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DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 4 2. EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................................... 4 3. CAUSALIDADE JURÍDICA: NORMA, FATO JURÍDICO E CONSEQUÊNCIA .......................................................... 4 4. CONCEITO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................................................................... 5 5. CONCEITOS INICIAIS DE ATO ILÍCITO E ABUSO DE DIREITO ........................................................................... 6 5.1. ATO ILÍCITO .................................................................................................................................. 7 5.2. ABUSO DE DIREITO ....................................................................................................................... 9 6. ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL OU PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR ........................... 11 6.1. CONDUTA HUMANA .................................................................................................................... 13 6.2. DOLO E CULPA ............................................................................................................................. 15 6.3. NEXO DE CAUSALIDADE ............................................................................................................... 20 6.3.1. Causas excludentes .............................................................................................................. 21 6.3.2. Teorias quanto ao nexo de causalidade................................................................................. 27 6.4. DANO OU PREJUÍZO ..................................................................................................................... 28 6.4.1 Danos materiais ou patrimoniais ........................................................................................... 29 6.4.2. Danos morais ....................................................................................................................... 35 6.4.3. Dano estético ....................................................................................................................... 51 6.4.4. Danos morais coletivos ......................................................................................................... 52 6.4.5. Danos sociais ou difusos ....................................................................................................... 54 7. CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL QUANTO À CULPA............................................................... 59 7.1. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA ........................................................................................... 60 7.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA ..................................................................................................... 60 8. RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA OU DO ANIMAL........................................................................ 68 8.1. DONO OU DETENTOR DE ANIMAL ................................................................................................ 69 8.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO DONO DO PRÉDIO OU CONSTRUÇÃO POR SUA RUÍNA .............. 69 8.3. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HABITANTE DO PRÉDIO PELAS COISAS QUE DELE CAÍREM OU FOREM LANÇADAS EM LOCAL INDEVIDO. ............................................................................................ 70 8.4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO TRANSPORTADOR ................................................................... 70 8.5. RESPONSABILIDADE PELOS PRODUTOS POSTOS EM CIRCULAÇÃO ................................................. 72 8.6. RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO POR ATO DE TERCEIROS ..... 72 9. CASOS JURISPRUDENCIAIS ........................................................................................................................ 73 10. JURISPRUDÊNCIA EM TESE- STJ ............................................................................................................. 98 11. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO .......................................................................................... 98 12. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ...................................................................................................................... 98 3 4 ATUALIZADO EM 03/08/20191 RESPONSABILIDADE CIVIL 1. INTRODUÇÃO Responsabilidade civil é a OBRIGAÇÃO que incumbe a uma pessoa de ter de REPARAR os danos causados a outra, ou seja, é o fenômeno jurídico que propicia ao credor de uma obrigação por ato ilícito buscar ressarcimento junto ao patrimônio do devedor. A RESPONSABILIDADE CIVIL deriva de uma violação de uma norma jurídica preexistente, impondo ao infrator a obrigação de indenizar. A depender da natureza da norma jurídica violada, a obrigação pode ser CONTRATUAL OU EXTRACONTRATUAL (responsabilidade aquiliana). Como relação obrigacional, há a ideia de credor, devedor e prestação. O credor é a vítima. O devedor é o sujeito que deu causa ao prejuízo ou ao dano. A prestação consiste em tudo aquilo que for necessário para a reparação do dano, ou seja, um dar ou um fazer, restabelecendo a situação anterior. 2. EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade no final do milênio: da culpa e do risco ao dano lícito: no século XIX vigia o entendimento de que a obrigação de reparar nascia da culpa. Na segunda metade do século XX chegou-se à conclusão de que o fundamento da responsabilidade residia na quebra do equilíbrio econômico e jurídico causado pelo dano, decorrente de ato culposo ou do risco. Ou seja, verificou-se que a culpa não era o único fundamento da responsabilidade civil, havendo as atividades de risco que também poderiam gerar reparação independentemente de ação voluntária, culposa ou dolosa. Por fim, chega-se ao entendimento de que ao lado do dano ilícito, proveniente de ação contrária ao direito, há a responsabilidade civil pelo dano lícito. É a figura do dano tolerado, em que a ordem pública permite que o interesse de um venha sobrepor-se ao interesse do outro, impondo, a despeito disso, o dever de indenizar o prejudicado. 3. CAUSALIDADE JURÍDICA: NORMA, FATO JURÍDICO E CONSEQUÊNCIA 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 5 Para a compreensão da estrutura da responsabilidade civil é de fundamental importância entender o seguinte mecanismo sequencial: norma que prevê o dano; o fato jurídico antecedente (ato ilícito, fato ilícito stricto sensu, ato-fato ilícito ou ato lícito ou ato-fato lícito); o dano, que é o fato jurídico consequente; a EFICÁCIA JURÍDICA ANEXA, que é a responsabilidade civil (relação jurídica obrigacional); e a EFICÁCIA JURÍDICA REFLEXA, que é o ressarcimento do dano. 4. CONCEITO DA RESPONSABILIDADE CIVIL a) Definição: Responsabilidade civil é a relação obrigacional decorrente do fato jurídico dano, na qual o sujeito do direito ao ressarcimento é o prejudicado, e o sujeito do dever é o agente causador ou o terceiro a quema norma imputa a obrigação. b) Responsabilidade e Imputabilidade Simples: O termo jurídico responsabilidade emprega-se em dois sentidos: i) como obrigação de satisfazer ou executar ato jurídico (imputabilidade simples: Exemplos no NCC arts. 973, 990, 1024, 991, 1039, 1052, 1091, 1095, 1158, § 3º, 1175.); ii) como obrigação de ressarcir danos e sujeitar o infrator às sanções da lei ou do contrato (responsabilidade civil). A responsabilidade civil é uma espécie de imputação que se distingue da imputabilidade dita simples pela preexistência de um fato jurídico danoso. c) Situações jurídicas primárias e secundárias ou sucedâneas c.1) Situação jurídica originária ou primária: na qual estão de um lado os direitos da personalidade, os direitos obrigacionais, reais e de família, e de outro lado, os respectivos deveres (dever genérico de abstenção, sujeição, obrigação e deveres de família); c.2) Situação jurídica sucessiva ou secundária: consiste na relação jurídica obrigacional decorrente da transgressão do dever da situação primária, ou lesão de interesse juridicamente protegido. Logo, a responsabilidade civil é um direito jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. d) Questões clássicas: 1º) Responsabilidade civil por rompimento de noivado – é preciso que o comportamento seja enquadrado no artigo 186; como a responsabilidade subjetiva é a regra, o simples rompimento de noivado não pode ser obrigatoriamente causa de indenização. Não basta somente o dano, é preciso que a conduta do agente tenha ilicitude, com ardil e maldade. 6 2º) Por rompimento do concubinato (União Estável) – atualmente, com a regulamentação patrimonial da União Estável, essa questão perdeu relevância. e) O CC/02 manteve, em alguns casos, o tratamento específico, fazendo algumas adaptações: Artigo 953 (difamar e indenização por equidade). Artigos 939 e 940 (mau credor e o mínimo garantido de indenização). Q - a incidência do artigo 940 pressupõe a cobrança de dívida já paga. Não se aplica no caso de dívida forjada - STJ. A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de ação autônoma ou do manejo de reconvenção. Para que haja a aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002), é imprescindível a demonstração de má-fé do credor. Permanece válido o entendimento da Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940 do CC 2002). STJ. 2ª Seção. REsp 1.111.270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 576). 5. CONCEITOS INICIAIS DE ATO ILÍCITO E ABUSO DE DIREITO Quanto à origem, há duas modalidades de responsabilidade civil: Obs.: a tendência legislativa é de superar essa divisão, unificando a responsabilidade civil. Uma prova disso é o CDC, a legislação ambiental, a lei anticorrupção (responsabilidade objetiva dos agentes). Neles não importa se é ato ilícito ou abuso de direito. a) Responsabilidade civil contratual ou negocial É o inadimplemento de uma obrigação. Está nos artigos art. 389, 390 e 391. ATENÇÃO: em caso de inadimplemento não se utiliza o art. 186 do CC. É um erro comum em peças jurídicas falar em responsabilidade civil com base no art. 186 quando há descumprimento de um contrato. - Ônus da prova: basta comprovar o INADIMPLEMENTO. - Mora: mora é automática (mora ex re). 7 Essa distinção tem consequências práticas, na responsabilidade civil contratual, deve haver adequação das regras de responsabilidade contratual e civil, por exemplo, previsão de multa contratual cominatória. Obs.: É possível responsabilizar o relativamente incapaz que mentiu sobre a sua idade induzindo em erro o outro contratante (Responsabilidade contratual). b) Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana Lex Aquilia de Damno – introduziu a responsabilidade civil extracontratual no Direito Romano. Passou a possibilitar a responsabilidade independentemente da existência de uma relação contratual. Responsabilidade que tem origem na VIOLAÇÃO DE UM DEVER GERAL DE ABSTENÇÃO pertinente aos direitos reais ou de personalidade. É FUNDADA NO “NEMINEN LAEDERE”, dever apriorístico imposto a todos de não causar danos a outrem. - Ônus da prova: há necessidade de demonstrar o DANO + CONDUTA CULPOSA (em regra) + NEXO DE CAUSALIDADE. - Mora: não é automática (mora ex persona). No CC/16, ela estava ligada apenas ao ato ilícito (art. 186). No CC/02, é ligada ao ato ilícito e ao abuso de direito (art. 187). 5.1. ATO ILÍCITO ATO ILÍCITO CIVIL = VIOLAÇÃO DE UM DIRETO + DANO. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. ATO ILÍCITO CIVIL PURO. A conjunção “e” é muito importante, pois o CC/16 utilizada o “ou”. O dano não era necessário. ATENÇÃO: risco de dano. Há a discussão se o simples risco de dano configuraria o ato ilícito. Ministra Nancy julgou caso da coca-cola e asseverou que o simples risco poderia sim gerar dano. Mas, a priori, sem dano não há ilícito civil nem dever de indenizar. Art. 927, caput (quem causa dano tem o dever de indenizar). Ex1.: sujeito que dirige bêbado, mas não bateu ninguém; ex2.: adultério ou infidelidade, por si só, não é ilícito civil. Se o cara tinha outra família com cinco filhos (aí já se pode discutir). 8 Obs.: abandono afetivo – inicialmente no REsp. 757.411/MG, o STJ disse que não. Em 2012, no REsp 1.159.242, disse que sim. Há muita divergência. Flávio Tartuce entende que sim. A Ministra Nancy Andryghi disse que amar o filho é faculdade, mas cuidar é dever jurídico. Se a violação desse dever jurídico causar dano, haverá ensejo à indenização. Argumento – art. 229: os pais têm o DEVER de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. E quando falam da monetarização do afeto? Isso já está ultrapassado. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais, passíveis de compensação pecuniária. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609). Bora aprofundar um pouco esse julgado? Recomendamos a leitura completa no Site do Dizer o Direito (#AJUDAMARCINHO). A decisão parece simples, mas pode confundir você em uma prova discursiva ou oral. Vamos para as #CASCASDEBANANAS: #SELIGA: No julgado acima (REsp 1.087.561-RS) adotou-se a responsabilidade civil por abandono AFETIVO? O pai foi condenado a indenizar pelo fato de não ter dado afeto ao seu filho? NÃO. No julgado acima explicado o Min. Rel. Raul Araújo, assim como a Min. Maria Isabel Gallotti, deixaram claro que são contrários à tese da responsabilidade civil por abandono afetivo. Afirmou-se que a falta de afeto, por si só, não constitui ato ilícito. “A convivência e o afeto devem corresponder a sentimentos naturais, espontâneos, genuínos, com todas as características positivas e negativas de cada indivíduo e de cada família. Não é – nem deve ser – o cumprimento de dever jurídico, imposto pelo Estado, sob pena de punição (ou indenizaçãopunitiva).” (Min. Maria Isabel Gallotti). Assim, no REsp 1.087.561-RS, o STJ concedeu a indenização por danos morais em razão do pai não ter dado amparo MATERIAL ao filho. *#CEREJADOBOLO: A partir desse julgado pode-se dizer que qualquer atraso na pensão alimentícia ou descumprimento do dever de alimentar gera dano moral? NÃO. No caso concreto, não houve um “mero descumprimento episódico de obrigação alimentar, mas de hipótese em que a reiterada falta de assistência material foi de tal ordem que revelou ter o autor sido vítima de humilhações, situações que o levaram ao ridículo, privações que prejudicaram o seu desenvolvimento, caracterizando o tratamento cruel e degradante ao qual ficou submetido em decorrência da conduta omissiva do genitor, que tinha, na época dessas ocorrências, conhecimento da situação de penúria e plenas condições de suprir suas necessidades.” (Min. Maria Isabel Gallotti). 9 *#RECORDARÉVIVER: Existe algum julgado do STJ reconhecendo a responsabilidade civil por abandono afetivo? SIM. Há um precedente da 3ª Turma: O abandono AFETIVO decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável. STJ. 3ª Turma. REsp 1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012. O art. 186 trata do dano exclusivamente moral. É o dano moral puro. É novidade? Não, pois já estava na CF/88, mas o CC/16 não trazia essa possibilidade. O art. 186 adotou um modelo culposo da responsabilidade subjetiva, por tratar de dolo e culpa. 5.2. ABUSO DE DIREITO ABUSO DE (DO) DIREITO + DANO. ILÍCITO EQUIPARADO. ATO ILÍCITO IMPURO. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Trata-se do exercício irregular ou imoderado de um direito, que tem três parâmetros de configuração: função social e econômica, boa-fé e bons costumes. O abuso de direito é lícito quanto ao conteúdo e ilícito quanto às consequências (Rubens Limongi França), por isso que é ato ilícito impuro. A ilicitude está na forma de execução do ato. O conceito de abuso de direito é, por conseguinte, aberto e dinâmico, de acordo com a concepção tridimensional de Miguel Reale, pela qual o Direito é fato, valor e norma. Pela análise do art. 187 do CC em vigor, conclui-se que a definição de abuso de direito está baseada em quatro conceitos legais indeterminados, cláusulas gerais que devem ser preenchidas pelo juiz caso a caso, a saber: a) fim social; b) fim econômico; c) boa-fé; e d) bons costumes. Ex.: Publicidade abusiva = publicidade antissocial (art. 37 CDC), abuso no processo (art. 79 e 80 CPC/2015), abuso no exercício da propriedade (ato emulativo – ato de provocação do vizinho. Art. 1228, §2º e art. 1277 (apesar de falar da intenção, ela é dispensada) – trata do uso anormal da propriedade nas relações entre os vizinhos, com a consagração da regra dos 3S – segurança, sossego e saúde), abuso de direito de greve e abuso de direito nos contratos de trabalho. Direito Digital ou Eletrônico. “Spam” e abuso de direito. Com a ausência de uma lei específica, deve-se compreender que o atual Código Civil pode ser perfeitamente aplicado aos contratos eletrônicos. O ato de envio constitui abuso de direito – assemelhado ao ato ilícito pelas eventuais consequências –, eis que o usuário da 10 Internet não a solicita, não fornece seu endereço virtual, e, mesmo assim, recebe em sua caixa de correio eletrônico convites a aderir aos mais variados planos, produtos, grupos, jogos, serviços, entre outros. Ainda para ilustrar como outra hipótese de abuso no processo pode ser citado o recente tema do assédio judicial, presente quando alguém que exerce alguma forma de liderança instiga os liderados a promoverem demandas descabidas contra determinada pessoa. O caso, sem dúvidas, é de abuso de direito processual, devendo ser resolvido pela responsabilidade civil, com a imputação do dever de indenizar. Como concretização do abuso de direito no exercício da propriedade pode ser citado o contemporâneo exemplo do excesso de animais em casa ou apartamento, conforme o entendimento jurisprudencial: “Ação de dano infecto. Nulidade da citação postal. Comparecimento espontâneo do réu. Suprimento do vício. Cerceamento de defesa. Inocorrência. Mérito. Quantidade excessiva de animais de estimação (gatos) em terreno particular, vindo a comprometer a segurança, o sossego e a saúde dos moradores da propriedade privada contígua. Obrigação de construção de abrigo para os animais, que resguarde a integridade do bem alheio. Sentença mantida. Recurso desprovido.” (TJSC, Apelação Cível n° 2008.082251-0, 3ª Câmara de Direito Civil, Rel. Desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta). “Direito de vizinhança. Uso nocivo da propriedade. Oito cães em pequeno quintal. Ruídos e odores excessivos. Sentença mantida para limitar a dois animais. Recurso improvido.” (TJSP, Apelação Cível 846.178-0/0, São Paulo, 36.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Pedro Baccarat, 24.08.2006, v.u., Voto 1.465). O abuso de direito exige o dano? SIM, na forma do art. 927, aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Ou melhor, para fins de responsabilidade civil, sim. Para outros fins, não. Enunciado 539 da VI Jornada de Direito Civil (2013) – o abuso de direito é uma categoria autônoma em relação à responsabilidade civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independentemente de dano (ele justifica porque traz abuso de direito no primeiro volume). O abuso de direito necessita de culpa? NÃO. Enunciado 37 da I Jornada de Direito Civil de 2002 – a responsabilidade civil decorrente de abuso de direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo – finalístico (ou seja, não interessa a intenção e sim o desrespeito às finalidades ou funções). É, portanto, responsabilidade objetiva. Responsabilidade civil e o abuso de direito – o CC/02 muda a configuração do abuso de direito enquanto ato ilícito para torná-lo mais próximo do seu paradigma (função social do direito). O abuso de direito como ato que gera o dever de indenizar aproxima-se do ato ilícito. Ele é um ato ilícito, é extrapolar a utilização do exercício de um direito subjetivo. Todo direito subjetivo encontra limites e a tutela contra o abuso é exatamente 11 encontrar os limites. No CC/02, há uma maior amplitude; sendo considerado abuso aquele comportamento dissociado de sua função social e os seus fins econômicos, da boa-fé e dos bons costumes (artigo 187); é uma CLÁUSULA ABERTA que vai exigir maior trabalho ao julgador. Frise-se que a modificação também atinge a responsabilidade contratual, pois o art. 187 do CC também pode e deve ser aplicado em sede de autonomia privada. Eis aqui um dispositivo unificador do sistema de responsabilidade civil, que supera a dicotomia responsabilidade contratual x extracontratual. ABUSO DE DIREITO = EXTRAPOLAR OS LIMITES OBJETIVOS + EXCESSO NO NÃO ATENDIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Caracteriza abuso de direito ou ação passível de gerar responsabilidade civil pelos danos causados a impetração do habeas corpus por terceiro com o fim de impedir a interrupção, deferida judicialmente, de gestação de feto portador de síndrome incompatível com a vida extrauterina. Caso concreto: uma mulher descobriu que o bebê que ela estava esperando possuía uma má-formação conhecida como "Síndrome de Body Stalk", que torna inviável a vida extrauterina. Ela conseguiu uma autorização judicial para interromper a gestação e foi internada com esse objetivo. Ocorre que um padre descobriu a situação e impetrou um habeas corpus em favor do feto pedindo que o Poder Judiciário impedisse o aborto. Quandoa mulher já estava há três dias no hospital fazendo o procedimento de aborto, foi deferida a liminar no HC e determinou-se que o procedimento fosse suspenso e que a gravidez prosseguisse. A mulher teve que voltar para casa. Alguns dias após, nasceu a criança, mas morreu menos de duas horas depois do parto. Para o STJ, ao propor a ação pedindo a interrupção do procedimento de aborto, o padre: a) Violou a intimidade e a vida privada do casal, tentando fazer prevalecer sua posição particular em relação à interrupção da gestação, mesmo estando eles amparados, na decisão que tomaram, por tutela judicial; b) Agrediu-lhes a honra ao denominar a atitude que tomaram, sob os auspícios do Estado, de assassinato; c) Agiu temerariamente (quando pediu a suspensão do procedimento médico de interrupção da gravidez, que já estava em curso) e impôs aos pais – notadamente à mãe – sofrimento inócuo, pois como se viu, os prognósticos de inviabilidade de vida extrauterina se confirmaram. STJ. 3ª Turma. REsp 1.467.888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2016 (Info 592). 6. ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL OU PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR Ação ou omissão (conduta). a. Dolo (intenção ou vontade de causar o prejuízo) ou culpa (reprovabilidade – inobservância de um dever de cuidado). b. Nexo de causalidade (relação de causa e efeito). 12 c. Dano (prejuízo). Fato antecedente: a AÇÃO ou OMISSÃO do agente, lícita (abuso de direito) ou ilícita, a atividade de risco ou, excepcionalmente, o caso fortuito e a força maior, constituem fatos antecedentes geradores do dano; Dano: é o fato jurídico gerador da responsabilidade civil; Nexo causal: é a relação de CAUSA E EFEITO entre o fato do agente e o resultado do dano, ou seja, o fato antecedente constitui a causa do efeito do dano. Imputabilidade: é a ATRIBUIÇÃO de poder ou dever a alguém para RESPONDER por determinado fato jurídico. No campo da responsabilidade civil é a APTIDÃO para ser sujeito do dever de reparação. De modo geral, a imputação do dever de reparar recai sobre o causador do dano; porém, excepcionalmente, a lei atribui a um terceiro o dever de ressarcir o fato danoso, como na hipótese do art. 932, do NCC, que trata da responsabilidade por fato de terceiros. OBS.: Imputação subsidiária: é a hipótese prevista no art. 928 do NCC: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de o fazer ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se ela privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.” *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: INFO. 566, STJ – 2015 "Habeas aula" é um curso jurídico "on line" preparatório para concursos públicos. Determinado dia, o gerente da instituição descobriu que havia uma comunidade na rede social Orkut® onde estavam sendo vendidas, em DVD, as aulas do curso, de forma não autorizada ("pirataria"). Diante disso, o curso propôs ação contra a Google® (proprietária do Orkut®) pedindo: a) a retirada do ar da referida comunidade; b) a identificação do IP, ou seja, o número do "computador" (dispositivo) de onde partiram as publicações; b) a reparação pelos danos morais que sofreu durante o período em que a comunidade esteve "on line". Quando o autor pede a retirada do ar e a identificação do IP de determinado perfil, página ou comunidade que está presente em uma rede social, ele precisa informar a URL da página (ex: o perfil abusivo está no endereço www.orkut.com/xxx123yyy456)? Ou essa informação não é necessária? É sim necessária. O STJ tem entendimento consolidado no sentido de que o titular que teve direito autoral violado pela comercialização desautorizada de sua obra em rede social deve indicar a URL específica da página na qual o ilícito foi praticado, caso pretenda que o provedor torne indisponível o conteúdo e forneça o IP do usuário responsável pela violação. E o pedido de indenização por danos materiais, deverá ser acolhido? No caso relatado, a Google® deverá ser condenada a indenizar o autor? NÃO. A Google® não é responsável pelos prejuízos decorrentes de violações de direito autoral levadas a efeito por usuários que utilizavam a rede social Orkut® para comercializar obras sem autorização dos respectivos 13 titulares, desde que constatado que: (a) o provedor de internet (Google®) não obteve lucro ou contribuiu decisivamente com a prática ilícita e (b) os danos sofridos ocorreram antes da notificação do provedor acerca da existência do conteúdo infringente (ou seja, as vendas foram antes de o provedor ser notificado sobre as páginas ilícitas). STJ. 2ª Seção. REsp 1.512.647-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/5/2015 (Info 565). - O primeiro requisito para responsabilizar o provedor de internet é que o uso dos materiais protegidos por direitos autorais não tenha sido um uso justo (fair use). Se o uso foi justo, não há dever de indenizar. Responsabilidade contributiva: deve-se provar que o provedor de internet, de forma intencional, induziu ou encorajou terceiros a cometerem ato ilícito utilizando a estrutura da rede oferecida. Responsabilidade vicária: a responsabilidade vicária está configurada quando fica provado que o provedor de internet aufere lucros, ainda que indiretos, com os ilícitos praticados, razão pela qual se nega a exercer o poder de controle ou de limitação dos danos, quando poderia fazê-lo. - Em suma: O STJ entendeu que deveria ser afastada a responsabilidade civil da Google® por duas razões: a) a estrutura da rede social em questão – Orkut – e a postura do provedor não contribuíram decisivamente para a violação de direitos autorais; b) não se vislumbram danos materiais que possam ser imputados à inércia do provedor de internet. Obs.: para uma parcela moderna da doutrina (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona), a culpa genérica (elemento subjetivo) seria um ELEMENTO ACIDENTAL da responsabilidade civil, sobretudo em virtude da outra espécie de responsabilidade que prescinde da mesma, qual seja, da responsabilidade objetiva. 6.1. CONDUTA HUMANA Ação – culpa in comittendo. Omissão – culpa in omittendo. Para que o agente responda é necessário provar: (1) Que o ato deveria ser praticado (omissão genérica) e (2) a omissão em si (omissão específica). A omissão será relevante quando houver o dever de agir, seja decorrente da lei, do contrato ou dos costumes sociais. Normalmente, o descumprimento contratual consiste em uma omissão2. A ação ou a omissão pode se expressar em 03 situações possíveis: 2 Questão – Magistratura de SP/2ª fase/2011: Um condomínio edilício responde pelo roubo ou furto de veículos praticado no seu interior? Não, em regra, pois não há um dever legal em evitar o fato (STJ AgRg no Ag 1.102.361/RJ e TJ/SP Apelação Cível 228.722-1). O condomínio só responde se houver previsão na convenção de condomínio ou compromisso implícito e específico com segurança especializada (não é porteiro). Não se aplica o CDC. 14 a. Ato próprio – a obrigação de indenizar é imposta à pessoa que praticou a conduta e causou o resultado. Essa é a situação padrão, é a regra, com fundamento no artigo 186 artigo 942. b. Ato de terceiro – a obrigação de indenizar é imposta à pessoa diversa da que praticou a conduta e causou o resultado. Ex.: pai que responde pelos atos dos filhos. Responsabilidade civil dos incapazes – houve uma significativa alteração em relação ao CC/16. Deve ser analisada a imputabilidade do agente. Ou seja, se ele assume a figura do devedor e se seu patrimônio responde pelo resultado e pelo dano. O CC/16 trabalhava a responsabilidade civil do incapaz, aplicando-se as regras da capacidade civil, com algumas adaptações, sempre com regras protetivas. Com o CC/02, foi quebradaa estrutura passada em relação à responsabilidade civil do incapaz (artigo 928), tornando-se possível a responsabilidade civil do incapaz. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes, sendo equitativa a indenização, mas não se pode privar o incapaz ou as pessoas que dele dependem. Há proteção diferenciada para o incapaz: 2 obstáculos, sem distinção entre capacidade absoluta ou relativa: 1º) É preciso que o responsável legal por lei não tenha a obrigação de indenizar no caso concreto ou não tenha patrimônio para fazê-lo. Ex.: pai (ou tutor) do menor incapaz; curador do maior incapaz. Se tiverem a obrigação e patrimônio, os responsáveis responderão. Ver no artigo 932 hipóteses de obrigação legal. 2º) Será necessário que o incapaz tenha patrimônio idôneo – o incapaz ficará isento da indenização se isso vier a causar prejuízo ao necessário para sua subsistência e para a das pessoas que dele dependam. Mesmo ultrapassados os obstáculos, o legislador continua a proteger o incapaz, quando diz que a indenização deverá ser arbitrada por EQUIDADE; o juiz diante do caso concreto pode determinar uma redução no quantum indenizatório. O incapaz e o responsável não são solidários (é exceção). *#OUSESABER: O fato dos pais do menor incapaz não estarem em sua companhia no momento da prática do ato danoso não induz a exclusão de sua responsabilidade. Certo ou errado? CORRETO! Via de regra, se um menor de idade incapaz praticar ato que cause prejuízo a terceiro, seus pais responderão de forma primária e direta pelos danos. Porém, o art. 932, I, do CC/02 afirma que os pais se responsabilizam pelos atos dos filhos menores que estiverem sob sua autoridade ou sua companhia. A doutrina e a jurisprudência afirmam que o legislador não foi muito feliz quando utilizou a expressão “em sua companhia”. Assim, deve-se evitar, neste caso, a interpretação literal e os pais irão responder mesmo que eles não estejam presentes no momento do ato causador do dano. Inclusive, a jurisprudência do STJ tem apontado também que o fato dos pais não estarem, no momento do dano, na companhia do filho não induz a exclusão de sua responsabilidade. Vide os seguintes precedentes: STJ, 3ª Turma, REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/02/2017 e STJ, 3ª Turma, AgRg no AREsp 220.930/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 09/10/2012. 15 c. Fato da coisa ou do animal – a obrigação de indenizar será imposta a uma pessoa, danos decorrentes de fato de coisa ou do animal. O elo com a pessoa do devedor está na relação de poder (propriedade ou posse). Ex.: cachorro que causa lesões corporais. Não se pode colocar como elemento geral e necessário o ato ilícito, porque pode haver responsabilidade civil por ATO LÍCITO (PAULO LOBO, VON TUR, MARTINHO GARCEZ, DEMOGUE, WINDISCHEID). EXEMPLOS: a desapropriação é um ato LÍCITO que gera responsabilidade civil; é um ato admitido pelo direito, mas, causa dano. Imóvel encravado em outros tem o direito de PASSAGEM FORÇADA, mas terá que indenizar. 6.2. DOLO E CULPA a) Culpa lato sensu ou em sentido amplo A regra do CC/02 continua sendo a responsabilidade subjetiva (entendimento majoritário). A culpa lato sensu engloba: Dolo (= ação ou omissão voluntária) e Culpa. Obs.: aqui não há que se falar em culpa leve, levíssima como no direito penal. A única coisa que vai influenciar é no quantum indenizatório. Para o direito civil, havendo dolo ou culpa grave, os efeitos são os mesmos, aplicando-se o princípio da reparação integral dos danos (art. 944). Assim, são irrelevantes conceitos intermediários do DP, como preterdolo, dolo eventual, não eventual. NÃO HÁ DIFERENÇA entre o comportamento doloso e o comportamento culposo, porque o objetivo da indenização NÃO é a punição. Assim, o legislador não faz diferença (na esfera civil) entre a conduta do homicídio culposo e do doloso. No que diz respeito à origem, a culpa pode ser classificada como CONTRATUAL (culpa ao contratar ou in contrahendo), quando há desrespeito a uma norma contratual ou violação a um dever anexo relacionado à boa- fé objetiva (violação positiva do contrato), bem como AQUILIANA (ou extracontratual), que pode ocorrer quando da violação de um dever previsto no ordenamento jurídico ou mediante abuso de direito. Além disso, a culpa pode ser subdividida em culpa in concreto, baseada no caso concreto, assim como culpa in abstrato, levando-se em conta a pessoa natural comum, a saber, o antigo critério do homem médio. As duas 16 formas de culpa (in concreto + in abstrato) devem interagir entre si, ou seja, deve-se analisar o caso concreto, levando-se em conta a normalidade do comportamento humano. b) Culpa em sentido estrito ou stricto sensu É a violação de um dever preexistente relacionada a três padrões de conduta: imprudência (falta de cuidado + ação. Ex.: dirigir bêbado), negligência (falta de cuidado + omissão. Ex.: omissão de socorro), imperícia (falta de qualificação em sentido geral para desempenho de uma atribuição. Ex.: empregado não foi bem treinado para aquilo). Art. 951 – a responsabilidade civil dos profissionais liberais da área da saúde, em regra, é subjetiva (ex.: médico, enfermeiro, dentista). Como exceção, há a teoria do Demogue, que hoje é muito criticada na doutrina brasileira, mas que é muito adotada pelo STJ (foi trazida por Washington de Barros Monteiro). Ela diz que quando houver obrigação de resultado, haverá culpa presumida ou mesmo responsabilidade objetiva. Ex.: O exame ultrassonográfico para controle de gravidez implica obrigação de resultado. Dano material e moral. Disse que eram gêmeos e, na verdade, tratava-se de apenas um bebê. STJ. Ex.: Cirurgia plástica estética (reparadora não) – obrigação de resultado. Trata-se de culpa presumida (responsabilidade é subjetiva). STJ. O art. 951 do atual Código é o que regulamenta a responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais da área da saúde em geral – médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, entre outros –, prevendo que as regras anteriores aplicam-se “no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar- lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. Em relação ao profissional que presta serviços a consumidor, a responsabilidade subjetiva está consagrada no art. 14, §4º, da Lei 8.078/1990, o que constitui exceção à regra geral da responsabilização objetiva prevista no CDC. Segundo o entendimento majoritário, caso o profissional de saúde assuma uma obrigação de resultado, como no caso do médico cirurgião plástico estético, a sua responsabilidade é objetiva, ou seja, independe de culpa (STJ, REsp. 81.101/PR, Rel. Min. Waldemar Zveiter, 3ª Turma, j. 13.04.1999, p.140). No caso do médico cirurgião plástico reparador, bem como dos demais médicos e profissionais em geral, a obrigação é de meio ou de diligência e a premissa da sua responsabilização é a prova da culpa (responsabilidade subjetiva). Mais recentemente o STJ aplicou a premissa da responsabilidade objetiva em decorrência da obrigação de resultado para o dentista responsável pelo tratamento ortodôntico (STJ, REsp. 1.238.746/MS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 18.10.2011, publicação no seu Informativo nº 485). Obs.: Culpa presumida: Na vigência do CC/16 se debatia a culpa presumida como geradora de responsabilidade subjetiva em três modalidades (elas estavam expressas na lei): 17 a) Culpa in vigilando = vigilância. Ex.: filho b) Culpa in elegendo = na escolha. Ex.: escolha do empregado. c) Culpa in custodiendo = na custódia de um animal. Pelo que consta nos artigos 932, 933 e 936 do CC/02, as antigas hipóteses legais deculpa presumida foram substituídas pela responsabilidade objetiva. Ou seja, não se cogita mais culpa presumida legal. Corroboram essa tese os enunciados 451 e 452 da V jornada do Direito Civil. Além disso, a doutrina majoritária diz que a súmula 341 do STF está cancelada – “é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”. 451) Arts. 932 e 933. A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida. 452) Art. 936. A responsabilidade civil do dono ou detentor de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato exclusivo de terceiro.3 457) Art. 944. A redução equitativa da indenização tem caráter excepcional e somente será realizada quando a amplitude do dano extrapolar os efeitos razoavelmente imputáveis à conduta do agente. 458) Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou a sua eventual conduta intencional, deve ser levado em conta pelo juiz para a quantificação do dano moral. Em suma, a culpa concorrente e o fato concorrente da vítima são amplamente admitidos como atenuantes do nexo de causalidade na responsabilidade objetiva, conduzindo à redução equitativa da indenização. #OUSESABER #DEOLHONASTEORIAS: O QUE É A TEORIA DO INFERNO DA SEVERIDADE? Segundo o Código Civil, no que tange à responsabilidade civil, aplica-se o princípio da reparação integral, ou seja, a indenização mede-se pela extensão do dano (art. 944, Código Civil, caput). Existe, no entanto, uma exceção, prevista no parágrafo único, que a doutrina aduz que consiste na teoria do inferno da severidade: CC- Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 3 A seguinte assertiva foi considerada incorreta (TJPR – 2017): A responsabilização do dono de animal pelos danos por este ocasionados a terceiros decorre do instituto da culpa presumida. 18 Vejamos a explicação do STJ sobre o tema: “A aplicação irrestrita do princípio da reparação plena do dano pode representar, em algumas situações, para o causador do evento danoso, conforme a aguda crítica de Geneviève Viney, um autêntico inferno de severidade (enfer de severité). Se, na perspectiva da vítima, as vantagens da consagração irrestrita do princípio são evidentes, na do agente causador do dano, a sua adoção plena e absoluta pode constituir um exagero, conduzindo à sua ruína econômica em função de um ato descuidado praticado em um momento infeliz de sua vida.” (SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da reparação integral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 84) STJ. Quarta Turma. REsp 1.127.913-RS, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012. Desse modo, então, diante de circunstâncias excepcionais, em que um dano de elevada monta tenha sido causada através de uma conduta culposa em reduzido grau, poder-se-ia aplicar tal teoria do inferno da severidade, para fins de mitigar o princípio da reparação plena. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Culpa presumida Responsabilidade objetiva Responsabilidade subjetiva Objetiva Se o réu provar que não teve culpa, ele não responde. Mesmo sem culpa ele responde. - Para não responder, deve provar a ausência de nexo. Obs.: Graduação da culpa e valor indenizatório (quantum debeatur). Arts. 944 e 945. Dolo ou culpa grave = reparação integral. Culpa leve ou levíssima = redução equitativa da indenização. Culpa, fato ou risco concorrente da vítima (contribuição causal da vítima) = redução equitativa. 19 GRAU DE CULPA é a medida de acordo com a gravidade/intensidade da desídia. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência tendem a equiparar a CULPA GRAVE e o DOLO, trata-se de uma desídia severa, fora do comum. Nesse caso, há reparação integral (assim como na hipótese de dolo), desde que não haja culpa concorrente da vítima ou de terceiro. Conclui-se, então, que a indenização será fixada de acordo com o GRAU DE CULPA, de modo que o dolo (que tem o mesmo tratamento que a culpa grave/gravíssima) leva à reparação integral. Do latim: culpa lata dolus equiparatur. *#IMPORTANTE!! Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência de culpa concorrente da vítima para fixar o valor da indenização. STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015 (Info 572). A CULPA LEVE (culpa média) é a tradicional, o dano poderia ser evitado se o agente agisse como o homem médio (culpa in abstrato). A CULPA LEVÍSSIMA é aquela na qual o dano somente poderia ter sido evitado com o cuidado acima do exigido do homem médio, cautelas extraordinárias. Em regra é irrelevante, porque se responde com base na extensão do dano. Ainda vale o brocardo in Lex Aquili et levíssima culpa venit. Normalmente, não se pode exigir das pessoas o cuidado superior ao do homem médio, exceção é feita às pessoas com formação técnica específica, assim, a CULPA LEVÍSSIMA está geralmente associada à imperícia. Obs.: Os artigos 944 e 945 são aplicados para a responsabilidade objetiva? Depois de muita divergência foi pacificado que SIM. Enunciado 459 da V Jornada: a conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na responsabilidade objetiva. STJ (REsp 226.348) – caso de pingente de trem (pessoa que vai pendurada no vagão. O maquinista consegue visualizá-lo, por isso a empresa responde). STJ diz que no caso de surfista é culpa ou risco exclusivo da vítima. Ex.: REsp 1349594/SP – Responsabilidade concorrente do banco (responsabilidade objetiva). Pode haver REDUÇÃO EQUITATIVA OU PROPORCIONAL. Art. 944, Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Inicialmente não poderia ser aplicada à responsabilidade objetiva, de acordo com entendimento insculpido no Enunciado 46 do Conselho da Justiça Federal. No entanto, na IV Jornada de Direito Civil, mediante aprovação do Enunciado nº 380, suprimiu-se a parte final do de número 46, permitindo-se aplicação aos casos de responsabilidade objetiva. 20 O Enunciado 46 do CJF, no qual se entende que o art. 945 do CC não impede a aplicação da causalidade adequada, nada mais significa que o valor da indenização deve ser adequado às condutas dos envolvidos. O grau de culpa é assaz relevante ao domínio do dano moral, tendo em vista que não há propriamente um ressarcimento no sentido estrito, mas uma reparação (compensação satisfativa). *#MUITOIMPORTANTE #SELIGANAEXCEÇÃO #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:A demora da pessoa em buscar a indenização por dano moral é um fator que, em conjunto com as demais circunstâncias, pode influenciar na fixação do quantum indenizatório. Esse entendimento, contudo, não se aplica quando os autores eram menores de idade no momento do ato ilícito e somente ajuizaram a ação quando completaram a maioridade. Assim, a demora na busca da compensação por dano moral, quando justificada pela interrupção prescricional da pretensão dos autores – menores à época do evento danoso – não configura desídia apta a influenciar a fixação do valor indenizatório. Ex: João foi atropelado por um ônibus e faleceu, deixando dois filhos: Beatriz (4 meses) e Pedro (1 ano). 17 anos após o acidente, Pedro e Beatriz ajuizaram ação de indenização por danos morais contra a empresa de ônibus pela perda de seu pai. O fato de terem esperado completar a maioridade para proporem a ação não é motivo para que a indenização seja reduzida. STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.971-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 611). 6.3. NEXO DE CAUSALIDADE É o elemento material da responsabilidade civil. É a relação de causa e efeito entre a conduta e o dano (Aguiar Dias). O nexo de causalidade é como um cano virtual CONDUTA DANO Responsabilidade subjetiva = o nexo é formado pela culpa lato sensu. Responsabilidade objetiva = o nexo é formado pela conduta, cumulada com a previsão legal de responsabilidade sem culpa ou pela atividade de risco. Art. 927, parágrafo único. Decorre das leis naturais, não sendo um conceito jurídico. CONCAUSAS: São conjuntos de causas. Subdividem-se em três agrupamentos: 1) Concausalidade ordinária, conjunta ou comum: há condutas coordenadas e dependentes. Cuida-se de responsabilidade solidária. Aplica-se o art. 942 do CC (Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito 21 de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação). 2) Concausalidade acumulativa: são independentes entre si, razão pela qual há proporcionalidade na responsabilização. 3) Concausalidade alternativa ou disjuntiva: somente o verdadeiro ofensor responde. 6.3.1. Causas excludentes Há, no entanto, fatores obstativos do nexo (rolhas no cano). Esses fatores obstam a responsabilidade subjetiva ou objetiva. O Prof. SILVIO NEVES BAPTISTA classifica as circunstâncias excludentes da responsabilidade civil do seguinte modo: a. Excludente da causalidade: fato da vítima, fato de terceiro, caso fortuito e a força maior; b. Excludentes da imputabilidade: menoridade e alienação mental do agente; c. Excludentes da ilicitude: cumprimento do dever legal; exercício regular do direito; legítima defesa; anuência da vítima e cláusula de não indenizar. a) Culpa ou fato exclusivo da vítima Ex.: STJ – fumante (INF 432) – “surfista de trem” Pode romper o nexo de responsabilidade. A prova da culpa da vítima deve ser necessariamente feita pelo réu (RESP 439.408/SP). Segundo Silvio Rodrigues, o aparente causador do dano é mero instrumento do acidente. A boa técnica recomenda utilizar fato exclusivo da vítima, ao invés de culpa exclusiva. Deve-se falar em isenção da responsabilidade do causador direto do dano, não se devendo tratar como ausência de culpa deste. b) Culpa ou fato de terceiro Totalmente estranho à relação jurídica. Ex.: acidente de automóvel causado pelo assaltante que levou o veículo à mão armada. Obs.: no transporte de pessoas, havendo acidente com passageiros, não poderá se alegar essa excludente, em razão do imperativo legal do art. 735 CC. Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. Ex.: acidente da Gol. É o 22 que a doutrina chama de responsabilidade civil objetiva agravada, em razão da impossibilidade de alegação de uma das excludentes. Transporte aéreo – a condição climática é fortuito interno. Há um caso em que a jurisprudência afasta a exclusão da responsabilidade, quando se tratar de transporte. Há súmula do STF (187) que proíbe a alegação de fato de terceiro por empresa transportadora: 187 – A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. c) Caso fortuito e força maior. Art. 393. Há uma grande divergência sobre a diferença entre caso fortuito e força maior 1. Pontes de Miranda: sinônimos. Para o STJ, conforme o disposto no CC, e para autores como Arnoldo Wald são sinônimos. 2. Orlando Gomes, Cavalieri, Stolze, Tartuce: Caso fortuito é o evento totalmente imprevisível e força maior é o previsível, mas inevitável. Obs.: Doutrina e jurisprudência têm relacionado o caso fortuito e a força maior ao risco do negócio ou do empreendimento (tese de Agostinho Alvim, ressuscitada por Cavalieri), dividindo-os em eventos internos e externos. CDC – foi onde começou. Arts. 393 e 927. O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida. Eventos externos = estão fora do risco do negócio ou do empreendimento e, portanto, são caso fortuito e força maior, excluindo a responsabilidade civil. Ex.: queda de um cometa no banco. FORTUIRO EXTERNO – RISCOS ANORMAIS – os RISCOS ANORMAIS decorrentes do FORTUITO EXTERNO romperão o NEXO DE CAUSALIDADE, não sendo possível o reconhecimento da responsabilidade. ex.: DOLO DE TERCEIRO. Eventos internos = estão dentro do risco do negócio ou do empreendimento, não sendo caso fortuito ou força maior, não excluindo a responsabilidade civil. RISCOS NORMAIS de um empreendimento – todos os empreendimentos têm riscos. Ex.: acidente causado por CULPA DE TERCEIRO não afasta a responsabilidade de contrato de transporte. Q motorista profissional que atropela pessoa – objetiva. *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: Em ação destinada a apurar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado o condutor de veículo automotor que se encontra em estado de 23 embriaguez, cabendo-lhe o ônus de comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo de causalidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1.749.954-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/02/2019 (Info 644). #DEOLHONAJURIS: Jurisprudência do #STJ: (1) Assalto a ônibus = evento externo. Julgados mais antigos falavam que depende de onde o ônibus circula, mas isso está afastado. A responsabilidade deve ser do Estado. O assalto à mão armada em ônibus tem sido considerado pela jurisprudência como motivo de força maior (RESP 435.865/RJ). Restou pacificado na 2ᵃ. Seção do Superior Tribunal de Justiça tal entendimento: “Assalto dentro de ônibus coletivo é considerado caso fortuito ou de força maior que afasta a responsabilidade da empresa transportadora por danos eventualmente causados a passageiro. Jurisprudência consolidada do STJ.” (STJ, AgRg na Rcl 12.695/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 17/06/2013). Atenção: se for o cobrador? Levar um tiro, por exemplo. Há responsabilidade da empresa de ônibus. (2) Assalto a banco = evento interno. O banco responde pelo assalto até o seu estacionamento, conveniado ou não. REsp. 402870/SP. Vítima saca grande quantia = culpa concorrente. Podia ter feito uma transferência. Por fim, nos assaltos ocorridos em agências bancárias, vem-se entendendo que há dever de indenizar por parte da instituição financeira, aplicando-se a teoria do risco, sendo objetiva a responsabilidade. (SÚMULA n. 479, STJ – As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativoa fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, em 27/6/2012.) (3) Assalto a shopping = evento interno. REsp. 582047/RS. ESTACIONAMENTO PRIVADO Responde pelo FURTO ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE CONSUMO FURTO E ROUBO VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO *#IMPORTANTE #NAVIBEAJUDAMARCINHO SITUAÇÃO FORNECEDOR RESPONDE? EXPLICAÇÃO Furto ou roubo no cofre do banco que estava locado para guardar bens de cliente. SIM O roubo ou furto praticado contra instituição financeira e que atinge o cofre locado ao cliente constitui risco assumido pelo banco, sendo algo próprio da atividade empresarial, configurando, assim, hipótese de fortuito 24 interno, que não exclui o dever de indenizar (REsp 1250997/SP, DJe 14/02/2013). Cliente roubado no interior da agência bancária. SIM Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco inerente à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14, CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009). Cliente roubado na rua, após sacar dinheiro na agência. NÃO Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do banco), o dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, DJe 04/02/2013). Cliente roubado no estacionamento do banco. SIM O estacionamento pode ser considerado como uma extensão da própria agência (REsp 1.045.775-ES, DJe 04/08/2009). Roubo ocorrido no estacionamento privado que é oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado por uma empresa privada. SIM Tanto o banco como a empresa de estacionamento tem responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal serviço especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de segurança em relação ao público em geral (Lei 7.102/1983), dever este que não pode ser afastado por fato doloso de terceiro. Logo, não se admite a alegação de caso fortuito ou força maior já que a ocorrência de tais eventos são previsíveis na atividade bancária (AgRg nos EDcl no REsp 844.186/RS, DJe 29/06/2012). Cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado à mão armada em um estacionamento privado que fica ao lado, mas que não tem qualquer relação com o banco. NÃO Não haverá responsabilidade civil nem do banco nem da empresa privada de estacionamento. A empresa de estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda do veículo, não sendo razoável lhe impor o dever de garantir a segurança e integridade física do usuário e a proteção dos bens portados por ele (REsp 1.232.795-SP, DJe 10/04/2013). Passageiro roubado no interior do transporte coletivo (ex.: ônibus, trem, etc.). NÃO Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do coletivo (AgRg no Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012). Cliente roubado no posto de gasolina enquanto abastecia seu veículo. NÃO Tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de roubo praticado contra clientes não pode ser enquadrado, em regra, como um evento que esteja no 25 rol de responsabilidades do empresário para com os clientes, sendo essa situação um exemplo de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a exclusão da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 10/05/2012). Roubo ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. NÃO No serviço de manobrista em via pública não existe exploração de estacionamento cercado com grades, mas simples comodidade posta à disposição do cliente. Logo, as exigências de garantia da segurança física e patrimonial do consumidor são menos contundentes do que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013). Furto ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. SIM Nas hipóteses de furto, em que não há violência, permanece a responsabilidade, pois o serviço prestado mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança legitimamente esperada pelo consumidor. Furto ou roubo ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking localizado dentro do shopping center. SIM A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial. Tentativa de roubo ocorrida na cancela do estacionamento do shopping center. SIM A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014). (4) Ataque de psicopata a shopping = evento externo. O shopping não respondeu. Foi o caso do Mateus da Costa Meira. REsp. 116.488-9/SP. (5) Súmula 479. As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Ou seja, todas as fraudes bancárias são casos de eventos internos. d) Estado de necessidade (artigo 188, II, CC) 26 Estado de necessidade é uma excludente de ilicitude. É a agressão a um direito alheio, de VALOR IGUAL OU INFERIOR àquele que se quer proteger, com o propósito de remover um estado de perigo. Mas se no atuar em estado de necessidade o agente atingir terceiro inocente (que não tiver sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o causador do dano, na forma dos artigos 929 e 930. e) Legítima defesa (artigo 188, I, 1a parte, CC) Diferentemente, do estado de necessidade, na legítima defesa, o agente reage a uma agressão injusta, atual ou iminente. Utilização de meios moderados e necessários. Se atinge um terceiro inocente, deverá indenizá-lo, cabendo a regressão ao causador do dano, aplicando-se também os artigos 929 e 930. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA: há o dever de indenizar. Nesse caso haverá a EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE, mas não da ANTIJURIDICIDADE. CASO DE EXCESSO NA LEGITIMA DEFESA: a indenização deverá ser PROPORCIONAL AO EXCESSO. f) Estrito cumprimento do dever legal e Exercício regular de direito (188, I, 2a parte, CC) É óbvio que o estrito cumprimento do dever legal afasta a responsabilização, desde que não haja abuso. g) Anuência da vítima O consentimento da vítima pré-exclui, em geral, a responsabilidade civil do agente. Para que o consentimento da vítima seja eficaz, é preciso que, além da capacidade do agente, o bem jurídico seja disponível. h) Cláusula de não indenizar É pré-excludente da obrigação de reparar o dano. Objetivo: alterar o SISTEMA DE RISCO DO CONTRATO; hipótese em que os RISCOS são CONTRATUALMENTE TRANSFERIDOS PARA A VÍTIMA. Deve haver bilateralidade no consentimento. Não é possível nas hipóteses protegidas por princípios ou normas de ordem pública. Exclui a responsabilidade civil, não por desaparecer o liame da causalidade, mas em razão da própria convenção. Se a responsabilidade é objetiva agravada (“COM RISCO INTEGRAL”), ela subsiste, mesmo que esses fatores (OU AO MENOS OS TRÊS ÚLTIMOS) estejam presentes. RESPONSABILIDADE OBJETIVA SIMPLES – possibilidade de afastamento da responsabilidade. 27 RESPONSABILIDADE OBJETIVA AGRAVADA (RISCO INTEGRAL) – não haverá afastamento da responsabilidade. HIPÓTESES: o DANO AMBIENTAL; o DANO NUCLEAR; o DANO EM ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO COBERTO PELO DPVAT4; o DANO NO ACIDENTE DE TRABALHO. - nesse caso o nexo é denominado de NEXO DE ATRIBUIÇÃO. - fundamento: necessidade da SOLIDARIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. 6.3.2. Teorias quanto ao nexo de causalidade a) Teoria sinequa non (teoria do histórico dos antecedentes) = todos os fatos correlatos, diretos e indiretos, geram a responsabilidade civil. Não tem um limite. Foi criada para ampliar o nexo de causalidade. Não é a adotada, obviamente. Leva a uma regressão infinita do nexo causal. Tal teoria não diferencia causa de condição. b) Teoria do dano direito e imediato (MAJORITÁRIA) = foi adotada pelo código no art. 403. Somente são reprováveis os danos que diretamente resultarem da conduta do ofensor, admitindo-se excludente de nexo. Segundo Tepedino, julgados do STJ e STF afirmam que essa foi a teoria adotada. Essa teoria trabalha mais com o tudo ou nada (cigarro). (Teoria da interrupção do nexo causal): Artigo 403, CC - Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela DIRETO E IMEDIATO, sem prejuízo do disposto na lei processual. É a teoria do código (Pablo Stolze e Gustavo Tepedino). Somente devem ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da conduta do agente. Seguida amplamente no STF. De acordo com essa teoria, rompe-se o nexo causal não só quando o credor ou terceiro é autor da causa próxima do dano, mas, ainda, quando tal é fato natural. Portanto, causa superveniente rompe o nexo causal anterior, ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor. A jurisprudência e doutrina vêm entendendo ser esta última teoria adotada pelo Código Civil. Há julgados em ambos os sentidos no STJ. c) Teoria da causalidade adequada = copiado do Código Civil Italiano. Virou uma miscelânea. Também foi adotada pelo CC nos artigos 944 e 945. Por essa teoria, a responsabilidade civil e a indenização devem ser fixadas de acordo com a contribuição causal dos envolvidos (agente causador do dano, vítima e eventual 4 O Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (DPVAT) não cobre os danos de acidente ocasionado por trem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.647-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/04/2016 (Info 582). 28 terceiro). Afasta a ideia do tudo ou nada. Cavalieri, Enunciado 47 (o art. 945 não exclui a teoria da causalidade adequada, de modo que não afasta a investigação de fatos que obstam o nexo de causalidade) e Tartuce acreditam que essa foi a adotada. STF e STJ também têm alguns julgados nesse sentido. Teoria que procura distinguir causa de condição. Somente o fato relevante ao evento danoso gera a responsabilidade civil, devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem. Não deve ser levada em conta, tão somente, a causa, em concreto, mais apta a ocasionar o dano, devendo-se apurar a causa que abstratamente era adequada a produzir aquele efeito. É relevante quando há causas concomitantes. Cabe ao juiz emitir seu juízo acerca da idoneidade de cada condição. OBS.: Há uma sutil diferença entre as teorias, eis que a causalidade adequada valoriza mais a concausalidade, os fatos concorrentes e o grau de culpa dos envolvidos. Por outra via, para a teoria do dano direto imediato ganham relevo as excludentes totais de responsabilidade. 6.4. DANO OU PREJUÍZO CC/16: “(...) viola direito, OU causar PREJUÍZO (...)”; NCC: “(...) viola direito alheio E causa DANO (...)” Objetivo da alteração do conectivo [OU E]: a mera VIOLAÇÃO DE UM DIREITO não gera a OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. No âmbito do ilícito civil, não há nada similar às “normas de mera conduta” do direito penal: o dano é ABSOLUTAMENTE IMPRESCINDÍVEL, e uma indenização sem dano importaria em enriquecimento sem causa. Trata-se da lesão a um interesse jurídico, material ou moral. Não é qualquer tipo de dano que é indenizável. Para que o dano seja indenizável, é preciso o preenchimento de 3 requisitos do dano indenizável: (1) Atualidade: tal requisito deve ser reinterpretado, diante da necessidade de ser reconhecida a projeção do dano; (2) Subsistência do dano: se houve a atuação ilícita e o agente já reparou o dano, não há mais o que indenizar. Critica-se o presente requisito porque inviabilizaria a reparação por lucros cessantes; (3) Certeza do dano: o dano indenizável é um dano certo e exigível, não pode ser um dano abstrato ou hipotético. O mero aborrecimento não justifica o dano. Veda-se a reparação dos danos hipotéticos ou eventuais. 29 Nos termos do art. 403 do CC, são indenizáveis os danos diretos, ou seja, os danos causados à própria vítima do fato lesivo. DANO REFLEXO, DANO INDIRETO ou DANO EM RICOCHETE: tem base na doutrina francesa: prejuízo que atinge indiretamente pessoa que não foi a vítima principal do ato ilícito. É indenizável, desde que seja demonstrado o prejuízo à VÍTIMA INDIRETA. *#OUSESABER #CONCEITOSIMPORTANTES: NO ÂMBITO DA RESPONSABILIDADE CIVIL, O QUE É PREJUÍZO DE AFEIÇÃO? Prejuízo de afeição (préjudice d' affection) consiste em expressão utilizada na jurisprudência do STJ para se referir à modalidade de dano moral sofrido por familiares em decorrência da morte de ente querido, constituindo um dano extrapatrimonial de sofrimento incomensurável. Trata-se de um DANO POR RICOCHETE, tendo em vista que a vítima direta da conduta é o falecido, sendo seus parentes atingidos apenas reflexamente pelo evento. É o elemento objetivo da responsabilidade civil. Há novos danos a cada dia e novas modalidades de dano. Há duas grandes categorias de danos, com suas modalidades: Danos clássicos = materiais e morais (hoje já são clássicos). Súmula 37 STJ. Novos danos = estéticos, morais coletivos, difusos e sociais e por perda de uma chance. 6.4.1 Danos materiais ou patrimoniais Atingem o patrimônio corpóreo de alguém. Como regra, devem ser provados, não havendo indenização no caso de dano eventual (requisito da certeza do dano). a) Danos emergentes (positivos) = o que a pessoa efetivamente perdeu. b) Lucros cessantes (negativos) = o que a pessoa razoavelmente deixou de lucrar. Está na moda cláusula em contratos comerciais (sem ser de consumo) excluindo os lucros cessantes. Ex.1: (lucros cessantes) = morte de acidente de trabalho. Art. 948. Trata-se de um lucro frustrado, um dano potencial, ad futurum, o que deixará de receber em virtude do dano positivo ou emergente; não é suficiente a simples possibilidade da realização de lucros, sendo fundamental a probabilidade objetiva, que resulta do “curso normal das coisas”. Possui maior dificuldade de ser mensurado: deve ser fixado segundo o PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, levando-se em conta a CAUSALIDADE DIRETA E IMEDIATA (art. 403, NCC) 30 Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I – DANOS EMERGENTES no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II – LUCROS CESSANTES (alimentos indenizatórios ou reparatórios – são devido aos dependentes do de cujus) na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima (conforme a tabela do IBGE). Como calcula? Prova de sentença = Pega quanto o sujeito ganhava (3.000,00). 2/3 para gastar com a família por mês. Calcula somando com 13º, FGTS, férias, horas extras. Multiplica esse valor pelos anos que ele iria viver – morreu com 44. Viveria até 74 (IBGE) = 30 anos x o valor achado. OBS.: Eventualmente, se a vítima faleceu após a idade limite de vida provável, faz-se um cálculo de sobrevida, de acordo com as suas condições gerais, que pode variar de dois a cinco anos, ou até mais. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O valor que seria objeto de mútuo, negado por força de inscrição indevida em cadastro de inadimplentes, não pode ser ressarcido a título de dano emergente. Não há perda material efetiva pelo fato de ter sido negado crédito ao consumidor. Dessa forma, o ressarcimento pordano emergente, neste caso, seria destituído de suporte fático, consistindo a condenação, nessas condições, em verdadeira hipótese de enriquecimento ilícito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.369.039-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2017 (Info 602). No caso concreto, o valor do financiamento bancário foi pedido pelo autor como sendo dano emergente. Entretanto, o patrimônio da vítima antes e depois do ilícito não sofreu alteração. É certo que a inscrição indevida impediu que o autor tivesse um ingresso de valores em sua conta (R$ 50 mil). No entanto, esse dinheiro não viria sem custos, tendo ele que devolver a quantia ao banco futuramente, acrescida de juros e correção monetária. - DEFINIÇÃO DA INDENIZAÇÃO EM CASO DE MORTE: Sem excluir outras reparações (e.g.: danos morais), a indenização consiste em (art. 948 do cc): i) pagamento das despesas com tratamento da vítima, funeral e o luto da família; ii) prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, considerando a sua expectativa de vida. Vida média para efeitos de arbitramento de pensão alimentícia: ENTRE 65 E 70 ANOS. se o morto tiver mais de 70 anos: presunção de uma sobrevida de 5 anos. 31 Legitimados: o art. 948, II (PENSÃO ALIMENTÍCIA) traz hipótese de DEPENDÊNCIA ECONÔMICA PRESUMIDA, para os demais haverá a necessidade de se provar a dependência. OBS.: se a vítima não tinha ganho fixo ou não foi possível prová-lo: indenização será arbitrada no valor de 1 SM. Morte de filho: FILHO MENOR: a jurisprudência entende que ainda que o filho fosse menor de idade,e não exercesse trabalho remunerado, será DEVIDA a INDENIZAÇÃO. Surge a discussão de quando seria o INÍCIO DA CONTAGEM, havendo entendimento pela idade de 14 ANOS, idade que o ordenamento constitucional permite o trabalho como aprendiz (ART. 7º, XXXIII, CF/88) "Esta Corte tem reconhecido, continuamente, o direito dos pais ao pensionamento pela morte de filho, independente de este exercer ou não atividade laborativa, quando se trate de FAMÍLIA DE BAIXA RENDA, como na hipótese dos autos" (REsp 1133105/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, DJe 18/12/2009). Termo final: quando a VÍTIMA atingiria 65 ANOS, ou a SOBREVIDA daqueles a serem indenizados. ATENÇÃO: STJ afastou a PRESUNÇÃO de que o TERMO INICIAL seria de 14 ANOS em um CASO CONCRETO em que a vítima tinha 16 ANOS e NUNCA TERIA TRABALHADO. Nessa hipótese, foi considerada a idade de 18 ANOS como termo inicial para a fixação da indenização. Valor devido, segundo o entendimento do STJ: (i) Até os 25 anos: 2/3 do SALÁRIO PERCEBIDO ou do salário mínimo (se não houver remuneração). (ii) Após os 25 anos: 1/3 do SALÁRIO PERCEBIDO ou do SM. entendimento de que a partir dessa idade o indivíduo constituiria sua família, passando a contribuir menos para a renda familiar. STJ: DIREITO CIVIL. VALOR DA PENSÃO MENSAL INDENIZATÓRIA DEVIDA AOS PAIS PELA MORTE DE FILHO MENOR. A pensão mensal indenizatória devida aos pais pela morte de filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14 até os 25 anos de idade da vítima, reduzido, então, para 1/3 até a data em que o de cujus completaria 65 anos. Precedentes citados: AgRg no REsp 686.398-MG, Terceira Turma, DJe 18/6/2010, AgRg no Ag 1.132.842-RS, Quarta Turma, DJe 20/6/2012. REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013. 32 SÚMULA 491, STF: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado. Crítica da doutrina da época: o STF mascarou o reconhecimento POR VIA TRANSVERSA de um DANO MORAL. Os pais não dependem do filho que não está trabalhando. Nesses casos não interessa se é POBRE ou RICO, os pais sempre terão indenização por dano moral. MORTE DOS PAIS – CESSA AOS 25 ANOS. (recebem até terminar o curso superior) STJ tem farta jurisprudência que fixa a data limite ao recebimento de pensão concedida a filhos por morte de ascendente no momento em que aqueles completam 25 anos de idade. Observações sobre alimentos indenizatórios: Não cabe prisão São cumuláveis com a indenização acidentária (INSS). *#ATENÇÃO: A Súmula 229 do STF que aferia que “a indenização acidentária não exclui o direito comum (responsabilidade civil)” foi SUPERADA. Entende-se, atualmente, que independe do grau de culpa do empregador! Confiram os comentários do próprio STF: ● Superação da Súmula 229: Responsabilização do empregador independente do grau de culpa "O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - Surgiu [a responsabilidade do empregador], com a Constituição de 88, em matéria de culpa. Em matéria de dolo já era assim ou de culpa grave, segundo súmula do Supremo Tribunal. [...] O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - A única diferença, em que a Constituição realmente inovou, foi para subtrair o adjetivo 'grave' da culpa do empregador que levava a responsabilidade do direito comum. [...] O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - O problema é absolutamente acadêmico. A inovação foi a responsabilidade do empregador qualquer que seja o grau de sua culpa. [...] O SENHOR MINISTRO NELSON JOBIM (PRESIDENTE) - [...] não se perquire a existência de culpa, de dolo ou de responsabilidade de qualquer natureza do empregador. Indeniza-se pelo fato do acidente, e os cálculos todos são feitos através de perícias, redução de mão-de-obra etc. (RE 438639, Tribunal Pleno, debates, julgamento em 9.3.2005, DJe de 5.3.2009) 33 Cabem no caso de morte de filho menor que não trabalhava, somente no caso de famílias de baixa renda. Súmula 491 STF. Como calcula aqui? Prova de sentença. 2/3 do que ele ganharia dos 14 aos 25 anos + 1/3 dos 25 até idade em que os pais morrerem. Pode ser pago mês a mês ou de uma vez. É uma faculdade. STJ esse ano decidiu que tem que ser mês a mês. “Outro ponto a ser abordado é que, em alguns casos, o próprio Superior Tribunal de Justiça tem quebrado a regra de que a indenização deve ser fixada tendo como parâmetro a vida provável da vítima falecida. Imagine-se um caso em que o filho dependente tem 17 anos, enquanto o pai falecido, 52 anos. Ora se for levada em conta a vida provável daquele que faleceu, o filho receberá uma indenização a título de lucros cessantes até a idade de 37 anos, ou seja, quando o pai completasse 72 anos. Isso é inconcebível diante de um Código Civil que veda o enriquecimento sem causa e prega a eticidade. Desse modo, correto o entendimento que fixa a indenização tendo como parâmetro a idade de 24 ou 25 anos do filho, limite correto da relação de dependência (nesse sentido, ver: STJ, REsp 275.274/MG, Data da decisão: 17.04.2001, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 03.09.2001, p. 220)”. - Lucros cessantes: Perda da capacidade laborativa. Art. 950. Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez. O juiz é autorizado a avaliar, em cada caso concreto, se é conveniente ou não a aplicação da regra que estipula a parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC), STJ. 3ª Turma. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/4/2015 (Info 561). Critério para definir a extensão do dano patrimonial: TEORIA
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