Buscar

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE LIBRAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO: Licenciatura em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa e 
suas Literaturas 
 
MÓDULO: IV 
 
DISCIPLINA: LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS I 
 
AUTORAS: Elielza Reis da Silva 
 Larissa Gotti Pissinatti. 
 
 
Porto Velho – RO 
 
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE 
RONDÔNIA 
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E NOVAS 
TECNOLOGIAS 
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL 
 
4 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 5 
 
 
GOVERNO FEDERAL 
Presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva 
Ministro da Educação: Fernando Haddad 
Secretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo Bielschowky 
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 
Reitor: José Januário de Oliveira Amaral 
Vice-reitora: Maria Ivonete Barbosa Tamboril 
Pró-reitora de Graduação: Nair Ferreira Gurgel do Amaral 
Pró-reitor de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis: Ricardo Gilson da Costa 
Silva. 
Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Maria das Graças Nascimento Silva 
Coordenação CEADT/ UNIR: Sônia Ribeiro de Souza 
Coordenação UAB-UNIR: Crystiany Maria Guilherme 
Coordenador UAB-Adjunto: Francisco Paulo Duarte 
Coordenação do Curso de Letras – UAB – UNIR: Iracema Gabler 
Coordenação do Curso de Pedagogia – UAB – UNIR: Carmem Tereza Velanga 
Assessoria Pedagógica: Giovani Mendonça Lunardi 
 
6 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 11
Apresentação do Componente Curricular ......................................................... 13
MAPA CONCEITUAL .................................................................................... 14
METODOLOGIA DE TRABALHO ................................................................. 15
AVALIAÇÃO .................................................................................................. 16
UNIDADE I - O QUE É SER SURDO? ............................................................. 17
Apresentação ................................................................................................ 18
Unidade I – Subunidade I ................................................................................. 19
Pensando a Condição do Sujeito Surdo .................................................... 19
A LINGUA DE SINAIS NA IDADE MODERNA .............................................. 25
PONCE DE LÉON (1520-1584) ................................................................. 25
RODRIGUES PEREIRA (1715-1780) ........................................................ 25
ABBÉ L’EPÉE (1712- 1789) ...................................................................... 25
JEAN MARC ITARD .................................................................................. 26
ALEXANDRE G. BELL .............................................................................. 28
LINGUA DE SINAIS (LS) NA IDADE CONTEMPORÂNEA ........................... 28
ORALISMO - CONGRESSO DE MILÃO – 1880 ....................................... 28
BIMODALISMO OU COMUNICAÇÃO TOTAL .......................................... 29
BILINGUISMO ........................................................................................... 29
ASPECTOS HISTÓRICOS NO BRASIL .................................................... 30
Unidade I - Subunidade II ................................................................................. 34
 Língua Brasileira de Sinais 7 
 
 
Cultura e Identidade Surda ........................................................................ 34
MEU TERCEIRO OLHO ............................................................................ 37
Unidade II – Subunidade I ................................................................................ 43
A Diferença entre Alfabeto Manual e Soletração Rítmica .......................... 43
Unidade II - Subunidade II ................................................................................ 46
Unidade III – Subunidade I ............................................................................... 51
Estrutura Frasal e Categorias Gramaticais da LIBRAS ............................. 51
FORMAÇÃO DE ITENS LEXICAIS OU SINAIS A PARTIR DE MORFEMAS
 ...................................................................................................................... 51
MORFEMAS LEXICAIS E MORFEMAS GRAMATICAIS: ......................... 51
Unidade III – Subunidade II .............................................................................. 53
Aspecto Verbal da LIBRAS ........................................................................ 53
Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo .......................................... 55
Quantificação e Intensidade: ..................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ................................................................. 61
 
 
8 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 11 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Oi, pessoal! 
Meu nome é Elielza Reis da Silva, fiz 
o magistério na Escola Carmela Dutra e 
ingressei nesta profissão em uma prática 
que pouquíssimos professores ousaram 
aceitar. Curiosos? Então vamos lá, sem 
mais delongas. Iniciei com alunos um tanto quanto diferentes, ou melhor, com 
uma língua diferente. Sim, trabalho com alunos surdos que usam LIBRAS! E é 
esta língua que iremos aprender! Não decifrei a sigla de propósito para deixá-
los com água na boca! 
Sou formada em Letras pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR, 
fiz um curso adicional de 900 horas na área da surdez, no Instituto Nacional de 
Educação de Surdos – INES (iremos conhecer a história desse instituto e sua 
importância na educação de surdos). Sou pós-graduada em Psicopedagogia, 
mas não desenvolvo nenhum trabalho nesta área. Sou apaixonada pela área 
da surdez. Faço o papel de intérprete em sala de aula em todas as disciplinas 
do ensino médio, exceto português, pois como sou formada na área, ministro 
Português como segunda língua em uma metodologia própria para surdos 
(vocês conhecerão tudo isso!). 
Há muito para desvendarmos neste mundo tão diferente e instigante dos 
surdos! Será um desafio para todos nós calarmos as nossas vozes, para 
darmos as nossas mãos uma “voz” que somente os surdos saberão ouvir! 
Mãos a obra! 
Elielza Reis da Silva 
 
12 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
Olá, pessoal! 
Sou Larissa Gotti Pissinatti, me formei em 
Filosofia e assim que terminei minha licenciatura fui 
chamada para lecionar em uma escola para surdos, 
intitulada Instituto Santa Teresinha na grande São 
Paulo. Nesta escola, fiquei mais de cinco anos, 
comecei como professora de surdos no Ensino 
Médio, depois fui coordenadora pedagógica adjunta 
nesta mesma escola. Comecei a atuar como 
intérprete em 2005 e no ano seguinte vim para Porto Velho onde fiz o exame 
de proficiência nacional (PROLIBRAS) em interpretação para o nível superior, 
fui aprovada e estou atuando na área até os dias atuais. Sempre fui 
apaixonada pela área da surdez. Agora fui convidada para contribuir na EAD e 
estou muito feliz em ajudá-los a entrar no “Mundo do Silêncio” e lhes mostrar 
que nele existe mais sons e belezas do que a gente imagina. 
Aprender LIBRAS é como entrar num outro mundo, fascinante!!!Vocês 
irão conferir isto e muito mais durante nosso módulo! 
 
Larissa Pissinatti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 13 
 
 
APRESENTAÇÃO DO COMPONENTE 
CURRICULAR 
 
 
 
Écom imensa satisfação que 
apresentaremos a disciplina Língua Brasileira 
deSinais - LIBRAS. Sabemos que se trata de 
uma disciplina nova e, por este motivo, iremos abordar e aprofundar, 
primeiramente, o conceito de surdez, tanto do ponto de vista clínico quanto 
seus aspectos culturais; as metodologias que permeiam a educação de surdos 
e os reflexos de cada uma delas na aprendizagem do aluno surdo no contexto 
inclusivo. 
Realizado este panorama do “mundo surdo”, partiremos para o 
desvendar da LIBRAS na unidade I. 
Na unidade II, conheceremos o alfabeto digital e a soletração rítmica. 
Munidos deste conhecimento e de sua prática, estabeleceremos a diferença 
que há entre ambos. Dando continuidade ao nosso aprendizado, adentraremos 
nos aspectos morfológicos da Língua Brasileira de Sinais, este aspecto é 
composto pelos parâmetros que se subdivide em configuração de mãos, ponto 
de articulação, movimento, direção e expressão facial/corporal. Nesta fase, 
vocês já estabelecerão certa intimidade com esta língua tão pragmática! 
Na unidade III, abordaremos a sintaxe da LIBRAS. Como se estrutura 
suas frases; seu aspecto verbal; advérbios; sujeito, enfim, tudo que compõe 
essa língua tão visual! Este processo inclui a analogia entre língua brasileira de 
sinais e língua portuguesa. 
Sei que vocês estão fascinados e loucos para aprenderem e praticarem 
esta língua. Mãos a obra! (literalmente). 
14 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
MAPA CONCEITUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aspecto pontual, 
Continuativo ou durativo 
e iterativo; itens lexicais 
 para tempo e marca 
de tempo; quantificação 
 e intensidade. 
 
Configuração de mão, 
ponto de articulação, 
movimento, direção, 
expressão facial/corporal. 
 
Conceito e classificação 
do ponto de vista clínico. 
 
Diferenças entre alfabeto 
e soletração rítmica. 
 
 Formação dos itens 
lexicais ou sinais a partir 
de morfemas; morfemas 
lexicais e morfemas 
gramaticais. 
Aspectos culturais da 
surdez; 
Metodologias da 
educação de surdos. 
UNIDADE II 
Alfabeto digital e 
soletração rítmica; 
parâmetros da LIBRAS 
 
UNIDADE I 
O que é Surdez? 
UNIDADE III 
Estrutura frasal da LIBRAS; 
categorias gramaticais da 
LIBRAS; aspecto verbal; 
advérbio de tempo e 
intensidade; adjetivo. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 15 
 
 
METODOLOGIA DE TRABALHO 
Nossa disciplina está dividida em três unidades, subdivididas em tópicos, 
que abordam as diferentes visões a respeito da surdez, como também temas 
que configuram a gramática da LIBRAS. Nos quesitos que exigem uma 
visualização de como se faz em LIBRAS, sugerimos sites que vocês poderão 
consultar e no momento presencial esclareceremos todas as dúvidas 
referentes aos assuntos abordados. Nossa busca para esse aprendizado nos 
exigirá pesquisa e contato, na medida do possível, com os falantes desta 
língua. Se em sua cidade tiver uma comunidade surda, estabeleça contato para 
aprimorar sua prática. 
 
16 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
AVALIAÇÃO 
A Língua de Sinais é uma língua viso-espacial e não oral-auditiva como 
a Língua Portuguesa. A avaliação dessa língua exige tanto a teoria quanto a 
prática. 
Levaremos em consideração os questionamentos realizados nos fóruns, 
nos vídeos enviados e todo arsenal tecnológico disponível para 
desenvolvermos o nosso aprendizado. A prática da LIBRAS será realizada nos 
encontros presenciais, pois na avaliação prática da mesma consideraremos a 
compreensão e o desempenho. 
Lembre-se de procurar entrar em contato, na medida do possível, com 
os surdos de sua cidade para aprimorar o seu desempenho! 
Vamos colocar a mão na massa? 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 17 
 
 
UNIDADE I - O QUE É SER SURDO? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Querem que sejam como os ouvintes, quando são surdos; querem que 
falem uma língua oral, quando o seu principal canal não é o oral auditivo, 
mas o visual; querem que se desenvolvam intelectualmente, mas não lhe 
permitem desenvolver suas habilidades cognitivas naturais. Não lhes é 
permitido “ser diferente” porque o diferente incomoda, foge à regra, é mais 
difícil de ser manipulado” (BERNARDINO, 2000). 
 
18 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Apresentação 
A Unidade I da nossa disciplina tem como foco principal estabelecer a 
diferença entre o enfoque clínico da surdez e a abordagem do ponto de vista 
pedagógico de quem é o surdo; sua cultura e as metodologias educacionais 
utilizadas em sua educação. Deste modo, os referidos temas estão em 
subunidades: 
a)- Subunidade I: Conceito e classificação do ponto de vista clínico; 
b)- Subunidade II: Aspectos culturais da surdez; metodologias da 
educação de surdos. 
A razão pela qual abordamos este tema em subunidades se fundamenta 
em nossa preocupação em deixar claro as diferenças que há nos dois pontos 
de vista. Ao compreendê-los, facilitará o entendimento do que é ser surdo em 
uma comunidade majoritariamente ouvinte. 
Vamos começar? 
 
 Língua Brasileira de Sinais 19 
 
 
UNIDADE I – SUBUNIDADE I 
 
Pensando a Condição do Sujeito Surdo 
Afinal quem são os surdos? 
São os “parias da sociedade” como denomina Bauman, ou 
seja, os não normais em que na época do colonialismo, 
considerados deficientes fora do padrão, eram jogados nos despenhadeiros por 
representarem uma não valia à sociedade que se formava? 
São os que possuem uma perda auditiva e que são usuários de LIBRAS 
como determina a Lei 10.436? 
Segundo pesquisas, a surdez pode ser classificada também em perda 
auditiva que geralmente abrange quatro categorias, que são estas: 
Surdez leve: é a perda de até quarenta decibéis, impedindo que o aluno 
perceba igualmente todos os fonemas da palavra, além disso, a voz fraca ou 
distante não é ouvida. Porém não impede a aquisição normal da linguagem, 
mas poderá ser a causa de algum problema articulatório ou dificuldade na 
leitura e/ou escrita. (BRASIL, 1998b, p. 54). 
Surdez moderada: é a perda entre quarenta e setenta decibéis. Esses 
limites se encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessário uma 
voz de certa intensidade para que seja convenientemente percebida. É 
frequente o atraso de linguagem e as alterações articulatórias, havendo, em 
alguns casos, maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes 
ruidosos. Em geral, ele (o surdo) identifica as palavras mais significativas, 
tendo dificuldades em compreender certos termos de relação e/ou frases 
gramaticais complexas. Sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua 
aptidão para a percepção visual (BRASIL, 1998b, p. 54). 
 
20 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Surdez severa: é a perda entre setenta e noventa decibéis, permitindo 
que ele identifique alguns ruídos familiares e poderá perceber apenas a voz 
forte, podendo chegar até quatro ou cinco anos de idade sem aprender a falar. 
A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão para utilizar 
a percepção visual e para observar o contexto das situações (BRASIL, 1998b, 
p. 54). 
Surdez profunda: é a perda superior a noventa decibéis. A gravidade 
dessa perda é tal, que o priva das informações auditivas necessárias para 
perceber e identificar a voz humana, impedindo-o de adquirir naturalmente a 
linguagem oral. As perturbações da função auditiva estão ligadas tanto à 
estrutura acústica, quanto à identificação simbólica da linguagem. Um bebê 
que nasce surdo balbucia como um de audição normal, mas suas emissões 
começam a desaparecer à medida que não tem acesso à estimulação auditiva 
externa, fator de máxima importância para a aquisição da linguagem oral. 
Assim também, não adquire a fala como instrumento de comunicação, uma vez 
que, não o percebendo, não se interessa por ela, e não tendo ‘feedback’ 
auditivo, não possui modelo para dirigirsuas emissões. (BRASIL, 1998b, p. 
54). 
É na surdez severa ou profunda que o uso da LIBRAS se 
faz imprescindível; desde a mais tenra idade, para que o 
desenvolvimento da fala ocorra sem prejuízos para a 
aprendizagem, ou seja, quanto mais cedo uma criança com 
perda severa ou profunda tiver o uso a LIBRAS maior 
chances de desenvolver-se com sucesso. 
Como diz Gládis, uma pesquisadora surda, doutora, da Universidade 
Federal de Santa Catarina (UFSC), “os surdos sobrevivem a uma forma de 
incerteza constante. Uma narrativa captada ao acaso nos corredores de uma 
um grupo que realmente investe na decisão de ser diferente”. 
É nesta tentativa de transformar o anormal em normal, o deficiente em 
diferente e desta forma reverter um jogo que o sistema instaurou, um jogo 
inventado, produzido para selecionar que os surdos se organizam como grupo 
e comunidade na conquista de seus direitos. 
 Língua Brasileira de Sinais 21 
 
 
A modernidade criou padrões de relação e com isso as relações de 
alteridade ficaram uniformizadas desconsiderando e descartando os sujeitos 
diferentes presentes nela. Porém, desde que a língua de sinais surgiu entre os 
surdos, eles, cada vez mais, têm se organizado como grupo cultural, buscando 
descobrir suas raízes, sua própria língua, sua maneira de ser e pensar o 
mundo e as pessoas. “Saídos dos esconderijos, das sepulturas, liberados para 
a cidadania do NÓS, estão em movimento.” 
Estes pontos em comum unem a comunidade surda e os tornam 
diferentes dos não-surdos. Fazendo com que busquem seu próprio espaço na 
política, na participação social e nos direitos e deveres. 
 É assim que poderemos perceber que no decorrer da história, os 
cadeados e ciladas que usurparam as diferenças dessas comunidades foram 
tirados aqui e ali, no silêncio, sinal a sinal. 
Graças a este esforço que hoje muitos podem ser percebidos segundo 
Gládis, como “mártires destas jornadas pela diferença, poucos de nós 
conseguimos pular para dentro do veículo do progresso e com afinco trazer 
para as páginas de espaços acadêmicos novas posições, novos achados 
científicos longe daquelas palavras que sustentam a farsa sobre nós e que 
impõem a dita anormalidade” 
Esta disciplina quer ser uma etapa significativa de descobertas não só 
da LIBRAS, mas do sujeito surdo, como ele aprende, pensa, cria e desenvolve 
sua concepção de mundo; como ele apreende e compreende o que o cerca, a 
fim de que o nosso papel como educadores dentro da escola aconteça de 
forma efetiva, significativa e com qualidade, contribuindo na formação destes 
sujeitos para que se tornem verdadeiramente cidadãos e contribuam na 
formação de outros surdos e profissionais educadores. 
 
22 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
Ao final deste item deve-se saber: 
1- Quem é a pessoa surda; 
2- A importância da LIBRAS para o surdo; 
3- O surdo como diferente e não somente deficiente e 
4- Diferentes graus de surdez. 
 
História da Educação dos Surdos 
A história da surdez perpassou ao longo da mesma no viés 
da fatalidade, como se os surdos não fossem humanos. Na 
idade antiga, considerados malditos, foram privados da 
sua língua e de seus direitos. Naquela época, não era nem 
considerada língua, mas linguagem. 
Muitos filósofos concebiam a surdez de modo particular, dependendo da 
época. 
Na idade antiga, Heródoto, filósofo grego, já fazia referência à surdez, 
quando citou que, Crises tinha um filho, provavelmente surdo e fez uma 
correlação entre o fato dele ser “mudo” e sua inteligência, pois naquela época, 
pelo fato de não falar, o surdo era considerado débil. 
Outro filósofo da idade antiga que discorreu sobre a surdez foi 
Hipócrates. Ele teve uma visão médica da mesma e a considerou como 
deficiência e anomalia física. Essa teoria perdurou desde essa época até a 
idade moderna. Nesta época ainda não se considerava língua de sinais como 
meio de comunicação entre os surdos. 
Platão, discípulo de Sócrates, foi o primeiro a considerar o uso dos 
sinais, em um discurso contrário à visão clínica da época. 
 Língua Brasileira de Sinais 23 
 
 
Aristóteles relacionava a audição como o sentido intrínseco para o 
desenvolvimento da inteligência. Ele considerava que para a cidadania ser 
exercida se fazia necessário falar. 
Os surdos tiveram que conviver com experiências invasivas em nome da 
“cura” e da “normalidade”. Archigéne, médico sírio que vivia em Roma, quis 
suscitar a audição emitindo sons intensos e tocando trompete na orelha de 
seus pacientes. Tudo na tentativa de recuperar a audição. 
Juridicamente, na época, havia um jurista romano chamado Ulpien que 
colocava os surdos na categoria dos dementes e, pelo fato de não falarem, 
lhes eram tirado o direito de decidir questões morais e não recebiam herança 
da família. O jurista escreveu: 
 
 
 
 
 “Um surdo, um demente, um mudo e paralelamente 
um pródigo a quem a lei tira o poder de gerir 
seus bens, não podem fazer um testamento: o mudo porque não 
 pode falar para a designação formal do herdeiro; 
 o surdo porque não pode escutar as palavras do comprador herdeiro” 
 
 
 
24 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Santo Agostinho encantou-se com uma experiência que teve com uma 
surda em Milan, que com ajuda de sinais compreendia e fazia-se compreender 
pelos demais. O mesmo citou o encantamento que lhe causava pela maneira 
com a qual os surdos se comunicavam: 
 
 
 
 Jamais vi, como pessoas realizavam 
uma espécie de conversa através de gestos 
com os surdos e como aqueles, por meio 
de seus gestos, interrogavam ou respondiam, 
explicando ou indicando tudo o que eles 
quisessem, ou ao menos a maior parte. 
Assim, eles descreviam sem palavras 
não somente as coisas visíveis, 
mas também os sons, os gostos e outras 
coisas do gênero”. 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 25 
 
 
A LINGUA DE SINAIS NA IDADE MODERNA 
 François Rabelais (1493-1553) defendia em seus escritos a língua de 
sinais como língua materna dos surdos, contraditoriamente foi o primeiro a 
defender o oralismo. 
PONCE DE LÉON (1520-1584) 
Monge beneditino, nascido em San Salvador, Omã, Espanha. Foi o 
primeiro professor de surdo cujo trabalho serviu de base a outros na Educação. 
Provou através da educação de filhos surdos de nobres, que estes eram 
educáveis e ao contrário do que pensava Aristóteles, a dificuldade de 
aprendizagem não estava associada a lesões cerebrais, que dizia possuir os 
surdos. 
RODRIGUES PEREIRA (1715-1780) 
Fluente em língua dos sinais (LS), porém usada como recurso. Percebe 
a existência da configuração de mão, mas não registra nada. Seu pensamento 
em relação à pessoa surda era que através da fala o surdo poderia ser “trazido 
para a família humana”. 
 
Foi o criador do alfabeto manual. 
 
ABBÉ L’EPÉE (1712- 1789) 
Michel de L’Epée começa a ensinar aos surdos e reconhece a Língua 
de Sinais como a base da comunicação entre eles, e assim, a efetivação da 
comunicação entre surdos e ouvintes. 
Lucina cita um trecho do livro de L’Epée, intitulado: “L’ Instituition dês 
Sourds Muets par la voie dês Signes Méthodics”, 1776, part 1, cap. IV, p. 36 
26 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
“Todo surdo-mudo enviado a nós já tem uma linguagem. Ele tem o 
hábito de usá-la e compreende os outros, que fazem com ela expressar suas 
necessidades, desejos, dúvidas, dores, etc. e não erra quando os outros se 
expressam da mesma forma”. 
Ele teve a humildade de aprender a língua dos sinais (LS) com os 
surdos e através disto colocou-os na categoria humana. Criou o INS em Paris e 
criticou o uso isolado do alfabeto manual e de que a língua de sinais 
expressava somente ideias concretas. 
Fazia demonstrações públicas a filósofos, a educadores e a nobreza da 
eficácia do aprendizado a partir da língua dos sinais (LS). Em uma de suas 
demonstrações perguntouao surdo: 
 
 
L’Epée foi um dos primeiros a reconhecer e assumir publicamente a 
importância da língua dos sinais (LS) para a comunidade surda. 
 
JEAN MARC ITARD 
Médico cirurgião, Jean seguiu o pensamento do filósofo Condillac, cujas 
sensações eram a base do conhecimento humano e reconhecia a experiência 
externa como fonte de conhecimento. Desta forma, a diferença passou a ser 
vista como doença e deficiência e o surdo começou a ser ainda mais primitivo 
do ponto de vista emocional e intelectual. 
Realizou várias experiências com surdos para restituir a audição, por 
exemplo: choques, dissecou cadáveres, colocava sanguessugas, furou a 
membrana timpânica (um aluno morreu), aplicou sonda, dando origem a Sonda 
O que é intenção? 
 As respostas eram 
dadas por escrito pelos 
alunos. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 27 
 
 
d’Itard, fraturou crânios e infeccionou pontos atrás das orelhas, tudo na 
tentativa de devolver a audição, nada poderia ser feito a ouvidos mortos, já que 
a audição inexistia para estas pessoas. 
Nunca aprendeu a língua dos sinais (LS) e discutia com 
Massieu por escrito: 
Itard: A surdez é uma doença, você não a escolheria, 
apesar de poder viver com ela. 
Massieu: A pobreza é uma doença pela mesma lógica, 
de fato você poderia viver bem sem o som, da mesma 
forma como sem recursos, apenas se a sociedade não 
visse nenhuma desgraça ou ameaça nisto, apenas se 
ela desse acesso à educação às crianças surdas e às 
pobres e desta forma para serem o que podem ser. 
Itard: mas a surdez se coloca no caminho da educação e 
admissão na sociedade. 
Massieu: A não utlização dos Sinais foi o obstáculo à 
educação e sempre existiu uma sociedade surda. (LANE 
apud MOURA, 2000, p.26). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
THOMAS GAULLAUDET E LAURENT CLERC ( 1787- 1851) 
 
Gaullaudet foi para Inglaterra aprender com Braiwood, mas por conta de 
interesse econômico não ensinou Gaullaudet, então partiu para França em 
1816 no INS de Paris e foi instruído por Laurent Clerc, surdo educador no 
Instituto, após, retornou junto com Clerc aos EUA onde fundou a 1ª escola 
pra surdos em Hartford. 
 
28 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
ALEXANDRE G. BELL 
Trabalhou com surdos na Escócia, mudou-se para os EUA em 1871, 
sempre visando a oralização. Formado em Filosofia, acreditava na mudança 
que a ciência provocaria na sociedade. 
Para ele, surdez era defeito e se usasse a Língua dos Sinais (LS) o 
surdo não seria capaz de interagir na sociedade (até hoje este argumento é 
usado pelos defensores do oralismo), a formação de identidades deficientes 
ficou forte. Ele se opunha às ideias de Gaullaudet e Laurent Clerc. 
 
LINGUA DE SINAIS (LS) NA IDADE CONTEMPORÂNEA 
ORALISMO - CONGRESSO DE MILÃO – 1880 
Foi um acontecimento histórico, importante na defesa do oralismo e da 
visão clínica em relação à surdez. 
Augusto Zucchi (presidente da escola Real da Itália), retomou à época a 
filosofia aristotélica cuja palavra era expressão da alma e dádiva divina. 
Gaullaudet estava presente no Congresso, defendeu os sistemas 
combinados e os surdos que usavam sinais, mas não foi escutado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O Congresso determinou a seguinte resolução: 
 
1- Dada a superioridade da fala sobre os sinais, o método de 
articulações deve ter preferência sobre os sinais. 
2- O método oral puro deve ser proferido porque o uso simultâneo de 
sinais e fala tem a desvantagem de prejudicar a fala, a leitura 
orofacial e a precisão de ideias. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 29 
 
 
A partir deste acontecimento ficou o estigma da deficiência nas pessoas 
surdas, a diferença evidente neles foi classificada como anormalidade. 
Iniciou, desta forma, a época do oralismo, metodologia que objetivava 
tornar o surdo igual negando sua diferença. 
BIMODALISMO OU COMUNICAÇÃO TOTAL 
Caracterizava-se pelo uso simultâneo de sinais e língua oral, 
desconsiderando a gramática da língua de sinais e os aspectos culturais da 
comunidade surda, não levando em conta a diferença da identidade surda e a 
do ouvinte. 
 
BILINGUISMO 
Caracteriza-se como um movimento multicultural das minorias sociais 
tais como: surdos, cegos, negros e índios. O bilinguismo considera e respeita a 
língua de sinais com uma gramática que tem uma estrutura própria; outras 
línguas que não sejam sinalizadas são consideradas como 2ª língua, o aspecto 
cultural e de identidade surda são respeitados. 
 
Sugerimos que você consulte o site: 
< www.editora-arara-azul.com.br > entre em Estudos 
Surdos I e leia o artigo: Educação de Surdos: uma 
releitura da primeira escola pública em Paris e o Congresso 
de Milão em 1880. Vilmar Silva. Leia, compare e poste na Biblioteca do Aluno 
sua conclusão a respeito do assunto. 
 
 
30 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
ASPECTOS HISTÓRICOS NO BRASIL 
O Brasil igualmente aos demais países aderiu à resolução do Congresso 
de Milão e adotou o oralismo como metodologia para educar os surdos neste 
país. 
Em suas leis, adotou medidas que desconsiderava completamente o 
surdo como responsável por si mesmo, reforçando a teoria vigente da época: 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo 451 - “Pronunciada a interdição do Surdo-mudo, o juiz assinará, 
segundo o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela (Oliveira, 
1989, p. 85). 
No Brasil, a primeira escola para surdos surgiu no Rio de Janeiro no ano 
de 1856, no governo de D. Pedro II e foi fundada por Hernest Huet e 
denominou-se Instituto de Educação de Surdos Mudos (INES). Nesta época, a 
metodologia que se utilizava com os surdos era o Oralismo, metodologia esta 
já utilizada em toda Europa e definida pelo Congresso de Milão em 1880 como 
a mais adequada para a escolarização dos surdos. Esta escola atendia apenas 
os meninos e era em regime de internato. 
Foi então que em 1929 surge o Instituto Santa Teresinha (IST) em São 
Paulo, capital, que começou a atender as surdas do estado e de outras regiões 
do país. Esta escola também fez uso do Oralismo por muitos anos para educar 
as surdas. 
 
 Lei n° 3.071 01/01/1916 
Artigo 5° - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os 
atos da vida civil: 
 Menores de 16 anos 
 Loucos de todos os gêneros 
 Surdos-mudos, que não puderam exprimir sua vontade 
IV- Os ausentes, declarados tais por ato do juiz (Oliveira, 1989, 
p.9) 
 
 Língua Brasileira de Sinais 31 
 
 
Ao longo dos anos as Associações e Federação de surdos, 
principalmente a FENEIS (Federação de Educação e Integração da Pessoa 
Surda) lutou pelo reconhecimento da LIBRAS nas escolas de surdos e também 
pela sociedade. 
No Brasil a primeira filial da FENEIS foi fundada em 1977 por ouvintes 
da área da surdez, que desejavam dar um suporte na educação dos surdos e 
chamava-se FENEIDA (Federação Nacional de Educação e Integração dos 
Deficientes Auditivos), mas nesta época os surdos não tinham uma 
participação efetiva na Federação e as especificidades desta comunidade, de 
sua língua e cultura eram esquecidas por falta de experiência e conhecimento 
de quem estava à frente. Somente em 1987, com a realização de uma 
Assembleia Geral, o nome foi modificado para FENEIS e houve uma 
descentralização proporcionando a abertura de vários escritórios pelo país, 
hoje são 11 filiais e também houve a reestruturação do estatuto e da diretoria 
abrindo espaço para a participação dos surdos. 
A FENEIS é uma organização filiada à Federação Mundial dos Surdos 
(WFD) que tem sua sede na Finlândia e tem como objetivo garantir os direitos 
culturais, sociais e linguísticos do surdo no mundo. Representa junto a outras 
organizações mundiais como ONU (Organização das Nações Unidas), 
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura), a OIT (Organização Internacionaldo Trabalho) e a CONADE 
(Conselho Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência) um espaço para 
assegurar os direitos e fomentar a cultura e jeito de ser dessa comunidade. 
Em 2002, o Presidente da República sancionou uma lei que reconhecia 
a LIBRAS como língua oficial da comunidade surda no Brasil, foi a lei 10.436. 
 
32 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 
 
 Art. 1º - É reconhecida como meio legal de 
comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais 
– Libras e outros recursos de expressão a ela 
associados. 
Parágrafo único - Entende-se como Língua Brasileira de 
Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, 
em que o sistema lingüístico de natureza visual - motora, 
com estrutura gramatical própria, constitui sistema 
lingüistico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de 
comunidades de pessoas surdas do Brasil . 
 
Art5º - Esta Lei entra em vigor na data de sua 
publicação. 
 
Brasília, 24 de Abril de 2002; 181º da independência 
114º da República. 
Fernando Henrique Cardoso 
Paulo Renato de Souza 
Esta lei veio contribuir muito para a inserção cada vez maior da LIBRAS 
nas escolas de surdos. O interesse por cursos de LIBRAS cresceu, os surdos 
foram ganhando espaço profissional na sociedade, e os profissionais da 
educação foram percebendo que a LIBRAS não deveria ser a língua recurso, 
mas a língua de instrução na educação dos surdos. 
Em 2005, o decreto de lei 5.626 reconhece a importância do 
conhecimento da LIBRAS nos cursos de graduação de Pedagogia, 
Fonoaudiologia e Letras, assim como a importância da formação dos 
profissionais que atuarão como intérpretes e instrutores de LIBRAS. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 33 
 
 
Ao final deste item o aluno deverá saber: 
1- A visão clínica e antropológica da surdez 
ocorridas no decorrer da história; 
2- As metodologias utilizadas na educação dos 
surdos; 
3- A importância da LIBRAS; 
4- As primeiras escolas no Brasil e 
5- As leis que asseguram o surdo no uso da 
LIBRAS no Brasil. 
 
34 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
UNIDADE I - SUBUNIDADE II 
 
Cultura e Identidade Surda 
Para entendermos a cultura e identidade surda é 
importante que compreendamos o que significa cultura e 
como ela contribui na formação da identidade. 
A palavra cultura que hoje entendemos vem do conceito grego de 
Paidéia, ou seja, conjunto de valores, religião, artes, língua que constituem o 
povo. Para o homem grego tudo o que formava uma sociedade e a constituía 
como grupo, como nação era chamada Paidéia. 
Mas na modernidade a cultura foi estereotipada e a ciência fragmentada 
e com isso das ideias, a cultura transformou-se em alta cultura x baixa cultura, 
ou seja, que detém maior conhecimento é possuidor de uma alta cultura e 
quem detém menos possui uma baixa cultura. 
A modernidade baseou-se em três posicionamentos de sujeito que irá 
influenciar direta ou indiretamente a constituição da identidade do homem e da 
mulher de hoje. 
A primeira concepção vem do empirismo onde o objeto deveria ser 
determinado com precisão para ser reconhecido, do contrário não existiria. 
A segunda concepção vem do idealismo onde o indivíduo é o foco, e a 
terceira concepção vem do interacionismo que possui as características de 
ambas concepções anteriores e dará origem ao sujeito do iluminismo onde o 
ser está centrado na consciência/razão. Percebendo a construção e a evolução 
da ideia de sujeito no decorrer da história é possível também delinearmos um 
perfil de identidade que foi se constituindo. 
A cultura nos ajuda a categorizar as pessoas, é a forma como as 
pessoas fazem o sentido do mundo, dos conceitos, dos valores; é a forma 
como representam suas diferenças determinando suas relações de alteridade, 
 Língua Brasileira de Sinais 35 
 
 
suas práticas sócias, unificando suas identidades e construindo a subjetividade; 
desta forma criam estratégias comuns e um padrão moral de comportamento. 
Por isso não é possível dizer que “é coisa de surdo”, pois para o surdo o 
que tem significado para a constituição de sua existência tem sua dimensão 
cultural, política, pois a cultura é parte constitutiva da política que impõe limites 
culturais. 
Segundo Wilcox “os valores culturais são algo compartilhado; os 
membros precisam aprender, aceitar e compartilhar os valores do grupo antes 
que eles possam ser considerados como parte dessa cultura. O mesmo ocorre 
com a cultura surda” ( Wilcox, 2005, p.78). 
Sabemos que os surdos possuem características linguísticas, cognitivas, 
culturais e comunitárias específicas. Será na comunidade surda (onde a cultura 
específica desta comunidade se manifesta) que as forças subjetivas irão atuar 
e que por meio da linguagem expressarão juízos de valor, construirão arte, 
gerarão as motivações quanto à forma de ser deste grupo. Desta forma: 
“ cultura é o campo de produção de significados no qual 
os diferentes grupos sociais, situados em posições 
diferenciadas de poder, lutam pela imposição de seus 
significados. Cultura é onde se define não só a forma em 
que o mundo deve ter, mas também a forma como as 
pessoas e os grupos devem ser” (Silva apud Sá, 2006, 
p.134). 
 
Segundo Chlarlotte Baker e Dennis Kokely existem quatro fatores 
fundamentais que definem os membros da comunidade surda. 
 
36 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
Para fazer parte da comunidade surda é preciso estar dentro de uma 
destas características, audiológica, política, linguística ou social, lembrando 
que não é necessário que façamos parte de todas, apenas de uma delas. 
Para entendermos melhor é interessante que leiamos o trecho abaixo 
que pode ser encontrado no livro de Wilcox “ Aprender a ver” é um trecho da 
peça representada em 1973, pelo Teatro Nacional do Surdo, intitulada, “ MEU 
TERCEIRO OLHO”. Nele uma parte dos atores representa um grupo de 
saltimbancos que parece entrar numa terra estranha, a terra dos ouvintes. 
Várias pessoas estão no palco e ao lado uma jaula com pessoas ouvintes 
dentro. A mestra de cerimônias dá um passo à frente. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 37 
 
 
MEU TERCEIRO OLHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 MC- Eis o espetáculo! Olhem para vocês mesmos! O formato 
do corpo é o mesmo. Os membros são os mesmos. O 
comportamento - ah...diferente! Você e eu usamos nossos 
olhos. 
(Os outros atores demonstram vários usos dos olhos para 
comunicação) 
MC- Os olhos desta mulher são vazios, fracos. Você e eu 
usamos nossas faces. 
(Novamente, os atores demonstram vários usos de suas faces 
para a comunicação) 
MC- A dela é congelada, exceto a boca. Vocês perceberão que 
as bocas continuam a se mover no decorrer da apresentação. 
MC- Deixem os atores mostrar a vocês o que nós vimos. 
( Uma mulher é vista falando no telefone. Embora nós 
possamos ver sua boca se movendo não conseguimos ouvir 
sua voz.) 
MC- Vê o que acontece, não posso pará-la. 
( Os atores aparecem, um a um, e tentam chamar a atenção 
dela, falando com ela e balançando seu braço. De repente, um 
homem forte a agarra, virando-a totalmente de cabeça para 
baixo; não incomodada, ela continua falando no telefone.) 
MC- Nesse mundo, nós vimos que, por não usarem suas mãos, 
eles têm também medo 
38 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
Vamos fazer um exercício para tentar perceber as 
diferenças, nesta cena, entre os surdos e os ouvintes. 
Quais as características de um e de outro? O que 
chama sua atenção nesta cena? Discuta com seus 
colegas no Chat. 
 
Ainda aprofundando sobre cultura e identidade surda, 
Gládis nos apresenta seis tipos de identidade surda. 
Características estas que se formam de acordo com a 
vivência familiar, o acesso à comunidade surda, a 
maneira do próprio surdo em reconhecer sua condição. 
São elas: 
 
1- Identidade POLÍTICA - está presente em surdos que possuem 
uma vivência de participação na comunidade surda, lutando por seus 
direitos. 
a- Experiênciavisual determina as formas de comportamento. 
b- Usam a LIBRAS. 
c- Aceitam-se como surdos e comportam-se como tal. 
d- Querem a presença do intérprete para intermediar a comunicação. 
e- Assumem posição de resistência. 
f- Buscam delinear sua identidade. 
g- Tem dificuldade de entender a língua falada. 
h- Estrutura escrita obedece a LIBRAS. 
i- Participa de associações e federações. 
j- Usam tecnologias diferenciadas. 
k- Relaciona-se de forma diferente inclusive com os animais. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 39 
 
 
2- Identidade surda HÍBRIDA - surdos que nasceram ouvintes e 
depois perderam a audição. 
a- Dependendo da idade da perda conhecem bem o português. 
b- Fazem uso da oralização. 
c- Usam as duas línguas para captar as mensagens. 
d- Usam tecnologias diferenciadas. 
e- Assimilam um pouco mais que os outros surdos. 
f- A escrita obedece o sinal e pode igualar-se ao português com 
reservas. 
g- Participam das associações e federações. 
h- Aceitam-se como surdos. 
i- Têm forma diferenciada de relação inclusive com os animais. 
 
3- Identidade surda FLUTUANTE - são surdos que não têm contato 
com a comunidade surda. 
a- Seguem costumes ouvintes. 
b- Dependem do mundo ouvinte e colocam-se acima dos surdos. 
c- Não participam das associações. 
d- Rejeitam a LIBRAS e o intérprete. 
e- Orgulho de saber falar corretamente. 
f- Resistência no uso da Língua de Sinais. 
g- Não se identificam como surdos, mas sentem-se inferiores aos 
ouvintes. 
h- São vítimas de preconceitos e da ideologia oralista. 
i- Quer ouçam ou não persistem em usar aparelho e não usam 
tecnologias de surdos. 
 
4- Identidades surdas EMBAÇADAS - outra representação que 
encontramos em pessoas que desconhecem a surdez como questão 
cultural. 
40 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
a- Não compreendem a fala ou sua própria identidade. 
b- Não sabem LIBRAS. 
c- São vistos como incapacitados. 
d- Ouvintes determinam sua forma de comportar-se e de aprendizagem. 
e- Alguns são aprisionados nas famílias. 
f- Não têm autonomia. 
g- As famílias são desinformadas sobre surdez. 
h- Vêem os surdos como deficientes ou retardados mentais. 
 
5- Identidades surdas de DIÁSPORA - estão presentes em surdos 
que viajam muito ou de um grupo de surdo para outro. 
 
6- Identidades INTERMEDIÀRIAS - são surdos onde a mensagem 
não entra totalmente pelo visual. 
a- Apresentam perda auditiva. 
b- Vida de ouvinte. 
c- Usam aparelho de audição. 
d- Treinam a fala. 
e- Buscam amplificação do som. 
f- Não são a favor dos intérpretes. 
g- Consideram os surdos menos dotados e não entendem a 
necessidade da LIBRAS. 
h- Oscilam entre o mundo surdo e ouvinte e por isso possuem 
dificuldade de encontrar-se enquanto identidade. 
 
Estas diferenças precisam ser respeitadas, um surdo pode durante a sua 
vida oscilar entre essas identidades por conta de sua condição familiar, 
vivência e aprendizagem, acesso à Língua de Sinais ou não. Enfim, vários 
 Língua Brasileira de Sinais 41 
 
 
fatores que deverão conduzi-lo também a um padrão de comportamento e ao 
engajamento na comunidade surda ou à sua rejeição. 
 
Ao final deste item o aluno deverá: 
1- Conhecer as identidades surdas; 
2- Perceber o que caracteriza a cultura surda e 
3- Conhecer o que é uma comunidade surda e as 
características que formam os tipos de identidade dessa 
comunidade. 
 
Esperamos que você tenha conseguido uma 
compreensão satisfatória sobre a identidade e a cultura 
surda, e após refletir sobre as questões acima, sugerimos 
um Fórum para troca de informações sobre o que você 
entendeu desse universo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 43 
 
 
UNIDADE II – SUBUNIDADE I 
 
A Diferença entre Alfabeto Manual e Soletração Rítmica 
As línguas de sinais têm características próprias e por isso 
existem sistemas de convenções para escrevê-las, mas 
como geralmente exigem um período de estudo para 
serem aprendidos, utilizaremos em nosso estudo um “Sistema de notação de 
palavras”. 
Este sistema, que vem sendo adotado por pesquisadores de línguas de 
sinais em outros países e aqui no Brasil, tem este nome porque as palavras de 
uma língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os 
sinais. 
Assim, em nosso estudo, a LIBRAS será representada a partir das 
seguintes convenções: 
 
1- Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação,serão 
representados por itens lexicais da Língua Portuguesa (LP): letras 
maiúsculas. 
Exemplos: CASA, ESTUDAR, CRIANÇA. 
2- Um sinal que é traduzido por duas ou mais palavras em língua 
portuguesa, será representado pelas palavras correspondentes 
separadas por hífen. 
Exemplos: CORTAR-COM-FACA “cortar”, QUERER-NÃO “não querer”, 
MEIO-DIA “meio-dia”, AINDA-NÃO “ainda não”. 
 
44 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
3- Um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será 
representado por duas ou mais palavras, mas com a ideia de uma única 
coisa, serão separados pelo símbolo ^ . 
4- A datilologia (alfabeto manual), que é usada para expressar nome 
de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um 
sinal, está representada pela palavra separada letra por letra, através do 
hífen. 
Exemplos: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A; 
5- O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, 
por empréstimo, passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo 
alfabeto com uma incorporação de movimento próprio desta língua, está 
sendo representado pela soletração. Ou parte da soletração do sinal em 
itálico. 
Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, N-U-N-C-A, C-H-O-P-P; 
6- Na LIBRAS não há desinências para gênero (masculino e 
feminino). O sinal, representado por palavra da língua portuguesa que 
possui marca de gênero, está terminado com o símbolo @ para reforçar 
a ideia de ausência e não haver confusão. 
Exemplos: AMIG@ ” amigo ou amiga”, FRI@ “frio ou fria”, MUIT@ “muito 
ou muita”, TOD@ “toda ou todo”, El@ ”ela ou ele”, ME@ “minha ou meu”; 
7- Os traços não-manuais: as expressões facial e corporal, que são 
feitas simultaneamente com um sinal, estão representadas acima do 
sinal ao qual está acrescentando alguma ideia, que pode ser em relação 
ao: 
 Tipo de frase: interrogativa (i), negativa (neg). 
Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas 
exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na escrita das 
línguas orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?! 
 
 Língua Brasileira de Sinais 45 
 
 
8- As pessoas gramaticais estão representadas pelo numeral e letra 
correspondente: 
Exemplos: 1s, 2s, 3s = 1ª, 2ª, 3ª pessoas do singular; 
 1d, 2d , 3d = 1a, 2a, 3a pessoas do dual; 
 1p, 2p, 3p = 1ª, 2ª, 3ª pessoas do plural; 
 
Exemplos: 1s DAR 2s ”eu dou para você” 
 
9- Na LIBRAS não há desinência que indique plural. Às vezes há 
uma marca de plural pela repetição do sinal ou alongamento do 
movimento. Esta marca será representada por uma cruz no lado direito 
acima do sinal que está sendo repetido: 
 
 
 
 
Estas convenções foram utilizadas para poder representar, linearmente, 
uma língua viso-espacial, que é tridimensional. 
 
 
 
46 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
UNIDADE II - SUBUNIDADE II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Configuração de mão 
Ponto de articulação 
Movimento 
Orientação 
 
 Língua Brasileira de Sinais 47 
 
 
Configuração da mão (CM): é a forma que a mão assume durante a 
realização de um sinal. Pelas pesquisas linguísticas, foi comprovado que na 
LIBRAS existem 43 configurações das mãos (Quadro I), sendo que o alfabeto 
manual utiliza apenas 26 destas para representar as letras. 
Exemplo.: 
CM [S] 
 
 
 
 Ponto de articulação (PA): é o lugar do corpo onde será realizado o 
sinal. 
Exemplo: 
 
 
 
48 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Movimento (M): é o deslocamentoda mão no espaço durante a 
realização do sinal. 
Exemplo: 
 
Orientação/direcionalidade: os sinais têm uma direcionalidade com 
relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos IR e VIR se opõem em 
relação à direcionalidade, como os verbos SUBIR e DESCER, ACENDER e 
APAGAR, ABRIR-PORTA e FECHAR-PORTA. 
Exemplo: 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 49 
 
 
Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro 
parâmetros mencionados acima, em sua configuração, têm como traço 
diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais 
ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha, como 
LADRÃO, ATO-SEXUAL; sinais feitos com a mão e expressão facial, como o 
sinal BALA, e há ainda outros sinais. 
 
 
Fonte: LIBRAS em contexto (FENEIS) 
 
 
 
 
 
 
 
50 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 51 
 
 
UNIDADE III – SUBUNIDADE I 
 
Estrutura Frasal e Categorias Gramaticais da LIBRAS 
A LIBRAS é dotada de uma gramática constituída a partir 
de elementos constitutivos das palavras ou itens lexicais e 
de um léxico (o conjunto das palavras da língua), que se 
estruturam a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos que 
apresentam especificidade, mas seguem também princípios básicos gerais. 
Estes são usados na geração de estruturas linguísticas de forma produtiva, 
possibilitando a produção de um número finito de regras. É dotada também de 
componentes pragmáticos convencionais, pragmáticos que permitem a 
geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não 
literais. Estes princípios regem também o uso adequado das estruturas 
linguísticas da LIBRAS, isto é, permitem aos seus usuários usar estruturas nos 
diferentes contextos que se lhes apresentam, de forma a corresponder as 
diversas funções linguísticas que emergem da interação do dia a dia e dos 
outros tipos de uso da língua.1
FORMAÇÃO DE ITENS LEXICAIS OU SINAIS A PARTIR DE 
MORFEMAS 
 
 
MORFEMAS LEXICAIS E MORFEMAS GRAMATICAIS: 
 
Em português, as palavras são constituídas por morfemas que têm sua 
origem no morfema lexical, como por exemplo: bala, possível. Podemos passar 
a palavra bala para o plural acrescentando o s, desta forma teremos o morfema 
 
1 Definição copilada do livro: Programa de Capacitação de Recursos Humanos do 
Ensino Fundamental- Língua Brasileira de Sinais – Volume III, organizado por Lucinda Ferreira 
Brito. 
52 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
gramatical, assim como podemos acrescentar o prefixo im na palavra possível 
e teremos um morfema gramatical de negação. Em LIBRAS, nem sempre os 
morfemas que formam as palavras são equivalentes aos do português. 
Os morfemas da LIBRAS podem ser ilustrados da seguinte maneira: 
SENTAR - movimento repetido. 
BONITO - expressão facial ~~ (marca de grau aumentativo). 
POSSÍVEL - movimento inverso das mãos (negação): IMPOSSÍVEL 
 
PODER/POSSÍVEL NÃO-PODE IMPOSSÍVEL 
 
 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 53 
 
 
UNIDADE III – SUBUNIDADE II 
 
Aspecto Verbal da LIBRAS 
A LIBRAS, assim como várias línguas orais e de sinais, 
modula o movimento dos sinais para distinguir entre os 
aspectos pontual, continuativo ou durativo e iterativo. 
O aspecto pontual se caracteriza por se referir a uma ação ou evento 
ocorrido e terminado em algum ponto bem definido no passado. Em português, 
quando dizemos “ele falou na televisão ontem”, sabemos que a ação de falar 
se deu no passado, em um período de tempo determinado, “ontem”. Em 
LIBRAS, temos um sinal FALAR para um contexto linguístico similar. Por 
exemplo, ELE FALAR VOCÊ ONTEM (=ele falou com você ontem). Entretanto, 
temos também o sinal FALAR-SEM-PARAR que se refere a uma ação que tem 
uma continuidade no tempo como no exemplo ELE FALAR-SEM-PARAR AULA 
(=ele falou sem parar durante a aula). Vejam estes dois sinais: 
 
 
 
 
 
 
 
O mesmo ocorre com o verbo OLHAR, que pode sofrer alteração em um 
ou mais de seus parâmetros e, então, denotar aspecto durativo. Os sinais 
ilustrados abaixo poderiam aparecer em contextos linguísticos como os que se 
seguem: 
54 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 
OLHAR ( Aspecto pontual) 
 
 
OLHAR (Aspecto durativo) 
O verbo VIAJAR com valor de aspecto pontual, abaixo, poderia ser 
utilizado em sentenças como PAULO VIAJAR BRASÍLIA ONTEM, enquanto 
que o sinal verbal com valor iterativo apareceria em sentenças do tipo PAULO 
VIAJAR- MUITAS-VEZES. O aspecto iterativo refere-se à ação ou o evento que 
se dá repetidas vezes. Vejamos os sinais abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 55 
 
 
Esse tipo de afixação que encontramos na LIBRAS, através da alteração 
do movimento, da configuração de mão e/ou do ponto de articulação do verbo, 
que seria considerado raiz ou radical, não é encontrado em português. 
 
Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo 
A LIBRAS não tem em suas formas verbais a marca de 
tempo como o português. Como vimos, essas formas 
podem se modular para aspecto. Algumas delas também 
se flexionam para número e pessoa. Dessa forma, quando o verbo refere-se a 
um tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou 
do evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ, 
HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Com isso, não há risco de 
ambiguidade porque se sabe que se o que está sendo narrado iniciou-se com 
uma marca no passado, enquanto não aparecer outro item ou sinal para 
marcar outro tempo, tudo será interpretado como tendo ocorrido no passado. 
Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vêm seguidos de 
uma marca de passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para 
trás, para o passado; Movimento para frente, para o futuro; e Movimento no 
plano do corpo, para presente. Alguns desses sinais, entretanto, incorporam 
essa marca de tempo não requerendo, pois, uma marca isolada como é o caso 
dos sinais ONTEM e ANTEONTEM ilustrados a seguir: 
 
 
 
 
 
 
56 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Outros sinais, como ANO, requerem o acompanhamento de um sinal de 
futuro ou de presente, mas quando se trata de passado, ele sofre uma 
alteração na direção do movimento de para frente para trás e, por si só já 
significa ‘ano passado’. Os sinais de ANO e ANO-PASSADO podem ser 
observados nas ilustrações que se seguem: 
 
 
 
 
 
 
 
Quantificação e Intensidade: 
A quantificação é obtida em LIBRAS através do uso de 
quantificadores como MUITO, mas incorporar a 
quantificação, prescinde pois, o uso desse tipo de palavras. 
Assim, podemos observar nos exemplos com o verbo OLHAR, acima ilustrado, 
que o olhar pontual é realizado com apenas um dedo estendido enquanto que 
os outros dois sinais são realizados com as mãos abertas, ou seja, com os 
dedos estendidos. Dessa forma, esse tipo de alteração do parâmentro 
Configuração de Mão iconicamente representa uma maior intensidade na ação 
(FICAR-OLHANDO-LONGAMENTE) ou um maior número de referentes 
sujeitos (TODOS-FICAR-OLHANDO). Essa mudança de configuração de 
mãos, aumentando-se o número de dedos estendidos para significar uma 
quantidade maior pode ser ilustrada pelos sinais UMA-VEZ, DUAS-VEZES, 
TRÊS-VEZES: 
 
 Língua Brasileira de Sinais 57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Às vezes, alongando-se o movimento dos sinais e imprimindo-se a ele 
um ritmo mais acelerado, obtem-se uma maior intensidade ou quantidade. Isto 
é o que ocorre com os sinais FALAR e FALAR-SEM-PARAR, exemplificados 
acima, e com os sinais LONGE e MUITO-LONGE, ilustrados abaixo: 
 
 
 
 
 
 
Como se pode observar, os mecanismos espaciais utilizados pela 
LIBRAS para obter significados e efeitos de sentido distinguem-se daqueles 
utilizados pela Língua Portuguesa. Nesta, as formas ou marcas são muito mais 
arbitrárias e se apresentam em forma de segmentos sequencialmenteacrescentados ao item ou palavra modificada. Em LIBRAS, ocorre com muita 
frequência uma mudança interna, isto é, uma alteração no interior da própria 
palavra. 
 
58 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
Para o aprendizado da LIBRAS se concretizar de maneira 
efetiva, se faz necessário o contato com um surdo adulto 
usuário de LIBRAS e o exercício constante desta língua. 
Em nossos encontros presenciais teremos oportunidade de 
esclarecer e praticar o que aprendemos nesta unidade. 
 
Sugerimos para uma leitura complementar os livros: 
SACKS, O. Vendo Vozes. Rio de Janeiro: Imago, 
1990. 
Este livro aborda toda a história do Surdo e a criação da única 
Universidade do mundo para Surdos. 
SOUZA, R. M. Que Palavra que te falta? São Paulo: Editora Martins 
Fontes. 1998. 
Esta obra é escrita em tom poético e faz uma relação improvável entre 
Backtin e Focault e questiona o que falta a nós ou aos surdos para aceitarmos 
as diferenças. 
 
Será interessante você assistir ao filme Os Filhos do 
Silêncio, que mostra com clareza o mundo do surdo com 
todas as suas dificuldades em pertencer e compreender o 
nosso mundo tão sonoro e cheio de palavras que muitas 
vezes não dizem nada, bastando apenas um SINAL. 
 
 Língua Brasileira de Sinais 59 
 
 
 
A internet é o melhor recurso para você exercitar a 
LIBRAS, pois, por ser visual e ter em sua gramática 
movimento, no vídeo, você poderá experimentar e praticar 
o que leu quando abordamos a gramática de LIBRAS. 
Entre no site: www.libras.com.br 
Para lições de LIBRAS: www.youtube.com.br; lição de libras; frases; 
diálogos. 
Para conhecer a cultura surda: www.surdosol.com.br 
 
Enfim, mais uma etapa vencida! Até nosso próximo encontro! 
 
 
 
 
60 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 61 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
 
BERNARDINO, E. L. Absurdo ou lógica?: a produção linguística do 
surdo. Belo Horizonte: Editora Profetizando Vida, 2000. 
 
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Língua Brasileira de Sinais. 
Brasília:SEESP, 1998. 
 
FOURGONT, F. Historia da pedagogia dos surdos: Curso de 
Preparação para Professores do Instituto Nacional de Surdos de Paris. 1957. 
 
MOURA, M. C. de , O surdo: caminhos para uma nova identidade, Rio 
de Janeiro: Ed. Revinter, 2000. 
 
REALI, G. História da filosofia. São Paulo: Ed. Paulus, 1990. v. 3 
 
SÀ, N. R. L. de. Cultura, poder e educação dos surdos. São Paulo: 
Paulinas, 2006. 
 
SACKS, O. Vendo Vozes. Rio de Janeiro: Imago, 1990. 
SOUZA, R. M. Que Palavra que te falta? São Paulo: Editora Martins 
Fontes. 1998. 
62 Língua Brasileira de Sinais 
 
 
WILCOX, S.; WILCOX, P. Aprender a ver. Tradução por Tarcísio Leite. 
Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005. 
 
SITES: 
 
• www.feneis.org.br 
• www.insitutosantateresinha.org.br 
• www.ines.org.br 
• http://media.photobucket.com 
• www.arara-azul.org.br 
 
 
 Língua Brasileira de Sinais 63 
 
 
FICHA TÉCNICA 
 
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UNIR 
Coordenação de Desenvolvimento de Material Didático, Impressos e 
Hipermídia: Maria do Socorro Beltrão Macieira 
Coordenação de Arte Final: Mirocem Beltrão Macieira 
Designer Educacional: Maria do Socorro Beltrão Macieira 
Designer Editorial: Maico Krause 
Webdesigner: Marco Aurélio Dausen 
Produção e edição audiovisual: Alexandre Souza Roque de Lima 
Revisão Ortográfica: 
– Nair Ferreira Gurgel do Amaral 
– Valdir Vegini 
– Iara Maria Telles 
– Lou-Ann Kleppa 
– Geane Valesca da Cunha Klein 
Revisão EAD-UAB: 
- Erislene Lacerda 
- Giovani Mendonça Lunardi 
Revisão de Métodos e Técnicas Científicas: Perpétua Emília Pereira

Continue navegando