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Português 12º

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Prévia do material em texto

​ ​“ Olá ! Espe​¶
ro que este resumo vos seja útil ! ​¶ 
Este resumo aborda uma pequena parte da matéria dada no 12º ano. ​¶ 
Quando aparece a referência ao manual, o manual em questão é o: “Outras expressões 12” 
da Porto Editora.​¶
Se encontrarem algum erro ou tiverem alguma dúvida, sinalizem através dos comentários . ​¶ 
Boa sorte para os exames <3 ”​¶
¶
 Português 12º 
1. Fernando Pessoa: 
a. Dados Biográficos (com base no doc.1): 
Fernando Pessoa viveu nos séculos XIX e XX (tendo nascido em 1888 e falecido em 1935). 
Viveu maioritariamente em Lisboa, contudo, em 1896 foi para a África do Sul devido ao 2º casamento da mãe, tendo vivido 
em Durban e na Cidade do Cabo, voltando 9 anos depois para Lisboa. 
Apesar de ter tido um ínicio de infância feliz, esta é marcada por acontecimentos trágicos: a morte do pai devido à 
tuberculose, a convivência com uma avó doente mental e a morte do seu irmão.  
O seu aproveitamento escolar foi brilhante enquanto criança e adolescente, tendo sido um aluno com ótimas notas e recebido 
vários prémios. Contudo, o seu percurso universitário foi curto, tenho perdido o interesse no curso de Letras e desistido do 
mesmo no 1º ano. 
Devido à sua infância trágica, as suas características temperamentais são: isolado, com ataques de depressão, triste, 
insatisfeito, instável, imaginativo, tendo um desencanto pela vida. 
A sua atividade profissional baseia-se nas traduções ligadas ao comércio de inglês e francês, mais tarde também participou 
em várias revistas.  
Já a sua atividade literária é muito extensa, tendo deixado milhares de textos, desde a poesia à prosa, e participou, inclusive, 
em revistas literárias. Foi um escritor compulsivo. A grande parte das suas obras não foram publicadas quando se 
encontrava vivo, à exceção de “Mensagem”, publicado em 1934, um ano antes da sua morte. 
A originalidade de Fernando Pessoa, enquanto escritor, reside na criação de heterônimos com personalidades e obras 
próprias. 
A sua vida sentimental não foi extensa, sendo conhecida a sua relação com Ofélia Queirós, alimentada através de cartas e 
bilhetes (uma relação à antiga) durante 10 anos, até que rompeu com Ofélia sem explicação. 
A forma como Portugal reagiu à sua morte tem dois momentos distintos. O primeiro, quando após a sua morte apenas 50 
pessoas se apresentaram no funeral e a notícia foi pouco divulgada, mostrando a falta de valorização do poeta na época. O 
segundo, 50 anos depois do seu falecimento, quando transladaram o seu corpo para perto de Vasco da Gama e Camões e foi 
lhe dado o devido reconhecimento, tendo sido feitas várias homenagens: “o maior poeta do século XX”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
b. Contexto em que surge a obra de Fernando Pessoa 
(pág. 25 e 26 do manual): 
- Contexto sociopolítico (ínicio do séc. XX, anos 20 e 30): 
Foi um período conturbado de guerras (1ª guerra mundial e preparação da 2º), de conflitos 
armados e em que surgiram vários regimes autoritários → linhas 54 a 56. 
 
- Contexto cultural - ​modernismo​: 
 À uma rutura com as correntes estéticas (para além da literatura) anteriores e a criação de 
uma arte inovadora e diferente, que procura criar novos valores artísticos. 
A esse conjunto de diferentes manifestações artísticas, cada uma delas com características 
próprias, e chamou-se MODERNISMO (tentativa inovadora e experimental, conj. exagerado de correntes 
literárias) → linhas 20 a 33. 
 
- Modernismo Português: 
Está ligado à literatura e às artes plásticas. 
É representado, entre outros, por Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Amadeo de 
Souza-Cardoso e Mário Sá Carneiro. 
Este movimento deu-se a conhecer através de revistas literárias, entre elas, a revista ​Orpheu ​, 
que teve dois únicos números, publicados em 1915 → linhas 9-19. 
O modernismo Português procurou, assim, agitar e transformar o ambiente cultural 
estagnado que existia no nosso país. 
 
 
 
 
c. Temas a estudar - ortónimo - ​Ver sínt. na pág.50​: 
i. A nostalgia da infância: 
- A nostalgia da infância é um dos temas fundamentais da obra de Fernando Pessoa 
Ortónimo. 
- Em muitos poemas, a memória da infância é suscitada por um estímulo exterior, um som 
(“Pobre velha música” , “Ó sino da minha aldeia”) ou uma imagem (“Quando as crianças 
brincam”) 
- Em pessoa, a passagem da infância à idade adulta, não é um processo natural e tranquilo, 
havendo uma rutura entre estas duas fases da vida. 
- A infância é o passado irremediável perdido, o tempo em que, supostamente, o poeta era 
feliz e em que não sofria. Como não tinha iniciado a procura de si mesmo, não se sentia 
fragmentado e vivia numa alegria inconsciente. 
- A idade adulta é o presente, caracterizado pelo sofrimento, pela saudade do passado, pelo 
desconhecimento de si mesmo e pela dor de pensar. 
 
 
 
 
 
 
 
Quando as crianças brincam ​Pobre velha música! 
Quando as crianças brincam 
E eu as oiço brincar, 
Qualquer coisa em minha 
alma 
Começa a se alegrar. 
 
E toda aquela infância 
Que não tive me vem, 
Numa onda de alegria 
Que não foi de ninguém. 
 
Se quem ​fui ​é enigma, 
E quem​ serei​ visão, 
Quem ​sou​ ao menos sinta 
Isto no coração. 
Observa as crianças → 
estímulo exterior → 
recorda a infância 
Estava triste, começou a 
ficar alegre → gradação 
crescente (recurso 
expressivo) 
Metáfora → mostra a 
alteração dos seus 
sentimentos e que esta 
grande alegria é sentida 
intensamente 
3 momentos da sua vida 
No presente quer 
imaginar e sentir que 
teve uma infância 
alegre, que não teve. 
Manifesta o desejo de 
sentir a alegria daquelas 
crianças, ser feliz pelo 
menos naquele 
momento. 
  Pobre velha​ música! 
Não sei porque agrado, 
Enche-se de lágrimas → ​de alegria 
Meu ​olhar parado. 
 
Recordo outro ouvir-te​. 
Não sei se te ouvi 
Nessa minha infância 
Que me lembra em ti. 
 
Com que ânsia tão raiva 
Quero aquele outrora! 
E eu era feliz? Não sei: 
Fui-o outrora agora. 
 
 
 
Já ouviu no 
passado 
Estímulo: Música 
Indiferença / 
tristeza inicial → 
estava desligado 
da vida; 
transformação 
em lágrimas de 
alegria 
Incerteza da 
felicidade da 
infância 
Fui-o → passado 
// Agora → 
Quando recorda 
a infância é feliz, 
no momento 
apenas, alegria 
temporária. 
Ó sino da minha aldeia ​→ documento 2. ​O menino da sua mãe ​→ documento 2 
 
 
 
 
ii. A dor de pensar: 
 
 A dor de pensar está sempre presente na poesia de Fernando Pessoa. 
 Na verdade, a intelectualização do sentir, a obsessão da análise, a excessiva 
lucidez, a constante reflexão fazem com que o poeta se sinta permanentemente. O 
poeta gostaria de ser como um animal irracional, que vive de instintos e sensações 
(“Gato que brincas na rua”), ou como uma pessoa simples e de ambições que é 
inconscientemente feliz (“ Ela canta pobre Ceifeira”) 
 Assim, como não consegue libertar-se da reflexão, como não lhe é possível ser 
inconsciente, vive atormentado pela dor de pensar 
 
 
 
 
 
 
 
Caracterização da ceifeira Desejo do sujeito poético → ser como a 
ceifeira 
Metáfora ​ ​Comparação 
Adjetivação​ ​Apóstrofes ​→ ligadas 
ao meio que rodeiam a ceifeira 
 
Ela canta, pobre ceifeira, Ah, canta, canta sem razão! 
Julgando-se feliz talvez; O que em mim sente está pensando. 
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia Derrama no meu coração 
De alegre e anónima viuvez​, → ​antítese​ A tua incerta voz ondeando! 
 
a voz da ​ ​Ondula​ ​como​ um canto de ave Ah, ​poder​ ser tu, sendo eu!→​i ​nf. pessoal 
ceifeira ​ No ar limpo ​como​ um limiar, ​Ter a tua alegre inconsciência, 
 ​E há curvas no enredo​ ​suave​ ​E a consciência disso​! ​Ó céu! 
 Do som que ela tem a cantar. ​Ó campo! Ó canção!​ ​A ciência 
 
Ouvi-la alegra e entristece​, → ​antítese​ ​Pesa tanto e a vida é tão breve! 
Na suavoz há o campo e a lida, ​Entrai​ por mim dentro! ​Tornai 
E canta como se tivesse Minha alma a vossa sombra leve! 
Mais razões para cantar que a vida. Depois, levando-me, ​passai​! 
 
_________________________________________________________________________ 
Efeito do canto da ceifeira/ Desejo do suj. poético: 
- estado de alma contraditório 
- a reflexão sobre a sua incapacidade de não pensar 
- quer ser como ela, mas quer ser ele. Não quer deixar de ser ele. Não 
se quer libertar completamente do pensamento. 
- desejo de ter consciência da sua inconsciência (“sendo eu”, 
“consciência disso” 
- Desejo de se deixar invadir pelas suas ações despertadas pela 
natureza (“céu”, “campo”) e pelo canto da ceifeira (“canção”)  
Porque ela não tem razões para 
cantar 
Tem a consciência de que não se 
consegue libertar do pensamento 
Traços caracterizadores da ceifeira: 
- voz bonita/suave 
- trabalha no campo 
- vive no campo 
- considera-se/ aparenta estar feliz 
(2,4,9,12, vv) 
Apreciação subjetiva do sujeito 
poético: 
-acha que ela não é feliz, não tendo 
motivos para cantar. 
-a ceifeira é inconsciente, julga-se 
feliz, mas não tem motivos para 
isso. 
-tem uma vida dura e não há razões 
para cantar 
-ela só é feliz porque não pensa 
-o adj. anteposto “pobre ceifeira” 
Tema: A dor que sente por ser consciente e constata que o conhecimento e a reflexão têm um peso mt grande na sua vida. 
 
Gato que brincas na rua 
Como se fosse na cama, 
Invejo a sorte que é tua 
Porque nem sorte se chama. 
 
Bom servo das leis fatais 
Que regem pedras e gentes, 
Que tens instintos gerais 
E sentes só o que sentes. 
 
És feliz porque és assim, 
Todo o nada que és é teu. 
Eu vejo-me e estou sem 
mim, 
Conheço-me e não sou eu. 
O gato: 
- ​é livre, não tem preocupações sociais, por isso age da mesma forma na sua 
intimidade e em contacto com os outros 
- ​age por instintos, de acordo com as suas necessidades básicas 
- ​é feliz → por ser irracional, por ser dono da sua vida, por não pensar 
Sujeito poético: 
- Sente inveja dele → o gato não pensa, vive só de sensações, por ser feliz 
- O suj. poético pensa, autoanalisa-se, e não se reconhece, sente-se 
fragmentado 
- é infeliz → por isso sofre 
Apóstrofe → aproxima-se do gato 
Comparação → mostrar que atua de igual forma 
 
iii. sonho e realidade: 
 A dor provocada pela reflexão de que não consegue libertar-se leva ao sujeito 
poético a refugiar-se no sonho, como fuga à realidade que o faz sofrer. 
 É em paisagens sonhadas que o poeta procura viver plenamente os seus 
sentimentos, libertando-se dos pensamentos que o aprisiona e conseguindo, assim, 
alcançar a felicidade. 
 
Não sei se é sonho, se realidade 
 Caracterização da ilha 
Não sei se é sonho, se realidade, 
Se uma mistura de sonho e vida, 
Aquela terra de suavidade 
Que na ilha extrema do sul se olvida. 
É a que ansiamos​. Ali, ali 
A vida é jovem e o amor sorri. 
 
Talvez palmares inexistentes, 
Áleas longínquas ​sem poder ser​, 
Sombra ou sossego ​dêem​ aos crentes 
De que essa terra se pode ter 
Felizes, ​nós​? ​Ali, talvez​, talvez, 
Naquela terra, daquela vez. 
 
 Fim do sonho 
Mas​ ​já sonhada se desvirtua, 
Só de pensá-la cansou pensar​; 
Sob os palmares, à luz da lua, 
Sente-se o frio de haver luar 
Ah, nesta terra também, também 
O mal não cessa, não dura o bem​. 
 
 Conclusão 
Não é com ilhas do fim do mundo, 
Nem com palmares de sonho ou não, 
Que cura a alma seu mal profundo, 
Que o bem nos entra no coração. 
É em nós que é tudo.​ É ali, ali, 
Que a vida é jovem e o amor sorri​. 
 
1ª Estrofe: - ​é ao mesmo tempo verdadeira e imaginada 
- é extrema → longínqua 
- local agradável, calmo 
- lugar desejado pelas suas qualidades → lá existe o 
amor 
2ª Estrofe: ​Desejo de atingir a ilha​, apesar da ​consciência de 
que é uma fantasia 
 Este local, embora ilusório, reconforta-o, 
tranquiliza-o e dá-lhe “sombra e sossego” e ​talvez lhe traga a 
felicidade que ele procura. 
3º Estrofe: - A ilusão termina (​valor da conj. adversativa​) 
 - ​O pensamento destrói o sonho, faz com que a ilusão 
se desfaça 
 - ​A ilha perde as suas qualidades paradisíacas​ e 
torna-se um local de sofrimento, pois também aí, ​é 
impossível de viver sem pensar. 
4ª Estrofe: Conclusão = A felicidade deve ser procurada ​dentro de 
cada 1 de nós​, e ​não através de algo exterior e distante 
Simbologia da Ilha: A ilha simboliza a felicidade conseguida 
através da vivência dos sentimentos, e sem a interferência do 
pensamento 
 
Bem sei que há ilha ao sul de tudo → ​doc. do caderno→ exame 2019/1ª fase 
 
iv. o fingimento artístico: 
 - “Aprendizagem de não sentir senão literariamente as ‘cousas’”, ou seja em 
fingir sentimentos → não se sente verdadeiramente → há a sobreposição do 
conhecimento racional ao afetivo. → o poema torna-se uma construção de sentido 
e não uma construção sentida → “intelectualização da sensibilidade” . O poeta finge 
sentimentos, emoções, não deixando de haver verdade, sendo artisticamente 
trabalhada. 
 - Fernando Pessoa assume-se como um poeta fingidor que procura escrever 
distanciado dos seus sentimentos. Assim, ele não vai referir espontaneamente e 
com sinceridade as suas emoções. Vai partir delas para as transformar 
racionalmente. O coração sente, mas é o pensamento que intelectualiza o que é 
sentido. 
 - A imaginação sobrepõe-se sempre ao coração e, por este motivo, é a “dor 
fingida” e não a “dor sentida” que surge nos seus poemas. 
AUTOPSICOGRAFIA 
O poeta é​ ​um fingidor 
Finge tão completamente 
Que chega ​a fingir que é dor 
A ​dor que deveras sente. 
 
E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 
 
E ​assim​ nas calhas de roda 
Gira, a entreter a​ razão​, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração​. 
 
Dor fingida → vv 2,3 
Dor real → vv 4 
Dor lida → vv 6,7,8 
Título: auto = reflexão do poeta 
 psico = interferência dos aspectos psicológicos 
 grafia = escrita 
Carácter Universal → 3ª pessoa 
1ª Estrofe: Tese→ o poeta é um fingidor 
 Argumentos → vv. 2,3,4 
2ª Estrofe: 
- interpretação do tema pelos leitores 
- cada leitor sente aquilo que desperta nele, aquilo que a sua 
interpretação do poema determina 
- Nota: a obra poética é autónoma, tendo diferentes leituras e 
diferentes interpretações (causando diferentes emoções) 
3ª Estrofe: Conclusão: 
- O coração comparado a um comboio de corda ​(através da 
e​metáfora)​, fornece à razão a matéria prima necessária à 
criação do poema, isto é, as emoções vão ser trabalhadas 
poeticamente 
- O movimento circular do comboio sugere a relação entre a razão 
e o pensamen​to 
 
ISTO 
Dizem que finjo ou minto 
Tudo que escrevo. ​Não. 
Eu ​simplesmente ​sinto 
Com a imaginação. 
Não uso o coração. 
 
Tudo o que sonho ou passo, 
O que me falha ou finda, 
É como que um terraço 
 
Por isso​ escrevo em 
meio 
Do que não está ao pé, 
Livre do meu enleio​,  
Sério do que não é. 
Sentir? Sinta quem lê! 
Título: O poema é uma resposta aos leitores de “Autopsicografia” 
que o acusaram de fingir/mentir nos seus poemas. O poeta 
pretende agora dizer, q a sua teoria é simples e que é apenas “isto”. 
1ª Estrofe: - ​a oposição ​convicta​ aos que criticaram a teoria do 
sujeito artístico​. 
 - ​apresenta de novo a sua teoria mostrando q é uma coisa 
natural​, em q se valoriza a imaginação e em 2º plano as emoções. 
2ª Estrofe: As emoções são a passagem/ ponto de partida 
(comparação terraço) para uma coisa mais bonita: a criação 
poética, a arte, a realidade imaginada 
Sobre outra coisa ainda. 
Essa coisa é que é linda. 
3ª Estrofe: →​ Conclusão:​ o​poeta tenta libertar-se da sua realidade 
e das suas emoções ​e remete os sentimentos para os leitores. 
v. Ligação com o Heterónimo 
Não sei quantas almas tenho. 
Não sei quantas almas tenho. ​Por isso,​ alheio, vou lendo 
Cada momento mudei.​ Como páginas, meu ser 
Continuamente me estranho.​ ​O que segue não prevendo, 
Nunca me vi nem achei.​ ​O que passou a esquecer. 
De tanto ser, só tenho alma.​ Noto à margem do que li 
Quem tem alma não tem calma. ​ O que julguei que senti. 
Quem vê é só o que vê, Releio e digo: «Fui eu?» 
Quem sente não é quem é. Deus sabe, porque o escreveu. 
 
Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem, ​→ metáfora 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou. 
 
 
1ª Estrofe:  
- Fragmentação /multiplicidade do eu 
- causa da fragmentação: está sempre 
a mudar , mudança permanente. 
- estranheza, desconhecimento de si 
mesmo 
- pensamento, autoanálise constante 
- sofrimento, dor provocada pelo 
pensamento constante  
2ª e 3ª Estrofe:  
- o poeta assiste à sua fragmentação 
como um espectador distanciado que 
vê os outros que vão nascendo dentro 
de si, e que se tornam autónomos 
- é como se observasse uma paisagem 
(estrofe 2) ou como se lesse um livro 
da sua vida (estrofe 3) 
- nestas 2 estrofes estão presentes: 
+ ​sentimentos de despersonalização/ 
fragmentação   
+ papel de espectador/leitor 
+ ​a constante solidão e inadaptação 
+ ​Incapacidade de prever o futuro e desejo de 
esquecer o passado 
Mudança do “eu” para o “quem” → ele tem 
vários, alargamento a outras pessoas 
 
 
D. Heterónimo: 
 
  i. Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro-Lisboa, 
13/01/1935: 
 “ Meu prezado Camarada: 
 ​ Muito agradeço a sua carta​, a que vou​ responder imediata e integralmente.​ Antes de, 
propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia. (...) 
Passo agora a ​responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos​. Vou ver se 
consigo responder-lhe completamente. 
Começo pela ​parte psiquiátrica​. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de ​histeria 
que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um 
histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de 
abulia​ que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como 
for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha​ tendência​ orgânica e constante para 
a ​despersonalização e para a simulação​. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os 
outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, 
exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo — os eu a sós comigo. Se 
eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas — 
cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme 
para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos 
mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia... 
Isto explica, ​tant bien que mal​, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora 
fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. (...) 
 Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de 
amigos e conhecidos que nunca existiram. (...) 
 Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de 
índole pagã. (...) 
 Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro — 
de inventar um ​poeta bucólico​, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro 
como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. 
Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — ​acerquei-me de uma 
cómoda alta​, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. 
E escrevi trinta e tantos poemas a fio, ​numa espécie de êxtase​ cuja natureza não conseguirei 
definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, ​O 
Guardador de Rebanhos​.​ E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei 
desde logo o nome de ​Alberto Caeiro​. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o 
meu mestre​. Foi essa a sensação imediata que tive. (...) 
 Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — 
uns ​discípulos.​ Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e 
ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o ​via​. E, de repente, e em derivação oposta à de 
Ricardo Reis​, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de 
escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a​ ​Ode Triunfal​ de Álvaro de Campos​ — a Ode 
com esse nome e o homem com o nome que tem. (...) 
 ​ Eu vejo​ diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, 
Ricardo Reis e Alvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. ​Ricardo Reis nasceu em 
1887​ (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures)​, no Porto, é médico e está 
presentemente no Brasil.​ ​Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, 
mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. 
Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890​ (às 1.30 da tarde, diz-me o 
Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). ​Este, como 
sabe, é engenheiro naval ​(por Glasgow), mas agora ​está aqui em Lisboa em inactividade​. ​Caeiro 
era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil 
como era. ​Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco.​ ​Álvaro 
de Campos é alto ​(1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), ​magro e um pouco tendente a 
curvar-se.​ ​Cara rapada todos​ —​ o Caeiro louro sem cor, olhos azuis;​ ​Reis de um vago moreno 
mate;​ ​Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e 
normalmente apartado ao lado, monóculo​. Caeiro, como disse, não teve mais educação que 
quase nenhuma — ​só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em 
casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha,​ tia-avó. ​Ricardo Reis, 
educado num colégio de jesuítas​, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se 
expatriou espontaneamente por ser monárquico.​ ​É um latinista por educação alheia, e um 
semi-helenista por educação própria​. ​Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; 
depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. 
Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. ​Ensinou-lhe latim um tio 
beirão que era padre. 
 Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber 
ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que 
subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e 
não sei o quê. (O​ meu semi-heterónimo Bernardo Soares,​ que aliás em muitas coisas se parece 
com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um 
pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante 
devaneio. ​É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente 
da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade.​ ​A prosa, 
salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é iguala esta, e o português perfeitamente igual; 
ao passo que ​Caeiro escrevia mal o português,​ ​Campos razoavelmente mas com lapsos como 
dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc.,​ ​Reis melhor do que eu, mas com um purismo 
que considero exagerado​. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis — ainda inédita — ou de 
Campos. ​A simulação é mais fácil​, até porque é mais espontânea, em verso). 
 Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em 
meio ​de um manicómio​. (...) 
 Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda ​com certas incoerências​, às suas 
perguntas. (...) 
 Abraça-o o camarada que muito o estima e admira. 
Fernando Pessoa” 
->Ideias fundamentais: 
 1ª e 2ª parágrafos: introdução; agradecimento a Adolfo CM pela carta recebida e indicação do 
objetivo desta carta: responder a uma pergunta sobre a origem dos heterónimos 
 3º,4º e 5º Parágrafos: Fundamentação da heteronimia → tendência para a desporsinalização e para 
a simulação, aspetos que sente desde a infância. 
 6º e 7º Parágrafos: Criação de Alberto Caeiro, um poeta bucólico (fala da natureza), que escreveu “O 
guardador de Rebanhos” e que Fernando Pessoa considerou o seu mestre. 
 8º Parágrafo: Aparecimento de Ricardo Reis e de Àlvaro de Campos 
 9º Parágrafo: Caracterização e biografia dos diferentes heterónimos (ver doc. 4) 
 10º Parágrafo: Classificação de Bernardo Soares como semi-heterónimo e sua justificação 
 11º, 12º e 13º Parágrafos: Conclusões e despedida 
 
 
ii. Alberto Caeiro: 
- O fingimento artístico e o poeta bucólico 
- Reflexão existencial, a importância das sensações 
IX - Sou um guardador de rebanhos. 
Sou um guardador de rebanhos. 
O rebanho é os meus pensamentos 
E os meus pensamentos são todos sensações. 
Penso com os olhos e com os ouvidos 
E com as mãos e os pés 
E com o nariz e a boca. 
Poesia: sensacionista; deambulatória (o pastor anda de um lado para o outro) 
e bucólica (concentrada na natureza). 
3 metáforas: ​1ª Metáfora: identifica-se com um pastor​ ​// 2ª Metáfora: 
compara o rebanho a pensamentos // ​3ª Metáfora: compara os pensamentos a 
sensações → só conhece a realidade com as sensações 
Começa por referir os sentidos + importantes para o conhecimento do mundo 
→ são hierarquicamente apresentadas 
 
Pensar ​uma flor​ é vê-la e cheirá-la 
E comer ​um fruto ​é saber-lhe o sentido. 
 
Por isso quando num dia de calor 
Me sinto triste de gozá-lo tanto​, 
E me deito ao comprido na ​erva​, 
E fecho os olhos quentes, 
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz​. → ​não pensado mas sentindo 
Pensa com os diferentes sentidos (não reflete) → enumeração dos vários 
órgãos (valorizar os 5 sentidos) associada à repetição anafórica, ligada a uma 
escrita simples. → reforçam a valorização das sensações como fonte de saber 
Utiliza exemplos da natureza​, de forma a mostrar que ​usa os sentidos, ou seja, 
conhece a flor, o fruto e a erva, através apenas dos sentidos. 
Está a ter consciência de que está contente, então fica triste porque não quer 
pensar. 
Quer uma integração total na Natureza, através das sensações táteis → ​Há a 
afirmação do sensacionismo como única forma de conhecimento autêntico e 
como fonte de felicidade. É através do corpo e do seu contacto direto com a 
realidade q pudemos aceder à verdade, sem qlqr interferência do pensamento. 
 
II​-​O meu olhar é nítido como um girassol. 
O meu ​olhar​ é nítido ​como​ um ​girassol. ​ Amar é a eterna inocência, 
Tenho o costume de andar pelas estradas​ E a única inocência é não pensar... 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de vez em quando​ ​olhando​ ​para trás... 
E o que ​vejo​ a​ cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha ​visto​, 
E eu sei dar por isso muito bem... 
Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 
 
Creio no Mundo ​como​ num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele ​→ acredita no mundo 
Porque pensar é não compreender... 
O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo… 
 
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe porque ama, nem o que é amar... 
Sugere que vê tudo com grande 
claridade → noção sensacionista 
Só quando os sentidos não 
funcionam é que somos obrigados a 
pensar 
Caracteristicas formais: 
+Linguagem simples e objetiva 
+Liberdade estrófica e métrica 
+Versos brancos/soltos = sem rima 
+Comparações para concretrizar 
ideias abstratas 
+Predomínio da coordenação 
Caracteristicas presentes: 
→ poesia sensacionista/poeta 
observador: 
-​olha para todas as direções, em 
todos os momentos 
-​campo lexical ​relacionado com a 
visão = ​do olhar ​= olhando,vejo 
→ ​Poeta deambulante 
→​ Poeta da Natureza: descobre 
sempre as coisas novas e diferentes 
que provocam a sua admiração → 
Poeta Bucólico 
→ ​Poeta anti-metafísico​ =​ recusa o 
pensamento ​porque trata a 
realidade através dos sentidos. 
 
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, 
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, 
Não há nada mais simples. 
Um dia deu-me o sono ​como​ a qualquer 
criança. 
Fechei os olhos e dormi. 
Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha morte. 
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus. 
 
Sou fácil de definir.​ ​→ ​Características que considera essenciais → conselhos que dá: →  
Vi como um danado​. 
Amei as coisas​ sem sentimentalidade nenhuma​. 
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, ​porque nunca ceguei​. 
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver. 
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras; 
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. 
Compreender isto com ​o pensamento seria achá-las todas iguais. 
Além disso, ​fui o único poeta da Natureza. 
O resto foi tudo simples, logo é como se fosse 
dono da sua vida 
Toda a vida esteve permanentemente a ver 
Sem criar afetividade, sem pensar nelas 
Logo foi sempre feliz 
A importância das sensações e a sua felicidade 
O poeta que recusa o pensamento - poeta 
Antimetafísico ​//​O pensamento deturpa a realidade 
 
iii. Ricardo Reis: 
Poeta clássico (fingimento artístico) e na sua poesia estão subjacentes duas doutrinas filosóficas 
da antiguidade: 
- Epicurismo = considera que a felicidade se obtém gozando o momento presente, evitando 
paixões intensas e procurando aproveitar os pequenos prazeres da vida (relação com o 
“carpe diem”) 
- Estoicismo = considera que a felicidade se obtem aceitando a condição humana e a 
passagem do tempo, conformando-se com a ordem natural das coisas. Assim, o homem 
deve ser passivo, mostrar-se indiferente a tudo e aceitar resignadamente aquilo que o 
destino lhe traz. 
Reflexão Existencial: a consciência da morte 
 
Mestre, são plácidas 
 ​ ​ ​A Alberto Caeiro 
Mestre,​ são ​plácidas 
Todas as horas 
Que nós perdemos. 
Se no perdê-las, 
Qual​ numa jarra, ​→ comparação 
Nós pomos​ flores. 
 
Não há tristezas 
Nem alegrias 
Na nossa vida. 
Assim saibamos, 
Sábios incautos, 
Não a viver​, 
 
Mas decorrê-la, 
Tranquilos, plácidos, 
Tendo as crianças 
O tempo passa, 
Não nos diz nada. 
Envelhecemos. 
Saibamos, quase 
Maliciosos, ​→ nteligentemente 
Sentir-nos ir. 
 
Não vale a pena 
Fazer um gesto. 
Não se resiste 
Ao deus atroz 
Que os próprios filhos 
Devora sempre. 
 
Colhamos flores. 
Molhemos leves 
As nossas mãos 
Nos rios calmos, 
Para aprendermos 
Oferece o poema a A.Caeiro = dedicatória = 
conisdera que Caeiro é o sue mestre 
1ªEstrofe: 
- dedicatóriae vocativo 
- objetivo: explicar a sua teoria/atitude de 
vida face à sua existência → aceitação 
serena, calma, da passagem do tempo 
- utiliza a ​adjetivação 
As flores também vão murchando, morrendo, por 
isso, também devemos aceitar o envelhecer 
como algo natural como as flores. 
A arte de viver sem envolvimento emocional forte 
Ensinamentos: Não viver de forma intensa, seguir 
o exemplo dascrianças, e é na Natureza que 
encontramos os pequenos prazeres da vida. 
Deixar o tempo passar sem sofrimento,. aceitar a 
efemeriodade da vida, aceitar a passagem do 
tempo e os seus efeitos. 
Por nossas mestras, 
E os olhos cheios 
De Natureza… 
 
A beira-rio, 
A beira-estrada, 
Conforme calha,​→ e​lementos da Natureza 
Sempre no mesmo 
Leve descanso 
De estar vivendo. 
Calma também. 
 
Girassóis​ sempre 
Fitando o Sol, 
Da vida iremos 
Tranquilos, tendo 
Nem o remorso 
De ter vivido. 
Devemos viver de forma passiva, não devemos 
ter um papel muito ativo ou intenso 
Motivo da sua teoria de vida 
Seremos como o girassol 
Referência à morte = aceitar a morte porque não 
se viveu intensamente 
Conclusões apartir do poema: 
- Tanto Ricardo Reis como Alberto Caeiro, amam a Natureza e inspiram-se nela 
para construir a sua filosofia de vida: 
+ Alberto Caeiro vive no campo procurando captar essa 
realidade através dos sentidos 
+ Ricardo Reis defende uma vida simples apenas com os 
pequenos prazeres proporcionados pela Natureza 
Vem sentar-te comigo,​ ​Lídia,​ ​à beira do rio. 
Sossegadamente​ fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
 (Enlacemos as mãos). 
 
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida 
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, 
Vai para ​um mar muito longe​, para ao pé do Fado, 
 Mais longe que os deuses. 
 
Desenlacemos as mãos​, porque não vale a pena cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer não gozemos, ​passamos como o rio. 
Mais vale saber ​passar silenciosamente 
 ​E sem desassossegos grandes. 
 
Exemplos dos grandes desassossegos: 
Sem amores, ​nem​ ódios, ​nem​ paixões que levantam a voz, 
Nem​ invejas que dão movimento demais aos olhos, 
Nem​ cuidados, porque ​se os tivesse o rio sempre correria, 
 ​E sempre iria ter ao mar. 
 
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, 
Se quiséssemos​, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale ​estarmos sentados ao pé um do outro 
 ​ Ouvindo​ correr o rio e ​vendo​-o. 
 
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as 
No colo, e que o ​seu perfume​ suavize o momento — 
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, 
 ​ Pagãos inocentes da decadência. 
 
Convite; ​Vocativo; ​Aproveitar os pequenos prazeres 
Intencionalmente → Metáfora: o rio simboliza a vida que vai 
em direção à morte (o mar) 
Porque se tiverem de mãos dadas correm o risco de se 
apaixonarem ​\\​Comparação 
Algo voluntário, sem obrigação​ \\ ​Aproveitar os pequenos 
prazeres da vida​\\​despreocupados, inconscient 
Eufemismo = Morte + Perífrase = podia dizer: se tu 
morresses primeiro 
2 condições: ele morrer primeiro ou ela morrer primeiro → 
aceitas as mortes com naturalidade porque não houve 
sentimento 
Assunto: O sujeito poético dirige-se à sua amada: Lídia 
(nome clássico), e convida-a a sentar-se à beira o rio onde 
vão pensar\refletir sobre a vida 
Estrutura do Texto: 
Estrofe 1 e 2: A efemeridade da vida: 
- o convite a Lídia através da apóstrofe e verbos no 
imperativo e no conjuntivo com valor imperativo 
- desejo de aproveitar com calma a vida que passa (uso 
expressivo do advérbio) 
- reflexão sobre a efemeridade/transitoriedade da vida (uso 
da metáforas, palavras de caráter negativo) 
Estrofe 3 e 4: Inutilidade de qualquer 
compromisso: 
- A ideia de recusa de qualquer ligação (quando desenlaçam 
as mãos - simbolizada) 
Ao menos, ​se​ for sombra antes,​ lembrar-te-ás de mim depois 
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, 
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos 
 Nem fomos mais do que crianças. 
 
E ​se​ antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, 
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. 
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio, 
 Pagã triste e com flores no regaço. 
 
 - Aceitação passiva da morte (v.10,15 e 16) dada ​através de 
metáforas​ e ​comparação 
- Ausência de ambições/atitude passiva perante a vida dada 
através da enumeração, repetição anafórica de palavras de 
caráter negativo e o uso expressivo do advérbio 
silenciosamente. 
Estrofes 5 e 6: A procura de serenidade: 
- a recusa do amor intenso, do envolvimento físico através 
da enumeração (polissíndeto) 
- opção por um amor tranquilo e por uma vida calma e 
silenciosa, aproveitando apenas os pequenos prazeres da 
natureza 
- aceitação com naturalidade da morte e dos efeitos da 
passagem do tempo (efeitos nocivos|) → devemos ser 
inocentes da decadência 
Estrofes 7 e 8: A aceitação da morte: 
- a morte como o fim natural da vida 
- a morte que não provoca dor porque nunca se viveu 
intensamente, há algumas recordações de momentos 
agradáveis 
- perífrases, eufemismos, a enumeração, as anáforas, verbos 
no futuro 
 
iv. Álvaro de Campos: 
➢ “​Tudo é diferente de nós e, por isso, existe” 
➢ Dados Biográficos: 
○ Curso de engenharia naval na Escócia 
○ Viajou para o oriente 
○ Regresso por Marselha, Lisboa e Ribatejo onde 
conhecem Alberto Caeiro e Ricardo Reis 
➢ Temperamento / Caracterização: 
○ Muito sensível, inteligente, sensacionista (influência de Caeiro) 
➢ Produção/Literária: 
○ Antes de conhecer Caeiro: estava “sem amparo” e escreveu poucos poemas 
○ Depois de conhecer Caeiro: escreveu a “Ode Triunfal” e encontrou-se como poeta 
➢ As diferentes fases da sua obra: 
○ 1ª Fase → Decadentista: Nesta fase, os poemas de Álvaro de Campos refletem o 
cansaço, a falta de sentido da vida, a necessidade de evasão e a procura de novas 
sensações. Ex.: “Opiário” 
○ 2ª Fase → Futurismo/Sensacionismo: 
■ Nesta fase, a sua poesia está ligada a 2 correntes: o futurismo e o sensacionismo 
■ Segundo o futurismo, a arte devia romper com o passado e exaltar tudo o que é moderno, 
todas as vitórias do homem na ciência e na técnica. Campos vai cantar as máquinas, os 
motores, a velocidade e outros símbolos da civilização industrial 
■ Ligado ao futurismo, está o sensacionismo: o poeta deveria “sentir tudo, de todas as 
maneiras”, revelar os progressos da civilização tecnológica através de sensações. 
■ Ex.: “Ode Triunfal” e “Ode Marítima” 
○ 3ª Fase → Fases Intimista, abúlica e pessimista: 
■ O poeta sente uma grande tristeza perante o absurdo da vida. É o poeta cético, que se auto 
analisa, que experimenta a dor de pensar, que sente nostalgia da infância e que se sente 
fragmentado, é o regresso de Álvaro de Campos ao ortónimo, é o alter ego de Fernando 
Pessoa.  
■ Ex.: “Aniversário” 
Ode Triunfal 
À dolorosa​ luz​ das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 
Tenho febre​ e escrevo. 
Escrevo ​rangendo os dentes​, ​fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto​ totalmente desconhecida dos antigos. 
 
Ó rodas, ó engrenagens​,​ ​r-r-r-r-r-r-r​ eterno! 
Forte espasmo retido dos ​maquinismos​ em fúria! 
Em fúria ​fora e dentro de mim​, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as ​papilas​ fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os ​lábios secos,​ ó grandes ​ruídos modernos​, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó ​máquinas​! 
 
Em febre e ​olhando ​os motores​ ​como​ a uma Natureza tropical 
— 
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força — 
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, 
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro 
E há Platão e Virgílio dentro das ​máquinase das ​luzes 
eléctricas 
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, 
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, 
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do 
século cem, 
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos 
e por estes volantes,* 
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, 
Fazendo-me um acesso de ​carícias ao corpo ​numa só carícia à 
alma. 
 
Ah, poder exprimir-me todo​ como​ um motor se exprime! 
Ser completo como uma máquina! 
Poder ir na vida triunfante como um automóvel 
último-modelo! 
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, 
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me 
passento 
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões 
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! 
(...) 
 
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos! 
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! 
Olá grandes armazéns com várias secções! 
(...) 
 
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. 
Amo-vos carnivoramente. 
Pervertidamente e enroscando a minha vista 
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, 
Ó coisas todas modernas, 
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima 
“Ode” = cantar\elogiar (as máquinas) 
“Ode Triunfal” = canto de louvor/elogio ao triunfo 
da civilização industrial 
Estrofe 1: 
- Espaço Envolvente: a fábrica 
- Perceção do Suj. poético: percepciona a 
realidade através das ​sensações visuais  
- Relação do Eu com a realidade ext.: 
Por um lado elogia ​e ​por outro lado há um 
sofrimento, o ambiente é agressivo, que magoa.​ O 
espaço moderno, percecionado através de 
sensações e tem uma relação ambígua: atração e 
sofrimento. 
Estrofe 2: 
- Espaço Envolvente: ​fábrica, através dos 
elementos 
- Perceção do Suj. poético:  
+Através de sensações: ​auditiva​, visual (máq, a 
trabalhar - o movimento é sugerido), ​táteis​, 
gustativas 
+​Admite a sua perceção da realidade pelas 
sensações 
- Relação do Eu com a realidade ext.:  
+​Agressividade e violência​ → v.8 = frase própria do 
futurismo = nova construção frásica 
+​Fusão entre ele e o ambiente exterior, integra-se 
naquele ambiente 
Estrofe 3: 
- Espaço Envolvente: ​fábrica 
- Perceção do Suj. poético: Capta através das 
sensações ​visuais (* → sensação de 
movimento),​ ​auditivas​ e ​táteis 
- Relação do Eu com a realidade ext.: Relaçao 
entre os 3 tempos = Ideia do futuro, exalta o 
futuro e o momento presente que reflete o 
passado (referência dos heróis passados da 
Antiguidade), foi o passado que permitiu as 
novas descobertas. 
(Futurismo => Ferreando) 
Estrofe 4: 
- comparação 
- Simbiose/fusão completa entre ele e a 
máquina 
- Recursos: comparação, frases exclamativas, 
adjetivação expressiva, metáfora ​(compara 
todos os elemento à flora) 
Estrofe 9: começa com a recordação da infância no 
meio rural; relação amor-ódio 
Futurismo:“Árvo fábrica” 
Do sistema imediato do Universo! 
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! 
(...) 
 
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! 
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! 
Eh-lá-hô recomposições ministeriais! 
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos, 
Orçamentos falsificados! 
(Um orçamento é tão natural como uma árvore 
E um parlamento tão belo como uma borboleta). 
(...) 
 
Eu podia morrer triturado por um motor 
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher 
possuída. 
Atirem-me para dentro das fornalhas! 
Metam-me debaixo dos comboios! 
Espanquem-me a bordo de navios! 
Masoquismo através de maquinismos! 
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! 
(...) 
 
(Na nora do quintal da minha casa 
O burro anda à roda, anda à roda, 
E o mistério do mundo é do tamanho disto. 
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. 
A luz do sol abafa o silêncio das esferas 
E havemos todos de morrer, 
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, 
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa 
Do que eu sou hoje...) 
 
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! 
(...) 
 
Eh-lá grandes desastres de comboios! 
Eh-lá desabamentos de galerias de minas! 
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! 
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, 
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, 
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, 
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, 
E outro Sol no novo Horizonte! 
 
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto 
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, 
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? 
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, 
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, 
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! 
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. 
Engatam-me em todos os comboios. 
 Eia! e os ​rails ​e as casas de máquinas e a Europa! 
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! 
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! 
-A sua fusão com as máquinas 
-Já se identifica com as máquinas 
-Quer se fundir completamente com a realidade 
Resumo: 
-Espaço envolvente: espaço moderno, dominado 
pela evolução industrial (fábrica, lâmpadas 
elétricas, motores, engrenagens,...) 
-Relação entre o sujeito poético e o espaço 
envolvente: 
● o espaço é captado através de sensações 
● Há uma relação ambigua (o sujeito poético 
sente paizxão pela realidade envolvente, 
mas também se sente febril, havendo assim, 
uma relação conlituosa) 
● Há um fusão, uma simbiose, entre o sujeito 
poético e as máquinas, ele sente-se como 
uma parte integrante da socieadade 
tecnológica que apresenta. 
● O momento presente, as máquinas, e a vida 
moderna são transformados em matéria 
épica que vai ser enaltecida / elogiada 
● Há a exaltação do momento presente, onde 
se reflete o passado e que se projetará no 
futuro 
- Estilo excessivo/torrencial, com muitos recursos 
expressivos 
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, 
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes 
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. 
 
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar, 
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, 
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, 
Engenhos brocas, máquinas rotativas! 
 
Eia! eia! eia! 
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! 
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! 
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! 
Eia todo o passado dentro do presente! 
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! 
Eia! eia! eia! 
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! 
 
Içam-me em todos os cais. 
Giro dentro das hélices de todos os navios. 
Eia! eia-hô! eia! 
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade! 
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! 
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o! 
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! 
 
 ​Ah não ser eu toda a gente e toda a parte! 
ANIVERSÁRIO 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu era feliz e ninguém estava morto. 
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, 
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, 
De ser inteligente para entre a família, 
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. 
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. 
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. 
 
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo, 
O que fui de coração e parentesco, 
O que fui de serões de meia-província, 
O que fui de amarem-me e eu ser menino. 
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... 
A que distância!... 
(Nem o acho...) 
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! 
 
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa, 
Pondo grelado nas paredes... 
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), 
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.É terem morrido todos, 
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um​ fósforo frio​… 
 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos... 
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! 
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, 
Por uma viagem metafísica e carnal, 
Com uma dualidade de eu para mim... 
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! 
 
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... 
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, 
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado, 
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos… 
 
Pára, meu coração! 
Não penses! Deixa o pensar na cabeça! 
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! 
Hoje já não faço anos. 
Duro. 
Somam-se-me dias. 
Serei velho quando o for. 
Mais nada. 
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!... 
 
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... 
Estrofe 1 e 2: Caracterização o passado: 
- pretérito- imperfeito (na infância, 
repetiram no tempo) 
- a infância → era feliz visto que 
estava rodeado da família, vivia 
na casa cheia de pessoas nde 
todos se reuniam, era poiado e 
não estava sozinho 
Estrofe 3: pretérito-perfeito - fim das 
infância,​ só agora é que tem a noção de 
que era feliz 
Estrofe 4: ​contraste entre o passado e o 
presente​ ​há uma comparação entre a 
destruição, solidão, ausência de laços 
familiares e a inutilidade da sua vida. 
Estrofe 5: 
- não se contenta com a sua 
lembrança do passado 
- o “eu” ficava no presente e o 
“mim” no passado 
- volta ao passado com a mesma 
velocidade com que comeria um 
pão (com a mesma avidez) → 
deseja voltar ao passado 
rapidamente - intensamente 
Estrofe 6: a importância que tinha e que 
agora já não tem, infância protegida e 
sem solidão 
Estrofe 7: 
- Recorda; pensa; sofre 
- Para não sofrer tem de deixar de 
pensar; “duro” ele já não vive, 
apenas sobrevive, vai vivendo, aó 
lhe resta envelhecer  
Passado: 
- infância feliz, com família (partilhada), 
vive com proteção, tempo da inocência 
em que não pensa 
Presente: 
- tristeza, angustia, solidão, 
sofrimento, tempo de perda 
(família e a casa), tempo de 
degradação = envelhecimento 
 
LISBON REVISITED (1923) 
 
Não: não ​quero nada 
Já disse que ​não​ quero nada. 
 
Não​ me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 
 
Não​ me tragam estéticas! 
Não​ me falem em moral! 
Tirem-me daqui a metafísica! 
Não​ me apregoem sistemas completos, ​não​ me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) 
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 
 
Que mal fiz eu aos deuses todos? 
 
Se têm a verdade, guardem-na! 
 
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 
 
Não​ me macem, por amor de Deus! 
 
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 
 
Não​ me peguem no braço! 
Não​ gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. 
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia! 
 
Ó céu azul — o mesmo da minha infância - 
Eterna verdade vazia e perfeita! 
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflecte! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 
 
Deixem-me em paz! ​Não​ tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! 
 
FASE INTIMISTA 
Titulo → ele vai voltar a Lisboa, onde 
já esteve 
 → inglês = esteve no estrangeiro 
2 tempos presentes: 
- Presente: Adulto; em quase 
todas as estrofes; raiva, 
angústia, sofrimento 
- Passado: Infância; recordação 
da infância e de Lisboa numa 
época anterior 
Presente: 
- Sentimentos:  
 ​ quer se afastar da ciência e da 
civilização moderna → quer se afastar 
da sua fase futurista → negação da 
ciência, da técnica e da civilização 
moderna. 
 ​atitude de desistência​ = ​desiste 
de tudo, de qualquer ambinção, 
qualquer projeto de vida 
 ​ atitude de recusa: 
➢ recusa aqualquer relfexão de 
carater filosofico 
➢ recusa a rotina d avida 
quotidiana convencionalmente 
aceite 
➢ recusa qualquer companhia, 
qualquer relacionamento 
   
- Tem o desejo de isolamento e de 
solidão 
-​ Tem magoa → a única solução é 
morrer → cansado da vida e desejo de 
morrer 
 
➢ Aspetos Comuns à fase intimistas de Álvaro de Campos e a Fernando Pessoa-ortónimo: 
○ a nostalgia de infância ( o paraíso perdido) 
○ no presente sente-se desencantado, triste, só 
○ a dor de pensar 
○ fragmentação do eu 
➢ Aspetos Comuns a Álvaro de Campos e Ricardo Reis: 
○ R. Reis aprendeu a aceitar a ideia de morte porque aceita a 
passagem do tempo e tem uma atitude de apatia perante a vida 
(estoicismo) → Ataraxia 
○ A. Campos quando refere a morte é um resultado do SEU 
sofrimento e da sua desistência de viver 
 
 
 
 
v. Bernardo Soares: ​Livro do Desassossego: 
- obra com natureza fragmentária 
- obra com uma escrita diarística (registo diário não de factos mas de 
reflexões, sensações, pensamentos) 
- obra que reflete o “desassossego” de Pessoa, a sua incapacidade de 
encontrar a paz e de se sentir integrado 
- obra que é um testemunho da genialidade de Fernando Pessoa. 
Pelas tardes demoradas de Verão, 
Amo, pelas ​tardes demoradas​ de Verão, o​ sossego da cidade 
baixa​, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte 
que o dia mergulha em mais ​bulício​. A Rua do Arsenal, a Rua da 
Alfândega, o prolongamento das​ ruas tristes que se alastram para 
leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais 
quedos​ - ​tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas 
tardes, na solidão do seu conjunto.​ Vivo uma era anterior àquela 
em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em 
mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos 
versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma 
sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias 
de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma 
falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de 
noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da 
Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que 
nada valha, ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual, 
porque é abstracto, para os homens e para as coisas — uma 
designação igualmente indiferente na álgebra do mistério. 
Mas há mais alguma coisa... Nessas horas lentas e vazias, 
sobe-me da alma à mente​ uma tristeza de todo o ser, a amargura de 
tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa 
externa, que não está em meu poder alterar.​ Ah, quantas vezes os 
meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me 
substituirem a realidade​, mas para se me confessarem seus pares 
em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que 
dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador 
nocturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como 
Espaço: ​cidade de Lisboa→ ​épalage: 
transfere-se para o espaço o que as 
pessoas que lá vivem sentem 
Depois de descrever o ambiente, 
compara-se com Cesário Verde, sente-se 
próximo de Cesário porque os seus versos 
têm o mesmo que os de Cesário, sentindo o 
mesmo por Lisboa (melancolia, espirito de 
nulidade e péssimismo) 
Friza-se outra vez o estado de espírito = 
vazio, amargura 
Os sonhos procuram-se tornar reais → 
através da realidade, realidade que ele 
não quer. 
Aspetos do texto:- Espaço pelo qual deambula o narrador: 
+ a zona da baixa de Lisboa, que o 
narrador precorre não para 
apresentar um quadro objetivo, mas 
para mostrar a sua imagem da 
cidade → uma cidade triste e 
sossegada (calma, melancólica) - 
Épalages 
- Estado de espírito do narrador: 
+ o estado de espírito do narrador 
coincide com as características do 
espaço  
+ sente-se: triste, solitário, 
melancólico, consciente da sua 
nulidade, pessimista 
- Relação com a poesia de Cesário Verde: 
um repuxo súbito, da monotonia do entardecer! 
Passam casais futuros, passam os pares das costureiras, 
passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de 
sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em 
pouco os vadios parados que são donos das lojas. Lentos, fortes e 
fracos, os recrutas sonambulizam em molhos ora muito ruidosos 
ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os 
automóveis ali a esta hora não são muito frequentes; esses são 
musicais. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu 
sossego é feito de resignação. 
Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio 
ao meu sentir, indiferente, até, ao destino próprio,- inconsciência, 
carambas ao despropósito quando o acaso deita pedras, ecos de 
vozes incógnitas — salada colectiva da vida. 
 
+ deambulação na baixa de Lisboa 
+ Observação e captação de 
impressões subjetivas da sociedade 
+ sente um grande desconforto 
 
 
Tudo é absurdo. 
Tudo é absurdo​. ​Este​ empenha a vida em ganhar dinheiro 
que guarda, e nem tem filhos a quem o deixe nem esperança que 
um céu lhe reserve uma transcendência desse dinheiro. ​Aquele 
empenha o esforço em ganhar fama, para depois de morto, e não 
crê naquela sobrevivência que lhe dê o conhecimento da fama. 
Esse outro​ gasta-se na procura de coisas de que realmente não 
gosta. Mais adiante, há ​um​ que (). 
Um​ lê para saber, inutilmente. ​Outro​ goza para viver, 
inutilmente. 
Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, 
conforme é meu costume​, em todos os pormenores das pessoas 
que vão adiante de mim​. Para mim os pormenores são coisas, 
vozes, letras. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente 
decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho 
com que o fizeram - pois que o vejo vestido e não estofo - ​e o 
bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço 
separa-se-me em retrós de seda​, com que se o bordou, e o trabalho 
que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro 
primário de economia política, desdobram-se diante de mim as 
fábricas e os trabalhos - a fábrica onde se fez o tecido: a fábrica 
onde se fez o retrós, de um tom mais escuro, com que se orla de 
coisinhas retorcidas o seu lugar junto do pescoço; e vejo as secções 
das fábricas, as máquinas, os operários, as costureiras, meus olhos 
virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os gerentes 
procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de 
tudo; mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos 
que vivem a sua vida social nessas fábricas e nesses escritórios... 
Todo o mundo se me desenrola aos olhos só porque tenho diante 
de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem não 
sei que cara, um orlar irregular regular verde-escuro sobre um 
O imaginário urbano (parte do que vê para 
imaginar) 
1º Parágrafo: → ​a vida está cheia de coisas 
absurdas - argumento. 
- apresenta exemplos de quem vive em 
situações absurdas 
- Casos de quem tem uma vida absurda: 
+ empenha toda a sua vida a guardar 
€, mas não tem filhos a quem deixar 
+ quem se preocupa em ganahr fama 
depois de morrer mas não acredita 
na vida depois da morte, ou seja, 
nunca será famoso. 
+ quem procura de coisas de que não 
se interessa 
+ linha 8 
2º Parágrafo: 
- Situar o narrador: está no carro 
elétrico​ (em Lisboa) e​ vai 
observando o que se encontra à sua 
volta​ olhando os promenores 
- Ele vê uma rapariga e observa o 
vestido da rapariga, que vai à sua 
frente → ​olha para o tecido e depois 
observa o bordado que contorna o 
pescoço  
- Deixa de ver aquela rapariga e 
aquele vestido e começa a pensar 
nas fábricas, os trabalhos, 
máquinas, os operários, as 
verde-claro de vestido. 
Toda a vida social jaz a meus olhos. 
 Para além disto pressinto os amores, as secrecias, a alma, de 
todos quantos trabalharam para que esta mulher que está diante 
de mim no eléctrico use, em torno do seu pescoço mortal, a 
banalidade sinuosa de um retrós de seda verde-escura fazenda 
verde menos escura. 
Entonteço. Os bancos do eléctrico, de um entretecido de 
palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, 
multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, 
vidas, realidades, tudo. 
 Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira. 
 
costureiras → Estava primeiro com 
os olhos para fora a observar e 
depois com os olhos virados para 
dentro e começa a refletir  
- Começa imaginar as pessoas, as 
suas vidas quotidianas e sociais, os 
seus amores, segredos,... 
- Depois de tanto refletir sente-se 
cansado 
3 partes: 
1. Parte = até à linha 10 = o narrador 
reflete sobre aspetos absurdos da 
vida, apresentando alguns exemplos 
2. Parte = linha 10-42 = o narrador, que 
está no carro elétrico, partindo de 
certos objetos e da observação dos 
seus pormenores, desenvolve a sua 
reflexão 
3. Parte = linha 43 = o narrador refere o 
seu estado físico e psicológico ao 
sair do elétrico 
 
O único viajante com verdadeira alma que conheci era um garoto de escritório que havia numa outra casa, 
onde em tempos fui empregado. Este rapazito coleccionava folhetos de propaganda de cidades, países e 
companhias de transportes; tinha mapas — uns arrancados de periódicos, outros que pedia aqui e ali —; tinha, 
recortadas de jornais e revistas, ilustrações de paisagens, gravuras de costumes exóticos, retratos de barcos e 
navios. Ia às agências de turismo, em nome de um escritório hipotético, ou talvez em nome de qualquer escritório 
existente, possivelmente o próprio onde estava, e pedia folhetos sobre viagens para a Itália, folhetos de viagens 
para a Índia, folhetos dando as ligações entre Portugal e a Austrália. 
Não só era o maior viajante, porque o mais verdadeiro, que tenho conhecido: era também uma das pessoas 
mais felizes que me tem sido dado encontrar. Tenho pena de não saber o que é feito dele, ou, na verdade, suponho 
somente que deveria ter pena; na realidade não a tenho, pois hoje, que passaram dez anos, ou mais, sobre o breve 
tempo em que o conheci, deve ser homem, estúpido, cumpridor dos seus deveres, casado talvez, sustentáculo 
social de qualquer — morto, enfim, em sua mesma vida. É até capaz de ter viajado com o corpo, ele que tão bem 
viajava com a alma. 
Recordo-me de repente: ele sabia exactamente por que vias férreas se ia de Paris a Bucareste, por que vias 
férreas se percorria a Inglaterra, e, através das pronúncias erradas dos nomes estranhos, havia a certeza aureolada 
da sua grandeza de alma. Hoje, sim, deve ter existido para morto, mas talvez um dia, em velho, se lembre, como é 
não só melhor, senão mais verdadeiro, o sonhar com Bordéus do que desembarcar em Bordéus. 
E, daí, talvez isto tudo tivesse outra explicação qualquer, e ele estivesse somente imitando alguém. Ou... Sim, 
julgo às vezes, considerando a diferença hedionda entre a inteligência das crianças e a estupidez dos adultos, que 
somos acompanhados na infância por um espírito da guarda, que nos empresta a própria inteligência astral, e que 
depois, talvez com pena, mas por uma lei alta, nos abandona, como as mães animais às crias crescidas, aocevado 
que é o nosso destino. 
1. Indica e justifica a perspetiva que o narrador apresenta relativamente ao “viajante” no 
primeiro parágrafo. 
Demonstra admiração pelo viajante quando era criança porque ele era capaz de se entregar ao 
sonho de viajar, viajava através da imaginação recorrendo a materiais sobre os locais em que 
sonhava ir. 
1.1. Explica o valor expressivo das enumerações aí presentes. 
Dos objetos alusivos às viagens para poder conhecer bem os locais que em sonhos visitava. 
2. Tendo em conta as linhas 14-17 e o parágrafo final, comenta a opinião do narrador 
sobre o efeito da passagem do tempo na vida humana. 
O tempo e a entrada na vida adulta fazem perder o desejo, de sonhar, por isso as pessoas 
tornam-se “estúpidas”, compridoras dos seus deveres e incapazes de conhecer algumas coisa 
através da imaginação. 
3. Mostra de que forma o imaginário urbano e o quotidiano surgem concretizados neste 
excerto. 
No texto está presente a cidade de Lisboa e a vida da cidade, os seus espaços (os escritórios, as 
agências de turismo) e as pessoas (o empregado de escritório) e aspetos da vida social (jornais e 
revistas - imprensa quotidiana) 
4. Explica o modo como se interligam o mundo exterior e as divagações subjetivas do 
narrador. 
Ele parte da observação de um rapaz e da sua rotina diária utilizando este estímulo de vida 
quotidiana, para fazer considerações pessoais sobre a importância do sonho e sobre a falta de 
sentido da vida de muitas pessoas adultas que perderam a capacidade de imaginação. 
5. Indica dois traços do perfil de Bernardo Soares, exemplificando a tua resposta. 
Atitude reflexiva e crítica → observações que faz ao valorizar a importância do sonho e a tristeza e a 
desilusão com a falta da capacidade de sonhar dos adultos. 
 
 
 
E. ​A Mensagem​: 
I. Aspetos temáticos a abordar: 
A. o imaginário épico 
B. a exaltação patriótica 
C. a natureza épico-lírica da obra 
D. a dimensão simbólica do herói 
E. a estrutura da obra 
F. o Sebasteanismo 
II. O Imaginário épico e a natureza épico-lírica: 
“Mensagem” tem características épicas porque apresenta heróis da nossa 
história e os seus feitos grandiosos. 
No entanto, esta obra tem uma natureza épico-lírica. Os fatos históricos são 
interiorizados pelo sujeito poético e são apresentados de forma subjetiva, 
recorrendo a imagens simbólicas. 
Mais importantes do que os fatos históricos, são a alma de Portugal e a 
missão que o pais tem de cumprir (o 5º império) 
III. A Estrutura da Obra → A obra “Mensagem” tem três Partes: 
A. Brasão: 
Contêm 19 poemas que evocam os construtores do império, os que 
fizeram com que Portugal se ergue-se como nação independente. (Exemplos: “Dom Dinis” 
e “Dom Sebastião, Rei de Portugal”) 
Poemas dados: 
- Os Campos → “O dos Castelos”  
- Os castelos → “Ulisses”: 
O mito ​é o nada​ que ​é tudo​. Assim a lenda se escorre 
O mesmo sol que abre os céus A entrar na realidade, 
É um mito brilhante e mudo — E a fecundá-la decorre. 
O corpo morto de Deus, Em baixo, a vida, metade 
Vivo e desnudo. De nada, morre. 
 
Este,​ que ​aqui ​aportou, 
Foi por ​não ser​ ​existindo​. 
Sem existir​ nos bastou​. 
Por ​não ter vindo​ ​foi vindo 
E ​nos criou​. 
1ª Estrofe → ​o mito não existe​; ​o mito conta uma 
história que explica a realidade​. 
2ª Estrofe → exemplo que comprova a tese: 
- o sujeito poético está em Portugal 
- Ulisse é um mito, ​MAS ​torna-se realidade 
- Ulisses​ em ​Lisboa 
3ª Estrofe → conclusão: a vida é incompleta, a vida 
morre, logo o que a torna mais perfeita é a lenda, 
que vem de um plano superior. Ou seja, os mitos 
tornam a vida mais perfeita e mais completa. 
Questões: 
1. Identifica a tese com que se inicia o poema e explica o paradoxo que contém: 
A tese é “o mito é o nada que é tudo”. 
Nesta tese, há um paradoxo, uma vez que, por um lado, sr afirma que o mito é “nada” (não tem uma existência 
real) mas, por outro lado, diz-se que é tudo: ele é muito importante porque permite explicar a realidade e é 
como uma luz que clarifica (“O sol que abre os céus”, “mito brilhante”). 
2. Mostra que a segunda estrofe evidencia a origem mítica de Portugal. 
Nesta estrofe refere-se o mito de Ulisses. Este, apesar de não ter uma existência real, apesar de ser lendário 
(“Não ser”, “Sem existir” e “Não ter vindo”) estará na origem da cidade de Lisboa (“nos criou”). 
Segundo a lenda, Ulisses, quando regressava a Ítaca depois da vitória na guerra de Tróia, perdeu-se no 
Mediterrâneo e, após uma viagem cheia de atribulações no mar, chegou aos estuário do Tejo, onde fundou 
Lisboa. 
Assim se explica a vocação marítima dos portugueses, isto é, Ulisses, com o seu exemplo de navegador, terá 
inspirado o povo português a explorar os mares. 
3. Explica a utilização do presente e do pretérito perfeito do indicativo. 
O presente demonstra a permanência do mito e explica as suas características. 
O pretérito perfeito refere-se à história de Ulisses num passado distante. 
4. Com base na última estrofe, comenta a relação que se estabelece entre mito e realidade. 
 
- Brasão: “D. Dinis” e “D. Sebastião, Rei de Portugal” 
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo 
O plantador de naus a haver, 
E ouve um silêncio múrmuro consigo: 
É o rumor dos pinhais que, como um trigo 
De Império, ​ondulam sem se poder ver​. 
 
1ªEstrofe 
-Foi poeta → escreveu antigas de amigo → Trovador 
-Noite=momento propício à inspiração 
-Plantou pinhais (Pinhal de Leiria) → metáfora das naus que existirão 
no futuro, quando os pinhais derem a madeira  
Arroio, esse cantar, jovem e puro, 
Busca o oceano por achar; 
E a fala dos pinhais, marulho obscuro, 
É o som presente desse mar futuro, 
É a voz da terra ansiando pelo mar. 
-Ligado ao Mar → é um visionário porque nos pinhais ouve o mar e 
as naus → futuro de Portugal 
-Comparação = as naus estão na origem dos descobrimentos que 
levaram à expansão do império (as naus são o trigo do império) 
2ª Estrofe: 
- o inicio da literatura em Portugal = o Rei Inovador 
- a literatura vai-se desenvolvendo, ou seja, vai ao encontro do ocêano → depois vêm os temas ligados ao mar, 
aos descobrimentos 
- volta-se a falar do barulhos dos pinhais (que já tinham aparecido na 1ª estrofe) -> a fala dos pinheiros lembra 
o mar 
- no presente a economia é baseada na Terra 
- no futuro o ciclo da Terra mudará para o ciclo do Mar → D. Dinis como profeta 
Resumindo → Facetas dos Rei evidenciadas neste poema: 
● poeta: escreve de noite os seus cantares de amigo (v1) e é o iniciador da poesia e da literatura portuguesa (v.6) 
● “plantador de naus” (v2): D.Dinis é apresentado como um visionário , um profeta, um homem que consegue 
perceber o que os outro não conseguem. ele foi escolhido para cumprir uma missão - plantar os pinheiros cuja 
madeira serviria par afazer as naus dos descobrimentos que possibilitaram a criação do Império Português 
● Rei que iinicia um novo ciclo na nossa história: o ciclo do mar deverá substituir o ciclo da terra (v.9 e 10) 
 
D. Sebastião, Rei de Portugal 
 
Louco, sim, louco, porque quis grandeza 
Qual a Sorte a não dá. 
Não coube em mim minha certeza; 
Por isso onde o areal está 
Ficou meu ser que houve, não o que há. 
 
Minha loucura, outros que me a tomem 
Com o que nela ia. 
Sem a loucura que é o homem 
Mais que a besta sadia, 
Cadáver adiado que procria? 
 
Está na 1ª pessoa → o suj. poético pensa o mesmo que D. 
Sebastião, sendo que quem fala e diz o que sente é D. Sebastião 
- Começa por auto caracterizar-se → é louco​ ​porque é ambicioso, 
a sorte não lhe dá grandeza → é Rei de um país pequenino, então 
queria um país maior 
-​ Consequências da sua loucura e ambição exagerada = vai 
morrer no areal de África → pretérito perfeito 
- MAS não morreu o sonho que tinha → o que há são os seus 
sonhos que se mantêm 
- Faz um pedido: que os outros tomem a sua loucura, ou seja, que 
ponham em prática os seus sonhos.- ​O suj. poético quer que o leitor faça uma reflexão, entãousa a 
pergunta retórica de forma a evidenciar a importância da loucura 
e dos sonhos = a nossa vida não tem sentido sem a loucura / 
sonhos / ambições, não somos mais do que um animal que 
procria. 
Resumindo: 
● Na primeira estrofe, temos a autocaracterização do sujeito poético (D. Sebastião) que se apresenta como 
um louco. Essa loucura é motivada pela insatisfação com que o destino lhe reserva e pelo desejo de 
grandeza (versos 1-3). A morte e a destruição física no areal de Alcácer Quibir são a consequência do 
espírito sonhador de D. Sebastião (versos 4 e 5). 
● Na segunda estrofe, temos o elogio da loucura e o apelo a que outros tomem os seus ideais, uma vez que 
eles não morrem (conjuntivo com valor de imperativo - versos 6 e 7). O poema termina com uma reflexão 
(pergunta retórica) onde há uma crítica à passividade dos homens, a uma vida sem sonhos, tão 
semelhante à dos animais. 
● Articulação entre o presente e o passado: 
○ O pretérito perfeito (“quis”, “coube”, “ficou” e “houve”) ou o pretérito imperfeito (“ía”) mostram a 
dimensão real e histórica do Rei que morrem em Alcácer Quibir. 
○ O presente do indicativo (“há”, “dá” e “é”) mostra a dimensão mítica do Rei, a permanência dos 
seus sonhos e a reflexão intemporal sobre a “loucura” humana. 
 
B. Mar Português: 
Contém 12 poemas inspirados pelo desejo da descoberta do 
desconhecido e do esforço da conquista do mar. 
O poeta recorda o sonho dos descobrimentos e as tormentas e 
glórias a eles associados. (Exemplo: “o Infante”, “o Mostrengo” e 
“Mar Português”) 
O INFANTE 
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce​. 
Deus quis que a terra fosse toda uma, 
Que o mar unisse, já não separasse. 
Sagrou-te, e foste​ desvendando a espuma​. 
 
E a orla branca foi de ilha em continente, 
Clareou, correndo, até ao fim do mundo, 
E viu-se a terra inteira, de repente, 
Surgir, redonda, do azul profundo. 
 
Quem te sagrou criou-te português. 
Do mar e nós em ti nos deu sinal. 
Cumpriu-se o Mar​, e ​o Império se desfez​. 
Senhor, ​falta cumprir-se Portugal​! 
Justificação da sua posição na obra: é o 1º da segunda parte, porque 
fala sobre o Infante D. Henrique que foi o primeiro impulsionador dos 
Descobrimentos. 
1ª Estrofe 
- tripartido: com relação de causalidade 
1. um desejo de Deus 
2. o sonho do Homem 
3. concretização (o nascimento da obra) 
-​ Explicita-se o Desejo de Deus: a unificação da Terra através da 
conquista do Mar. 
- ​O Infante tem um carater mítico e sagrado, sendo o homem escolhido 
por Deus para descobrir/desvendar os mares → nascimento da obra 
- ​Há uma proximidade com o Infante do tratamento por tu   
 2ª Estrofe 
- Os descobrimentos foram graduais: 
1. verbos no gerundio 
2. ir em vários tempos diferentes (verbo de movimento) 
3. gradação (começa por conhecer pouco e acaba a conhecer tudo) 
- sensações visuais ( cor, movimento e a forma da Terra) → contribuem para se conhecer as descoberta do Mar 
- A concretização da obra → a descoberta dos Mares: 
● descoberta gradual (gradação) 
● verbos nos gerundio 
● verbos de movimento 
● as sensações visuais 
● expressões adverbiais (de repente) 
3º Estrofe: Há tempos distintos: 
- passado distante 
- passado recente /presente 
- futuro → apelo a Deus para que se repita o mesmo ciclo 
Mar Português 
Ó mar salgado, ​quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
1ª Parte → 1ª Estrofe: 
- Sofrimento, os sacrifícios do povo português para conquistar o mar. 
- Realidade épica - Recursos: 
● Apóstrofe → da mesma maneira que começa também acaba 
● Frases exclamativa 
Para que fosses ​nosso​, ​ó mar! 
 
Valeu a pena? ​Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor​. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 
● Metáfora e Hipérbole → Para reforçar o sofrimento dos 
portugueses, tomando a sua dor mítica devido ao sal do mar ter 
origem nas lágrimas dos portugueses 
● ​Paralelismo Anafórico e Enumeração → para evidenciar o 
sofrimento familiar, a destruição de famílias provocado pelos 
descobrimentos 
- Ideia de causa no inicio e de objetivo no v.6 
 
- Carater lírico: 
● discurso de 1ª pessoa 
● frases exclamativas 
● demonstra os sentimentos do sujeito épico → ele também sente a dor dos descobrimentos  
 
2ª Parte: 2ª estrofe→ Reflexão: 
- começa por uma pergunta retórica 
- responde 3x à mesma pergunta: 
1. Resposta → quando há sonhos a determinação é necessária 
2. Resposta → ultrapassar um obstaculo necessita de sofrimento 
3. Resposta → a recompensa/a glória que se atinge à custa dos perigos e abismos que se vencem 
 
C. O Encoberto: 
 Contém 13 poemas e tem como figura referencial Dom Sebastião. O Sebastianismo 
perdurou ao longo dos séculos da nossa história. a nação, quando o pessimismo se 
instala, anseia por uma espécie de messias que venha reconstruir o sonho Português. 
 Há poemas que retratam o estado de decadência em que Portugal se encontra 
(“Noite” e “Tormenta”) e outros que apontam para a necessidade urgente de um futuro 
melhor e do Renascimento de Portugal (“Nevoeiro” e “Quinto império”). 
Quinto Império 
Triste de quem vive em casa, 
Contente com o seu lar, 
Sem que um sonho, no erguer de 
asa​, 
Faça até mais rubra a brasa 
Da lareira a abandonar! 
 
Triste de quem é feliz! 
Vive porque a vida dura. 
Nada na alma lhe diz 
Mais que a lição da raiz — 
Ter por vida a sepultura. 
 
Eras sobre eras se somem 
No tempo que em eras vem. 
Ser descontente é ser homem. 
Que ​as forças cegas ​se domem 
Pela ​visão que a alma tem! 
 
1 estrofe: 
- Antítese → contentes com o conforto do seu lar, mas o sujeito 
poético acha-as tristes 
- O sujeito poético explica o porquê de não serem assim tão felizes 
→nao sonham → faria as pessoas voar, mudar e a brasa teria mais 
brilho 
- As pessoas deviam abandonar esse conforto da casa e partir nas 
asas do sonho 
2 estrofe: 
- Mesma perspetiva da estrofe anterior​ = são tristes porque a “vida 
dura”, a vida continua sem sonhos e sem ambições → ideia de 
passividade em relação à vida 
- A vida é comparada à morte 
- Crítica ao conformismo 
3 estrofe: 
- passagem do tempo, vão se somando gerações → os sonhos 
continuam nas gerações 
- Se o mundo avança é porque as pessoas têm sonhos, há insatisfação 
E assim​, passados os quatro 
Tempos do ser que sonhou, 
A terra será teatro 
Do dia claro, que no atro 
Da erma noite começou. 
 
Grécia, Roma, Cristandade, 
Europa — os quatro se vão 
Para onde vai toda idade. 
Quem vem viver​ a verdade 
Que morreu D. Sebastião? 
e ambições → e por isso há mais gerações 
- Desejo\Esperanca de que ​acabe a passividade e o conformismo​ que 
deve ser domado pelos sonhos​. 
4 estrofe: ​conclusão 
- Depois de todos os impérios que houve 
- Um passado e um presente correspondem à noite metaforicamente, 
MAS dessa noite surge futuro como um dia: 
- Passado e presente = Crise →pais as escura, noite 
- Futuro = época melhor, espera-se que venha algo de positivo 
da noite escura → dia que será claro, época mais feliz. 
5ª Estrofe: 
- 4 impérios importantes, materialistas e que já acabaram 
- o novo império será espiritual e ligado à cultura → baseado em valores morais, sonhos e na verdade  
- os valores morais ficam mas a riqueza não 
- D.Sebastião andava à procura da verdade, portanto foi a verdade que matou D. Sebastião → verdade = 
sonho 
   
 
2. Miguel torga 
a. Majestade 
Passa ​um rei — é o Poeta. ​--> metáfora 
Não pela força de ​mandar​, 
Mas pela graça mágica e secreta 
De​ imaginar​. 
 
O ceptro, a pena — a lançadeira cega 
Do seu tear de versos. 
O manto,a pele—arminho onde se pega 
A lama dos caminhos mais diversos. 
 
Um grande soberano 
No seu ​triste​ destino ​→ é infeliz 
De ser um monstro humano 
Por direito divino. 
Capacidade criativa

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