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Conceito É uma doença autoimune inflamatória crônica caracterizada por sinovite periférica que, sem tratamento, evolui para erosões com deformidades irreversíveis Prevalência de 1% em brasileiros adultos Pico: 30 a 50 anos (meia idade) Mulheres 3:1 Em idosos: pesquisar paraneoplasias Autoimune É uma resposta imune exacerbada e disfuncional contra antígenos próprios. Desencadeantes Tabagismo (principal fator modificável) Alteração do microbioma intestinal Obesidade Infecções Alteração de HLA DRB1 – epítopo compartilhado (tem função de apersentar peptídeos cirulinado para linfócitos T, que ficam auto-reativos) Etiopatogenia Apresentação antigênica Ativação de TCD4+ Produção de autoanticorpos (anti-CCP e FR) Ativação de linfócitos B pelos linfócitos TCD4+ Citrulinização das proteínas (principalmente no pulmão modulado pela presença de fumaça de cigarro, periodontite ou alteração de microbioma) Linfócitos TCD4+ migram dos órgãos linfoides secundários para a membrana sinovial. Variantes genéticas em moléculas que controlam a resposta imune Quebra da barreira imunológica relacionada a fatores ambientais e microbioma Perda da autotolerância em geneticamente predispostos com ativação aberrante de respostas imunes inatas e adaptativas ARTRITE Estimulo de monócitos, macrófagos e fibroblastos sinoviais a produzir citocinas inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-alfa...) – pode estimular fator reumatoide (IgM contra IgG) Estimulo inflamatório sustentado = sinovite/erosão óssea Membrana sinovial proliferada, destruitiva e invasiva recebe o nome de Pannus Manifestações clínicas Poliartrite simétrica + rigidez matinal prolongada o Artrite = dor (artralgia) + edema Início geralmente é insidioso (ocasionalmente súbito) Pode haver sintomas sistêmicos: o Fadiga o Mal estar o Anorexia o Ocasionalmente febre baixa Rigidez matinal > 30 min o Dificuldade em mobilizar as mãos pela manhã o Tende a aliviar no decorrer da manhã com a movimentação das articulações Poliartrite simétrica o Inicialmente em punhos, metacarpofalangeanas, interfalangeanas proximais, metatarsofalangeanas, ombro e joelhos o Caráter simétrico e aditivo o Poupa interfalangeanas distais o Posteriormente pode acometer: tornozelos, cotovelos, interfalangeanas proximais dos pés, coluna cervical, esternoclaviculares, temporomadibulares, coxofemorais, cricoarteenóideas (rouquidão) Reversíveis: sinovite inflamatória inicial (= o edema é reversível, a dor também). Irreversíveis: deformidade causada pela sinovite persistente leva a destruição óssea e cartilaginosa, imobilização e alterações musculares, tendíneas e ligamentares. Deformidades articulares: o A doença progride rapidamente durante os primeiros 6 anos. o O curso da doença é imprevisível para cada paciente – alguns evoluem mais rapidamente e alguns nunca evoluem. o Deformidades das mãos: 1. Atrofias de interósseos 2. Desvio ulnar dos dedos (dedos em direção oposta ao polegar) 3. Mão em dorso de camelo (aumento do volume do punho e das metacarpofalangeanas). 4. Dedos em pescoço de cisne (lesão de tendão) 5. Dedos em botoeira (lesão de tendão) 6. Polegar em Z (para fora) o Deformidade dos cotovelos; Rigidez viciosa: semiflexão com semipronação dos antebraços; o Deformidades de pés e tornozelos: 1. Inicialmente acomete articulações metacarpofalangeanas e do tarso. 2. Pé plano pelo desabamento do arco anterior 3. Hálux valgo o Joelhos: 1. Posição de repouso e alívio da dor: semiflexão 2. Artrite ativa + atitudes viciosas: osteoartrose secundária, relaxamento dos ligamentos e tendões, gerando deformidades do tipo valgo ou varo o Coluna vertebral 1. Subluxação atlantoaxial: Distância entre apófise odontoide do áxis (C2) e o arco anterior do atlas (C1) ≥ 3mm a. Cervicalgia alta b. Rigidez do pescoço c. Maior mobilidade da primeira vértebra cervical, o atlas, sobre a segunda, o áxis d. Necessidade de uso de colar cervical, às vezes cirurgia, por risco de fratura/compressão medular * apenas C1 e C2 tem membrana axial o Articulação temporomandibular: dor local e dificuldade de mastigação o Articulação cricoaritenoidea: rouquidão Manifestações extra-articulares: Conferem pior prognóstico porque podem ser potencialmente graves Geralmente relacionadas a presença de fator reumatóide Nódulos reumatoides subcutâneos: o 30% dos pacientes – AR grave o Indolores o Superfícies extensoras articulares, em áreas submetidas à pressão e, mais raramente, em vísceras como olhos, pulmões e cordas vocais. Os nódulos pulmonares não podem ser diferenciados de outra etiologia sem biópsia. DD.: TB o Manifestação extra-articular mais comum Vasculite: causa úlceras nas pernas ou mononeurite múltipla o Purpuras digitais e periungueais Derrames pleurais ou pericárdicos o Exsudato linfocítico com glicose baixa, elevada desidrogenase láctica Infiltrado ou fibrose pulmonar Pericardite, miocardite Risco de cardiopatia isquêmica 3x maior Linfadenopatia Síndrome de Felty (AR + Esplenomegalia + Leucopenia) e de Sjögren. Síndrome de Caplan: AR+pneumoconiose Escleromalácia e episclerite (escleromalácea performans) Diagnóstico ≥ 6 = AR Exame físico: ● Palpação de todas as articulações potencialmente acometidas na AR → dor, edema ou calor, deformidades, nódulos... ● O teste do aperto (Squeeze test): elevada sensibilidade para avaliar a dor de maneira mais objetiva, sendo referida após o examinador comprimir as articulações metacarpofalangeanas ou metatarsofalangeanas. Autoanticorpos Fator Reumatoide: Não é patognomônico e não é útil para monitoramento Positivo em 70-80% - negatividade não exclui diagnóstico Níveis mais elevados se associam a doença agressiva, nódulos reumatoides e manifestações extra-articulares (pior prognnóstico) Presente em 5-10% pessoas saudáveis (idosos) Outras doenças: 70% dos pacientes com Sd. Sjögren; 20-30% LES; AIDS, endocardite bacteriana, tuberculose, sífilis, hanseníase, hepatite crônica... Anti-CCP: Especificidade superior à do FR (90-98%) Aparecimento mais precoce Indicador de gravidade – prognóstico mas não para monitoramento Um autoanticorpo + = AR SOROPOSITIVA Outros exames em pacientes com suspeita de AR: 1. Provas inflamatórias - VSG e PCR: correlação com atividade da doença 2. Sorologias para todos os pacientes: Excluir infecções virais: HIV, hepatites.. 3. Hemograma (não é parte do diagnóstico): anemia de doença crônica, leucocitose (infecção/atividade da doença), trombocitose (atividade da doença) Exames de imagem Radiografia de mãos/punhos e pés: Como avaliação inicial básica Para avaliação de progressão de doença/ avaliar necessidade de escalonar tratamento Manifestações radiológicas: Simetria – importante critério diagnóstico Osteopenia – alteração característica e precoce - Inicialmente periarticular – posteriormente difusa Aumento das partes moles – alteração precoce Redução do espaço articular simétrica Erosões ósseas justa-articulares Cistos ósseos e deformidades → Cisto em 5º MTF – muito típico de AR Desvio ulnar e subluxações (tardio) → usado para acompanhamento Fatores de Mau Prognóstico Início em idade precoce FR altos títulos Anti-CCP+ VHS e/ou PCR persistentemente elevados Artrite em > 20 articulações Manifestações extra-articulares Erosões em menos de 2 anos. Tabagismo Baixo níves socioeconômico Sexo feminino Diagnóstico diferencial ■ Artrites virais (hepatites, HIV e outras infecções) — podem levar a quadro de artrite ou artralgias, inclusive com FR positivo; ■ Artrite séptica — suspeitar, especialmente se for monoarticular e apresentarsinais de infecção sistêmicos; ■ Artrite reativa — suspeitar se o quadro articular for precedido por gastroenterite, doença sexualmente transmissível ou faringoamigdalite; ■ Espondiloartrites — suspeitar se houver dor em coluna de caráter inflamatório, psoríase (pessoal ou em familiar de primeiro grau) e doença inflamatória intestinal; ■ Polimialgia reumática — podem estar presentes artralgia sem artrite, rigidez e dor, especialmente em cintura pélvica e escapular; afeta pessoas acima de 50 anos de idade e apresenta resposta rápida a doses baixas de corticoide (10–15mg); ■ Artrite psoriática — podem manifestar-se alterações ungueais, dactilite, entesites, tenossinovites e artrite em padrões distintos (oligoartrite, espondiloartrite, poliartrite similar à AR e artrite de IFDs). Considerar psoríase cutânea pessoal ou em familiar de primeiro grau; ■ Osteoartrite — a forma primária poupa MCFs. Pode haver rigidez matinal, mas por menos de 30 minutos. A rigidez protocinética é característica e as provas inflamatórias são normais. ■ Lúpus eritematoso sistêmico (LES) — artrite normalmente não erosiva. Suspeitar na presença de outros achados sugestivos de LES (eritema malar, úlceras orais, fotossensibilidade, alterações hematológicas e renais); Tratamento Reavaliações clínicas com intervalos de 30 a 90 dias (DAS-28 – Art. Dolorosa e edemaciada, PCR) Meta: remissão ou baixa atividade da doença Em fases iniciais de tratamento ou períodos de crise/recidiva: Anti-inflamatórios não esteroidais devem ser usados com cautela, cuidando para interações (AINE + MTX = maior risco de toxicidade) Corticoide (prednisona): melhora dor e diminui inflamação, mas não impede a progressão da doeça e tem efeitos colaterais graves. o Usar pelo menor tempo possível e reduzindo a dose lentamente – NÃO USA MAIS QUE 20 mg! o Se o uso for tolerado, pode ser feito uso contínuo de prednisona 5mg pela manhã em casos reservados o Fazer prevenção da osteoporose com vit. D, cálcio e bifosfonados naqueles com uso crônico de doses > 7,5 mg/dia Medicamentos modificadores do curso da doença: Metotrexato (1ª escolha) Leflunomida Antimaláricos (difosfato de cloroquina e hidroxicloroquina) Sulfassalazina MTX: Antagonista do folato com efeitos imunossupressores em altas doses (inibe a síntese de DNA e, consequentemente, a proliferação celular) Age como anti-inflamatório, eficaz e rápido início (2 a 4 semanas) Cuidar pacientes com disfunção hepática/renal Evitar álcool Ácido fólico 10mg/semana pode ser usado para evitar náuseas e anemia o Evitar anemia macrocítica: 2cp 1x/semana (2 d após metotrexato) e uso diário para reduzir incidência de náuseas Iniciar 7,5 -10 mg VO ou SC, 1 vez por semana + ácido fólico o Pode aumentar a dose em intervalos de 4 semanas até 25 mg se tolerada e não adequada Monitorar com: hemograma completo, creatinina sérica e testes de função hepática o Antes do início do tratamento, 2 a 4 semanas enquanto aumenta a dose, de 4/4 meses quando dose estabelecida CI: gestação, Insuf. Renal e medular graves Combinações mais efetivas que drogas isoladas: MTX + leflunomida (+ usada); MTX + HXCQ +leflunomida Falha no tratamento (acrescenta ou troca de terapia): 1. Dose máxima tolerada sem melhora clínica suficiente 2. Necessidade de dose = ou > que 7,5 mg de prednisona 3. Progressão radiográfica Medicamentos de segunda linha (DMARD Biológico): Refratariedade a 2 DMARDS associados em dose máxima. 1. Alvo específico: inibidor da JAK – Tofacitinibe 2. Biológicos: o Mecanismo de ação dos imunobiológicos envolve efeitos sobre os componentes do sistema imune (células e citocinas). o Classificados pela estrutura molecular e a origem do DNA recombinado (anticorpo monoclonal, proteínas fusionadas, antagonistas dos receptores) o Maior risco de infecções – rastrear infecções ativas e latentes (tb, hepatites e HIV) o Atualização vacinal o Continuar uso de DMARD/MTX para inibir o desenvolvimento de anticorpos contra biológico e melhorar o grau clínico e radiográfico Infiltrações intra-articulares com corticoide: Podem controlar temporariamente a dor e o edema das articulações. No caso de artrite em várias articulações, escalona-se o tratamento sistêmico Referências: https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-1127.html Livro da sociedade brasileira de reumatologia, 2019. Rheumatology, 6th Edition, Hochberg et al. Reumatologia Diagnóstico e Tratamento, 4a Edição, Carvalho et al. Uptodate. https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-1127.html
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