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Universidade Federal Fluminense Departamento de Engenharia Química Disciplina: Inteligência Artificial: Fundamentos e aplicações Professor: João Felipe Mitre de Araujo Inteligência artificial Relatório 1 DANIEL MATHEUS FERNANDES ROCHA Niterói 2020 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................3 2. DILEMAS E IMPACTOS ÉTICOS......................................................................................4 3. A TECNOLOGIA EM PROL DA SOCIEDADE...............................................................10 4. O COMPORTAMENTO SOCIAL DAQUI A 40 ANOS...................................................13 5. CONCLUSÃO.....................................................................................................................17 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................18 3 1. INTRODUÇÃO 1.1 O que é Inteligência artificial? O termo Inteligência artificial foi cunhado pelo cientista de dados John McCarthy1 em 1956 e pode ser definida como um ramo da ciência da computação destinado à criação e aperfeiçoamento de softwares que imitam comportamentos e capacidades humanas. A inteligência artificial se baseia na idéia de que tanto o aprendizado quanto os aspectos da inteligência humana podem ser descritos de forma que uma máquina possa vir a simulá-los. Isso significa que, com o avanço do desenvolvimento da inteligência artificial, cada vez mais as máquinas serão capazes de imitar o comportamento humano, como aprender novos conhecimentos, resolver problemas, tomar decisões e criar conceitos. As principais características que permitiram o aprofundamento da inteligência artificial foram o avanço da tecnologia e dos métodos e algoritmos conhecidos. A cada dia que passa o volume de dados vem se tornando maior. Hoje em dia, o acesso à nuvem e o tráfego de dados está cada vez mais popular. O avanço da ciência da computação, de softwares e de algoritmos cada vez mais avançados também cresceu nos últimos 50 anos. Unindo-se esses fatores à evolução dos hardwares, a capacidade de processamento tornou-se alta e o uso da inteligência artificial é previsto como um fator fundamental tanto no processo produtivo quanto na vida das pessoas. Dentre seus elementos principais estão o chamado machine learning, ou aprendizagem de máquina, que é a base do sistema de inteligência artificial. É a capacidade de ensinar um computador a fazer previsões e tomar decisões com base nos dados inseridos e na própria experiência. Atualmente as aplicações do machine learning estão distribuídas em diversos setores do meio corporativo, como combate a fraudes, tradução de textos e de voz, criação de bancos de dados autônomo, recomendação de conteúdos por plataformas de streaming de vídeo e áudio, entre outros. Outra área de uso da IA é a de detecção de anomalias, que é e certamente será bastante utilizada na detecção de erros e fatores incomuns em um sistema. A pesquisa visual computacional é também uma das áreas aplicáveis e que permite ao software captar e interpretar visualmente através de imagens e vídeos e terá grande utilidade para atividades de reconhecimento faciais e atividades de segurança. Também é um elemento chave o 4 processamento de idioma natural. Com o avanço da tecnologia, máquinas tornaram-se capazes de interpretar não apenas vozes e imagens, mas idioma e linguagem. Figura 1: Echo Dot, um dispositivo que vem com a assistente pessoal Alexia, da Amazon Fonte: Amazon O objetivo da inteligência artificial, como já mencionado, é o de simular o comportamento humano, assim otimizando a força de trabalho e aumentando a precisão, a velocidade e a simplificação do processo produtivo. Assim, a tendência será cada vez mais reduzir o trabalho repetitivo feito por seres humanos, reduzindo assim, possivelmente o custo de mão de obra (embora o custo de manutenção e reparo também sejam altos), a influência das emoções, o atraso, as greves e outros fatores decorrentes da mão de obra humana e substituí-los por máquinas com inteligência artificial, com capacidade de processamento e gerenciamento de dados muito mais elevada, e uma precisão e exatidão, em tese, muito maior. 2. DILEMAS E IMPACTOS ÉTICOS O uso de máquinas com inteligência artificial, no entanto, já é tema de debates antes mesmo do início dos estudos propriamente ditos. Diversos nomes da literatura e da cinematografia já retratavam o futuro e os impactos econômicos e sociais na sociedade. Dentre eles estão, por exemplo, Isaac Asimov que, em 1950 publicou o livro de ficção científica Eu, Robô que já trazia alguns dilemas bem interessantes sobre o uso de robôs na sociedade e algumas projeções e críticas que ele fazia para a sociedade futura. 5 E são justamente os dilemas éticos e morais que vem sido debatidos cada vez mais no decorrer dos anos. Será possível e válido que uma máquina substitua um ser humano? Qual a confiabilidade que se pode ter em um robô com inteligência artificial? Até que ponto a resolução e tomada de decisões importantes poderão ser feita por máquinas e não por humanos? Quais os impactos disso na vida pessoal e profissional humana? São muitos os dilemas colocados e que precisam ser debatidos e conversados entre os governantes, as corporações e os cientistas de dados. Paralelamente aos problemas derivados do crescente uso (e abuso) da IA, há aqueles que buscam cada vez mais tornar concentrar esforços para tornar a inteligência artificial controlável e responsiva às necessidades humanas. Empresas de tecnologia como, por exemplo, a Microsoft deixaa clara a necessidade de responsabilidade com o uso desse campo de estudo. Empresas de comunicação e plataformas de notícias científicas como Scientific American e World Economic Forum também exploram esse lado mais otimista e de busca pelo avanço responsável da tecnologia. 2.1 Privacidade Um dos dilemas éticos cada vez mais presente e discutido atualmente é o da privacidade. Com o avanço da tecnologia, softwares como aplicativos de reconhecimento e processamento facial cresceram. Uma pesquisa realizada pelo Brookings Institution com 1535 usuários adultos de internet dos Estados Unidos mostrou que 49% dos entrevistados acham que a Inteligência artificial reduzirá a privacidade pessoal, 12% acham que a IA não afetará a privacidade pessoal, 5% acreditam que a privacidade pessoal aumentará com a Inteligência artificial e 34% não sabem ou não responderam. Essa insegurança de boa parte da sociedade deve-se muito à crescente massa de dados pessoais que trafega livremente na internet e que são coletados pelos sistemas de banco de dados de aplicativos e sites. O mau uso da Inteligência artificial e a repercussão que essas práticas produzem nas mídias sociais também alimentam essa preocupação quanto à privacidade. Figura 2 – Pesquisa revela o que americanos sobre a relação entre IA e privacidade 6 Fonte: Brookings Institution2 O aplicativo FaceApp, que ficou popularmente conhecido por gerar imagens de pessoas parecendo mais velhas com uso de Inteligência artificial gerou preocupações entre autoridades e pesquisadores estadunidenses. Originado de uma empresa pouco relevante da Rússia, há pouca informação sobre como os dados coletados pelo aplicativo são usados. Também não há ainda uma forte regulamentação sobre como as informações podem ser coletadas, manipuladas e comercializadas. Líderes democratas inclusive recomendaram que usuários excluíssem esse aplicativo de seus aparelhos celular3. Um dos usos da Inteligência artificial que vem se aperfeiçoando com o tempo é o de reconhecimento facial. Nesse campo de estudo há o tipo de reconhecimento chamado de detecção de rosto, comum em telas de celulares para identificar rostos em fotos e que não gera tanta preocupação. Outrostipos de reconhecimento já vêm causando preocupações. São os tipos de reconhecimento facial para fins de verificação e autorização de acesso e aqueles em que uma pessoa desconhecida pode ser identificada com base em dados armazenados por empresas e pelo próprio governo. Pesquisar por um rosto na internet na intenção de obter um nome está próximo de ficar cada vez mais disponível. A empresa russa Yandex, por exemplo, lançou recentemente o Yandex Image Search, um sistema de reconhecimento facial com um grande banco de dados e que funciona não apenas como uma pesquisa de imagens, mas como correspondência facial4. Diante desses fatos, percebe-se que a falta de transparência das empresas de tecnologia é o que mais gera preocupação. Nos Estados Unidos, essas empresas em geral, tentam cumprir as 7 leis de privacidade e seguem políticas de transparência e responsabilidade ética. Já os aplicativos e sites russos possuem uma relação próxima com o governo e podem ter diferenças quanto a essa política de privacidade. Algumas perguntas ainda ficam no ar. Até que ponto é possível ter a consciência de que as imagens que publicadas nas redes sociais ou que são usadas por certos aplicativos podem ser coletadas por empresas e vendidas sem o consentimento ou a permissão necessária? Será que as empresas e as autoridades estão sendo honestas e transparentes com relação aos nossos dados? Será que a legislação acerca da privacidade não está caminhando de forma lenta quando comparada ao avanço tecnológico? 2.2 Emprego Um dilema que permeia o campo da Inteligência artificial se dá acerca dos impactos na economia e no mercado de trabalho. Como as máquinas virão para automatizar o trabalho, certamente haverá uma transformação significativa no processo produtivo e na alocação de mão de obra. Essa preocupação sobre o futuro é pertinente e traz correntes pessimistas e otimistas. Uma visão pessimista geralmente coloca as máquinas como vilãs e que substituirão os humanos com facilidade, uma vez que farão tudo, ou quase tudo, melhor e mais rápido que um ser humano. Uma matéria do site Mother Jones5, por exemplo, exalta o progresso dos estudos sobre Inteligência Artificial das últimas décadas, e faz um longo discurso alarmista sobre os impactos negativos sobre a economia se não houver uma “forma de distribuição justa dos frutos do trabalho dos robôs” ressaltando o desemprego e uma pobreza em massa. Ainda sobre esse artigo, trabalhos considerados rotineiros serão os primeiros a serem substituídos e automatizados e até 2060 a IA seria capaz de realizar qualquer tarefa atualmente realizada por humanos. Por outro lado, estão projeções otimistas acerca dos impactos sobre o mercado de trabalho. Embora muitas das ocupações atuais sejam sim substituídas, para essas projeções, com investimentos contínuos em pesquisa, educação e desenvolvimento, surgirão muitas novas tarefas humanas, especialmente no meio digital e tendo a educação como uma base forte e essencial para essa transição, e com inclusive maiores salários6. Ao invés de se concentrar nos empregos que a sociedade pode vir a perder, é preciso haver um esforço maior em estudar como direcionar as tecnologias futuras para complementar 8 as ações humanas de forma que o trabalho da sociedade seja em conjunto e complementar ao trabalho das máquinas. Um artigo do The Conversation7 faz uma comparação entre a força de trabalho americana na década de 1890 e a atual. Naquela época, mais da metade dos trabalhadores estavam envolvidos na agricultura. Com a mecanização e a evolução dos meios de produção houve uma mudança drástica na distribuição da mão de obra entre os setores e, hoje, menos de 2% estão na agricultura. E essa transformação acarretou em uma produção maior e com criação de novas e diferentes tarefas. 2.3 Tomada de decisões Um dilema atualmente discutido acerca da tomada de decisões é o quão artificial e pouco "humanas" podem ser as decisões baseadas em IA, especialmente no campo jurídico. As decisões tomadas por humanos podem ser baseadas em regras explícitas, bem como podem ser seletivas, havendo o descarte consciente de informações consideradas inadequadas ou impertinentes ao caso8. A problemática surge porque as máquinas poderiam considerar muitos fatores que não seriam apropriados do ponto de vista humano, e poderiam assim desrespeitar valores éticos e gerar decisões tendenciosas. Atualmente, nos Estados Unidos, há dezenas de algoritmos de avaliação de riscos sendo aplicados para avaliação da probabilidade de um réu se tornar reincidente. A Propublica9 avaliou uma dessas ferramentas e publicou um artigo indicando que havia uma tendência errônea do programa em apontar réus negros como reincidentes em uma taxa quase duas vezes maior que de réus brancos. Atualmente, a tecnologia vem a cada dia mais sendo testada em condições reais para a tomada de decisões importantes como diagnósticos médicos, decisões judiciais ou em tarefas que envolvam segurança e situações de vida ou morte. Em fevereiro de 2017, por exemplo, o Uber começara a testar carros autônomos10 e em pouco mais de um ano depois, em março de 2018 ocorreu o primeiro acidente fatal causado por um desses carros. O motorista presente no carro estava olhando para baixo no momento em que o carro atropelou Elaine Herzberc, de 49 anos e a matou. O sistema de IA não diminuiu a velocidade ou evitou atropelá-lo11 e o episódio ficou marcado negativamente para a empresa e para a IA. Figura 3 – Carro autônomo da empresa Uber 9 Fonte: Folheto Uber / EPA De acordo com outro artigo do The Conversation12 o problema principal do machine learning está no algoritmo e nos dados usados para treinar a máquina, geralmente desconhecidos e de controle inconsistente. 2.4 Discriminação, intolerância, desinformação e outros problemas Boa parte dos dilemas acerca da Inteligência artificial está também voltada à possibilidade da IA ser utilizada para potencializar a desigualdade, a intolerância, a desinformação, a propagação de notícias falsas e os ataques cibernéticos. O uso de algoritmos tendenciosos segundo um estudo do governos dos EUA sobre privacidade e big data poderá ser usado para diversos fins maliciosos. Ataques usando algoritmos poderiam ser utilizados de forma fácil para promover campanhas e alavancar políticos e ideologias. Discursos de ódio poderão ganhar proporções devastadoras. A polarização e as tensões políticas, sociais e raciais poderão ser inflamadas com o desenvolvimento desmedido da Inteligência artificial. Atualmente já se discute sobre o uso de algoritmos na web que tendem a criar uma polarização político-ideológica na sociedade com base no volume de dados consumidos. O livro The Filter Bubble13 de Eli Parisier conceitua o chamado filtro-bolha, que baseia-se no fenômenos causado pela inteligência artificial no ser humano. Cada informação enviada por uma determinada pessoa ao Youtube, como por exemplo, o histórico de pesquisa, “curtidas”, compartilhamentos, comentários tende a criar uma “bolha” de preferência fazendo com que a 10 pessoa esteja cada vez mais imersa apenas naquele tipo de conteúdo através da recomendação feita pelo algoritmo. Isso elevaria o isolamento e a formação de grupos de pessoas que pensam de forma igual. Figura 4 – Vídeo contendo um “deep fake” do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama Fonte: Youtube14 “E se, um dia antes da eleição, aparecer um vídeo, disseminado nas redes com rapidez, de um candidato dizendo que renuncia?” Essa é uma questão interessante abordada pelo site Valor Econômico15. A prática das fake news vem ganhando novos ingredientes nos últimos anos. O deep fake, que consiste no uso de Inteligência artificial para usar o rosto de uma pessoa real em outro corpo com outra voz. Hoje, assim como foi com as fake news, não há ainda um forte controle sobre esse uso de dados e ainda não se sabequal será o impacto do uso dessa tecnologia no Brasil ou no mundo. Mas certamente, o fato de muitos ainda não conhecerem o deep fake, pode fazer com que isto cause danos irreversíveis caso seja usado para fins maléficos. O uso da IA certamente tem o seu lado positivo na tomada de decisões. Será o lado bom capaz de superar o mau uso da IA? Vale a pena arriscar? Para garantir que as máquinas trabalhem com responsabilidade, ética e que produza segurança e confiabilidade, será primeiro preciso saber como garantir que elas possam funcionar como planejadas e não como meios de dominação e uso para fins particulares. 3. A TECNOLOGIA EM PROL DA SOCIEDADE 3.1 Como assegurar que a tecnologia seja utilizada para o crescimento da sociedade? 11 Como foi visto, o uso da Inteligência artificial pode ser usado para fins catastróficos, porém também tem o potencial de elevar a produtividade humana e enriquecer a vida de diversas maneiras, segundo o artigo do World Economic Forum16: Cegos e deficientes visuais poderão ter suas vidas facilitadas com o desenvolvimento de sistemas operacionais de voz que se adaptam ao usuário. Sistemas de IA poderão também ser usados para adaptar programas educacionais com base nos dados fornecidos acerca dos talentos específicos de cada criança. Já na área da saúde os benefícios poderão ser inimagináveis. Softwares de IA poderão fazer triagens e diagnósticos de forma rápida e precisa. A burocracia e o tempo de espera poderá assim ser reduzida em grande parte dos serviços públicos. A segurança também será aperfeiçoada com o desenvolvimento do reconhecimento facial e outras tecnologias. Mas é claro que para um dia chegarmos nesses resultados irá certamente esbarrar nos problemas éticos já mencionados, no avanço da ciência e também na resistência humana à novidade. Além de um forte incentivo à ciência, é preciso que diversas áreas do conhecimento se unam para estudar como proceder com essa transição tecnológica. Filósofos, sociólogos, juristas, psicólogos, cientistas de dados e autoridades políticas deverão conversar entre si para permitir que a IA trabalhe em prol da sociedade e não contra ela ou em prol de interesses privados ou individuais. Às empresas de tecnologia, é fundamental que elas passem a dar prioridade às suas políticas de privacidade e segurança, de forma a agirem com responsabilidade ética. A empresa Microsoft já disponibiliza os detalhes de seu programa AI Responsável17 de forma a informar os principais princípios com que eles seguem: Justiça Confiabilidade e segurança Privacidade e segurança Inclusão Transparência Responsabilidade Dentre as abordagens usadas pelo Microsoft estão a de fomentar a inovação de forma responsável através do aprendizado contínuo e capacidade de resposta ágil, a capacitação de pessoas e o impacto positivo na sociedade. 12 A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) forneceu em maio de 2019 uma série de recomendações sobre o uso da IA, a proteção de privacidade e o fluxo de dados pessoais, entre outros18. Nesse documento encontra-se cinco princípios para o desenvolvimento responsável da Inteligência artificial, que objetivam: Crescimento inclusivo, desenvolvimento sustentável e bem-estar; Valores centrados no ser humano e justiça; Transparência e explicabilidade; Robustez, segurança e proteção; Responsabilidade Em resumo, a OCDE buscou cobrar dos governos responsabilidade e seriedade para com o ser humano. A transparência, tanto discutida em vários dos dilemas éticos, deve ser levada em consideração pelos governos e empresas de tecnologia. O objetivo principal deve ser o ser humano e não as corporações. Da mesma forma que a IA pode vir a gerar avanços tecnológicos e uma enorme quantidade de benefícios para a humanidade, ela também pode levar a cenários perigosos. O primeiro deles está relacionado à economia. Tanto do ponto de vista pessimista, quanto do otimista, é geralmente um consenso que muitos cargos que hoje existem serão ocupados por máquinas. É preciso que o governo e os cientistas preparem cuidadosamente essa transição para um novo cenário econômico, com criação de novos empregos e manutenção de direitos humanos básicos. Outra questão é a dos interesses políticos. Atualmente muitas nações tem desenvolvido a sua Inteligência artificial de modo a construir armas digitais (softwares capases de causar dano em sistemas de computador ou alvos reais). Assim como na Guerra Fria, há agora uma corrida pelo avanço de sua IA e por armas cibernéticas19. Há ainda um problema derivado do controle de dados e o mau uso desses pelo governo de um país ou pelas empresas de tecnologia. A frase “Dados é o novo petróleo”, de Clive Humby, certamente já faz sentido para muitos CEO’s e governantes. Os detentores de um grande volume de dados, poderão ter um grande poder de manipulação e controle de seres humanos, tendências, entre outros, podendo também concentrar cada vez mais a riqueza em uma pequena elite. A corrida por dados é liderada por Google, Facebook (Estados Unidos) e Baidu e Tencent (Chine). Além de vender produtos e capturar a atenção do consumidor, eles 13 estão também acumulando dados e mais dados e contam com o descaso da própria sociedade quanto a isso. Afinal, para muitos acaba sendo inevitável disponibilizar os dados a essas empresas ou funciona como uma relação de troca onde o usuário fornece dados e as empresas fornecem seus serviços de forma gratuita. No tocante às projeções já realizadas, Nick Bolstrom em seu livro Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies chama de “alarmismo equivocado” a forma como a opinião pública trata o futuro com IA20, baseando-se em preocupações fanáticas acerca de exército de robôs dominadores e violentos e em futuros distópicos e totalitários. Ele corrobora com a postura de membros da comunidade científica que buscam enfraquecer esse alarmismo e trabalhar em questões reais à respeito da inteligência de máquina avançada. O melhor caminho, segundo o filósofo, é que desenvolvedores de IA e pesquisadores de segurança de IA estejam trabalhando juntos com paciência e moderação. Leis e regulamentações acerca do uso de dados deverão ser discutidas e criadas inevitavelmente. Uma educação sobre a importância e uso de dados também deve ser colocada cada vez mais em pauta nas principais escolas e universidades de modo que as pessoas tornem-se mais conscientes sobre o uso de seus dados. Além disso, os programadores deverão estudar e compreender o comportamento humano se quiserem ensinar às máquinas a se comportarem como eles. Ensinar às máquinas ética e valores humanos deve, portanto ser uma das prioridades das empresas para que se evitem problemas futuros e elas possam trabalhar em prol do crescimento da sociedade. 4. O COMPORTAMENTO SOCIAL DAQUI A 40 ANOS Como será o comportamento social daqui a 40 anos? Será que a IA já terá impactado as relações humanas e os meios de produção como é esperado? Quais as principais tendências para o futuro? Empresas fornecerão serviços que atendam os nossos desejos de forma cada vez mais precisa e rápida, através da nossa interação com a tecnologia. A chamada “experiência personalizada” será cada vez mais comum. Exemplos disso não faltam hoje em dia. A empresa Amazon21 já vem explorando os benefícios dessa conveniência ao cliente há um tempo: as compras online através de um clique, os fretes grátis, as entregas rápidas, as recomendações personalizadas. Tudo isso já é uma mostra de como as empresas do futuro 14 lidarão com os seus clientes e, aquelas empresas que não seguirem esse conceito, podem vir a ficar para trás. Figura 5 – Evolução do valor das ações da Amazon Fonte: The Conversation Daqui a 40 anos, é muito provável que uso da IA esteja cada vez mais presente e haja uma grande quantidade de inovações tecnológicas em diferentes áreas da vidahumana. Carros autônomos, assistentes, dispositivos com reconhecimento facial e de voz, jogos e filmes com uso de IA são alguns dos exemplos que certamente terão se popularizado e influenciará as relações humanas. Haverá um uso cada vez maior em aplicativos, ferramentas e dispositivos à medida que a implatação e o desenvolvimento fique cada vez mais baratos. Cada vez mais o ser humano se acostumará a trabalhar com máquinas acionadas por IA. Em 40 anos é provável que a parceria homem-máquina seja aquela em que o ser humano colabora com imaginação, estratégia, design e habilidades cognitivas e é ajudado pela capacidade de processamento e resposta rápida da máquina, que automatizarão tarefas demoradas e que lidem com um grande volume de dados. A medida que a IA for tomando espaço nos meios de produção e passar a melhorar a execução de tarefas rotineiras, caberá também ao ser humano as tarefas mais estressantes22 e que exijam tomada de decisões. Isso exigirá que o profissional tenha uma boa capacidade de análise, de relacionamento e de raciocínio. Enquanto que um sistema de IA correlacionará 15 dados presentes em vídeos por exemplo e executará o que o algoritmo permitir, caberá ao profissional humano analisar aqueles vídeos em que foi imprecisa a tomada de decisão e exige uma capacidade de análise mais humana e profunda. Figura 6 – Atendimento do KFC com uso de Inteligência artificial Fonte: Bloomberg Atividades repetitivas deverão ser substituídas em grande escala daqui a 40 anos. Já é possível observar máquinas realizando o atendimento em redes de fast food nos dias de hoje. A KFC já usa reconhecimento facial e Inteligência artificial na China para coletar dados e oferecer um atendimento personalizado para os seus clientes. O software conversa com ele, lembra de seus último pedido e faz recomendações de forma a dar mais dinamismo e conveniência no atendimento23. O Mc Donald’s, tem atualmente investido em inovação e tecnologia e em setembro de 2019 adquiriu a Apprente24, empresa de tecnologia de conversação baseada em voz, visando aumentar a velocidade e a precisão no recebimento de pedidos. Futuramente, pedidos complexos e em diferentes idiomas poderão ser feitos aos softwares de IA ao invés de apenas comandos. As relações de trabalho irão mudar, é inevitável. Será preciso refazer e reprogramar a mão de obra para a segunda metade do século XXI. É provável que as empresas investirão em capacitação e preparo de pessoas para que elas influenciem e se adptem às mudanças tecnológicas futuras. O perfil do trabalhador moderno futuro ideal será aquele com 16 conhecimento acerca das tecnologias mais modernas combinado com aptidões para comunicação e solução de problemas. No livro Homo Deus25, Harari faz algumas projeções sobre o sistema econômico e político. Ele projeta ideias interessantes sobre a coletividade e a relevância dos seres humanos e sua utilidade econômica e militar. O coletivo continuará a sendo importante, mas a individualidade terá pouco valor. Haverá uma tendência muito maior em confiar em drones e robôs autônomos para cumprir objetivos militares do que em grupos de soldados humanos. As transações e análises econômicas também serão preferencialmente gerenciadas por algoritmos de Inteligência artificial. Figura 7 – Cena de uma guerra com homens armados à esquerda e, à direita, um drone sem piloto Fonte: Homo Deus, Yuval Harari Livros de ficção científica já promovem discussões interessantes sobre o futuro e questões que podem vir a acontecer na relação entre a máquina e o ser humano. As 3 leis da robótica criadas pelo autor Isaac Asimov foram propostas para gerar essa discussão saudável sobre como os robôs podem trabalhar com os humanos sem prejudicá-los. Os contos e obras desse autor reforçam a idéia de que será preciso prever e resolver diversos dilemas e criar meios de limitar a liberdade e capacidade da máquina. Apesar de serem apenas obras fictícias, elas permitem a seus leitores possuirem uma visão de perspectiva sobre o mundo mais acurada e deveriam ser lidas mais vezes por grandes líderes empresariais segundo um artigo da Harvard Business Review26. 17 5. CONCLUSÃO As pessoas já se beneficiam da Inteligência artificial atualmente e isso tende a crescer cada vez mais. Alcançar um desenvolvimento humano sustentável e baseado em princípios éticos deverá ser buscado com responsabilidade pelas autoridades, programadores e detentores do poder tecnológico. Será preciso diálogo e coragem para avançar em busca do melhor que a IA possa oferecer em prol do crescimento da sociedade, bem como um é preciso haver um forte combate ao mau uso da Inteligência artificial e o seu potencial para fomentar guerras, ódio, radicalismo e ataques cibernéticos. Quanto aos dilemas e desafios que estão porvir, é preciso saber separar o fanatismo e alarmismo das discussões realmente pertinentes à comunidade científica. Também é necessário que haja transparência e responsabilidade quanto ao uso de dados, para que a confiança na IA possa crescer e assim permitir que o desenvolvimento da humanidade e os avanços tecnológicos possam caminhar juntos e com os mesmos objetivos. 18 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Leading academic who coined the term 'artificial intelligence' Disponível em < https://www.irishtimes.com/life-and-style/people/leading-academic-who-coined-the-term- artificial-intelligence-1.11243> [2] Brookings survey finds worries over AI impact on jobs and personal privacy, concern U.S. will fall behind China. 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Disponível em <https://theconversation.com/robots-wont-steal-our-jobs-if-we-put-workers-at-center-of-ai- revolution-82474> [8] Ethics in the Age of Artificial Intelligence. Disponível em <https://blogs.scientificamerican.com/observations/ethics-in-the-age-of-artificial- intelligence/> [9] How We Analyzed the COMPAS Recidivism Algorithm. Disponível em <https://www.propublica.org/article/how-we-analyzed-the-compas-recidivism-algorithm> [10] Uber begins testing self-driving cars in Tempe área. Disponível em < https://www.abc15.com/news/region-southeast-valley/tempe/uber-begins-testing-self-driving- cars-in-tempe-area> 19 [11] Uber crash shows 'catastrophic failure' of self-driving technology, experts say. Disponível em <https://www.theguardian.com/technology/2018/mar/22/self-driving-car-uber- death-woman-failure-fatal-crash-arizona> [12] Artificial intelligence: between scientific, ethical and commercial issues. 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