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O CARÁTER PERPÉTUO DA MEDIDA DE SEGURANÇA APLICADA A PSICOPATAS SEM PREVISÃO DE CURA

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU 
CIÊNCIAS CRIMINAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATÁLIA BARBOSA NOVAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CARÁTER PERPÉTUO DA MEDIDA DE SEGURANÇA APLICADA A 
PSICOPATAS SEM PREVISÃO DE CURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2019 
 
 
NATÁLIA BARBOSA NOVAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CARÁTER PERPÉTUO DA MEDIDA DE SEGURANÇA APLICADA A 
PSICOPATAS SEM PREVISÃO DE CURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito da 
Universidade Estácio de Sá como requisito 
parcial para obtenção do certificado de 
Especialista em Ciências Criminais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2019 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
NATÁLIA BARBOSA NOVAES 
 
 
O CARÁTER PERPÉTUO DA MEDIDA DE SEGURANÇA APLICADA A 
PSICOPATAS SEM PREVISÃO DE CURA 
 
Monografia aprovada como requisito para 
obtenção do certificado de Especialista em 
Ciências Criminais, pela seguinte banca 
examinadora: 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Nome:______________________________________________________________
Titulação e instituição: _________________________________________________ 
 
Nome:______________________________________________________________
Titulação e instituição: _________________________________________________ 
 
Nome:______________________________________________________________
Titulação e instituição: _________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife, ___/____/_______ 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
De certo, serei injusta se dedilhar por nomes aqueles a quem devo o meu muito 
obrigada. Para não incorrer neste erro, reservo-me nesse momento apenas a dizer 
que cada um que foi e é importante pra mim durante essa jornada acadêmica - que 
começou há algum tempo e está longe de findar - tem ciência de sua contribuição. 
Não porque lhes disse sobre isso, mas porque sempre demostrei por gestos a 
minha gratidão. Registro o meu agradecimento a Deus, que sempre foi o guia da 
minha vida, me colocando sempre onde ele entende ser melhor pra mim. 
No plano terreno, os meus pais Maria de Fátima e Tiburtino, que são os meus 
mestres desde sempre, que junto do meu irmão Túlio nunca me permitiram desistir. 
Aos amigos que sempre compreenderam as abdicações e se fizeram apoio, a 
psicóloga Bruna que me forneceu toda a sua bibliografia e apoio, e por fim e não 
menos importante: aos docentes que se propuseram a contribuir com este trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A psicologia nunca poderá dizer a verdade 
sobre a loucura, pois é a loucura que detém a 
verdade da psicologia.” 
 (Michel Foucaut) 
 
 
 
RESUMO 
 
Para que uma ordem jurídica não veja perecer o seu equilíbrio, é preciso que os ramos 
do direito estejam em perfeita consonância, caso contrário uma norma pode vir a 
contradizer outra, gerando um estado de insegurança jurídica. O direito por muitas 
vezes precisa se socorrer de outras ciências para compreender o mundo fático e 
positivar os regramentos pertinentes. As citadas ciências nem sempre estão dentro 
das ciências jurídicas, sendo muitas vezes as da saúde. Uma das mais importantes 
para o direito penal é a medicina, e mais precisamente os estudos de psiquiatria e 
psicologia, pois estes norteiam as análises criminológicas de determinadas pessoas 
e crimes. Apesar de todos os cuidados tomados com os trâmites legais para a 
aprovação das novas legislações, algumas delas acabam não encontrando a perfeita 
sintonia, no que diz respeito ao mundo fático, à realidade das pessoas, bem como 
com as demais leis, e se forem aplicadas, podem se tornar inconstitucionais. Nesse 
sentido, o presente trabalho visa demostrar que a aplicação da medida de segurança, 
prevista no Código Penal, quando aplicada a portadores de transtornos mentais 
graves, que não possuem prognóstico de cura, acabam por contrariar o diploma 
máximo, a Constituição Federal, que proíbe veementemente penas de caráter 
perpetuo. Nesse sentido, se a medicina nos dias de hoje é firme em apontar que não 
existem casos de comprovada cura, o indivíduo acometido por transtornos, como o 
transtorno da personalidade antissocial, em nenhum momento de sua vida terá 
discernimento necessário para retornar ao convívio em sociedade, e nunca poderá 
preencher os requisitos para ter novamente sua liberdade, restaria caracterizada uma 
pena de caráter perpétuo, demonstrando a necessidade de um ajuste nas normas 
atuais a fim de elidir tal incongruência. 
 
Palavras-chave: Inconstitucionalidade – psicopatologias – medida de segurança – 
psicologia criminal – prisão perpétua. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
In order for one legal order not to see its equilibrium perished, the branches of law 
must be in perfect consonance, otherwise one norm may contradict another, creating 
a state of legal uncertainty. Law often needs to draw on other sciences to understand 
the phatic world and to make the relevant rules positive. The aforementioned sciences 
are not always within the legal sciences, often being health sciences. One of the most 
important for criminal law is medicine, and more precisely the studies of psychiatry and 
psychology, as these guide the criminological analyzes of certain people and crimes. 
Despite all the care taken with the legal procedures for the approval of the new laws, 
some of them end up not finding the perfect harmony, regarding the factual world, the 
reality of the people, as well as with the other laws, and if they are applied. , can 
become unconstitutional. In this sense, the present work aims to demonstrate that the 
application of the security measure provided for in the Penal Code, when applied to 
people with severe mental disorders, who have no prognosis of cure, end up 
contradicting the maximum diploma, the Federal Constitution, which prohibits 
vehemently feathers of perpetual character. In this sense, if medicine today is firm in 
pointing out that there are no cases of proven cure, the individual affected by disorders 
such as antisocial personality disorder, at no time in his life will have the discernment 
necessary to return to living in society, and will never be able to meet the requirements 
to have their freedom again, would be characterized by a perpetual penalty, 
demonstrating the need to adjust the current norms in order to eliminate such 
incongruity. 
 
 
Keywords: unconstitutionality - psychopathologies - security measure - criminal 
psychology - life imprisonment 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 8 
1. OS PSICOPATAS ................................................................................................................... 11 
1.1 DESMISTIFICANDO A TERMINOLOGIA ...................................................................... 11 
1.2 IDENTIFICANDO O PSICOPATA ................................................................................... 14 
1.3 APLICAÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E DIAGNÓSTICOS .............................................. 22 
1.4 DA POSSIBILIDADE E PREVISIBILIDADE DE CURA ................................................ 28 
2. DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA ....................................................................................... 29 
2.1 DOS PRINCÍPIOS NORTEADORES .............................................................................. 32 
2.2 DAS FUNÇÕES DA PENA ............................................................................................... 34 
2.2.1 Funções da pena aplicadas à medida de segurança .............................................. 38 
2.3 APLICAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA AOS PSICOPATAS GRAVES .......... 40 
2.4 DA POSSIBILIDADE DE LIBERTAÇÃO ........................................................................ 44 
2.5 DA VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL ................................................................................46 
3. CASOS CONCRETOS E POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÕES LESGISLATIVAS .... 47 
3.1 MARCELO COSTA DE ANDRADE “O VAMPIRO DE NITERÓI” ............................... 47 
3.2 FRANCISCO COSTA ROCHA – “CHICO PICADINHO” .............................................. 50 
3.3 ROBERTO APARECIDO ALVES CARDOSO – “CHAMPINHA”................................. 57 
3.4 POSSIBILIDADES DE ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS: ............................................. 62 
CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 66 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 69 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Analisando o conjunto de legislações vigentes no país, em especial as 
aplicáveis aos psicopatas que cometem crimes graves, observa-se a princípio que são 
utilizados diversos ramos do Direito. 
Inicialmente o Código Penal, que vem para tipificar a conduta a ser considerada 
criminosa, bem como classificar a imputabilidade ou inimputabilidade, bem como 
procedimentos a serem adotados diante da especialidade do indivíduo acometido por 
transtornos mentais. 
 O referido Código instituiu em 1940 a medida de segurança como a penalidade 
a ser imposta a doentes mentais. Na época, o sistema adotado chamava-se duplo 
binário, em que a pena era somada a medida de segurança. Somente em 1969 esse 
sistema foi alterado para o Sistema Vicariante, que respeitou a aplicação de medida 
de segurança, preservando a aplicação apenas desta para os casos de condenados 
inimputáveis. 
No Código de Processo Penal também encontramos os ritos a serem exercidos 
nos processos em que o apenado é considerado inimputável em razão de transtorno 
de ordem mental, que o incapacita para entender a realidade e a gravidade de suas 
condutas que ferem a moral, os bons costumes e as leis, merecendo tratamento 
diferenciado dentro do instituto da execução penal. 
Existem, ainda, diversas legislações extravagantes que tratam da matéria e que 
serão abordadas no decorrer do presente trabalho, uma vez que nesse momento é 
importante apontar a importância da Carta Magna para todo e qualquer instituto que 
existe sob a ordem jurídica e constitucional que regram esse Estado de Direito. 
Nesse sentido, é importante trazer que a Constituição Federal da República 
Federativa do Brasil instituiu em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea b, que não são 
permitidas penas de caráter perpétuo. 
É diante dessa vedação, que o artigo 75 do Código Penal afirma que ninguém 
poderá cumprir em cárcere mais de 30 (trinta) anos de reclusão. 
No entanto, neste ponto é preciso analisar certas controvérsias do mandamento 
constitucional. Em relação as penas impostas aos doentes mentais, é levado em 
consideração que essas pessoas não devem receber sentença para cumprir penas 
privativas de liberdade em penitenciárias comuns. 
9 
 
Durante toda a persecução penal, procura-se o reconhecimento da 
imputabilidade do agente, e assim é proferida uma sentença penal absolutória 
imprópria, nos termos do artigo 386, parágrafo único, inciso III do Código de Processo 
Penal, que impõe uma medida de segurança a ser cumprida com internação em 
hospital de custódia, nos casos de maior grau de periculosidade, ou tratamento 
ambulatorial em casos de transtornos mais simples. 
 O prazo estabelecido por lei para a medida de segurança, é de no mínimo 
1(um) a 3(três) anos, conforme determina o artigo 97, §1º do Código Penal. 
Porém, o mesmo artigo informa que não há prazo determinado para o fim da 
medida, dependendo o seu fim, da cessação da periculosidade do agente. E é este o 
ponto principal desse trabalho. 
Restou claro que existe uma contradição entre o que impõe a Constituição, e o 
que acontece na prática ao se respeitar a previsão imposta pela Lei penal. 
Essa contradição ocorre porque nos dias de hoje, em pleno século XXI, a 
medicina de todo o mundo se dedica a estudar a mente de determinados criminosos, 
acometidos por transtorno de personalidade antissocial, e o resultado é o mesmo em 
todos os casos: não existe cura para os portadores do referido transtorno, comumente 
chamados de psicopatas. 
Apesar de todos os esforços da psiquiatria clínica, psiquiatria forense, 
psicologia criminal e todas as demais áreas que envolvem o tratamento completo de 
um psicopata, é unânime que a cura nunca poderá ser alcançada por quem possui o 
transtorno. 
Assim, fica claro o impasse: se é sabido pela psiquiatria e psicologia que 
algumas patologias não possuem previsibilidade de cura, os indivíduos que cumprem 
medida se segurança nunca terão a sua periculosidade sanada. 
Sem a cura ou melhora esperada, não haverá cessação da medida de 
segurança, uma vez que a cessação da periculosidade é o requisito principal para que 
o apenado possa voltar a ter sua liberdade, e a longo prazo, trará inevitavelmente um 
caráter de perpetuidade para a penalidade imposta. 
A questão chegou aos Tribunais Superiores do país, e já foi reconhecida a 
gravidade do problema. 
 Os entendimentos serão discutidos em momento oportuno, mas o propósito 
neste momento é demonstrar que o Poder Judiciário não pode fazer as vezes do 
legislador, que se encontra omisso. 
10 
 
É preciso que as casas legislativas se movam em direção a sanar a 
controvérsia que existe, e serão os representantes do povo e dos estados que irão 
decidir qual o posicionamento a ser seguido. 
Diante da gigante importância do tema, é que esse trabalho será desenvolvido, 
elegendo os pontos mais importantes para elidir o problema que se instalou com a 
incongruência que a legislação atual impôs ao operador do Direito e 
consequentemente aos administrados. 
 
11 
 
1. OS PSICOPATAS 
 
1.1 DESMISTIFICANDO A TERMINOLOGIA 
 
Em rasa análise da forma com que os portadores de transtornos mentais são 
tratados perante a parte sã da sociedade, verifica-se que é muito usual o chamamento: 
psicopata, que vem do grego psyche que significa mente, e phatos que descreve 
doença. 
Foi em 1923 que o psiquiatra alemão Kurt Schneider definiu que psicopatas 
são aquelas personalidades anormais que sofrem por sua anormalidade ou causam 
sofrimento para a sociedade.1 De maneira geral, ele afirma que os portadores dos 
transtornos que se encaixam na psicopatia, vivem em desarmonia com a sociedade. 
No entanto, não se deve esquecer que o termo psicopata, bem como a ciência 
que estuda psicopatia, definida como psicopatologia, ainda gera densos e longos 
debates, uma vez que por se tratar de um tema complexo, nem todos os 
pesquisadores e estudiosos estão de acordo com o que na verdade se passa na 
mente dos psicopatas. 
Assim, os diversos autores que se dedicam ao tema, possuem, cada um, uma 
ótica própria e peculiar para explicar como a mente – que em alguns momentos nem 
parece humana – de algumas pessoas é capaz de cometer crimes tão absurdos que 
chegam a causar angústia em toda uma sociedade. 
Demonstrando as peculiaridades que são possíveis de encontrar na doutrina 
de alguns pesquisadores, está a tese de Guido Palomba, que é médico, psiquiatra 
forense, e perito do Tribunal de Justiça de São Paulo: 
 
“Os condutopatas são indivíduos que ficam na zona fronteiriça entre a 
normalidade mental e a doença mental. Esse transtorno de comportamento é 
devido ao comprometimento de três estruturas psíquicas: a afetividade, a 
conação-volição, a capacidade crítica, mantendo-se íntegras as outras partes 
mentais.”2 
 
 
1 DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2008, p.268. 
2 PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. São Paulo: Atheneu Editora, 
2003, p. 515. 
 
12 
 
Em seus escritos, Guido deixa claro considerar os psicopatas apenas como 
“condutopatas”, ou seja, não existiria qualquer relaçãocom transtornos de 
personalidade, e sim desvios de conduta, que ocasionam a prática de crimes graves. 
Guido demonstra em sua obra, que os “condutopatas” romperam com a linha 
do certo e errado, e isso não teria mais conserto. Para ele, esses indivíduos tem uma 
vida normal, pensam normalmente sem nenhuma falha fisiológica, mas erram em suas 
condutas, que por muitas vezes são cruéis. 
Em consonância com esse raciocínio, a psiquiatra e escritora Ana Beatriz 
Barbosa Silva credita que aos psicopatas não é possível imputar doenças mentais: 
 
“Em termos médicos-psiquiátricos, a psicopatia não se encaixa na visão 
tradicional de doenças mentais. Esses indivíduos não são considerados 
loucos nem apresentam algum tipo de desorientação. Também não sofrem 
de delírios ou alucinações (como esquizofrenia) e tampouco apresentam 
intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo). Ao 
contrário disso, seus atos criminosos não provêm de uma mente adoecida, 
mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total 
incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e 
com seus sentimentos.”3 
 
 O entendimento dos dois autores citados acima, ainda não fazem parte da 
maioria. São teorias mais modernas e atualizadas, de pessoas que se dedicam a 
compreender o funcionamento da mente humana, não apenas utilizando técnicas 
médicas, mas também sociais. 
 Sendo feita uma análise na maioria dos livros de psiquiatria, psicologia, 
psiquiatria forense, criminologia e demais ramos associados, o que se encontra é que 
os psicopatas são tidos como portadores de transtornos psiquiátricos graves. 
É preciso estar atento a uma premissa básica que vem desses estudos: os 
psicopatas seriam de fato pessoas portadoras de um transtorno de personalidade 
antissocial. 
A informação pode ser extraída a partir da Associação de Psiquiatria 
Americana, em seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM 
– V, que é a referência mundial das condutas médicas: 
 
“A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um 
padrão difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge 
na infância ou no início da adolescência e continua na vida adulta. Esse 
 
3 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 38. 
13 
 
padrão também já foi referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da 
personalidade dissocial.”4 
 
É preciso deixar claro que a comunidade médica segue os padrões de 
diagnósticos estabelecidos pelo DSM-V, e por isso, até os dias de hoje, os psicopatas 
são, em tese, diagnosticados em sua maioria com transtorno da personalidade 
paranoide, conforme o que preceitua o DSM-V. 
Conforme dados do DSM-V, o transtorno da personalidade pode ser definido 
em três categorias: 
A categoria A, seria a dos esquisitos e/ou desconfiados. A categoria B, os 
instáveis e/ou manipuladores. E a categoria C, dos ansiosos e/ou conrolados-
controladores.5 
 Para Paulo Dalgalarrondo, psiquiatra renomado na área acadêmica no Brasil, 
o transtorno da personalidade antissocial, se encaixa na categoria B, e descreve 
algumas características: 
 
“Indiferença e insensibilidade pelos sentimentos alheios; Irresponsabilidade e 
desrespeito por normas, regras e obrigações sociais; Incapacidade de manter 
relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los; Muito baixa 
tolerância a frustrações e baixo limiar para descarga de agressão, inclusive 
violência; Incapacidade de experimentar culpa e de aprender com a 
experiência, particularmente com a punição; Propensão marcante para culpar 
os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis para comportamento 
que gerou seu conflito com a sociedade; Crueldade e sadismo são frequentes 
nesse tipo de personalidade.”6 
 
É dito que o psicopata é portador do transtorno da personalidade antissocial, 
pela maioria dos casos, mas é claro que cada caso concreto traz peculiaridades. 
Às vezes, outros transtornos associados ao transtorno da personalidade são 
encontrados, assim como algumas comorbidades. 
Não raros são os casos de que criminosos que praticam infrações gravíssimas, 
possuem também graus de esquizofrenia, personalidade paranoide e outros. 
 
4 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual Diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Revisão técnica: Aristides Volpato 
Cordioli et al. Artmed Editora, 2014, p. 659. 
5 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual Diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Revisão técnica: Aristides Volpato 
Cordioli et al. Artmed Editora, 2014, p. 659. 
6 DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2008, p.271. 
14 
 
Logo, é de fundamental importância esclarecer que são vários os transtornos 
que podem acometer um chamado psicopata. Assim, brilhantemente discorre o Doutor 
Robert Simon sobre o tema: 
 
 “Os psicopatas são pessoas que têm graves impulsos antissociais e 
concretizam esses impulsos sem levar em conta as consequências 
desastrosas e inevitáveis de seus atos tanto para elas mesmas quanto para 
os demais.”7 
 
Assim, o psicopata propriamente dito é resultado de um conjunto de problemas 
psicológicos, que são diagnosticados de acordo com o que rege o DSM-V, e demais 
doutrinas consagradas. 
 
1.2 IDENTIFICANDO O PSICOPATA 
 
 O intuito principal em trabalhar as características dos psicopatas e suas 
condutas, é identificar como funcionam suas mentes, seus impulsos, e tudo aquilo que 
contribui e os influenciam no cometimento de crimes que em sua maioria, quando 
cometidos por essas pessoas, são bárbaros. 
Deflagra Ana Beatriz Barbosa Silva ao se referir aos psicopatas: “Eles vivem 
entre nós, parecem-se fisicamente conosco, mas são desprovidos deste sentido tão 
especial: a consciência.”8 
Esse referencial à consciência feito pela autora existe para esclarecer que 
todos os seres humanos que possuem seus sentimentos alinhados com o mundo e a 
vida em sociedade precisam estar conscientes de suas atitudes. 
É a consciência que traz os diversos sentidos, emoções. É extremamente 
subjetivo, mas muito compreensível porque a grande parte das pessoas sentem de 
fato como funciona a própria consciência. Como ela é capaz de trazer conforto, e como 
ela pode culpar. 
O Doutor Paulo Dalgalarrondo aprofunda em seu livro as acepções da 
consciência, definindo a consciência psicológica como: 
 
“A soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado 
momento. Nesse sentido, a consciência é o que designa o campo da 
 
7 SIMON, Robert I. Homens maus fazem o que homens bons sonham. Tradução Laís Andrade e 
Rafael Rodrigues Torres; Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 52. 
8 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 36. 
15 
 
consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se 
volta para a realidade. Na relação do eu com o meio ambiente, a consciência 
é a capacidade de o individuo entrar em contato com a realidade, perceber e 
conhecer seus objetos.”9 
 
Notadamente o Professor e Doutor Paulo, põe com clareza que é da 
consciência, o poder que o ser humano possui de identificar como deve ser o seu 
comportamento, perante as demais pessoas seu convívio. 
Não existe, para os psicopatas, o que chamamos de culpa, pois é a 
consciência, em seu funcionamento pleno e normal, que traz ao psicológico a 
sensação de culpa. Conforme escreve Harold Schechter: “Como não sentem culpa ou 
remorso, psicopatas são capazes de manter uma frieza assombrosa em situações que 
fariam uma pessoa normal suar frio”.10 
 É a partir da consciência que se enxerga a verdadeira realidade, e se 
reconhece a maioria dos sentimentos. Sentimentosestes, que os psicopatas na maior 
parte das vezes são incapazes de sentir, por também não possuírem o sentido da 
consciência. 
Aliada à falta de consciência, está sempre presente também a ausência de 
empatia. Conforme conceitua Robert Simon: 
 
“A presença ou ausência de empatia é a chave para determinar a capacidade 
do indivíduo de manter relações construtivas e colaborativas com outras 
pessoas; a empatia é a capacidade de se colocar na situação psicológica do 
próximo, de perceber aquilo que o próximo possa estar sentindo.”11 
 
 A empatia pode ser considerada um dos mais nobres sentidos que alguém 
pode ter. Sentir a dor do próximo, transferir-se mentalmente ao seu lugar, objetivando 
entender aquele momento, visando agir da melhor maneira com aquele que vive uma 
situação de dificuldade. 
 Ocorre que, nem todos possuem essa nobreza dentro de si. O que não pode 
ser recriminado em um primeiro momento, uma vez que as pessoas são muito 
singulares e não se pode determinar o que cada um sente. 
 
9 DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2008, p.88. 
10 SCHECHTER, Harold. Serial Killers, anatomia do mal. Tradução Lucas Magdiel; Rio de Janeiro: 
Darkside Books, 2013, p. 27. 
11 SIMON, Robert I. Homens maus fazem o que homens bons sonham. Tradução Laís Andrade e 
Rafael Rodrigues Torres; Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 40. 
16 
 
 O problema surge quando se analisa como os psicopatas conduzem um quadro 
de “falsa empatia”, e assim afirma Robert Simon: 
 
“Os psicopatas (predadores sem remorso) são muito bons em adivinhar 
aquilo que outras pessoas sentem e pensam, mas fazem isso para manipulá-
las. Não se importam nem um pouco com as outras pessoas, que, para eles, 
são como presas a serem consumidas cujos restos devem ser jogados fora, 
como lixo.”12 
 
 As palavras são fortes, mas dotadas de realismo. Porque é o que realmente 
acontece. Psicopatas costumam se aproximar de suas vítimas em potencial, 
aparentando ter uma empatia diante de alguma vulnerabilidade que ele conseguiu 
identificar previamente. 
Apesar de ser fato a referida ausência de sentimentos, existem características 
marcantes presentes na personalidade dos psicopatas, que são percebidas por todos. 
Naturalmente, não são essas características observadas isoladamente que irão 
diagnosticar o indivíduo. 
É na análise de cada caso, no estudo, e juntando o quebra-cabeça de posturas 
adotadas que se constrói a identificação da personalidade daquele que é tão doente, 
que é capaz de agir de forma tão absurda a romper com os padrões sociais normais, 
bem como jurídicos, uma vez que cometem crimes. 
Alguns comportamentos podem ser sinalizados de longe. Um deles é a forma 
egocêntrica de agir que jamais passa despercebido em quem é acometido pelo mal 
da psicopatia. 
A aparência narcisista, de se amar muito, e pouco se preocupar com o outro, 
salta aos olhos, pois com o ego inflado, é impossível esconder que se enxerga como 
o centro do mundo, e somente seus desejos – por muitas vezes malignos – são 
importantes. 
Assim, afirma Doutor Robert Simon: 
 
“O psicopata manifesta, tipicamente, um excesso patológico de 
autovalorização, ou narcisismo, que traduz em egocentrismo excessivo. 
Outros traços característicos são a megalomania (que se manifesta por 
exibicionismo não sexual), a falta de responsabilidade, o excesso de 
ambição, uma atitude de superioridade, uma dependência exagerada de 
admiração.”13 
 
12 SIMON, Robert I. Homens maus fazem o que homens bons sonham. Tradução Laís Andrade e 
Rafael Rodrigues Torres; Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 40. 
13 SIMON, Robert I. Homens maus fazem o que homens bons sonham. Tradução Laís Andrade e 
Rafael Rodrigues Torres; Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 55. 
17 
 
 
 Resta claro que os psicopatas realmente se sentem como seres superiores, e 
essa superioridade começa a trazer prejuízos quando faz com que o sujeito passe a 
não mais se importar com o bem-estar de quem está ao seu redor, e queira instituir 
suas próprias regras de convivência, e para eles, estas são suas próprias leis. 
 Incluso no pacote de artifícios, está a mentira. Não a mentira que pessoas 
comuns se utilizam pra sobreviver em um mundo complicado. E sim, a mentira 
psicopática. 
 A competência na hora de proferir palavras falsas e mentirosas é de se 
impressionar. Assevera a Doutora Ana Beatriz Barbosa: 
 
“São mentirosos contumazes, mentem com competência (de forma fria e 
calculada), olhando nos olhos das pessoas. São tão habilidosos na arte de 
mentir que muitas vezes, podem enganar até mesmo os profissionais mais 
experientes do comportamento humano. Para os psicopatas, a mentira é 
como se fosse um instrumento de trabalho, utilizado de forma sistemática e 
motivo de grande orgulho.”14 
 
A colocação da autora, de início leva ao entendimento que as mentiras 
propostas pelos psicopatas às pessoas comuns, se sobressaem. 
Mas, utilizando um pouco mais de senso crítico, torna-se preocupante, porque 
a habilidade faz com que todo o acervo de mentiras não seja notado. 
É por passar despercebida a pequena mentira, que estas vão aumentando, e 
através delas os criminosos conseguem atingir suas vítimas com maior eficácia e 
infelizmente fatalidade. 
Ludibriando vítimas, e possíveis testemunhas, os crimes são cometidos de 
maneira quase que perfeita, porque é usando de todos os seus artifícios únicos e 
inteligentes que os psicopatas cometem os crimes que chamam atenção de um país 
inteiro, as vezes até do mundo. 
A mentira só prova o quanto esses indivíduos podem ser capazes de 
engambelar primeiramente a vítima, depois o órgão investigativo (no caso a polícia 
judiciaria que se propôs a elucidar o fato criminoso), o processo penal em si, bem 
como aqueles que irão dar o veredicto sobre o delito. 
Corroborando essa problemática, escreve Harold Schechter, em seu livro 
anatomia do mal: 
 
14 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 77-78. 
18 
 
“Tecnicamente, psicopatas não são legalmente insanos. Eles sabem a 
diferença entre o certo e o errado. São racionais, muitas vezes altamente 
inteligentes. Alguns conseguem ser bastante charmosos. Na verdade, o que 
mais assusta neles é o fato de parecerem tão normais.”15 
 
É nesse ponto que se encontra o maior dos perigos. Não é fácil diferenciar um 
psicopata dos comuns. Assim, ele ganha a confiança de qualquer pessoa – altamente 
esclarecida ou não – para expor com grandeza toda a maldade que traz consigo. 
A maioria dos crimes cometidos por psicopatas são realizados sem muitos 
holofotes, ocorrem em locais fechados, ou a céu aberto quando pouco habitados. 
De certo que não existe uma regra quando se trata dos tipos de crimes que 
podem cometer, uma vez que todos são possíveis, mas aqueles criminosos que 
buscam os holofotes com suas condutas, são mais comumente identificados como 
aqueles que realizam assassinatos em massa, como o caso do Atirador do Shopping 
Morumbi em São Paulo, ocorrido em 03 de novembro de 1999, onde o estudante de 
Medicina Mateus da Costa Meira, abriu fogo contra todos os telespectadores da sala 
de cinema.16 
Do mesmo modo, recentemente ocorreu na cidade de Suzano no estado de 
São Paulo, um atentado de proporções imensuráveis. Dois jovens adentraram a 
Escola Raul Brasil e dispararam contra os alunos e funcionários que ali se 
encontravam.17 
A idade dos jovens que atacaram o colégio em Suzano traz a discussão: Não 
haveria como identificar os problemas enfrentados por essas pessoas, na infância ou 
adolescência, a fim de que o devido tratamento fosse realizado a tempo, tais tragédias 
evitadas? A resposta, de acordo com a Doutora Ana Beatriz Barbosa, é sim. 
Afirma em seu livro, que as crianças dão sinais, mas é preciso muita atenção: 
 
“Crianças ou adolescentes que são francos candidatos à psicopatia possuemum padrão repetitivo e persistente que pode ser sintetizado pelas 
características comportamentais descritas a seguir: 
 
- Mentiras frequentes. 
- Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos etc. 
 
15 SCHECHTER, Harold. Serial Killers, anatomia do mal. Tradução Lucas Magdiel; Rio de Janeiro: 
Darkside Books, 2013, p. 27. 
16 SACHETO, Cesar. Após 20 anos, atirador do cinema do Morumbi Shopping pode ser solto. CBN. 
Disponível em: <https://cbn.globoradio.globo.com/institucional/historia/aniversario/cbn-25-
anos/boletins/2016/05/24/1999-ATIRADOR-ABRE-FOGO-E-MATA-TRES-EM-CINEMA-DE-SAO-
PAULO.htm.> Acesso em: 4 nov. 2019. 
17G1 Mogi das Cruzes e Suzano. Dupla ataca escola em Suzano, mata oito pessoas e se suicida. G1 
Globo. Disponível em:<https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-
deixam-feridos-em-escola-de-suzano.ghtml.> Acesso em: 4 nov. 2019. 
https://cbn.globoradio.globo.com/institucional/historia/aniversario/cbn-25-anos/boletins/2016/05/24/1999-ATIRADOR-ABRE-FOGO-E-MATA-TRES-EM-CINEMA-DE-SAO-PAULO.htm
https://cbn.globoradio.globo.com/institucional/historia/aniversario/cbn-25-anos/boletins/2016/05/24/1999-ATIRADOR-ABRE-FOGO-E-MATA-TRES-EM-CINEMA-DE-SAO-PAULO.htm
https://cbn.globoradio.globo.com/institucional/historia/aniversario/cbn-25-anos/boletins/2016/05/24/1999-ATIRADOR-ABRE-FOGO-E-MATA-TRES-EM-CINEMA-DE-SAO-PAULO.htm
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-deixam-feridos-em-escola-de-suzano.ghtml
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-deixam-feridos-em-escola-de-suzano.ghtml
19 
 
- Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais, professores etc.). 
- Impulsividade e irresponsabilidade. 
- Baixíssima tolerância à frustração com acessos de irritabilidade ou fúria 
quando são contrariados. 
- Tendência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos. 
- Preocupação excessiva com seus próprios interesses 
- Insensibilidade ou frieza emocional. 
- Ausência de culpa ou remorso. 
- Falta de empatia ou constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo 
ou em flagrante. 
- Dificuldade em manter amizades. 
- Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos 
pais – muitas vezes podem fugir e ficar dias sem aparecer em casa. 
- Faltas constantes sem justificativas na escola ou trabalho (quando mais 
velhos). 
- Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo, como 
destruição de propriedades alheias ou danos ao patrimônio público. 
-Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos. 
- Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outras crianças ao sexo 
formado. 
- Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool. 
- Nos casos mais graves, podem cometer homicídio.”18 
 
 
Como sempre é dito no decorrer deste trabalho, cada caso é um caso, e as 
características não podem ser generalizadas. Evidente que cada ser humano, na sua 
particularidade de ser, tem suas nuances. A lista da Doutora Ana Beatriz é apenas 
exemplificativa e de caráter socioeducativo. 
Na realidade fática é muito complicado que os pais identifiquem os pontos 
característicos, pois os episódios tendem a acontecer isoladamente, o que leva a uma 
resolução imediatista do problema, que não gera aprofundamento sobre o que 
realmente aquela criança ou adolescente passa. 
É preciso que essa verificação seja mais detalhada, que os responsáveis 
estejam atentos ao menor sinal que seja. A adolescência do século XXI é cada vez 
mais difícil de ser vivida e os problemas surgem com mais força a cada dia. 
Saindo da temática da percepção de psicopatia ainda na fase infantil, quando 
a identificação envolve adultos, o padrão a ser seguido, e atualmente utilizado por 
psiquiatras em todo o mundo, para tentar desmistificar a mente dos examinados, e 
firmemente poder apontar qual a enfermidade que acomete aquela pessoa, foi 
idealizado pelo Doutor Robert Hare, que em 1991 aprimorou seus estudos sobre a 
psicopatia. 
 
18 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 188-189. 
20 
 
Brilhantemente criou uma lista de critérios classificatórios, que facilitam até os 
dias de hoje o diagnóstico por parte dos médicos psiquiatras examinadores. 
A escala de Hare como é chamada, é um teste, através do qual, o 
examinador, vai fazer uma entrevista, e pontuar, quais os critérios o examinado 
possui. 
Cada critério, possui 3 níveis de pontuação, que vão de 0 (não se aplica), até 
1 (item se aplica definitivamente). As classificações podem variar entre 0 ao patamar 
de 40 pontos. Se no exame, a soma passar de 30 pontos, há grandes possibilidade 
de existir traços de psicopatia. 
No Brasil, somente em 2000 a Escala Hare PCL-R (Psycopathy Checklist 
Revised) foi traduzida e validada no Brasil, sendo utilizada até os dias de hoje. 
Segue abaixo a lista de critérios:19 
1. Você tem “excesso de brilho” ou charme superficial 
2. Você tem um excesso de autoestima 
3. Você necessita de estimulação constante, não gosta de monotonia e tem 
propensão ao tédio 
4. Você é um mentiroso patológico, daqueles que sente orgulho de enganar 
as pessoas 
5. Você está sempre manipulando 
6. Você apresenta total falta de remorso ou culpa 
7. Você possui “afeto superficial” ou “sentimentos superficiais” 
8. Você é insensível ou possui completa falta de empatia 
9. Você tem um “estilo de vida parasita”, está sempre tirando proveito dos 
outros 
10. Você tem grande dificuldade em controlar suas atitudes 
11. Você tem um histórico de comportamento sexual promíscuo 
12. Você tem um histórico de problemas comportamentais na infância 
13. Você não possui objetivos realistas de longo prazo 
14. Você é excessivamente impulsivo 
15. Você tem um alto nível de irresponsabilidade 
 
19 PIMENTA, Tatiana. Psicopatia: como identificar um comportamento psicopata. Disponível em: 
<https://www.vittude.com/blog/psicopatia-como-identificar-um-psicopata/>. Acesso em: 5 dez. 2019. 
 
https://www.vittude.com/blog/psicopatia-como-identificar-um-psicopata/
21 
 
16. Você não assume a responsabilidade por suas próprias ações, coloca 
sempre a culpa em outras pessoas. 
17. Você já teve muitas relações “conjugais” de curto prazo 
18. Você tem um histórico de delinquência juvenil 
19. Já experimentou uma “revogação de liberdade condicional” 
20. Você exibe “versatilidade criminal”. 
Assim como deve ser feito em crianças, a análise não deve se basear apenas 
na Escala de Hare, deve ser feito também um estudo multidisciplinar antes de fechar 
o diagnóstico, para evitar erros que mudam vidas de centenas de pessoas. Do próprio 
examinado, de toda sua família, de possíveis futuras vítimas e as famílias das vítimas. 
Nesse momento é preciso deixar claro que a mente humana é 
demasiadamente complicada e difícil de se decifrar. Não existe exatidão. Ninguém 
tem a mente igual ou parecida com a de alguém. A mente é uma digital abstrata do 
corpo humano. 
Tudo o que é relatado no presente trabalho, é resultado da leitura de diversas 
doutrinas, para que se encontrasse o denominador mais comum entre os psiquiatras 
e psicólogos no que diz respeito à psicopatia. 
Mas uma coisa é unânime: o psicopata é difícil de ser compreendido aos olhos 
humanos. Ora, os mistérios são tantos, que até o próprio Sigmund Freud sentiu-se 
derrotado nas tentativas de entender questões relativas a psicologia humana. 
 Partindo do pressuposto das características que apresentam os psicopatas, 
conforme visto neste tópico, é preciso estar atento ao fato de que não são apenas 
peculiaridades fisiológicas, diga-se de passagem, cerebrais, como também existem 
os fatores sociais que contribuem para a formação de um indivíduo com 
características psicopáticas. 
Depois de se analisar muitos e muitos casos concretos que ocorreram não só 
no Brasil, como também ao redor do mundo, existem elementos extremamentepresentes na grande maioria dos casos. Ainda há quem diga, que pode ser apenas 
coincidência, no entanto, não logram êxito na afirmativa de acaso. 
Não se pode negligenciar o fato de que nenhum psicopata comete crimes 
absurdos somente pelas condições sociais em que viveu. Em todos os casos, existiam 
pré-disposições de uma mente doentia por nascença. Mas muitas pessoas “normais” 
22 
 
também nascem com tais condições, e por terem tido uma criação regada de amor, 
boa educação e cuidado, conseguem anular tais instintos. 
O principal fator social, comum na maioria dos casos estudados é má estrutura 
familiar. Ausência de um pai ou mãe, ou até mesmo quando os dois estão presentes, 
mas os desajustes na família são graves, inflamam a probabilidade de que uma 
criança que sofre nesse tipo de ambiente, se torne futuramente um psicopata. 
Não raras vezes, o citado ambiente familiar é tomado por um dos maiores 
desastres que podem acontecer na vida de uma criança: o abuso infantil. Esse abuso 
não tem limites de ser, sendo sexual, psicológico e físico, deflagrando sequelas graves 
para toda a vida da então criança. 
A negligência infantil ocupa grande espaço na vida dos psicopatas. A maioria 
esmagadora deles, tiveram sérios problemas familiares durante a infância. Grandes 
instabilidades emocionais se formam no período da infância. 
Assim, a má relação com os pais, ou familiares mais próximos, tende a 
agravar o que seria apenas um problema mental tratável, em graves enfermidades, 
chegando ao ponto de alcançar a psicopatia. 
As afirmações de que são comuns os problemas sociais encontrados na vida 
dos psicopatas serão confirmadas ponto a ponto no capítulo 3, onde são estudadas a 
fundo a vida de alguns psicopatas brasileiros, que figuram casos emblemáticos no 
país. 
 
1.3 APLICAÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E DIAGNÓSTICOS 
 
O advento da tecnologia possibilitou que hoje se investigue além do que o olho 
nu é capaz de observar. A neurociência, através de exames de imagens permite que 
sejam feitas pesquisas comparativas, para que se tenham evidências tanto na área 
comportamental, como entre o normal e o patológico referente a saúde. 
Utilizando-se dessas ferramentas, que em linhas práticas são as ressonâncias 
magnéticas, tomografias computadorizadas e demais exames de imagem, já se pode 
mapear quais são as áreas do cérebro humano são conectadas aos comportamentos 
típicos de sujeitos com Transtornos, e entre eles o mais importante para o presente 
trabalho: o Transtorno de Personalidade Antissocial. 
23 
 
É fundamentalmente importante demonstrar a importância do estudo da 
neurociência para compreender como algumas pessoas conseguem agir de maneira 
tão rude e diferente dos demais. 
Alguns casos de repercussão internacional justificam o porquê de este ser um 
assunto delicado e controverso no âmbito penal. 
O primeiro deles, é o caso de Charles Whitman, que morava na Flórida nos 
Estados Unidos, tinha 25 anos de idade, era ex-fuzileiro naval e estudante da 
Universidade do Texas. Sua infância foi difícil, uma vez que o próprio pai era física e 
emocionalmente abusivo tanto com a sua esposa, mãe de Charles, e com ele e seus 
três irmãos mais novos. 20 
Apesar disso, Charles era muito inteligente e apresentava um QI de 138. 
Durante sua permanência no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, ganhou 
medalha de boa conduta e um distintivo de atirador de elite. 
Após receber uma bolsa que era destinada a aumentar o número de cientistas 
nas Forças Armadas americana foi enviado para a Universidade do Texas, no ano de 
1961. Lá ele conheceu Kathleen Leissner, que viria a ser sua esposa, em 1962. Em 
1963, passou pela corte marcial, sendo considerado culpado pela prática de jogos de 
azar, usura e posse não autorizada de uma pistola não militar. 
Como punição, foi preso no posto de soldado e cumpriu 90 dias de trabalho 
forçado. Em 1964, ele foi dispensado dos fuzileiros navais, já não possuindo bolsa 
para a Universidade do Texas, a qual se matriculou novamente em 1965. 
No dia 1º de agosto de 1966, Whitman foi na casa da mãe, Elizabeth Whitman, 
às 12h30min e a matou. Mais tarde, ele matou a esposa, Kathleen, na residência 
deles, as 3h da manhã. Por volta das 11h30min da manhã, subiu até o mirante da 
Torre na Universidade do Texas e começou a atirar em pessoas no campus, 
aleatoriamente. 
 O tiroteio teve duração aproximada de 95 minutos e só parou quando dois 
policiais conseguiram adentrar o local, o atingindo com um tiro fatal. Ao todo 16 
pessoas morreram e 33 ficaram feridas. 21 
 
20 ESTADOS UNIDOS. Police Department Austin (Texas). Records of the Charles Whitman Mass 
Murder Case. 1966. Disponível em: < https://legacy.lib.utexas.edu/taro/aushc/00489/ahc-00489.html>. 
Acesso em: 11 dez. 2019. 
21 ESTADOS UNIDOS. Police Department Austin (Texas). Records of the Charles Whitman Mass 
Murder Case. 1966. Disponível em: < https://legacy.lib.utexas.edu/taro/aushc/00489/ahc-00489.html>. 
Acesso em: 11 dez. 2019. 
https://legacy.lib.utexas.edu/taro/aushc/00489/ahc-00489.html
https://legacy.lib.utexas.edu/taro/aushc/00489/ahc-00489.html
24 
 
O segundo caso, remonta a história de Herbert Weinstein, diferente de 
Whitman, pouco se sabe sobre seu passado, apenas que não tinha antecedentes 
criminais até 1991, quando aos 65 anos, matou sua esposa. 
Weinstein era um executivo da área de publicidade. No dia 7 de janeiro de 1991, 
ele teve uma discussão com a esposa Bárbara no 12º andar, no edifício em que 
moravam. Agarrou-a pelo pescoço e estrangulou até a morte. Na tentativa de fazer 
com que parecesse acidente, ele jogou o corpo pela janela. Ao descer do prédio ele 
foi pego pela polícia e acusado de assassinato em segundo grau.22 
O que ambos os casos citados têm em comum e as tornam tão relevantes para 
esse estudo é que Whitman e Weinstein tiveram seus cérebros estudados 
durante o julgamento. 
Antes de ir à torre da Universidade atirar em pessoas desconhecidas, Whitman 
deixou alguns bilhetes suicidas, e em um deles deixou explícito o desejo que fosse 
feita uma exumação do seu corpo e verificado se havia algum problema em seu 
cérebro. 
Já há algum tempo ele vinha se queixando de fortes dores de cabeça. O 
próprio, em um dos bilhetes, diz também estar tendo pensamentos que o perturbam: 
 
“Não me entendo ultimamente. Eu deveria ser um jovem medianamente 
razoável e inteligente. Mas, ultimamente (não em lembro quando começou), 
tenho sido vítima de muitos pensamentos incomuns e irracionais. (...) Depois 
de muito refletir, decidi matar minha mulher, Kathy, esta noite. (...) Eu a amo 
muito e ela foi uma boa esposa para mim, como qualquer homem poderia 
esperar. Não consigo situar racionalmente nenhum motivo específico para 
fazer isto. (...)”23 
 
 
O pedido para examinar o cérebro de Whitman foi aceito e o Governador do 
Texas determinou que uma força tarefa, denominada “Comissão Connaly”, realizasse 
a autópsia do cadáver. 
O resultado dos exames mostrou que Whitman possuía um tumor do tamanho 
de uma moeda, localizado no hipotálamo que estava comprimindo a amídala – 
parte do sistema límbico responsável por regular as emoções do ser humano. 
 
22 RAINE, Adrian. A anatomia da violência: as raízes biológicas da criminalidade. Tradução: Mayza 
Ritomy Ite. Porto Alegre: Artmed, 2015. p. 189. 
23 SOUZA, André Peixoto. Teses sobre homicídio. Canal Ciências Criminais, 2016. Disponível em: 
<https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/357075025/teses-sobre-homicidio-parte-
13?ref=serp>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
 
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/357075025/teses-sobre-homicidio-parte-13?ref=serp
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/357075025/teses-sobre-homicidio-parte-13?ref=serp
25 
 
Foi a partir dessa descoberta, que começou um movimento e a discussão sobre 
até que ponto a lesão cerebral interferiu para que Whitman cometesseo crime. Abaixo, 
foto ilustrativa de onde se encontra a amígdala e o córtex pré-frontal: 
 
Figura 1: Regiões do cérebro. 
 
Fonte: Aspectos neurobiológicos do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): uma 
revisão.24 
 
No caso de Weinstein, ele estava vivo para ser julgado, e apesar de nunca ter 
negado ter sido autor do assassinato da esposa, era um homem rico, com uma boa 
equipe de defesa, que suspeitaram do fato da ausência de histórico de violência. 
 Com isso, solicitaram um exame de Ressonância Magnética Cerebral e o 
submeteram a um exame de Tomografia. Os exames mostravam que grande parte do 
córtex pré-frontal de Weinstein estava comprometido – este é responsável pela 
avaliação de valência de uma situação (se positiva ou negativa), planejamento e 
tomada de decisão. 
Também está intrinsicamente relacionado com o sistema límbico que regula as 
emoções. O neurologista Antônio Damásio, famoso cientista da área, foi consultado 
durante audiência do caso a fim de opinar sobre a capacidade de Weinstein de pensar 
racionalmente e controlar suas emoções. 
 
24 COUTO, Taciana de Souza; DE MELO-JUNIOR, Mario Ribeiro; DE ARAUJO GOMES, Cláudia 
Roberta. Aspectos neurobiológicos do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): 
uma revisão. Ciênc. cogn.. Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 241-251, abr. 2010. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
58212010000100019&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
26 
 
Impressionado com os argumentos de Damásio, o Juiz responsável, acatou o 
pedido da defesa que alegou insanidade, que culminou numa sentença por homicídio 
culposo, de 7 anos em contraste aos 25 anos que cumpriria com homicídio em 
segundo grau. 
 
Figura 2: Ressonância Magnética e Tomografia do cérebro de Weinstein, que mostram a área escura 
onde crescia um cisto que comprometeu córtex frontal esquerdo. 
 
Fonte: The Brain Defenses 25 
 
 Sobre as influências das questões de saúde do cérebro e seu reflexo nas 
atitudes psicopáticas de algumas pessoas, foi realizado um estudo pelos 
departamentos de neurologia e psicologia das Universidades Médicas de Vanderbilt, 
Harvard, Massachusetts e Cambridge que concluiu: 
 
“Descobrimos que lesões em várias áreas cerebrais diferentes estão 
associadas ao comportamento criminoso. No entanto, todas essas lesões se 
enquadram em uma rede cerebral funcionalmente conectada, envolvida na 
tomada de decisões morais. Além disso, a conectividade com redes cerebrais 
concorrentes prediz as decisões morais anormais observadas nesses 
pacientes. Esses resultados fornecem informações sobre por que algumas 
lesões cerebrais, mas não outras, podem predispor ao comportamento 
criminoso, com possíveis implicações neurocientíficas, médicas e legais.”26 
 
25 DAVIS, Kevin; The Brain Defenses. Disponível em: <https://www.kevinadavis.com/brain-defense-
true-crime>. Acesso em Acesso em: 12 dez. 2019. 
26 DARBY, Ryan R; HORN, Andreas; CUSHMAN, Fiery; FOX, Michel D. Localização de 
comportamento criminoso na rede de lesões. Proceedings of the National Academy of Sciences of 
the United States of America, 2017. Disponível em: 
<https://www.pnas.org/content/pnas/115/3/601.full.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
 
https://www.kevinadavis.com/brain-defense-true-crime
https://www.kevinadavis.com/brain-defense-true-crime
https://www.pnas.org/content/pnas/115/3/601.full.pdf
27 
 
 Evidente que no dia a dia de qualquer pessoa, o tempo todo ela precisa usar 
de duas razões e emoções para tomada de decisões. Quando a razão e a emoção 
estão em perfeita harmonia, são externalizados os comportamentos ditos humanos. 
 Conforme dito anteriormente, é o sistema límbico do cérebro o responsável pelo 
controle das emoções e razões, e a parte principal desse sistema, é a amigdala, 
situada no córtex pré-frontal (região da testa). 
 Ocorre que, para comprovar que emocionalmente o córtex pré-frontal é 
fundamental, há o caso de Phineas Gage, ocorrido também nos Estados Unidos, no 
século XIX. 
 Após uma explosão em seu local de trabalho, Gage foi atingido por uma barra 
de ferro que atravessou o seu crânio atingindo o cérebro exatamente na região do 
córtex pré-frontal.27 
 
Figura 3: Diagrama do crânio de Phineas Gage, indicando o caminho do ferro na cabeça dele. 
 
Fonte: The Brain Defenses. 28 
 
 Apesar de Gage não ter perdido a consciência e nenhum movimento de seu 
corpo, estranhamente após o acidente, a sua personalidade mudou drasticamente. 
 
27 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 179. 
28 DAVIS, Kevin; The Brain Defenses. Disponível em: <https://www.kevinadavis.com/brain-defense-
true-crime>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
https://www.kevinadavis.com/brain-defense-true-crime
https://www.kevinadavis.com/brain-defense-true-crime
28 
 
Sua vida profissional e pessoal despencou. Tinha ataques de ira, não tinha 
mais educação e era indiferente afetivamente.29 
Foi o caso de Gage no século XIX que fez iniciar os estudos sobre a influência 
do córtex pré-frontal, o sistema límbico e a amígdala na personalidade e forma de agir 
de determinadas pessoas. 
Com os psicopatas os estudos se tornam difíceis. A maioria deles, por seu 
instinto manipulador, não aceitam se submeter aos exames que buscam entender do 
ponto de vista da neurociência como se dá a tomada de decisão. 
Mas, os poucos registros que se encontram na literatura afirmam que pessoas 
que não possuem traços psicopáticos possuem atividade forte e intensa na amigdala 
quando estimuladas a se imaginar cometendo crimes. 
Ocorre que, quando o mesmo teste foi realizado em psicopatas criminosos, 
eles apresentaram poucos resultados nesses circuitos do cérebro.30 
Podendo-se concluir então, que apesar de os psicopatas não possuírem, em 
regra, tumores ou problemas de compressão nessas regiões, é notável que o 
funcionamento do sistema é mais “gelado”. 
Assim, observa-se que a configuração mental do psicopata é composta por 
uma disfunção neurobiológica, em conjunto com as influencias sociais de sua 
formação de vida. 
 
1.4 DA POSSIBILIDADE E PREVISIBILIDADE DE CURA 
 
Não é novidade a profunda gravidade dos transtornos antissociais, que 
caracterizam os psicopatas. A questão mais problemática então surge: há cura? Os 
estudos mais consagrados apontam que apenas em alguns poucos e raros casos a 
cura pôde ser comprovada. 
 Um dos maiores desafios no tratamento, é que a maioria dos psicopatas 
acredita ser plenamente normal em suas atividades psíquicas, o que obsta a aceitação 
de remédios e terapia integrativas a eles, uma vez que a colaboração do paciente é 
de grande relevância. 
 
29 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 179. 
30 30 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: 
Globo, 2014, p. 181. 
29 
 
Afirma a Doutora Ana Beatriz Silva: “a psicopatia não tem cura, é um transtorno 
da personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas”.31 
 No mesmo sentido, entende Hare, preocupando-se ainda com um possível 
agravamento dos quadros psiquiátricos pelo tratamento: 
 
 A maioria dos programas de terapia faz pouco mais do que fornecer ao 
psicopata novas desculpas e racionalizações para seu comportamento e 
novos modos de compreensão da vulnerabilidade humana. Eles aprendem 
novos e melhores modos de manipular as outras pessoas, mas fazem pouco 
esforço para mudar suas próprias visões e atitudes ou para entender que os 
outros têm necessidades, sentimentos e direitos. Em especial, tentativas de 
ensinar aos psicopatas como “de fato sentir” remorso ou empatia estão 
fadadas ao fracasso.32 
 
Dessa forma, em síntese, não se encontra na literatura médica ou psicológica 
casos de psicopatas que conseguiram alcançar a cura. Logo, a sua periculosidade,averiguada em sede de processos penais e de execução penal, jamais irá sucumbir. 
 
“Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (a capacidade de 
cometer novos crimes) dos psicopatas é cerca de duas vezes maior do que a 
dos demais crimes associados à violência, a reincidência cresce para três 
vezes mais.”33 
 
 
O que mais à frente será debatido, é que se a ciência e a medicina afirmam 
que não existe previsibilidade de cura e consequentemente cessação da 
periculosidade, o agente restará cumprindo medida de segurança até o fim de sua 
vida, podendo confrontar a Constituição Federal, que proíbe penas em caráter 
perpétuo. 
 
2. DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA 
 
Conceitualmente falando, pode-se dizer que a medida de segurança constitui 
uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado aos seus governados, como uma 
manifestação do jus puniendi de sua total titularidade. 
 
31 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 173. 
32 HARE, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto 
Alegre: Artmed, 2013. p. 202. 
33 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 
2014, p. 152. 
30 
 
Diverge das penas comuns pelo fato de terem finalidade diversa, pois se 
destina à cura, ao tratamento, à melhora da qualidade de vida daqueles que 
praticaram injustos penais. 
Discriminada pelo Código Penal de 1940 entre os artigos 96 e 99, as medidas 
de segurança são aplicáveis a réus condenados como inimputáveis ou semi-
imputáveis, e podem ser aplicadas em duas modalidades, inseridas no Código na 
reforma Penal de 1984: 
 
Espécies de medidas de segurança 
Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em 
outro estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
II - sujeição a tratamento ambulatorial.34 
 
Na primeira modalidade, a internação em hospital de custódia visa colocar o 
agente em uma unidade que ao passo em que simboliza a punição, a resposta do 
Estado ao crime cometido, também é o ambiente onde os problemas psiquiátricos 
serão tratados com equipe apropriada e designada a essa finalidade. 
Normalmente, quem recebe a condenação ao cumprimento de medida de 
segurança, são os considerados inimputáveis, que no momento da sua ação 
criminosa era incapaz capaz de entender a ilicitude de seus atos. 
O tratamento ambulatorial, segunda modalidade de medida de segurança, 
aplica-se aos semi-imputáveis, que receberão tratamento de maneira ambulatorial, 
com controle de medicamentos, terapias e apoio de equipe multidisciplinar, mas sem 
o internamento em hospital psiquiátrico. 
O Código ainda traz algumas exceções, cabíveis em alguns casos 
particulares, bem como o prazo da medida de segurança – que é uma das grandes 
discussões – e condições para perícia e liberações: 
 
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinara sua internação (art. 
26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá 
o juiz submetê-Io a tratamento ambulatorial. 
Prazo 
1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, 
perdurando enquanto não for averiguada, mediante perecia médica, a 
cessação de periculosidade. O prazo mínimo devera ser de um a três anos. 
 
34 BRASIL, Decreto Lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível 
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 25 nov. 
2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art96
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art96
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art96
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art96
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art97
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
31 
 
Perícia médica 
§ 2º - A perecia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e 
deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o 
juiz da execução. 
Desinternação ou a liberação condicional 
§ 3º - A desinternação ou liberação será sempre condicional devendo ser 
restabelecida condicional a situação anterior se o agente, antes do decurso 
de um ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. 
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar 
a internação do agente, se essa providência for necessária para fins 
curativos.35 
 
Conforme determina o Código, só há fixação de um prazo mínimo, o prazo 
máximo ficou em aberto, condicionando a saída do condenado apenas à cessação da 
periculosidade, o que no caso dos psicopatas, não acontecerá, inserindo no mundo 
prático uma pena perpétua no ordenamento jurídico brasileiro. 
Destaca-se também o grau de importância das perícias realizadas tanto 
durante o processo, como durante a execução da medida de segurança, por meio do 
qual é realizada a aferição de periculosidade do agente, e enquanto esta não cessar, 
a medida perpetuará. 
No Brasil, existem critérios a serem seguidos, que visam realizar uma 
verificação da capacidade mental do examinado. Guilherme de Souza Nucci, é um 
dos defensores dessa teoria tripartida, em que ele informa que existem três critérios:36 
O primeiro deles é o biológico, no qual é analisado unicamente o 
desenvolvimento mental do autor do fato, independentemente se tinha, ao tempo da 
conduta, capacidade de entendimento e autodeterminação, prendendo-se à 
conceituação do art. 26 do Código Penal: 
 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou 
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento.37 
 
Em segundo, há o critério psicológico, que irá avaliar se no momento da 
conduta delituosa, o agente tinha a capacidade de entendimento e autodeterminação, 
independentemente de sua condição mental ou idade. 
 
35 BRASIL, Decreto Lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível 
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 25 nov 
2019. 
36 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7ª Edição Revisada, Atualizada e 
Ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 322. 
37 BRASIL, Decreto Lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível 
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 25 nov. 
2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
32 
 
Por fim, o terceiro critério é o chamado biopsicológico. Conforme o próprio 
nome já explicita, é a junção dos dois primeiros critérios – o biológico e o psicológico, 
sendo o mais completo deles. 
Em linhas práticas caberá ao juiz observar se o agente era possuidor de 
enfermidade, bem como, analisar sobre seu entendimento e capacidade de 
autodeterminação diante dos fatos cometidos por ele. 
Nesse sentido, aferida a imputabilidade do agente, o Código de Processo 
Penal, baseado em princípios norteadores, é autorizado a aplicar a medida de 
segurança aos condenados inimputáveis e semi-imputáveis. 
 
2.1 DOS PRINCÍPIOS NORTEADORES 
 
Em todo o Direito Penal, é sabido que o princípio da legalidade é o grande 
orientador a tudo que será aplicado por esse ramo do direito. Enunciado pelo art. 1° 
do Código Penal Brasileiro e pelo artigo 5º, inc. XXXIX da Constituição Federal, o 
princípio da legalidade é extremamente direto. 
Conforme o Código Penal: “Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. 
Nãohá pena sem prévia cominação legal.”38 De acordo com a Constituição: “Art. 5º, 
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação 
legal;”39 
 O que pode compreender-se dos diplomas legais, é que o princípio da 
legalidade surge como uma forma de limitar o poder de punir estatal, para que este 
não venha a se vestir de uma ditadura, bem como evitar a ocorrência de tribunais de 
exceção. 
 Outro princípio é o da intervenção mínima, que também é um grande regimento 
ao Direito Penal. É evidente que a punição do estado em virtude de um particular só 
deve ocorrer em casos excepcionais, e não como regra. 
 Dessa forma, diz-se que o Direito Penal é a ultima ratio, pois a intervenção do 
Estado deve ser minimamente invasiva, não excedendo limites – impostos pelo 
princípio da legalidade. 
 
38BRASIL. Decreto Lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível 
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em 25/11/2019. 
39 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 nov. 2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
33 
 
Com esse mesmo propósito, está o princípio da proporcionalidade, que garante 
que a resposta do Estado de Direito, em contraponto à conduta ilícita do indivíduo, 
será proporcional ao dano causado ao bem jurídico protegido pela norma penal. 
Em outras palavras, as penas, causas de aumento de pena e agravantes, bem 
como atenuantes e causas de diminuição, devem estar em consonância com o agravo 
que o condenado cometeu. A proporcionalidade garante que as circunstâncias do fato 
criminoso serão sopesadas no momento de determinação da pena. 
Não apenas no momento em que o legislador cria a norma, como também 
quando o juiz de direito realiza o cálculo penal para aplicar a pena em concreto. 
Por fim, mas em hipótese alguma menos importante, está o grande princípio 
que norteia o mundo inteiro desde o fim das grandes guerras mundiais: o princípio da 
dignidade da pessoa humana. 
Não é por menos que a Constituição Federal de 1988, apelidada de 
“Constituição Cidadã”, coloca em seu artigo 1º a dignidade da pessoa humana como 
um de seus fundamentos: 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana;40 
 
 
Assim, resta claro que o país como um todo deve estar atento a aplicação 
do princípio da dignidade da pessoa humana, e em especial todos os ramos do direito 
que aplicam a justiça. 
Mais do que qualquer outro, o direito penal é o âmbito poderoso a retirar a 
liberdade de ir e vir de seus governados, devendo seguir esse princípio com cautela, 
uma vez que o simples fato de restringir liberdades já afeta a dignidade do homem. 
O processo penal como um todo não pode olvidar-se em nenhum de seus 
instantes desse princípio, tampouco a execução penal. Infelizmente este último, na 
realidade brasileira costuma ofendê-lo fortemente. 
A realidade das cadeias, presídios e penitenciárias do Brasil é aterrorizante. 
Não bastasse, também ocorrem situações degradantes nos hospitais de custódia e 
 
40 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
34 
 
demais entidades que se encarregam de apenar os considerados inimputáveis por 
doença mental. 
Pequena amostra do descaso das autoridades públicas com os internos, 
bem como a lesão à dignidade da pessoa humana, é a situação do Hospital de 
Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) localizado na Ilha de Itamaracá em 
Pernambuco. 
No referido hospital, a situação é além de precária. Faltam medicamentos. A 
superlotação assusta: com capacidade para 70 internos, a unidade possui 336. Não 
bastasse, alguns internos são mantidos completamente despidos, e a justificativa é 
que possuem tendência suicida.41 
A tão inadmissível situação, tristemente ocorre nos diversos cantos do país. 
No caso de Itamaracá, a Caravana dos Direitos Humanos sugeriu a interdição do 
hospital. Conclui-se nesse caso, que um princípio que deveria ser levado muito a sério, 
principalmente quando se fala de pessoas com doenças mentais, tem sido burlado 
das piores maneiras. 
 
2.2 DAS FUNÇÕES DA PENA 
 
Com curtas e certas palavras quanto à função da pena, disse Paulo José da 
Costa Jr: 
“A pena encontra sua razão de ser na retribuição. Punitur quia peccatum. É a 
reação da ordem jurídica violada contra aqueles que a transgrediram. É o mal 
que a autoridade legítima impõe expiação pela inobservância da ordem 
jurídica.”42 
A retribuição citada pelo autor, é como uma reação do estado, perante a 
conduta delitiva do agente. Ou seja, o estado retribui a ação contra ele, na forma de 
punição, impondo a penalidade que estava prevista ao fato típico. 
Essa tese também é conhecida como Teoria Absoluta, onde a função é única 
e somente punir, conforme Chaves Camargo43, visto que a pena é apenas 
consequência da prática do delito. 
 
41 CIA, Michele. Medidas de Segurança no Direito Brasileiro: A desinternação progressiva sob uma 
perspectiva político-criminal. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p.19. 
42 DIP, Ricardo; MORAES JR, Volney Corrêa Leite; Crime e Castigo: reflexões politicamente 
incorretas. Campinas: Editora Millenium, 2002. p. 18. 
43CAMARGO, Antônio Luís Chaves. Sistema de penas, dogmática jurídico-penal e política criminal. 
São Paulo: Cultural Paulista, 2002. p. 44. 
35 
 
Foi Immanuel Kant que criou boa parte das teses sobre a teoria absoluta e 
retributiva, com ideias em sentido ético, onde o infrator receberia a retribuição pela 
infração, e a penalidade não desencadearia nenhum tipo de função social. 
Assim, disse Mirabete sobre o pensamento de Kant: 
 
“Kant preconizava que a pena é um imperativo categórico, uma consequência 
natural do delito, uma retribuição jurídica, pois ao mal do crime deve-se impor 
o mal da pena, disso resulta a igualdade e só esta igualdade pode trazer a 
justiça.”44 
 
 
Com tal entendimento, é que se entra no campo da função da pena, pois com 
o tempo, a teoria da pena, ao contrário do que preceituou Kant, foi encontrando lógica 
na existência da função social, com vistas a compreender o porquê de existir a pena, 
pois o intuito de sua instituição ia muito além da sua simples aplicação na forma de 
castigo. Nessa forma, Carnelutti entende que: 
 
“Dizem, facilmente, que a pena não serve somente para a redenção do 
culpado, mas também para a advertência dos outros, que poderiam ser 
tentados a delinqüir e por isso deve os assustar; e não é este um discurso 
que deva se tomar por chacota; pois ao menos deriva dele a conhecida 
contradição entre função repressiva e a função preventiva da pena: o que a 
pena deve ser para ajudar o culpado não é o que deve ser para ajudar os 
outros; e não há, entre esses dois aspectos do instituto, possibilidade de 
conciliação”45 
 
Extraindo do pensamento de Carnelutti, pode ser dividida a pena em duas 
funções: a preventiva, e a repressiva, considerando que as duas encontram-se em 
patamares divergentes, pois para ele a pena que ajuda o culpado não deve ajudar os 
demais. 
A principal, e mais abordada pelos autores brasileiros é a Teoria preventiva, 
que também pode ser chamada de relativa. 
É o chamado punitur ut ne peccetur, sendo traduzido: pune-se para que não 
se peque, ou seja aplicando uma pena a alguém que burlou a ordem jurídica, será 
evitável que novos crimes aconteçamdiante do Estado. Essa teoria, ao contrário da 
que foi citada, a absoluta – preconizada por Kant – visualiza que a pena que é imposta 
 
44 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal: parte geral.26.ed.São Paulo: Atlas,2010, v. 1. p. 
3. 
45 CARNELUTTI, Francesco, As Misérias do Processo Penal, São Paulo: editora Pillares, 2006, p. 
103. 
36 
 
a um delinquente, tem o condão de prevenir, que ele incorra nos mesmos crimes e 
sofra novamente as devidas penas.46 
Ora, se quem erra, conhece a punição, e sabe que será punido diante do 
Estado, por aquela conduta, torna-se impensável que ele queira novamente passar 
por uma punição, que restringe seus direitos, inclusive o direito de ir e vir. 
É de fato um sentido preventivo que é empregado na sanção, ou seja, é a 
visão de que a pena irá compelir o agente a não mais percorrer pelos caminhos que 
vão de encontro com a ordem social. 
A prevenção, é classificada ainda pelos doutrinadores, em geral e especial. 
No seu aspecto geral, ainda é dividida em positiva e negativa. 
A negativa, teve início na “Teoria da coação psicológica” de Paul Joan Anselm 
Ritter von Feuerbach, onde basicamente se entendia que era possível, além da função 
estrita sobre o condenado, a pena agisse como intimidadora perante os que vivem 
no ordenamento, pois vendo as punições estatais, aqueles que pensassem em 
delinquir, se sentiriam coagidos a não fazê-lo, pois não desejariam sofrer as 
punições.47 
A positiva surgiu diante da baixa eficiência que conquistou a teoria preventiva 
negativa, pois a intimidação não gerava a contenção dos futuros delitos. 
Acerca disso, Claus Roxin, desenvolveu que a teoria positiva se consolida em 
três aspectos (fins): o de aprendizagem, da confiança no Direito e da pacificação ou 
prevenção integradora.48 E assim acredita Camargo que essa ideia: “tem por objetivo 
evitar os exageros, dirigindo os fins da pena para caminhos socialmente construtivos, 
e, com base nos princípios, estabelecer restrições recíprocas. 49 
 
46 SILVA, Shimene. A pena no Estado Democrático de Direito: Uma breve análise conceitual, 
principiológica e teleológica. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br 
/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=86 43&revista_caderno =3#_edn85.> Acesso em: 2 
ago. 2019. 
47SILVA, Shimene. A pena no Estado Democrático de Direito: Uma breve análise conceitual, 
principiológica e teleológica. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br 
/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8643&revista_caderno=3#_edn85.>. Acesso em: 2 
ago. 2019. 
48CAMARGO, Antônio Luís Chaves. Sistema de penas, dogmática jurídico-penal e política criminal. 
São Paulo: Cultural Paulista, 2002. p. 54 
49 CAMARGO, Antônio Luís Chaves. Sistema de penas, dogmática jurídico-penal e política 
criminal. São Paulo: Cultural Paulista, 2002. p. 54 
 
37 
 
Ou seja, a pena teria uma função de fazer fluir da melhor forma, o exercício 
de boas atitudes pelos cidadãos, desenvolvendo nestes bons valores, além de que, 
sendo aplicadas as penas, haveriam demonstrações da vigência das normas penais. 
Apesar de toda a tentativa do Estado, de controlar a criminalidade, foi no 
século XIX que o foi necessária que a intervenção do ente soberano fosse mais forte 
e invasiva, para conter os ilícitos. 
Assim, surge a teoria especial, que também se subdivide em positiva e 
negativa. Esta última, não conluie de grandes respaldos, uma vez que segrega o 
apenado da sociedade, onde deixar o preso em ambiente limitado, garantiria a 
segurança nacional. 
Já a positiva, demonstra a necessidade da reinserção social do encarcerado. 
É nesse momento que surge a função verdadeiramente social da pena, a 
ressocialização, reintegração daquele que está cumprindo sanção, para que este volte 
ao convívio social, após o cumprimento pena. 
Essa reinserção, deveria acontecer através de acompanhamentos, com 
profissionais, psicólogos, assistentes sociais, e demais, que contribuiriam para uma 
reeducação, evitando, por fim, novas delinquências. 
Toda a explicação acerca da teoria da pena, possuía o intuito de chegar a 
esse ponto: o primeiro pensamento que surge com base a reinserir o condenado na 
sociedade, que hoje, é o fundamento máximo da progressão de regimes, tema do 
presente trabalho. 
Foi com a teoria preventiva especial positiva, que surgiu o princípio-base da 
progressão de regimes, que hoje conduz aquele que cumpre pena privativa de 
liberdade, a regimes menos graves, de acordo com o cumprimento dos requisitos ao 
longo dos anos, pois ela introduz na doutrina da teoria geral da pena, a pena que 
busca um tratamento especial ao condenado. 
Analisando hoje a teoria, é nítido ser uma necessidade social que exista a dita 
função de tratamento especial, de reintegração, educação, para a volta do preso ao 
convívio no mundo, após um período de isolamento. A partir dessa premissa, segue 
o trabalho na busca de melhores formas de aplicação da teoria, que influirá 
diretamente em melhores resultados na coerção estatal contra a criminalidade. 
Ainda existe a Teoria Mista, que defende a tese de que a pena não possuía 
apenas uma ou outra função social. Para essa teoria, poderia a pena, retribuir a 
38 
 
infração – logo, compreender o que diz a teoria absoluta – e também exercer a função 
reeducadora que colocaria o preso em sistema reintegrador. 
 
2.2.1 Funções da pena aplicadas à medida de segurança 
 
Trazendo a temática das funções da pena, para o âmbito da sua aplicação 
aos inimputáveis, através do instituto da medida de segurança, é sabido que estes 
são isentos de culpa, no entanto, como visto no tópico anterior, o Estado deve e pode 
responder aos agravos cometidos contra os bens jurídicos tutelados pela ordem 
constitucional. 
Assim, emerge uma obrigação um tanto delicada por parte do Estado, que 
seria proteger a sociedade de novos atentados aos bens comuns aos cidadãos, bem 
como realizar o devido tratamento do portador de anomalia psíquica, e na medida em 
que for possível, concretizar a sua ressocialização, para que seja capaz de retornar 
ao convívio em sociedade, sem novas agressões ao ambiente. 
Analisando mais a fundo a questão, resta clarividente que esta é 
fundamentalmente a função político-criminal das medidas de segurança chamada 
também de prevenção especial. 
O primeiro desafio é o tratamento, para que só então, venha a ser tentada a 
ressocialização. Esse tratamento, é a base a teoria preventiva especial positiva, 
sendo extremamente desafiador, pois envolve um conjunto de ciências, onde devem 
estar presentes profissionais capacitados e qualificados para trabalharem com 
pessoas que possuem anomalias mentais tão graves, que são capazes de cometer 
crimes. 
Assim, é a posição de Michele Cia: 
 
“O aspecto preventivo-especial é essencial para aplicação e execução da 
medida de segurança. Não se pode renunciar a ele frente a quaisquer 
dificuldades que se impuserem. Enquanto houver a previsão de aplicação da 
medida de segurança aos portadores de anomalia psíquica que entrarem em 
contradição com o ordenamento jurídico-penal, o Estado deve proporcionar a 
eles tratamento adequado, possibilitando sua inserção social.”50 
 
 
 
50 CIA, Michele. Medidas de Segurança no Direito Brasileiro: A desinternação progressiva sob uma 
perspectiva político-criminal. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p.57 e 58. 
39 
 
Pode-se assim concluir que a prevenção especial positiva, materializada no 
tratamento psiquiátrico, ao qual é submetido o condenado por crimes, mas 
considerado inimputável ou semi-imputável, é a maior parte da expectativa e crucial 
para concretização da prevenção especial. 
Ocorre que essa prevenção especial, que em seus fins busca na verdade a 
ressocialização, também possui a sua categoria negativa. 
A prevenção especial negativa, como já citado acima, emerge da 
imprescindibilidade de que o Estado garanta a defesa social, havendo um

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