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Brasília-DF. Higiene do TrabalHo – riscos Físicos no ambienTe de TrabalHo Elaboração Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I TEMPERATURAS ANORMAIS .................................................................................................................. 13 CAPÍTULO 1 TERMOLOGIA, CALOR E TERMORREGULAÇÃO ........................................................................ 13 CAPÍTULO 2 REAÇÕES FISIOLÓGICAS AO CALOR ...................................................................................... 26 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS BÁSICOS DO AMBIENTE DE TRABALHO .................................... 30 CAPÍTULO 4 FACET E ADICIONAL DE INSALUBRIDADE (AINS) ........................................................................ 57 CAPÍTULO 5 PRÁTICAS PREVENCIONISTAS EM AMBIENTES QUENTES............................................................. 59 CAPÍTULO 6 TEMPERATURAS ANORMAIS – FRIO .......................................................................................... 65 UNIDADE II VIBRAÇÕES ......................................................................................................................................... 68 CAPÍTULO 1 ASPECTOS GERAIS .................................................................................................................. 68 CAPÍTULO 2 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE PADRONIZAÇÃO – ISO ................................................... 83 CAPÍTULO 3 VIBRAÇÕES DE CORPO INTEIRO – VCI .................................................................................... 95 CAPÍTULO 4 VIBRAÇÕES DE MÃOS E BRAÇOS – VMB ............................................................................... 121 UNIDADE III PRESSÕES ANORMAIS E RADIAÇÕES .................................................................................................. 131 CAPÍTULO 1 PRESSÕES EM TUBULÕES A AR COMPRIMIDO ....................................................................... 131 CAPÍTULO 2 RADIAÇÕES IONIZANTES ....................................................................................................... 136 UNIDADE IV RUÍDO ............................................................................................................................................... 141 CAPÍTULO 1 ASPECTOS GERAIS ............................................................................................................... 141 CAPÍTULO 2 DEFINIÇÕES FÍSICAS E MATEMÁTICAS RELACIONADAS AO RUÍDO ......................................... 143 CAPÍTULO 3 MÉTRICAS DO RUÍDO PARA FINS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL ................................................. 156 CAPÍTULO 4 APLICAÇÕES CONFORME NORMAS PREVIDENCIÁRIAS, TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS ............. 163 CAPÍTULO 5 FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS RELATIVOS AO RUÍDO ............................................................... 176 CAPÍTULO 6 RUÍDO DE IMPACTO ............................................................................................................. 190 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 191 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 192 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 196 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Caro colega, Bem-vindo à disciplina Higiene do Trabalho (HT) – Riscos Físicos, aplicada ao Meio Ambiente do Trabalho, no campo da Engenharia de Segurança do Trabalho – EST. Este é o Caderno de Estudos, material básico aos conhecimentos exigidos nesta disciplina, que em razão do conteúdo extenso é complementada por outros dois tomos de Higiene do Trabalho: Riscos Químicos e Riscos Biológicos. A HT trata, em especial, dos fatores ambientais do tipo físico, químico e biológico. Os riscos ergonômicos e de acidentes são objetos de outras disciplinas. É primordial um conhecimento aprofundado sobre tais riscos, haja vista que na execução da tarefa de higienização do ambiente é necessário: » saber reconhecê-los; » identificar se podem ou não ser nocivos à saúde humana; » avaliar se suas intensidades ou concentrações estão em nível de nocividade; » saber como estes agentes penetram ou são absorvidos pelo corpo humano; » propor as medidas de HT adequadas àquele agente. Os fatores de riscos ambientais do trabalho são divididos conforme a sua natureza em Físicos, Químicos, Biológicos, Ergonômicose de Acidentes. O Quadro a seguir sintetiza essa classificação. Quando à intensidade (físicos) ou concentração (químicos) dessas energias ou substâncias, respectivamente, estão em um nível capaz de causar efeitos nocivos saúde humana, denomina-se “Risco”. A HT trata, em especial, dos tipos físicos, químicos e biológicos. Os riscos ergonômicos e de acidentes são objetos de outras disciplinas. 9 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Quadro 1. Classificação dos fatores e risco ambientais segundo sua natureza. Físicos Químicos Biológicos Ergonômicos Acidentes » Ruído » Calor » Frio » Umidade » Radiações » Condições hiperbáricas » Vibrações » Diver-sos agentes em forma de: » Líquidos » Gases » Vapores » Poeiras » Neblina » Névoas » Bactérias » Vírus » Parasitas » Protozoá-rios » Fungos » Outros » Posturas forçadas » Levantamen-to deslocamen-to de pesos » Movimentos repetitivos » Sobrecarga psíquica » Etc. » Queda de altura » Queda de objetos » trânsito veículos » Máquina » desprotegida » Escada sem proteção » Etc. Fonte: Próprio autor (2019) A HT comparece então para ofertar suporte técnico para que o profissional prevencionista atue neste ambiente com medidas para eliminar ou minimizar os possíveis efeitos sobre a saúde dos trabalhadores e da comunidade. A HT neste caderno aborda as energias no contexto da física. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos. Os ícones servirão de recursos de aprendizagem. Dentre os físicos, destacam-se: Ruído. O ruído é considerado uma mistura de sons. O som é a percepção do sistema auditivo da variação da pressão atmosférica ambiente. A menor variação que o aparelho auditivo humano pode detectar é da ordem de 2 x 105 Pa, a qual denomina- se limiar de audibilidade. O limiar da dor, por outro lado, corresponde à variação da pressão em 2 x 102 Pa (200 Pa). No entanto, esta variação deve ocorrer em forma de ciclos para que seja percebida. A frequência mínima audível é de 20 Hz, enquanto a frequência máxima chega a 20.000 Hz. Sons cuja frequência situa-se acima de 20 kHz são denominados ultrassons, enquanto que aqueles abaixo de 20 Hz são infrassons. Quando há mistura de sons indistinguíveis, diz-se ocorrer o ruído. Alguns aspectos dos perigos de ruído são energia sonora total, distribuição de frequência, duração da exposição e ruído de impulso. A acuidade auditiva é geralmente a primeira capacidade afetada, com perda ou redução de 4.000 Hz, seguida de perdas na faixa de frequência de 2.000 a 6.000 Hz. O ruído pode produzir efeitos agudos, tais como problemas de comunicação, diminuição da capacidade de concentração, sonolência e, como resultado, interferência com o desempenho do trabalho. A exposição a altos níveis de ruído, geralmente acima de 85 dB(A) ou ruído de impulso, cerca de 140 dB(C) durante um período considerável de tempo pode causar perda auditiva temporária e crônica. Atividades recorrentes: fundições, carpintaria, fábricas têxteis, setor metalúrgico em geral, Call Center, serviço de atendimento ao público, ambientes de alta conversação. Vibração. A vibração é um movimento oscilatório. A vibração tem alguns parâmetros em comum com o ruído: frequência, amplitude, duração da exposição e continuidade 10 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS ou intermitência da exposição. Pode ser de mãos e braços (VMB) ou de corpo inteiro (VCI). Neste caderno há capítulo que resume as respostas humanas às vibrações de corpo inteiro, transmitidos para as mãos. As vibrações do corpo inteiro ocorrem quando o corpo está suportado por uma superfície vibrante (por exemplo, quando você sentado em um assento vibratório, de pé sobre um piso vibrante ou deitado em uma superfície vibrante). As VCI são apresentadas em todas as formas de transporte e ao trabalhar perto de maquinário industrial. As vibrações transmitidas às mãos – VMB são as vibrações que entram no corpo pelos braços e mãos causadas por diferentes processos de indústria, agricultura, mineração e construção, em que as ferramentas são apreendidas ou empurradas ou peças vibrantes com as mãos ou dedos. Exposição a vibrações transmitidas para as mãos podem causar várias desordens. O método de trabalho e a habilidade do operador parecem desempenhar um papel importante na ocorrência de efeitos prejudiciais devido à vibração. O trabalho manual com ferramentas elétricas está associado a sintomas de distúrbios circulatórios periféricos conhecidos como “fenômeno de Raynaud” ou “dedos brancos induzidos por vibração”. As ferramentas de vibração também podem afetar o sistema nervoso periférico e o sistema musculoesquelético, reduzindo a força de preensão e causando dor lombar e distúrbios degenerativos nas costas. Atividades recorrentes: máquinas de ajuste, carregadores de mineração, empilhadeiras, ferramentas pneumáticas, motosserra. Radiação Ionizante – RI. O efeito crônico mais importante da radiação ionizante é o câncer, incluindo a leucemia. A superexposição a níveis relativamente baixos de radiação tem sido associada à dermatite nas mãos e efeitos no sistema hematológico. Os processos ou atividades que podem causar superexposição à radiação ionizante são muito restritos e controlados. Reatores nucleares, tubos de raios X médicos e odontológicos, aceleradores de partículas, radioisótopos. A Radiação não ionizante – RNI é a radiação ultravioleta, radiação visível, raios infravermelhos - IV, lasers, campos eletromagnéticos (micro-ondas e radiofrequência) e radiação de frequência extremamente baixa. A radiação IV pode causar catarata. Lasers de alta potência podem causar lesões nos olhos e na pele. Existe uma preocupação crescente com a exposição a baixos níveis de campos eletromagnéticos como causa de câncer e como uma possível causa de efeitos adversos sobre a função reprodutiva das mulheres, especialmente a exposição a telas de exibição de dados. Ainda não se sabe com certeza se existe uma relação causal com o câncer. No entanto, as revisões mais recentes do conhecimento científico disponível geralmente concluem que não há associação entre o uso de telas de exibição de dados e efeitos adversos sobre a função reprodutiva. Atividades recorrentes para radiação ultravioleta: soldagem e corte a arco; tratamento de tintas, colas, tintas, etc. com raios UV; desinfecção; controle de produto. Radiação infravermelha: fornos, sopro de vidro. Lasers: comunicações, cirurgia, construção. 11 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Pressão. A atmosfera geralmente contém 20,93% de oxigênio. O organismo humano é, por natureza, adaptado para respirar oxigênio atmosférico a uma pressão de cerca de 160 mmHg no nível do mar. Nesta pressão, a molécula que transporta oxigênio para os tecidos, hemoglobina, é 98% saturada, aproximadamente. Se a pressão de oxigênio aumenta, o aumento da oxihemoglobina é baixa, já que sua concentração inicial já é praticamente 100%. Agora, à medida que aumenta pressão, uma quantidade significativa de oxigênio pode não ser consumido, entra em solução física no plasma sanguíneo. Felizmente o organismo é capaz de tolerar uma gama de pressões de oxigênio bastante ampla sem danos observados, pelo menos a curto prazo. Se a exposição for prolongada, pode produzir, a longo prazo, problemas de toxicidade do oxigênio. Quando o trabalho requer ar comprimido para respirar, como no mergulho ou durante o trabalho em tubulões de ar deficiência de oxigênio (hipóxia) comprimida não costuma ser problema, uma vez que o organismo é exposto a um maior quantidade de oxigênio à medida que a pressão absoluta aumenta. Um aumento na pressão para duas vezes o valor normal dobra o número de moléculas inaladas em cada inspiração Assim, a quantidade de oxigênio inspirado é igual a um 42%. Isto é, um trabalhador que respira ar a uma pressão de 2 atmosferas absolutas (ATA), ou 10 m abaixo da superfície do mar, respira uma quantidade equivalente de oxigênio para oqual você respiraria na superfície usando uma máscara de 42% de oxigênio. Temperatura Elevada. Ao longo de suas vidas, os seres humanos mantêm a temperatura do corpo dentro de limites muito estreitos de variação e protegido a todo custo. Os limites máximos de tolerância para as células vivas correspondem a cerca de 0° C (formação de cristais de gelo) e cerca de 45° C (coagulação térmica de proteínas intracelulares). No entanto, os seres humanos podem suportar temperaturas internas abaixo de 35° C ou acima de 41° C, embora apenas por curtos períodos de tempo. Para manter a temperatura interna dentro desses limites, o ser humano desenvolveu respostas fisiológicas muito eficazes e, em alguns casos especializados, ao estresse térmico agudo. O objetivo dessas respostas é facilitar a conservação, produção ou eliminação do calor corporal, elas exigem coordenação firmemente controlado de vários sistemas do corpo. No verão, as condições climáticas às quais trabalhadores são expostos podem ser a causa de acidentes de trabalho, alguns deles fatais. O problema não é apenas a alta temperatura, mas o acúmulo excessivo de calor no corpo, que pode ser produzido tanto por altas temperaturas, quanto pelo calor gerado pelo corpo em atividades físicas intensas. Além disso, existem fatores pessoais que aumentam o risco de acidentes, tais como trabalhadores com doenças preexistentes (doenças cardiovasculares ou respiratórias, 12 diabetes etc.) O estresse térmico é especialmente perigoso no trabalho ao ar livre, como na construção, a agricultura ou obras públicas, com agravamento nos dias mais quentes de verão que obrigam programas de prevenção de riscos específicos, além dos casos em que o estresse térmico é um problema ao longo do ano. A exposição ao calor pode causar vários efeitos saúde, de gravidade diferente, como erupção na pele, edema de membros, queimaduras, cãibras de músculo, desidratação, exaustão etc. Mas sem dúvida, o efeito mais sério da exposição a situações de calor intenso é insolação. Ele é chamado golpe de calor, quando a temperatura do corpo excede 40,6 ºC, sendo fatal entre 15% e 25% dos casos. Quando a intensidade ou concentração destes agentes está em um nível capaz de causar efeitos nocivos à saúde humana, passamos a considerá-los um “Risco”, e então, precisamos atuar neste ambiente com medidas de HT para eliminar ou minimizar os possíveis efeitos sobre a saúde dos trabalhadores e da comunidade. Objetivos » Abordar criticamente a inserção da higiene do trabalho. » Possibilitar ao EST classificar e identificar perigo, risco e fator de risco ambiental. » Compreender, especificar, calcular e aplicar conhecimentos relacionados à acústica com ênfase ao meio ambiente do trabalho. » Compreender, especificar, calcular e aplicar conhecimentos, com ênfase ao meio ambiente do trabalho, relacionado à acústica; às vibrações; à termologia; às pressões anormais e às radiações ionizantes e não ionizantes. 13 UNIDADE ITEMPERATURAS ANORMAIS CAPÍTULO 1 Termologia, Calor e Termorregulação Em uma operação com forno metalúrgico, verifica-se que o operador gasta 3 minutos carregando o forno, aguarda 4 minutos para que a carga atinja a temperatura esperada e, em seguida, gasta outros 3 minutos para descarregar o forno. Durante o tempo em que aguarda a elevação da temperatura da carga (4 minutos), o operador do forno fica fazendo anotações, sentado à mesa que está afastada do forno. Figura 1: Panela de fabricação de aço em indústria siderúrgica Fonte: http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM049/Aula%201.pdf Em uma operação de colheita manual de cana de açúcar no Nordeste brasileiro, verifica- se que o trabalhador faz uma jornada das 6h às 11h. 14 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS Figura 2. Atividade braçal de alto metabolismo e grande carga solar Fonte:http://www.tst.jus.br/image/journal/article?img_id=3988052&t=1363730915275 O Brasil é o primeiro país a possuir um aplicativo com capacidade de monitorar a sobrecarga térmica dos trabalhadores rurais online em todo o seu território. Esse ganho foi possível com o desenvolvimento do software pela Fundacentro e com o Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a instituição e o Instituto Nacional de Meteorologia-INMET. O software, operado com dados do INMET, estima o IBUTG - Índice de Bulbo Úmido-Termômetro de Globo. Totalmente gratuito, o software pode ser acessado permanentemente no site da Fundacentro, possibilitando ao usuário avaliar a exposição ao calor do trabalhador e disponibilizando as respectivas medidas de controle. A grande vantagem deste tipo de monitoração remoto é a dispensa do uso de pessoal especializado, de equipamentos caros, além do tempo gasto no deslocamento para realizar medições in loco. Fonte: http://www.Fundacentro.gov.br/noticias/detalhe-da-noticia/2014/4/brasil-e-o- primeiro-pais-a-monitorar-sobrecarga-termica-de-trabalhadores-rurais. Essas são situações condutoras do processo ensino-aprendizagem a partir de perguntas: Há impactos à saúde do trabalhador? Quais medidas prevencionistas deverão ser adotadas? Quais são os LT e o que acontece se forem ultrapassados? A exposição ao calor ocorre em muitos ambientes externos e internos. Na indústria de transformação, cujos ambientes implicam alta carga radiante sobre o trabalhador, há tendência à geração de sobrecarga térmica sobre o trabalhador. Todavia, muitas atividades com carga radiante moderada, porém acompanhadas de altas taxas metabólicas (trabalhos extenuantes ao ar livre), também podem oferecer sobrecargas inadequadas. Deve-se lembrar, ainda, que pode haver situações críticas em ambientes em que predomina o calor úmido, praticamente sem fontes radiantes importantes, como nas lavanderias e tinturarias. Em suma, deve-se tomar cuidado em não tipificar categoricamente as situações laborais quanto ao calor. O melhor é analisar 15 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I criteriosamente cada uma delas. O profissional prevencionista poderá, com o tempo, adquirir uma razoável sensibilidade quanto a esses riscos potenciais nas situações de trabalho. Contextualização Ao longo da vida, os organismos seres humanos lutam para manter a temperatura do corpo dentro de limites muito estreitos de variação. Os limites máximos de tolerância para as células vivas correspondem a cerca de 0°C (formação de cristais de gelo) e cerca de 45°C (coagulação térmica de proteínas intracelulares). No entanto, os seres humanos podem suportar temperaturas internas abaixo de 35°C ou acima de 41°C, embora apenas por curtos períodos de tempo. Para manter a temperatura interna dentro desses limites, o ser humano desenvolveu respostas fisiológicas muito eficazes e, em alguns casos especializados, ao estresse térmico agudo. O objetivo destas respostas é facilitar a conservação, produção ou eliminação do calor corporal. Elas exigem coordenação e controle de vários sistemas do corpo. Equilíbrio Térmico do Ser Humano A principal fonte de calor para o corpo é a produção de calor metabólico (M). Libera-se na forma do calor muita energia ao corpo, mesmo com forte trabalho muscular, cuja eficiência mecânica flutua entre 75 e 80% da energia envolvida. Em repouso, a taxa metabólica de 300 ml de O2 por minuto gera uma carga térmica de aproximadamente 100 W. 16 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS Figura 3. Reação metabólica ao nível celular Fonte: autor (2019) Trabalho em estado estacionário com um consumo de oxigênio de 1 l/min gera aproximadamente 350W de calor, descontada a energia associada a esse trabalho externo (W). Mesmo com uma intensidade de trabalho leve ou moderada, a temperatura interna do organismo aumentará aproximadamente um grau Celsius a cada 15 minutos se não houver meio eficaz da dissipação de calor. As pessoas que estão em muito ativas fisicamente podem produzir mais de 1.200W de calor por um período de 1 a 3 horas sem transtornos de sofrimento calor. O calor pode ser absorvidopelo corpo quando o meio ambiente, via radiação (R) expressa pela temperatura de globo (Tg) combinado ou não com a via condução-convecção (C) expressa pela temperatura do ar - Ta, lida no termômetro de bulbo seco (Tbs), produz potencial energético superior ao corpo humano, ou seja, a temperatura ambiental é maior que a temperatura da pele. Tornam-se fontes de perda de calor quando o gradiente térmico é invertido da pele ao ar. Note-se que temperatura do ar - Ta é dada pelo Tbs. Termólise significa parte da termorregulação que assegura a perda do calor nos animais, enquanto a termogênese se refere à produção de calor. O último processo de termólise no balanço térmico do ser humano é a evaporação (E). É o mais importante dissipador de energia, pois o calor latente de evaporação do suor é bastante alto, aproximadamente 680 W/h evaporou o suor. Mais à frente discute- se com maior profundidade. Neste estágio introdutório, registre-se que em ambientes frios ou termicamente neutros, a termogênese (calor que se ganha) é equilibrado com a termólise (calor que se perde), de modo que não há calor armazenado no corpo. Diz-se 17 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I que há equilíbrio térmico, expresso pela fórmula do balanço: M - W ± R ± C - E = 0, pois a sobrecarga (S) é nula. Em resumo, tem-se que o organismo ganha ou perde calor para o meio ambiente segundo a equação do equilíbrio térmico: Tabela 1. Equação de Balanço Térmico do Corpo Humano M – W ± C ± R – E = S M – Calor produzido pelo metabolismo, sendo um calor sempre ganho (+) W – Trabalho realizado pelo corpo humano (-), que consome parte do M gerado C – Calor ganho ou perdido por condução/convecção (+/-) R – Calor ganho ou perdido por radiação (+/-) E – Calor sempre perdido por evaporação (-) S – Sobrecarga térmica ou calor acumulado no organismo (resultado) Fonte: Próprio autor (2019) Se S > 0, diz-se que há acúmulo de calor (sobrecarga térmica). Em sentido inverso, se S < 0, há perda de calor (hipotermia) O trabalho pesado (com um alto gasto energético que aumenta pelo saldo M - W), temperaturas ambientes muito altas (que aumentam o saldo R + C), uma alta umidade relativa do ar – URA (que limita E), bem como o uso de roupas espessas ou relativamente impermeáveis (criando uma barreira para a evaporação do suor), produz uma configuração térmica desfavorável ao trabalhador, decorrente desse cenário, no qual a exposição ao calor é mais intensa e a dissipação é insuficiente. Em termos algébricos ocorre M - W + R + C > E, produzindo armazenagem de calor e, por conseguinte, sobrecarga térmica. Finalmente, se o esforço é prolongado ou hidratação inadequada, e pode ser excedida por capacidade limitada do corpo para secretar suor (entre 1 e 2 l/h, para curtos períodos de tempo). Temperatura corporal e seu controle Para descrever as respostas fisiológicas ao frio e ao calor, o corpo pode ser dividido em dois componentes: o “núcleo” e a “periferia”. A temperatura central (Tc) representa a temperatura interna ou profunda do corpo e pode ser medida na boca, no reto ou, em laboratório, no esôfago ou na membrana timpânica (tímpano). 18 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS A temperatura do corpo pode ser medida em alguns lugares. Ainda existem discordâncias sobre o local ideal para mensurar a temperatura corporal. Os locais habitualmente mensurados são: Axilar: temperatura normal encontra-se de 35,5 a 37,0° C, com média de 36,0 a 36,5° C. Bucal: temperatura normal encontra-se de 36,0 a 37,4° C. Retal: temperatura normal encontra-se de 36,0 a 37,5°. Temperatura corporal e seu controle Para fins de descrição das respostas fisiológicas ao frio e ao calor, o corpo pode ser dividido em dois componentes: o “núcleo” e a “periferia”. A temperatura central (Tc) representa a temperatura interna ou profunda do corpo e pode ser medida na boca, no reto ou, em laboratório, no esôfago ou na membrana timpânica (tímpano). Já a temperatura da periferia é representada pela temperatura média da pele (Tsk). O A temperatura corporal média (Tb) é sempre um equilíbrio ponderado dessas temperaturas, ou seja, Tb = k Tc + (1 - k) Tsk onde o fator de ponderação k varia entre aproximadamente 0,67 e 0,90. O organismo quando enfrenta condições que se afastam de neutralidade térmica (frio ou estresse de calor) busca controlar o Tc via ajustes fisiológicos. Tc é a variável mais importante para o cérebro, pois é a partir dela que coordena e controla as reações fisiológicas à agressão externa. Isso porque a temperatura local média da pele Tsk, embora seja uma importante fonte de informação sensorial, varia muito com temperatura ambiente, flutuando de 33°C, para ambientes neutros, até 37ºC, em condições de serviço pesado em ambientes quentes. Exposição de todo o organismo ou parte dele ao frio pode fazer esta temperatura (Tsk) cair consideravelmente. A sensibilidade ao toque aparece entre 15°C e 20°C, enquanto a temperatura crítica para destreza manual fica entre 12ºC e 16ºC. Os limiares de dor superior e inferior para valores de Tsk são aproximadamente 43°C e 10°C, respectivamente. A regulação térmica reside no cérebro, que possui células nervosas que respondem ao aquecimento (neurônios sensíveis ao calor) e resfriamento (neurônios sensíveis ao frio). É uma área que domina o controle de temperatura corporal ao receber informações sensoriais e as envia para a pele, músculos e outros órgãos envolvidos na regulação térmica através do sistema nervoso autônomo. O sistema de controle do organismo opera funções de aquecimento e arrefecimento. 19 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Quando a temperatura corporal excede uma certa temperatura teórica de “referência”, são ativadas as respostas associadas à termólise (sudorese, aumento do fluxo sanguíneo periférico). Quando a temperatura do corpo cai abaixo do valor de referência, inicia respostas de termogênese (redução de fluxo sangue periférico, calafrios). Mas, ao contrário dos sistemas de aquecimento doméstico, por exemplo, que operam regulação térmica por termostatos tipo on-off, o corpo humano tem funções de controle gradual e controle de velocidade da mudança. Deve-se notar que a “temperatura de referência” existe apenas em teoria, mas é útil entender esses conceitos. Figura 4. Mecanismos de troca térmica do corpo humano Fonte: Autor (2019) Mecanismos de trocas térmicas A sobrecarga térmica no organismo humano é resultante de duas parcelas de carga térmica: uma carga externa (ambiental) e outra interna (metabólica). A carga externa é resultante das trocas térmicas com o ambiente e a carga metabólica é resultante da atividade física que exerce. As fases sólido, líquido e gasoso são alteradas a partir do par pressão e temperatura. Essa última varia em função da quantidade de energia transferida (calor) que se transmite por três tipos de processos, chamados mecanismos de trocas térmicas: condução, convecção e radiação. 20 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS Condução decorre da troca térmica entre dois corpos em contato em temperaturas diferentes ou dentro de um corpo cujas extremidades se encontram a temperaturas distintas. Para o trabalhador, essas trocas são muito pequenas, geralmente por contato do corpo com ferramentas e superfícies. Condução é a transmissão de calor entre dois sólidos que estão em contato. As trocas ocorrem entre a pele e as roupas, calçados, pontos de pressão (assento, alças), ferramentas etc. Na prática, para o cálculo matemático do equilíbrio térmico, o fluxo de calor por condução é indiretamente estimado como uma quantidade igual ao fluxo de calor por convecção e radiação que ocorreria se essas superfícies não estivessem em contato com outros materiais. Convecção decorre da troca térmica realizada geralmente entre um corpo e um fluido, ocorrendo movimentação do último por diferença de densidade provocada pela dilatação dos corpos por conta do aumento da temperatura. Em outras palavras, esse fluidoaquecido passa a ocupar um volume maior do que o fluido nos arredores. Todo corpo inserido em um meio líquido ou gasoso sofre a ação de uma força vertical para cima, chamada de empuxo. Essa força é proporcional ao volume do fluido deslocado pelo corpo. Como o líquido aquecido passa a ocupar um volume maior, ele sofre mais empuxo e sobe, dando origem a um movimento ascendente. A subida do fluido aquecido dá espaço para que as porções mais frias e mais densas do fluido desçam, formando um movimento descendente. O processo continua até que todo o fluido esteja sob a mesma temperatura. Portanto, com a troca de calor existe uma movimentação do fluido, chamada de corrente natural convectiva. Se o fluido se movimenta por impulso externo, diz-se que é uma convecção forçada. Para o trabalhador, essa troca ocorre com o ar a sua volta. Figura 5. Troca térmica por convecção Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-conveccao.htm A convecção envolve a transferência de calor entre a pele e o ar circundante. Se a temperatura da pele, Tsk em graus Celsius (°C), é maior que a temperatura do ar (Tbs), o ar em contato com a pele aquece e, como consequência, sobe. Isso estabelece uma circulação de ar, conhecida como convecção natural, na superfície do corpo. A troca https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-conveccao.htm 21 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I aumenta se o ar passar sobre a pele por uma convecção forçada. Fluxo de calor trocada por convecção, C, em watts por metro quadrado (W/m 2) pode ser estimado com a seguinte equação: C = hc. FclC (Tsk - Tbs), onde hc é o coeficiente de convecção (W/°C. m2), que é função da diferença entre Tsk e Tbs no caso de convecção natural, e velocidade do ar - Va (em m/s) em convecção forçada. FclC é o fator de redução de troca de calor por convecção devido ao vestuário1. Radiação é transferência de calor realizada por meio de ondas eletromagnéticas. Todo corpo que se encontra em temperatura diferente do zero absoluto troca calor constantemente em forma de ondas eletromagnéticas com suas vizinhanças. O Sol, por exemplo, aquece a Terra por meio da emissão de infravermelho e luz visível, entre outras ondas eletromagnéticas. Assim, todos os corpos emitem radiação eletromagnética cuja intensidade depende de sua temperatura absoluta T (em graus Kelvin: K) elevada à quarta potência. Lei de Stefan-Boltzmann: a potência total (em todos os comprimentos de onda) irradiada por unidade de área é proporcional à quarta potência da temperatura. Todos os corpos irradiam calor constantemente, perdendo energia. Os corpos sem energia térmica própria precisam, então, absorver energia para depois emiti-la. Portanto, aquele que mais absorve é também o que mais pode emitir. O corpo hipotético, que é um absorvedor ideal e, logicamente, um emissor ideal, é denominado corpo negro. Define-se poder emissivo (E) como a potência irradiada por unidade de área. No Sistema Internacional de Unidades, conhecido como (SI), a unidade do poder emissivo é dada em W/m2 (watt por metro quadrado). Sendo assim, define-se a Lei de Stefan-Boltzmann da seguinte maneira. O poder emissivo (E) de um corpo negro (cn) é proporcional à quarta potência de sua temperatura absoluta (T). Matematicamente, expressa-se por: .σ= 4Ecn T Onde σ é a constante de radiação universal (5,67×10-8 W/m2K4). Importante consultar a relação entre comprimento da onda frequência no espectro eletromagnético. https://i.ytimg.com/vi/0_VROXn80I8/maxresdefault.jpg http://labcisco.blogspot.com/2013/03/o-espectro-eletromagnetico-na- natureza.html http://1.bp.blogspot.com/-ozrKid8wBdQ/UTGIMAK56JI/AAAAAAAAAjI/- xfmDFTVFd0/s1600/EE1.jpg https://estudodacor.files.wordpress.com/2014/08/espectro-eletromagnetico1. jpg 22 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS As ondas são matematicamente representadas através da simbologia da senoide, O comprimento da onda é representado pela letra grega lâmbda (λ) e equivale à distância entre os picos de duas ondas. Já a frequência equivale à quantidade de ondas existentes no intervalo de tempo de 1s (medida denominada Hertz). A pele, com uma temperatura que pode variar entre 30 e 35°C (303 e 308 K), emite esse tipo de radiação na zona do infravermelho. Ela também recebe a radiação emitida pelas superfícies vizinhas. A partir da equação da Lei de Stefan-Boltzmann, o fluxo de calor trocado por radiação, R (em W/m2), entre o corpo e o ambiente pode ser descrito com a seguinte expressão: Onde, σ é a constante de radiação universal (5,67×10-8 W/m2K4). ε é a emissividade da pele que, para radiação infravermelha, é igual a 0,97 e independente do comprimento de onda, e para a radiação solar é aproximadamente igual a 0,5 nas pessoas brancas e 0,85 em negros. AR/AD é a fração da superfície do corpo que participa das trocas, sendo da ordem de 0,66, 0,70 ou 0,77, dependendo se a pessoa está de cócoras, sentada ou em pé. FclR é o fator que reduz as trocas de calor radiação devido ao vestuário. Tsk (em K) é a temperatura média da pele. Tr (em K) é a temperatura radiante média do ambiente; isto é, a temperatura obtida pelo termômetro de globo, preto fosco com diâmetro de 150 mm. A expressão anterior pode ser substituída por uma equação simplificada semelhante à convecção: Onde, hr é o coeficiente de troca de radiação (W/°C m 2). A radiação eletromagnética, não ionizante, não necessita de um meio físico para se propagar. O ar é praticamente transparente à radiação infravermelha. As trocas por radiação entre o trabalhador e seu entorno, quando há fontes radiantes severas, serão as preponderantes no balanço térmico e podem corresponder a 60% ou mais das trocas totais. Percebe-se que do espectro de frequência das radiações eletromagnéticas apenas a faixa compreendida do vermelho ao azul, correspondente a frequência de 4,0.1014 Hz a 7,50.1014 Hz, sensibiliza o olho humano, chamada de luz visível. 23 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Considerando a velocidade da propagação eletromagnética da luz (c) de 3,0.108 m/s, bem como que essa velocidade é igual ao produto da frequência (f) pelo comprimento da onda, (ʎ), tem-se que a faixa visível varia 780 nʎ a 380 nʎ. Ou seja, quanto maior frequência, maior a energia, menor o comprimento de onda. A orelha humana percebe sons de 2,0.101 Hz a 2,0.104 Hz, que variam no ranger de 103, desde que compreendidos em pressões sonoras que variem de 2. 10-5 Pa a 2.102 Pa, enquanto os olhos enxergam a luz entre 4,0.1014 Hz a 7,50.1014 Hz, portanto na mesma ordem de grandeza. Tomando a frequência como referência, proporcionalmente, os seres humanos escutam mil vezes mais que veem. Evaporação é a mudança de fase líquido para vapor ao receber calor. É a troca de calor produzida pela evaporação do suor. O suor recebe calor da pele, evaporando e aliviando o trabalhador. Grandes trocas de calor podem estar envolvidas (a entalpia de vaporização da água é de 590 cal/gramasE .m todas as superfícies molhadas, existe uma camada de ar saturada com vapor de água. Se a atmosfera não estiver saturada, esse vapor se difunde desta camada para a atmosfera. A camada tende a regenerar absorvendo o calor de evaporação (0,674 watts hora por grama de água) da superfície molhada, que esfria. Se toda a pele estiver coberta de suor, a evaporação é máxima (Emax) e depende apenas das condições ambientais, de acordo com a seguinte expressão: Onde, he é o coeficiente de troca de evaporação (W/m 2 kPa). Psk,s é a pressão de vapor de água saturada na temperatura da pele (expressa em kPa). Pa é a pressão parcial de vapor de água no ambiente (expresso em kPa). Fpcl é o fator de redução da troca por evaporação devido às roupas. O mecanismo da evaporação pode ser o único meio de perda de calor para o ambiente na indústria. Porém, a quantidade de água que já está no ar é um limitante para a evaporação do suor, ou seja, quando a umidade relativa do ambiente é de 100%, não épossível evaporar o suor, e a situação pode ficar crítica. À medida que ocorre a sobrecarga térmica, o organismo dispara certos mecanismos para manter a temperatura interna constante, sendo os principais: a vasodilatação periférica e a sudorese. Calor sensível O calor sensível é a energia calorífica fornecida a um corpo ou objeto, que aumenta sua temperatura sem afetar sua estrutura molecular e, portanto, sua fase. Em geral, foi 24 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS observado experimentalmente que a quantidade de calor necessária para aquecer ou resfriar um corpo é diretamente proporcional à diferença de massa e temperatura do corpo. A constante de proporcionalidade é chamada de calor específico. Para aumentar a temperatura de um corpo é necessário aplicar certa quantidade de calor (energia). A quantidade de calor aplicada em relação à diferença de temperatura alcançada depende do calor específico do corpo, que é diferente para cada substância. O nome vem da oposição ao calor latente que se refere ao calor “oculto”, isto é, o calor é fornecido, mas não “percebido” como na mudança de fase do gelo para a água líquida e deste para o vapor. Todavia, o calor sensível é percebido, uma vez que aumenta a temperatura da substância, fazendo com que ela seja percebida como “mais quente”, ou, inversamente, se o calor é subtraído, é percebido como “mais frio”. O calor sensível pode ser calculado, à pressão constante, pela fórmula: . ∆=Q m c T onde Q é calor (cal ou J; m – massa (g ou kg); c - calor específico (cal/gºC ou J/kg.K) e ΔT – variação de temperatura (ºC ou K) Calor específico mede a quantidade de energia por massa que alguma substância precisa ceder, ou absorver, para ter a sua temperatura variada em 1ºC. No caso da água pura, por exemplo, e em condições normais de pressão, para variar sua temperatura em 1ºC é necessária 1,0 caloria para cada grama de água. Calor latente O calor latente é a quantidade de energia requerida por uma substância para mudar de fase, de sólido para líquido (calor de fusão) ou de líquido para gás (calor de vaporização). Deve-se levar em conta que esta energia na forma de calor é investida para a mudança de fase e não para um aumento na temperatura. Anteriormente, o termo calor latente era usado para se referir ao calor de fusão ou vaporização. O calor que é aplicado quando a substância não muda de fase e a temperatura varia é chamado de calor sensível. Quando o calor é aplicado a um pedaço de gelo, sua temperatura sobe até atingir 0°C (temperatura de mudança de estado). A partir desse momento, mesmo que o calor ainda seja aplicado, a temperatura não mudará até que esteja completamente derretida. Isso ocorre porque o calor é usado no derretimento do gelo. Quando o gelo derreter, a temperatura subirá novamente até atingir 100°C. A partir desse momento, a temperatura permanecerá estável até que toda a água se evapore. É possível que durante as trocas de calor com suas vizinhanças, um corpo apresente pressão, temperatura e volume que o levem a sofrer uma mudança em seu estado físico. https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-calor-especifico.htm 25 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Essas mudanças ocorrem em temperatura constante (para corpos compostos por uma única substância, sem impurezas), ou seja, apesar de estarem recebendo ou cedendo calor para o meio externo, a temperatura desses corpos não se altera. Isso só é possível porque toda a energia trocada, nesse caso, está sendo usada para alterar a conformação de suas moléculas. A partir do momento em que se “vence” a barreira energética e todo o conteúdo do corpo encontra-se em outro estado físico, o corpo continua a troca de calor com as vizinhanças, a menos, é claro, que a sua temperatura seja igual à temperatura externa. O calor latente pode ser calculado pela fórmula: .=Q m L sendo Q – calor latente (cal ou J), m – massa (g ou kg) e L – calor latente específico (cal/g ou J/kg). https://brasilescola.uol.com.br/fisica/calor-latente.htm 26 CAPÍTULO 2 Reações Fisiológicas ao Calor À medida que há um aumento de calor ambiental, ocorre uma reação no organismo humano no sentido de promover um aumento da perda de calor. Inicialmente ocorrem reações fisiológicas para promover a perda de calor, mas essas reações, por sua vez, provocam outras alterações, que, somadas, resultam num distúrbio fisiológico. Vasodilatação e vasoconstrição periférica. Vasodilatação ocorre quando a temperatura corporal aumenta, os vasos periféricos se dilatam e o sangue flui em maior quantidade próximo à pele, favorecendo a transferência de calor para o meio ambiente. Portanto, com o esforço do trabalho, a pele do trabalhador fica vermelha, pois é mais irrigada. Isso permite o aumento de circulação de sangue na superfície do corpo, aumentando a troca de calor com o meio ambiente. O fluxo sanguíneo transporta calor do núcleo do corpo para a periferia. Como a rede de vasos aumenta, pode haver queda de pressão hidráulica aplicada. Ao contrário, há vasoconstrição dos vasos epidérmicos como um dos primeiros processos que melhoram a conservação do calor. Quando a temperatura diminui, o hipotálamo posterior é ativado e, através do sistema nervoso simpático, ocorre uma diminuição no diâmetro dos vasos sanguíneos cutâneos. Esta é a razão pela qual as pessoas empalidecem com o frio. Esse efeito diminui a condução de calor do núcleo interno para a pele. Consequentemente, a temperatura da pele diminui e se aproxima da temperatura ambiente, reduzindo assim o gradiente que favorece a perda de calor. A vasoconstrição pode diminuir a perda de calor cerca de oito vezes ,. Muito importante consultar e visualizar sobre reação fisiológica humana à temperatura anormal. https://www.infoescola.com/fisiologia/temperatura-corporal/ https://es.dreamstime.com/stock-de-ilustraci%C3%B3n-control-de-la- temperatura-del-cuerpo-image60847755 sobre termorregulação por sudorese em https://consenfmh.blogspot.com/2013/07/sudorese-hiper-hidrose-suor- intenso.html. Sudorese. Quando o corpo está superaquecido, as informações são enviadas para a área pré-óptica, localizada no cérebro, em frente ao hipotálamo. Isso desencadeia a produção de suor. O ser humano pode perder até 1,5l de suor 27 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I por hora. Através dele ocorre a perda de água, o que leva à diminuição da temperatura do corpo. Isso permite a perda de calor por meio da evaporação do suor. O número de glândulas ativadas pelo mecanismo termorregulador é proporcional ao desequilíbrio térmico existente. A evaporação de um litro por hora permite uma perda de 590 kcal nesse período. O calor pode produzir efeitos que vão desde a desidratação progressiva e as cãibras até ocorrências bem mais sérias, como a exaustão por calor e o choque térmico. Os grandes candidatos a incidentes mais sérios são as pessoas não aclimatadas, ou seja, os “novatos” no ambiente termicamente severo. Quando o sistema termorregulador é afetado pela sobrecarga térmica, a temperatura interna aumenta continuamente, produzindo alteração da função cerebral, com perturbação do mecanismo de dissipação do calor, cessando a sudorese. O golpe de calor produz sintomas como: confusão mental, colapsos, convulsões, delírios, alucinações e coma sem aviso prévio, parecendo o quadro com uma convulsão epiléptica. Os sinais externos do golpe de calor são: pele quente, seca e arroxeada. A temperatura interna sobe a 40,5°C ou mais, podendo atingir 42°C a 45°C no caso de convulsões ou coma. O golpe de calor é frequentemente fatal e, no caso de sobrevivência, podem ocorrer sequelas devido aos danos causados ao cérebro, rins e outros órgãos. O golpe de calor pode ocorrer durante a realização de tarefas físicas pesadas em condições de calor extremo, quando não há a aclimatação e quando existem certas enfermidades, como o diabetes mellitus, enfermidades cardiovasculares e cutâneas ou obesidade. O médico deve ser chamado imediatamentee o primeiro socorro prevê que o corpo do trabalhador deve ser logo resfriado. Exaustão pelo calor ou síncope pelo calor resulta da tensão excessiva do sistema circulatório, com perda de pressão e sintomas como enjoo, palidez, pele coberta pelo suor e dores de cabeça. Quando a temperatura corpórea tende a subir, o organismo sofre uma vasodilatação periférica, na tentativa de aumentar a quantidade de sangue nas áreas de troca. Com isso, há uma diminuição de fluxo sanguíneo nos órgãos vitais, podendo ocorrer uma deficiência de oxigênio nessas áreas, o que compromete particularmente o cérebro e o coração. Essa situação pode ser agravada quando há a necessidade de um fluxo maior de sangue nos músculos devido ao trabalho físico intenso. A recuperação é rápida e ocorre naturalmente se o trabalhador se deitar durante a crise ou sentar-se com a cabeça baixa. A recuperação total é complementada por repouso em ambiente frio. Prostração térmica por desidratação: a desidratação ocorre quando a quantidade de água ingerida é insuficiente para compensar a perda pela urina ou sudação e pelo ar exalado. Com a perda de 5% a 8% do peso corpóreo, ocorre a diminuição da eficiência 28 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS do trabalho, sinais de desconforto, sede, irritabilidade e sonolência, além de pulso acelerado e temperatura elevada. Uma perda de 10% do peso corpóreo é incompatível com qualquer atividade, e com uma perda de 15% pode ocorrer o choque térmico ou golpe pelo calor. O tratamento consiste em colocar o trabalhador em local frio e fazer a reposição hídrica e salina. Prostração térmica pelo decréscimo do teor salino: se o sal ingerido for insuficiente para compensar as perdas por sudorese, podemos sofrer uma prostração térmica. As pessoas mais suscetíveis são as não aclimatizadas. A prostração térmica é caracterizada pelos sintomas: fadiga, tontura, falta de apetite, náusea, vômito e cãibra muscular. Cãibras de calor: apresentam-se na forma de dores agudas nos músculos, em particular os abdominais, coxas e aqueles sobre os quais a demanda física foi intensa. Elas ocorrem por falta de cloreto de sódio, perdido pela sudorese intensa sem a devida reposição e/ou aclimatação. O tratamento consiste no descanso em local fresco, com a reposição salina por meio de soro fisiológico (solução a 1%). A reposição hídrica e salina deve ser feita com orientação e acompanhamento médico. Enfermidades das glândulas sudoríparas: a exposição ao calor por um período prolongado e, particularmente, em clima muito úmido pode produzir alterações das glândulas sudoríparas, que deixam de produzir o suor, agravando o sistema de trocas térmicas e levando os trabalhadores à intolerância ao calor. Esses trabalhadores devem receber tratamento dermatológico e, em alguns casos, devem ser transferidos para tarefas em que não exista a necessidade de sudorese para a manutenção do equilíbrio térmico. Edema pelo calor: consiste no inchaço das extremidades, em particular os pés e os tornozelos. Ocorre comumente em pessoas não aclimatizadas, sendo muito importante a manutenção do equilíbrio hídrico-salino. A aclimatação é a adaptação do organismo a um ambiente quente. Quando um trabalhador se expõe ao calor intenso pela primeira vez, tem sua temperatura interna significativamente elevada, com aumento do ritmo cardíaco e baixa sudorese. Além de suar pouco, pode perder muito cloreto de sódio nesse suor. O indivíduo aclimatizado sua mais, consegue manter a temperatura do núcleo do corpo em valores mais baixos e perde menos sal no suor, mantendo também os batimentos cardíacos. A aclimatação ocorre por intermédio de três fenômenos: aumento da sudorese; diminuição da concentração de sódio no suor (4,0 g/l para 1,0 g/l) – a quantidade de sódio perdido por dia passa de 15 a 25 gramas para 3 a 5 gramas –; diminuição da frequência cardíaca, por meio do aumento do volume sistólico, devido ao aumento da eficiência do coração no bombeamento 29 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I em valores mais aceitáveis. A aclimatação é iniciada após quatro a seis dias e tende a ser satisfatória após uma a duas semanas. É o médico que deve avaliar se a aclimatação está satisfatória. O afastamento do trabalho por vários dias pode fazer com que o trabalhador perca parte da aclimatação. Após três semanas, a perda será praticamente total. Homeostase (homeostasia) é propriedade de um sistema aberto, especialmente em seres vivos, de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlado por mecanismos de regulação. Por exemplo, os músculos esqueléticos tremem para produzir calor quando a temperatura corporal é muito baixa; geração de calor pelo metabolismo de gordura. O suor arrefece o corpo por evaporação. Em resumo a este capítulo, diz-se que em condições normais, a temperatura do corpo permanece dentro de limites estreitos, com ações termorreguladoras brandas. Porém, durante a realização de atividade física a produção de calor aumenta, a sudorese é acionada, ocorre intensa vasodilatação cutânea e há a inibição dos calafrios e da termogênese química. Apesar da eficiência dos mecanismos termorreguladores, as altas temperaturas ambientais e a umidade do ar, juntamente com o trabalho muscular extenuante e a falta de aclimatação, podem levar a pessoa ao estresse por calor. Este pode ocorrer tanto em ambientes internos quanto externos para determinados ambientes laborais. As doenças térmicas brandas mais comuns, ou seja, que não comprometem o sistema termorregulador são a síncope e o edema por calor. Já as doenças relacionadas com quadro de desidratação e hipertermia configuram-se como emergência médica, devendo ser prontamente identificadas e tratadas para evitar maiores complicações. 30 CAPÍTULO 3 Avaliação dos parâmetros básicos do ambiente de trabalho Objetiva-se, neste capítulo, com base nos mecanismos de produção e perda de calor do organismo humano, descrever a interferência dos fatores físicos e ambientais no processo de termorregulação. Esses dados são relevantes para a avaliação de determinados ambientes de trabalho e um planejamento mais eficiente, do ponto de vista térmico, das instalações laborais, jornadas de trabalho e vestimentas de trabalho. Como visto, as trocas térmicas, por convecção, radiação e a evaporação, dependem de quatro parâmetros climáticos: a temperatura do ar - tbs, em °C, a umidade do ar expressa por sua pressão de vapor parcial Pa em kPa, a temperatura radiante média tr em °C, e a velocidade do ar, em m/s. Os instrumentos e métodos utilizados para medir estes parâmetros físicos do ambiente estão sujeitos à norma ISO 7726 (1985), no Brasil pela NHO 06 da Fundacentro, que descreve os diferentes tipos de instrumentos a serem utilizados, suas faixas de medição e precisão, além de recomendar procedimentos de medição. Esta seção resume parte do conteúdo desse padrão, com referência especial às condições de uso dos instrumentos e dispositivos mais comuns. Temperatura do ar A temperatura do ar (tbs) deve ser medida independentemente de qualquer radiação térmica e com uma precisão de ± 0,2°C entre 10 e 30°C e ± 0,5 °C fora dessa faixa. Existem muitos tipos de termômetros, embora os de mercúrio sejam os mais comuns. Sua vantagem está na precisão, sempre que foram calibrados corretamente no início; e como principais desvantagens, seu longo tempo de resposta e a incapacidade de realizar registros automáticos. Os termômetros eletrônicos, entretanto, geralmente têm um tempo de resposta muito curta (entre 5s e 1min), mas a sua calibração apresenta inúmeros problemas. Pressão parcial do vapor de água A umidade do ar pode ser caracterizada de quatro maneiras: i) temperatura do ponto de orvalho - temperatura na qual o ar satura com umidade (°C); ii) pressão parcial de vapor de água - fração da pressão de ar devido ao vapor de água - Pa (kPa); iii) Umidade relativa (URA),que é dada pela expressão: 31 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I ( ) , 100 %a s ta PURA P = onde PS,ta é a pressão de vapor saturado associada à temperatura do ar; iv) a temperatura do bulbo úmido (tbu), que é a temperatura mínima que atinge um bulbo rodeado por uma mecha molhada protegida contra radiação e ventilada a mais de 2 m/s pelo ar ambiente. Todos esses valores estão matematicamente relacionados. A pressão de saturação do vapor de água PS,t a qualquer temperatura t é dada por: 17,27 . 237,3 , 0,6105 t t s tP e += × enquanto a pressão parcial do vapor d’água está relacionada à temperatura pela expressão: , 15s tbu bs buPa P t t = − − ÷ onde PS,tu é a pressão de vapor saturado à temperatura de bulbo úmido. Uma forma mais amigável de operar essas variáveis é usar uma carta psicrométrica. Consulte na internet, por exemplo sugere-se carta psicrométrica da Carrier© (www.handsdownsoftware. com/CARRIER-Chart.PDF). Consultando essa ou outras cartas, é possível combinar todas essas variáveis. A seguir se descreve uma consulta a carta psicrométrica. A facilidade de usar esse diagrama reside no fato de que basta conhecer duas variáveis para se encontrar as demais. Por exemplo, no eixo x, a escala da temperatura do ar, lê- se o termômetro de bulbo seco (Tbs) com 25°C. Com o termômetro de bulbo úmido (Tbu), obtém-se 18°C, plotado na linha oblíqua retas de temperatura úmida. Na interseção dessas duas retas, encontra-se a umidade relativa do ar - URA, no caso, de 50%. Percebe- se, se continuar a subir na vertical da reta Tbs de 25°C, até interseção final com a linha curva de saturação (URA de 100%), que a Tbu será 25°C. Ou seja, quando Tbu e Tbs são iguais não há espaço vapor para dissolver agua líquida na massa de ar, dita saturada, URA = 100%. Em resumo, os cinco principais parâmetros a serem considerados na quantificação da sobrecarga térmica são: temperatura do ar; velocidade do ar; calor radiante; umidade relativa do ar; tipo de atividade (metabolismo). 32 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS Tabela 2. Cinco principais parâmetros considerados da sobrecarga térmica. Temperatura do ar, medida pelo termômetro T bs . A influência da temperatura do ar na troca térmica entre o organismo e o meio ambiente pode ser avaliada observando-se a defasagem, positiva ou negativa, existente entre a temperatura do ar e a temperatura da pele. Quando a temperatura do ar é maior que a temperatura da pele, o organismo ganha calor por condução-convecção. Do contrário, perde. Velocidade do ar - medida pelo anemômetro - pode alterar o intercâmbio de calor entre o organismo e o ambiente, interferindo tanto na troca térmica por condução-convecção como na troca térmica por evaporação. No mecanismo de condução-convecção, o aumento da velocidade do ar acelera a troca de camadas de ar próximas ao corpo, aumentando o fluxo de calor entre este e o ar. Carga radiante do ambiente - medida pelo termômetro T g . Quando um indivíduo se encontra em presença de fontes apreciáveis de calor radiante (considerável quantidade de radiação infravermelha), o organismo humano ganha calor pelo mecanismo da radiação. No estudo do calor, este fator não deve ser desprezado, pois contribui significativamente para a elevação da sobrecarga térmica. Umidade relativa do ar – URA, medida pelo higrômetro, influencia a troca térmica que ocorre entre o organismo e o meio ambiente pelo mecanismo da evaporação. Teoricamente, o organismo humano pode perder 600W/m2 pela evaporação do suor. Essa razão poderá ser diminuída em função da URA que igual a 100% dificulta a evaporação do suor para o meio ambiente. Perda de calor por evaporação será reduzida. Se, URA for de 0%, haverá condição para o organismo perder 600W/m2 para o ambiente. Nos dois extremos acima descritos, percebe-se: quanto maior é a umidade relativa do ar, menor será a perda de calor por evaporação. Metabolismo, por meio da atividade física da tarefa - Quanto mais intensa for a atividade física exercida pelo indivíduo, maior será o calor produzido pelo metabolismo. Para indivíduos que trabalham em ambientes quentes, o calor decorrente da atividade física constituirá parte do calor total ganho pelo organismo e, portanto, deve ser considerado na quantificação da sobrecarga térmica. Fonte: Próprio autor (2019) Avaliação do estresse por calor e índices de estresse por calor O estresse térmico ocorre quando o ambiente de uma pessoa (temperatura do ar, temperatura radiante, umidade e velocidade do ar), suas roupas e sua atividade interagem para produzir uma tendência de aumento da temperatura corporal. O sistema de regulação térmica do organismo responde para aumentar a perda de calor. Essa resposta pode ser poderosa e eficaz, mas também pode causar estresse no corpo, causando desconforto, doença ou até morte. Portanto, é importante avaliar ambientes quentes para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores. Os índices de estresse térmico fornecem ferramentas para avaliar ambientes quentes e estimar o estresse térmico ao qual os trabalhadores podem ser expostos. Os valores limites com base nos índices de estresse térmico indicam quando esse estresse pode se tornar inaceitável. Em geral, os mecanismos de estresse térmico são bem conhecidos e as práticas de trabalho para ambientes quentes são bem estabelecidas. Esses incluem: conhecimento dos sinais de alerta dos programas de estresse térmico, aclimatação e reidratação. Basicamente se usam três marcadores biológicos para avaliar estresse térmico: sudorese, frequência cardíaca e temperatura interna. A figura a seguir demonstra a variação de três indicadores de estresse térmico com níveis crescentes de estresse térmico ambiental. Na zona B, área da zona prescritiva (ZP), a temperatura interna do corpo permanece constante graças ao aumento da taxa de sudorese. Na zona C, zona de urgência ambiental (ZUA), a taxa de sudorese não 33 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I consegue mais aumentar, a temperatura do corpo se eleva. A transição de chama limite superior da zona prescritiva (LSZP). Figura 6. Três medições de carga térmica com níveis crescentes de estresse térmico. Fonte: Organización Mundial de la Salud (OMS). 1969. Health factors involved in working under conditions of heat stress. Technical Report 412. Ginebra: OMS. Estudo feito e integrado à enciclopédia da OIT concluiu que os distúrbios do calor ocorrem por um ou mais dos seguintes motivos: 1. a existência de fatores como desidratação ou falta de aclimatação; 2. apreciação inadequada dos perigos do calor, seja por parte das autoridades de supervisão ou pelas pessoas em situação de risco; 3. circunstâncias acidentais ou imprevistas que causam exposição a grande estresse térmico. Depreende-se que muitas das mortes são atribuídas à negligência e que, quando distúrbios ocorrem, é muito importante ter o necessário para administrar um tratamento correto e rápido. O estresse térmico ocorre quando o ambiente de uma pessoa (temperatura do ar, temperatura radiante, umidade e velocidade do ar), suas roupas e sua atividade interagem para produzir uma tendência de aumento da temperatura corporal. O sistema de regulação térmica do organismo responde para aumentar a perda de calor. Essa resposta pode ser poderosa e eficaz, mas também pode causar estresse no corpo, 34 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS causando desconforto, doença ou até morte. Portanto, é importante avaliar ambientes quentes para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores. Índices de estresse térmico Um índice de estresse térmico é um número único que integra os efeitos dos cinco parâmetros básicos em qualquer ambiente térmico ao qual um ser humano possa ser exposto, de modo que seu valor varia de acordo com o estresse térmico sofrido pela pessoa exposta a um ambiente quente. O valor do índice (medido ou calculado) pode ser usado para projetar práticas de trabalho, definir tarefas e estabelecer limitesde segurança. Inúmeras investigações foram conduzidas para determinar o índice definitivo de estresse térmico. Não existe, porém, acordo sobre qual seja o melhor. Há tendência à normalização, por exemplo, as ISO 7933 (1989b) e ISO 7243 (1989a) criaram pressões por uniformização a serem adotadas em todo o mundo. A maioria dos índices de estresse térmico considera, direta ou indiretamente, que o principal fator de estresse para o organismo está relacionado à transpiração., Por exemplo, quanto mais suor tiver de transpirar para atingir equilíbrio térmico mantendo a temperatura corporal interna, maior será o estresse imposto ao organismo. Para que um índice de estresse pelo calor reflita o ambiente térmico humano e sirva para prever o estresse térmico é necessária uma tabela de correspondência que estime a capacidade de uma pessoa, via transpiração, perder calor para um ambiente quente. Índices baseados na evaporação do suor são úteis quando as pessoas mantêm a temperatura corpo interno principalmente através da transpiração. Em geral, diz-se que essas condições estão na zona prescritiva. Assim, a temperatura corporal interna permanece relativamente constante enquanto a frequência cardíaca e o nível de transpiração aumentam com o estresse térmico. No limite superior à zona prescritiva (LSZP), a regulação térmica é insuficiente para manter o equilíbrio térmico e a temperatura corpo aumenta. É chamada de zona de emergência ambiental. Nesta área, o armazenamento de calor está relacionado à temperatura corporal interna e pode ser usado como um índice para determinar os tempos de exposição permitido (por exemplo, com base em um limite de segurança estabelecido manter uma temperatura interna de 38°C). Conforme figura acima, os índices de estresse térmico podem ser classificados como racionais, empíricos ou diretos: 35 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I 1. Os índices racionais são baseados em cálculos para os quais a equação de equilíbrio térmico é usada. 2. Os índices empíricos são baseados no uso de equações obtidas das respostas fisiológicas dos seres humanos (por exemplo, perda de suor). 3. Os índices diretos são baseados na medição (geralmente de temperatura) dos instrumentos utilizados para simular a resposta do corpo humano. 4. Os índices racionais mais importantes estão descritos a seguir. Índice de estresse térmico (Heat Stress Index - HSI) O índice de estresse térmico é a razão entre a evaporação necessária para manter o equilíbrio térmico (Ereq) e evaporação máxima que poderia ser alcançada naquele ambiente (Emax), expresso em porcentagem. ( ) 1 00 %EreqHSI x Emáx = O HSI está, portanto, relacionado ao estresse, fundamentalmente em termos de transpiração corporal, para valores entre 0 e 100. Com um HSI = 100, a evaporação necessária é a máxima possível e representa o limite superior da zona prescritiva. Com um HSI> 100, o calor é armazenado no corpo e os tempos de exposição permitidos são calculados à base de 1,8°C de aumento na temperatura corporal interna (calor armazenado de 264 kJ). Com um HSI <0, há uma ligeira carga por calor. Para fins interpretação dos valores do índice de estresse térmico (HSI) consulte valores a seguir. Tabela 3. Efeito HSI da exposição por oito horas Menos de 20 Estresse devido ao calor leve (por exemplo, durante o período de recuperação de exposição ao calor) 0 Estresse térmico não ocorre 10-30 Estresse por calor leve ou moderado. Ligeiro efeito no trabalho físico, mas possível efeito no trabalho qualificado 40-60 Estresse causado pelo calor intenso, o que representa um risco à saúde, a não ser que a pessoa esteja em muito boa forma física. Necessidade de aclimatação 70-90 Estresse por calor muito intenso. A equipe deve ser selecionada para um exame médico. Garantir o consumo adequado de água e sal 100 Estresse máximo tolerado diariamente por homens jovens fitness e climatizado Mais de 100 Tempo de exposição limitados pelo aumento da temperatura corpo interno Fonte: Organización Mundial de la Salud (OMS). 1969. Health factors involved in working under conditions of heat stress. Technical Report 412. Ginebra: OMS. Um limite superior de 390 W/m2 é atribuído ao Emax, equivalente à transpiração 1 l/h como a taxa máxima de transpiração mantida durante 8 horas. São feitas suposições 36 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS simples sobre os efeitos das roupas (camisa e calça de mangas compridas) e supõe-se que a temperatura da pele permaneça constante a 35°C. Índice de estresse térmico (Index of Thermal Stress – ITS) ITS é uma versão aprimorada do Índice de estresse térmico. Uma melhoria importante é que se reconhece que nem todo o suor evapora. Taxa de transpiração requerida (Required Sweat Rate – Swreq) Mais um avanço se deu com a melhoria teórica e prática incorporada no HSI e no ITS produzida pela introdução nos cálculos da taxa de suor requerida - SWreq. Consiste em um índice que calcula a transpiração necessária para alcançar o equilíbrio térmico a partir de uma equação aprimorada do equilíbrio térmico, porém, o mais importante é que constitui um método prático para interpretar os cálculos comparando o que é necessário com o que é fisiologicamente possível e aceitável no ser humano. Discussões extensivas e avaliações industriais e laboratoriais desse índice resultaram em sua Aceitação como Padrão Internacional ISO 7933 (1989b)2. 1. Os índices empíricos mais importantes são temperatura efetiva – TE, temperatura efetiva corrigida – TEC e Predição da frequência cardíaca (heart rate - HR) O Índice de Temperatura Efetiva – TE é criado em 1923 inicialmente para fornecer um método para determinar os efeitos relativos da temperatura e umidade do ar na sensação de bem-estar. A metodologia é bem simples, três pessoas julgam qual das duas câmaras aquecidas estava mais quente andando por elas. Usando diferentes combinações de temperatura e umidade do ar (e outros parâmetros), foram determinadas linhas equivalentes de bem-estar. As três pessoas descritas suas impressões imediatas e suas respostas transitórias foram registradas. O resultado foi que o efeito da umidade foi superestimado a baixas temperaturas e subestimado a altas temperaturas (em comparação com respostas em estado estacionário). A Temperatura Efetiva Corrigida - TEC veio dos experimentos de Bedford, em 1940, que ajustaram a substituição da temperatura do bulbo seco (Tbs) pela temperatura 2 As diferenças entre as respostas observadas e esperadas dos os trabalhadores motivaram a inclusão de notas de aviso com relação aos métodos de avaliação da desidratação e transferência de calor por evaporação através de roupas na Proposta de adoção como Norma Europeia (prEN-12515). 37 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I de globo (Tg) nos nomogramas (ábacos) de TE, pois em princípio a TE era apenas um índice de bem-estar. A TE é definida pela correlação entre as sensações de conforto e as condições de temperatura, URA e velocidade do ar. Antes do advento da Portaria no 3.214 de 8/6/1978, a TE era utilizada para a caracterização do trabalho em condições insalubres quanto ao calor. Atualmente, a TE é utilizada como parâmetro na determinação de conforto térmico pela Norma Regulamentadora - NR 17. Os instrumentos necessários para a quantificação das variáveis que compõem a TE são psicrômetro giratório e anemômetro. Predição da frequência cardíaca (Heart Rate - HR) A correlação entre batimentos por minuto de frequência cardíaca como índice térmico veio na forma de índice simples. O relacionamento, conforme formulado com a taxa metabólico – T, em BTU/h, e pressão parcial de vapor em mmHg, permitindo fazer uma simples previsão da frequência cardíaca de (T + p), daí o índice T + p. Houve avanço , ajustando equações para a variação da frequência cardíaca ao longo do tempo e correções para levar em conta o grau de aclimatação dos pessoas. A NIOSH (1986) descreve um método para prevera frequência cardíaca durante o trabalho e recuperação. A temperatura corporal e a frequência cardíaca são medidas durante o período de recuperação após um ciclo de trabalho ou em momentos durante o dia de trabalho. No final de um ciclo no trabalho, o trabalhador se senta, toma-se a temperatura oral e as três seguintes frequências de pulso: » P1: taxa de pulso medida entre 30 segundos e 1 minuto; » P2: taxa de pulso medida entre 1,5 e 2 minutos, e » P3: taxa de pulso medida entre 2,5 e 3 minutos. Critérios para estresse térmico pela ISO 9886 (1992): » Temperatura oral 37,5°C; » P3 ≤ 90 bpm e P3 - P1 = 10 bpm, indica uma carga de grande trabalho, embora com pequeno aumento temperatura corporal; » P3 > 90 bpm e P3 - P1 <10 bpm, estresse (calor + trabalho) é muito grande e devem ser adotadas medidas para reprojetar o trabalho. 38 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS 2. Índices diretos de estresse térmico. O Índice de Bulbo Úmido e Temperatura de Globo- IBUTG (Wet Bulb Globe Temperature Index - WBGT) IBUTG é, de longe, o mais usado em todo o mundo. Foi desenvolvido durante uma investigação feita pela Marinha dos Estados Unidos sobre acidentes por causa do calor sofrido pelo pessoal militar como uma aproximação à temperatura efetiva corrigida (TEC), porém mais complicada de se obter. Foi modificado para ter em conta a absorção solar dos uniformes militares de cor verde. Os valores limites do WBGT foram utilizados para determinar quando recrutas militares podiam receber instruções. Observou- se que os acidentes com calor e o tempo perdido devido à interrupção das instruções foram reduzidos quando o Índice WBGT era usado ao invés de apenas medir a temperatura do ar. O índice IBUTG foi adotado por NIOSH (1972), ACGIH (1990) e ISO 7243 (1989a) e seu uso ainda é recomendado hoje em dia, sendo obrigatório no Brasil para fins previdenciários, trabalhistas e tributários. A ISO 7243 (1989a), com base no índice IBUTG, descreve um método simples para usar em ambientes quentes, capaz de estabelecer um diagnóstico “rápido”. Essa regra inclui também as especificações dos instrumentos de medida, como os valores-limite do IBUTG para pessoas aclimatadas e não aclimatadas. Por exemplo, para uma pessoa aclimatada em repouso com uma roupa de 0,6 clo, o valor limite do IBUTG é de 33°C. Os limites estabelecidos pela ISO 7243 (1989a) e NIOSH 2016 são quase idênticos. Graças à simplicidade deste índice e sua aplicação por organizações influentes, sua ampla aceitação foi alcançada. Como todos os índices diretos, ele tem limitações quando usado para simular a resposta humana e deve ser usado com cautela em aplicações práticas. Existem instrumentos portáteis no mercado que medem o índice IBUTG. 39 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Figura 7. Critérios legais para exposição à temperatura anormal. Temperatura Anormal Calor NH0 06 - Procedimento Técnico NR 15 – Anexo III IBUTG e Metabolismo com e sem Carga Solar Análise Quantitativa Art. 253 da CLT Zonas Climáticas Mapa IBGE Análise Qualitativa Frio Fonte: Próprio autor (2019) Adota-se como norma padrão nesta obra a NR 06 da Fundacentro, que na sua segunda edição, 2017, revisada e ampliada, cancela e substitui a edição anterior, trazendo modificações e avanços técnicos, sendo os principais: adoção do watt (W) como unidade para taxa metabólica, com a adequação dos limites de exposição para trabalhadores aclimatizados; atualização da tabela para determinação de taxas metabólicas; estabelecimento de limites de exposição para trabalhadores não aclimatizados; estabelecimento de níveis de ação para trabalhadores aclimatizados; estabelecimento de limite de exposição valor teto; estabelecimento de correções no índice de bulbo úmido termômetro de globo (IBUTG) médio em função do tipo de vestimenta utilizada; introdução de considerações sobre avaliações a céu aberto; estabelecimento de região de incerteza sobre as condições de exposição para trabalhadores aclimatizados; introdução de um critério de julgamento e tomada de decisão em função das condições de exposição encontradas; introdução de considerações gerais sobre medidas preventivas e corretivas. Importantíssimo consultar NHO 06 - Avaliação da exposição ocupacional ao calor. Fundacentro, NHO 06, 2017. A legislação brasileira3 estabelece que a exposição ao calor deve ser avaliada pelo IBUTG dado como índice de sobrecarga térmica, definido por uma equação matemática que correlaciona alguns parâmetros medidos no ambiente de trabalho. A equação, para o cálculo do índice, varia em função da presença de carga solar no ambiente de trabalho, que se expressa: 40 UNIDADE I │ TEMPERATURAS ANORMAIS IBUTG 0,7 Tbn 0,3 Tg= + (sem carga solar) IBUTG 0,7 Tbn 0, 2 Tg 0,1 Tbs= + + (com carga solar) Onde, Tbn = temperatura de bulbo úmido natural; Tg = temperatura de globo e Tbs = temperatura de bulbo seco. Considera-se carga solar direta quando não há nenhuma interposição entre a radiação solar e o trabalhador exposto, por exemplo, a presença de barreiras como: nuvens, anteparos, telhas de vidro etc. Instrumentação São necessários medidores (sensores) que sejam capazes de mensurar os parâmetros acima, pois eles se relacionam com as trocas térmicas que influem na sobrecarga térmica do trabalhador. Os sensores para o índice que interessam ao cálculo do IBUTG são: » Termômetro de bulbo seco – Tbs é um termômetro comum, cujo bulbo fica em contato com o ar. Tem-se, dele, portanto, a temperatura do ar. Note que podem ser utilizados outros sensores similares aos termômetros de bulbo, como os termopares. A temperatura de bulbo seco (tbs) corresponde à temperatura do ar obtida por meio de um dispositivo constituído de: sensor de temperatura com amplitude mínima de medição de +10,0 °C a +100,0 °C, exatidão igual ou melhor que ± 0,5 °C e permitir leituras a intervalos de, no mínimo, 0,1 °C. Sensor de temperatura do ar protegido da radiação solar direta ou daquelas provenientes de fontes artificiais por meio de dispositivos que barrem a incidência da radiação e permitam a livre circulação de ar ao seu redor. » Termômetro de bulbo úmido natural – Tbn é um termômetro cujo bulbo é recoberto por um pavio hidrófilo, o qual tem sua extremidade imersa em água destilada. Outros arranjos de sensores, pavios e reservatórios são possíveis, desde que se preserve uma boa aeração do bulbo e pelo menos 25 mm de pavio livre de qualquer obstáculo, a partir do início da parte sensível do termômetro. A evaporação da água destilada presente no pavio refrigera o bulbo e depende da temperatura do ar; da velocidade do ar e da umidade relativa do ar. A temperatura do Tbn será sempre menor ou igual à temperatura do termômetro bulbo seco. Será igual quando a umidade relativa do ar for de 100%, pois o ar saturado não admite mais evaporação de água. Sem evaporação, não há redução da temperatura. Temperaturas 41 TEMPERATURAS ANORMAIS │ UNIDADE I Tbn e Tbs diferentes implicam umidade relativa do ar menor que 100%. Na fórmula do IBUTG, o peso do Tbn é de 70% exatamente pelo fato de essa temperatura depender da evaporação da água destilada presente no pavio do bulbo, temperatura do ar; da velocidade do ar e da URA. A temperatura de bulbo úmido natural (tbn) corresponde à temperatura obtida por meio de um dispositivo constituído de: sensor de temperatura revestido com um pavio tubular branco, confeccionado em tecido com alto poder de absorção de água, como, por exemplo, algodão, mantido úmido com água destilada, por capilaridade; reservatório de água com volume de água destilada suficiente para manter o pavio úmido por capilaridade durante todo o período de medição. No caso de equipamento convencional, esse reservatório deve ser um Erlenmeyer de 125 ml. O sensor deve ter diâmetro externo de 6 mm ± 1 mm, com amplitude mínima de medição de +10,0 °C a +50,0 °C, exatidão igual ou melhor que ± 0,5 °C e permitir leituras
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