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ETF no Mercado Brasileiro 2 Os Exchange Traded Funds (ETFs) são pouco conhecidos no Brasil, mas devem ganhar importância, acompanhando uma tendência que já ocorreu em vários países desenvol- vidos. Esse tipo de produto traz várias vantagens para os investidores e benefícios para o mercado. Vamos conhecê-lo mais de perto aqui, explorando suas características, seu funcionamento e suas vantagens. A. ETFs são fundos abertos que seguem um índice de referência Os ETFs investem em ativos que compõem determinado índice, seja ele de renda va- riável ou de renda fixa. Eles são veículos de investimento por meio dos quais se negocia uma cesta de ativos que compõem aquele índice. Por isso, são também conhecidos como fundos de índice. Ao investir num ETF, o investidor está indiretamente comprando a cesta de ativos que fazem parte do índice. Se ele investe num ETF de renda variável, por exemplo, está com- prando, de forma indireta, as ações que compõem o índice. E, portanto, o ETF deve seguir o comportamento do indicador. Nesse ponto, você deve estar se perguntando qual é a diferença entre o ETF e um fun- do de investimento passivo comum, uma vez que este último também tem como objetivo seguir um índice de referência (benchmark). Veremos, mais adiante, que existem diferenças no tratamento tributário, mas o fun- damental é que as cotas dos ETFs são negociadas na bolsa, enquanto as cotas dos fundos passivos comuns não são. Os ETFs são fundos abertos, cujo patrimônio pode aumentar ou diminuir conforme novas cotas são integralizadas ou resgatadas no mercado primário e são negociados no mercado secundário (negociação das cotas na bolsa). E isso nos leva a olhar mais de perto a segunda parte da definição dos ETFs: B. ETFs são fundos cujas cotas são negociadas na bolsa de valores O processo de formação de preço das cotas do ETF ocorre de forma parecida com as cotações de ações, cujas ofertas de compra e venda vão para um livro central de ordens e são estabelecidas em tela (no pregão eletrônico). Ou seja, os ETFs têm cotações que de- rivam da oferta e da procura pelas mesmas. O preço das cotas é formado livremente pelo mercado, exatamente como ocorre com as ações e outros títulos negociados na bolsa, e as regras de negociação do ativo na bolsa também são análogas às dos demais títulos. 1. De volta ao básico: mas o que é mesmo um índice? Vimos que o ETF é um fundo de índice, uma vez que ele busca replicar o comporta- mento de determinado indicador. Mas vale nos aprofundarmos sobre o próprio conceito de índice e conhecermos quais os tipos de índice podem ser objeto dos ETFs. Índices são referenciais que indicam o comportamento e a evolução de um determinado conjunto de ativos. Os índices agrupam ativos do mesmo gênero, sejam ações ou obrigações, ou dos mesmos conceitos (como os índices de volatilidade ou setores da economia). ETFs - ANBIMA 3 Embora sejam voltados para diferentes ativos, eles têm algo em comum: indicam a tendência do mercado ou de seus segmentos, mostrando a evolução dos mesmos. Alguns índices que contam com ETFs: • Ibovespa: O Ibovespa, lançado em 1968, é o principal indicador de desempenho médio das ações mais líquidas e representativas do país; • S&P 500: Reflete os retornos de investimentos que correspondem, de forma geral, ao desempenho do índice S&P500 em reais (S&P Brazilian Real Index); • IMA-B: Índice de renda fixa composto por títulos públicos federais indexados ao IPCA. 2. Qualquer índice pode ser objeto de um ETF? Há condições a serem observadas. O índice precisa ser público, calculado e publicado por um provedor independente. Veremos, mais adiante, quem são os principais agentes desse mercado. No momento, o importante é saber que o provedor do índice é o respon- sável pela metodologia, cálculo e divulgação do índice, tem um administrador e um gestor. Alguns exemplos de provedores são a B3, a Anbima e a S&P. Aqui precisamos falar um pouco da regulamentação, pois são as regras que regem os ETFs que falam das restrições. A norma que regula a constituição e o funcionamento do produto é a Instrução 359 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 2002. No início, só era possível criar ETFs de renda variável. Mas a norma foi atualizada em 2013 por meio da Instrução 537, que passou a permitir a criação de fundos referenciados em índices de renda fixa. Do ponto de vista tributário, a Instrução Normativa 1.585, de 2015, da Secretaria da Receita Federal (SRF), estabelece regras específicas sobre tributação que serão discutidas mais adiante. Voltando à questão dos índices... a Instrução 359 da CVM impõe critérios para que seja possível estruturar um ETF. Em primeiro lugar, a norma conceitua o ETF como uma carteira de ativos financeiros que visa refletir as variações e rentabilidade de um índice de referên- cia, por prazo indeterminado1. Depois, ela dispõe que o índice de referência deve ser reconhecido entre os índices de mercado. A autarquia também deve aprovar a constituição de um ETF, olhando para o índice de acordo com os seguintes critérios: • Metodologia completa, acessível e gratuita; • Descrição da metodologia e objetivos; • Isonomia; • Independência do provedor em relação ao administrador ou ao gestor; • Neutro, sem conflito de interesse; • Divulgação ampla; • Transparência. 1 Artigo 2º da Instrução CVM 359/02 4 A norma proíbe derivações do índice, múltiplos e/ou inverso – essa limitação visa pro- teger o investidor, evitando que sejam criados novos índices (como uma composição de vários índices) a partir de um índice original, o que poderia levar o ETF a se desviar do seu objetivo e a dificultar a avaliação do investidor sobre o desempenho do gestor. 3. Mercado primário, mercado secundário Quando falamos sobre ações e outros valores mobiliários, a maioria das pessoas com algum conhecimento sobre o assunto sabe que há dois tipos de mercado: o primário e o secundário. No primeiro, as emissões ocorrem e há captação de novos recursos para as empresas. No segundo, os títulos e ações já emitidos são negociados na bolsa de valores ou no mercado de balcão, e não há entrada de recursos no caixa do emissor. Raciocínio semelhante vale para os ETFs: eles também contam com um mercado primário e um secundário. Confira as características e as terminologias mais usadas em cada um deles: A. Primário, onde tudo começa No mercado primário, o investidor pode executar as operações diretamente com o administrador do fundo, intermediado pelo agente autorizado. Há lotes mínimos de cotas para que elas sejam emitidas ou resgatadas. Por conta disso, ele é acessado principalmente por investidores institucionais. Esse mercado tem uma terminologia exclusiva. Veja, abaixo, os principais termos nele utilizados: • Cesta de ETF – É a composição de ativos e instrumentos financeiros divulgados por emissores específicos. • Lote mínimo – Quantidade de cotas equivalente a uma cesta de ativos ou valores em dinheiro na moeda corrente nacional. • Cota – É o resultado da divisão do valor patrimonial do fundo sobre a quantidade de cotas emitidas, calculada pelo administrador, com base nos preços de fechamento dos ativos dos que compõem os índices de referência. • Ajuste da Cesta – É o resultado da diferença entre o valor da cota do dia multiplicado pelo o lote mínimo de ativos, menos a somatória do preço dos ativos ao fechamento do mercado. • Integralização de cota (emissão de cotas) – Operação na qual o investidor entrega ati- vos (modelo In Kind) ou moeda (modelo In Cash) e recebe do administrador cotas do ETF, por meio da intermediação de um agente autorizado. • Resgate de cota (destruição de cotas) – Operação na qual o investidor entrega as cotas de ETF em troca de ativos (modelo In Kind) ou moeda (modelo In Cash) por meio da intermediação de um agente autorizado. Quando falamos sobre integralização e resgate de cotas, dissemos que há dois modelos pelos quais isso pode ocorrer: pelo In Kind ou InCash. Veremos agora como eles funcionam: • In Kind – Integralização e resgate de cotas por meio da troca dos ativos que compõem a 5 cesta dos índices entre o administrador e investidor diretamente na depositária, inter- mediado pelo agente autorizado. • In Cash (Cash Creation) – Integralização e resgate de cotas por meio da troca de recursos financeiros (moeda) entre o administrador e investidor, intermediado pelo agente autorizado, sendo que a responsabilidade de aquisição/venda dos ativos fica a cargo do gestor. Há, também, dois modelos de ETFs no que diz respeito a garantias da liquidação: • Modelo com garantia da clearing (Liquido), que permite a negociação de operações, inte- gralização e resgate de cotas, sem riscos de crédito entre o fundo e o investidor final. • Modelo sem garantia da clearing (Bruto), que permite a negociação de operações de integralização e resgate de cotas, sendo que as liquidações das operações são efetiva- das uma a uma diretamente entre o administrador e o investidor via agente autorizado. B. Secundário, mas fundamental Já o mercado secundário é aquele que permite ao investidor atuar diretamente, por meio de corretoras e home brokers, e no qual não há a emissão ou o resgate da cota. Esta é apenas negociada, e não emitida, de forma semelhante ao que ocorre com as ações na clearing. A negociação é feita por meio de lote padrão e é impossível negociar frações de cotas. Ele é mais utilizado pelos investidores pessoa física. Confira, abaixo, a terminologia desse mercado: • Cotação – Preço do ETF no mercado secundário fornecido pela clearing e pelos market makers aos investidores para aquisições e/ou alienações de cotas. Os preços de fecha- mento também são utilizados para precificar os ETFs nos portfolios dos investidores. • Compra / venda de cota – Como o nome diz, é o processo de aquisição e venda de ativos pelos investidores por meio do ambiente de negociação da clearing. No secun- dário, essa operação é sempre intermediada por uma corretora. • Preço de referência (IOPV - Indicative Optimized Portfolio Value) – Valor de cota- ção do ETF no mercado secundário disponibilizado pela clearing. Esse preço é re- ferência para o investidor no momento da negociação de compras e alienações de cotas dos ETFs de renda variável. O preço de referência é composto pela cotação da cesta de ativos que compõem o ETF. Ele pode, portanto, diferir das cotações do ETF, que são relativas à cota em si e não à cesta de ativos. No caso de um ETF de renda variável, por exemplo, o IPOV seria a soma das cotações das ações que fazem parte da cesta. Mas esse valor pode diferir da cota do ETF de renda variável negociada na bolsa, uma vez que a cota também responde a pressões de oferta e demanda por ela no pregão. LEMBRE-SE No mercado primário, as cotas somente serão emitidas ou resgatadas por meio de agentes autorizados (descrição no item 4) em lotes mínimos de cotas ou múltiplos inteiros desses. 6 Confira, na figura abaixo, como se dão as relações nos mercados primário e secundário: Título: Funcionamento dos mercados primário e secundário Administrador Agente Autorizado Investidor ETF Cesta/R$ Cesta/R$ ETF Ce st a/ R$ ET F Bo ls a de V al or es Reais (R$) ETF Corretora Investidor Mercado SecundárioMercado Primário 4. Quem é quem no mundo dos ETFs? Além de figuras já conhecidas de longa data do mercado, como os investidores, as cor- retoras e as câmaras de liquidação e custódia, o mundo dos ETFs tem também figuras como os agentes autorizados, os provedores de índice e os formadores de mercado. Os gestores e administradores de fundos também estão presentes aqui, mas com algumas funções especí- ficas e relativas aos fundos de índice. Conheça um pouco mais sobre o papel de cada um: • Investidor – Os ETFs são procurados por todos os tipos de investidores. Como vimos, o investidor pode acessar o ETF pelo mercado primário ou pelo secundário. Geralmente, os institucionais, os market makers e os gestores de fundos operam via mercado pri- mário devido aos valores mais elevados das cestas de ativos e a questões tributárias. E os investidores de varejo atuam no secundário, que é mais acessível, embora não haja restrições quanto ao acesso destes ao mercado primário, e nem ao acesso dos institu- cionais ao secundário. 7 Título: Os diversos tipos de investidor no mercado de ETFs Participação no Volume de Negociação por Tipo de Investidor Dez/18 Investidores Institucionais 68,83% Instituições Financeiras 15,95% Pessoas Físicas 9,61% Investidores Estrangeiros 5,10% Empresas Públicas e Privadas 0,50% Evolução do no de investidores Dez/17 24.907 Jan/18 25.979 Fev/18 27.313 Mar/18 28.030 Abr/18 28.692 Mai/18 29.333 Jun/18 30.126 Jul/18 30.211 Ago/18 30.985 Set/18 32.015 Out/18 36.711 Nov/18 39.157 Dez/18 41.468 Fonte: B3 – Boletim mensal ETF dezembro/2019 8 • Administrador – Cabe a ele emitir as cotas no mercado primário e cumprir todas as atribuições de fundos de índice, conforme a Instrução 359 da CVM. • Gestor de fundos de índice – É o responsável pela gestão dos fundos de ETFs, com todas as suas atribuições estabelecidas na Instrução 558 da CVM, e por manter a ade- rência do fundo em relação ao índice de referência. • Agente autorizado – É uma figura presente apenas no mercado primário. Trata-se da corretora de valores contratada pelos administradores em nome dos fundos ETFs, com papel principal e único de intermediação das operações entre investidor, clearings e administradores no mercado primário. • Corretora – No caso dos ETFs, atua no mercado secundário. Ela é responsável pela intermediação e negociação dos ETFs nesse mercado, atendendo todos os tipos de in- vestidores. Exclusivamente para os ETFs de renda fixa, é responsável fiscal pelo cálculo, retenção e recolhimento dos tributos. • Provedor do índice – É contratado pelo gestor dos fundos de ETFs, responsável pela metodologia, cálculo e divulgação dos índices. No Brasil, obrigatoriamente deve ser um provedor independente e qualificado junto à CVM. Exemplos de provedores são a B3, a Anbima e a S&P. • Custodiante – Responsável pela custódia da carteira dos ETFs negociados no mercado local, pelas liquidações física e financeira e pelas transferências dos ativos juntos às clearings. • Câmara de Liquidação e Custódia – A clearing, atuando como câmara de liquidação e custódia no mercado de ETF, é responsável pela listagem dos ETFs (admitindo os fun- dos à negociação), pelo controle, custódia e liquidação das operações nos mercados primário e secundário, pelo monitoramento das ofertas e negócios realizados em tela e das obrigações dos formadores de mercado formais que atuam sob determinados parâmetros contratados. • Market maker (formador de mercado) – Contratado pelo gestor dos fundos ETFs, atua para fomentar a liquidez no mercado secundário por meio do cumprimento de deter- minados parâmetros definidos durante a sua contratação, colocando preço em tela e fornecendo preço de referência para os investidores. A importância do formador de mercado A liquidez é fundamental para o sucesso dos ETFs, uma vez que eles têm cotas nego- ciadas na bolsa. Pouco adiantaria ter as cotas listadas, se fossem fechados poucos negó- cios. Para dar saída ao investidor que quer vender suas cotas e facilitar a entrada de quem quer comprá-las, existe o formador de mercado (market maker). Ele é responsável por garantir a liquidez dos ETFs no mercado secundário. Para isso, ele se compromete a manter ofertas de compra e venda dos ETFs, sempre em acordo com os parâmetros de atuação na sessão de negociação, de forma regular e contínua. Como sempre há ofertas de compra e venda, a liquidez é fomentada, os negócios são facilitados e os movimentos artificiais nos preços, mitigados. Ele acaba oferecendo aos investidores institucionais preços e lotes mais competitivos para compor um portfólio, quando comparado à alternativade compra ou venda da carteira subjacente, especialmente quando esses ativos que formam a carteira não são negociados em tela e têm liquidez bastante fragmentada. Tomando como exemplo um fundo de índice de ações: acaba sendo mais vantajoso para o investidor comprar o ETF, graças à atuação do market maker, do que comprar, individualmente, todas ações que compõem o índice. 9 5. Os atrativos dos ETFs Os ETFs vêm atraindo cada vez mais investidores por conta dos benefícios que oferece. Vamos fazer um apanhado das vantagens desse produto: A. Flexibilidade em alocações Os ETFs permitem vários tipos e forma de atuação no mercado, tais como: • Alocação tática: investimentos a curto prazo; • Alocação estrutural: investimentos de médio ou longo prazo; • Arbitragem: compra (ou venda) de cotas e seu concomitante resgate (ou integralização) no mercado primário com o objetivo de lucrar com a diferença de preços dos ativos subjacen- tes e do secundário de cotas (veja, no item liquidez, mais à frente, exemplos de arbitragem); • Gestão de caixa: aplicação de caixa indexado a uma carteira diversificada; • Monetização de ativos: para os ETFs que permitem a integralização de cotas por meio da entrega dos ativos da carteira do fundo (modelo In Kind), o ETF pode representar uma forma de monetizar uma carteira de ativos que não possuam liquidez em tela. Ou seja, o investidor entrega os ativos pouco líquidos e, em troca, obtêm cotas de um ETF líquido. B. Custos menores • Negociação em tela: transparência na negociação e presença de formadores de merca- do (formais ou não) pode levar à redução do spread de compra e venda da carteira; • Diversificação: redução dos custos de transação para o investidor médio montar e des- montar uma carteira diversificada. C. Diversificação • Carteiras diversificadas: Os ETFs replicam índices compostos por cestas de ativos diver- sificados; • Desenvolvimento do mercado de ETFs: de acordo com a demanda do mercado, sur- gem ETFs representativos de diferentes classes, geografias, setores e tipos de ativos subjacentes, possibilitando ampla diversificação. D. Transparência de preços • Negociação em tela: possibilidade de negociar compra e venda do ativo em livro de ordens centralizado, com transparência para o investidor final; • Formadores de mercado e arbitradores: presença de players que conseguem arbitrar o mercado primário e secundário e realizar estratégias de cash-and-carry (comprar as cotas e mantê-las até que seja necessário ofertá-las para atender à demanda dos in- vestidores) para aproximar o preço da cota negociada do preço justo dos ativos que formam a carteira do ETF. E. Mais liquidez e processo adequado de formação de preços • Liquidez: Considerando que a liquidez pode ser medida pela habilidade de o investidor de entrar e sair de suas posições sem provocar impacto significativo no preço, e que normal- 10 mente é traduzida por spreads estreitos, podemos apontar uma característica especial dos ETFs em relação a outros ativos listados. Diferentemente dos outros fundos de investimen- to listados que são fechados (Fundo Imobiliário, FIDC), os ETFs são fundos abertos que per- mitem o ajuste da oferta de cotas à demanda do mercado através do mercado primário de integralização e resgate de cotas. Essa possibilidade dá mais liquidez ao produto, graças às operações de arbitragem e de um processo adequado de formação de preços. • Arbitragem: O mercado primário é mais usado por grandes investidores institucionais (por meio dos agentes autorizados), e é por meio dele que esses participantes garan- tem que o ETF negocie mais próximo do seu valor justo. Essas instituições acompanham o valor de mercado da cota em relação ao valor patrimonial da cota e fazem arbitragem entre os dois. Vale lembrar que pode haver situações de ágio ou deságio na cota. Quando o preço das cotas no secundário é superior ao valor patrimonial das mesmas (há ágio), arbitradores tendem a integralizar novas cotas no primário e as venderem no secundário, lucrando com a diferença. Quando as cotas no secundário valem menos do que seu valor patrimonial (há deságio), a operação é inversa: resgatam-se as cotas para recomprá-las no secundário, também lucrando com a diferença de preços. Essas operações de arbitragem, feitas pelos grandes investidores, aproximam os valores dos mercados primário e secundário, beneficiando a todos os demais investidores. • Mais estabilidade em situações de estresse: Outra vantagem dos ETFs (In Kind) é que, em situações de estresse, eles podem se comportar melhor do que os ativos que o formam. A perspectiva de ajuste da oferta via mercado primário (habilidade de os ges- tores atenderem a ordens de integralização e resgate), associada ao fluxo de compra e venda no secundário, podem restringir efeitos de momentos de estresse. Veja, no quadro a seguir, uma comparação do ETF em relação a outros tipos de investimento: ETF RV/RF Ação Fundos Ativos Fundos Passivos Tesouro Direto Cotação, compra e venda no intraday? Compra e venda através da Corretora Existe cobrança na corretagem de compra e venda? Gestão indexada e benchmark (passiva)? Oferece diversificação Elaboração: ANBIMA 6. O que você analisa quando investe? Vimos que vários tipos de investidores compram e vendem ETFs: pessoas físicas, em- presas, fundos de investimento, fundos de previdência, bancos e investidores estrangeiros. 11 O atrativo do produto pode ser diferente de um investidor para outro, assim como podem variar os motivos pelos quais cada um procura o produto. Veja, abaixo, quais as principais razões que levam cada tipo de investidor a buscar um ETF: Objetivo/ Público Pessoa Física Alocadores Gestores Mesas proprietárias Fundações Investidor estrangeiro Diversificação x x x x x Tela de negociação x x x x x x Transparência x x x x x x Liquidez x x x x x x Gestão de caixa de curto prazo x x x x x Estratégias de arbitragem x x x x Custo atrativo x x x x x x Elaboração: ANBIMA 7. Vamos falar sobre riscos? Como o fundo de índice (“ETF”) busca replicar o comportamento de determinada cesta de ativos, um de seus principais riscos está relacionado a esses mesmos ativos. O índice de referência pode passar por períodos de significativa volatilidade, situação na qual o preço das cotas será afetado e poderá repentinamente subir ou cair. O ETF, portanto, está sujeito a riscos de mercado que incluem: aumento da volatilidade, não atingimento das expectati- vas de retorno e perdas patrimoniais significativas ao fundo e aos cotistas. Além disso, há o risco de liquidez, pois, embora o produto tenha liquidez e o mercado secundário conte com um market maker, não há como garantir que um mercado ativo de negociação de cotas do ETF será mantido e não se podem prever os reais níveis de preço pelos quais as cotas do ETF poderão ser negociadas. Os preços de negociação das cotas poderão ser superiores (ágio) ou inferiores (deságio) ao valor patrimonial da cota. Existe, ainda, o risco relacionado à aderência ao índice que o fundo busca replicar. De- vido aos custos operacionais (taxas de administração, de gestão e de custódia, taxas de fis- calização, corretagem, entre outros), a rentabilidade do ETF pode não refletir integralmente o desempenho do índice. 8. A mordida do leão A tributação dos ETFs obedece às regras vigentes para a tributação dos ativos de renda fixa e de renda variável, mas tem algumas peculiaridades. Uma das vantagens do produto é a inexistência do come-cotas, recolhimento semestral do Imposto de Renda (IR) que incide sobre os fundos de investimento comuns. Há variações com relação à tributação no merca- do primário e secundário. Vamos ver a seguir como isso se dá: 12 A. No mercado primário Você se lembra de que, no mercado primário, os investidores podem fazer a integrali- zação das cotas do ETF pelo modelo (“In Kind”), no qual o investidor entrega um ativopara integralizar a cota de um ETF, em vez de fazer o pagamento com moeda? Nesse caso, a tributação dessas operações obedece a regras específicas. Geralmente, esse tipo de operação é feito por grandes investidores institucionais. Eles podem ter ações ou títulos públicos em carteira e querem passar a deter cotas de ETF. Es- ses investidores fazem a integralização das cotas entregando as ações ou títulos públicos e ficam com as cotas do ETF. O entendimento da Receita Federal é que o investidor passou a deter um novo ativo – é como se ele tivesse vendido a cesta de ações ou de títulos e comprado cotas do ETF. Por isso, essa operação é tributada quando houver ganho de capital, levando-se em considera- ção diferentes alíquotas na renda variável e na renda fixa. Lembramos que os ETFs não pagam o come-cotas, recolhimento semestral do IR que incide sobre os fundos de investimento comuns. FIQUE ATENTO Na renda fixa, o ETF possui aspectos tributários que o diferenciam dos demais produtos, tais como: • Não possui come-cotas (recolhimento semestral do IR), ao contrário dos fundos de investi- mento, • IOF com alíquota zero, • Não possui isenção para vendas de ativos inferiores a R$20.000,00, • Não está previsto compensação de perdas. B. No mercado secundário E as transações do mercado secundário, como são tributadas? No ETF de renda variá- vel, quando o investidor aliena suas cotas também paga alíquota de 15% sobre o ganho de capital, não importa quanto tempo o investidor mantenha as aplicações. Na renda fixa, as alíquotas também são de acordo com o PMR – Prazo Médio de Repactuação: são de 25%, 20% e 15% – para até 180 dias, de 181 dias a 720 dias e acima de 720 dias, respectivamen- te. Da mesma forma que ocorre no mercado primário, no secundário o imposto também é de 30% caso o ETF esteja desenquadrado (quando a carteira está com menos de 75% em ativos financeiros que integrem o índice de referência). E não há come-cotas. Na tabela abaixo, mostramos um resumo da tributação nos dois mercados, referente aos ETFs de renda fixa e variável, nos momentos de integralização, resgate e alienação. Título: Tributação nos mercados primário e secundário Linha fina: Alíquotas que incidem sobre ETFs de renda fixa e variável nos dois segmen- tos de mercado 13 Alíquotas Tipo de mercado/operação ETF Renda variável ETF Renda fixa Mercado Primário Integralização² 15,0% - Ganhos 5MM 17,5% - Ganhos 10MM 20,0% - Ganhos 30MM 22,5% - Ganhos > 30MM Prazo <= 180 = 22,5% 181 a 360 = 20% 361 a 720 = 17,5% > 720 = 15% Mercado Primário Resgate 15% PMR¹ até 180 = 25% PMR de 181 a 720 = 20% PMR a cima de 720 = 15% Desenquadramento = 30% Não aplica “Come-Cotas” 4 Mercado Secundário Alienação 15% PMR até 180 = 25% PMR de 181 a 720 = 20% PMR a cima de 720 = 15% Desenquadramento = 30% IOF: Alíquota 0% Compra: não é aplicável tributação ¹ PMR: Prazo médio de repactuação / Prazo médio da carteira do ETF ² ETF RF: Tributação segue o modelo de negociação de títulos público de RF Fonte: ANBIMA C. Tributação na prática Nada como um exemplo para solidificar os conceitos aprendidos. Trazemos, abaixo, um exemplo de tributação de ETF no mercado secundário. Ele pressupõe que um in- vestidor aplicou R$ 100 mil no ETF, quando a cota valia R$ 100. Portanto, ele comprou mil cotas do produto. Trinta dias depois, a cotação do ETF subiu para R$ 103,00 e ele alienou 300 cotas. Nesse momento, ele pagará imposto sobre o ganho de capital pela alíquota de 15%. Como ele lucrou R$ 3 por cota e vendeu 300 cotas, multiplica-se esses valores e calcula-se os 15% de imposto: o resultado é que ele pagará R$ 135 para o leão (300 x 3 x 15%). Depois de 48 dias da primeira compra, a cotação já subiu para R$ 107 e ele lucrou R$ 7 por cota (já que o preço de aquisição foi de R$ 100). Nessa ocasião, ele aproveita para vender mais 500 cotas. O imposto a pagar será de R$ 525 (500 cotas x 7 x 15%). Noventa dias depois da primeira compra, as cotações já estão em R$ 110 e ele aproveita para realizar todo o investimento, vendendo as 200 cotas que ainda tinha. Pagará R$ 300 de imposto (200 x 10 x 15%). 14 Cotação ETF $100 $103 $107 $110 Compra 1000 - - - Alienação - 300 500 200 Quantidade de cotas 1000 700 200 0 Posiição (R$) $100.000 $72.100 $21.400 $0 Cálculo Tributo ETF RV/ RF1 1 (300*($103-$100))*15% = $135 2 (500*($107-$100))*15% = $525 3 (200*($110-$100))*15% = $300 1 ETF RF: alíquota varia de acordo com o PMR É bom saber que: Se você atende uma pessoa jurídica tributada com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não há retenção na fonte referente aos ganhos com ETFs. O mesmo vale para instituições financeiras e assemelhadas2. Os fundos de investimento estão isentos do recolhimento do imposto referente aos ganhos com ETFs, uma vez que os investidores finais já são tributados3. D. Para quem é de fora Os investidores estrangeiros seguem tributação específica dada pela instrução norma- tiva da Receita Federal. E. Os responsáveis pelas informações Os responsáveis pelas informações referentes ao IR variam de acordo com a operação, se de compra ou de alienação ou resgate. Durante a compra, o responsável é que irá infor- mar o custo de aquisição e/ou os rendimentos do ETF. Veja, abaixo, quem são os responsá- veis por essas informações durante as compras: 2 De acordo com o artigo 71, I, IN nº 1.585/15 da Receita Federal 3 De acordo com o artigo 14, I, IN nº 1.585/15 da Receita Federal Título: Exemplo de tributação de ETF no mercado secundário Fluxo Negociação D0 D30 D48 D90 1 27 dias 2 21 dias 3 42 dias No exemplo anterior, utilizamos a tributação de 15% tanto para renda variável como para renda fixa, pois é passível de acontecer. Contudo, a forma de calcular a tributação para renda fixa é diferente e você verá no módulo de tributação. 15 Título: Responsável pela informação dos custos aquisição e/ou rendimentos: Tipo ETF RV ETF RF Mercado primário Investidor Custodiante (integralização) Investidor (resgate) Mercado secundário Investidor Clearing Nas operações de venda, os responsáveis devem fazer o cálculo, a retenção e o recolhi- mento do imposto. Veja abaixo: Título: Responsável pelo cálculo, retenção e recolhimento do tributo: Tipo ETF RV ETF RF Mercado Primário Administrador Custodiante (integralização) Administrador (resgate) Mercado Secundário Investidor (Recolhimento por meio de DARF, pelo Carnê Leão) Corretora intermediadora¹ ¹ Investidor estrangeiro: o responsável fiscal é o custodiante 9. ETFs na prática: como investir Vimos que o mercado secundário é o mais adequado às pessoas físicas do varejo, pois permite aportes pequenos e oferece apoio e orientação de instituições financeiras, como corretoras, que acompanham os ETFs. Mas fundos de investimento, market makers, pes- soas jurídicas, clientes de private banking também atuam nesse mercado e têm suas pró- prias dinâmicas. Vamos ver, agora, como investir em ETFs. A. Escolhendo O primeiro passo é escolher entre os vários tipos de ETF disponíveis no mercado, já que existem vários fundos referenciados em índices diferentes. Essa escolha deve levar em conta as preferências, os objetivos, o perfil e as estratégias do investidor. Para tanto, é importante que o investidor: Sempre converse com o Especialista: As corretoras e distribuidoras contam com es- pecialistas que acompanham e analisam os ETFs e o momento do mercado, e estão aptas a recomendar as melhores opções para cada caso, em qual quantidade e em que momento. Vale lembrar que cada investidor, no entanto, é responsável pelos próprios investimentos e está livre para seguir ou não qualquer orientação. É importante tam- bém comparar os custos e serviços oferecidos pelas diversas corretoras. Conheça os detalhes e documentos dos ETFs: É importante informar-se o máximo possível para conversar com a corretora sobre as melhores opções para cada um no momento. As informações principais são: tipos de ETFs, tipos de índices,desempenho e rentabilidade, taxa de administração, composição da cesta e riscos. É possível obter informações também nos sites oficiais dos ETFs e informações provenientes da CVM, B3 e ANBIMA. 16 B. Investindo Todos os ETFs são negociados por intermédio das corretoras de valores, que são as responsáveis por orientar o investidor no processo de abertura de conta e por apresentar as ferramentas de negociação. O investidor pode acessar ao site da clearing para buscar a lista de corretoras autorizadas a atuar. Aqui, os passos são os seguintes: 1. Abrir uma conta em uma corretora e verificar o perfil de investidor; 2. Verificar mais uma vez os custos envolvidos na transação e avaliar os aspectos financeiros; 3. Efetuar a negociação de compra ou venda do ETF pelo home broker. Para a pessoa física, é muito simples negociar cotas de ETFs. Veja, no esquema a seguir, os principais passos para investir: ETF 1. Abrir conta em uma corretora/distribuidora e verificar qual é o seu perfil de investidor. 4. Analisar históricos de rentabilidade versus índice. 5. Analisar custos impostos e investimento mínimo. 6. Começar a investir. 7. Acompanhar os investimentos. 2. Escolher um índice de Referência. 3. Selecionar os ETFs que refletem o índice escolhido 17 10. Um pouco de história... A. ETFs no mundo O primeiro ETF do mundo foi criado no Canadá em 1990 e transformou o cenário de investimentos ao conjugar as vantagens de investir em conjunto e a flexibilidade de nego- ciação. Mas, na verdade, se quisermos voltar muito no tempo, podemos dizer que os ETFs remontam a um primeiro fundo de investimentos fechado, inventado por um comerciante holandês em 1774, composto pelas commodities nas colônias americanas lastreado nas plantações, eram emitidas em series e negociadas em mercado aberto. Um século e meio depois, foi criado o primeiro fundo mútuo aberto, oferecendo aos investidores a capacida- de de comprar e vender cotas diariamente. Em 1990, ocorreu a criação do ETF propriamente dito no Canadá. Três anos depois, em 1993, eles chegariam aos Estados Unidos. O primeiro ETF americano tinha como objetivo replicar o índice S&P 500. Administrado pelo State Street e listado na Bolsa de Nova York (NYSE) com o ticker “SPY”, esse fundo permanece até hoje como o maior ETF do mundo, com patrimônio de aproximadamente US$ 260 bilhões em 2018. Além do montante signi- ficativo, o SPY é altamente líquido e negocia em torno de 15% das suas cotas diariamente no mercado. Em menos de 25 anos de existência, os ETFs tornaram-se um dos veículos mais popu- lares para todos os tipos de investidores. No início, eles eram usados principalmente por institucionais para executar estratégias sofisticadas de negociação. Mas, hoje em dia, são utilizados por investidores com os mais diversos objetivos e estratégias, o que trouxe dina- mismo ao mercado. Os ETFs foram se sofisticando e ganhando novas opções: hoje pode- mos encontrar ETFs que permitem ao investidor exposição a diferentes mercados. Os atrativos do produto são responsáveis por esse sucesso: os ETFs são geralmente mais baratos em relação aos fundos mútuos, oferecem diversificação, são facilmente nego- ciáveis e possibilitam arbitragem de baixo custo. Basta olhar a evolução recente do crescimento desse produto, em número de fundos e patrimônio gerido, no Brasil e no mundo, para ver que essa popularidade só vem aumentando: Título do gráfico: A popularidade dos ETFs Linha fina: Evolução do patrimônio e do número de ETFs no Brasil e no mundo Global 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 CAGR ETFs 17,3% USD 5,1 trilhões * Fonte: Morning Star e Itaú Asset Management 18 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 CAGR ETFs 16,4% R$ 10,5 bilhões Brasil Fonte: Quantum e Itaú Asset Management CAGR = taxa anual de crescimento composta B. ETFs no Brasil Por aqui, o primeiro ETF foi lançado em 2004 graças a uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio de oferta pública. O PIBB11, que busca reproduzir o índice IBr-X 50, teve grande adesão de investidores pessoas físicas. Em março de 2019, na B3, existiam 13 ETFs referenciados a índices de ações locais, dois referenciados a índices estrangeiros (S&P 500) e um ETF de renda fixa referenciado ao S&P/ BM&F índice de Futuros de Taxa de Juros. Ainda é pouco, se compararmos os ETFs com o tamanho da indústria de fundos de investimento no Brasil (cerca de 4,7 trilhões de reais segundo o consolidado histórico de fundos de investimento da ANBIMA de março de 2019). Por isso, acredita-se que há muito espaço para o desenvolvimento de ETFs. Um cres- cimento exponencial é esperado para os próximos anos, em linha com o desenvolvimento desse mercado ao redor do mundo. Esperamos que você possa acompanhar esse desen- volvimento. Bons investimentos! 19 Copyright © 2019 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização da ANBIMA. Redação Alexandre Ferreira, Fábio Arnoni, Jorge Madeira, Danillo Werner, Natália Bertinat, Renato Eid, Vitor Batista. 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