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APOSTILA DE TANATOLOGIA

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TANATOLOGIA 
FORENSE 
 
 
 
 
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 Morte 
 Tradicionalmente, o conceito trazido pela 
literatura médico-legal para a tanatologia forense é o de determina-la 
como “o ramo da medicina legal que estuda a morte e o morto, bem 
como suas repercussões”. 
 No que tange à importância médico-legal, a 
tanatologia forense auxilia o perito e a autoridade policial a definirem 
as circunstâncias envolvidas por ocasião daquela situação, fazendo 
com que haja o adequado início do procedimento policial a ser 
empregado, bem como é capaz de orientar a investigação que 
conduza à autoria do fato criminoso. Há forte utilização para, por 
exemplo, definir a causa da morte e também o tempo desta, não se 
resumindo, apenas, a esses fatores. 
 CONCEITO E DIAGNÓSTICO DA MORTE 
 A definição tradicional de morte sempre foi aquela 
que a considera como cessação total e irreversível das funções vitais. 
Desta forma, era diagnosticada, principalmente, pela ausência de 
batimentos cardíacos. 
 No entanto, com o desenvolvimento das técnicas de 
transplante, o conceito de morte foi sendo desenvolvido e houve 
necessidade de atualizá-lo. 
 Daí surge na atualidade o conceito de morte 
encefálica, para que possa haver maior segurança e permitir uma 
decisão consciente e capaz de garantir que alguém esteja realmente 
morto, haja vista a irreversibilidade da situação e as implicações dela 
decorrentes, seja no âmbito civil, seja na esfera penal, previdenciária, 
trabalhista etc. 
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 Morte encefálica: morte do tronco encefálico, 
composto pela Ponte de Varólio e Bulbo Raquidiano. 
 Morte cardíaca: cessação irreversível dos 
batimentos cardíacos. 
 É importante destacar que o Conselho Federal de 
Medicina aprovou a resolução 1.480/97, dispondo sobre critérios de 
constatação da morte encefálica. De acordo com Genival França, os 
parâmetros clínicos para a avaliação desse tipo de morte estão 
indicados tanto na valorização do coma aperceptivo com ausência de 
atividade motora supraespinhal quanto da apneia. 
 Há afirmação no sentido de que no termo de 
declaração de morte encefálica, que deve ser arquivado no próprio 
prontuário do paciente, deve também constar a identificação da 
causa do coma, do exame neurológico, das assinaturas dos 
profissionais que procederam o exame clínico, dos exames 
complementares e das observações que indicam as recomendações 
para a prática dos diversos exames e testes. Parte deste conteúdo 
está no art. 8º da Resolução do Conselho Federal de Medicina 
1.480/97. 
 Com relação ao conteúdo estomacal e visceral é 
importante destacar que varia de indivíduo, de acordo com o que se 
alimenta e conforme a velocidade de sua digestão e do seu 
metabolismo. Genival França indica que a digestão de uma 
alimentação pesada, em geral, se faz no estômago em torno de 5 a 
7 horas. Já uma refeição média, em torno de 3 aa 4 horas e uma 
refeição leve em torno de meia e duas horas. 
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 No que tange a fauna cadavérica (biotanatologia), 
esta pode abranger os insetos (entomologia forense), principalmente 
as moscas, que têm papel importante na determinação da hora 
aproximada da morte. 
 Mais uma vez é de extrema importância ressaltar 
que o tempo da morte é influenciado por uma série de fatores. Deve-
se ter cuidado para analisar todas as circunstâncias envolvidas, sob 
pena de determinar um horário para a morte incompatível com a 
realidade. Durante a realização da perícia num local de crime, como 
será visto mais à frente, outros fatores, tais como depoimento de 
testemunhas, imagens de circuitos internos fechados de 
monitoramento acabam tendo papel decisivo na conjugação com os 
dados sobre o tempo estimado da morte revelados no cadáver. 
 PREMORIÊNCIA E COMORIÊNCIA 
 Comoriência: quando duas ou mais pessoas 
morrem na mesma ocasião, não se podendo provar quem faleceu 
primeiro, presume-se que tiveram mortes simultâneas. Tal instituto 
está previsto no art. 8º do Código Civil. 
 Art. 8º do CC. Se dois ou mais indivíduos faleceram 
na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos 
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente 
mortos. 
 Premoriência: se em virtude das circunstâncias há 
condições de se provar que uma dessas pessoas faleceu em 
momento anterior, dá-se o nome de premoriência. 
 O interesse médico-legal destes institutos tem sede 
no campo do direito sucessório. 
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 MORTE SUSPEITA, MORTE SÚBITA E MORTE 
AGÔNICA 
 Morte suspeita: pode ser natural ou violenta. Há 
casos em que a origem violenta só pode ser afastada depois de um 
exame cuidadoso no local. Por isso, Hygino Hércules assevera que 
“a morte é considerada suspeita sempre que houver a possibilidade 
de não ter sido natural a sua causa”. É aquela que decorre de causa 
duvidosa. 
 A morte natural (também compreendida por 
Genival França como “morte por antecedentes patológicos”), pode 
ter origem tanto em eventos congênitos, quanto em patologias 
adquiridas. 
 A morte violenta, por sua vez, é aquela oriunda de 
causa externa e pode ser causada por acidente, suicídio ou crime. 
 MORTE SÚBITA 
 Súbita é toda morte que ocorre de forma 
inesperada. De acordo com Hygino Hercules, tal conceito “prende-se 
mais à inexistência de um quadro patológico prévio que pudesse 
explica-lo do que ao tempo de evolução rápida da causa da morte”. 
 MORTE AGÔNICA 
 A morte agônica é uma morte lenta, com sofrimento. 
Ex.: coma 
 LESÕES INTRA VITAM E POST MORTEM 
 Um ponto que merece destaque no estudo da 
tanatologia forense é a identificação das lesões, para saber-mos se 
elas ocorreram com o indivíduo vivo ou morto. Isso faz diferença na 
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hora da tipificação penal, pois o bem jurídico tutelado deve ser o norte 
que baliza o operador do direito na atuação penal. 
 Por esta razão, ao serem verificadas as lesões no 
cadáver é importante destacar as características e locais, para que 
sejam corroboradas com depoimentos de testemunhas e demais 
elementos de informação que porventura sejam colhidos em sede 
policial. 
 Lesões causadas pela fauna podem ocorrer tanto 
no afogamento, quanto em terra. Nos casos de afogamento, 
pequenas lesões nos tecidos macios dos olhos e bocas são os mais 
preferidos por pequenos animais. 
 Não raras vezes, durante uma situação fática 
podem ocorrer lesões acidentais, principalmente nos casos de 
mortes agônicas e são importantes sob o ponto de vista pericial. A 
queda da própria altura pode resultar em lesões graves, que podem 
levar o indivíduo à morte. 
 Saber identificar tais lesões juntamente com o 
cenário em que os fatos se deram pode ser a diferença entre a 
investigação de um homicídio ou a apuração de uma morte natural 
ou agônica. 
 Além disso, em determinados casos, principalmente 
nos crimes como homicídio, o autor pode realizar determinadas 
manobras para tentar mascarar a verdadeira causa da morte, de 
modo a imitar um suicídio. São as chamadas lesões intencionais. 
 Nos casos de cortes, pode-se distinguir uma lesão 
intra vitam de uma lesão post mortem através da verificação do seu 
aspecto externo: as lesões provocadas no indivíduo ainda vivo 
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apresentam infiltração hemorrágica dos tecidos moles. Quanto maior 
é a sobrevivência, maior é a tendência dessa infiltração. Outro fato 
importante a ser destacado é que a coagulação do sangue é um 
fenômeno vital. 
 INUMAÇÃO E EXUMAÇÃO 
 Inumação simples: é a forma mais comum, 
segundo Genival França. Há necessidade de cautela para o tempo 
do sepultamento, que não deve ocorrer antes de 24 horas, nem 
depois de 36 horas, a não ser por motivos especiais, como nos casos 
envolvendo doenças contagiosas. Nenhuma inumação pode ser feita 
sem a certidão de óbito. 
 Inumação com necropsia: é obrigatória nos casosde morte violenta. Com relação às mortes naturais, não há tal 
obrigatoriedade. Todavia, Genival França ressalta que somente com 
a permissão dos representantes legais é capaz de autorizar o médico 
a realizar uma necropsia de um paciente que tenha falecido por morte 
natural. 
 Imersão: trata-se de um método antigo, utilizado 
principalmente por marinheiros. Consiste em jogar o corpo no mar. 
 Cremação: de todos os métodos apresentados 
este é o mais higiênico do ponto de vista sanitário. Consiste em 
transformar o cadáver em cinzas, em grandes fornos especiais com 
temperaturas que beiram os 1000º C. Do ponto de vista médico-legal, 
a cremação não permite que haja posterior exumação. Assim, não é 
permitida nos casos de morte violenta. 
 
 
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 ANÁLISE DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 
 Do ponto de vista legal, os arts. 163 a 166 do 
Código de Processo Penal tratam da exumação. 
 Art. 163, CPP. Em caso de exumação para exame 
cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora 
previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará 
auto-circunstanciado. 
 Parágrafo único. O administrador de cemitério 
público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de 
desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a 
sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a 
inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que 
tudo constará do auto. 
 Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados 
na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do 
possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do 
crime. 
 Art. 165. Para representar as lesões encontradas 
no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame 
provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente 
rubricados. 
 Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do 
cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de 
Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição 
de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de 
identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e 
indicações. 
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 Parágrafo único. Em qualquer caso, serão 
arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que 
possam ser úteis para a identificação do cadáver. 
 ATESTADO DE ÓBITO 
 Para Genival França, tais documentos “têm como 
finalidade confirmar a morte, definir a causa mortis, além de 
satisfazer os interesses sanitários, político, jurídico e social”. É um 
documento público e preenchido por alguém habilitado para tal 
finalidade. É através dele que se estabelece o fim da vida civil, com 
a extinção da personalidade civil. 
 Geralmente a morte é confirmada por médicos nos 
hospitais. No entanto, o Decreto 20.931/32 proíbe que o médico que 
não tenha dado assistência ao paciente ateste seu óbito, razão pela 
qual os Serviços de Verificação de Óbito ficariam encarregados de 
atestar a morte dos falecidos sem assistência médica (esse SVO têm 
o objetivo de registrar e estimar, através de estatísticas, os tipos de 
mortes naturais que ocorrem na área de sua responsabilidade). 
 CAUSA MÉDICA E CAUSA JURÍDICA DA MORTE 
 As causas médicas são verificadas através da 
análise do tipo de doença que acometeu o indivíduo. Já as causas 
jurídicas buscam estabelecer se a morte foi natural ou não natural 
(violenta – que pode ser por meio de homicídio, suicídio ou acidente). 
 FENÔMENOS RELACIONADOS AO 
DIAGNÓSTICO DA MORTE 
 Por se tratar de uma situação complexa, a morte 
envolve a análise de vários fenômenos que podem tanto indicar 
probabilidade, quanto a certeza da ocorrência desta. Existem alguns 
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sinais e algumas situações que ocorrem no cadáver que podem 
auxiliar os investigadores a determinar se um indivíduo está morto ou 
não. 
 SINAIS DE PROBABILIDADE DE MORTE 
(ABIÓTICOS) 
 Estes sinais podem ser divididos em imediatos e 
tardios/consecutivos. 
 IMEDIATOS 
 a) Perda da consciência: é importante 
destacar que em outras situações, que não a morte, é possível ter 
perda da consciência, mas ela, por si só, é um fato deve ser levado 
em consideração; 
 
 b) Insensibilidade/sinal de Josat: representa 
a ausência de sensibilidade em relação a eventos como 
sensações térmicas, de toque e de dor. Como verificação desse 
estado, uma das manobras utilizadas é o pinçamento do mamilo, 
sem resposta. Esse constitui um sinal de Josat; 
 
 
 c) Imobilidade: a morte provoca a imobilidade 
do cadáver; 
 
d) Abolição do tônus muscular 
 
 
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e) Face hipocrática: é observada também pela abolição do tono 
muscular. Alguns autores preferem chamar de “máscara da 
morte”, pois face hipocrática é uma expressão de sofrimento, 
agonia e dor. O professor Genival França afirma que no morto, 
há um semblante de profunda serenidade. 
 
f) Relaxamento dos esfíncteres: Isso faz com que fluidos 
corpóreos, urina e fezes sejam expelidos do corpo. Também 
decorre da flacidez muscular difusa. 
 
 
g) Inexcitabilidade elétrica: o indivíduo fica inerte diante de 
estímulos elétricos; 
 
h) Cessação da respiração: a cessação da respiração pode ser 
verificada através do sinal de Winslow (representado pela 
imobilidade da chama de uma vela quando aproximada do nariz). 
Além disso, há ausência de “murmúrios vesiculares” (som que o 
ar faz quando passa pelos brônquios). A cessação da respiração 
também pode ser verificada através de um método consistente em 
aproximar um espelho do nariz do morto. Se o espelho ficasse 
embaçado, era sinal de respiração. 
 i) Cessação da circulação: um dos primeiros sinais abióticos a 
morte é a cessação da circulação do sangue. 
 
 
 
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 SINAIS TARDIOS/CONSECUTIVOS 
 a) Desidratação dos tecidos: com a morte, cessa o 
controle hídrico. Isso influi no peso do cadáver, na sua pele e mucosa 
bem como nos olhos, tendo em vista que a maior parte do ser humano é 
composta por água. 
 Com relação à perda de peso, Genival França afirma que 
é mais acentuada nos recém-nascidos e nos fetos. Daí pode surgir o 
pergaminhamento da pele (deixando uma tonalidade pardo-amarelada e 
ramificações vasculares). Esse processo tem início nos locais em que a 
pele é mais delgada, como na bolsa escrotal. 
 Nos olhos, a desidratação dos tecidos provoca a perda 
da transparência da córnea, bem como a presença de tela albuminosa 
(ou sinal de Stenon-Louis, que consiste na evaporação do transnudato. 
Os olhos ficam com uma fina camada constituída por poeira e detritos da 
córnea. Essa tela, no início pode ser removida com soro, reidratando o 
local. Com o tempo, se torna mais intensa e ocorre a opacificação da 
córnea, dando-lhe aspecto fosco). 
 MANCHA NEGRA DE SOMMER-LARCHER – é a 
dessecação da esclerótica e ocorre de 3 a 5 horas após a morte, 
dependendo da velocidade da evaporação. Geralmente tem forma 
circular ou oval. Quanto mais o tempo passar, maior é a tendência de 
ampliação. 
 
 b) Resfriamento cadavérico/algor mortis: No caso de 
resfriamento cadavérico, devemos nos lembrar que não existe perda de 
calor por transpiração. O cadáver não se resfria como uma peça de metal. 
Diversos outros fatores, tais como idade, constituição do corpo e causa 
mortis também influenciam. 
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A tendência do cadáver é equilibrar sua temperatura com a do ambiente 
à sua volta. Porém, fatores como o ar, a umidade e a ventilação são meios 
que roubam calor, influenciando no esfriamento do cadáver. A aferição da 
temperatura no cadáver é feita, preferencialmente, no reto, com uma 
profundidade de 10 cm, mais ou menos. Conforme ensinamentos do 
professor Genival França, o aparelhoutilizado é o necrômetro. 
 
 c) Livores cadavérico/livor mortis/livores 
hipostáticos: Podem ser considerados um sinal de certeza da morte. 
Sangue no interior dos vasos acumulados na região de maior declive, por 
conta da ação da gravidade e caracterizam-se em geral pela cor azul-
púrpura. Apresentam-se em placas e permanecem até o surgimento dos 
fenômenos da putrefação. 
Manchas esparsas – 03 horas 
Manchas generalizadas e ainda móveis – 06 a 8 horas 
Livores fixados – a partir de 08 a 12 horas 
 ATENÇÃO: Livores carminados, cor de cereja em casos de 
morte por inalação de monóxido de carbono. Há formação de 
carboxiemoglobina que dá tonalidade carminada ao sangue da vítima 
quando em quantidade adequada. 
 Tourdes verificou que durante as primeiras 12 horas após a 
morte os livores cadavéricos podem mudar de posição conforme a situação 
do cadáver, antes de se fixarem de forma definitiva. 
 Isso explica a importância do estudo dos livores para 
determinar se houve ou não manipulação do cadáver. 
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 Após estas doze horas, já tendo havido a fixação definitiva 
do livor, mesmo que haja deslocamento do cadáver de sua posição inicial, 
as manchas permanecerão no mesmo local inicial. 
 Este fenômeno se explica tendo em vista que, com o passar 
do tempo, a hemoglobina sofre hemólise e há autólise dos vasos 
sanguíneos e capilares, fazendo com que o sangue extravase e manche. 
 d) Rigidez cadavérica/rigor mortis: a literatura médico-
legal afirma que não é propriamente uma contração muscular (pois nessa 
há o encurtamento das fibras). A rigidez cadavérica é um endurecimento 
muscular. Nele, há acidificação dos músculos e falta de oxigenação. O 
tempo em que o cadáver permanece rígido é o chamado de “período de 
estado”. 
 Ocorre no sentido céfalo-caudal ou crânio podálico (LEI 
DE NISTEN SOMMER-LARCHER). Desaparece na mesma ordem. 
Começa com 2 horas. Em torno de 8 horas fica completamente rígido e 
vai até 24 horas após a morte, como o início da putrefação. 
 Observação: Espasmo cadavérico: os cadáveres 
guardam a posição com que foram surpreendidos pela morte numa 
atitude especial fixada da vida para a morte. Também é chamada de 
rigidez cataléptica ou estatutária. Não seria propriamente uma contração. 
Roberto Blanco afirma que é a permanência da última contração muscular 
vital ocorrida no momento da transição da vida para a morte. 
 
 FENÔMENOS CADAVÉRICOS (TRANSFORMATIVOS) 
 Os fenômenos transformativos são entendidos como 
sinais patognomônicos de morte. Se dividem em destrutivos (autólise, 
putrefação, maceração) e conservadores (mumificação, saponificação, 
corificação). 
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 FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS DESTRUTIVOS 
 Autólise: É o processo de destruição das células 
caracterizado pela ação das suas próprias enzimas. As células começam 
a se quebrar por conta da falta de oxigenação, nutrientes. É o próprio 
corpo se autodestruindo. 
 Putrefação: De acordo com a literatura médico-legal, a 
putrefação é a decomposição da matéria orgânica por ação de diversos 
micro-organismos, como germes e bactérias, que estejam presentes ou 
não no corpo humano. 
 Tal fenômeno depende das condições climáticas, do solo, 
da falta de oxigênio, acidificação maior ou menor do meio, ação de 
bactérias de decomposição, flora e fauna cadavérica etc. 
 Além disso fatores intrínsecos (como constituição física, 
idade de causa mortis), bem como extrínsecos (temperatura, umidade, 
ventilação) também influenciam na rapidez com que a decomposição irá 
agir, fazendo com que os fenômenos dela decorrentes possam ser 
retardados. 
 Observação: locais quentes, secos e muito arejados 
dificultam a putrefação e favorecem a mumificação. Se ao invés disto o 
ambiente for quente, úmido e pouco arejado, a putrefação será dificultada, 
favorecendo, no entanto, a saponificação. Por fim, se o local estiver frio, 
isto pode fazer ou não com que a putrefação seja substituída pela 
mumificação, por outros fenômenos, tais como a adipocera ou 
mumificação. 
 FASES DA PUTREFAÇÃO 
 I - Fase de coloração: esta primeira fase também é 
chamada de fase cromática. Em geral, se dá mais ou menos com 24 horas 
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e se inicia com uma mancha verde abdominal, principalmente pela ação 
das bactérias presentes no intestino grosso. 
 Diz-se que o início da putrefação, mais especificamente, 
tem lugar na região do ceco (porção inicial do intestino grosso), na fossa 
ilíaca direita. Neste local ocorre o que se chama de mancha verde 
abdominal. Tal mancha é resultado da combinação de hidrogêncio 
sulfarado mais a hemoglobina. Isso origina a sulfoxiemoglobina. Onde 
houver mais livores de hipóstase, maior será a formação daquela 
substância. 
 Observação 1: Nos fetos, como regra, a maceração 
ocorre primeiro do que a putrefação. Isto se deve ao fato de que no interior 
do útero materno tendo a proteger o feto de micro-organismos que 
possam vir a causar a putrefação, razão pela qual a maceração tem início 
preferencial. Quando há contato do feto com o meio ambiente começa a 
putrefação. A contaminação do feto, nesse caso, é de fora para dentro e 
os orifícios naturais do corpo são os primeiros locais em que ocorre a 
putrefação, e não o ceco. 
 Observação 2: a cabeça de negro Lecha-Marzo acorre 
bastante nos afogados e dificulta o reconhecimento visual do cadáver. 
Assim, o início da putrefação pode evidenciar-se nas porções superiores 
do corpo (terço superior do tórax, na face e pulmões), em razão da maior 
quantidade de sangue. 
 
 II – FASE GASOSA 
 Pode ser chamada de fase enfisematosa. Com o início da 
decomposição, vão surgindo gases no interior do corpo. Posteriormente 
esses gases, algumas vezes por não ter por onde sair, acabam formando 
bolhas com conteúdo podre. 
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 De acordo com Roberto Blanco, com o passar do tempo 
a pressão formada por esses gases aumenta e eles se infiltram nos 
tecidos, através de um processo de difusão, formando-se bolhas, que 
gradativamente aumentam e se juntam umas às outras. Não é raro que 
essas bolhas se rompam. 
 Nas mulheres, o efeito dos gases podem fazer com que 
as mamas aumentem de tamanho. Além disso, pode ocorrer o prolapso 
uterino, representado pelo útero saindo da vagina. 
 Por diferença da densidade do gás da putrefação, durante 
o período gasoso, um cadáver que estava no fundo de um rio pode vir a 
emergir. 
 CIRCULAÇÃO PÓSTUMA DE BROUARDEL 
 
 Ocorre por força dos gases de putrefação que se 
espalham no interior dos vasos sanguíneos (que ficam com a aparência 
de “teia de aranha”). Por ocasião dos livores de hipóstase, a tendência é 
que o sangue se concentre nos vasos sanguíneos mais baixos, fazendo 
com que os mais elevados sejam esvaziados. No entanto, por causa 
desta circulação póstuma, os vasos podem voltar a ficar cheios. Esse 
sinal significa que o cadáver se encontra no período gasoso, com o tempo 
de morte estimado em uma semana, aproximadamente. 
 
 Observação: 
 Parto póstumo de Brouardel: utilizando princípios 
semelhantes ao da circulação póstuma, também decorre do período 
gasoso. O útero e o feto são expulsos através da vagina. 
 
 III – FASE COLIQUATIVA: é o período de dissolução 
pútrida do cadáver, que pode durar de um a vários meses e ocorrer 
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apenas em parte ou no cadáver como um todo. Inicia-se, em geral, com 
cerca de três semanas após a morte. 
 
 IV – FASE DE ESQUELETIZAÇÃO: nessa fase o 
cadáver vai perdendo os tecidos moles. Os músculos, vísceras e ossos 
vão aparecendo. Operíodo vai de meses a anos. Analisar onde foi 
achado, o tipo de solo, clima. Lembrar que animais podem ter arrastado 
o cadáver. 
 
 MACERAÇÃO 
 
 A maceração é um processo de transformação no qual 
há destruição dos tecidos moles do cadáver, pela ação prolongada de 
líquidos. Como sinais característicos, a epiderme pode ser destacada da 
derme e a pele em geral tende a ficar esbranquiçada e enrugada. 
 
a) Maceração nos indivíduos 
 
I – Séptica: resulta da exposição prolongada do cadáver num líquido 
que esteja contaminado por micro-organismos, o que não impede a 
ocorrência da putrefação. 
 
II – Asséptica: neste caso, não há contaminação do líquido. 
Geralmente ocorre nos fetos que, mortos, permanecem no interior do 
útero protegidos pelo líquido amniótico. 
 
b) Maceração nos fetos: o estudo da maceração fetal pode auxiliar na 
identificação da responsabilidade penal, nas acusações de erro 
médico, nas fraudes no nascimento e na sucessão civil. A literatura 
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médico-legal costuma defini-la em graus, trazendo alguns sinais 
particulares de interesse para estudo. 
 1º grau: formam-se flictenas (tende a representar a 
primeira semana. Mais ou menos de um a três dias da morte); 
 
 2º grau: há presença de líquido amniótico hemorrágico 
e epiderme arroxeada. Rompem-se as bolhas. Tende a representar a 
segunda semana (com mais ou menos oito dias a partir da morte); 
 
 3º grau: ocorre, em geral, por volta da terceira semana. 
Este grau é caracterizado pela deformidade craniana, bem cmo infliltração 
hemoglobínica das vísceras. 
 
 ALGUNS SINAIS DA MACERAÇÃO: 
 - o abdômen fica achatado como o dos anfíbios; 
 - as articulações ficam com a mobilidade anômala e 
exagerada; 
 - o cordão umbilical fica embebido por hemoglobina. 
 
FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS CONSERVADORES 
 
 I – SAPONIFICAÇÃO: Também é chamada de 
adipocera e ocorre mais nos casos de covas múltiplas, catástrofes etc. 
Hygino Hércules afirma que esse processo é marcado por um odor de 
queijo rançoso e adocicado. Do ponto de vista do IML é melhor do que 
esqueletizado. 
 Transformação das gorduras em um tipo de cera ou 
sabão que recobre o cadáver impedindo a continuação da putrefação. A 
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saponificação não é m processo inicial. Se dá em torno de um, dois ou 
três meses após a morte. 
 
 II – MUMIFICAÇÃO: Ocorre, aproximadamente, após 
o 2º ou 3º mês desde a morte. A origem atribuída à mumificação é 
química, e tal quadro pode ser provocado ou artificial (embalsamento), 
geral ou local, espontâneo ou natural, superficial ou profunda. 
 Para que esse processo seja concretizado, uma 
condição essencial é a falta de umidade. No entanto, fatores individuais 
como a composição física, peso, altura podem ser decisivos. 
 
 III – CORIFICAÇÃO: Esse processo transformativo dá 
ao cadáver um aspecto semelhante ao couro, pois seus tecidos cutâneos 
ficam transformados em razão da desidratação. Com recursos técnicos, 
pode-se reidratar estes tecidos para identificar a face e lesões, 
diferenciando aquelas causadas intra vitam das provocadas post mortem.

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