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CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO AULA 1 NEGÓCIO JURÍDICO ESPÉCIES, MANIFESTAÇÃO DA VONTADE, VÍCIOS DA VONTADE, DEFEITOS E INVALIDADE. FORMAS DO ATO JURÍDICO. No final da aula demonstrativa foi dito que o NEGÓCIO JURÍDICO é o ato de autonomia de vontade, com a qual o particular regula por si os próprios interesses, logo, podemos afirmar que a sua essência é a auto-regulação dos interesses particulares reconhecida pelo ordenamento jurídico. O Código Civil dedica especial tratamento aos negócios jurídicos (arts. 104 a 184 do CC). Entretanto, não basta a simples leitura dos dispositivos ora citados para acertar as questões do concurso, tendo em vista que o assunto é "recheado" de conceitos doutrinários. Dessa forma, irei abordar o assunto associando os artigos mais cobrados em prova com a teoria desenvolvida pela doutrina sempre focalizando no nosso objetivo: acertar a questão e ser aprovado. São diversas as classificações do negócio jurídico, por isso, irei comentar as principais: 1) Quanto às vantagens que produzem: os negócios jurídicos podem ser gratuitos, onerosos, bifrontes e neutros. - gratuito: as partes objetivam benefício ou enriquecimento patrimonial sem qualquer contraprestação (ex: doação - a parte que recebe a doação não realiza uma contraprestação.); - oneroso: as objetivam, reciprocamente, obter vantagens para si ou para outrem (ex: compra e venda - deve-se pagar o preço para se obter a coisa.); Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 1 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO - bifronte: pode ser gratuito ou oneroso, de acordo com a vontade das partes (ex: o depósito - se eu peço para o meu vizinho guardar meu carro enquanto eu viajo, o depósito pode ser pago ou não.); e - neutro: lhe falta uma atribuição patrimonial, pois consiste em atribuir a um bem uma destinação específica (ex: ato de instituição de bem de família, vincular bens com cláusula de incomunicabilidade ou inalienabilidade, etc.). 2) Quanto às formalidades: os negócios jurídicos podem ser solenes ou não solenes. - solene: requer para a sua existência uma forma especial prescrita em lei (ex: testamento); e - não solene: não exige forma legal para que ocorra a sua efetivação (ex: compra e venda de bem móvel). 3) Quanto ao conteúdo: os negócios jurídicos podem ser patrimoniais ou extrapatrimoniais. - patrimonial: versa sobre questões suscetíveis de aferição econômica (ex: compra e venda); e - extrapatrimonial: versa sobre questões não suscetíveis de aferição econômica (ex: questões relacionadas aos direitos personalíssimos e ao direito de família). 4) Quanto à manifestação de vontade: os negócios jurídicos podem ser unilaterais, bilaterais ou plurilaterais. - unilateral: o ato volitivo (declaração de vontade) provém de um ou mais sujeitos, desde que estejam no mesmo pólo da relação jurídica (ex: testamento, promessa de recompensa, etc.); - bilateral ou plurilateral: a declaração volitiva emana de duas ou mais pessoas oriundas de pólos diferentes na relação jurídica. Pode ser: a) simples: quando concede benefício a uma das partes e encargo à outra (ex: doação, depósito gratuito, etc.); e b) sinalagmático: quando confere vantagens e ônus a ambos os sujeitos (ex: compra e venda, locação, etc.). Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 2 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO 5) Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos: os negócios jurídicos podem ser inter vivos ou mortis causa. - inter vivos: acarreta conseqüência jurídica enquanto o interessado ainda está vivo (ex: doação, troca, etc.); e - mortis causa: regula relações de direito após a morte do sujeito (ex: testamento, legado, etc.). 6) Quanto aos seus efeitos: os negócios jurídicos podem ser constitutivos ou declaratórios. - constitutivo: a eficácia opera efeitos ex nunc, ou seja, a partir do momento da conclusão (ex: compra e venda); e - declaratório: a eficácia opera efeitos ex tunc, ou seja, retroage e se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade (ex: divisão do condomínio, partilha, reconhecimento de filhos, etc.). 7) Quanto à sua existência: os negócios jurídicos podem ser principais e acessórios. - principal: é aquele que existe por si mesmo, independente de qualquer outro (ex: locação); e - acessório: é aquele cuja existência se subordina ao negócio principal (ex: fiança.). 8) Quanto ao exercício dos direitos: os negócios jurídicos podem ser negócios de disposição ou negócios de simples administração. - negócio de disposição: implica o exercício de amplos direitos sobre o objeto (ex: doação); e - negócio de simples administração: concerne ao exercício de direitos restritos sobre o objeto, sem que haja alteração em sua substância (ex: locação de uma casa - o inquilino não pode vender a casa, pois tem apenas a posse.). Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 3 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Não só a lei, mas o negócio jurídico também precisa ser interpretado, pois as suas cláusulas podem não ser muito claras. Nos negócios escritos parte-se da declaração de vontade escrita para se chegar à vontade dos contratantes. Entretanto, quando uma determinada cláusula se mostra obscura e passível de dúvida, alegando um dos contratantes que não representa fielmente a vontade manifestada por ocasião da celebração do negócio, temos que a vontade prevalece sobre o sentido literal da linguagem, nos moldes do art. 112 do CC. Art. 112 do CC - Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Já o art. 113 do CC ressalta que os intérpretes devem presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação ocorreram dentro da regra da boa-fé. Art. 113 do CC - Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. O art. 114 do CC trata dos negócios benéficos ou gratuitos, ou seja, quando apenas um dos contratantes assume obrigações. Um exemplo clássico é a doação que, por representar uma renúncia de direitos, deve ser interpretada estritamente. Art. 114 do CC - Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Existem ainda outros artigos espalhados pelo Código Civil e pela Legislação Especial que estabelecem regras de interpretação, mas esses são os principais. O negócio jurídico para existir e ser válido carece de quatro elementos essenciais. Os três apontados no art. 104 do CC (agente, objeto e forma) Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 4 INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO são elementos objetivos, ao passo que a vontade é um elemento subjetivo. A conjugação dos elementos objetivos com o elemento subjetivo atribui vida ao ato negocial. Art. 104 do CC - A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. Os elementos acidentais (condição, termo e encargo) não são necessários para um negócio jurídico exista e seja válido, porém, podem subordinar a eficácia do negócio jurídico a uma determinada situação. Dessa forma, a tabela a seguir permite uma visão geral sobre os elementos do negócio jurídico.ELEMENTOS ESSENCIAIS ELEMENTOS ACIDENTAIS EXISTÊNCIA VALIDADE EFICÁCIA EXISTÊNCIA NULO ANULÁVEL VÁLIDO EFICÁCIA AGENTE Absolutamente incapaz. Relativamente incapaz. Plenamente capaz. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO OBJETO Ilícito, impossível, indeterminado e indeterminável. Lícito, possível, determinado ou determinável. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO FORMA Inobservância de lei. Prescrita ou não proibida por lei. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO VONTADE Simulação, coação física*. Erro substancial, dolo essencial, coação moral, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Livre, de boa- fé e consciente. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 5 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO *posição não pacífica na doutrina. Alguns autores defendem que a coação física irresistível acarreta a inexistência do negócio jurídico; outros dizem que ela provoca a nulidade absoluta do ato negocial. Dentre os elementos essenciais, são comuns a todos os negócios jurídicos a capacidade do agente, o objeto lícito possível e determinado, além da vontade (consentimento); ao passo que a forma do ato jurídico e a prova do ato negocial (estudada no fim da aula) são elementos essenciais particulares, pois podem variar de acordo com a natureza de cada negócio jurídico. Segue tabela: ELEMENTOS ESSENCIAIS COMUNS agente, objeto e vontade (consentimento). ELEMENTOS ESSENCIAIS PARTICULARES forma e prova do ato negocial. ELEMENTOS ACIDENTAIS condição, termo e encargo. O agente é o primeiro elemento objetivo e, para o negócio jurídico ser válido, a pessoa que o celebra deve ser plenamente capaz. Caso contrário o negócio jurídico pode ser nulo (nulidade absoluta) no caso de ser celebrado por pessoa absolutamente incapaz sem a devida representação ou anulável (nulidade relativa) no caso do agente ser relativamente capaz e não houver a devida assistência. Entretanto, é interessante a citação do art. 180 do CC. Art. 180 do CC - O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. O menor, entre dezesseis e dezoito anos não poderá invocar a proteção legal em favor de sua incapacidade para eximir-se da obrigação ou para anular um ato negocial que tenha praticado, sem a devida assistência, se agiu dolosamente, escondendo sua idade, quando inquirido pela outra parte, ou se espontaneamente se declarou maior. Conclui-se que, em tais circunstancias, o menor relativamente incapaz não pode alegar sua menoridade para escapar da obrigação contraída. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 6 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO No que tange ao objeto, para o negócio jurídico ser válido, o objeto deve ser lícito (de acordo com a lei, moral, ordem pública e bons costumes - ex: é vedado o contrato de herança de pessoa viva pelo art. 426 do CC); deve ser possível (ex: não pode ser objeto de contrato uma viagem para júpiter); e determinado (individualizado) ou, ao menos, determinável - passível de individualização em um momento futuro (ex: não se pode comprar um animal sem especificar a espécie). Caso contrário, o negócio jurídico será nulo. A forma é o meio de exteriorização da vontade. Quando observada quanto à disponibilidade e considerando o conjunto de exigências e permissões legais que a envolves, a forma pode ser: 1) Forma livre ou geral: é a regra adotada pelo art. 107 do CC. Em regra os negócios jurídicos são informais, podendo os agentes adotar a forma que bem lhes aprouver (princípio da liberalidade das formas). Os negócios jurídicos, cujo valor não exceda a dez vezes o valor do salário mínimo vigente poderão ser verbais, sendo que para efeito de prova serão indispensáveis as testemunhas do ato (art. 227 do CC). Art. 107 do CC - A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Art. 227 do CC - Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. 2) Forma especial ou solene: é aquela que, por lei, não pode ser preterida por outra; logicamente, como já foi dito, não constitui a regra. Pode se apresentar sob três tipos: 2.1) Forma especial ou solene única: neste tipo a lei prevê uma formalidade essencial e não admite qualquer outra configuração, como é o caso dos arts. 108, 1.227, 1.245 e 1.653 do CC. - No art. 108 do CC, temos que, salvo disposição legal em contrário, os negócios jurídicos que versem sobre bens imóveis e superem o valor de 30 salários mínimos devem ser realizados sobre a forma de escritura pública. Art. 108 do CC - Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 7 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. - Nos arts. 1.227 e 1.245 do CC, temos a base legal para o brocado: "quem não registra não é dono", que se refere aos bens imóveis. Art. 1.227 do CC - Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código. Art. 1.245 do CC - Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. - No art. 1.653 do CC, percebemos que o pacto antenupcial, documento que define o regime de bens de um casamento, deve ser celebrado sob a forma de escritura pública. Art. 1.653 do CC - É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento. 2.2) Forma Plural: as vezes a lei faculta a prática do ato negocial mediante duas ou mais formas prescritas, como na instituição do bem de família e na instituição de uma fundação que podem ser por escritura pública ou testamento (arts. 62 e 1.711 do CC). Art. 62 do CC - Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Art. 1.711 do CC - Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 8 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO 2.3) Forma genérica: segundo a Profa. Maria Helena Diniz, tal forma "implica uma solenidade mais geral, imposta pela norma jurídica". Caracteriza-sepor um conjunto de elementos escritos tal como ocorre no contrato de empreitada (art. 619 do CC). Para exigir aumento no preço, motivado por mudança nas especificações da obra, o empreiteiro deverá comprovar o alegado mediante documentação das instruções recebidas do contratante. Art. 619 do CC - Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra. 3) Forma contratual: é a que resulta da convenção das partes. Como exemplo, o art. 109 do CC faz entender que o negócio jurídico de forma livre pode ser transformado em solene pelas partes. Art. 109 do CC - No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato. Graficamente temos o seguinte: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 9 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO O elemento que trata da vontade será estudado em um tópico específico que possui como título: defeitos do negócio jurídico. A seguir, trataremos dos elementos acidentais do negócio jurídico: a condição, o termo e o encargo ou modo. A condição é uma cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Dessa forma, para que se configure o negócio condicional são necessários dois requisitos: a futuridade e a incerteza. Ou seja, não se considera condição o fato passado ou presente, mas somente o futuro. Como exemplo, temos a promessa de R$ 1.000,00 de uma pessoa a outra, caso o Flamengo seja campeão da Copa Libertadores 2010. O negócio em questão é futuro (só saberemos o campeão em agosto de 2010) e incerto (pode ser campeão ou não), por isso, configura-se uma condição. Art. 121 do CC - Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Existem diversas classificações para as condições. As principais são: I) Quanto ao modo de atuação, as condições podem ser: suspensivas ou resolutivas. - Condição suspensiva: as partes protelam, temporariamente, a eficácia do ato negocial até a realização do evento futuro e incerto. Ex: te dou um carro se você ganhar o jogo de futebol. Art. 125 do CC - Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 10 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Exemplos de condições suspensivas citados pela Profa. Maria Helena Diniz: a) comprarei seu quadro se ele for aceito numa exposição internacional; b) adquirirei o cavalo "Fogo Branco" se ele vencer a corrida no Grande Prêmio promovido, daqui a três meses, pelo Jockey Club de São Paulo; e c) doarei meu apartamento se você casar. - Condição resolutiva: a ocorrência do evento futuro e incerto resolve (extingue) o direito transferido pelo negócio jurídico. Ex: te dou uma "mesada" enquanto você estudar. Art. 127 do CC - Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. Exemplos de condições resolutivas citados pela Profa. Maria Helena Diniz: a) constituo uma renda em seu favor, enquanto você estudar; b) cedo-lhe esta casa, para que nela resida, enquanto for solteiro; e c) compro-lhe esta fazenda, sob a condição do contrato se resolver se gear nos próximos três anos. II) Quanto à participação da vontade dos sujeitos, as condições podem ser: causais, potestativas, mistas e promíscuas. - Condições causais: são as que dependem do acaso, de um acontecimento fortuito ou de força maior, ou seja, de um fato alheio à vontade das partes. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 11 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Ex: Dar-te-ei uma jóia se chover amanhã. - Condições potestativas: são as que decorrem da vontade de uma das partes. Podem ser: a) Puramente potestativas: são as que se sujeitam ao puro arbítrio de uma das partes, valendo dizer que a sua ocorrência depende exclusivamente da vontade da pessoa, independente de qualquer fator externo. Nos termos do art. 122, 2a parte, do CC, tais condições são ilícitas. Ex: Dar-te-ei determinada quantia em dinheiro o dia em que eu vestir meu terno cinza. Art. 122 do CC - São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Exemplos de condições puramente potestativas citados pela Profa. Maria Helena Diniz: a) constituição de uma renda em seu favor se você vestir tal roupa amanhã; e b) aposição de cláusula que, em contrato de mútuo, dê ao credor poder unilateral de provocar o vencimento antecipado da dívida, diante de simples circunstância de romper-se o vínculo empregatício entre as partes. b) Simplesmente potestativas: são as que se sujeitam à vontade de uma das partes conjugada com fatores externos que escapam ao seu controle. Ou seja, além do arbítrio, exige-se uma atuação especial do sujeito. Ex: Dar-te-ei dois mil reais no dia que eu conseguir viajar para a Europa. Para tal viagem se realizar depende de tempo e dinheiro, não ficando, então, a condição sujeita ao arbítrio exclusivo de uma pessoa. Exemplos de condições simplesmente potestativas citados pela Profa. Maria Helena Diniz: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 12 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO a) doação a um cantor de ópera, condicionada ao fato de desempenhar bem um determinado papel; e b) comodato (empréstimo) de casa a alguém se for até Paris para inscrever-se num concurso de artes plásticas. - Condições mistas: são as que dependem, simultaneamente, da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro. Ex: Dar-te-ei dois mil reais se casares com Maria. Exemplo de condição mista citado pela Profa. Maria Helena Diniz: Dar-lhe-ei este apartamento se você casar com Paulo antes de sua formatura, ou se constituir sociedade com João. - Condições promíscuas: é a que se caracteriza no momento inicial como potestativa, vindo a perder tal característica por fato superveniente alheio à vontade do agente, que venha a dificultar sua realização. Exemplo de condição promíscua citado pela Profa. Maria Helena Diniz: dar-lhe-ei dois mil reais se você, campeão de futebol, jogar no próximo torneio. A condição em questão passará a ser promíscua se o jogador vier a machucar a perna. III) Quanto à possibilidade as condições podem ser possíveis e impossíveis. Além disso, subdividem-se em fisicamente ou juridicamente possíveis ou impossíveis. - Condições fisicamente impossíveis: são as que contrariam as leis da natureza. Ex: colocar toda a água do oceano em um copo. - Condições juridicamente impossíveis: são a que contrariam a ordem legal. Ex: negócio jurídico que tenha por objeto herança de pessoa viva (ver art. 426 do CC). Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 13 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Art. 426 do CC - Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. - Condições fisicamente possíveis: sãoas que não contrariam as leis da natureza. - Condições juridicamente possíveis: são a que não contrariam a lei, a ordem pública ou os bons costumes. É interessante fazer uma observação sobre as condições impossíveis com base nos art. 123, I e 124 do CC. Art. 123 do CC - Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; Art. 124 do CC - Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. Dependendo do tipo de condição impossível temos efeitos distintos para o negócio jurídico: - Condição impossível suspensiva: invalida o negócio jurídico (nulidade absoluta), pois o evento futuro e incerto nunca vai ocorrer e o negócio nunca vai produzir efeitos; Ex: Vou te dar uma "mesada" quando o Congresso Nacional (CN) suprimir da Constituição Federal (CF) o direito à vida. - Condição impossível resolutiva: considera-se inexistente a condição, pois ela nunca vai ocorrer e, consequentemente, o negócio continuará produzindo efeitos. Ex: Vou te dar uma "mesada", mas a cancelarei se o Congresso Nacional (CN) suprimir da Constituição Federal (CF) o direito à vida. Como o direito à vida é uma cláusula pétrea nunca haverá tal supressão. IV) Quanto à licitude, as condições podem ser: lícitas e ilícitas. - Condições lícitas: quando o evento que a constitui não for contrário à lei, à ordem pública, à moral e aos bons costumes. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 14 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO - Condições ilícitas: são aquelas condenadas pela norma jurídicas, pela moral e pelos nos costumes. Exemplos de condições ilícitas citados pela Profa. Maria Helena Diniz: a) prometer uma recompensa sob a condição de alguém viver em concubinato impuro; b) entregar-se à prostituição; c) furtar certo bem; d) dispensar, se casado, os deveres de coabitação e fidelidade mútua; e e) não se casar. O termo representa o dia em começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Quando convencionado no contrato, o termo subordina o efeito do negócio jurídico a um evento futuro e certo. Ou seja, corresponde a uma data certa para iniciar ou terminar a eficácia do ato negocial. O termo pode ser: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 15 RESUMO SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES I) Quanto ao modo de atuação: suspensivas ou resolutivas. II) Quanto à participação da vontade dos sujeitos: causais, potestativas, mistas e promíscuas. III) Quanto à possibilidade: possíveis ou impossíveis (física ou juridicamente). IV) Quanto à licitude: lícitas e ilícitas. IMPORTANTE !!! CONDIÇÃO: evento futuro e incerto; TERMO: evento futuro e certo. CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO a) Inicial (dies a quo) ou suspensivo: fixa o momento em que a eficácia do negócio jurídico deve iniciar, retardando o exercício do direito. Ex: um contrato de locação celebrado no dia 20 de um mês para ter vigência no dia 1o do mês seguinte. Art. 131 do CC - O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. b) Final (dies ad quem ou ad diem) ou resolutivo: determina a data da cessação dos efeitos do ato negocial, extinguindo as obrigações dele oriundas. Ex: o contrato de locação se encerra no dia 31 de dezembro do ano que vem. c) Certo: se sefere a um evento futuro e certo de ocorrer em data certa do calendário (dia, mês e ano), ou quando fixa certo lapso de tempo. Ex: data certa - 15 de dezembro de 2009; lapso de tempo - daqui a 6 meses. d) Incerto: quando se refere a um acontecimento futuro e certo de ocorrer, que ocorrerá em data incerta. Ex: um imóvel passa a ser de outrem a partir da morte de seu proprietário. A morte é um evento certo (todos irão morrer um dia) que acontecerá em uma data incerta. O art. 132 do CC estabelece a forma de contagem dos prazos: Art. 132 do CC - Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 16 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO O encargo, também chamado de modo, é uma cláusula imposta nos negócios gratuitos, que restringe a vantagem do beneficiado. Como exemplo, temos a doação de um terreno a determinada pessoa para lá ser construído um asilo. Trata-se de uma cláusula acessória aos atos que possuem caráter de liberalidade (doações e testamentos) pelo qual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário. È admitido também em declarações unilaterais de vontade tal como uma promessa de recompensa. Pelo art. 553 do CC, concluímos que: Art. 553 do CC - O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral. Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito. Se um encargo decorrente de uma doação for de interesse geral, a exigência de seu cumprimento pode ter como origem o Ministério Público na hipótese do doador já haver morrido e ainda não ter feito tal exigência. Dispõe o art. 136 do CC que: Art. 136 do CC - O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. Dessa forma, a partir do momento em que for aberta a sucessão, o domínio e a posse dos bens transmitem-se imediatamente aos herdeiros nomeados, com a obrigação de cumprir o encargo a eles imposto. Se esse encargo não for cumprido, a liberalidade poderá ser revogada. Ou seja, se uma pessoa recebe um terreno como herança, com o encargo de construir um asilo em tal terreno, a propriedade do terreno é adquirida antes da construção do asilo, pois o encargo (construção do asilo) não suspende a aquisição do direito (propriedade do terreno). Outro dispositivo que merece uma análise é o art. 137 do CC. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 17 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Art. 137 do CC - Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. A regra é que o encargo ilícito ou impossível seja considerado não escrito, sendo mantida a validade do negócio jurídico. Porém, se o encargo ilícito ou impossível for a razão determinante da liberalidade (motivo principal do negócio), o ato negocial será invalidado. Ou seja, deve-se analisar no caso concerto se o encargo é o motivo principal ou secundário do negócio jurídico. Caso seja principal ocorre invalidade, caso seja secundário, mantém-se a validade do ato negocial. A reserva mental representa a emissão de uma declaração de vontade não desejada em seu conteúdo, tampouco em seu resultado, pois o declarante tem por único objetivo enganar o declaratário. Trata-se de um inadimplemento premeditado. O assunto é tratado no art. 110 do CC. Art. 110 do CC - A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reservamental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. De acordo com o dispositivo legal em questão, duas situações podem ocorrer: 1. Reserva mental lícita: é a reserva mental desconhecida pelo destinatário, onde o ato negocial subsistirá e o contratante deverá cumprir a obrigação assumida; e 2. Reserva mental ilícita: é a reserva mental conhecida pelo destinatário, ou seja, o destinatário sabe do inadimplemento premeditado por parte do contratante. Neste caso ocorre a invalidade do negócio jurídico. Conclui-se que o conhecimento ou não da reserva mental importa diferentes conseqüências jurídicas. RESERVA MENTAL DESCONHECIDA PELA OUTRA PARTE (LÍCITA) O ato negocial subsistirá e será válido. CONHECIDA PELA OUTRA PARTE (ILÍCITA) O ato negocial será inválido (nulidade absoluta). Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 18 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Os defeitos do negócio jurídico são imperfeições oriundas da declaração de vontade das partes acarretando nos vícios de consentimento do agente. Entretanto, há casos em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo até mesmo correspondência entre a vontade interna e sua manifestação, porém, ela se desvia da lei ou da boa-fé, violando direitos ou prejudicando terceiros, sendo, dessa forma, o negócio jurídico suscetível de invalidação. Trata-se dos vícios sociais. O erro ou ignorância é a noção falsa acerca de um objeto ou de determinada pessoa. Ocorre o erro quando o agente se engana sobre alguma coisa. Como exemplo, temos a pessoa que compra um relógio dourado, supondo que é de ouro. Para acarretar a anulação do negócio jurídico, o erro deve ser substancial. Art. 138 do CC - São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Art. 139 do CC - O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Temos dois grandes tipos de erros. O erro substancial é aquele de tal importância que, se fosse conhecida a verdade, o consentimento não se externaria. Ou seja, funciona como razão determinante para a realização do negócio jurídico e, por isso, é causa de anulabilidade. Diferente é o erro Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 19 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO: erro, dolo, lesão, estado de perigo e coação. VÍCIOS SOCIAIS: simulação e fraude contra credores. DEFEITOS E INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO acidental, onde se fosse conhecida a verdade, ainda assim o ato negocial se realizaria, embora de maneira menos onerosa. O erro acidental não provoca a anulação do negócio jurídico. Tipos de erro susbstancial (conforme o art. 139 do CC): - Erro sobre a natureza do ato negocial (error in ipso negotio): ocorre quando a pessoa que pratica determinado negócio interpreta mal a realidade e acaba praticando outro tipo de negócio. Ex: A, com a intenção de vender um imóvel a B, acaba realizando uma doação. - Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore): ocorre quando atingir o objeto principal da declaração em sua identidade , isto é, o objeto não é o pretendido pelo agente. Exs: se um contratante supõe estar adquirindo um lote de terreno de excelente localização, quando na verdade está comprando um situado em péssimo local; pensar estar adquirindo um quadro de Portinari, quando na realidade é de um outro pintor. - Erro sobre a qualidade essencial do objeto (error in corpore): ocorrerá este erro substancial quando a declaração enganosa de vontade recair sobre a qualidade essencial do objeto. Exs: se a pessoa pensa adquirir um relógio de prata que, na realidade, é de aço; adquirir um quadro a óleo, pensando ser de um pintor famoso, do qual constava o nome na tela, mas que na verdade era falso. - Erro sobre a pessoa e sobre as qualidades essenciais da pessoa (error in persona): é aquele que incide sobre a identidade ou as características da pessoa. Exs: contratar o advogado João da Silva por ser uma pessoa de notório conhecimento na área trabalhista e, na verdade, contratar um recém- formado com nome homônimo; uma moça de boa formação moral se casar com um homem, vindo a saber depois que se tratava de um desclassificado ou homossexual; fazer um testamento contemplando sua mulher com a meação de todos os bens, mas, por ocasião do cumprimento do testamento, o Tribunal verificar que a herdeira instituída não é a mulher do testador, por ser casada com outro. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 20 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO - Erro de direito (error juris): ocorre quando o agente emite uma declaração de vontade no pressuposto falso de que procede conforme a lei. Exs: "A" realiza a compra e venda internacional da mercadoria "X" sem saber que sua exportação foi proibida legalmente; "A" adquire de "B" o lote "X" ignorando que lei municipal proibia loteamento naquela localidade. A seguir temos outros tipos de erros:. O erro de cálculo é um erro acidental (não anula o ato negocial) que recai sobre dados aritméticos de uma conta. Tal erro não causa a anulabilidade do negócio jurídico, pois pode ser corrigido. Art. 143 do CC - O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. O erro quanto ao fim colimado está relacionado com o motivo do negócio e, não sendo determinante do negócio, não pode ser considerado essencial; consequentemente, não poderá acarretar a anulação do ato negocial. É o que diz o artigo 140 do CC. Art. 140 do CC - O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. O erro acidental in qualitate diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprar o lote 27 e receber o de n. 72 por erro de digitação). Tal erro não induz a anulação do ato negocial por não incidir sobre a declaração de vontade, caso seja possível, por seu contexto e pelas circunstâncias, identificar a pessoa ou a coisa. É o que diz o art. 142 do CC. Art. 142 do CC - O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. O último erro a ser estudado é o erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141 do CC) que é o erro por defeito de intermediação mecânica ou pessoal, que altera a vontade declarada na efetivação do ato negocial. Ex.: Alguém recorre a rádio, televisão, telefone etc. para transmitir uma declaração de vontade, e o veículo utilizado, devido a interrupção ou deturpação sonora, o fizer com incorreções acarretando desconformidade entre a vontade declarada e a interna. Esse tipo de erro só anula o negócio se a alteração verificada vier a prejudicar o real sentido da Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 21 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO declaração expedida. Em caso contrário, ele será insignificante e o negócio efetivado prevalecerá. Art.141 do CC - A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. O dolo é o emprego de um artifício astucioso para induzir alguém à prática de um negócio jurídico. Como exemplo, temos o vendedor que induz o cliente a acreditar que um relógio simplesmente dourado é de ouro. Observação: O erro diferencia-se do dolo. No erro a vítima se engana sozinha, ao passo que, no dolo, a vítima é enganada pela má-fé alheia. Existem vários tipos de dolo, dentre eles destacamos: a) dolo principal ou essencial (art. 145 do CC): é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando a anulabilidade do ato negocial. Além de possibilitar a anulação, o dolo essencial enseja indenização por perdas e danos. Art. 145 do CC - São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. b) dolo acidental (dolus incidens) (art. 146 do CC): é o que leva a vítima a realizar o negócio jurídico, porém em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não afetando sua declaração de vontade, embora venha provocar desvios. Não é causa de anulabilidade por não interferir diretamente na declaração de vontade, mas enseja indenização por perdas e danos. Art. 146 do CC - O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Temos o seguinte: DOLO ESSENCIAL NULIDADE RELATIVA + PERDAS E DANOS DOLO ACIDENTAL SÓ PERDAS E DANOS Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 22 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO O dolo de terceiro é aquele oriundo de uma terceira pessoa que não é parte no negócio jurídico. Só será causa de anulabilidade do negócio jurídico quando a parte beneficiada souber ou tiver a possibilidade de saber sobre a sua existência, tal como no caso de terceiro que utiliza o artifício a mando de um dos contratantes. O assunto tem como base o art. 148 do CC. Art. 148 do CC - Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. Ou seja, a anulação decorrente de dolo de terceiro depende do conhecimento da parte beneficiada. Sobre o dolo bilateral (de ambas as partes) é interessante lermos o art. 150 do CC. Art do CC - 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Conclui-se que o dolo bilateral não é capaz de anular o negócio jurídico, tampouco gerar indenização por perdas e danos. O ato negocial em que houver dolo bilateral será válido. Outro artigo interessante é o art. 149 do CC. Art. 149 do CC - O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Entende-se que o dolo utilizado pelo representante convencional (responsabilidade solidária com o representante por perdas e danos) é mais grave que o utilizado pelo representante legal (responsabilidade limitada ao proveito obtido com o dolo). Tal fato ocorre em razão da escolha do representante. No caso do representante legal (pai, mãe, tutor, curador), o representando não manifesta sua vontade, pois a pessoa é indicada por lei; entretanto, na escolha do representante convencional (mandatário ou procurador), a escolha decorre da manifestação de vontade acarretando uma maior responsabilidade na hipótese de haver dolo por parte do representante. Veja o esquema a seguir: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 23 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO DOLO DO REPRESENTANTE LEGAL Ex: pais, tutores, curadores, etc. responsabilidade do representado limitada ao proveito obtido com o dolo. DOLO DO REPRESENTANTE CONVENCIONAL Ex: procuradores, gestores de negócios, etc. responsabilidade solidária entre o representante e o representado nas perdas e danos. O dolo negativo (art. 147 do CC) é aquele resultante de uma omissão intencional para induzir um dos contratantes (conduta negativa). Pode acarretar a anulação do ato negocial se for o motivo determinante (dolo principal). Se for acidental enseja, apenas, perdas e danos. Art. 147 do CC - Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. É o que acontece quando alguém omite uma moléstia grave ao celebrar um seguro de vida. O art. 156 do CC define o que vem a ser estado de perigo. Art. 156 do CC - Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. O estado de perigo representa a assunção de uma obrigação excessivamente onerosa (exorbitante) para evitar um dano pessoal que é do conhecimento da outra parte contratante. Grosseiramente falando, o declarante de encontra diante de uma situação que deve optar entre dois males: sofrer o dano ou participar de um contrato que lhe é excessivamente oneroso. Vejamos alguns clássicos exemplos: a) doente que concorda com altos honorários exigidos pelo médico cirurgião; Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 24 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO b) venda de bens abaixo do preço para levantar o dinheiro necessário ao resgate do seqüestro do filho ou para pagar uma cirurgia médica urgente; c) promessa de recompensa ou doação de quantia vultosa feita, por um acidentado, a alguém, para que o salve, etc. A lesão é um vício de consentimento decorrente do abuso praticado em situação de desigualdade de um dos contratantes, por estar sob premente necessidade, ou por inexperiência, com o objetivo de protegê-lo diante do prejuízo sofrido na conclusão de um negócio jurídico em decorrência da desproporção existente entre as prestações das duas partes. Trata-se de um dano patrimonial. Diz o art. 157 do CC: Art. 157 do CC - Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Para exemplificar: alguém prestes a ser despejado procura um imóvel para abrigar a sua família e exercer seu negócio profissional, e o proprietário, mesmo não tendo conhecimento do fato, eleva o preço do aluguel. Ou então, a pessoa que, para evitar a falência, vende imóvel seu a preço inferior ao de mercado, em razão da falta de disponibilidade líquida para pagar seus débitos. A lesão pode ser de três tipos: enorme, especial e usurária. a) Lesão enorme: caracteriza-se pela simples desproporção entre as prestações. É o lucro exorbitante obtido por uma das partes contratantes. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 25 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITOCIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO b) Lesão especial: exige, além do lucro excessivo, a situação de necessidade ou inexperiência da parte prejudicada. É a lesão adotada pelo CC em seu art. 157. c) Lesão usurária: além do lucro excessivo e da situação de necessidade ou inexperiência da parte lesada, para se caracterizar, exige, ainda o dolo de aproveitamento, consistente na má-fé da parte beneficiada. Apesar do CC fazer referência à lesão especial, a doutrina entende suficiente a lesão enorme para que o ato negocial possa ser anulado. È o que se entende do Enunciado 290 do CJF, aprovado na IV Jornada de Direito Civil: "A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado". Para que o ato negocial esteja sujeito à anulação em razão da lesão, alguns pressupostos devem ser satisfeitos, dentre eles temos: o lucro exorbitante da outra parte e uma situação de dano patrimonial. Se houver dano pessoal não cabe a lesão, mas sim o estado de perigo. A coação é uma pressão física ou moral exercida sobre alguém para induzi-lo à prática de um determinado negócio jurídico. Trata-se de violência ou ameaça que infringe a liberdade de decisão do coagido, tornando-se mais grave que o dolo, pois este afeta apenas a inteligência da vítima. Pode ser física ou moral, mas o CC só trata da coação moral. Art. 151 do CC - A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 26 IMPORTANTE !!!! Lesão enorme: lucro exorbitante; Lesão especial: lucro exorbitante + necessidade ou inexperiência; Lesão usurária: lucro exorbitante + necessidade ou inexperiência + má-fé (dolo). CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO - Coação física (vis absoluta): ocorre quando a vontade do coagido é completamente eliminada. Ou seja, o constrangimento corporal faz com que a capacidade de querer de uma das partes seja totalmente eliminada. Segundo a Profa. Maria Helena Diniz, é uma causa de nulidade absoluta do negócio jurídico, mas há quem caracterize como uma causa de inexistência do negócio jurídico. Ex: se alguém segurar a mão da vítima, apontando-lhe uma arma e forçando-a a assinar um determinado documento. - Coação moral (vis compulsiva): ocorre quando a vítima sofre uma grave ameaça, indutiva da prática do negócio jurídico, podendo, porém, optar entre o ato e o dano, com que é ameaçada. Ou seja, não obstante a chantagem do autor, a vítima conserva relativamente a sua vontade. É a coação tratada no art. 151 do CC e que pode ser causa de anulabilidade (nulidade relativa) do negócio jurídico. Ex: o assaltante que ameaça a vítima dizendo: "a bolsa ou a vida". Através do art. 151 do CC, percebemos que para a coação servir de fundamento para a anulação de um negócio jurídico ela pode ser dirigida da seguinte forma: - contra a pessoa do próprio contratante; - contra a pessoa da família do contratante; - contra os bens do contratante; - contra pessoa não pertencente à família do contratante, mas neste caso o magistrado deve analisar se as relações de afetividade são fortes o bastante para se configurar uma situação de coação. Ainda sobre a coação moral irresistível, no decorrer da coação deve-se levar em conta as características do coator, do coagido e da situação (art. 152 do CC). Por isso, não se caracteriza a coação moral se uma idosa de 92 anos, com 1,50m de altura e 41 kg ameaçar bater em Janjão Brutamontes, 29 anos, lutador de "Vale-Tudo", com 2,12m e 135 kg. Art. 152 do CC - No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. Finalizando a coação temos o exercício normal de um direito e o simples temor reverencial, citados no art. 153 do CC, que não caracterizam a coação moral. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 27 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Art. 153 do CC - Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. AMEAÇA DO EXERCÍCIO NORMAL DE UM DIREITO Ex: Se o credor de uma dívida vencida e não paga ameaçar o devedor de protestar o título e requerer falência, não se configurará coação, por ser ameaça justa que se prende ao exercício normal de um direito. Logo, o devedor não poderá reclamar a anulação do protesto. TEMOR REVERENCIAL É o receio de desgostar ascendente (pai, mãe, tio, etc.) ou pessoa a quem se deve obediência e respeito. Desde que não haja ameaças ou violências irresistíveis, o ato negocial não pode ser anulado. A fraude contra credores (vício social) constitui a prática maliciosa pelo devedor insolvente (aquele cujo patrimônio passivo é superior ao patrimônio ativo) de atos que desfalcam o seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Segundo a Profa. Maria Helena Diniz possui dois elementos: 1) eventus damini (elemento objetivo): é todo ato prejudicial ao credor por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de insolvência, ainda quando o ignore, ou ante o fato de a garantia tornar-se insuficiente depois de executada; e 2) consilium fraudis (elemento subjetivo): é a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor ou do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança. Vide o art. 158 do CC. Art. 158 do CC - Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 28 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Quando o ato prejudicial ao credor for gratuito (transmissão gratuita e remissão de dívidas), então, para que os credores prejudicados com o ato tenham o direito de anular, não é necessário que se prove a má-fé (consilium fraudis). Ou seja, nos negócios gratuitos o elemento subjetivo é desnecessário para se caracterizar a fraude contra credores. Para exemplificar melhor a fraude contra credores, veja o esquema a seguir que tem como base um balanço patrimonial de uma empresa, onde o ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO: A situação descrita acima é de insolvência, pois o patrimônio líquido é negativo (-20.000). Dessa forma, caso a empresa em questão resolva doar o dinheiro que está no caixa para o projeto "criança esperança", os credores poderão anular a doação alegando fraude contra credores. O mesmo ocorre na remissão (perdão da dívida) das duplicatas a receber. Por fim, também pode ser utilizada a ação pauliana caso os imóveis que valem R$ 240.000,00 sejam vendidos dolosamente por R$ 50.000,00. A fraude à execução (FE) diferencia-se da fraude contra credores (FC). Veja a tabela a seguir com as principais diferenças: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 29 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃOÉ defeito do negócio jurídico, regulada no direito privado (Código Civil) É incidente do processo, regulada no direito público (Código de Processo Civil) Ocorre quando o devedor ainda não responde à nenhuma ação ou execução. Pressupõe que exista uma demanda (ação) em andamento. Só pode ser alegada em ação pauliana ou revocatória. Pode ser alegada incidentalmente; não depende da propositura de nenhuma ação específica. Exige-se a prova da má-fé do 3.° adquirente, em se tratando de negócios onerosos. Não é exigida a prova da má-fé do 3.° adquirente, visto estar presumida. O outro vício social, além da fraude contra credores, é a simulação que representa um acordo de vontade entre as partes para dar existência real a um negócio jurídico fictício, ou então para ocultar o negócio jurídico realmente realizado, com o objetivo de violar a lei ou enganar terceiros. Conclui-se que são necessários três requisitos para a simulação: - acordo entre as partes, ou com a pessoa a quem ela se destina; - declaração enganosa de vontade; e - intenção de enganar terceiros ou violar a lei. São espécies de simulação: a) Simulação absoluta: ocorre quando as partes não pretendem realizar a celebração de qualquer negócio jurídico. Ou seja, há um acordo simulatório em que as partes pretendem que o negócio não produza nenhum efeito de modo a não produzir eficácia jurídica. Exs: emissão de títulos de crédito, que não representam qualquer negócio, feita pelo marido, em favor de amigo, antes da separação judicial para prejudicar a mulher na partilha de bens; o proprietário de uma casa alugada que, com a intenção de facilitar a ação de despejo contra seu inquilino, finge vendê-la a terceiro que, residindo em imóvel alheio, terá maior possibilidade Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 30 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO de vencer a referida demanda; o devedor que finge vender seus bens para evitar a penhora, etc. b) Simulação relativa: ocorre quando uma pessoa, sob a aparência de um negócio fictício, pretende realizar outro que é o verdadeiro, diferente, no todo ou em parte, do primeiro. Ou seja, há nessa espécie de simulação, dois contratos, um aparente (simulado) e um real (dissimulado), sendo este o realmente desejado pelas partes. Como exemplo temos o homem casado que faz a doação de um imóvel a sua "amante", mas providencia a lavratura de uma escritura de compra e venda. Neste caso a simulação é relativa porque existe um ato simulado (compra e venda) praticado para esconder um ato dissimulado (doação). Vejamos o art. 167 do CC que trata da simulação relativa: Art. 167 do CC - É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. Conclui-se que, dependendo da situação, o negócio real (dissimulado) pode subsistir sem se tornar nulo, caso não ofenda a lei nem cause prejuízos a terceiros. O gráfico a seguir simboliza um negócio aparente (fictício) escondendo a celebração de um negócio real. Em se tratando da simulação relativa, nos termos do art. 167 do CC, é possível que subsista o negócio dissimulado se ele for válido na substância e na forma. Na simulação absoluta o negócio é nulo e insuscetível de convalidação. Na simulação relativa o negócio simulado ou fictício (aparente) é nulo, mas o negócio dissimulado (escondido) será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros. É o que se depreende do art. 167 do CC. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 31 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO A simulação relativa pode ser de dois tipos: I. Simulação relativa subjetiva (ad personam): é aquela em que a parte contratante não tira proveito do negócio por ser um sujeito aparente, ou seja, a parte aparente ("testa de ferro") repassa os direitos a uma terceira pessoa. Exs: o homem casado que simula doar um imóvel a um amigo para que este o repasse à "amante" do homem casado; venda realizada a um terceiro para que ele transmita a coisa a um descendente do alienante, a quem se tem a intenção de transferi-la desde o início. II. Simulação relativa objetiva: ocorre quando o negócio jurídico (NJ) contém declaração não verdadeira a respeito do seu objeto, tal como uma escritura pública de compra e venda com preço inferior ao real para burlar o fisco através do pagamento de um imposto menor. c) Simulação inocente: é a que não objetiva violar a lei ou prejudicar terceiro. É o que ocorre na doação mascarada feita por um homem solteiro a sua concubina. Parte da doutrina entende que por não prejudicar terceiro, deve ser considerada. Entretanto, o Conselho da Justiça Federal entende o contrário, conforme exteriorizado na III Jornada de Direito Civil, através do Enunciado 152: "Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante". Exs: situação em que o de cujus antes de falecer, sem herdeiros necessários, simula venda aparente a terceira pessoa a quem pretende deixar um legado; a prática do "Fica", documento muito utilizado no Mato Grosso do Sul, em que uma das partes recebe dinheiro e declara ter recebido gado, que se obriga a devolver. d) Simulação maliciosa: é a que objetiva fraudar a lei ou prejudicar terceiros. Nesse caso o ato será nulo. Segue esquema gráfico sobre a simulação: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 32 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Os defeitos do negócio jurídico são imperfeições oriundas da declaração de vontade das partes acarretando nos vícios de consentimento do agente. Entretanto, há casos em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo até mesmo correspondência entre a vontade interna e sua manifestação, porém, ela se desvia da lei ou da boa-fé, violando direitos ou prejudicando terceiros, sendo, dessa forma, o negócio jurídico suscetível de invalidação. Trata-se dos vícios sociais. Sobre a conversão do negócio jurídico nulo, dispõe o art. 170 do CC: Art. 170 do CC - Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 33 CONVERSÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO NULO VÍCIOS DE CONSENTIMENTO: erro, dolo, lesão, estado de perigo e coação. VÍCIOS SOCIAIS: simulação e fraude contra credores. CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Tal dispositivo consagra o princípio da conservação do negócio jurídico. Ocorre tal princípio quando o ato negocial nulo (nulidade absoluta) não pode prevalecer na forma pretendida pelas partes, mas, como seus elementos são idôneos para caracterizar outro ato de natureza diversa, então poderá ocorrer a transformação, desde que isso não seja proibido taxativamente, como nos casos de testamento. Como exemplo, temos a transformação de um contrato de compra e venda nulo por defeito de forma (ex: imóvel com valor superior a 30 salários mínimos deve ter por forma uma escritura pública, sendo nulo caso se proceda mediante instrumento particular) em um compromisso de compra e venda (este pode ser celebrado por instrumento particular). O contrato preliminar não precisa ser celebrado na forma necessária ao contrato final. Vide art. 462 do CC. Art. 462 do CC - O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. É por isso que o compromisso de compra e venda relativo a bens imóveis com valor superior a trinta salários mínimos não precisaser celebrado através de uma escritura pública, bastando um instrumento particular. Segue uma tabela para relembrar as definições de convalidação, confirmação e conversão, pois tais conceitos serão necessários para o entendimento do próximo tópico. NULIDADE RELATIVA CONFIRMAÇÃO é um ato das partes contratantes com o objetivo de sanar o vício do ato negocial. NULIDADE RELATIVA CONVALIDAÇÃO decorre do decurso de tempo que provoca a decadência do direito de anular o negócio. NULIDADE ABSOLUTA CONVERSÃO é a transformação do ato nulo em outro que contém os requisitos do primeiro. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 34 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Ou seja, a confirmação e a convalidação são institutos jurídicos inerentes ao negócio jurídico anulável (nulidade relativa). Já a conversão é um instituto do negócio jurídico nulo (nulidade absoluta). A nulidade absoluta se difere em vários aspectos da nulidade relativa (anulabilidade). A seguir temos um quadro na forma de tabela enumerando as principais diferenças entre a nulidade absoluta (mais grave) e a nulidade relativa (menos grave). Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 35 NULIDADE x ANULABILIDADE CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Sobre os prazos decadenciais para se pleitear a anulação do negócio jurídico, vejamos a questão no art. 178 do CC. Art. 178 do CC - É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Art. 179 do CC - Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. O direito de anulação do negócio jurídico, no caso dos vícios de consentimento ou social, decai em quatro anos. Entretanto, quando se tratar de coação moral, o início deste prazo começa a partir do fim da coação (art. 178, I do CC). Numa situação onde haja previsão de anulabilidade do ato, mas o Código Civil não mencione um prazo, como no art. 496 do CC, o prazo será de 2 anos. Art. 496 do CC - É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Vejamos como as bancas e, principalmente, a FGV gosta de cobrar o assunto estudado até agora. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 36 É perpétua, Doraue é imDrescritível, ou seja, não é suscetível de confirmação pelas partes e nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169 do CC). É provisória, pois está suieita a decadência (4 ou 2 anos), convalidando-se pelo decurso de tempo. CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO LISTA DAS QUESTÕES COMENTADAS 1. (FCC - TJ/PA - Analista Judiciário - Direito - 2009) No que tange aos negócios jurídicos pode-se afirmar que (A) os negócios neutros podem ser enquadrados entre os onerosos ou os gratuitos. (B) nos negócios jurídicos onerosos nem sempre ambos os contratantes auferem vantagens. (C) não há nenhum negócio que não possa ser incluído na categoria dos onerosos ou dos gratuitos. (D) nos negócios jurídicos gratuitos só uma das partes aufere vantagens ou benefícios. (E) os negócios celebrados inter vivos não se destinam obrigatoriamente a produzir efeitos desde logo, ainda que estando vivas as partes. Análise das alternativas: (A) ERRADA. Os negócios bifrontes podem ser enquadrados entre os onerosos ou os gratuitos. (B) ERRADA. Nos negócios jurídicos onerosos sempre ambos os contratantes auferem vantagens. (C) ERRADA. Os negócios bifrontes podem ser incluídos na categoria dos onerosos ou dos gratuitos. (D) CERTA. (E) ERRADA. Os negócios inter vivos se destinam a produzir efeitos enquanto os interessados estão vivos. Gabarito: D. 2. (FGV - TCM-RJ - PROCURADOR - 2008) A afirmativa "Pagarei a coisa adquirida quando a revender" representa condição: (A) puramente potestativa. (B) simplesmente potestativa. (C) eventual. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 37 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO (D) resolutiva. (E) suspensiva. A situação da questão conjuga a vontade de uma parte (revender a coisa adquirida), com fatores externos (alguém comprar). Ou seja, trata-se de uma condição simplesmente potestativa. Gabarito: B 3. (FGV - ADVOGADO - BESC - 2004) Denominam-se vícios do consentimento: (A) erro, simulação e fraude. (B) dolo, simulação e coação. (C) fraude, coação e dolo. (D) erro, dolo e coação. (E) erro, dolo e simulação. Quando a questão não mencionar qual o tipo de coação, então deve ser utilizada a coação moral, pois é a única tratada pelo CC. Segue quadro apresentado na teoria. Gabarito: D 4. (FGV - ADVOGADO - BESC - 2004) Todo ato jurídico será considerado NULO de pleno direito: I. quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; II. quando praticado com vício resultante de erro, dolo e simulação; III. quando praticado com vício resultante de coação ou fraude; Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 38 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO: erro, dolo, lesão, estado de perigo e coação. VÍCIOS SOCIAIS: simulação e fraude contra credores. CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO IV. quando praticado por pessoa relativamente incapaz. Assinale: (A) se somente a afirmativa I estiver correta (B) se somente a afirmativa II estiver correta (C) se somente a afirmativa IV estiver correta (D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas (E) se todas as afirmativas estiverem corretas Quando a questão, em seu enunciado, faz menção à expressão "nulo de pleno direito", está se referindo à nulidade absoluta, diferente da nulidade relativa (anulabilidade). O art. 166 do CC, enumera as hipóteses de nulidade absoluta, ao passo que o art. 171 do CC enumera as hipóteses de nulidade relativa: Análise das afirmativas: I. CORRETA. De acordo com o art. 166, V do CC. II. ERRADA. Os vícios resultantes de erro e dolo são casos de nulidade relativa, conforme o art. 171, II do CC. III. ERRADA. Os vícios resultantes de coação ou fraude são casos de nulidade relativa, conforme o art. 171, II do CC. IV. ERRADA. A incapacidade relativa do agente, sem a devida assistência, nos termos do art. 171, I do CC, é causa de nulidade relativa. Gabarito: A 5. (CGJ/ES - Atividade Notarial e de Registro - 2007) A respeito do negócio jurídico, considere: I. Objeto indeterminável. II. Coação. III. Lesão. IV. Objeto ilícito. V. Dolo. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 39 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO VI. Incapacidade relativa do agente. Implicam em nulidade do negócio jurídico as causas indicadas SOMENTE em (A) I, III e V. (B) I e IV. (C) II, III e VI. (D) II, IV e V. (E) IV, V e VI. Base Legal: Arts. 166, II e 171 do CC. Quando a banca se referir ao termo nulidade sem mencionar se é absoluta ou relativa,devemos levar em consideração a absoluta. Quando a banca mencionar a coação sem mencionar se é moral ou física, devemos levar em consideração a coação moral, pois é esta a abordada pelo Código Civil. Gabarito: B. 6. (FGV - ADVOGADO - SENADO FEDERAL - 2008) Solange de Paula move ação anulatória em face do Hospital das Clínicas. Ocorre que, necessitando internar seu marido, não encontrou vaga no SUS, logrando êxito em conseguir a internação em hospital da rede privada, não integrante da rede SUS. O hospital exigiu o depósito de R$ 3,5 mil para a internação e mais R$ 360,00 para exames. Entregues os cheques, após o atendimento, Carmem ingressou em juízo para anular o negócio jurídico. Assinale o melhor fundamento para sua pretensão. (A) onerosidade excessiva (B) lesão (C) estado de perigo (D) enriquecimento sem causa (E) venire contra factum proprium Vamos tratar de cada uma das opções: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 40 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO (A) ERRADA. Através do art. 478 do CC, ficou consagrada a teoria da imprevisão. Art. 478 do CC - Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. A Teoria da Imprevisão, está relacionada com a ocorrência de um fato superveniente que traga vantagem excessiva para uma das partes e prejuízo excessivo para a outra, pois, neste caso, o contrato poderá ser rescindido, desde que tal fato seja extraordinário e de difícil ou impossível previsão. É a também chamada cláusula "rebus sic stantibus", pela qual a relação jurídica deve ser mantida enquanto perdurar a situação fática que originalmente a ensejou. (B) ERRADA. A lesão é um vício de consentimento decorrente do abuso praticado em situação de desigualdade de um dos contratantes, por estar sob premente necessidade, ou por inexperiência, com o objetivo de protegê- lo diante do prejuízo sofrido na conclusão de um negócio jurídico em decorrência da desproporção existente entre as prestações das duas partes. Trata-se de um dano patrimonial. (C) CERTA. O estado de perigo representa a assunção de uma obrigação excessivamente onerosa (exorbitante) para evitar um dano pessoal que é do conhecimento da outra parte contratante. Grosseiramente falando, o declarante de encontra diante de uma situação que deve optar entre dois males: sofrer o dano (dano próprio, dano a pessoa da família ou dano a pessoa que não é parente, de acordo com o juiz) ou participar de um contrato que lhe é excessivamente oneroso. (D) ERRADA. O enriquecimento sem causa é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurídico. O art. 884 do CC trata o assunto: Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 41 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO Art. 884 do CC - Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido. (E) ERRADA. Diz o art. 422 do CC: Art. 422 do CC - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Segundo os princípios da probidade e da boa fé, as partes de um contrato têm o dever de agir com honradez, denodo, lealdade, honestidade e confiança recíprocas. Em decorrência do dispositivo legal em questão, foi aprovado o Enunciado 362 na IV Jornada de Direito CIvil do CJF: 362- Art. 422. A vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. Para concluir, o venire contra factum proprium parte da idéia de que as partes, em decorrência da confiança que permeia a relação jurídica, devem agir de maneira coerente, seguindo a sua linha de conduta, e, portanto, não podem contrariar repentinamente tal conduta, por meio de um ato posterior. Exatamente por isso o contratante não pode contrariar a sua própria atitude. Gabarito: C. O estado de perigo é o instituto jurídico que melhor se amolda ao enunciado da questão. 7. (FGV - ADVOGADO - SENADO FEDERAL - 2008) Em relação à fraude, avalie as afirmativas a seguir, atribuindo V para verdadeiro e F para falso. ( ) A fraude contra credores representa a frustração do direito potestativo do credor em receber o que lhe é devido. Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 42 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO ( ) O animus de prejudicar não é elemento constitutivo da fraude contra credores. ( ) Para que a fraude à execução possa ser reconhecida é indispensável haver uma lide proposta. ( ) Para o reconhecimento da fraude contra credores é necessário propor a ação pauliana. ( ) A fraude à execução tem como conseqüência a anulabilidade do ato fraudulento. Assinale a seqüência correta de cima para baixo. (A) V - F - V - F - V (B) F - F - V - V - F (C) F - V - V - F - F (D) F - V - F - V - F (E) V - V - F - V - F Análise das afirmativas: I. ERRADA. Estudaremos por ocasião do tópico prescrição e decadência as diferenças entre um direito subjetivo e um direito potestativo. De modo que, a fraude contra credores representa a frustração de um direito subjetivo. II. ERRADA. Nos negócios à título gratuito e remissões de dívidas, o animus de prejudicar, elemento subjetivo, não é necessário. Entretanto, nos negócios onerosos, o elemento subjetivo é necessário para que se configure a fraude contra credores. III. CERTA. Para que seja reconhecida a fraude contra credores, é necessário que os credores prejudicados ingressem com uma ação pauliana, também chamada de revocatória. IV. CERTA. Conforme comentários da afirmativa anterior. V. ERRADA. A fraude à execução (FE) diferencia-se da fraude contra credores (FC). A anulabilidade do ato é decorrente da fraude contra credores. Reveja a tabela na aula que diferencia fraude contra credores e fraude à execução. Gabarito: B Prof. Dicler Ferreira www.pontodosconcursos.com.br 43 CURSO ON-LINE - PROCON-DF - DIREITO CIVIL FISCAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR / DIREITO E LEGISLAÇÃO 8. (FGV - FISCAL DE RENDAS - MS - 2006) Com a intenção deliberada de prejudicar outrem, pós-data-se o instrumento de negócio jurídico. Aponte o vício ligado a esse procedimento. (A) dolo acidental (B) erro substancial (C) simulação (D) erro acidental (E) fraude O outro vício social, além da fraude contra credores, é a simulação que representa um acordo de vontade entre as partes para dar existência real a um negócio jurídico fictício, ou então para ocultar o negócio jurídico realmente realizado, com o objetivo de violar a lei ou enganar terceiros. Conclui-se que são necessários três requisitos para a simulação: - acordo entre as partes, ou com a pessoa a quem ela se destina; - declaração enganosa de vontade; e - intenção de enganar terceiros ou violar a lei. Gabarito: C 9. (FGV - AGENTE TRIBUTÁRIO ESTADUAL - MS - 2006) A emissão de título de crédito visando a encobrir ato ilegal configura: (A) simulação relativa subjetiva.
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