Buscar

Negocios juridicos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

9 788578 176358
w w w. u n i s u l . b r
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Universidade do Sul de Santa Catarina
Negócios 
jurídicos
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul
Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Luciano Rodrigues Marcelino
Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos
Valter Alves Schmitz Neto
Diretor do Campus Universitário de Tubarão
Heitor Wensing Júnior
Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
Fabiano Ceretta
Campus Universitário UnisulVirtual
Diretor
Fabiano Ceretta
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) - Educação, Humanidades e Artes
Marciel Evangelista Cataneo (articulador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e 
Serviços
Roberto Iunskovski (articulador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
Diva Marília Flemming (articuladora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
Aureo dos Santos (articulador)
Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos 
Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos 
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica 
Eliza Bianchini Dallanhol
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
Negócios 
jurídicos
Gisele Rodrigues
Livro Didático
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Copyright © 
UnisulVirtual 2014
Professor conteudista
Gisele Rodrigues
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
ISBN
978-85-7817-635-8
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramador(a)
Marina Broering Righetto
Revisor(a)
Amaline Boulos Issa Mussi
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por 
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
3421
C54 Goedert, Gisele Rodrigues Martins
Negócios jurídicos : livro didático / Gisele Rodrigues Martins 
Goedert ; design instrucional Luiz Henrique Queriquelli. – Palhoça : 
UnisulVirtual, 2014
94 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-635-8
1. Direito civil. 2 Direito e fato. I. Queriquelli, Luiz Henrique. 
II. Título.
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Fatos jurídicos | 9
Capítulo 2
Negócio jurídico | 21
Capítulo 3
Defeitos e invalidade dos negócios jurídicos | 39
Capítulo 4
Atos ilícitos e prova nos negócios jurídicos | 57
Capítulo 5
Prescrição e decadência | 75
Considerações Finais | 89
Referências | 91
Sobre o Professor Conteudista | 93
7
Introdução
Este livro didático se propõe a oferecer uma introdução ao segundo momento da 
parte geral do Código Civil, também chamado de Livro III, em que se supera a 
conceituação da pessoa enquanto sujeito de direitos e obrigações e se assume 
o indivíduo como sujeito principal dos acontecimentos que produzem efeitos no 
mundo jurídico.
De maneira geral, o Direito Civil está presente em todos os momentos. Quaisquer 
acontecimentos sociais, ações ou omissões provocadas pelo comportamento 
humano em geral podem ter influência no mundo jurídico. De que forma se pode 
minimizar esses efeitos, para que os sujeitos envolvidos tenham condições de 
manter uma convivência harmoniosa e pacífica em sociedade? A resposta a esta 
pergunta você encontra ao longo das páginas que seguem.
Portanto, convido-o/a a esta leitura, a fim de obter o aprofundamento necessário 
para entender melhor tais questões. Como você poderá observar, o primeiro 
capítulo pretende apresentar o conceito de fato jurídico em sentido estrito, bem 
como identificar a classificação de fato jurídico em sentido amplo. Por meio 
desses conceitos, será possível contextualizar a finalidade negocial e os modos 
de aquisição, conservação, modificação e extinção de direitos, que são a chave 
para o início do estudo propriamente dito, referente ao negócio jurídico. 
É justamente a partir da formação do negócio jurídico que se pode verificar a 
formação das relações jurídicas e a formalização das obrigações. Dentre as 
inúmeras classificações que serão estudadas nessa etapa, partiremos para o 
estudo dos elementos constitutivos do negócio jurídico, identificados pelos 
planos de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos. 
Os negócios jurídicos nem sempre serão perfeitos e, por vezes, apresentarão 
vícios ou defeitos que acabarão culminando com a sua invalidade. Nesse 
contexto, será possível identificar os defeitos que podem ocorrer nos negócios 
jurídicos em geral, tais como o erro substancial, o dolo, a coação, o estado de 
perigo, a lesão e a fraude contra credores. Em razão disso é que se menciona 
a invalidade do negócio jurídico. Esta invalidade ocasionada pelos defeitos 
apresentados poderá culminar com a inexistência do negócio jurídico, com 
a nulidade absoluta (negócio nulo) ou, ainda, com a nulidade relativa ou 
anulabilidade (negócio anulável).
8
Você verá, ainda, que há situações nas quais a parte ou as partes podem atuar 
contrariamente ao que o direito determina, e acabar, por vezes, causando algum 
prejuízo tanto para elas mesmas quanto para terceiros. Essa atuação contrária 
pode se identificar como um ato ilícito, o que invariavelmente provocará a 
configuração da responsabilidade civil, ou seja, originará o dever de indenizar.
Na continuidade do estudo, abordaremos um assunto de fundamental 
importância para o negócio jurídico que é a prova. Sabe-se que, de maneira 
geral, em nome da segurança jurídica, a prova é elemento essencial para a 
configuração da responsabilidade civil originada por um negócio jurídico. Poderá 
esta ser identificada através da confissão, da documentação apresentada, das 
testemunhas, pela presunção e, ainda, pela designação de perícia.
Finalizando nosso estudo, conheceremos as regras que podem limitar ou 
autorizar o exercício do direito, identificadas em nosso livro como a prescrição e a 
decadência. Afinal, o direito não socorre a quem não o exerce em tempo hábil. 
Desejo que este momento sirva de estímulo ao estudo do Direito Civil e tenha o 
poder de transformar positivamente seu modo de ver e estudar o Direito!
Sucesso, sempre!
9
Habilidades
Seções de estudo
Capítulo 1
Fatos jurídicos
Seção 1: Fato jurídico 
Seção 2: Atos lícitos
Seção 3: Finalidade negocial
Este capítulo desenvolverá em você a habilidade de 
conceituar os fatos jurídicos em sentido estrito e em 
sentido amplo. Além disso, ao final do seu estudo, 
você estará apto/a a distinguir as modalidades 
de finalidade negocial, entre elas, a aquisição, a 
conservação, a modificação e a extinção de direitos.
10
Capítulo 1 
Seção 1
Fato jurídico
A partir de agora, adentraremos no segundo momento da parte geral do Código 
Civil, não mais conceituando a pessoa enquanto sujeito de direitos e obrigações, 
mas a pessoa como parte essencial e sujeito principal dos acontecimentos que 
produzem efeitos no mundo jurídico. Para tanto, segundo Pablo Stolze Gagliano 
(GAGLIANO, 2010 p. 331), “todo acontecimento, natural ou humano, que 
determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de 
direitos e obrigações, na órbita do direito, denomina-se fato jurídico.”
Interessante a argumentação de Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 314), 
quando aponta que o direito também tem seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se 
e extingue-se. Essas fases ou momentos decorrem de fatos denominados fatos 
jurídicos, exatamente por produzirem efeitos jurídicos. Nem todo acontecimento 
constitui fato jurídico. Alguns são simplesmente fatos, irrelevantes para o direito. 
Somente o acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que seja fato 
ilícito, pode ser considerado como fato jurídico. 
Fato jurídico não é um conceito de direito civil, mas de todo o direito. Assim, seu 
estudo é mais apropriado nateoria geral do direito, pois não apenas se aplica 
às situações juscivilistas mas também às de todos os demais ramos de direito 
privado ou público. (LOBO, 2011, p. 221).
Nem todos os fatos jurídicos são objeto do Código Civil, no entanto está regulada 
no Livro III da Parte Geral, a matéria que se denomina “fatos jurídicos”. Para 
Paulo Lobo, fatos jurídicos são todos os fatos naturais ou de conduta aos quais o 
direito atribui consequências jurídicas. (LOBO, 2011, p. 221).
Verifica-se, assim, que todo fato, para ser considerado jurídico, deve passar 
por um juízo de valoração. O ordenamento jurídico, que regula a atividade 
humana, é composto de normas jurídicas, as quais preveem hipóteses de fatos 
e consequentes modelos de comportamento considerados relevantes, e que, por 
isso, foram normatizados. Estes, depois de concretizados, servem de suporte 
fático para a incidência da norma e o surgimento do fato jurídico. (GONÇALVES, 
2011, p. 314).
1.1 Fatos jurídicos em sentido amplo
O fato jurídico pode ser fato jurídico em sentido amplo (lato sensu) e fato 
jurídico em sentido estrito (stricto sensu). Este último refere-se tão somente 
aos acontecimentos naturais que possam produzir efeitos na órbita jurídica. 
Fato jurídico lato sensu é todo acontecimento que se encontra regulado 
pelo direito. 
11
Negócios Jurídicos 
Desdobra-se em fato jurídico stricto sensu, ato-fato jurídico, ato jurídico stricto 
sensu e negócio jurídico. (ROBERTO SENISE LISBOA, 2004, p. 368).
Para Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 315-316), os fatos naturais, também 
denominados fatos jurídicos em sentido estrito, por sua vez, dividem-se em: 
1. ordinários: como o nascimento e a morte, que constituem, 
respectivamente, o termo inicial e final da personalidade, bem como 
a maioridade, o decurso do tempo, todos de grande importância, e 
outros. Logo, pode ser entendido como um evento natural bastante 
comum e previsível;
2. extraordinários, que se enquadram, em geral, na categoria do 
fortuito e da força maior: terremoto, raio, tempestade etc. Ou seja, é 
o evento decorrente da natureza.
Confira, agora, a conceituação de fato jurídico em sentido amplo.
1.2 Fatos jurídicos em sentido estrito
Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em: 
1. fatos naturais ou fatos jurídicos stricto sensu; e 
2. fatos humanos ou atos jurídicos lato sensu.
Os primeiros decorrem de simples manifestação da natureza e os segundos da 
atividade humana.
Os fatos humanos ou atos jurídicos em sentido amplo são ações humanas que 
criam, modificam, transferem ou extinguem direitos. Estes, por sua vez, dividem-
se em lícitos e ilícitos. 
Seção 2
Atos lícitos
Para efeito de conceituação, consideram-se lícitos os atos humanos a que 
a lei defere os efeitos almejados pelo agente. Praticados em conformidade 
com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários, queridos 
pelo agente. Os ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito 
no ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, produzem 
efeitos jurídicos involuntários mas impostos por esse ordenamento. Em vez de 
direito, criam deveres, obrigações. Hoje se admite que os atos ilícitos integram a 
12
Capítulo 1 
categoria dos atos jurídicos pelos efeitos que produzem. Estes estão regulados 
nos artigos 186 e 927 do Código Civil, em que se ressalta a obrigação de 
indenizar. (GONÇALVES, 2011, p. 316).
Os atos ilícitos serão objeto de estudo em momento oportuno, cabendo, 
primeiramente, nos dedicarmos ao estudo dos atos denominados lícitos.
Em se tratando de matéria com diversidade de classificações idealizadas pelos 
autores da área, e, ainda, com o intuito de tornar o estudo mais fácil e didático, 
utilizar-se-á a classificação proposta por Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 251): 
Os atos lícitos dividem-se em:
a. ato jurídico em sentido estrito ou meramente licito;
b. negocio jurídico; e 
c. ato fato jurídico.
2.1 Ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu)
Nessa espécie, há uma manifestação de vontade do agente, mas suas 
consequências são as previstas em lei e não na vontade das partes. 
O ato jurídico em sentido estrito promana de manifestação ou declaração 
unilateral de vontade, projetando-se na orbita jurídica de terceiros. Não depende 
de assentimento ou concordância do destinatário ou beneficiário para que seja 
considerado válido e eficaz. 
Lobo (2011, p. 237) ainda menciona que outra nota determinante e peculiar do 
ato jurídico em sentido estrito é que seu autor não pode definir seus efeitos, 
seus limites e seu alcance. A vontade é sua, podendo ou não exteriorizá-la, mas, 
desde o momento que o faz, perde o controle de sua destinação. A lei é que 
define para que serve essa vontade exteriorizada, qual ou quais pessoas podem 
ser afetadas por ela, positiva ou negativamente, e seus preciosos fins. 
Para Tartuce (2011, p. 312), um bom exemplo de ato jurídico stricto sensu é o 
reconhecimento de um filho. Digamos que uma pessoa teve um filho fora do 
casamento e, como pai, quereria reconhecê-lo. Com o reconhecimento, surgem 
efeitos legais, como direito do filho de usar o nome do pai, o dever do último de 
prestar alimentos, direitos sucessórios, dever de apoio moral, entre outros. 
Sendo reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da 
vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas da lei, da norma jurídica. 
Como é notório, não pode o pai limitar esses direitos decorrentes de lei. 
13
Negócios Jurídicos 
Ou seja, o efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei, e a 
ação humana se baseia não em uma vontade qualificada mas em uma simples 
intenção. (GONÇALVES, 2011, p. 251).
2.2 Negócio jurídico
Para efeitos da classificação estudada, “Negócio jurídico é todo evento 
decorrente da vontade humana, que se consubstancia em um conjunto de 
atos jurídicos dependentes entre si, dispostos pelos negociantes em uma 
ordem temporal lógica, para obtenção do resultado ou interesse pretendido 
pelas partes.”(LISBOA, 2004, p. 371). Essa modalidade ainda será estudada 
pormenorizadamente.
2.3 Ato-fato jurídico
Além dos conceitos acima, alguns autores defendem a existência de um 
instituto denominado ato-fato jurídico. Impende salientar que o Código Civil não 
recepcionou essa modalidade, no entanto a doutrina se manifesta, em grande 
parte, pela sua existência, ainda que controversa. 
Para Tartuce (2011, p. 310), o ato-fato jurídico pode ser conceituado como “um 
fato jurídico qualificado por uma atuação humana, por uma vontade não relevante 
juridicamente.” 
Os atos-fatos jurídicos são atos ou comportamentos humanos em que não 
houve vontade, ou, se houve, o direito não as considerou. Nos atos-fatos 
jurídicos, a vontade não integra seu suporte fático. É a lei que os faz jurídicos e 
atribui consequências ou efeitos a eles, independentemente de estes terem sido 
queridos, ou não. Das espécies de fatos jurídicos, a menos conhecida, ou menos 
precisa, é o ato-fato jurídico, por se encontrar a meio caminho entre o fato jurídico 
em sentido estrito e o ato jurídico em sentido amplo. (LOBO, 2011, p. 232).
A título de esclarecimento, Pablo Stolze Gagliano (2010, p. 339) traz o exemplo 
da compra e venda feita por crianças. Ninguém discute que a criança, ao 
comprar o doce no boteco da esquina, não tem a vontade direcionada 
à celebração do contrato de consumo. Com efeito, o que se ressalta, na 
verdade, é a consequência do ato, ou seja, o fato resultante, sem se dar maior 
significância se houve vontade, ou não, de realizá-lo. Percebe-se que, em 
alguns momentos, torna-se bastante difícil diferenciar o ato-fato jurídico do ato 
jurídico em sentido estrito. 
14
Capítulo 1 
Para facilitar a compreensão da classificação estudada, vejamos o seguinte 
esquema:
 
 
 
 
 
 
 
Fatos jurídicos
(em sentido amplo)
Fatos naturais
Fatos humanos
(atos jurídicos em
sentido amplo)
Ordinários
Ato jurídico em
sentido estrito ou
meramente lícitoNegócio jurídico
Ato-fato jurídico
Extraordinários
Lícitos
Ilícitos
Cumprido o estudo da classificação, o próximo tópico dedica-se ao estudo 
da Finalidade Negocial, que abrange os efeitos constitutivos, modificativos 
ou extintivos de direitos e obrigações. Estes efeitos são considerados fatores 
determinantes na configuração do fato jurídico (ato jurídico em sentido amplo), 
especialmente do negócio jurídico e do ato ilícito, que será objeto de estudo em 
momento posterior. 
Seção 3
Finalidade negocial
No negócio jurídico, a manifestação da vontade tem finalidade negocial, que 
abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos. 
3.1 Aquisição de direitos
Ocorre aquisição de um direito com a sua incorporação ao patrimônio e à 
personalidade do titular. O Código Civil atual não menciona expressamente a 
aquisição dos direitos, diferente do que ocorria no Código Civil de 1916, mais 
precisamente no artigo 74, que dispõe:
Art. 74. Na aquisição dos direitos se observarão estas regras:
I - adquirem-se os direitos mediante ato do adquirente ou por 
intermédio de outrem;
II - pode uma pessoa adquiri-los para si, ou para terceiros;
Figura 1.1 – Classificação dos fatos jurídicos
Fonte: Gonçalves (2011, p. 250).
15
Negócios Jurídicos 
III - dizem-se atuais os direitos completamente adquiridos, e 
futuros os cuja aquisição não se acabou de operar.
Parágrafo único. Chama-se deferido o direito futuro, quando 
sua aquisição pende somente do arbítrio do sujeito; não deferido, 
quando se subordina a fatos ou condições falíveis.
No entanto, mesmo não fazendo mais parte do nosso Código Civil atual, como 
se trata de conceito consagrado pela doutrina, ainda é bastante utilizado. 
(GAGLIANO, 2010, p. 335). 
Antes de se estudar a aquisição de direitos propriamente dita, faz-se necessário 
o esclarecimento de alguns conceitos fundamentais, expressos no já mencionado 
art. 74, III, do Código Civil anterior, tais como a terminologia direito atual, direito 
futuro, dentre outros, que, no entanto, como já foi dito, continuam com sua 
essência preservada.
3.1.1 Conceituações necessárias
Antes de você estudar as formas de aquisição, é necessário entender os 
conceitos de:
 • direito atual;
 • direito futuro; 
 • direitos eventuais;
 • expectativa de direito;
 • direitos condicionais.
Direito atual é o que, tendo sido adquirido, está em condições de ser exercido, 
por estar incorporado ao patrimônio do adquirente.
Direito futuro é aquele cuja aquisição ainda não se operou, que não pode 
ser exercido. Sua realização depende de uma condição ou prazo. Há fatos 
que devem acontecer, para que esse direito se aperfeiçoe. Por exemplo: no 
compromisso de compra e venda de imóveis a prazo, o direito real só surgirá com 
o pagamento final do preço e o registro no competente Cartório do Registro de 
Imóveis.
A expressão direito futuro abrange gênero que compreende todas as relações 
potenciais ainda não exercíveis ou exercitáveis, por faltar-lhes um ou outro 
elemento. O direito não se corporificou. Com essa terminologia, compreendemos 
não só os direitos a termo e os condicionais, propriamente ditos, como também 
os chamados direitos eventuais, matéria da qual nos ocuparemos a seguir.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2007) ainda elucida que o direito futuro 
16
Capítulo 1 
pode ser deferido. É, conforme a lei, aquele que, para o complemento de 
sua aquisição há dependência exclusiva de um ato do próprio sujeito, de sua 
própria aceitação. São exemplos dessa categoria a situação do herdeiro ou 
do legatário na transmissão da herança. Em que pese a herança se transmitir 
automaticamente, o ato jurídico só se completa pela aceitação dos titulares, pois 
os herdeiros podem renunciar à herança.
O direito futuro será não deferido quando, para seu aperfeiçoamento, houver 
dependência de condições falíveis, que escapam ao mero arbítrio do interessado. 
É o caso da promessa de recompensa, pois dependerá de credor, inicialmente 
incerto, que aceite e realize as condições da promessa, para que possa exigir 
recompensa.
O direito eventual é direito incompleto, que pode ter vários aspectos. O direito 
eventual é direito futuro, pois depende de um acontecimento para completar-se, 
mas já apresenta características embrionárias, isto é, já apresenta características 
em alguns de seus elementos constitutivos. Trata-se de relação jurídica ainda 
incompleta. Podem ser exemplificados pela venda de coisa alheia: quem vende 
algo que ainda não possui, fica na dependência de adquirir a coisa para poder 
transmiti-la. Nesses casos, os direitos já se apresentam moldados, faltando 
apenas um ou alguns elementos para completá-los.
Pode ser direito quase completo, apresentando-se como direito futuro, mas, com 
certa relação com o presente, já desfruta de alguma proteção jurídica.
Algumas vezes o direito se forma gradativamente. Na fase preliminar, quando há 
apenas esperança ou possibilidade de que ele seja adquirido, a situação é de 
expectativa de direito. Consiste esta, pois, na mera possibilidade de se adquirir 
um direito, tal qual ocorre no direito sucessório. (GONÇALVES, 2011, p. 321).
A lei só concede proteção jurídica quando a expectativa de direito se transforma 
em direito eventual, isto é, quando a expectativa se converte em direito. Enquanto 
não houver proteção jurídica, estaremos diante de mera expectativa, e não de um 
direito. (VENOSA, 2007, p. 391).
Os direitos condicionais partem da noção de condição dada pelo art. 121 do 
Código Civil: condição é a cláusula que subordina o ato jurídico a evento futuro 
e incerto. Direitos condicionais, portanto, são os subordinados a evento futuro e 
incerto. Para tanto, o Código Civil define: “Considera-se condição a cláusula que, 
derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio 
jurídico a evento futuro e incerto.” (art. 121).
Tanto nos direitos eventuais como nos condicionais existe subordinação a evento 
futuro e incerto. Há numerosas coincidências nessas duas categorias. 
17
Negócios Jurídicos 
Os direitos eventuais, contudo, trazem elemento futuro e incerto inerente e 
essencial ao próprio negócio jurídico, enquanto, nos direitos condicionais, o 
fato dito condicional é externo ao ato. Nem todo elemento futuro e incerto deve 
ser considerado condição. O negócio jurídico eventual é negócio jurídico ainda 
incompleto o qual necessita que algo ocorra para completar-se. É de índole 
interna. Quem vende, por exemplo, coisa que ainda não tem, depende de obtê-la 
para poder transmiti-la.
Nos direitos condicionais, o direito já se perfez. Apenas se agregou um elemento 
externo, uma condição, para ser exercido, uma vez que sua existência jurídica 
depende desse elemento condicional. A condição aposta a um direito é acessória.
No direito eventual, o evento futuro e incerto é essencial à integração do direito.
Temos de concluir que, para fins práticos, tanto o direito eventual como o direito 
condicional devem ser tratados de maneira idêntica. (VENOSA, 2007, p. 389-392).
Feitas as considerações necessárias no tocante à contextualização do modo 
de aquisição dos direitos, buscaremos, a partir de agora, compreender sua 
classificação. Inicialmente, a aquisição dos direitos poderá ser originária ou 
derivada. (GONÇALVES, 2011, p. 320).
3.1.2 Formas de classificar a aquisição
A aquisição de direitos pode ser originária, derivada, gratuita ou onerosa, ou a 
título singular ou universal.
Será originária quando a aquisição ocorre no momento do surgimento do direito; 
do início da relação jurídica. Ou seja, quando se dá sem qualquer interferência 
do anterior titular. Ocorre, por exemplo, na ocupação de coisa sem dono: 
nasce o direito de se obter a posse, mesmo que o imóvel tenha sido direito de 
propriedade anterior de alguém.
Derivada é a aquisição que decorre de transferência feita por outra pessoa. Nesse 
caso, o direito é adquirido com todas as qualidades ou defeitos do titulo anterior, 
vistoque ninguém pode transferir mais direitos do que tem. Por exemplo, o direito 
de usufruto deriva do direito à propriedade ou posse. Mas o direito ao usufruto não 
é, exatamente, um direito originário, pois não deriva de uma relação jurídica.
Classificamos uma aquisição como gratuita ou onerosa de acordo com a 
existência, ou não, de uma contraprestação para a aquisição do direito.
Quanto à sua extensão, poderá ser a título singular ou universal: ocorre no 
tocante a bens determinados: em relação ao comprador, na sucessão inter vivos, 
e em relação ao legatário, na sucessão causa mortis. A título universal, quando o 
adquirente sucede o seu antecessor na totalidade de seus direitos, como se dá 
com o herdeiro. 
18
Capítulo 1 
3.2 Conservação de direitos
Em se tratando da segunda modalidade da finalidade negocial, qual seja, a 
conservação de direitos, entende-se que, para resguardar ou conservar seus 
direitos, o titular deverá valer-se de algumas medidas, muitas vezes de caráter 
acautelatório, podendo ser sistematizadas, segundo Pablo Stolze Gagliano (2010, 
p. 337), da seguinte forma:
 • Atos de conservação: atos praticados pelo titular do direito para 
evitar o perecimento, turbação, esbulho de seu direito. É o exemplo 
evidente das medidas e ações cautelares.
 • Atos de defesa do direito lesado: tendo ocorrido a violação 
ao direito, o ajuizamento de ações cognitivas ou executivas, no 
exercício do direito constitucional de ação (art. 5º, XXXV, da CF/88), 
é a medida adequada para a conservação do direito.
 • Atos de defesa preventiva: antes mesmo da violação – mas 
diante da sua ameaça evidente – é possível o ajuizamento de 
procedimentos próprios para uma defesa preventiva, como é o 
caso dos interditos proibitórios ou no estabelecimento de cláusulas 
contratuais, com evidente característica de defesa preventiva 
extrajudicial, como, por exemplo, a fiança.
 • Autotutela: ocorrida a violação, a ordem jurídica admite, sempre 
excepcionalmente, a pratica de atos de autotutela, como por 
exemplo, o direito de greve, no direito do trabalho.
3.3 Modificação de direitos
Para melhor compreensão desse item, podemos dizer que os direitos subjetivos 
nem sempre conservam suas características originárias ou permanecem 
inalterados no decorrer de sua existência, o que significa que podem sofrer 
modificações. 
Para grande parte da doutrina, as modificações podem ser objetivas ou 
subjetivas:
19
Negócios Jurídicos 
A modificação objetiva diz respeito ao seu objeto. A alteração pode ser tanto de 
quantidade – volume, ou qualidade – conteúdo de objeto ou direitos. Pode afetar a 
quantidade ou a qualidade do direito, forma ou intensidade de exercê-lo. 
A modificação subjetiva refere-se ao titular. É a alteração da titularidade do objeto 
ou direito, pode-se dar tanto pela substituição do sujeito ativo ou passivo quanto 
pela multiplicação ou concentração de sujeitos ou mesmo desdobramento da 
relação jurídica. É como se o alienante perdesse o direito para quem alienou. 
Como exemplo, temos o contrato de compra e venda. Nele, o antigo proprietário 
perde o direito de domínio do bem, no entanto o direito à propriedade ainda 
existe, sendo este exercido pelo comprador que, a partir desse momento, será 
o novo titular. Ressalte-se que a modificação subjetiva é possível para a maioria 
dos direitos, exceto aos direitos personalíssimos. (GAGLIANO, 2010, p. 336).
3.4 Extinção de direitos
Assim como podem ser adquirido, conservado ou modificado, o direito também 
poderá ser extinto. Aliás, são várias as razões que podem autorizar a extinção 
dos direitos. 
Para Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 324), costumam ser mencionadas, entre 
outras, as seguintes: o perecimento do objeto sobre o qual recaem, alienação, 
renúncia, escoamento do prazo, prescrição e decadência. Algumas causas de 
extinção podem ser:
 • objetivas (perecimento do objeto sobre o qual recaem), 
 • subjetivas (quando o direito é personalíssimo e morre o seu titular); 
e outras ainda,
 • concernentes ao vinculo jurídico (perecimento da própria 
pretensão ou do próprio direito material, como na prescrição e na 
decadência). 
Finalizado o estudo das classificações atinentes aos fatos jurídicos 
propriamente ditos e considerando o estudado na finalidade negocial, o 
próximo tópico se destina à abordagem do Negócio Jurídico, modalidade de 
ato jurídico em sentido amplo.
21
Habilidades
Seções de estudo
Capítulo 2
Negócio jurídico
Seção 1: Negócio jurídico: contextualização e 
conceito 
Seção 2: Classificação dos negócios jurídicos
Seção 3: Planos de existência, validade e eficácia 
Este capítulo desenvolverá em você a habilidade de 
conceituar e classificar os negócios jurídicos. Além 
disso, ao final do seu estudo, você estará apto/a a 
distinguir o que é necessário para que um negócio 
jurídico tenha existência, validade e eficácia.
22
Capítulo 2 
Seção 1
Negócio jurídico: contextualização e conceito
Neste tópico, será abordado o negócio jurídico, parte da matéria considerada 
fundamental para a compreensão dos demais conceitos da parte geral, bem 
como da parte especial do Código Civil. É no negócio jurídico que reside toda a 
essência para a formação das relações jurídicas e a formalização das obrigações.
Historicamente, o negócio jurídico teve início na doutrina germânica, conforme 
contextualiza Pablo Stolze Gagliano (2010, p. 347):
A categoria dos negócios jurídicos desenvolveu-se graças ao labor da doutrina 
germânica em período relativamente recente. Por isso, Clóvis Bevilaqua, ao 
elaborar o Código Civil em 1899, não cuidou de dispensar a devida atenção, 
deixando de consagrá-la em seu projeto. Aliás, analisando as suas normas, 
verificamos que, em nenhum momento, utilizou-se a expressão negócio jurídico, 
não obstante o tratamento legal dado ao “ato jurídico” fosse perfeitamente 
aplicável. Tal inconveniente foi contornado pelo Novo Código Civil, cuja Parte 
Geral, da lavra do Min. Moreira Alves, merecedora de justos elogios, disciplina 
exaustivamente a categoria de negócios jurídicos, sem desconsiderar os atos 
jurídicos em sentido estrito.
A partir do Código Civil atual, pode-se dizer que houve uma verdadeira revolução 
no modo de se visualizarem as obrigações, os contratos, o casamento e, 
sobretudo, os negócios jurídicos, já que profundas foram as alterações sociais 
e econômicas pelas quais passou o mundo civilizado. Importante salientar 
que o Código Civil de 2002 não buscou conceituar tanto o ato jurídico stricto 
sensu quanto o negócio jurídico, demonstrando somente quais seriam os seus 
elementos estruturais (art. 104 do CC). O foco principal do negócio jurídico, a 
manifestação da vontade, sofreu um verdadeiro impacto, apontando alguns 
autores que é praticamente impossível, hoje, a sua manifestação inequívoca e 
plena, a exemplo dos contratos de adesão. (TARTUCE, 2011, p. 314).
Ou seja, o negócio jurídico passou por algumas mudanças significativas ao longo 
dos tempos.
No negócio jurídico há uma composição de interesses, um regramento 
bilateral de condutas, como ocorre na celebração de contratos. A 
manifestação da vontade tem finalidade negocial, que, como já vimos no 
capítulo anterior, em geral se traduz em criar, adquirir, transferir, modificar 
ou extinguir direitos. (GONÇALVES, 2011, p. 326).
23
Negócios Jurídicos 
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona (2010, p. 353), “negócio jurídico 
é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de 
existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo 
ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.”
Já Maria Helena Diniz conceitua o negócio jurídico como o “poder de 
autorregulação dos interesses que contém a enunciação de um preceito, 
independentemente do querer interno.” (DINIZ, 2004, p. 472)
Seção 2
Classificação dos negócios jurídicos
Conceituado o negócio jurídico, passamos ao estudo da sua classificação. Em se 
tratando da classificação dos negóciosjurídicos, além de ser extensa, há clara 
divergência doutrinária no tocante à sua concepção e subdivisão. Desta forma, 
optamos pela classificação que se apresenta de maneira mais didática, qual 
seja, a de Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 327-337), que dispõe poderem os 
negócios jurídicos ser classificados em:
 • unilaterais, bilaterais e plurilaterais;
 • gratuitos, onerosos, neutros e bifrontes;
 • inter vivos e mortis causa;
 • principais e acessórios;
 • solenes ou formais e não solenes ou de forma livre;
 • simples, complexos e coligados;
 • dispositivos e obrigacionais;
 • fiduciário e simulado.
Confira o que determina cada classificação.
2.1 Unilaterais, bilaterais e plurilaterais
Quanto ao número de declarantes ou de manifestações de vontade necessárias 
ao seu aperfeiçoamento, os negócios jurídicos classificam-se em unilaterais, 
bilaterais ou plurilaterais. 
24
Capítulo 2 
2.1.1 Negócios jurídicos unilaterais
Negócios jurídicos unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única 
manifestação de vontade (Exemplo: testamento, codicilo, instituição de fundação, 
aceitação e renúncia da herança, promessa de recompensa etc.).
Subdividem-se em duas espécies:
 • receptícios – são aqueles em que a declaração de vontade tem de 
se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos (exemplo: 
denúncia ou resilição de um contrato, revogação de mandato etc.);
 • não receptícios – são aqueles em que o conhecimento por parte 
de outras pessoas é irrelevante (exemplo: testamento, confissão de 
dívida etc.).
2.1.2 Negócios jurídicos bilaterais
Negócios jurídicos bilaterais são aqueles que se perfazem com duas 
manifestações de vontade coincidentes sobre o objeto. Essa coincidência chama-
se consentimento mútuo ou acordo de vontades (contratos em geral).
Podem existir várias pessoas no polo ativo e, também, várias no polo passivo, 
sem que o contrato deixe de ser bilateral pela existência de duas partes, pois 
estas não se confundem com aquelas.
Em outras palavras, o que torna o contrato bilateral é a existência de dois polos 
distintos, independentemente do número de pessoas que integre cada polo.
2.1.3 Negócios jurídicos plurilaterais
Negócios jurídicos plurilaterais são os contratos que envolvem mais de duas 
partes, ou seja, mais de dois polos distintos (exemplo: contrato social de 
sociedades com mais de dois sócios).
2.2 Gratuitos, onerosos, neutros e bifrontes
Quanto às vantagens patrimoniais que podem produzir, os negócios jurídicos 
classificam-se em gratuitos e onerosos, neutros e bifrontes.
2.2.1 Negócios jurídicos gratuitos
Negócios jurídicos gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere 
vantagens ou benefícios (Exemplo: doação pura ou comodato).
25
Negócios Jurídicos 
2.2.2 Negócios jurídicos onerosos
Negócios jurídicos onerosos são aqueles em que ambos os contratantes auferem 
vantagens ou benefícios, aos quais, porém, corresponde uma contraprestação 
(Exemplo: compra e venda, empreitada, locação etc.).
Pode-se dizer, portanto, que todo negócio oneroso é bilateral, mas a recíproca 
não é verdadeira (Exemplo: doação, comodato).
Os negócios jurídicos onerosos podem ser:
 • comutativos – quando a prestação de uma parte depende de uma 
contraprestação da outra, que é equivalente, certa e determinada;
 • aleatórios – quando a prestação de uma das partes depende de 
acontecimentos incertos e inesperados. A álea, a sorte, é elemento 
do negócio (Exemplo: contrato de seguro).
2.2.3 Negócios jurídicos neutros
Há negócios que não podem ser incluídos na categoria dos onerosos, nem dos 
gratuitos, pois lhes falta atribuição patrimonial.
São chamados de neutros e se caracterizam pela destinação dos bens. Em geral, 
coligam-se aos negócios translativos, que têm atribuição patrimonial, como, por 
exemplo, a instituição das cláusulas de inalienabilidade e incomunicabilidade.
2.2.4 Negócios jurídicos bifrontes
Negócios jurídicos bifrontes são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, 
segundo a vontade das partes (Exemplo: mútuo, mandato, depósito etc.).
A conversão de negócio jurídico só se torna possível, se o contrato é definido 
na lei como negócio gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar 
um contrato oneroso em gratuito, uma vez que subverteria a sua causa.
Nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por 
convenção das partes.
A doação e o comodato, por exemplo, ficariam desfigurados, se tal acontecesse, 
pois se transformariam, respectivamente, em venda e locação.
2.3 Negócios jurídicos inter vivos e causa mortis
Considerando o momento da produção dos efeitos, os negócios jurídicos podem 
ser classificados em inter vivos e causa mortis. 
26
Capítulo 2 
Inter vivos – destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes 
ainda vivas (Exemplo: promessa de venda e compra).
Causa mortis – são os negócios jurídicos destinados a produzir efeitos após a 
morte do agente (Exemplo: testamento).
2.4 Negócios jurídicos principais e acessórios
Quanto ao modo de existência, os negócios jurídicos poderão ser principais e 
acessórios.
Negócios jurídicos principais são os negócios jurídicos que têm existência 
própria e não dependem da existência de qualquer outro para produzir efeitos 
(Exemplo: compra e venda, locação etc.).
Negócios jurídicos acessórios são os que têm sua existência subordinada a 
um negócio jurídico principal (Exemplo: cláusula penal, fiança etc.), de forma que 
seguem o destino do principal. Extinta a obrigação principal, extingue-se também 
a acessória, mas o contrário não persiste. 
2.5 Negócios solenes ou formais e não solenes ou de forma 
livre
Em relação às formalidades a serem observadas, os negócios jurídicos estão 
subdivididos em solenes ou formais e não solenes ou de forma livre.
2.5.1 Negócios jurídicos solenes ou formais
São os negócios jurídicos que devem obedecer à forma prescrita em lei para que 
se aperfeiçoem.
Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio, este é solene 
e a formalidade é ad solemnitatem, isto é, constitui a própria substância do ato 
(Exemplo: escritura pública na alienação de imóvel, no testamento público etc.).
Mas determinada forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso, 
se diz tratar-se de uma formalidade ad probationem tantum (Exemplo: assento do 
casamento no livro de registro – art. 1536).
2.5.2 Negócios jurídicos não solenes ou de forma livre
Em regra, os negócios jurídicos obedecem a forma livre. Como a lei não reclama 
nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, podem ser celebrados por 
qualquer forma, inclusive a verbal (art. 107 – CC).
27
Negócios Jurídicos 
2.6 Negócios jurídicos simples, complexos e coligados
Quanto ao número de atos necessários, classificam-se em negócios jurídicos 
simples, complexos ou coligados.
Simples são os negócios que se constituem por ato único. 
Complexos são os que resultam da fusão de vários atos com 
eficácia independente.
Compõem-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas 
pelo mesmo sujeito ou diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos jurídicos 
pretendidos na sua unidade (Exemplo: alienação de um imóvel em prestações, 
que se inicia pela celebração de um compromisso de compra e venda e se 
completa com a outorga da escritura definitiva).
O negócio jurídico complexo é único e não se confunde com o coligado.
Coligados são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos distintos 
(Exemplo: arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento 
ao contrato de locação das bombas, de comodato de área para funcionamento 
de lanchonete, de fornecimento de combustível, de financiamento etc.).
2.7 Negócios jurídicos dispositivos e obrigacionais
Considerando as modificações que podem produzir, os negócios jurídicos 
poderão ser dispositivos ou obrigacionais.
Dispositivos são aqueles utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir 
direitos(Exemplo: a constituição de usufruto em favor de terceiro).
Obrigacionais são os que, por meio de manifestações de vontade, geram 
obrigações para uma ou para ambas as partes, possibilitando às mesmas a 
exigência de uma contraprestação (Exemplo: compra e venda. Um se dispõe a 
pagar o preço e o outro a entregar a coisa).
2.8 Negócio fiduciário e negócio simulado
Por derradeiro, quanto ao modo de obtenção do resultado, o negócio jurídico 
pode ser fiduciário e simulado.
Negócio fiduciário é aquele em que alguém, o fiduciante, transmite um direito 
a outrem, o fiduciário, que se obriga a devolver esse direito ao patrimônio 
do transferente ou a destiná-lo a outro fim. Visam as partes um fim prático, 
28
Capítulo 2 
realizando um negócio cujos efeitos ultrapassam os objetivos do que foi 
celebrado. Há uma discrepância entre o negócio jurídico utilizado e os fins a 
serem buscados.
Negócio simulado é o que tem aparência contrária à realidade, ou seja, não é 
válido. Embora, nesse sentido, seja semelhante ao negócio fiduciário, neste as 
declarações de vontade são falsas (Exemplo: declarações falsas para fraudar o 
Fisco).
Finalizando esta etapa, analisaremos nesse momento as regras referentes aos 
elementos constitutivos do negócio jurídico, já apontadas anteriormente, quais 
sejam, os Planos de Existência, Validade e Eficácia.
Seção 3
Planos de existência, validade e eficácia
Seguindo a linha dos doutrinadores que estudam o tema, Pablo Stolze Gagliano 
e Rodolfo Pamplona (2010, p. 354-355) entendem que, para apreendê-lo 
sistematicamente – e não simplesmente reproduzir regras positivadas –, faz-se 
mister analisá-lo sob os três planos em que pode ser visualizado:
Existência: um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja 
considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos;
Validade: o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer 
que ele seja considerado perfeito, ou seja, com aptidão legal para produzir efeitos;
Eficácia: ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja, 
perfeito para o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de 
efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais da declaração.
Estes três Planos (Existência – Validade – Eficácia) são denominados pela 
doutrina como a “Escada Ponteana”, em homenagem ao grande jurista brasileiro 
Pontes de Miranda. Observe o gráfico:
29
Negócios Jurídicos 
Figura 2.1 - Escada ponteana: existência, validade e eficácia
Plano da validade:
• capacidade (do agente);
• liberdade (da vontade ou 
consentimento);
• licitude, possibilidade, 
determinabilidade (do 
objeto);
• adequação (das formas).
(requisitos da validade)
Plano da eficácia:
• condição;
• termo;
• consequências do 
inadimplemento negocial 
(juros, multas, perdas e 
danos);
• outros elementos.
(efeitos do negócio)
Plano da existência:
• agente;
• vontade;
• objeto;
• forma.
(pressupostos de 
existência)
Fonte: Tartuce (2011, p. 320).
Vejamos, cada um deles pormenorizadamente.
3.1 Plano de existência
Inicialmente, não discutiremos a validade ou eficácia do negócio jurídico, mas 
tomaremos como base a existência, ou não, do mesmo. Para isso, o Plano de 
Existência é composto por alguns elementos constitutivos ou denominados 
pressupostos de validade, que, para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona 
Filho (2010, p. 360), são:
 • manifestação de vontade;
 • agente emissor da vontade;
 • objeto; e
 • forma.
30
Capítulo 2 
3.1.1 Manifestação da vontade
A manifestação de vontade pode ser expressa (quando for demonstrada pela 
palavra escrita ou falada, ou por meio de gestos e sinais) ou, ainda, poderá 
ser tácita (quando resultante de um comportamento do agente). (GAGLIANO; 
PAMPLONA FILHO, 2010, p. 363).
Entende-se, ainda, que o silêncio também pode significar manifestação de 
vontade, conforme determina o Art. 111 do CC: “O silêncio importa anuência, 
quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a 
declaração de vontade expressa.”
Ou, ainda, o Art. 147 também do CC: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio 
intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte 
haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não 
se teria celebrado.” 
Note-se que o emprego de meios que neutralizem a manifestação volitiva, tais 
como a violência física ou, até mesmo, a hipnose, torna inexistente o negócio 
jurídico.
Ainda em se tratando da manifestação da vontade, temos a reserva 
mental. Ocorre reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua 
verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara 
querer. Tem por objetivo enganar o outro contratante ou declaratário. Se 
este, entretanto, não soube da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos 
que o declarante não desejava. Ou seja, a reserva é o que se passa na 
mente do declarante, não produzindo efeitos.
Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 352) esclarece:
Alguns exemplos são mencionados, ora agindo o declarante 
de boa-fé, ora de má-fé. Da primeira hipótese é aquele em que 
o declarante manifesta a sua vontade no sentido de emprestar 
dinheiro a um amigo (contrato de mútuo), porque este tinha a 
intenção de suicidar-se por estar em dificuldades financeiras. A 
intenção do declarante não é a de realizar o contrato de mútuo, 
mas, tão somente, salvar o amigo do suicídio. Ainda assim, o 
propósito do engano continua presente, sendo hipótese típica de 
reserva mental. 
Passemos ao próximo elemento, qual seja, o agente emissor da vontade.
31
Negócios Jurídicos 
3.1.2 Agente emissor da vontade
Ora, sem o sujeito, não se pode falar em ato, mas, tão somente, em fato jurídico 
em sentido estrito. A participação do sujeito de direito (pessoa natural ou jurídica) 
é indispensável para a configuração existencial do negócio jurídico. (GAGLIANO; 
PAMPLONA FILHO, 2010 p. 362). 
Ou seja, o negócio jurídico dependerá de uma pessoa para manifestar sua 
vontade. 
Importa salientar que uma parcela significativa da doutrina trata este elemento 
juntamente com o anterior, formando um só elemento, denominado manifestação 
ou declaração de vontade, ou, apenas, vontade. A subdivisão desses elementos 
foi realizada com o intuito de promover a compreensão do tema de maneira mais 
didática. 
3.1.3 Objeto
Todo negócio jurídico pressupõe a existência de um objeto, sendo este não 
necessariamente um bem exclusivamente material mas também imaterial, como 
no caso de um contrato de direito autoral.
Assim, na análise do objeto, Sebastião José de Assis Neto (2009, p. 167) observa 
que o conteúdo das obrigações contraídas pelas partes também está englobado 
no objeto. Para o autor, deve-se observar que o objeto do negócio engloba não 
só um bem especificamente descrito na declaração de vontade mas ainda o 
conteúdo das obrigações contraídas pelas partes. 
3.1.4 Forma
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2010, p. 363) entendem que a forma é o 
meio pelo qual a declaração se exterioriza, ou, em outras palavras, o tipo de 
manifestação através do qual a vontade chega ao mundo exterior. Sem uma 
forma pela qual se manifeste a vontade, por óbvio, o negócio jurídico inexiste, 
uma vez que a simples intenção encerrada na mente do agente (cogitação) não 
interessa para o direito. 
Importante que não se confunda a forma como se exterioriza a declaração, que 
é elemento constitutivo, com a forma legalmente prescrita, que é requisito de 
validade. Assim, é possível que um negócio exista, mas não atenda ao requisito 
da forma legalmente prescrita, o que poderia torná-lo inválido, embora existente. 
(OLIVEIRA, 2012).
Encerrado o estudo do Plano de Existência, passa-se à abordagem do Plano de 
Validade do Negócio Jurídico. Vejamos:
32
Capítulo 2 
3.2 Plano de validade do negócio 
“A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito possível, 
determinado ou determinável; III –forma prescrita ou não defesa em lei.” (CC. 
Art. 104).
3.2.1 Agente capaz
São capazes as pessoas que estão aptas a exercer pessoalmente os atos da 
vida civil. Lembre-se: nada impede que a pessoa considerada incapaz seja titular 
do direito a ponto de realizar um negócio jurídico, no entanto esta deverá ser 
representada ou assistida conforme a sua incapacidade. Relembre:
Quadro 2.1 - Incapacidade absoluta e incapacidade relativa
Incapacidade Absoluta art. 3º Incapacidade Relativa art. 4º
Representação Tutor Assistência
Art. 3º São absolutamente incapazes de 
exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos 
atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de 
dezoito anos;
 Representação Curador Assistência
II - os que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário 
discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, 
não puderem exprimir sua vontade.
II - os ébrios habituais, os viciados em 
tóxicos, e os que, por deficiência mental, 
tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento 
mental completo;
IV - os pródigos.
Fonte: Elaboração do autor (2014).
Esse pressuposto está diretamente vinculado ao estudado na Introdução ao 
Direito Civil.
Desta forma, resta-nos esclarecer alguns pontos no tocante à figura da 
representação.
O negócio jurídico é realizado ou celebrado pelas partes diretamente, na maioria 
dos casos. Mas um terceiro pode agir em nome e no interesse da pessoa que 
é parte no negócio jurídico (representado), para tanto exercendo determinados 
poderes. Essa intermediação denomina-se representação, e a pessoa que age 
em nome de outra é o representante. (LOBO, 2011, p. 255).
33
Negócios Jurídicos 
O Código Civil traz um capítulo dedicado à Representação, conforme se observa:
CAPÍTULO II
Da Representação
Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou 
pelo interessado.
Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, 
nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao 
representado.
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável 
o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por 
conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado 
pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os 
poderes houverem sido subestabelecidos.
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, 
com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade 
e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, 
responder pelos atos que a estes excederem.
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em 
conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia 
ser do conhecimento de quem com aquele tratou.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão 
do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de 
decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.
Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são 
os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação 
voluntária são os da Parte Especial deste Código.
Chama a atenção o disposto no art. 117 em relação à restrição legal para a 
realização do autocontrato, ou contrato consigo mesmo. É importante destacar, 
segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p. 379), que 
o contrato consigo mesmo, enquanto manifestação de uma representação, em 
uma interpretação a contrario sensu do dispositivo legal, é aceitável, desde que 
a modalidade contratual adotada seja permitida legalmente ou, omissa a norma 
legal, desde que houver livre manifestação de vontade do representado.
Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 366) classifica a representação em três 
espécies: a legal, judicial e convencional. 
34
Capítulo 2 
 • Representação legal decorre de lei, ou seja, a lei confere poderes 
para administrar bens e interesses alheios, como, por exemplo, os 
curadores em relação aos curatelados. 
 • Representação judicial é aquela em que o juiz nomeia o 
representante como nos casos do inventariante nomeado para 
cuidar dos interesses de herdeiros etc.
 • Representação convencional é a espécie em que o indivíduo 
nomeia um representante para que este o represente em 
determinados atos, seja de forma geral ou especial. Pode ser 
exemplificada como aquela em que o representante poderá alienar 
ou dar quitação pelo representado.
Feitas as elucidações em relação à Representação, passa-se ao próximo 
pressuposto que é a licitude do objeto.
3.2.2 Licitude, possibilidade e determinação do objeto
Continuando, o art. 104, II determina que a validade do negócio jurídico requer, 
ainda, objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
Pois bem. Objeto lícito é aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons 
costumes. O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é 
nulo. A impossibilidade pode ser física ou jurídica. 
Impossibilidade física - A impossibilidade física é aquela que emana das leis 
físicas ou naturais. Deve ser absoluta, isto é, atingir a todos, indistintamente. A 
relativa, que atinge o devedor, mas não outras pessoas, não constitui obstáculo 
ao negócio jurídico (Art. 106 do CC/02). 
Impossibilidade jurídica - A Impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o 
ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado 
bem, como a herança de pessoa viva (CC. art. 426) e alguns bens fora do comércio. 
O objeto do negócio jurídico deve ser, igualmente, determinado ou determinável 
(indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da 
execução). (GONÇALVES, 2011, p. 359).
3.2.3 Forma prescrita ou não defesa em lei
A forma do negócio jurídico em princípio é livre, quando não for substancial. A 
desobediência à forma prescrita em lei é a causa da nulidade, a modalidade mais 
forte de invalidade. A forma que invalida é substancial – formalismo negocial (ad 
substantiam) – e não a formalidade com finalidade simplesmente probatória (ad 
probationem).
35
Negócios Jurídicos 
A forma substancial tem por objetivo obrigar as pessoas a refletir sobre as 
consequências daquele negócio jurídico, a facilitar o reconhecimento do negócio 
jurídico por terceiros e quando se impuser maior segurança. A forma especial só 
pode ser exigida quando a lei assim determinar, para determinadas situações. 
(LOBO, 2011, p. 250).
Do ponto de vista da forma, o negócio jurídico é solene (ou formal) se a 
manifestação de vontade precisa ser feita de uma forma especial e solene 
(forma prevista em lei).
Para finalizar, podemos concluir que a regra geral de liberdade de forma só 
poderá ser rebatida quando a lei expressamente o determinar. Passamos agora 
ao último plano da escada ponteana.
3.3 Plano de eficácia do negócio jurídico
Percebe-se que alguns negócios jurídicos não produzem efeitos imediatamente 
depois de realizados. No entanto podem as partes estabelecer cláusulas, de 
modo que os efeitos desses negócios estejam subordinados a acontecimentos 
futuros para que passem a ser exigíveis. A estes acontecimentos podemos 
denominar de condição, termo e modo ou encargo.
Para a doutrina, esses acontecimentos também podem ser chamados de 
elementos acidentais do negócio jurídico. 
3.3.1 Condição
A condição é a cláusula contratual acessória, derivada da vontade das partes, 
que subordina a eficácia do negócio jurídico a um acontecimento futuro e incerto. 
A condição poderá ser de duas espécies: suspensiva ou resolutiva.
De acordo com o art. 125 do Código Civil, a condição suspensiva não deixa 
acontecerem os efeitos práticos do negócio até a sua ocorrência, isto é, os 
efeitos do negócio passam a ocorrer no momento em que a condição acontece. 
Fábio Ulhoa Coelho(2003, p. 318), exemplifica: Se Darcy, produtor de laranjas, 
vende a Evaristo, que fabrica suco, todas as frutas de sua próxima safra, podem 
eles pactuar que o negócio fique sujeito à colheita. Quer dizer, caso se perca a 
produção em razão de uma geada, Darcy não será obrigado a vender a laranja, 
nem Evaristo a comprá-la. O negócio jurídico existe, é valido, mas somente 
produzirá efeitos se houver a colheita.
36
Capítulo 2 
Na condição suspensiva, os efeitos do negócio jurídico só se projetam com a 
verificação do evento (art. 125, CC) e, na resolutiva, deixam de existir caso o 
evento se verifique (art. 127, CC). O exemplo da venda da laranja condicionada à 
colheita da safra é pertinente à condição suspensiva. 
Para exemplificar a condição resolutiva, Paulo Lobo (2011, p. 265) expõe: pago-
lhe uma mesada até a conclusão de seu curso universitário, ou seja, o negócio 
jurídico produz desde já seus efeitos, que se extinguirão quando a condição 
se concretizar. O negócio existe, é valido, e seus efeitos acontecem desde o 
momento do pagamento da mesada até o da conclusão do curso universitário. 
Neste caso, a condição resolutiva é o “término do curso universitário”. 
A doutrina costuma proibir as condições que privarem de todo efeito o negócio 
jurídico (perplexas); as que o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes 
(denominadas puramente potestativas); as ilícitas, as física ou juridicamente 
impossíveis e as incompreensíveis ou contraditórias. (GAGLIANO; PAMPLONA 
FILHO, 2010, p. 445).
3.3.2 Termo e prazo
Denomina-se Termo o que o direito civil considera o início e o fim do tempo do 
negócio jurídico. O termo é a determinação acessória, estabelecida pelas partes, 
que condiciona a produção dos efeitos práticos do negócio a um acontecimento 
futuro e certo. 
Todo negócio jurídico tem termos inicial e final, até mesmo quando aparenta 
ser instantâneo. Quando alguém fez uma proposta de venda de algo e o outro 
imediatamente aceitou, houve algum tempo – minutos, segundos – entre a 
aceitação, que fez exsurgir o início do negócio jurídico, e o pagamento do preço 
após a entrega da coisa, que é seu termo final. (LOBO, 2011, p. 267).
Assim como a condição, esta cláusula refere-se a acontecimento futuro, ficando 
descaracterizada no caso de o evento já ter ocorrido. 
O termo não suspende a aquisição do direito por ser evento futuro, mas dotado 
de certeza. Difere da condição, que subordina a eficácia do negócio a evento 
futuro e incerto. Sendo o termo um acontecimento certo, inexiste estado de 
pendência, não se cogitando de retroatividade, existente apenas no negócio 
condicional. O titular do direito a termo pode, com maior razão, exercer sobre 
ele atos conservatórios. Pode ocorrer, em certos casos, a conjugação de 
uma condição e um termo no mesmo negócio jurídico. Por exemplo: “dou-te um 
consultório se te formares em medicina até os 25 anos.” (GONÇALVES, 2011, p. 391).
Para Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 391), há várias espécies de Termo. Estas 
podem ser na forma: convencional (estabelecido pelas partes), de direito (decorre 
da lei), de graça (dilação de prazo concedida ao devedor).
37
Negócios Jurídicos 
O mesmo autor ainda dispõe:
Pode ocorrer que o termo, embora certo e inevitável no 
futuro, seja incerto quanto à data de sua verificação. Exemplo: 
determinado bem passará a pertencer a tal pessoa a partir da 
morte de seu proprietário. A morte é certa, mas não se sabe 
quando ocorrerá. Neste caso, a data é incerta. Sob esse aspecto, 
o termo pode ser dividido em incerto, como no referido exemplo, 
e certo, quando se reporta a determinada data do calendário ou a 
determinado lapso de tempo. 
A data em que têm início os efeitos do negócio jurídico chama-se termo inicial, 
termo suspensivo ou dies a quo; a data que estes têm fim é denominada termo 
final, termo resolutivo ou dies ad quem. Ao termo inicial e final, diz a lei, aplica-
se, no que couber, o disposto, respectivamente, sobre condição suspensiva e 
resolutiva, conforme dispõe o art. 135 do Código Civil. (COELHO, 2003, p. 322).
Prazo é o tempo decorrido ou a decorrer entre a declaração e o termo, ou entre o 
termo inicial e o final. A lei prevê as regras para a contagem dos prazos, conforme 
se verifica na leitura do art. 132 do Código Civil:
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, 
computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o 
do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á 
prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto 
dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número 
do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Especificamente para os testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, 
e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esse, se do teor do 
instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do 
credor, ou de ambos os contratantes. (TARTUCE, 2011, p. 339).
3.3.3 O modo ou encargo
Modo ou encargo é o ônus que recai sobre uma das partes do negócio jurídico, 
que deve suportá-lo como requisito para aquisição e exercício do direito. Não se 
confunde com condição, pois não suspende ou extingue a eficácia do negócio 
38
Capítulo 2 
jurídico. Contudo, as partes podem ajustar que, enquanto não for atendido, o 
encargo suspenda a aquisição ou o exercício do direito. 
Pode ser entendida como cláusula acessória, determinada pela vontade das 
partes, obrigando o beneficiário do negócio jurídico à realização de determinado 
ato. É cláusula típica das liberalidades (especialmente a exemplo das doações, 
testamentos etc.).
O encargo não pode ser fixado nos negócios onerosos, pois equivaleria a uma 
contraprestação. No caso de descumprimento, o negócio continua sendo válido e 
eficaz, restando, apenas, a opção da cobrança judicial do encargo.
O valor do encargo não pode ser superior ao do objeto doado, pois isso cortaria o 
caráter de liberalidade da doação. Entendemos que, para se configurar o contrato, 
a liberalidade deve consistir no valor prevalecente, no confronto entre o objeto 
doado e o encargo proposto. Como exemplo, podemos citar: “doação de imóvel 
para que se construa um hospital.” (LOBO, 2011, p. 270-271).
A regra geral positivada de interpretação dos negócios jurídicos é, sem sombra 
de dúvida, o já transcrito art. 112 do CC, em que se vislumbra, claramente, a 
ideia de que a manifestação de vontade é seu elemento mais importante, muito 
mais, inclusive, do que a forma com que se materializou. O art. 112 do CC 
assim dispõe: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”; e, também, o art. 113 
do CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os 
usos do lugar de sua celebração”.
O Código Civil, por sua estrutura, é permeado de cláusulas gerais. Estas 
permitem a interpretação e a utilização dos princípios basilares já estudados em 
Introdução ao Direito Civil, tais como a socialidade, eticidade e operabilidade 
englobando a boa-fé objetiva, ética, a função social, dentre outros.
Enfim, encerrado o estudo de Negócio Jurídico, você vai seguir para o terceiro 
capítulo, que diz respeito aos Defeitos do Negócio Jurídico. 
39
Habilidades
Seções de estudo
Capítulo 3
Defeitos e invalidade dos 
negócios jurídicos
Seção 1: Defeitos dos negócios jurídicos 
Seção 2: Invalidade dos negócios jurídicos
Este capítulo desenvolverá em você a habilidade 
de identificar os defeitos que podem ocorrer 
nos negócios jurídicos em geral, tais como o 
erro substancial, o dolo, a coação, o estado de 
perigo, a lesão e a fraude contra credores. Além 
disso, ao final do seu estudo, você estará apto/a 
a compreender a invalidade do negócio jurídico 
ocasionada pelos defeitos identificados.
40
Capítulo 3 
Seção 1Defeitos dos negócios jurídicos
A importância de se estudarem os defeitos dos negócios jurídicos reside na 
identificação dos vícios que podem macular o ato jurídico celebrado, atingindo a 
sua vontade ou gerando repercussão social, tornando o negócio passível de ação 
anulatória ou declaratória de nulidade pelo prejudicado. (TARTUCE, 2011, p. 349).
Consideram-se defeitos do negócio jurídico, para o Código Civil: o erro, o dolo, a 
coação, o estado de perigo, a lesão e a fraude contra credores. Vejamos, nesse 
momento, cada um deles.
1.1 Erro
Erro consiste em uma falsa representação da realidade. Nessa modalidade de 
vício de consentimento, o agente engana-se sozinho. Quando é induzido em 
erro pelo outro contratante ou por terceiro, caracteriza-se o dolo. (GONÇALVES, 
2011, p. 398).
O erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, 
objeto do negócio ou direito, que acomete a vontade de uma das partes 
que celebrou o negócio jurídico. (TARTUCE, 2011, p. 350). 
Para Pablo Stolze Gagliano (2010, p. 386), embora a lei não estabeleça distinções, o 
erro é um estado de espírito positivo, qual seja, a falsa percepção da realidade, ao 
passo que a ignorância é um estado de espírito negativo, o total desconhecimento 
do declarante a respeito das circunstâncias do negócio. O erro, entretanto, só é 
considerado como causa de anulabilidade do negócio jurídico, se for:
 • essencial (substancial); ou
 • escusável (perdoável).
Assim dispõe o art. 138 do CC: “São anuláveis os negócios jurídicos, quando as 
declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido 
por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.”
Ato contínuo, a legislação, em seu art. 139, trata de conceituar o erro substancial:
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da 
declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
41
Negócios Jurídicos 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a 
quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído 
nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, 
for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Ou seja, substancial é o erro que incide sobre a essência (substância) do ato que 
se pratica, sem o qual este não se teria realizado. É o caso do colecionador que, 
pretendendo adquirir uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça 
feita de material sintético. (GAGLIANO, 2010, p. 386).
1.1.1 Erro substancial
Em razão das diversas classificações apresentadas pelos doutrinadores, 
utilizaremos, para efeitos do presente estudo, a classificação do erro substancial 
proposta por Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 400-403), que expõe:
a. Erro sobre a natureza do negócio (error in negotio): é aquele que 
ocorre quando a pessoa pretende celebrar um negócio jurídico, 
mas, na verdade, acaba realizando outro diferente daquilo que 
pretendia. Um exemplo de erro sobre a natureza do negócio é 
pensar estar alugando o imóvel para alguém, quando, na verdade, 
está vendendo o bem para esta pessoa.
b. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore): 
é aquele que incide sobre a identidade do objeto. O indivíduo 
manifesta interesse sobre um determinado objeto, no entanto, 
na celebração do negócio, sua vontade acaba recaindo sobre 
objeto diverso do pretendido. Exemplo: o de um comprador o qual 
acredita estar adquirindo um terreno que supõe valorizado, pois 
situado em uma rua importante, mas que, na verdade, tem pouco 
valor, porque localizado em rua do mesmo nome, porém de um 
pequeno vilarejo. 
c. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (erro 
in substantia ou error in qualitate): essa espécie de erro ocorre 
quando uma das partes acredita que o objeto do negócio jurídico 
possui qualidades as quais, posteriormente, verifica-se inexistirem. 
Exemplo: quando se adquire um quadro pensando ser original pelo 
alto preço, mas, na verdade, tratava-se de cópia.
d. Erro quanto à identidade ou qualidade da pessoa a quem se refere 
a declaração de vontade (error in persona): relaciona-se tanto à 
identidade quanto às qualidades de uma pessoa. Para que seja 
possível anular um negócio jurídico em que haja erro com relação 
42
Capítulo 3 
à identidade ou qualidade da pessoa, é necessário que este erro 
tenha influenciado diretamente e de modo relevante a declaração 
de vontade do autor do erro. Exemplo: doação ou testamento 
deixando bens a alguém que o doador ou testador pensa ser seu 
filho natural, mas que, na verdade, não é. 
e. Erro de direito (error juris): é o falso conhecimento, ignorância ou 
interpretação errônea do que dispõe a lei no caso em concreto. 
Nestes casos, o agente pensa que está atuando de acordo com a 
lei, mas não está, seja porque a lei mudou, seja porque foi revogada, 
seja porque a interpretação feita foi incorreta, seja porque não 
existe lei regulamentando tal situação. Logo, apesar do disposto 
no art. 3º da LINDB, o qual determina que “ninguém se escusa 
de cumprir a lei alegando que não a conhece”, este não se pode 
confundir com o erro de direito, uma vez que tal erro pode ser 
arguido quando a pessoa tinha o propósito de cumprir a lei, mas, 
achando que a conhecia, realizou negócio jurídico por ela vedado, 
não autorizado, ou em desacordo com a norma. Exemplo: pessoa 
que contrata a importação de determinada mercadoria ignorando 
existir lei que proíbe tal importação. Como tal ignorância foi causa 
determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem 
com isto pretender que a lei seja descumprida.
1.1.2 Erro escusável
Erro escusável refere-se à espécie de erro justificável, desculpável, exatamente o 
contrário de erro grosseiro ou inescusável, de erro decorrente do não emprego de 
diligência ordinária. 
O Código Civil adotou o critério de comparar a conduta do agente com a da 
média das pessoas. Nesse caso, pode o juiz considerar escusável, por exemplo, 
a alegação de erro quanto à natureza do negócio, como, por exemplo, a 
celebração de um contrato de compra e venda julgando tratar-se de contrato de 
doação feito por uma pessoa rústica e analfabeta e, por outro lado, considerá-
la inescusável, injustificável quando o mesmo contrato for celebrado por um 
advogado. (GONÇALVES, 2011, p. 405).
Conforme dissemos acima, apresentamos, aqui, algumas das espécies de erros 
na classificação de Carlos Roberto Gonçalves. Importante salientar que existem 
outras classificações propostas por outros doutrinadores as quais merecem ser 
estudadas também. Fique atento/a!
43
Negócios Jurídicos 
1.2 Dolo
Considera-se dolo a malícia ou o artifício inspirado na má-fé para induzir a outra 
parte a realizar o negócio jurídico em seu prejuízo. É o enganar consciente. Vem 
do latim dolus, com o significado de ardil, logro, artifício, esperteza. (LOBO, 
2011, p. 280).
Assim, exemplificam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, 
p. 390-391) que o sujeito que vende uma caneta de cobre, afirmando 
tratar-se de ouro, atua com dolo, e o negócio jurídico poderá ser anulado. 
Em tempo: o dolo não se presume das circunstâncias de fato, devendo ser 
provado por quem o alega, ou seja, dispensa a prova de efetivo prejuízo 
para sua caracterização. 
De acordo com o art. 145 do Código Civil, “São os negócios jurídicos anuláveis 
por dolo, quando este for a sua causa”. Para tanto, convém classificar as 
espécies de dolo. 
Quanto à extensão dos efeitos no negócio jurídico, Pablo Stolze Gagliano e 
Rodolfo Pamplona Filho (2010, p. 391) definem que o dolo poderá ser: 
 • principal (essencial); ou
 • acidental. 
O dolo, para invalidar o ato, deve ser principal – atacando a causa do negócio em 
si -, uma vez que o acidental, aquele que não impediria a realização do negócio, 
gera, apenas, a obrigação de indenizar. 
No dolo principal, uma das partes do negócio utiliza artifícios maliciosos, para 
levar a outra a praticarum ato que não praticaria normalmente, visando obter 
vantagem, geralmente contemplando o enriquecimento sem causa. (TARTUCE, 
2011, p. 355).
O dolo acidental, que não é causa para o negócio, não pode gerar a sua 
anulabilidade, mas, somente, a satisfação em perdas e danos a favor do 
prejudicado. Nesse sentido, demonstra o art. 146 do CC: “O dolo acidental só 
obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o 
negócio seria realizado, embora por outro modo.”
Para esclarecer o disposto no artigo acima, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo 
Pamplona Filho (2010, p. 392) exemplificam: 
44
Capítulo 3 
[...] o sujeito declara pretender adquirir um carro, escolhendo 
um automóvel com cor metálica, e, quando do recebimento da 
mercadoria, enganado pelo vendedor, verifica que a cor é, em 
verdade básica. Neste caso, não pretendendo desistir do negócio, 
poderá exigir compensação por perdas e danos. Diferente seria 
se o sujeito somente interessasse comprar o veículo se fosse da 
cor metálica – hipótese em que o elemento faria parte da causa 
do negócio jurídico. Nesse caso, tendo sido enganado pelo 
vendedor para adquirir o automóvel, o comprador buscaria a 
anulação do negócio jurídico com base em dolo. 
Vejamos as demais classificações apontadas pela doutrina.
1.2.1 Dolus bonus e dolus malus
Esta classificação possui sua origem no Direito Romano e considera o dolus 
bonus como aquele tolerável e insuficiente para viciar a manifestação da vontade. 
É comum no comércio em geral e considerado normal quando, por exemplo, os 
vendedores exageram na qualidade das mercadorias. 
Ainda assim, é importante salientar que O Código de Defesa do Consumidor 
proíbe a propaganda enganosa, de modo que tal dolo não será tolerado se 
enganar o consumidor. 
Já o dolus malus é revestido de gravidade, exercido com o propósito de ludibriar 
e de prejudicar. Pode consistir em atos e palavras e até mesmo no silêncio 
maldoso. Para diferenciar entre o dolo tolerável do que vicia o consentimento 
caberá ao juiz a análise do caso concreto.
1.2.2 Dolo positivo (ou comissivo) e dolo negativo (ou omissivo)
O primeiro é o que se pratica por meio de ações, condutas comissivas e o 
segundo por omissão intencional. Ocorre tal dolo quando a parte silencia sobre 
circunstâncias importantes do negócio, não revelando (ou omitindo) fatos que, se 
viessem à tona, a vítima não faria o negócio. Observe a previsão legal:
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional 
de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra 
parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que 
sem ela o negócio não se teria celebrado. 
Ou seja, provada tal circunstância, admite-se a anulação do negócio jurídico.
45
Negócios Jurídicos 
1.2.3 Dolo de terceiro
Esta espécie fundamenta-se no art. 148 do Código Civil que dispõe:
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo 
de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse 
ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o 
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e 
danos da parte a quem ludibriou.
Ou seja, o dolo, pode ser praticado por uma terceira pessoa que não faz parte do 
negócio, mas engana a vítima para ajudar o outro interessado. Nesse caso, temos o 
dolo de terceiro que pode gerar tanto a anulação do negócio quanto o pagamento 
de perdas e danos à vítima. Assim, exemplifica Gonçalves (2011, p. 419):
Se o adquirente é convencido, maldosamente, por um terceiro, de que o relógio 
que está adquirindo é de ouro, sem que tal afirmação tenha sido feita pelo 
vendedor, e este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro e não 
alerta o comprador, o negócio torna-se anulável. Entretanto, se a parte a quem 
aproveite (o vendedor) não soube do dolo de terceiro, não se anula o negócio, 
mas caberá ao lesado reclamar perdas e danos. Incumbe ao lesado provar, na 
ação anulatória, que a outra parte, beneficiada pelo dolo de terceiro, dele teve ou 
deveria ter conhecimento.
1.2.4 Dolo do representante
Nessa espécie, quem age com dolo não é um terceiro, mas sim o próprio 
representante da parte. Para tanto, eis o dispositivo legal:
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só 
obriga o representado a responder civilmente até a importância 
do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante 
convencional, o representado responderá solidariamente com ele 
por perdas e danos.
Justamente por ser o representante da parte, poderá enganar a vítima, para 
beneficiar o seu representado. A lei distingue o dolo praticado pelo representante 
legal (no caso os pais, tutores ou curadores) do dolo praticado pelo representante 
convencional (mandatário ou procurador). 
No caso do dolo praticado por representante legal, os representados deverão 
ser responsabilizados até o limite da vantagem obtida no negócio. Já no caso do 
procurador, a responsabilidade é solidária, ou seja, ambos terão responsabilidade 
perante a vítima do dolo. 
46
Capítulo 3 
1.2.5 Dolo bilateral
O dolo bilateral está regulado pelo art. 150 do Código Civil, dispondo que “se 
ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o 
negócio, ou reclamar indenização.” 
Nesse caso, há dolo, má-fé das duas partes na celebração do negócio, não 
havendo na lei a possibilidade de se invocar anulação ou perdas e danos.
1.3 Coação
Coação pode ser conceituada como sendo uma pressão física ou moral exercida 
sobre o negociante, visando obrigá-lo a assumir uma obrigação que não lhe 
interessa. Aquele que exerce a coação é denominado coator e o que a sofre, 
coato, coagido ou paciente. (TARTUCE, p. 359).
A coação está fundamentada a partir do art. 151 do Código Civil:
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta 
ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua 
família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do 
paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Para tanto, a doutrina também identifica suas espécies:
 • coação física (vis absoluta); e
 • coação moral (vis compulsiva).
A coação física é aquela que age diretamente sobre o corpo da vítima. A doutrina 
entende que este tipo de coação neutraliza completamente a manifestação da 
vontade, tornando o negócio jurídico inexistente, e não simplesmente anulável. 
Imagine a hipótese de um lutador de boxe pegar a mão de uma velhinha 
analfabeta, à força, para apor a impressão digital em um instrumento de contrato 
que ela não quer assinar. Logicamente que um exemplo como este parece 
um tanto absurdo, mas é uma situação em que sequer se discute a invalidade 
do negócio jurídico, pois ele não será considerado juridicamente existente. 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010, p. 395).
Por outro lado, há também a coação moral. Esta pode ser conceituada como 
a coação efetiva e presente, causando fundado temor de dano iminente e 
considerável à pessoa do negociante, à sua família, à pessoa próxima ou aos seus 
bens, conforme identificado acima, no art. 151 do CC. (TARTUCE, 2011, p. 360). 
47
Negócios Jurídicos 
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p. 395) definem como 
aquela espécie que incute na vítima um temor constante e capaz de perturbar seu 
espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada. 
É importante lembrar que o magistrado deverá observar, na identificação 
da coação, o determinado no Código Civil em seu art. 152: “No apreciar 
a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o 
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam 
influir na gravidade dela.”
Desse modo, para tornar mais claro o entendimento a respeito da coação, Tartuce 
(2011, p. 361) exemplifica: 
Pensemos o caso em que alguém celebra um casamento sob 
pressão de ameaça do irmão da noiva. Se a última

Outros materiais