nidação ou o início da atividade cerebral, entretanto, todas elas 
são passíveis de questionamentos, traduzindo-se não raras vezes, num debate 
apaixonado baseado mais num ato de fé do que na razão. 
 
O ordenamento jurídico brasileiro menciona, no artigo 2º do Código Civil de 2002 que 
“a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde 
 
4 
 
 
 
a concepção, os direitos do nascituro”, entretanto, a lei não especifica quando pode ser 
determinado o início da vida. A respeito do referido artigo, Farias et. al. (2017. p. 29) aduz que: 
 
A proteção que a lei confere ao ser humano em gestação no útero materno merece 
atenção especial. O nascituro já é sujeito de direito, embora ainda não possa ser 
considerado pessoa, o que justifica que a proteção concedida aos seus interesses fique 
condicionada ao seu nascimento com vida. 
 
Neste sentido, a própria ciência tem inúmeras respostas para a mesma pergunta, uma vez 
que, com o avanço tecnológico, cada vez mais surgem novas descobertas acerca do tema. 
Conforme explana Tessaro (2008. p. 2): 
 
Os novos recursos de diagnóstico pré-natal e o advento das técnicas de reprodução 
assistida trouxeram novo fôlego para as discussões sobre o momento em que se deve 
considerar existente a vida humana, inclusive no que se refere a sua proteção jurídico-
penal. Isso porque, no que concerne ao diagnóstico pré-natal, atualmente é possível 
conhecer detalhadamente as etapas do desenvolvimento embrionário e fetal, inclusive 
com a detecção de anomalias que comprometam sua viabilidade extra-uterina. 
 
Atualmente fala-se em “genética”, “manipulação do DNA (Ácido desoxirribonucleico)”, 
“bebês de proveta”, feitos completamente inimagináveis há poucos anos atrás. Entretanto, as 
próprias respostas trazidas pela ciência diferem entre si, sendo cinco as principais teses, como 
será tratado a seguir. 
 
1.1.1 Cinco Teses Da Ciência 
 
Para enumerar as diferentes opiniões da ciência acerca do início da vida humana, 
denotam-se cinco visões divergentes: a visão genética, a visão embriológica, a visão 
neurológica, a visão ecológica e a visão metabólica. 
Conforme Muto e Narloch (2005, p. 64), segundo a visão genética “a vida humana 
começa na fertilização, quando espermatozoide e óvulo se encontram e combinam seus genes 
para formar um indivíduo com um conjunto genético único. Assim é criado um novo indivíduo”. 
Cabe mencionar que tal posicionamento é o mesmo tomado pela Igreja Católica, sobre qual será 
aprofundado mais adiante. 
Na visão embriológica, os autores esclarecem: “a vida começa na terceira semana de 
gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana. Isso porque até 12 dias após a 
fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas.”. Esta 
visão justifica a possibilidadede se utilizar a chamada “pílula do dia seguinte” sem ser 
considerado um aborto voluntário. 
Acerca da visão neurológica, Tessaro (2008, p. 41) aduz que “[...] no terceiro mês de 
gravidez, com a constituição dos hemisférios cerebrais, já é possível fazer a distinção entre um 
 
5 
 
 
 
organismo vivo humano dos demais primatas.” Nesta mesma seara Sarmento (2005, p. 30) 
relata: 
 
[...] pelo menos até a formação do córtex cerebral - que só acontece no segundo 
trimestre de gestação -, não há nenhuma dúvida sobre a absoluta impossibilidade de 
que o feto apresente capacidade mínima para a racionalidade. Antes disso, o nascituro 
não é capaz de qualquer tipo de sentimento ou pensamento. 
 
A visão ecológica, para Muto e Narloch (2005. p. 64) determina que o início da vida se 
dá no momento que o feto adquire capacidade de sobreviver fora do útero. Um bebê só se 
manteria vivo após os pulmões completamente formados o que ocorre após cerca de 20 a 24 
semanas de gravidez. 
Por fim, a visão metabólica, refere que “a discussão sobre o começo da vida humana é 
irrelevante, uma vez que não existe um momento único no qual a vida tem início.” (MUTO; 
NARLOCH. 2005. p. 64). Para essa corrente, o óvulo e o espermatozoide já possuem tanta vida 
quanto qualquer ser humano já desenvolvido. 
 
1.2 O Aborto Em Números No Brasil E No Mundo 
 
Apesar de ilícito, todos os dias inúmeras mulheres abortam, muitas delas morrem no 
procedimento e outras tantas ficam com graves sequelas. Não obstante o fato de se tratar de um 
assunto em alta no momento, não se trata de um problema atual. 
Em 2012, segundo Castro, Tinoco e Araujo (2013. p. 1), “foram 205.855 internações 
decorrentes de abortos no país — sendo 51.464 espontâneos e 154.391 induzidos (ilegais e 
legais)”, demonstrando que a proibição não evita que os abortos ocorram. 
Tratam-se de números alarmantes, 20% das mulheres com mais de 40 anos já fizeram, 
pelo menos, um aborto na vida, conforme Castro, Tinoco e Araujo (2013. p. 1). Atualmente no 
Brasil estima-se que existem cerca de 37 milhões de mulheres nessa faixa etária (Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatísticas. 2010), ou seja, cerca de 7.400.000 já realizaram 
procedimentos para interromper a gestação, em casos amparados, ou não, pela legislação. 
Segundo Tornquist et. al. (2009. p. 488-489), dados da Organização Mundial de Saúde 
(OMS) apontam que anualmente ocorrem no mundo cerca de 75 milhões de gestações não 
desejadas e não planejadas, bem como, verificam-se 46 milhões de abortos voluntários ao ano 
(22%), variando de país a país. 
No Brasil, realizou-se em 2016 a Pesquisa Nacional do Aborto, na qual foram 
entrevistadas mulheres alfabetizadas, as quais possuem idades entre 18 e 39 anos e residem nas 
áreas urbanas, objetivando colher dados sobre a magnitude da pratica de abortos no país. Tal 
estudo obteve os seguintes resultados (DINIZ et al. 2016. p.655-656): 
 
6 
 
 
 
 
 
Das 2.002 mulheres alfabetizadas entre 18 e 39 anos entrevistadas pela PNA 2016, 
13% (251) já fez ao menos um aborto. 
[...] 
Na faixa etária de 35 a 39 anos, aproximadamente 18% das mulheres já abortou. Entre 
as de 38 e 39 anos a taxa sobe a quase 19%. A predição por regressão linear das taxas 
de aborto pelas idades é de que a taxa a 40 anos é de cerca de 19%. Por aproximação 
é possível dizer que, em 2016, aos 40 anos de idade, quase uma em cada cinco 
mulheres já fez aborto (1 em cada 5,4). 
[...] 
Em 2016 o total estimado de mulheres de 18 a 39 anos no Brasil, incluindo as vivendo 
em áreas rurais, era de 37.287.746. Extrapolando-se a partir das taxas de aborto de 
alfabetizadas urbanas (13%), o número de mulheres que, em 2016, já fez aborto ao 
menos uma vez, portanto, seria em torno de 4,7 milhões. Aplicando-se a taxa de aborto 
no último ano, o número de mulheres que o fizeram somente no ano de 2015 seria de 
aproximadamente 503 mil. 
 
 Neste sentido, cabe mencionar que em países em que o aborto já é regulamentado, não 
houve aumento no número de procedimentos realizados, como bem demonstra Chade (2016. p. 
1): 
 
 [...] países com leis que proíbem o aborto não conseguiram frear a prática e que, hoje, 
contam com taxas acima daqueles locais onde o aborto é legalizado. Já nos países 
onde a prática é autorizada, ela foi acompanhada por uma ampla estratégia de 
planejamento familiar e acesso à saúde que levaram a uma queda substancial no 
número de abortos realizados. 
 
 Isso ocorre pois, com a regulamentação do aborto, as gestantes recebem o 
acompanhamento de especialistas, os quais orientam sobre os riscos e consequências do 
procedimento, aumentando os índices de desistência. Cabe mencionar, também, que altas taxas 
de aborto estão relacionadas com dificuldade no acesso à métodos contraceptivos. 
 
1.3 A Criminalização Do Aborto No Direito Brasileiro 
 
 O crime de Aborto apareceu pela primeira vez expressamente no Código Criminal do 
Império, datado de 1830, em seus artigos 197 a 200. Acompanhe-se (BRASIL. 1830. p.21-22): 
 
Art. 197. Matar algum recemnascido. 
Penas - de prisão por tres a doze annos, e de multa correspondente á metade do tempo. 
Art. 198. Se a propria mãi matar o filho recem-nascido para occultar a sua deshonra. 
Penas - de prisão com trabalho por um a tres annos. 
Art. 199. Occasionar aborto por qualquer meio empregado interior, ou exteriormente 
com consentimento da 
mulher pejada. 
Penas - de prisão com trabalho por um a cinco annos. 
Se este crime fôr commettido sem consentimento da mulher pejada. 
Penas - dobradas. 
Art. 200. Fornecer com conhecimento de causa drogas, ou quaesquer meios para 
produzir o aborto, ainda que 
este se não verifique. 
Penas - de prisão com trabalho por dous a seis annos. 
 
7 
 
 
 
Se este crime fôr commettido por medico, boticario, cirurgião, ou praticante de taes 
artes. 
Penas - dobradas. 
 
 Nota-se que no referido dispositivo legal “abortar era crime grave contra a segurança 
das pessoas e da vida. No entanto, quando era praticado pela própria gestante ela era preservada 
de alguma punição” (SOUZA. p.5. 2009). Tal posicionamento seria semelhante ao adotado no 
Código Penal da República, em 1890 “em que o aborto passa a ser punido quando praticado por 
terceiros, podendo ou não ter aprovação da gestante, e se ele resultasse na morte da mesma” 
(SOUZA apud PRADO. p.5. 2009). 
O ordenamento jurídico Civil brasileiro deixa bem claro, já em seu artigo 2º, que a 
personalidade jurídica se inicia no momento do nascimento com vida, deixando a salvo os 
direitos do nascituro, desde a sua concepção (BRASIL. p.1. 2002). 
O conceito de Personalidade se confunde com o conceito de pessoa, tal qual esclarece 
Gonçalves (2016. p.125): 
 
O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele 
que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, 
portanto, qualidade ou atributo do ser humano. Pode ser definida como aptidão 
genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É 
pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. A personalidade é, 
portanto, o conceito básico da ordem jurídica, que a estende a todos os homens, 
consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e 
igualdade. 
 
Deste modo, nota-se que é necessário que haja o nascimento com vida para que surja 
um sujeito de direito, capaz de exercer funções e cumprir deveres em um estado democrático 
de Direito. Entretanto, no mesmo artigo supramencionado, destaca-se que estão a salvo os 
direitos do nascituro, desde a sua concepção, para fins de direito sucessório, ou recebimento de 
doações, com anuência de seu representante legal. 
Do ponto de vista constitucional, afirma Tessaro (2008. p. 7) que a Constituição Federal 
de 1988 “garante a todos o direito à vida, não fazendo qualquer menção expressa à proteçãoda 
vida humana desde a concepção”. Neste mesmo sentido a autora prossegue (2008. p. 8): 
 
A proteção constitucional da vida em formação não garante ao nascituro o status de 
pessoa, uma vez que não é sujeito de direitos e deveres, possuindo tão-somente 
interesses patrimoniais salvaguardados pela lei civil. Assim, pode-se afirmar que é 
pessoa em potência, que só será sujeito de direito a partir de seu nascimento com vida. 
 
Atualmente a interrupção voluntária da gestação é criminalizada no Brasil, com pena de 
detenção de 1 a 3 anos para a gestante, conforme artigo 124 do Código Penal, bem como pena 
de reclusão de 1 a 4 anos para o médico, ou quem quer que tenha realizado o procedimento com 
o consentimento da gestante, conforme artigo 126 do mesmo texto legal. 
 
8 
 
 
 
Para aquele que provocar aborto sem o consentimento da gestante, a pena é de reclusão 
de 2 a 10 anos, conforme o artigo 125. Neste sentido acompanhe-se o texto legal ipsis litteris 
(BRASIL. 1940. arts. 124-126): 
 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide 
ADPF 54) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 
quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante 
fraude, grave ameaça ou violência (grifo do autor) 
 
 Tal artigo tem como justificativa a proteção do direito à vida, presente na Constituição 
Federal em seu artigo 5º, onde menciona que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida” (BRASIL. p.1. 1988). 
 A partir disso, a próxima grande mudança legislativa a tratar sobre o aborto foi o Código 
Penal de 1940, o qual está em vigor até os dias de hoje. Ocorreram tentativas de modificar o 
disposto nos artigos 124 a 126, mas ainda não se obteve sucesso para tal, conforme será mais 
aprofundado no próximo capítulo. 
 
2 O projeto de lei nº 1.135/91 
 
Em 1991, através do Projeto de Lei (PL) nº 1.135, os deputados Eduardo Jorge e Sandra 
Starling propuseram a supressão do disposto no artigo 124 do Código Penal de 1940, 
objetivando fosse legalizado o aborto voluntário no Brasil, conforme consta no Diário do 
Congresso Nacional (BRASIL. 1991. p. 25): 
 
O presente projeto de lei tem por objetivo atualizar o Código Penal, adaptando-o aos 
novos valores e necessidades do mundo atual, particularmente no sentido do 
reconhecimento dos direitos da mulher enquanto pessoa humana. O artigo que se 
suprime penaliza duramente a gestante que provoca aborto ou consente que outro o 
realize. Esta é uma disposição legal ultrapassada e desumana. 
 
O projeto de lei vinha embasado no princípio da dignidade da pessoa humana, presente 
no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, como forma de proteger a mulher que deseja 
interromper a gestação, no exercício do seu livre arbítrio, conforme prosseguem os autores 
(BRASIL. 1991. p.25): 
 
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADPF&s1=54&processo=54
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADPF&s1=54&processo=54
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADPF&s1=54&processo=54
 
9 
 
 
 
A lei não pode pretender punir baseando-se apenas na compreensão isolada e 
individual do ato e desconsiderando toda a realidade social a que está submetida a 
mulher brasileira. Ademais, é absolutamente desnecessário e desumano querer aplicar 
penalidade a uma pessoa que já foi forçada a submeter-se a tamanha agressão. A 
gestante, quando provoca aborto em si mesma ou permite que outro o faça, está 
tomando uma providência extrema que a violenta física, mental e, com frequência, 
moralmente. 
 
 Contudo, tal projeto foi votado somente em 2008, sendo rejeitado por 33 votos contrários 
e nenhum a favor, seguindo para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da 
Câmara dos Deputados, onde foi novamente rejeitado, desta vez por 57 votos contrários e 4 
favoráveis (FREITAS. 2008) e, deste modo, o Projeto de Lei foi arquivado na Mesa Diretora da 
Câmara dos Deputados, situação na qual permanece até o momento. 
 
2.1.1 ADPF nº 422 
 
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) consiste em uma 
ação proposta perante o STF que visa à reparação de lesões a preceitos fundamentais da 
Constituição Federal, que resultem de ato do Poder Público, nos termos do art. 102, § 1º do 
mesmo diploma legal (BRASIL. 1988), sendo regulada pela Lei nº 9.882 de 1999. Conforme 
explanam Paulo e Alexandrino (2017. p. 852): 
 
A ADPF vem completar o sistema de controle de constitucionalidade concentrado, 
uma vez que a competência para sua apreciação é originária e exclusiva do Supremo 
Tribunal Federal. Nos termos em que foi regulada aADPF pelo legislador ordinário, 
questões até então não passíveis de apreciação nas demais ações do controle abstrato 
de constitucionalidade (ADI e ADC) passaram a poder ser objeto de exame. Os 
exemplos mais notórios são a possibilidade de impugnação de atos normativos 
municipais em face da Constituição Federal e o cabimento da ação quando houver 
controvérsia envolvendo direito pré-constitucional. Ainda, impende observar que a 
ADPF não se restringe à apreciação de atos normativos, podendo, por meio dela, ser 
impugnado qualquer ato do Poder Público de que resulte lesão ou ameaça de lesão a 
preceito fundamental decorrente da Constituição Federal. 
 
Dito isso, a Arguição de nº 442, já em sua nota introdutória, traz a base jurídica para seus 
pedidos, qual seja, a alegação de que a proibição do aborto fere os direitos fundamentais 
contidos nos artigos 1º, incisos I e II; art. 3º, inciso IV; art. 5º, caput e incisos I, III; art. 6º, caput; 
art. 196 e art. 226, § 7º, todos da Constituição Federal de 1988. Acompanhe-se o trecho a seguir 
(BOITEUX. et al. p. 1. 2017): 
 
A tese desta Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) é que as 
razões jurídicas que moveram a criminalização do aborto pelo Código Penal de 1940 
não se sustentam, porque violam os preceitos fundamentais da dignidade da pessoa 
humana, da cidadania, da não discriminação, da inviolabilidade da vida, da liberdade, 
da igualdade, da proibição de tortura ou tratamento desumano ou degradante, da saúde 
e do planejamento familiar de mulheres, adolescentes e meninas. 
 
10 
 
 
 
 Outrossim, a ação menciona o fato do Brasil ser um estado laico, não podendo embasar 
sua legislação em paradigmas religiosos. A ADPF relata também que a legalização do aborto é 
“um caso difícil pelo forte apelo moral que provoca” (2017. p. 2-3), dividindo fortes opiniões 
favoráveis e contrárias ao procedimento. 
 A ADPF nº 442 busca reparar o disposto nos artigos 124 e 126, do Código Penal de 
1940, aduzindo que tais dispositivos estão ferindo diversos preceitos fundamentais 
estabelecidos na Constituição Federal. Este tipo de ação está resguardado no artigo 102, § 1º da 
Constituição e regulado Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999 que diz em seu artigo 1º 
(BRASIL. 1999. p.1): 
 
Art. 1o A argüição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta 
perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito 
fundamental, resultante de ato do Poder Público. 
Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito 
fundamental: 
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato 
normativo federal, estadual ou municipal,incluídos os anteriores à Constituição; 
 
 Deste modo, conforme a arguição, os dispositivos do Código Penal, quais sejam atos do 
poder público (cabível, assim, a ação) ferem os seguintes preceitos fundamentais, entre eles a 
dignidade da pessoa humana e da cidadania, bem como a promoção do bem a todas as pessoas, 
sem discriminação (art. 1º, incisos I, II e art. 3º, inciso IV, da Constituição), acompanhe-se 
(BOITEUX. et al. 2017. p. 8-12): 
 
A criminalização do aborto e a consequente imposição da gravidez compulsória 
compromete a dignidade da pessoa humana e a cidadania das mulheres, pois não lhes 
reconhece a capacidade ética e política de tomar decisões reprodutivas relevantes para 
a realização de seu projeto de vida. [...] 
Devido à seletividade do sistema penal, são também as mulheres mais vulneráveis as 
diretamente submetidas à ação punitiva do Estado. 
 
De outra banda, os artigos ferem também o direito à saúde (art. 6º, da Constituição), à 
integridade física e psicológica das mulheres e às submetem à tratamento desumano ou 
degradante (art. 5º, inciso III, da Constituição), conforme cita-se (BOITEUX. et al. 2017. p. 9): 
 
a negação do direito ao aborto pode levar a dores e sofrimentos agudos para uma 
mulher, ainda mais graves e previsíveis conforme condições específicas de 
vulnerabilidade que variam com a idade, classe, cor e condição de deficiência de 
mulheres, adolescentes e meninas. 
 
Nesta mesma seara, os dispositivos legais ferem também o direito ao planejamento 
familiar, o qual consta no artigo 226, §7º da carta magna, o qual menciona que “o planejamento 
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e 
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de 
 
11 
 
 
 
instituições oficiais ou privadas” (BRASIL. 1988. p. 94), uma vez que a mulher é impedida de 
tomar uma decisão importante sobre gerar um filho. 
A ADPF 54 menciona também o fato dos dispositivos do código penal ferirem direitos 
sexuais e reprodutivos, os quais, não obstante o fato de não estarem presentes de forma expressa 
no texto constitucional, tem estreita ligação com os direitos à liberdade e igualdade (art. 5º, 
caput, da Constituição Federal) e estão enumerados em compromissos internacionais assumidos 
pelo Brasil. 
Outro preceito fundamental desrespeitado nos artigos 124 e 126 é a igualdade de gênero 
(art. 5º, caput, da Constituição Federal), conforme é mencionado na arguição (BOITEUX. et al. 
2017. p. 12): 
 
afronta também o princípio da igualdade de gênero, decorrente do direito fundamental 
à igualdade (CF, art. 5º, caput) e do objetivo fundamental da República de não 
discriminação baseada em sexo (CF, art. 3º, inciso IV), uma vez que impõe às mulheres 
condições mais gravosas,24 inclusive perigosas à sua vida e saúde, para a tomada de 
decisões reprodutivas, desproporcionais em comparação com as condições para a 
tomada das mesmas decisões por parte dos homens, que não são submetidos à 
criminalização e a consequências da coerção penal nas condições de exercício de seus 
direitos a uma vida digna e cidadã. 
 
 A presente arguição, ainda não foi analisada pelo STF e é um importante marco nos 
avanços sobre a legalização do aborto no país, caso venha a ser julgada de forma favorável 
mudará drasticamente o cenário. 
 
2.1 Habeas Corpus 124.306 Rio de Janeiro 
 
 Julgado pelo Supremo Tribunal federal em 2016, tendo como relator o Ministro Marco 
Aurélio, o Habeas Corpus (HC) 124.306 RJ versava sobre o cometimento do crime de aborto, 
tipificado nos artigos 124 a 126 do Código Penal. Apesar do não cabimento do HC em questão, 
a primeira turma do STF acolheu de ofício o caso para derrubar a prisão preventiva imposta aos 
acusados nos termos do voto do Ministro Luís Roberto Barroso (2016. p. 5): 
 
Não se encontram preenchidos, no caso concreto, os requisitos do art. 312 do Código 
de Processo Penal, que exigem, para decretação da prisão preventiva, que estejam 
presentes riscos para a ordem pública ou para a ordem econômica, conveniência para 
a instrução criminal ou necessidade de assegurar a aplicação da lei. Note-se que a 
prisão torna-se ainda menos justificável diante da constatação de que os pacientes: (i) 
são primários e com bons antecedentes; (ii) têm trabalho e residência fixa; (iii) têm 
comparecido devidamente aos atos de instrução do processo; e (iv) cumprirão a pena, 
no máximo, em regime aberto, na hipótese de condenação. Aplicável, portanto, a 
orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal no sentido de que é ilegal a 
prisão cautelar decretada sem a demonstração, empiricamente motivada, dos 
requisitos legais 
 
Dito isso, o Ministro elaborou seu voto de forma que restou julgado que o aborto 
voluntário, cometido pela gestante ou por terceiro com o consentimento desta, não seria crime, 
 
12 
 
 
 
caso seja realizado até o terceiro mês da gestação. Com unanimidade foi dado voto favorável à 
interpretação dos referidos artigos em conformidade com a Constituição. 
 Deste modo, entendeu-se que a interrupção voluntária da gestação, pela própria gestante, 
é legítima, assim como a de quem realiza tal procedimento, desde que com o consentimento da 
mesma. Entretanto, tal decisão vale tão somente para o caso em tela, mas indica que, caso o tema 
seja levado ao plenário do tribunal, onde seria discutida a repercussão geral, há a possibilidade 
de legalização do procedimento. 
 
2.1.1 As Excludentes de Ilicitude e a ADPF nº 54 
 
No Código Penal brasileiro de 1940 existem três exceções à proibição do aborto, quais 
sejam, quando ocorre o chamado “Aborto Necessário”, ou seja, em casos em que a gravidez 
oferece risco à vida da gestante, não havendo outro meio de salvá-la, bem como gravidezes que 
resultaram de estupro ou em caso de feto anencefálo, nos termos do artigo 128 do Código Penal 
(BRASIL. 1940. art. 128): 
 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da 
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. (grifo do autor) 
 
A excludente de ilicitude relacionada ao feto anencéfalo, apesar de não estar explícita 
no Código Penal, ganhou precedentes a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal na 
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 54. Tal arguição foi 
apresentada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Na Saúde (CNTS) e julgada pelo 
ministro Gilmar Mendes, no ano de 2012, e tinha como pedido principal o que segue: 
 
[...] requer seja julgado procedente o presente pedido para o fim de que esta Eg. Corte, 
procedendo à interpretação conforme a Constituição dos arts. 125, 126 e 128, I e II, do 
Código Penal (Decreto-lei nº 2.848/40), declare inconstitucional, com eficácia erga 
omnes e efeito vinculante, a interpretação de tais dispositivos como impeditivos da 
antecipação terapêutica do parto em casos de gravidez de feto anencefálico, 
diagnosticados por médico 2 habilitado, reconhecendo-se o direito subjetivo da 
gestante de se submeter a tal procedimento sem a necessidade de apresentação prévia 
de autorização judicial ou qualquer outra forma de permissão específica do Estado. 
 
 No seu voto, o ministro Gilmar Mendes reconheceu que o Código Penal, por regra, veda 
o aborto, entretanto, nos casos de anencefalia do feto, prevaleceria a excludente de ilicitude do 
inciso I do artigo 128, a qual resguarda a saúde da gestante, permitindo o aborto em casos que 
ofereçam riscos à vida da mulher, assevera também que “o anencéfalo jamais se tornará uma 
 
13 
 
 
 
pessoa. Em síntese, não se cuida de vida em potencial, mas de morte segura.” (MENDES. 2012. 
p. 54). 
 Nesta seara, o Conselho Federal de Medicina,através da Resolução nº 1.752/2004 
(posteriormente revogada pela Resolução nº 1.949/2010) dispõe que “os anencéfalos são 
natimortos cerebrais (por não possuírem os hemisférios cerebrais) que têm parada 
cardiorrespiratória ainda durante as primeiras horas pós-parto” (CFM. 2004. p. 1), sendo assim, 
impossível a vida da criança fora do útero. 
 Dito isto, o voto do ministro diante da ADPF foi favorável, reconhecendo o aborto de 
anencéfalo como excludente de ilicitude e fazendo com que o disposto nos artigos 125, 126 e 
128 do Código Penal seja interpretado conforme os princípios fundamentais da Constituição 
Federal. Mendes (2012. p. 79) assevera em seu voto: 
 
Se alguns setores da sociedade reputam moralmente reprovável a antecipação 
terapêutica da gravidez de fetos anencéfalos, relembro-lhes de que essa crença não 
pode conduzir à incriminação de eventual conduta das mulheres que optarem em não 
levar a gravidez a termo. O Estado brasileiro é laico e ações de cunho meramente 
imorais não merecem a glosa do Direito Penal. A incolumidade física do feto 
anencéfalo, que, se sobreviver ao parto, o será por poucas horas ou dias, não pode ser 
preservada a qualquer custo, em detrimento dos direitos básicos da mulher. No caso, 
ainda que se conceba o direito à vida do feto anencéfalo – o que, na minha óptica, é 
inadmissível, consoante enfatizado –, tal direito cederia, em juízo de ponderação, em 
prol dos direitos à dignidade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à 
autonomia, à privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde, previstos, 
respectivamente, nos artigos 1º, inciso III, 5º, cabeça e incisos II, III e X, e 6º, cabeça, 
da Carta da República. 
 
 Mendes, em seu voto, deixou claro que a proibição do aborto em casos de feto anencéfalo 
é uma omissão legislativa, em desacordo com a carta constitucional e que necessita ser suprida. 
Outrossim, menciona o fato do Código Penal ter entrado em vigor em 1940, sendo impossível 
à época, do ponto de vista da tecnologia empregada na medicina, prever a anencefalia. 
Outra excludente de ilicitude no tipo penal é o caso de estupro, no qual a mulher, dado 
o constrangimento que já foi sofrido na violência sexual, pode solicitar a interrupção da 
gravidez, sem necessidade de apresentar qualquer documento ou exame médico que comprove 
o estupro, sendo o seu depoimento a principal prova. Neste sentido a Norma Técnica do 
Ministério da Saúde sobre Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência 
Sexual contra Mulheres e Adolescentes (BRASIL. 2012. p. 69) aduz: 
 
O Código Penal não exige qualquer documento para a prática do abortamento nesse 
caso, a não ser o consentimento da mulher. Assim, a mulher que sofre violência sexual 
não tem o dever legal de noticiar o fato à polícia. Deve-se orientá-la a tomar as 
providências policiais e judiciais cabíveis, mas caso ela não o faça, não lhe pode ser 
negado o abortamento. O Código Penal afirma que a palavra da mulher que busca os 
serviços de saúde afirmando ter sofrido violência, deve ter credibilidade, ética e 
legalmente, devendo ser recebida como presunção de veracidade. O objetivo do 
 
14 
 
 
 
serviço de saúde é garantir o exercício do direito à saúde, portanto não cabe ao 
profissional de saúde duvidar da palavra da vítima, o que agravaria ainda mais as 
consequências da violência sofrida. Seus procedimentos não devem ser confundidos 
com os procedimentos reservados a Polícia ou Justiça. 
 
 Nestes casos, é impreterivelmente necessário o consentimento da gestante, bem como, 
caso esta for menor incapaz, de seu representante legal, entretanto, apesar destas excludentes de 
ilicitude, claramente a gestante ainda não possui o direito à escolha de interromper a gravidez 
quando bem entender, ficando fadada à depender de casos extremos e se vendo obrigada a levar 
adiante gestações nas quais não terá condição de suprir uma qualidade de vida adequada à 
criança 
 
2.2 O aborto no direito comparado 
 
Em relação ao aborto na antiga União Soviética, pode-se ressaltar que após a Revolução 
Russa de 1917, na qual foi derrubada a monarquia Tzarista russa, com a ascensão dos 
Bolcheviques, liderados por Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido como Lenin, foram 
trazidos novos ideais de igualdade de gênero pioneiros no mundo todo, os quais objetivavam 
inserir a mulher como participante ativo da vida social e política do país, como forma de 
fortalecer a revolução. 
Muitos desses paradigmas, inclusive, ainda não são adotados em países ocidentais 
atualmente. Conforme relata Goldman (2014. p. 17-18): 
 
Sob o socialismo, o trabalho doméstico seria transferido para a esfera pública: as 
tarefas realizadas individualmente por milhões de mulheres não pagas em suas casas 
seriam assumidas por trabalhadores assalariados em refeitórios, lavanderias e creches 
comunitários. Só assim as mulheres se veriam livres para ingressar na esfera pública 
em condições de igualdade com os homens, desvencilhadas das tarefas de casa. As 
mulheres seriam educadas e pagas igualitariamente, e seriam capazes de buscar seu 
próprio desenvolvimento e seus objetivos pessoais. 
 
 Nessa mesma seara, ao perceber que aumentava exponencialmente o número de 
mulheres que realizavam abortos de forma clandestina, veio o decreto que tornava o aborto 
legal, amparado pelo Estado, mas permitido somente se feito por médicos, Goldman (2014. p. 
270) acerca do tema relata: 
 
Reconhecendo que a repressão foi inútil, o decreto permitia às mulheres fazerem 
abortos gratuitos em hospitais, mas apenas pelos médicos; as babki (parteiras 
camponesas) ou parteiras teriam de enfrentar sanções penais e seriam privadas do seu 
direito à prática da profissão. O decreto explicava que “as reminiscências morais” e 
as “dolorosas condições econômicas do presente” tornavam o aborto necessário. 
Oferecia às mulheres uma alternativa segura, legal e economicamente justa aos becos 
do passado 
 
 
15 
 
 
 
 Tal mudança permitiu acesso a maior segurança na realização dos procedimentos, agora 
realizados somente por profissionais qualificados, entretanto, nem todas as mulheres tinham 
acesso ao aborto legal, uma vez que era realizado somente nas cidades e o país era, em sua vasta 
maioria, composto de áreas rurais. 
 Contudo, após preocupante decadência na taxa de natalidade, de acordo com Goldman 
(2014. p.300), no ano de 1936 tal decreto foi revogado e o aborto foi novamente criminalizado, 
acompanhe-se: 
 
Em junho de 1936, em meio a uma grande campanha de propaganda, o Comitê 
Executivo Soviético Central (TsIK) e o Sovnarkom emitiram um decreto que 
declarava o aborto como ilegal. Aqueles que praticassem a operação estariam sujeitos 
a no mínimo dois anos de prisão, e inclusive a mulher que se submetia ao aborto estaria 
sujeita a multas altas depois da primeira infração. A nova lei oferecia incentivos para 
a maternidade mediante um subsídio para novas mães, bônus grandes para mulheres 
com muitos filhos e licenças maternidade mais longas para funcionárias 
administrativas. Também aumentou a quantidade de clínicas de maternidade, creches 
e cozinhas de leite. Somado às medidas pró- natalidade, ficou mais difícil conseguir 
um divórcio, e as multas e penas para os homens que negassem pagar pensões 
alimentícias aumentaram. A proibição do aborto foi a peça-chave de uma campanha 
mais ampla para promover a “responsabilidade familiar”. 
 
 Apesar de suas inúmeras limitações, a experiência soviética foi muito importante para o 
avanço da discussão sobre o aborto na Europa e restante do mundo, uma vez que mostrou que 
era possível legalizar o aborto e haver apoio do Estado, como uma alternativa à realização 
clandestina e perigosa à saúde da mulher. 
Nos Estados Unidos da América, conforme Cabral (2009), a discussão acerca do 
aborto sempre gerou grande polemica, chegando a levar a sociedade estadunidense ase dividir 
entre pro-life (pró-vida), com maior viés religioso e conservador e pro-choice (pró-escolha), 
que defende a liberdade de escolha da mulher sobre continuar com a gestação. 
 Tal discussão levou ao caso Roe vs. Wade, em 1973, no qual a Suprema Corte decidiu 
que o aborto voluntário realizado no primeiro trimestre de gravidez não seria mais 
criminalizado. Conforme exposto por Cabral (2009. p.1): 
 
Em síntese, no caso Roe v. Wade (1973), a Suprema Corte norte-americana 
estabeleceu que as mulheres tinham o direito ao aborto, como consequência do direito 
à privacidade protegido pela Emenda nº 14 à Constituição norte-americana. A decisão 
declarou a inconstitucionalidade da Lei estadual do Texas e conferiu as mulheres uma 
total autonomia para interromper a gravidez durante o 1º trimestre de gestação. 
Admitiu-se, ainda, a existência de alguns critérios de limitação aos abortos praticados 
nos 2º e 3º trimestres de gestação. De uma forma geral, pode-se dizer que a decisão da 
Suprema Corte afetou quase a totalidade das Leis estaduais que disciplinavam a 
prática do aborto nos Estados Unidos. 
 
 De acordo com Pereira (2015), a Suprema Corte estabeleceu que a gestação seria 
dividida em trimestres, sendo que no primeiro trimestre, uma vez que o abortamento oferece 
 
16 
 
 
 
tantos riscos à mulher quanto um parto, a prática seria legalizada, não havendo motivos para a 
interferência do estado em tal procedimento. Já a partir do segundo trimestre, o procedimento 
poderia ser regulamentado, visando preservar a saúde da mulher. E após o terceiro trimestre da 
gestação, uma vez que já é viável a sobrevivência do feto fora do útero, o aborto poderia ser, 
inclusive, proibido. 
 Deste modo, após tal decisão da Suprema Corte, nos Estados Unidos as Mulheres 
possuem a liberdade de escolher se querem, ou não, dar prosseguimento à gestação, tendo o 
apoio necessário do Estado, desde que realizado dentro do período já estabelecido em lei. 
 Na França, houve grande luta de movimentos sociais pró-escolha, tendo como 
principais expoentes o Manifesto das 343 pelo Nouvel Observateur, no qual centenas de 
personalidades femininas assinaram declarando já ter realizado um aborto clandestino e 
posteriormente o surgimento dos movimentos Choisir e MLAC (Movimento pela Liberalização 
do Aborto e da Contracepção) que, de acordo com Lavinas (2015. p.1), “reúniu à época não 
apenas feministas, mas também membros da classe médica que passam a praticar aborto seguro, 
ainda que ilegal e passível de prisão”. 
Sarmento (2005) lembra que no ano de 1979, tais normas tornaram-se definitivas, deste 
modo o aborto voluntário nas dez primeiras semanas de gravidez tornou-se legalizado, em um 
modelo semelhante ao adotado posteriormente em Portugal. Em 1982, nova lei surgira, prevendo 
a obrigação da Seguridade Social francesa de arcar com 70% dos gastos decorrentes da 
interrupção da gestação. 
O ordenamento jurídico de Portugal divide as mesmas raízes romano-germânicas do 
brasileiro, trazendo grandes semelhanças na forma como se regulamenta a sociedade, por todo 
o histórico como colônia até o século XIX. No entanto, apesar de tais similaridades, em Portugal 
a interrupção voluntária de uma gestação (IVG) não é criminalizada. 
 Conforme relata Dias (2017), até fevereiro de 2007 o aborto em Portugal era 
criminalizado e possuía tão somente três excludentes de ilicitude, semelhantes às existentes no 
Brasil, quais sejam a má formação do feto, estupro e risco de morte para a mãe. Entretanto, 
naquele ano foi realizado um referendo nos quais os portugueses responderam nas urnas a 
pergunta “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, 
por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente 
autorizado?”, tendo o “Sim” vencido com 59% dos votos. 
 Tal referendo deu origem a Lei nº 16/2007 de 17 de abril, a qual tornou a IVG legal e 
estabeleceu parâmetros para o procedimento. O dispositivo alterou a redação do artigo 142 do 
Código Penal Português, tendo agora a seguinte redação (PORTUGAL. p.33. 2007): 
 
17 
 
 
 
 
Artigo 142.º - Interrupção da gravidez não punível 
1 — Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico, ou sob a sua 
direcção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o 
consentimento da mulher grávida, quando: 
a) Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão 
para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida; 
b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão para 
o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida e for realizada nas 
primeiras 12 semanas de gravidez; 
c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma 
incurável, de grave doença ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 
24 semanas de gravidez, excepcionando -se as situações de fetos inviáveis, caso em 
que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo; 
d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual 
e a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas; 
e) For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez. (grifo 
nosso) 
 
Para tanto, foi estabelecido a necessidade de uma consulta prévia e um período de 
reflexão de, no mínimo três dias, conforme enumerado nas alíneas 4 e 5 do artigo supracitado, 
bem como consentimento expresso da gestante ou seu representante legal, caso seja menor de 
16 anos. 
Passados dez anos desde a legalização, Portugal é atualmente um dos países que menos 
aborta na Europa e os números vem diminuindo ao longo dos anos, conforme Dias (2017.p.1): 
 
É difícil precisar, mas estima-se que, na década de 1970, o número de abortos em 
Portugal ultrapassava 100 mil. Destes, 2% resultavam em morte (o aborto era a terceira 
causa de morte das mulheres). Naquela época, todos os abortos eram ilegais - por isso, 
o número é apenas uma estimativa. Dados mais recentes, de 2008, mostram que o país 
registrou 18.014 abortos. O número cresceu ligeiramente nos primeiros anos da 
legalização, mas desde 2013 está em queda constante. Em 2015 foram 10% menos 
abortos do que em 2008. 
 
 Cabe mencionar, conforme Madeira (2016) que tal direito estende-se inclusive para 
mulheres imigrantes, independentemente de sua situação legal no país, resguardando-se a 
privacidade e o sigilo profissional em todas as etapas do processo de interrupção da gravidez. 
Outrossim, médicos que não concordem com a realização do procedimento podem alegar 
“objeção de consciência” e indicar o procedimento a outro médico. 
Deste modo, Portugal passou a tratar a interrupção voluntária da gestação como 
procedimento permitido e o Estado passou a fornecer ajuda àquelas mulheres que escolhem não 
levar adiante a gestação, desde que até a décima semana, tendo a disposição da gestante saúde 
de qualidade. 
 A maioria dos países com proibição absoluta do aborto estão situados na 
América Latina, região que concentra também o maior número de gravidezes não planejadas no 
mundo, Centenra (2017. p.1) menciona que “segundo a ONU, a cada ano centenas de milhares 
 
18 
 
 
 
de mulheres abortam de forma clandestina, e as complicações decorrentes dessas intervenções 
representam uma das principais causas de mortalidade materna”. 
 No continente, apenas 4 países permitem que seja interrompida a gestação sem 
apresentar justificativas, até a 12ª semana, quais sejam o Uruguai, Cuba, Porto Rico e a Guiana, 
bem como a Cidade do México. Grande parte dos países possui as mesmas três exceções que a 
legislação brasileira, quais sejam, quando a gravidez colocar em risco a saúde da mulher, se 
decorrer de estupro ou se o feto for inviável fora do útero. Além disso, estes países também 
possuem em comum grande presença religiosa, conforme Freitas(2016. p. 3): 
 
Embora a influência religiosa seja um fator comum a todos os países latino-
americanos em que o aborto é restrito, essa também é uma característica de vários 
países europeus em que o procedimento é completamente descriminalizado. 
[...] 
Os países da América Latina têm em comum, além da religião, uma escassez de 
mulheres no Executivo e no Legislativo - tanto para fazer leis sensíveis às questões 
relacionadas a mulheres quanto para garantir que elas sejam cumpridas. Na região, 
apenas 25% dos cargos legislativos são ocupados por mulheres 
 
 Portanto, nota-se que a forte presença da religião não é o único fator que influencia na 
proibição da interrupção voluntária da gestação nos países da América Latina, mas também a 
escassa representatividade feminina nas esferas políticas responsáveis pela tomada das decisões 
e fiscalização dos direitos conferidos às mulheres. 
 
2.3 Os movimentos sociais na luta pela legalização 
 
Não há que se falar sobre aborto sem mencionar a visão dos movimentos sociais a 
respeito do tema, importantes atuantes nas lutas pela regulamentação e legalização da 
interrupção voluntária da gestação. 
 O chamado movimento “pró-escolha” luta pelo direito da mulher de escolha entre ter 
ou não o filho, antagonizado pelo movimento “pró-vida”, o qual se coloca contrário a 
descriminalização do aborto. 
Tais movimentos são perfeitamente definidos e explicados por Sagan (1997. p. 121): 
 
Na caracterização mais simples, um adepto do "pró-escolha" sustentaria que a decisão 
de abortar uma gravidez deve ser tomada apenas pela mulher; o Estado não tem o 
direito de interferir. E um adepto do "pró- vida" afirmaria que, desde o momento da 
concepção, o embrião ou feto está vivo; que essa vida nos impõe a obrigação moral 
de preservá-lo; e que o aborto equivale a um homicídio. Os dois nomes - pró-escolha 
e pró-vida - foram escolhidos com vistas a influenciar aqueles que ainda não se 
decidiram: poucas pessoas desejam ser contadas entre aqueles que são contra a 
liberdade de escolha ou aqueles que se opõem à vida. 
 
 
19 
 
 
 
Portanto, denota-se que o movimento pró-escolha não é pró-aborto, mas apenas a favor 
da liberdade para as mulheres escolherem o destino do próprio corpo. Tal qual o que se 
evidencia por Boiteux (2016. p.1), a qual menciona que o movimento defende que “a proibição 
do aborto é uma política de controle social da mulher que tem por objetivo retirar dela o domínio 
sobre seu próprio corpo”. 
Em 1971 os movimentos sociais tiveram grande impacto na legalização do aborto na 
França. Tendo como uma das principais ativistas a figura de Beuvoir que manifestou-se na 
revista francesa Le Nouvel Observateur (traduzido aqui para português), acompanhe-se 
(BEUVOIR. 1971. p. 1): 
 
Um milhão de mulheres abortam todos os anos na França. Elas abortam em condição 
arriscada por causa da clandestinidade a que são condenadas, ainda que essa operação, 
se praticada sob supervisão médica, seja muito simples. Silenciamos sobre esses 
milhões de mulheres. Declaro ser uma delas. Declaro ter abortado. Da mesma maneira 
que demandamos acesso livre aos métodos contraceptivos, nós pedimos o aborto livre. 
 
Tal declaração evidencia que não é de hoje que as mulheres lutam pelo direito de 
escolher se querem, ou não, levar adiante a gravidez. Nesta mesma seara afirma Reis (1994. p.5): 
 
Os movimentos feministas [...] foram decisivos para a legalização do aborto da França, 
o serão no Brasil, pois a moderna mulher brasileira também não mais aceita ocupar 
uma posição subalterna, depender do homem, obedecê-lo como a criança obedece a 
seus pais (como era obrigatório na França sob o império do Código de Napoleão que 
decretava "o dever de obediência ao marido"), nem muito menos admite sujeitar-se 
aos rigores de uma lei obsoleta e injusta. 
 
Isto posto, pode-se afirmar que, ao longo do tempo, com o maior acesso a informação, 
mais mulheres brasileiras tomarão posicionamento diante deste impasse, ao adquirirem a 
consciência de sua igualdade perante o homem, como seres humanos dotados de livre arbítrio 
e total domínio sobre o próprio corpo. 
É inegável o fato de que mulheres com melhores condições financeiras conseguem 
pagar por abortamentos mais seguros, em clinicas nas quais, mesmo que ainda clandestinas, há 
profissionais qualificados para tal tarefa, equipamentos adequados e acompanhamento médico 
após o procedimento, neste mesmo sentido aduz Sarmento (2005. p. 51): 
 
As gestantes de nível social mais elevado, quando decidem pelo aborto, têm como 
realizá-lo, apesar da sua ilicitude, com acompanhento médico e em melhores 
condições de higiene e segurança. Já as mulheres carentes acabam se submetendo a 
expedientes muito mais precários e perigosos para pôr fim às suas gestações. 
 
Por esta razão na luta pró-escolha figuram, também, representantes das camadas mais 
vulneráveis da sociedade, conforme afirma Werneck (2009. p. 441): 
 
 
20 
 
 
 
Diferentes organizações de mulheres, incluindo as de mulheres negras e suas 
articulações nacionais, estão envolvidas na luta pelo direito ao aborto no brasil. a partir 
da defesa da descriminalização, estas organizações reafirmam o posicionamento de 
que o acesso livre ao abortamento, quando necessário, deve ser um direito de escolha 
da mulher em nome da autonomia sobre o próprio corpo. Ou seja, a máxima “nossos 
corpos nos pertencem” está na base da tomada de decisão sobre fecundidade e 
procriação de cada uma em particular e das mulheres em geral. 
 
 Tal participação se dá, uma vez que as principais atingidas pela proibição do aborto são 
justamente mulheres com baixas condições econômicas. Ocorre que de vítimas da desigualdade, 
tais mulheres passam a criminosas ao interromperem uma gravidez que não teriam condições 
de levar adiante. 
 Neste mesmo sentido, Ardaillon (1998. p.1) afirma que a criminalização do aborto no 
Brasil “só estabelece uma ilegalidade para as mulheres pobres, cuja maioria é de raça negra”. 
Estas afirmações sintetizam o fato de que a proibição do aborto no Brasil acaba servindo como 
grande meio de segregação, tratando de forma muito desigual os menos favorecidos 
economicamente. 
 
2.4 A criminalização do aborto como uma questão de saúde pública e a afronta à dignidade 
da pessoa humana 
 
 A interrupção voluntária da gestação de forma clandestina e suas sequelas no corpo da 
mulher, muitas vezes levando a morte, se revela como um grande problema de saúde pública 
que já não pode mais ser ignorado, merecendo o devido espaço na pauta legislativa e nos meios 
de comunicação. 
 Estima-se que ocorram mais de um milhão de abortos voluntários por ano no Brasil, 
sendo esta uma das principais causas de mortes maternas. Hoje no país, são realizadas cerca de 
240 mil internações por ano no SUS, para tratamento de mulheres com complicações 
decorrentes da interrupção induzida da gravidez, o que gera gastos anuais, em média, de 45 
milhões de reais (SANTOS. et al. 2013. p. 497-498). 
 Deste modo, deve-se notar que tais gastos vultuosos poderiam ser investidos em 
políticas públicas de educação sexual e reprodutiva, bem como em clínicas que fornecessem 
atendimento de qualidade para mulheres que desejassem interromper a gestação, com 
acompanhamento médico e psicológico, evitando, assim, milhares de mortes. Neste sentido, 
afirma Santos et. al (2013. p.502): 
 
O déficit na qualidade da assistência à saúde sexual e reprodutiva das mulheres, 
dificuldade de acesso aos serviços de saúde, baixa escolaridade, baixa renda e 
discriminação étnica são fatores associados à gravidez indesejada que fazem com que 
várias mulheres busquem práticas clandestinas e/ou inseguras para abortar, em 
condições sanitárias desfavoráveis. O resultado desta situação revela-se em 
 
21 
 
 
 
importante questão de saúde pública, haja vista que no Brasil os índices referentes a 
este tipo deaborto são considerados elevados. Neste contexto, faz-se necessário que 
ocorram mais investimentos na investigação de mortes provenientes do aborto ilegal, 
bem como na identificação dos casos de morbidade grave e fatores associados. 
 
 Isto posto, é mister repisar que a legalização do procedimento de interrupção da gestação 
traria um novo enfoque da legislação brasileira sobre tal, conferindo o devido status de um 
procedimento que deve ser fiscalizado, oferecido de forma gratuita para camadas vulneráveis 
da sociedade e acompanhado de orientações à gestante, acerca dos riscos e cuidados que devem 
ser levados em conta. 
 Após apresentadas as mazelas causadas pela proibição da interrupção voluntária da 
gestação, fica claro que tal visão fere diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana, 
bem como a autonomia reprodutiva, a privacidade e a liberdade das mulheres, prejuízos que 
poderiam ser evitados. Acompanhe-se a explanação de Sarmento (2005. p.43) sobre o tema: 
 
O reconhecimento da dignidade da pessoa humana pressupõe que se respeite a esfera 
de autodeterminação de cada mulher ou homem, que devem ter o poder de tomar as 
decisões fundamentais sobre suas próprias vidas e de se comportarem de acordo com 
elas, sem interferências do Estado ou de terceiros. A matriz desta idéia é a concepção 
de que cada pessoa humana é um agente moral dotado de razão, capaz de decidir o 
que é bom ou ruim para si, de traçar planos de vida e de fazer escolhas existenciais, e 
que deve ter, em princípio, liberdade para guiar-se de acordo com sua vontade. 
 
 Fica nítido que restringir a autonomia reprodutiva feminina, no momento em que a 
mulher deseja não ter um filho é interferir diretamente no livre arbítrio da gestante, 
desrespeitando a mulher como ser humano livre. Sarmento (2005. p.44) prossegue ao discorrer 
sobre o assunto: 
 
[...] uma das escolhas mais importantes na vida de uma mulher é aquela concernente 
a ter ou não um filho. É desnecessário frisar o impacto que a gestação e, depois, a 
maternidade, acarretam à vida de cada mulher. A gravidez e a maternidade podem 
modificar radicalmente o rumo das suas existências. Se, por um lado, podem conferir 
um novo significado à vida, por outro, podem sepultar projetos e inviabilizar certas 
escolhas fundamentais. É dentro do corpo das mulheres que os fetos são gestados, e 
ademais, mesmo com todas as mudanças que o mundo contemporâneo tem 
vivenciado, é ainda sobre as mães que recai o maior peso na criação dos seus filhos. 
Por tudo isto, a questão tem intensa conexão com a idéia de autonomia reprodutiva 
75, cujo fundamento pode ser encontrado na própria idéia de dignidade humana da 
mulher (art. 1º, II, CF), bem como nos direitos fundamentais à liberdade e à 
privacidade (art. 5º, caput e inciso X, CF). 
 
Portanto, à luz da Constituição Federal, a dignidade da pessoa humana figura como 
princípio basilar, deste modo, se torna evidente que, ao ferir tal princípio, os dispositivos legais 
que proíbem a interrupção voluntária da gestação estão eivados de inconstitucionalidade, 
merecendo sua revisão e consequente revogação. 
 
22 
 
 
 
Enfim, resta cristalina a ineficácia na proibição do aborto voluntário como forma de 
coibir que seja realizado tal procedimento, com efeito, pode-se deduzir, inclusive, que na medida 
que se restringem as liberdades individuais da mulher, ferem-se princípios fundamentais e 
relega-se milhões de gestantes à procurar por clinicas clandestinas e sujeitar-se a riscos de vida 
e condições desumanas. 
 
Conclusão 
 
O presente estudo buscou abordar a criminalização da interrupção voluntária de 
gestação (aborto) como um antagonista ao direito de liberdade de escolha da mulher sobre seu 
próprio corpo, no tocante do fato de desejar ter, ou não, um filho em determinado momento da 
vida. 
Tal procedimento é proibido no Brasil, verificando-se apenas três hipóteses em que se 
torna legalizado, quais sejam nas gestações que causa risco de vida à mulher, naquelas 
decorrentes de estupro e, mais recentemente, em casos de anencefalia do feto, conforme o 
disposto nos artigos 124 a 126 do Código Penal de 1940. 
Entretanto, observa-se que tais dispositivos legais se encontram defasados e em 
descompasso com as visões do mundo atual sobre o tema, uma vez que diversos países já 
adotam posturas nas quais o aborto é legalizado para gestantes que o queiram realizar, sem 
necessidade de justificativas ou fatos que condicionem à liberação ou proibição do 
procedimento, inclusive, diminuindo o número de casos de aborto nestes países. 
Tal defasagem se torna clara ao trazer à baila os números acerca do procedimento no 
país, os quais demonstram que, apesar da ilicitude, em nada influencia a legislação no momento 
que milhões de gestantes decidem realizar o aborto anualmente, uma vez que a execução do ato 
se dá sob o manto da clandestinidade. 
Todavia, por se tratar de ato criminoso, a realização do aborto, enquanto procedimento 
cirúrgico agressivo ao corpo da mulher, muitas vezes se dá por profissionais não qualificados, 
em ambientes insalubres, sem as mínimas condições sanitárias adequadas, causando grandes 
sequelas e tornando o aborto uma das maiores causas de mortalidade materna no país. 
Deste modo, verifica-se que a proibição do aborto voluntário, além de não possuir 
eficácia ao evitar que tais procedimentos ocorram, acaba por ferir princípios fundamentais 
elencados na Constituição Federal, quais sejam a dignidade da pessoa humana, o direito a saúde, 
à proteção contra tortura e tratamentos degradantes, entre outros. 
 Isto posto, conclui-se que, como forma de resolver o problema de saúde pública que é o 
aborto atualmente, os dispositivos que proíbem o aborto voluntário no Brasil devem ser 
 
23 
 
 
 
revogados, uma vez que são inconstitucionais e não estão surtindo a eficácia esperada. Assim, 
consequentemente, seria necessária a regulamentação do aborto no país, com melhores políticas 
de educação sexual e reprodutiva e amparo médico e psicológico às gestantes que não desejam, 
independentemente do motivo, levar adiante a gravidez. 
 
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