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adendo - o crime

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
Componente Curricular: Narrativa da literatura portuguesa
Docente: Anacã
Discente: Hellen Leandra Oliveira
Diário de leitura : "O crime do Padre Amaro" - (adendo)
	"Eu não preciso dos padres no mundo, porque não preciso do Deus do Céu. Isto quer dizer, meu rapaz, que tenho o meu Deus dentro de mim, isto é, o princípio que dirige as minhas ações e os meus juízos. Vulgo Consciência... Talvez não compreendas bem... O fato é que estou aqui a expor doutrinas subversivas... E realmente são três horas..." (pág 177). Este momento da obra me chama muita atenção, porque diante de tantas questões em torno do que seria “Deus”, a obra nos traz como um percepção extremente realista, pois ao acreditarmos na existência de Deus, temos ciência de que Ele dirige os nossos passos, e nós percebemos isto com a própria clareza da nossa consciência sobre os fatos que nos levam a acreditar nisso mesmo que em determinados momentos nós não compreendamos.
	"O seu amor era, pois uma infração canônica, não um pecado da alma: podia desagradar ao senhor chantre, não a Deus; seria legitimo num sacerdócio de regra mais humana”. (pág.107) Eu percebi através desse trecho que o fato dele sentir algo que era humanamente "errado" para o sacerdócio e que poderia ser um pecado para a doutrina da igreja, não era errado para Deus, porque as doutrinas impostas tratavam-se das leis dos homens e não da divindade, ou seja, o amor de Amaro sendo tão natural tanto quanto o de Jesus, o vê como algo dado por Deus, já que na própria bíblia diz que Deus é amor! Nesse sentido, eu conclui que foram os homens que impuseram o seu “poder” por meio da religião e da doutrina criando um "deus" como imagem de um “homem ideal” ​que eles mesmos vivem, mas impõem aos outros como forma de "controle" mantendo assim o monopólio o qual era tão importante na época e que dura até hoje.
	Pude perceber durante a narrativa tanto na descrição dos espaços como na Igreja, a fachada da fazenda na Ricoça que Natário manda pintar, até mesmo o ornamento dos santos, como também nos encontros dos personagens na casa da S. Joaneira entre outras situações, uma grande exploração do “luxo”, como dos pecados capitais: a gula, a avareza, a luxuria, a ira, a inveja a preguiça, a vaidade. A lúxuria sendo o mais enfatizado pelo autor percorre do desejo sexual ao bem material, a gula está presente desde o início com o antigo pároco de Leiria que havia morrido e vai até todos os banquetes na cada de S. Joaneira, como na própria solidão de Amaro quando alguns vão à praia e Amélia está em Ricoça, ele se refugia na comida; a raiva e a punição que o Padre Natário busca para João Eduardo por conta do comunicado é representado de maneira explícita, a Ira, bem como os momentos de ciúme tanto de João Eduardo como de Amaro; a preguiça é expressa pelo sacristão que cumpre suas responsabilidades sem vontade; a inveja que todos tem pelos diversos santos que possui a irmã do cônego Dias, e a vaidade de Amélia “Deus era seu luxo” que usava a "devoção" como meio também de explorar a sua beleza, o seu desejo. 
	"Era médico de todas as amigas da casa que, apesar de se escandalizarem com a sua irreligião, dependiam humildemente da sua ciência (p.172):" Nesse trecho percebi que a presença da ciência é muito importante, até mesmo para os "fiéis" demonstram através das suas atitudes que a fé não era motivo suficiente para uma cura, para isto, era necessário a presença da ciência, pois a fé torna-se insuficiente para as demandas humanas principalmente fisiológicas, por isso há neste pequeno trecho o reconhecimento das próprias "fiéis" da importância da ciência para cura das enfermidades, o que na verdade deve ser levado em consideração.
	"E na Misericórdia, ao lado, o piar das corujas no silêncio dava-lhe uma sensação de ruína, de solidão e de fim eterno." (p.276). Eu percebi neste momento, a saída de todos da casa da S. Joaneira e da rua da Misericórdia , como uma analogia, a própria vida desviada de todas as personagens, saíram da “Misericórdia”, pois agora não a merecem. 
	"E ali ficara, entre gente pobre, numa aldeia de terra escassa, vivendo de dois pedaços de pão e uma chávena de leite, com uma batina limpa onde os remendos faziam um mapa, precipitando-se a uma meia légua por um temporal desfeito se um paroquiano tinha uma dor de dentes, passando uma hora a consolar uma velha z quem tinha morrido uma cabra... E sempre de bom humor, sempre com um cruzado no fundo do bolso dos calções para uma necessidade do seu vizinho, grande amigo de todos os rapazitos a quem fazia botes de cortiça, e não duvidando parar, se encontrava uma rapariga bonita, o que era raro na freguesia, e exclamar: "Linda moça, Deus a abençoe!" (pág .285). Pra mim, particularmente, o abade é o único exemplo de sacerdote justo, o qual faz tudo sem esperar nada em troca, vive humildemente junto aos fiéis, chegando a ser até rejeitado, como também apesar de representar a fé, consegue ter laços com o doutor, discutindo questões sobre a própria existência, com respeito por aquilo que o outro acredita. 
	“A Sra. D. Maria da Assunção declarou que todas essas minas, essas máquinas estrangeiras lhe causavam medo. Vira uma fábrica ao pé de Alcobaça, e parecera-lhe uma imagem do inferno. Estava certa que Nosso Senhor não as via com bons olhos”... (p.225). "Encontrou uma mulher, alta e lúgubre como um cipreste, carregada de luto: um grande lenço negro tingido, muito puxado para a testa, dava-lhe um ar de farricoco; e a sua voz gemebunda tinha uma tristeza de dobre a finados. O homem pareceu-lhe ainda pior, semelhante a um orangotango, com duas orelhas enormes muito despegadas do crânio, uma saliência bestial do queixo, as gengivas deslavadas, um corpo desengonçado de tísico, de peito metido para dentro. Abalou bem depressa, foi ver o pomar: andava maltratado; as ruazitas estavam invadidas por um ervaçal úmido; e a sombra das árvores muito juntas, num terreno baixo, cercado de altos muros, dava uma sensação doentia”. (p.282). É bem notório na obra e através destes trechos que há a presença do avanço industrial o qual ameaça o sistema que tem o clero como centro, abrindo brechas para uma nova potencia que tem como centro a burguesia, o desenvolvimento científico. Tanto a imagem das fábricas, como a descrição dos criados no segundo trecho representam justamente o movimento realista ao mostrar o que acontecia e como acontecia, a partir também dessas classes baixas que servem. 
	O que eu percebi e que me deixou irritada também foi que a "imposição" da religião cristã é bem representada no livro de Eça de Queirós no dialogo entre o doutor Gouveia e o abade Ferrão após o parto de Amélia, em que discutem a cerca do futuro da criança e o doutor diz “A Igreja, [...] começa, quando a pobre criatura ainda nem tem sequer consciência da vida, por lhe impor uma religião” (pág .327) infelizmente por atitudes e pensamentos como estes, a criança e a própria Amélia tiveram que morrer e como se não bastasse, o que deveria ser utilizado como conscientização, foi considerado como algo "normal" como se nada tivesse acontecido, principalmene quando se trata de Amaro!

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