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1 TANATOLOGIA FORENSE 2 Morte Tradicionalmente, o conceito trazido pela literatura médico-legal para a tanatologia forense é o de determina-la como “o ramo da medicina legal que estuda a morte e o morto, bem como suas repercussões”. No que tange à importância médico-legal, a tanatologia forense auxilia o perito e a autoridade policial a definirem as circunstâncias envolvidas por ocasião daquela situação, fazendo com que haja o adequado início do procedimento policial a ser empregado, bem como é capaz de orientar a investigação que conduza à autoria do fato criminoso. Há forte utilização para, por exemplo, definir a causa da morte e também o tempo desta, não se resumindo, apenas, a esses fatores. CONCEITO E DIAGNÓSTICO DA MORTE A definição tradicional de morte sempre foi aquela que a considera como cessação total e irreversível das funções vitais. Desta forma, era diagnosticada, principalmente, pela ausência de batimentos cardíacos. No entanto, com o desenvolvimento das técnicas de transplante, o conceito de morte foi sendo desenvolvido e houve necessidade de atualizá-lo. Daí surge na atualidade o conceito de morte encefálica, para que possa haver maior segurança e permitir uma decisão consciente e capaz de garantir que alguém esteja realmente morto, haja vista a irreversibilidade da situação e as implicações dela decorrentes, seja no âmbito civil, seja na esfera penal, previdenciária, trabalhista etc. 3 Morte encefálica: morte do tronco encefálico, composto pela Ponte de Varólio e Bulbo Raquidiano. Morte cardíaca: cessação irreversível dos batimentos cardíacos. É importante destacar que o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução 1.480/97, dispondo sobre critérios de constatação da morte encefálica. De acordo com Genival França, os parâmetros clínicos para a avaliação desse tipo de morte estão indicados tanto na valorização do coma aperceptivo com ausência de atividade motora supraespinhal quanto da apneia. Há afirmação no sentido de que no termo de declaração de morte encefálica, que deve ser arquivado no próprio prontuário do paciente, deve também constar a identificação da causa do coma, do exame neurológico, das assinaturas dos profissionais que procederam o exame clínico, dos exames complementares e das observações que indicam as recomendações para a prática dos diversos exames e testes. Parte deste conteúdo está no art. 8º da Resolução do Conselho Federal de Medicina 1.480/97. Com relação ao conteúdo estomacal e visceral é importante destacar que varia de indivíduo, de acordo com o que se alimenta e conforme a velocidade de sua digestão e do seu metabolismo. Genival França indica que a digestão de uma alimentação pesada, em geral, se faz no estômago em torno de 5 a 7 horas. Já uma refeição média, em torno de 3 aa 4 horas e uma refeição leve em torno de meia e duas horas. 4 No que tange a fauna cadavérica (biotanatologia), esta pode abranger os insetos (entomologia forense), principalmente as moscas, que têm papel importante na determinação da hora aproximada da morte. Mais uma vez é de extrema importância ressaltar que o tempo da morte é influenciado por uma série de fatores. Deve- se ter cuidado para analisar todas as circunstâncias envolvidas, sob pena de determinar um horário para a morte incompatível com a realidade. Durante a realização da perícia num local de crime, como será visto mais à frente, outros fatores, tais como depoimento de testemunhas, imagens de circuitos internos fechados de monitoramento acabam tendo papel decisivo na conjugação com os dados sobre o tempo estimado da morte revelados no cadáver. PREMORIÊNCIA E COMORIÊNCIA Comoriência: quando duas ou mais pessoas morrem na mesma ocasião, não se podendo provar quem faleceu primeiro, presume-se que tiveram mortes simultâneas. Tal instituto está previsto no art. 8º do Código Civil. Art. 8º do CC. Se dois ou mais indivíduos faleceram na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Premoriência: se em virtude das circunstâncias há condições de se provar que uma dessas pessoas faleceu em momento anterior, dá-se o nome de premoriência. O interesse médico-legal destes institutos tem sede no campo do direito sucessório. 5 MORTE SUSPEITA, MORTE SÚBITA E MORTE AGÔNICA Morte suspeita: pode ser natural ou violenta. Há casos em que a origem violenta só pode ser afastada depois de um exame cuidadoso no local. Por isso, Hygino Hércules assevera que “a morte é considerada suspeita sempre que houver a possibilidade de não ter sido natural a sua causa”. É aquela que decorre de causa duvidosa. A morte natural (também compreendida por Genival França como “morte por antecedentes patológicos”), pode ter origem tanto em eventos congênitos, quanto em patologias adquiridas. A morte violenta, por sua vez, é aquela oriunda de causa externa e pode ser causada por acidente, suicídio ou crime. MORTE SÚBITA Súbita é toda morte que ocorre de forma inesperada. De acordo com Hygino Hercules, tal conceito “prende-se mais à inexistência de um quadro patológico prévio que pudesse explica-lo do que ao tempo de evolução rápida da causa da morte”. MORTE AGÔNICA A morte agônica é uma morte lenta, com sofrimento. Ex.: coma LESÕES INTRA VITAM E POST MORTEM Um ponto que merece destaque no estudo da tanatologia forense é a identificação das lesões, para saber-mos se elas ocorreram com o indivíduo vivo ou morto. Isso faz diferença na 6 hora da tipificação penal, pois o bem jurídico tutelado deve ser o norte que baliza o operador do direito na atuação penal. Por esta razão, ao serem verificadas as lesões no cadáver é importante destacar as características e locais, para que sejam corroboradas com depoimentos de testemunhas e demais elementos de informação que porventura sejam colhidos em sede policial. Lesões causadas pela fauna podem ocorrer tanto no afogamento, quanto em terra. Nos casos de afogamento, pequenas lesões nos tecidos macios dos olhos e bocas são os mais preferidos por pequenos animais. Não raras vezes, durante uma situação fática podem ocorrer lesões acidentais, principalmente nos casos de mortes agônicas e são importantes sob o ponto de vista pericial. A queda da própria altura pode resultar em lesões graves, que podem levar o indivíduo à morte. Saber identificar tais lesões juntamente com o cenário em que os fatos se deram pode ser a diferença entre a investigação de um homicídio ou a apuração de uma morte natural ou agônica. Além disso, em determinados casos, principalmente nos crimes como homicídio, o autor pode realizar determinadas manobras para tentar mascarar a verdadeira causa da morte, de modo a imitar um suicídio. São as chamadas lesões intencionais. Nos casos de cortes, pode-se distinguir uma lesão intra vitam de uma lesão post mortem através da verificação do seu aspecto externo: as lesões provocadas no indivíduo ainda vivo 7 apresentam infiltração hemorrágica dos tecidos moles. Quanto maior é a sobrevivência, maior é a tendência dessa infiltração. Outro fato importante a ser destacado é que a coagulação do sangue é um fenômeno vital. INUMAÇÃO E EXUMAÇÃO Inumação simples: é a forma mais comum, segundo Genival França. Há necessidade de cautela para o tempo do sepultamento, que não deve ocorrer antes de 24 horas, nem depois de 36 horas, a não ser por motivos especiais, como nos casos envolvendo doenças contagiosas. Nenhuma inumação pode ser feita sem a certidão de óbito. Inumação com necropsia: é obrigatória nos casosde morte violenta. Com relação às mortes naturais, não há tal obrigatoriedade. Todavia, Genival França ressalta que somente com a permissão dos representantes legais é capaz de autorizar o médico a realizar uma necropsia de um paciente que tenha falecido por morte natural. Imersão: trata-se de um método antigo, utilizado principalmente por marinheiros. Consiste em jogar o corpo no mar. Cremação: de todos os métodos apresentados este é o mais higiênico do ponto de vista sanitário. Consiste em transformar o cadáver em cinzas, em grandes fornos especiais com temperaturas que beiram os 1000º C. Do ponto de vista médico-legal, a cremação não permite que haja posterior exumação. Assim, não é permitida nos casos de morte violenta. 8 ANÁLISE DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Do ponto de vista legal, os arts. 163 a 166 do Código de Processo Penal tratam da exumação. Art. 163, CPP. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto-circunstanciado. Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto. Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados. Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. 9 Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver. ATESTADO DE ÓBITO Para Genival França, tais documentos “têm como finalidade confirmar a morte, definir a causa mortis, além de satisfazer os interesses sanitários, político, jurídico e social”. É um documento público e preenchido por alguém habilitado para tal finalidade. É através dele que se estabelece o fim da vida civil, com a extinção da personalidade civil. Geralmente a morte é confirmada por médicos nos hospitais. No entanto, o Decreto 20.931/32 proíbe que o médico que não tenha dado assistência ao paciente ateste seu óbito, razão pela qual os Serviços de Verificação de Óbito ficariam encarregados de atestar a morte dos falecidos sem assistência médica (esse SVO têm o objetivo de registrar e estimar, através de estatísticas, os tipos de mortes naturais que ocorrem na área de sua responsabilidade). CAUSA MÉDICA E CAUSA JURÍDICA DA MORTE As causas médicas são verificadas através da análise do tipo de doença que acometeu o indivíduo. Já as causas jurídicas buscam estabelecer se a morte foi natural ou não natural (violenta – que pode ser por meio de homicídio, suicídio ou acidente). FENÔMENOS RELACIONADOS AO DIAGNÓSTICO DA MORTE Por se tratar de uma situação complexa, a morte envolve a análise de vários fenômenos que podem tanto indicar probabilidade, quanto a certeza da ocorrência desta. Existem alguns 10 sinais e algumas situações que ocorrem no cadáver que podem auxiliar os investigadores a determinar se um indivíduo está morto ou não. SINAIS DE PROBABILIDADE DE MORTE (ABIÓTICOS) Estes sinais podem ser divididos em imediatos e tardios/consecutivos. IMEDIATOS a) Perda da consciência: é importante destacar que em outras situações, que não a morte, é possível ter perda da consciência, mas ela, por si só, é um fato deve ser levado em consideração; b) Insensibilidade/sinal de Josat: representa a ausência de sensibilidade em relação a eventos como sensações térmicas, de toque e de dor. Como verificação desse estado, uma das manobras utilizadas é o pinçamento do mamilo, sem resposta. Esse constitui um sinal de Josat; c) Imobilidade: a morte provoca a imobilidade do cadáver; d) Abolição do tônus muscular 11 e) Face hipocrática: é observada também pela abolição do tono muscular. Alguns autores preferem chamar de “máscara da morte”, pois face hipocrática é uma expressão de sofrimento, agonia e dor. O professor Genival França afirma que no morto, há um semblante de profunda serenidade. f) Relaxamento dos esfíncteres: Isso faz com que fluidos corpóreos, urina e fezes sejam expelidos do corpo. Também decorre da flacidez muscular difusa. g) Inexcitabilidade elétrica: o indivíduo fica inerte diante de estímulos elétricos; h) Cessação da respiração: a cessação da respiração pode ser verificada através do sinal de Winslow (representado pela imobilidade da chama de uma vela quando aproximada do nariz). Além disso, há ausência de “murmúrios vesiculares” (som que o ar faz quando passa pelos brônquios). A cessação da respiração também pode ser verificada através de um método consistente em aproximar um espelho do nariz do morto. Se o espelho ficasse embaçado, era sinal de respiração. i) Cessação da circulação: um dos primeiros sinais abióticos a morte é a cessação da circulação do sangue. 12 SINAIS TARDIOS/CONSECUTIVOS a) Desidratação dos tecidos: com a morte, cessa o controle hídrico. Isso influi no peso do cadáver, na sua pele e mucosa bem como nos olhos, tendo em vista que a maior parte do ser humano é composta por água. Com relação à perda de peso, Genival França afirma que é mais acentuada nos recém-nascidos e nos fetos. Daí pode surgir o pergaminhamento da pele (deixando uma tonalidade pardo-amarelada e ramificações vasculares). Esse processo tem início nos locais em que a pele é mais delgada, como na bolsa escrotal. Nos olhos, a desidratação dos tecidos provoca a perda da transparência da córnea, bem como a presença de tela albuminosa (ou sinal de Stenon-Louis, que consiste na evaporação do transnudato. Os olhos ficam com uma fina camada constituída por poeira e detritos da córnea. Essa tela, no início pode ser removida com soro, reidratando o local. Com o tempo, se torna mais intensa e ocorre a opacificação da córnea, dando-lhe aspecto fosco). MANCHA NEGRA DE SOMMER-LARCHER – é a dessecação da esclerótica e ocorre de 3 a 5 horas após a morte, dependendo da velocidade da evaporação. Geralmente tem forma circular ou oval. Quanto mais o tempo passar, maior é a tendência de ampliação. b) Resfriamento cadavérico/algor mortis: No caso de resfriamento cadavérico, devemos nos lembrar que não existe perda de calor por transpiração. O cadáver não se resfria como uma peça de metal. Diversos outros fatores, tais como idade, constituição do corpo e causa mortis também influenciam. 13 A tendência do cadáver é equilibrar sua temperatura com a do ambiente à sua volta. Porém, fatores como o ar, a umidade e a ventilação são meios que roubam calor, influenciando no esfriamento do cadáver. A aferição da temperatura no cadáver é feita, preferencialmente, no reto, com uma profundidade de 10 cm, mais ou menos. Conforme ensinamentos do professor Genival França, o aparelhoutilizado é o necrômetro. c) Livores cadavérico/livor mortis/livores hipostáticos: Podem ser considerados um sinal de certeza da morte. Sangue no interior dos vasos acumulados na região de maior declive, por conta da ação da gravidade e caracterizam-se em geral pela cor azul- púrpura. Apresentam-se em placas e permanecem até o surgimento dos fenômenos da putrefação. Manchas esparsas – 03 horas Manchas generalizadas e ainda móveis – 06 a 8 horas Livores fixados – a partir de 08 a 12 horas ATENÇÃO: Livores carminados, cor de cereja em casos de morte por inalação de monóxido de carbono. Há formação de carboxiemoglobina que dá tonalidade carminada ao sangue da vítima quando em quantidade adequada. Tourdes verificou que durante as primeiras 12 horas após a morte os livores cadavéricos podem mudar de posição conforme a situação do cadáver, antes de se fixarem de forma definitiva. Isso explica a importância do estudo dos livores para determinar se houve ou não manipulação do cadáver. 14 Após estas doze horas, já tendo havido a fixação definitiva do livor, mesmo que haja deslocamento do cadáver de sua posição inicial, as manchas permanecerão no mesmo local inicial. Este fenômeno se explica tendo em vista que, com o passar do tempo, a hemoglobina sofre hemólise e há autólise dos vasos sanguíneos e capilares, fazendo com que o sangue extravase e manche. d) Rigidez cadavérica/rigor mortis: a literatura médico- legal afirma que não é propriamente uma contração muscular (pois nessa há o encurtamento das fibras). A rigidez cadavérica é um endurecimento muscular. Nele, há acidificação dos músculos e falta de oxigenação. O tempo em que o cadáver permanece rígido é o chamado de “período de estado”. Ocorre no sentido céfalo-caudal ou crânio podálico (LEI DE NISTEN SOMMER-LARCHER). Desaparece na mesma ordem. Começa com 2 horas. Em torno de 8 horas fica completamente rígido e vai até 24 horas após a morte, como o início da putrefação. Observação: Espasmo cadavérico: os cadáveres guardam a posição com que foram surpreendidos pela morte numa atitude especial fixada da vida para a morte. Também é chamada de rigidez cataléptica ou estatutária. Não seria propriamente uma contração. Roberto Blanco afirma que é a permanência da última contração muscular vital ocorrida no momento da transição da vida para a morte. FENÔMENOS CADAVÉRICOS (TRANSFORMATIVOS) Os fenômenos transformativos são entendidos como sinais patognomônicos de morte. Se dividem em destrutivos (autólise, putrefação, maceração) e conservadores (mumificação, saponificação, corificação). 15 FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS DESTRUTIVOS Autólise: É o processo de destruição das células caracterizado pela ação das suas próprias enzimas. As células começam a se quebrar por conta da falta de oxigenação, nutrientes. É o próprio corpo se autodestruindo. Putrefação: De acordo com a literatura médico-legal, a putrefação é a decomposição da matéria orgânica por ação de diversos micro-organismos, como germes e bactérias, que estejam presentes ou não no corpo humano. Tal fenômeno depende das condições climáticas, do solo, da falta de oxigênio, acidificação maior ou menor do meio, ação de bactérias de decomposição, flora e fauna cadavérica etc. Além disso fatores intrínsecos (como constituição física, idade de causa mortis), bem como extrínsecos (temperatura, umidade, ventilação) também influenciam na rapidez com que a decomposição irá agir, fazendo com que os fenômenos dela decorrentes possam ser retardados. Observação: locais quentes, secos e muito arejados dificultam a putrefação e favorecem a mumificação. Se ao invés disto o ambiente for quente, úmido e pouco arejado, a putrefação será dificultada, favorecendo, no entanto, a saponificação. Por fim, se o local estiver frio, isto pode fazer ou não com que a putrefação seja substituída pela mumificação, por outros fenômenos, tais como a adipocera ou mumificação. FASES DA PUTREFAÇÃO I - Fase de coloração: esta primeira fase também é chamada de fase cromática. Em geral, se dá mais ou menos com 24 horas 16 e se inicia com uma mancha verde abdominal, principalmente pela ação das bactérias presentes no intestino grosso. Diz-se que o início da putrefação, mais especificamente, tem lugar na região do ceco (porção inicial do intestino grosso), na fossa ilíaca direita. Neste local ocorre o que se chama de mancha verde abdominal. Tal mancha é resultado da combinação de hidrogêncio sulfarado mais a hemoglobina. Isso origina a sulfoxiemoglobina. Onde houver mais livores de hipóstase, maior será a formação daquela substância. Observação 1: Nos fetos, como regra, a maceração ocorre primeiro do que a putrefação. Isto se deve ao fato de que no interior do útero materno tendo a proteger o feto de micro-organismos que possam vir a causar a putrefação, razão pela qual a maceração tem início preferencial. Quando há contato do feto com o meio ambiente começa a putrefação. A contaminação do feto, nesse caso, é de fora para dentro e os orifícios naturais do corpo são os primeiros locais em que ocorre a putrefação, e não o ceco. Observação 2: a cabeça de negro Lecha-Marzo acorre bastante nos afogados e dificulta o reconhecimento visual do cadáver. Assim, o início da putrefação pode evidenciar-se nas porções superiores do corpo (terço superior do tórax, na face e pulmões), em razão da maior quantidade de sangue. II – FASE GASOSA Pode ser chamada de fase enfisematosa. Com o início da decomposição, vão surgindo gases no interior do corpo. Posteriormente esses gases, algumas vezes por não ter por onde sair, acabam formando bolhas com conteúdo podre. 17 De acordo com Roberto Blanco, com o passar do tempo a pressão formada por esses gases aumenta e eles se infiltram nos tecidos, através de um processo de difusão, formando-se bolhas, que gradativamente aumentam e se juntam umas às outras. Não é raro que essas bolhas se rompam. Nas mulheres, o efeito dos gases podem fazer com que as mamas aumentem de tamanho. Além disso, pode ocorrer o prolapso uterino, representado pelo útero saindo da vagina. Por diferença da densidade do gás da putrefação, durante o período gasoso, um cadáver que estava no fundo de um rio pode vir a emergir. CIRCULAÇÃO PÓSTUMA DE BROUARDEL Ocorre por força dos gases de putrefação que se espalham no interior dos vasos sanguíneos (que ficam com a aparência de “teia de aranha”). Por ocasião dos livores de hipóstase, a tendência é que o sangue se concentre nos vasos sanguíneos mais baixos, fazendo com que os mais elevados sejam esvaziados. No entanto, por causa desta circulação póstuma, os vasos podem voltar a ficar cheios. Esse sinal significa que o cadáver se encontra no período gasoso, com o tempo de morte estimado em uma semana, aproximadamente. Observação: Parto póstumo de Brouardel: utilizando princípios semelhantes ao da circulação póstuma, também decorre do período gasoso. O útero e o feto são expulsos através da vagina. III – FASE COLIQUATIVA: é o período de dissolução pútrida do cadáver, que pode durar de um a vários meses e ocorrer 18 apenas em parte ou no cadáver como um todo. Inicia-se, em geral, com cerca de três semanas após a morte. IV – FASE DE ESQUELETIZAÇÃO: nessa fase o cadáver vai perdendo os tecidos moles. Os músculos, vísceras e ossos vão aparecendo. Operíodo vai de meses a anos. Analisar onde foi achado, o tipo de solo, clima. Lembrar que animais podem ter arrastado o cadáver. MACERAÇÃO A maceração é um processo de transformação no qual há destruição dos tecidos moles do cadáver, pela ação prolongada de líquidos. Como sinais característicos, a epiderme pode ser destacada da derme e a pele em geral tende a ficar esbranquiçada e enrugada. a) Maceração nos indivíduos I – Séptica: resulta da exposição prolongada do cadáver num líquido que esteja contaminado por micro-organismos, o que não impede a ocorrência da putrefação. II – Asséptica: neste caso, não há contaminação do líquido. Geralmente ocorre nos fetos que, mortos, permanecem no interior do útero protegidos pelo líquido amniótico. b) Maceração nos fetos: o estudo da maceração fetal pode auxiliar na identificação da responsabilidade penal, nas acusações de erro médico, nas fraudes no nascimento e na sucessão civil. A literatura 19 médico-legal costuma defini-la em graus, trazendo alguns sinais particulares de interesse para estudo. 1º grau: formam-se flictenas (tende a representar a primeira semana. Mais ou menos de um a três dias da morte); 2º grau: há presença de líquido amniótico hemorrágico e epiderme arroxeada. Rompem-se as bolhas. Tende a representar a segunda semana (com mais ou menos oito dias a partir da morte); 3º grau: ocorre, em geral, por volta da terceira semana. Este grau é caracterizado pela deformidade craniana, bem cmo infliltração hemoglobínica das vísceras. ALGUNS SINAIS DA MACERAÇÃO: - o abdômen fica achatado como o dos anfíbios; - as articulações ficam com a mobilidade anômala e exagerada; - o cordão umbilical fica embebido por hemoglobina. FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS CONSERVADORES I – SAPONIFICAÇÃO: Também é chamada de adipocera e ocorre mais nos casos de covas múltiplas, catástrofes etc. Hygino Hércules afirma que esse processo é marcado por um odor de queijo rançoso e adocicado. Do ponto de vista do IML é melhor do que esqueletizado. Transformação das gorduras em um tipo de cera ou sabão que recobre o cadáver impedindo a continuação da putrefação. A 20 saponificação não é m processo inicial. Se dá em torno de um, dois ou três meses após a morte. II – MUMIFICAÇÃO: Ocorre, aproximadamente, após o 2º ou 3º mês desde a morte. A origem atribuída à mumificação é química, e tal quadro pode ser provocado ou artificial (embalsamento), geral ou local, espontâneo ou natural, superficial ou profunda. Para que esse processo seja concretizado, uma condição essencial é a falta de umidade. No entanto, fatores individuais como a composição física, peso, altura podem ser decisivos. III – CORIFICAÇÃO: Esse processo transformativo dá ao cadáver um aspecto semelhante ao couro, pois seus tecidos cutâneos ficam transformados em razão da desidratação. Com recursos técnicos, pode-se reidratar estes tecidos para identificar a face e lesões, diferenciando aquelas causadas intra vitam das provocadas post mortem.
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