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CUIDAR E EDUCAR Perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil

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ICPG Instituto Catarinense de Pós-Graduação – www.icpg.com.br 1 
 
 
CUIDAR E EDUCAR 
Perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil 
 
 
Nilza Aparecida Forest1
(Pós-Graduanda em Psicopedagogia) 
Silvio Luiz Indrusiak Weiss 
(Professor orientador) 
 
Resumo 
 
Esse trabalho tem por objetivo apresentar discussões sobre as relações e interfaces do cuidar 
e do educar, pois a realidade tem revelado a confusão e as dificuldades instaladas ao longo 
de décadas de uma prática nas instituições de educação infantil, em que cuidar remete à 
idéia de assistencialismo e, educar à de ensino/aprendizagem. Diante disso, prevalece a 
tendência de compreender o cuidar e educar como mera associação de duas diferentes 
funções: uma relativa ao zelo por boa alimentação, segurança física e cuidados com higiene 
e saúde; outra, preocupada com o repasse de conhecimentos e normas de comportamento, 
além do cumprimento de regras pelos futuros cidadãos. No entanto, a função destes dois 
termos parece distante das reflexões que culminam na declaração do cuidar e educar como 
princípios indissociáveis, ficando aquém da compreensão e promoção do ideal almejado. 
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma visão 
integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a 
diversidade, o momento e a realidade peculiares à infância. Desta forma, o educador deve 
estar em permanente estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em 
rotinas mecanizadas, guiadas por regras. 
 
Palavras-chave: Educação infantil. Educar. Cuidar. Prática pedagógica. 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Quando se propõe a trabalhar com crianças bem pequenas, deve-se ter como princípio, 
conhecer seus interesses e necessidades. Isso significa saber verdadeiramente quem são, saber 
um pouco da história de cada uma, conhecer a família, as características de sua faixa etária e a 
fase de desenvolvimento em que se encontra, além de considerar o tempo que permanecem na 
escola. Só assim pode-se compreender quais são as reais possibilidades dessas crianças, 
lembrando que, para elas, a classe inicial é a porta de entrada para uma vida social mais 
ampla, longe do ambiente familiar. 
Antigamente, a escola de educação infantil tinha uma conotação assistencial, onde as 
crianças ali passavam o dia todo para que seus pais pudessem trabalhar. As monitoras 
passavam os dias olhando as crianças brincarem e era o professor quem ficava com o 
desenvolvimento intelectual planejado (quando havia planejamento). Nesse período, os 
papéis, dentro da instituição infantil eram bem claros: um cuidava e o outro educava. Para o 
 
1 e-mail: izaforest@bol.com.br 
mailto:izaforest@bol.com.br
 2
leigo em educação infantil pode soar estranho, ouvir que a instituição infantil é um direito da 
criança, como um espaço que ela sente prazer em freqüentar. Quem pensa assim vê esse 
ambiente como tendo mero caráter assistencialista, no qual apenas o cuidar é focalizado; 
considera a instituição infantil freqüentada apenas por crianças que foram deixadas lá pela 
família. Tal visão deve ser superada porque se revela preconceituosa e sem fundamentação 
diante da realidade em que se encontra e que, cada vez, mais se procura trilhar, que é a de 
garantir espaço para que a criança possa ter os seus direitos respeitados e, entre eles, o de 
viver a infância. 
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma 
visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a 
diversidade, o momento e a realidade peculiares à infância. Desta forma, o educador deve 
estar em permanente estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em 
rotinas mecanizadas, guiadas por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática, que 
embasa teoricamente, inova tanto a ação quanto à própria teoria. Cuidar e educar implica 
reconhecer que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a constituição do ser não ocorre 
em momentos e compartimentados. A criança é um ser completo, tendo sua interação social e 
construção como ser humano permanentemente estabelecido em tempo integral. Cuidar e 
educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive exige seu esforço 
particular e a mediação dos adultos como forma de proporcionar ambientes que estimulem a 
curiosidade com consciência e responsabilidade. 
Portanto, neste artigo faz-se uma reflexão sobre o que consiste o cuidar e o educar, 
bem como, discute-se as bases do significado de cuidar e educar, ressaltando seu caráter de 
unicidade, ao invés de dupla tarefa. 
 
 
2. O EDUCAR E O CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
Embora existam situações na qual o modelo antigo ainda ocorra, que em determinados 
momentos há um responsável para cuidar e outro para educar, atualmente a discussão vai 
muito além dessa análise simplificada. Cuidar e educar, de acordo com as novas diretrizes, 
devem caminhar juntos. Percebe-se nos dias de hoje e apoiado nos paradigmas emergentes da 
complexidade (DEMO, 2002; MORIN, 2002) e da visão sistêmica relacionada ao ser vivo 
(CAPRA, 2001; CAPRA, 2002; MATURANA & VARELA, 2001), o indivíduo como ser 
global, não fragmentado e não linear, em todos os momentos e em todas as situações, ou seja, 
cuidar e educar, contemplando de forma democrática todas as diferenças e, ao mesmo tempo, 
a natureza complexa do indivíduo. Plenamente entendidas e aplicadas, cuidar e educar 
caminham simultaneamente e de maneira indissociável, possibilitando que ambas as ações 
construam na totalidade, a identidade e a autonomia da criança. 
A ação conjunta dos educadores e demais membros da equipe da instituição é 
essencial para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude 
deve ser contemplada desde o planejamento educacional até a realização das atividades em si. 
Nesse constante fazer dentro da instituição educacional, há momentos em que uma 
ação pedagógica incisiva se faz necessária, pois o educador, em algumas situações, necessita 
cobrar dos pais e demais profissionais, atitudes que visam ao melhor desenvolvimento da 
criança. Essa ação, por vezes, não é bem aceita. A família se sente invadida na sua intimidade, 
recusando-se a enxergar o que não dá mais para esconder e, nesse momento, o educador 
incomodado com o descaso por parte da família, se pergunta: Afinal, quem cuida? Quem 
educa? 
 
 3
Torna-se necessária uma parceria de todos para o bem-estar do educando. Cuidar e 
educar envolve estudo, dedicação, cooperação, cumplicidade e, principalmente, amor de todos 
os responsáveis pelo processo, que se mostra dinâmico e em constante evolução. 
Por outro lado, é imprescindível conhecer a natureza e as raízes históricas da educação 
infantil, os desdobramentos da prática educacional nas instituições responsáveis e as 
influências que exerceram e ainda exercem nas diretrizes pedagógicas dessa área. Além disso, 
há necessidade de caracterizar amplamente o conceito, a especificidade e as peculiaridades do 
cuidar e do educar no contexto contemporâneo da prática pedagógica, baseando-se nos 
autores que discutem essa questão e na legislação atual. 
 
 
2.1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
As instituições de educação infantil nasceram na França, no século XVIII, em resposta 
à situação de pobreza, abandono e maus-tratos de crianças pequenas, cujos pais trabalhavam 
em fábricas, fundições e minas, criadas pela Revolução Industrial. Todavia, os objetivos e 
formas de tratar as crianças dos extratos sociais mais pobres da sociedade não eram 
consensuais. Setores da elite defendia a idéia de que não seria bom para a sociedade como um 
todo, que se educasse as crianças pobres, era proposta a educação da ocupação e da piedade 
(OLIVEIRA, 1995). 
Durante muito tempo, as instituições infantis, incluindo as brasileiras, organizavam 
seu espaço e sua rotina diária em função de idéias de assistência,de custódia e de higiene da 
criança. A década de 1980 passou por um momento de ampliação do debate a respeito das 
funções das instituições infantis para a sociedade moderna, que teve início com os 
movimentos populares dos anos 1970 (WAJSKOP, 1995). 
A partir desse período, as instituições passaram a ser pensadas e reivindicadas como 
lugar de educação e cuidados coletivos das crianças de zero a seis anos. 
A abertura política permitiu o reconhecimento social desses direitos manifestados 
pelos movimentos populares e por grupos organizados da sociedade civil. A Constituição de 
1988 (art. 208, inciso IV), pela primeira vez na história do Brasil, definiu como direito das 
crianças de zero a seis anos se idade e dever do Estado o atendimento à infância. 
Muitos fatos ocorreram de forma a influenciar essas mudanças: o desenvolvimento 
urbano, as reivindicações populares, o trabalho da mulher, a transformação das funções 
familiares, as idéias de infância e as condições socioculturais para o desenvolvimento das 
crianças. 
Constituir-se em um equipamento só para pobres, principalmente no caso das 
instituições de educação infantil, financiadas ou mantidas pelo poder público, significou, em 
muitas situações, atuar de forma compensatória para sanar as supostas faltas e carências das 
crianças e de suas famílias. A tônica do trabalho institucional foi pautada por uma visão que 
estigmatizava a população de baixa renda. A concepção educacional era marcada por 
características assistencialistas, sem considerar as questões de cidadania ligadas aos ideais de 
liberdade e igualdade. 
Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias 
questões que vão além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as 
especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre 
classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante de crianças 
pequenas. 
 
 4
Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a educação para as crianças 
pequenas deva promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, 
cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser completo e indivisível, as 
divergências estão exatamente no que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um 
desses aspectos. 
Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação pedagógica e sobre 
educar para o desenvolvimento ou para o conhecimento, tem se constituído no pano de fundo 
sobre o qual se constroem as propostas em educação infantil. 
 
 
2.2. CUIDAR 
 
Na educação infantil o “cuidar” é parte integrante da educação, embora possa exigir 
conhecimentos, habilidades e instrumentos que exploram a dimensão pedagógica. Cuidar de 
uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de 
conhecimento e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. 
O mais importante, no cuidado humano, é compreender como ajudar o outro a se 
desenvolver como ser humano. Cuidar, significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. 
O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio, que possui uma dimensão expressiva e 
implica em procedimentos específicos (SIGNORETTE, 2002). 
Para um desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais que 
envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a 
qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados 
são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados. 
A forma de cuidar, muitas vezes, são influenciadas por crenças e valores em torno da 
saúde, da educação e do desenvolvimento infantil, embora as necessidades humanas básicas 
sejam comuns como, alimentar-se, proteger-se, etc. As formas de identificá-las, valorizá-las e 
atendê-las são construídas socialmente. As necessidades básicas, podem ser modificadas e 
acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas 
que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são, também, base para o 
desenvolvimento infantil. 
 
O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que 
quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a 
qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam 
seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados 
com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é 
necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseadas em conhecimentos 
específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, 
levando em conta diferentes realidades sócio-culturais (BRASIL, 1998, p. 25). 
 
As ações relativas ao cuidar, por sua vez, são apresentadas de forma a ressaltar o 
desenvolvimento integral da criança, envolvendo aspectos afetivos, relacionais, biológicos, 
alimentares e concernentes à saúde. O contexto sociocultural aparece como determinante nas 
construções humanas e nas necessidades básicas de sobrevivência, diferentes em cada cultura, 
com isso, fica claro, no papel designado ao cuidar, a necessidade de envolvimento e 
comprometimento do professor com a criança em todos os seus aspectos, e a compreensão 
sobre o que ela sente e pensa, o que traz consigo, a sua história e seus desejos. 
 
 5
Para cuidar é preciso um comprometimento com o outro, com sua singularidade, ser 
solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção 
de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. É preciso que o professor possa ajudar a 
criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de forma 
adequada. Deve-se cuidar da criança como pessoa que está num contínuo crescimento e 
desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo às suas 
necessidades. Isso inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre 
si e sobre o mundo, visando à ampliação desse conhecimento e de suas habilidades, que, aos 
poucos, a tornarão mais independente e mais autônoma. 
 
 
2.3. EDUCAR 
 
É de suma importância que as instituições de educação infantil incorporem de maneira 
integrada as funções de cuidar e educar, não mais diferenciando, nem hierarquizando os 
profissionais e instituições que atuam com crianças pequenas ou àqueles que trabalham com 
as de mais idade. As novas funções da educação infantil devem estar associadas a padrões de 
qualidade. Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as 
crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas 
interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas 
linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção da autonomia. 
 
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a 
freqüentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu 
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o 
desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens 
diversificadas, realizadas em situações de interação (BRASIL, 1998, p. 23). 
 
Pode-se oferecer às crianças, condições para as aprendizagens que ocorrem nas 
brincadeiras e àquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens 
orientadas pelos adultos. Contudo, e importante ressaltar que essas aprendizagens, de natureza 
diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil. Educar 
significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas 
de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis 
de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, de 
respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidadesocial e cultural. 
Nesse processo, a educação infantil poderá auxiliar o desenvolvimento das 
capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, 
emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes 
e saudáveis. 
O processo educativo é realizado de várias formas: na família, na rua, nos grupos 
sociais e, também, na instituição. Educar, nessa primeira etapa da vida, não pode ser 
confundido com cuidar, ainda que crianças (especialmente as de zero a 3 anos) necessitem de 
cuidados elementares para garantia da própria sobrevivência. O que deve permear a discussão 
não são os cuidados que as crianças devem receber, mas o modo como elas devem recebê-los, 
já que se alimentar, assear-se, brincar, dormir, interagir são direitos inalienáveis à infância 
(GARCIA, 2001). 
 
 6
Para educar, faz-se necessário que o educador crie situações significativas de 
aprendizagem, se quiser alcançar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomotoras 
e socioafetivas, mas e, sobretudo, fundamental que a formação da criança seja vista como um 
ato inacabado, sempre sujeito a novas inserções, a novos recuos, a novas tentativas. 
 
 
2.4. FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL 
 
As funções do profissional de educação infantil estão passando por reformulações 
profundas. O que se esperava dele há algumas décadas, não corresponde mais aos dias atuais. 
Nessa perspectiva, os debates estão indicando a necessidade de uma formação mais 
abrangente e unificadora para educadores infantis e de uma reestruturação dos quadros de 
carreira que levem em consideração os conhecimentos já acumulados no exercício 
profissional, bem como possibilite a atualização profissional. 
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) dispõe, no título VI, art. 62: 
 
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, 
em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos 
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o magistério na 
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida 
em nível médio, na modalidade normal. 
 
Isso significa que as redes de ensino deverão colocar-se a tarefa de investir de maneira 
sistemática na capacitação e atualização permanente e em serviço de seus educadores, 
aproveitando as experiências acumuladas daqueles que já vêm trabalhando com crianças há 
mais tempo e com qualidade. 
Nessa perspectiva, faz-se necessário que os profissionais, nas instituições de educação 
infantil, tenham ou venham a ter uma formação inicial sólida e consistente, acompanhada de 
adequada e permanente atualização em serviço. Assim, o diálogo, no interior da categoria, 
tanto quanto os investimentos na carreira e formação do profissional pelas redes de ensino, é, 
hoje, desafio presente, com vista à profissionalização do decente de educação infantil. 
 
O trabalho direto com as crianças pequenas exige que o educador tenha uma 
competência polivalente. Ser polivalente significa que ao educador cabe trabalhar 
com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos 
essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do 
conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação 
bastante ampla e profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, 
refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando 
com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho 
que desenvolve. São instrumentos essenciais para reflexão sobre a prática direta com 
as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação (BRASIL, 1998, 
p. 41). 
 
Para que os projetos educativos das instituições possam, de fato, representar esse 
diálogo e debate constante, é preciso ter educadores que estejam comprometidos com a 
prática educacional, capazes de responder às demandas familiares e das crianças, assim como 
às questões específicas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis. 
 
 7
A formação do educador infantil deve estar baseada na concepção de educação 
infantil. Deve buscar a superação da dicotomia educação / assistência, levando em conta o 
duplo objetivo da educação infantil de cuidar e educar. 
A formação deve ser entendida como direito do profissional, o que implica a 
indissociabilidade entre formação e profissionalização. Diferentes níveis e estratégias de 
formação devem ser geradores de profissionalização, tanto em termos de avanço na 
escolaridade, quanto no que se refere à progressão na carreira (GARCIA, 2001). 
Para responder à diversidade de situações hoje existentes nas instituições infantis e à 
multiplicidade de profissionais que atuam na área, torna-se necessário elaborar e avaliar 
propostas diferenciadas de formação. 
É necessário também aprofundar os estudos sobre especificidades do trabalho com 
crianças de diferentes idades dentro da faixa etária de zero a 6 anos. 
 
 
2.5 O TRABALHO PEDAGÓGICO DO EDUCADOR INFANTIL 
 
O educador percebe que, desde bem pequenas, as crianças apresentam atitudes de 
interesse em descobrir o mundo que as cerca, elas são curiosas e querem respostas a seus 
porquês, o trabalho do educador é estimular e orientar as experiências por elas vividas e 
trazidas de casa, para que, no seu dia-a-dia, elas possam construir seu próprio conhecimento. 
 
O educador deve conhecer e considerar as singularidades das crianças de diferentes 
idades, assim como a diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias das 
crianças com as quais trabalha respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas 
de socialização. O educador é o mediador entre crianças e os objetos de 
conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que 
articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de 
cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos 
diferentes campos de conhecimento humano (MONTEIRO, 2002, p. 5). 
 
Os aspectos inerentes à educação infantil – saúde, afeto, segurança, interação, 
alimentação, estimulação, brincadeira, entre outros – devem integrar o cuidar/educar de forma 
dinâmica. Assim, a saúde está presente na hora da higiene, na escolha do alimento adequado e 
na discussão. O afeto perpassa toda as ações, demonstrando para a criança, através da própria 
ação, como estabelecer vínculos afetivos nas relações sociais. A brincadeira deve permear 
todas as ações como jogo simbólico, através do qual a criança compreende a si e ao outro, 
tendo todo seu corpo e alma interagindo de forma a construir a si, ao outro e ao meio. Para 
todos esses aspectos é possível estabelecer elos, interações, relações desde que a ação 
pedagógica esteja em permanente e total vigilância, fazendo do cuidar/educar presença 
constante na realidade dos espaços de educação infantil. 
O agir pedagógico deve atender às reais necessidades das crianças, deve ser criativo, 
flexível, atendendo à individualidade e ao coletivo. Será o eixo organizador da aquisição e da 
construção do conhecimento, a fim de que a criança passe de um patamar a outro na 
construção de sua aprendizagem (OSTETTO, 2000). Pensar sobre isto implica reinventar o 
espaço de salas para que neles se dêem as interações do sujeito com o mundo físico e social, 
oportunizando-lhe vivências e situações de troca de ponto de vista, tomadas de decisões, 
sendo promovido, assim, sua autonomia e cooperação, tão importantes para a formação de um 
novo cidadão. 
 
 8
 
 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
As instituições de educação infantil são equipamentos educacionais e não apenas de 
assistência. Nesse sentido, uma das características da nova concepção de educação infantil 
reside na integração das funções de cuidar e educar. 
Toda educação visa levar o indivíduo ao progresso, ao pleno desenvolvimento desuas 
capacidades inatas e adquiridas de forma constante e dialética. 
As instituições infantis são um dos contextos de desenvolvimento da criança. Além de 
prestar cuidados físicos, ela cria condições para o seu desenvolvimento cognitivo, simbólico, 
social e emocional. O importante é que a instituição seja pensada não como instituição 
substituta da família, mas como ambiente de socialização diferente do familiar. Nela se dá o 
cuidado e a educação de crianças, que aí vivem, convivem, exploram, conhecem, construindo 
uma visão de mundo e de si mesmas, constituindo-se como sujeito. 
A todo instante em que se relaciona com outras pessoas, se é educador e educando, 
pois se ensina e aprende-se trocando experiências e pratica-se o cuidar e o educar nas mais 
diversas atividades rotineiras. As crianças pequenas ainda estão desvendando o mundo, tudo é 
novo, deve ser trabalhado e aprendido, não são independentes e autônomas para os próprios 
cuidados pessoais, precisam ser ajudadas e orientadas a construir hábitos e atitudes corretas, 
estimuladas na fala e aprimoradas em seu vocabulário. 
A parceria com a família e os demais profissionais que se relacionam de forma direta e 
indireta com a criança é que vai ser o diferencial na formação desse educando. 
A vida na instituição infantil deve funcionar com base na tríade pais-educadores-
crianças. O bom relacionamento entre esses três personagens é fundamental durante o 
processo de inserção da criança na vida escolar, além de representar a ação conjunta rumo à 
consolidação de uma pedagogia voltada para a infância. Separar o que é dever dos pais e o 
que é dever do educador pode significar a perda de certos momentos de formação e 
aperfeiçoamento do indivíduo que, em alguns casos, poderão jamais ser vivenciados 
novamente e acarretar danos em sua vida para sempre. 
O educador não pode trabalhar somente com o intelectual da criança, não são 
máquinas sem sentimentos. Em todo momento deve sentir e proporcionar às crianças 
momentos que lhes façam crescer, refletir e tomar decisões direcionadas ao aprendizado com 
coerência e justiça, o que não é tarefa fácil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. REFERÊNCIAS 
 
 
 
 9
BRASIL. REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. v. 1, 
Brasília: MEC/SEF, 1998. 
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 7. ed. 
São Paulo: Cultrix, 2002. 
________. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. 22. ed. São 
Paulo: Cultrix, 2001. 
DEMO, Pedro. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São 
Paulo: Atlas, 2002. 
GARCIA, Regina Leite. Em defesa da educação infantil. Rio de Janeiro: DPLA, 2001. 
KRAMER, S. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 5. ed. São Paulo: 
Cortez, 1995. 
MATURANA, H. & VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da 
compreensão humana. 2. ed. São Paulo: Palas Athena, 2002. 
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 
OLIVEIRA, Z. de M. R. Educação infantil: muitos olhares. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. 
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Encontros e encantamentos na educação infantil. 
Campinas: Papirus, 2000. 
PALHARES, S. M. Educação infantil pós-LDB: rumos e desafios. 2. ed. Florianópolis: 
UFSC, 2000. 
SIGNORETTE, A. E. R. S. et al. Educação e cuidado: dimensões afetiva e biológica 
constituem o binômio de atendimento. Revista do Professor. Porto Alegre, n. 72, p. 5-
8,out./dez. 2002. 
WAJSKOP, G. Creches: atividades para crianças de zero a seis anos. São Paulo: Moderna, 
1995. 
 
 
 
	CUIDAR E EDUCAR
	Perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil
	Nilza Aparecida Forest
	Silvio Luiz Indrusiak Weiss
	(Professor orientador)
	Resumo
	1. INTRODUÇÃO
	2.1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
	2.2. CUIDAR
	2.3. EDUCAR
	2.4. FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL
	2.5 O TRABALHO PEDAGÓGICO DO EDUCADOR INFANTIL

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