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1. INTRODUÇÃO
O inventário se inicia a partir da morte de um ente. A partir daí declara-se aberta à sucessão, transmitindo aos herdeiros, o direito de posse e administração dos bens. 
O processo judicial era e continua sendo burocrático, tramita por longos anos, envolvendo em alguns casos, altos custos judiciais até a partilha dos bens. 
Assim, o inventário extrajudicial mostra-se como uma via vantajosa, que surgiu com o advento da Lei n° 11.441/07, que delegou aos Cartórios de Notas, o poder de lavrar escrituras públicas de separação, divórcio e inventário. Com a chegada dessa lei, esse procedimento tornou-se mais célere para as partes interessadas.
2. REQUISITOS
São três os requisitos necessários para que o inventário seja feito no Cartório de Notas, dentre eles: 
· Que não exista testamento; 
· Que as partes sejam capazes – o menor emancipado é capaz; 
· Que as partes estejam assessoradas por um advogado.
Ainda como requisito, tanto o inventário judicial como o extrajudicial, possuem um prazo de 60 dias para sua abertura, prazo previsto também, para o recolhimento do imposto ITCMD. 
No Estado de São Paulo, o inventário que não for requerido nesse prazo, o imposto será calculado com acréscimo de multa equivalente a 10% do valor 2 do imposto e, se o atraso exceder a 180 dias, a multa será de 20%, conforme a Lei n° 10.705/2000. A súmula 542 do Supremo Tribunal Federal prevê que os Estados podem impor multa aos herdeiros, por retardar o prazo da abertura do inventário. 
Assim proclama: “Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário”.
3. INVENTÁRIO JUDICIAL
Esse inventário é aquele que busca órgão do Poder Judiciário, através de um advogado constituído por procuração, para descrever os bens deixados pelo falecido e assim, distribuí-los aos seus herdeiros. 
O artigo 611 do Código de Processo Civil menciona: “O processo de inventário e partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte”. 
O foro competente para a abertura do inventário é o último domicílio que o falecido possuía, conforme determina os artigos 1785 e 1796 do Código Civil e o artigo 48 do Código de Processo Civil. 
Tal modalidade apresenta as seguintes etapas: 1) abertura do inventário, 2) a nomeação do inventariante, 3) o oferecimento das primeiras declarações, 4) a citação dos interessados, 5) a avaliação dos bens, 6) o cálculo e pagamento de impostos devidos, 7) as últimas declarações, e por fim, 8) a partilha e sua homologação.
3.1 ESPÉCIES DE INVENTÁRIO JUDICIAL
O Código de Processo Civil prevê nos artigos 610 a 667, espécies de inventário judicial, de ritos diferentes. São eles:
A) INVENTÁRIO NEGATIVO:
Não está previsto na legislação, todavia, surge quando o falecido não deixa bens para serem inventariados. 
Essa modalidade torna-se necessária em duas hipóteses: a primeira delas está prevista no artigo 1.523, I, do Código Civil, que exige que o cônjuge sobrevivente faça o inventário e a partilha, caso tenha intenção de se casar novamente, sob pena de torna-se obrigatório o regime da separação de bens. 
A outra hipótese é se o falecido não deixar bens, mas, deixar dívidas. Nesse caso, os herdeiros deverão fazer o inventário para demonstrar aos credores que não existem bens para a satisfação do seu crédito. 
B) INVENTÁRIO PELO RITO TRADICIONAL OU SOLENE
Regulado nos artigos 610 a 658 do Código de Processo Civil. 
C) INVENTÁRIO PELO RITO DE ARROLAMENTO SUMÁRIO
Regulado pelo artigo 659 ao 663, do Código de Processo Civil, abrangendo bens de qualquer valor, devendo os interessados serem capazes e, concordarem com a partilha, que será homologada de plano pelo juiz mediante a prova de quitação dos tributos. 
D) INVENTÁRIO PELO RITO COMUM
Previsto no artigo 664 ao 666, do Código de Processo Civil, para quando os bens do espólio sejam de valor igual ou superior a 1.000 salários mínimos. 
Esse inventário tem um procedimento mais longo, contendo várias fases como a petição de abertura, nomeação do inventariante apresentando primeiras declarações, citação dos herdeiros e por fim, as últimas declarações.
4. POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DO INVENTÁRIO JUDICIAL EM EXTRAJUDICIAL
A resolução do Conselho Nacional de Justiça n° 35/2007 de 24 de Abril de 2017, em seu artigo 2°, disciplina o seguinte: 
“Art. 2° É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial; podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.” 
Portando, ainda que o processo de inventário tenha sido iniciado judicialmente, é possível sua conversão em extrajudicial, desde que preenchidos todos os requisitos para seu processamento administrativo.
5. INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL
Para que exista o procedimento extrajudicial de inventário em um cartório, é necessário que todos os herdeiros sejam maiores e capazes, vale lembrar também, que caso haja filhos emancipados, o inventário poderá ser feito normalmente. 
Outra exigência importante consiste no consenso entre os herdeiros quanto à partilha dos bens, bem como, com relação ao falecido, que o mesmo não tenha deixado testamento, valendo-se da participação de um advogado, cuja qualificação e assinatura constarão no ato notarial.
Depois de recolhida a guia do imposto ITCMD, com todos os documentos em mãos, se processará o inventário. 
Os documentos necessários para o procedimento do inventário por ato notarial são: 
· Documentos do falecido: RG, CPF, certidão de óbito, certidão de casamento, certidão comprobatória de inexistência de testamento expedida pelo Colégio Notarial do Brasil, certidão Negativa da Receita Federal e Procuradoria Geral da Fazenda Nacional; 
· Documentos do cônjuge, herdeiros e respectivos cônjuges; 
· Documentação do advogado: carteira da OAB, informação sobre estado civil e seu endereço; 
· Imóveis rurais: certidão de ônus expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis (atualizada até 30 dias), cópia autenticada da declaração de ITR dos últimos 5 (cinco) anos ou Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural emitida pela Secretaria da Receita Federal – Ministério da Fazenda, Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) expedido pelo INCRA; 
· Bens móveis: documento de veículos, extratos bancários, certidão da junta comercial ou do cartório de registro civil de pessoas jurídicas e, notas fiscais de bens.
O procedimento de inventário extrajudicial encerra-se com a lavratura da Escritura de Inventário e Partilha pelo tabelião, que determinará a partilha de bens. 
O artigo 25 da Resolução n° 35/2007 do CNJ, admite a sobrepartilha, caso os herdeiros descubra algum outro bem que não foi inventariado. 
É possível a sobrepartilha por meio da escritura pública, observando os mesmos requisitos para a lavratura de inventário, além da apresentação do formal de partilha, carta de adjudicação ou do processo de inventário.
6. INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL COM TESTAMENTO
O provimento da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, n° 37/2016 de 28 de Junho de 2018, permitiu a lavratura de escritura de inventário e partilha com testamento, diante da expressa autorização do juízo sucessório competente, nos autos do procedimento de abertura e cumprimento de testamento sendo todos os interessados capazes e concordes. 
Tal questão também foi autorizada nos casos de testamento revogado ou caduco ou quando houver decisão judicial, com trânsito em julgado, declarando a invalidade do testamento. 
Algumas decisões judiciais admitiram a facilidade da via extrajudicial para a realização da partilha de bens com testamento. Nos autos n° 00052432- 70.2012.8.26.0100 da Sétima Vara da Família e Sucessões do Foro Central Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, o juiz entendeu que, “desde que todos os herdeiros sejam maiores e capazes, não haja fundações entre os herdeiros testamentáriose estejam todos de acordo acerca da partilha, o inventário poderá ser feito de forma extrajudicial, nos termos do artigo 2015 do Código Civil, não sendo necessário ajuizamento de ação de inventário”.
Outra decisão semelhante foi tomada pela 10ª Vara de Família e Sucessões, do Fórum João Mendes Júnior, em São Paulo, o magistrado decidiu que, “na hipótese de todos os herdeiros serem maiores e capazes, poderão proceder ao inventário extrajudicial, de maior celeridade em benefício das partes, em vista de que apenas esta ação de abertura, registro e cumprimento de testamento requer a intervenção do Poder Judiciário”.
Logo, se o testamento estiver revogado, caduco ou inválido, todos os herdeiros sejam maiores e capazes, de acordo com a partilha, o inventário poderá ser feito de forma extrajudicial por escritura pública no correspondente Cartório de Notas, o que trará mais agilidade aos inventários com testamento.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não restam dúvidas que com o advento da Lei n° 11.441/2007, o inventário extrajudicial facilitou a resolução dos conflitos de forma célere, com menos custas, comparado com o inventário judicial. 
Assim, para sua concretização é necessário que não existam incapazes envolvidos e nem testamento. 
Contudo, não havendo alternativa, deverá ser utilizado o inventário judicial para a abertura do inventário e transferência dos bens deixados pelo falecido aos seus herdeiros.
REFERÊNCIAS
Lei 11.441, de 4 de janeiro de 2007. Altera dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administrativa. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/_Ato2007- 2010/2007/Lei/L11441.htm.Acesso em: 23 out. 2018. 
Decisão das 7ª e 10ª Vara de Família e Sucessões, do Fórum João Mendes Júnior, em São Paulo/SP. 
GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro – Vol. 7- Direito das Sucessões – 11ª Ed. – São Paulo – Editora Saraiva, 2017. 
Lei 10.705, de 28 de dezembro de 2000. Dispõe sobre a instituição do imposto sobre transmissão "causa mortis" e doação de quaisquer bens ou direitos – ITCMD. Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2000/compilacao-lei10705-28.12.2000.html. Acesso em: 24 out. 2018.
Resolução Nº 35, de 24/04/2007. Disciplina a aplicação da Lei nº 11.441/07 pelos serviços notariais e de registro. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/busca-atosadm?documento=2740 < Acesso em: 24 out. 2018.
Súmula 542 STF. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=3345. Acesso em: 24 out. 2018
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10904/O-Novo-CPC-e-o-inventario-extrajudicial#:~:text=O%20procedimento%20de%20invent%C3%A1rio%20extrajudicial,bem%20que%20n%C3%A3o%20foi%20inventariado.
O Novo CPC e o inventário extrajudicial - uma análise crítica
Autores:
SILVA, Érica Barbosa e
BARROS, Giovanna Truffi Rinaldi de
RESUMO: O Novo Código de Processo Civil - NCPC (Lei nº 13.105/2015) traz importantes mecanismos de pacificação por intermédio das serventias extrajudiciais. No presente estudo serão feitas considerações sobre o NCPC e os inventários extrajudiciais, ratificando a necessidade de aprimoramento da Lei nº 11.441/07, grande marco da desjudicialização.
1 Introdução
Para que a resolução adjudicada do conflito seja vista como ultima ratio do sistema, há necessidade de novos endereçamentos. Essa perspectiva só pode ser compreendida por uma visão pluralista que considera diversos órgãos e instâncias, jurisdicionais e extrajudiciais, que, por suas múltiplas características e funções, podem oferecer respostas mais adequadas e qualitativas à resolução de conflitos.
Nesse cenário, uma gama considerável de mecanismos a serem utilizados em prol da pacificação estimula a solução de conflitos de forma consensual - o que se coaduna perfeitamente com a atuação das serventias extrajudiciais1.
O Novo Código de Processo Civil - NCPC (Lei nº 13.105/2015) traz importantes mecanismos de pacificação por intermédio das serventias extrajudiciais. No presente estudo, porém, serão feitas considerações sobre o NCPC e os inventários extrajudiciais, ratificando a necessidade de aprimoramento da Lei nº 11.441/07, grande marco da desjudicialização.
2 O Inventário Extrajudicial
A Lei nº 11.441/07 autorizou a realização de inventários extrajudiciais. Exigiu requisitos específicos para utilização de tal via, mas representou um notável avanço para a sociedade brasileira pela celeridade, eficácia e segurança jurídica. A medida seguiu a linha de desjudicialização adotada em outros países como França, Japão e Bélgica2, além de possibilitar maior valorização e reconhecimento das atividades notariais e registrais na atuação de questões de interesse privado, por deterem o atributo da fé pública conferido pelo Estado.
Notários são aptos a exercer tal atividade, pois sua função pública encontra lastro constitucional (art. 236). Atuam na prevenção de litígios, assessoram as partes com a melhor técnica jurídica e instrumentalizam a real vontade das partes.
Preenchidos os requisitos, o endereçamento às serventias extrajudiciais permanece facultativo e não obrigatório, conforme orientação constitucional (art. 5º, XXXV)(3).
Pertinente salientar que é possível o inventário extrajudicial, mesmo para os óbitos ocorridos antes de vigência da Lei nº 11.441/07(4). Dispõem, ainda, os arts. 25 e 26 da Resolução nº 35 do CNJ, respectivamente, a admissibilidade da sobrepartilha dos bens pela via extrajudicial e a adjudicação dos bens deixados por herdeiro universal.
Ainda como requisito, há necessidade da presença de advogado para o ato, podendo um atuar representando todos os herdeiros ou cada qual com seu patrono e, ainda, podem participar no mesmo ato advogado e defensor público. A presença é obrigatória no ato da lavratura da escritura.
O NCPC nada alterou sobre tais questões.
2.1 As Limitações Mantidas pelo NCPC
O art. 610 do NCPC manteve a previsão do inventário judicial, havendo testamento ou interessado incapaz, e alterou apenas a redação, ao abordar o inventário e a partilha extrajudiciais por escritura pública, se todos os interessados forem capazes e concordes(5). Assim, não houve qualquer avanço e a utilização da via administrativa ainda é tímida se comparada às práticas adotadas pelas modernas nações que, como o Brasil, adotam o sistema do notariado latino.
O legislador perdeu uma excelente oportunidade para ampliar as hipóteses do inventário extrajudicial ao deixar de prever tal possibilidade, mesmo havendo testamento válido e herdeiro incapaz, sobretudo porque essas limitações não se justificam(6). Não resta dúvida de que, mesmo invocando a segurança jurídica, o ato notarial poderia contar com a aquiescência do Ministério Público para a cautela de interesses indisponíveis envolvidos no caso concreto, superando os entraves e admitindo a via extrajudicial.
Vale frisar que a incapacidade só teria o condão de impedir o inventário administrativo, quando se tratar de beneficiário direto e mediato da sucessão. Com isso, deve ser excluída da limitação o credor incapaz, pois não influenciaria a escolha dos herdeiros pela via a ser utilizada. A questão tem orientação normativa(7).
Também sobre a capacidade, cumpre esclarecer que sua aferição deve ser feita não na abertura da sucessão, mas no momento da lavratura do inventário e da partilha. Assim, a cessação da incapacidade autoriza a realização do inventário extrajudicial.
O NCPC trata da questão do nascituro ao prever em seu art. 650 a reserva do quinhão que lhe cabe até o seu nascimento. Entretanto, esta disposição não será possível para os inventários extrajudiciais, tendo em vista que, por política legislativa, não se permitiu a lavratura em caso de existência de interessados incapazes.
No Estado de São Paulo, o endereçamento do inventário para a esfera administrativa já tinha sido ampliado pelo Provimento nº 40/2012 da CGJ, conforme o art. 129, ao permitir a lavratura deescritura de inventário e partilha nos casos de testamento revogado, caduco ou quando houvesse decisão judicial com trânsito em julgado declarando a invalidade do testamento.
Importa destacar que o notário não pode declarar a caducidade ou a invalidade do testamento na própria escritura de inventário, havendo necessidade de reconhecimento judicial prévio. Nesse sentido, foi a decisão da Primeira Vara de Registros Públicos de São Paulo, no Processo de Dúvida 1086032- 60.2015.8.26.0100, DJe 16.10.2015, ao estabelecer que "(...) o reconhecimento da caducidade do testamento deverá ser pleiteado nas vias ordinárias, uma vez que esta Corregedoria Permanente não detém competência para examinar o conteúdo do testamento, bem como o preenchimento dos requisitos válidos da renúncia da herança pela viúva meeira e pelas filhas herdeiras"(8).
Assim, deveria o notário solicitar previamente a certidão do testamento anterior, para prática do ato. A limitação persiste apenas se constatada a existência de disposição reconhecendo filho, instituição de fundação ou qualquer outra declaração irrevogável, tornando inviável a lavratura de escritura pública de inventário e partilha, obrigando os interessados à judicialização, ainda que não exista um conflito jurídico (pretensão resistida).
Algumas decisões judiciais admitiram o inventário administrativo, após o devido procedimento de abertura, cumprimento e registro judicial do testamento. Nos Autos 0052432-70.2012.8.26.0100 da Sétima Vara da Família e Sucessões do Foro Central Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, o magistrado entendeu que, "desde que todos os herdeiros sejam maiores e capazes, não haja fundações entre os herdeiros testamentários e estejam todos de acordo acerca da partilha, o inventário poderá ser feito de forma extrajudicial, nos termos do art. 2.015 do Código Civil, não sendo necessário ajuizamento de ação de inventário".
Contudo, para dar cumprimento à decisão, o 10º Tabelião de Notas da Comarca de São Paulo solicitou consulta ao Corregedor-Geral da Justiça, que emitiu parecer negativo, determinando a "impossibilidade, por expressa vedação legal, de realização de inventário extrajudicial em existindo testamento válido, ainda que os sucessores sejam capazes e manifestem sua concordância"(9).
Já no Processo 0045048-22.2013.8.26.0100, originado da 10ª Vara da Família e Sucessões do Foro Central da Capital paulista, decidiu o magistrado que, "na hipótese de todos os herdeiros serem maiores e capazes, poderão proceder ao inventário extrajudicial, de maior celeridade em benefício das partes, em vista de que apenas esta ação de abertura, registro e cumprimento de testamento requer a intervenção do Poder Judiciário".
Para dar cumprimento à decisão, o Pedido de Providência 0032934- 17.2014.8.26.01000, DO 18.09.2014, ensejou decisão da Segunda Vara de Registros Públicos de São Paulo, no seguinte sentido: "é possível lavratura de inventário extrajudicial em casos que exista testamento, desde que haja autorização judicial, no exercício da atividade jurisdicional"(10). A decisão mostrou avanço, criando precedente importante na ampliação do endereçamento à via administrativa.
Mesmo com tal controvérsia, o NCPC poderia ter ido além e adotado o procedimento verificado no Estado do Rio Grande do Sul. Importa mencionar que a prática administrativa lá utilizada quando existe testamento é a partilha amigável realizada pelo notário e homologada judicialmente(11). Há permissão pela Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria-Geral da Justiça, conforme Provimento nº 04/07(12).
Não resta dúvida de que as limitações previstas na Lei nº 11.441/07 procuravam resguardar direitos indisponíveis: o cumprimento das disposições de última vontade do testador, os interesses de menores ou incapazes e a disposição que determina a criação de uma fundação, situações que devem ser fiscalizadas pelo Ministério Público, mas que atualmente não se justificam.
A contribuição do extrajudicial é nítida, evidenciando a importância da ampliação das portas para solução de casos que dispensam a judicialização. Não são conflitos jurídicos, pois não há qualquer pretensão resistida. Justamente por isso a via administrativa deveria ser enaltecida, com a prevalência da celeridade quando há consenso entre os interessados.
Ademais, parece incoerente que o notário, mesmo possuindo fé pública para a lavratura ou aprovação do testamento (arts. 1.864 do CC), não seja capaz de dar fiel cumprimento ao instrumento, ou, ainda, que a existência de herdeiros incapazes tenha uma razão mais profunda para justificar a limitação, sendo que tantos outros atos podem ser praticados (mesmo com alguma chancela judicial, como alvará).
Importa salientar que os avanços vistos em São Paulo e Rio Grande do Sul indicam a possibilidade de superação da limitação colocada outrora e mantida pelo NCPC, que perde uma excelente oportunidade de ampliar o endereçamento à via administrativa.
Por fim, merece menção o codicilo (CC, art. 1.881), que não se reveste com a forma e o conteúdo de testamento. Ademais, a ausência de previsão no caput do art. 610 não afasta a faculdade de realização do inventário administrativo(13).
2.2 Eficácia da Escritura
O § 1º do art. 610 do NCPC dispôs que a escritura pública é título hábil, ou seja, não depende de homologação judicial e pode ser utilizada para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
Esta última parte foi alterada para abranger qualquer ato de registro, seja das pessoas naturais ou imobiliário, bem como transferência de bens perante Detran, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financeiras, companhias telefônicas, entre outras. A permissão já encontrava respaldo normativo (art. 3º da Resolução nº 35/07 do CNJ), mas na prática era frequentemente afastada.
Portanto, a alteração veio resolver em absoluto a celeuma que ocorria principalmente com os bancos que, muitas vezes, por interpretação equivocada, se negavam e obstruíam o fornecimento de informações ou exigiam ordens judiciais para levantamento de valores ou outras providências, representando verdadeiro contrassenso à desjudicialização.
É preciso destacar que o fundamento utilizado pelos bancos - sigilo bancário e fiscal, com base na Lei Complementar nº 105/01 - não pode se sobrepor ao consentimento expresso dos interessados(14) e a negativa pode configurar crime previsto em lei(15). A jurisprudência já orientava nesse sentido(16).
Sobre a partilha, o NCPC trouxe um dispositivo específico(17). Autorizou a possibilidade de sua anulação pelo reconhecimento dos vícios e defeitos do negócio jurídico para as partilhas realizadas no âmbito administrativo.
Pela máxima constitucional da inafastabilidade do Judiciário (art. 5º, XXXV), o artigo parece retórico, mas há pertinência. Apesar da natureza subjetiva do direito de ação, baseada no fato de o Estado proibir a autotutela dos interesses individuais, o caso concreto estaria fadado ao fracasso, por atingir o interesse de agir, tornando a questão controvertida. Agora, resta pacífica qualquer polêmica nesse sentido.
Ainda sobre os efeitos, houve inovação interessante pelo art. 647 calcada na celeridade e na redução de custos. O dispositivo autoriza o juiz, em decisão fundamentada, a deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e fruir determinado bem, com a condição de que, ao término do inventário, tal bem integre a cota desse herdeiro, cabendo a este, desde o deferimento, todos os ônus e os bônus decorrentes do exercício daqueles direitos. Há quem defenda tal possibilidade na esfera extrajudicial(18).
2.3 Necessária Ampliação Subjetiva
O NCPC foi ampliativo quanto à legitimidade concorrente para se requerer o inventário, incluindo o companheiro supérstite, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste e a preferência em relação ao herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio (art. 616, I e II). Alterou, ainda,o texto do síndico da falência para o termo jurídico correto, "o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge", tendo também ampliado para a figura do "companheiro supérstite" (art. 616, IX).
Da mesma forma, outros dispositivos do NCPC passaram a incluir a figura do companheiro em equivalência à figura do cônjuge, como a nomeação para inventariante, sua qualificação nas primeiras declarações do inventariante, citação, regras de partilha e cumulação de inventários(19).
Nesta linha de raciocínio, decisão da Primeira Vara de Registros Públicos de São Paulo/SP, de lavra da Exma. Dra.Tânia Mara Ahualli, no Processo de Dúvida 1120996-16.2014.8.26.0100, DJe 20.01.2015, possibilitou o ingresso no Registro Imobiliário de escritura pública de inventário e adjudicação, por existência de declaração de união estável firmada pelos cônjuges, com firma reconhecida e registrada no Registro de Títulos e Documentos. A decisão supriu a necessidade de reconhecimento na via judicial, em razão do efeito erga omnes dado pela existência do registro.
Ora, tendo o legislador equiparado o companheiro ao cônjuge para todos os fins no inventário, a limitação à via administrativa verificada na união estável quando não há outros herdeiros, mas apenas o companheiro supérstite, afrontaria o espírito da lei. Entretanto, parece o legislador ter esquecido o art. 18 da Resolução nº 35 do CNJ, que impede a via extrajudicial ao companheiro que vivia com o falecido em união estável, caso o autor da herança não deixe outro sucessor.
E, mais uma vez, o NCPC poderia ter avançado e colocado uma pá de cal na questão, resolvendo as discussões em torno do tema. Não o fez e certamente haverá muitas discussões sobre a possibilidade de ampliação subjetiva do inventário administrativo.
O NCPC ainda permitiu a nomeação do cessionário do herdeiro ou do legatário como inventariante (art. 617, VI), reconhecendo o direito desses interessados que não havia no Código anterior. Logo, não há limitação para que solicitem o inventário e a partilha administrativos.
3 Conclusão
A pacificação jurídica e social é um fim buscado pelo NCPC, devendo estimular a solução de conflitos de forma consensual, inclusive pela atuação das serventias extrajudiciais, que devem ser vistas não apenas como palco para o desenvolvimento seguro de diversas relações jurídicas, mas efetivamente para solução de litígios.
O cartório cada vez mais deve ser destacado como um lugar adequado à resolução de conflitos, evitando a judicialização desnecessária e promovendo as formas consensuais. Poucas foram as alterações na esfera do inventário extrajudicial e o legislador poderia - sem dúvida - ter aproveitado a oportunidade para ampliar o endereçamento à via administrativa, desafogando o Judiciário e prestigiando o consenso com celeridade procedimental.
Há forte tendência em levar atos de jurisdição voluntária para os serviços notariais e registrais e o NCPC poderia ter sido ampliativo em diversos pontos, principalmente permitindo o inventário extrajudicial com a presença de interessados incapazes, testamento válido ou solicitado pelo companheiro supérstite, mesmo quando único herdeiro. Com isso, o NCPC poderia ter aprimorado uma justiça colaborativa, permitindo mais uma via aos jurisdicionados e aos advogados, que teriam um ambiente com acessibilidade e segurança jurídica, além de baixo custo e celeridade.
O Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) trouxe importantes mecanismos de atuação para as serventias extrajudiciais, mas poderia ter ousado mais.
__________________________________________________________________
PALAVRAS-CHAVE: Inventário Extrajudicial. Escritura. Novo Código de Processo Civil.
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 O Inventário Extrajudicial; 2.1 As Limitações Mantidas pelo NCPC; 2.2 Eficácia da Escritura; 2.3 Necessária Ampliação Subjetiva. 3 Conclusão. 4 Bibliografia.
TITLE: The new Code of Civil Procedure and out-of-court inventory: a critical analysis.
ABSTRACT: The new Code of Civil Procedure - NCPC (Law no. 13,105/2015) presents important settlement mechanisms of out-of-court resources. This text will present considerations about the NCPC and out-of-court inventory, ratifying the need for improvement of Law no. 11,441/07, a great benchmark for dejudicialization.
KEYWORDS: Out-of-Court Inventory. Deed. New Code of Civil Procedure.
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4 Bibliografia
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