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Obras Hidráulicas Aula 01 Apresentação da Disciplina Professora Vanessa Silva AULA 01 – Apresentação 12/Ago AULA 02 – Canais 19/Ago AULA 03 - Canais e galerias: dimensionamento hidráulico 26/Ago AULA 04 - Canais e Galerias: seções compostas e eficiência 02/Set AULA 05 - Canais: Estudo de Caso 09/Set AULA 06 - Sistemas de drenagem: parâmetros hidrológicos 16/Set AULA 07 - Sistemas de drenagem 23/Set AULA 08 - Controle de cheias: Microdrenagem 30/Set AV1 – 07 Out AULA 09 - Controle de cheias: Macrodrenagem 14/Out AULA 10 - Controle de cheias: estudo de caso 21/Out AULA 11 - Portos: fundamentos da hidráulica marítima e fluvial 28/Out AULA 12 - Portos: arranjo geral, canais, bacias e abrigos 04/Nov AULA 13 - Portos: aspectos técnicos de projeto e construção 11/Nov AULA 14 - Barragens: tipos e estabilidade 18/Nov AV2 – 25 Nov AULA 15 - Barragens: funcionamento e principais componentes 02/Dez AULA 16 - Barragens: aspectos de projeto 02/Dez Obras Hidráulicas Aula 02 Canais Professora Vanessa Silva Obras Hidráulicas “É uma benção sabe, é um ouro”! O agricultor Ademildo Alves de Souza expressa seu sentimento de alívio ao ver a água fluindo no município de Camalaú, na Paraíba. A mais de 170 anos uma população assolada pela seca nordestina aguarda ansiosa a conclusão do projeto de Transposição do Rio São Francisco, feita por meio de canalização e transporte de suas águas. Esse é um projeto controverso, mas que envolve uma obra hidráulica de grande relevância no cenário brasileiro, agregando valores econômicos, sociais, políticos e de meio ambiente. Mas o que é uma obra hidráulica de canalização? Que importância tem esse tipo de projeto no cenário nacional e mundial? Quer entender um pouco sobre esse assunto? Assista o vídeo e veja como está o sertão nordestino depois da chegada das águas da Transposição: https://youtu.be/frBzNBhF4EY Obras Hidráulicas Introdução Ainda que compreendamos o conceito de canais, sendo estes naturais ou artificiais, é comum ainda nos perguntarmos sobre a capacidade de transporte de água destes canais. Essa dúvida é corrente, pois ao observarmos o fluxo de água nos canais a céu aberto, por exemplo, percebemos que dependendo da época do ano, o nível da água estará mais alto ou mais baixo. Na época de estiagem, muito comum no inverno, o nível de água é um pouco mais baixo e na época de cheia, muito comum no verão, o nível de água é um pouco mais alto. Isso acontece devido ao volume de água que alimenta o canal. Mas de onde vem essa água? Uma resposta natural seria que essa água provém da chuva, por isso o nível de água no canal aumenta. Obras Hidráulicas Imagens 1 e 2 são fotos do Rio Trapicheiros e do Rio Joana, no Rio de Janeiro Obras Hidráulicas • Mas será que o canal está preparado para receber essa quantidade adicional de água? • Qual a vazão limite para um canal? • Qual deve ser sua forma geométrica? • Qual deve ser sua profundidade? • Porque os canais transbordam? • Existe um dimensionamento que possa determinar a capacidade de escoamento de um canal? Embora haja diversos aspectos que devem ser observados quando se trata de dimensionamento de canais, o dimensionamento hidráulico correto de um canal implica na assertividade do tratamento necessário às ações previstas ao seu monitoramento. Desta forma, é importante compreender desde sua geometria à influência que exerce a vazão de água sobre o canal. Obras Hidráulicas Escoamento de Canais O escoamento em canais pode ocorrer de modo permanente ou não permanente, onde a vazão é o principal mecanismo a determinar o tipo de escoamento. Obras Hidráulicas Escoamento de Canais De um modo muito simples verifica-se que o escoamento será permanente e uniforme, por exemplo, se a vazão for constante em determinada seção uniforme (ou seja, que não sofra variações) e que a profundidade e velocidade do canal sejam constantes. Sendo assim, se conhecermos a vazão do fluxo de água e o modo como seu escoamento se comporta ao longo do tempo, podemos determinar as características geométricas mais eficientes para o canal. Para tanto, alguns outros fatores serão agregados a este estudo, tais como a rugosidade das paredes do canal e a declividade do fundo do canal, que implicam diretamente no balanceamento entre a força que move a água e a resistência oferecida pelo atrito com a estrutura do canal. É, portanto, compreensível que, se houver um aumento na declividade do canal, a velocidade de escoamento será maior, portanto, para que seja mantido um balanceamento no fluxo, a rugosidade deveria ser aumentada, a fim de balancear as forças atuantes no sistema, por exemplo. Obras Hidráulicas Para que se compreenda essa dinâmica, recorda-se a aplicação da Equação de Bernoulli (Carga Mecânica Total em uma Seção de Escoamento Unidirecional, Incompressível e em Regime Permanente), considerando, neste caso, o canal como sendo prismático, o escoamento permanente, onde a vazão é a mesma nas duas seções e, a energia cinética se mantendo ao longo do escoamento. Logo, a declividade da linha de energia será igual à declividade de fundo do canal. Onde: HT = carga total existente na seção Z = diferença de cota entre o fundo do canal e o plano de referência y= diferença de cota entre o fundo do canal e a linha d’água v = velocidade do fluido g = aceleração da gravidade a = coeficiente de variação de velocidade na seção (variando de 1,0 a 1,1) He = carga específica 𝐻𝑇 = 𝑍 + 𝑦 + 𝛼 𝑣2 2𝑔 Obras Hidráulicas 𝐻𝑇 = 𝑍 + 𝑦 + 𝛼 𝑣2 2𝑔 Obras Hidráulicas A maior parte dos canais artificiais são calculados levando em consideração esse tipo de escoamento e que o mesmo seja suficientemente longo. Uma vez que a velocidade é considerada constante, reescreve-se a equação: Para a carga específica tem-se que: Entretanto, canais uniformes e de escoamento uniforme não existem na natureza. 𝐻𝑇 = 𝑍 + 𝑦 + 𝑣2 2𝑔 𝐻𝑒 = 𝑦 + 𝑣2 2𝑔 Obras Hidráulicas Embora se imagine que os canais artificiais prismáticos possam se aproximar dessa situação, essas condições de semelhança necessitam necessariamente que o ponto de análise esteja afastado o suficiente das seções inicial e final do canal, onde verifica-se que a uma maior variação de velocidade no fundo do canal. Percebe-se que, normalmente, na entrada do canal, o escoamento ocorre em condições variáveis de geometria e velocidade. O fluido percorre o canal movido pela força gravitacional, que provoca uma aceleração no escoamento, sofrendo influência da força de atrito, que causa uma força restritiva. À medida que o escoamento se desenvolve, ou seja, se afasta, ocorre o equilíbrio dessas forças, e o escoamento sempre tende para o escoamento permanente uniforme. Por este motivo, esta condição não se aplica para canais curtos. Sendo assim, uma análise criteriosa do fluxo deve ser feita, de modo a se verificar em quais pontos do canal o regime de escoamento uniforme poderá se alterar, passando a ser variado, em consequência de mudanças de declividade, variação de seção ou presença de obstáculos. Obras Hidráulicas Um caso comum, onde pode se observar essa mudança é em coletores de esgotos, que são dimensionados como canais de escoamento uniforme, porém o depósito de lodo nas paredes do canal e pequenos obstáculos provenientes de resíduos densos, provocam remando e ressaltos no escoamento da água fazendo com o que o movimento se afaste da uniformidade. Obras Hidráulicas Velocidade e Vazão de escoamento em Canais De um modo mais simplificado retorna-se a figura onde são mostradas as características do escoamento permanente, para serem apresentadas as componentes de força em um fluxo uniforme em canais abertos. Verifica-se que as forças atuando sobre o corpo livre na direção do fluxo incluem as forças de pressão hidrostática F1 e F2 atuando sobre o volume de controle (volume no trecho analisado, de extensão L), o peso do corpo de água nesta extensão, W e a força de atrito, Fat, exercida pelo canal em seu fundo e laterais no fluxo. Obras Hidráulicas ObrasHidráulicas Por uma questão de equilíbrio, o somatório de todas essas componentes de força na direção do canal deve ser igual a zero. Como não há alterações na profundidade da água quando se trata de fluxo uniforme, essa equação pode ser simplificada, pois F1=F2. Uma das condições assumidas é a de que a declividade do fundo do canal deve ser mínima ou até mesmo igual a zero em uma situação ideal. Sendo assim, partindo desta premissa entende-se que o ângulo Θ é tão pequeno que: 𝐹1 + 𝑊𝑠𝑒𝑛𝜃 − 𝐹2 − 𝐹𝑎𝑡 = 0 𝑊𝑠𝑒𝑛𝜃 − 𝐹𝑎𝑡 = 0 → 𝑊𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝐹𝑎𝑡 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑡𝑎𝑛𝑔𝜃 = 𝑆0 Obras Hidráulicas Quanto ao peso do corpo de água, W, é correto dizer que seu valor pode ser determinado por: Onde: Am = área da seção transversal normal ao fluxo, ou área molhada L= extensão do trecho g=unidade de peso da água Deste modo reescreve-se a equação: A força de atrito exercida pelo fundo e paredes do canal também pode ser escrita em função da força de resistência por unidade de área, ou seja, em função da tensão cisalhante, t0 e da área total do leito do canal que está em contato com a água que escoa. 𝑊 = 𝐴𝑚 × 𝐿 × 𝛾 𝐴𝑚 × 𝐿 × 𝛾 × 𝑆0 = 𝐹𝑎𝑡 Obras Hidráulicas Essa área de contato do canal com a água é conhecida como área molhada, Am. Já o perímetro molhado, Pm, é a linha que limita a área molhada junto às paredes e o fundo do canal, não abrangendo, portanto, a superfície livre das águas. Não se deve confundir a área se seção transversal de um canal com a área molhada, que trata da seção de escoamento. Obras Hidráulicas A relação existente entre a área molhada e o perímetro molhado é conhecida como raio hidráulico, Rh: Sendo assim, entende-se a força de atrito como sendo: Uma outra simplificação pode ser feita a partir do que é proposto por Chézy, assume que a tensão de cisalhamento referente ao leito do canal é proporcional ao quadrado da velocidade média por uma constante de proporcionalidade, ou seja: Logo, tem-se: 𝑅ℎ = 𝐴𝑚 𝑃𝑚 𝐹𝑎𝑡 = 𝜏0 × 𝑃𝑚 × 𝐿 𝜏0 = 𝑉 2 × 𝐾 𝐹𝑎𝑡 = 𝑉 2 × 𝐾 × 𝑃𝑚 × 𝐿 Obras Hidráulicas Retornando à igualdade anterior, pode se dizer o seguinte: Para tanto, se reescreve a equação em função da velocidade de escoamento do canal: Esta equação é reorganizada, de modo que o raio hidráulico seja evidenciado e também seja verificada a constante C, representada pela razão entre a unidade de peso da água, g, e a constante de proporcionalidade K. 𝐴𝑚 × 𝐿 × 𝛾 × 𝑆0 = 𝐹𝑎𝑡 → 𝐴𝑚 × 𝐿 × 𝛾 × 𝑆0 = 𝑉 2 × 𝐾 × 𝑃𝑚 × 𝐿 𝑉2 = 𝐴𝑚 × 𝐿 × 𝛾 × 𝑆0 𝐾 × 𝑃𝑚 × 𝐿 𝑉 = 𝐴𝑚 𝑃𝑚 × 𝛾 𝐾 × 𝑆0 → 𝑉 = 𝑅ℎ × 𝐶 × 𝑆0 Obras Hidráulicas Quando Chézy propôs esta expressão, C era um valor independente da rugosidade das paredes do canal, entretanto, ao estudar a proposição de Chézy e desenvolver seus modelos experimentais baseado em outros pesquisadores, Manning derivou a seguinte relação empírica: Onde, “n” é conhecido como coeficiente de Manning para rugosidade do canal, que tem valores típicos, de acordo com a superfície do canal. Estabelecido C, retorna-se para a equação da velocidade de escoamento do canal: 𝐶 = 1 𝑛 × 𝑅ℎ 1/6 𝑉 = 𝑅ℎ × 1 𝑛 × 𝑅ℎ 1/6 × 𝑆0 → 𝑉 = 1 𝑛 × 𝑅ℎ 2/3 × 𝑆0 1/2 Obras Hidráulicas Tratando-se de fluxo uniforme, é correto dizer que a declividade do fundo do canal S0 é igual a declividade da linha de carga, Se, então, a equação de Manning se torna: O coeficiente de Manning para rugosidade do canal é tabelado e pode ser obtido facilmente. Uma vez que a equação de Manning nos permite conhecer a velocidade de escoamento, é possível também verificar a vazão de escoamento, em termos de descarga, Q, de acordo com a relação: A seguir apresenta-se uma tabela, onde o coeficiente de Manning pode ser analisado de acordo com as condições do canal: 𝑉 = 1 𝑛 × 𝑅ℎ 2/3 × 𝑆𝑒 1/2 𝑄 = 𝑉 × 𝐴𝑚 → 𝑄 = 1 𝑛 × 𝑅ℎ 2/3 × 𝑆0 1/2 × 𝐴𝑚 Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas A área de água e o raio hidráulico são funções da profundidade da água, yn, que também é conhecida como profundidade uniforme ou profundidade normal, quando o fluxo é uniforme. Isto quer dizer que, embora o canal tenha uma altura pré-dimensionada, a altura da lâmina d’água é que influenciará no dimensionamento da velocidade e da vazão. Ao observarmos a figura onde o canal está preenchido com água, é possível perceber essa diferença. Obras Hidráulicas Aula 03 Dimensionamento Hidráulico Professora Vanessa Silva Obras Hidráulicas Dimensionamento Hidráulico Tanto os canais a céu aberto como os canais fechados apresentam características geométricas particulares que permitem seu dimensionamento, ainda que de modo preliminar. Apesar de se apresentar nas mais variadas formas, busca-se aproximar sua seção transversal de uma área de uma figura geométrica já conhecida, ou pelo menos uma combinação dessas áreas, onde seja possível desmembrá-las e associá-las. Para cada tipo de seção é estabelecida uma fórmula para a determinação dos parâmetros do canal. As formas geométricas de seções mais usuais são: retangular, trapezoidal, triangular e circular parcialmente cheia. A transposição do Rio São Francisco, por exemplo, é uma obra onde podemos observar em seus trechos área de seção transversal trapezoidal e paredes e fundo revestido com concreto. Obras Hidráulicas Seção Trapezoidal – Canalização do Rio São Francisco Sugerido Livro Engenharia Hidráulica HOUGHTALEN, R. J.; AKAN, A.O.; HWANG, N.H.C. Engenharia Hidráulica. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2012. Sugerido Trabalho Acadêmico Estudo de Caso de uma Seção Canalizada da Bacia do Córrego Botafogo na cidade de Goiânia-GO, Notas de Estudo de Engenharia Civil https://www.docsity.com/pt/estudo-de-caso-de-uma-secao-canalizada-da-bacia-do-corrego-botafogo-na-cidade- de-goiania-go/4902456/ Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas Exemplo: “Você foi contratado por uma empresa do ramo de agronegócio para apresentar um laudo técnico, onde consta o dimensionamento um canal de irrigação, em uma área onde o abastecimento contínuo de água é prejudicado durante o inverno, devido à estiagem. Após vistoriar a área você propôs que fosse construído um canal retangular com largura de 3,00 m e uma profundidade uniforme de 1,20 m. A empresa que o contratou pediu que o canal não fosse feito de concreto, pois há abundância de pedras na região e sugeriu que você, como engenheiro, desse uma solução alternativa. A solução apresentada por você e aceita pela empresa, foi utilizar gabião nas paredes e fundo do canal. Sabendo que a declividade do canal medida por você, em sua vistoria, é de 0,041, qual foi a vazão de escoamento determinada no laudo técnico apresentado? Obras Hidráulicas A princípio podemos calcular três parâmetros, baseados na geometria do canal, que são a área molhada, Am, o perímetro molhado, Pm e o raio hidráulico, Rh. Ao verificar que o revestimento do canal é de gabião, determina-se o coeficiente de Manning, n (valor tabelado), que neste caso é igual a 0,022. Como o fluxo é uniforme, é correto dizer que a declividade do fundo do canal S0 é igual a declividade da linha de carga, Se, logo, é possível determinar a velocidade média de escoamento, assim como a vazão. Obras Hidráulicas Quando resolvemos algum exercício que envolve cálculos, é comum nos preocuparmos com números, entretanto, o dimensionamento hidráulico envolve mais que isso. É necessário analisarmos as condições do entorno da obra a ser implantada. Se optássemos por utilizar uma outra seção transversal, o resultado obtido seria diferente. Se optássemos por utilizar um outro tipo de revestimento no canal, que mudasse a sua rugosidade, o resultado também seria diferente. Teríamos vazões diferentes e velocidades diferentes de escoamento. Sendo assim, é importante verificarmos as condições que norteiam nosso projeto, de modo a dimensionarmos o canal de modo eficaz e de modo a atender às reaisnecessidades do local onde será implantado. Obras Hidráulicas Exercício de Fixação: Vamos mudar um pouco essa história? Vamos utilizar outros parâmetros? Você foi contratado por uma empresa do ramo de agronegócio para apresentar um laudo técnico, onde consta o dimensionamento um canal de irrigação, em uma área onde o abastecimento contínuo de água é prejudicado durante o inverno, devido à estiagem. Após vistoriar a área você propôs duas soluções. Solução 1: que fosse construído um canal retangular com largura de 3,00 m e uma profundidade uniforme de 1,20 m. Solução 2: que fosse construído um canal retangular com largura de 2,00 m e uma profundidade uniforme de 1,80 m. A empresa que o contratou pediu que, para ambas as soluções, o canal fosse feito de concreto, nas paredes e fundo do canal (n=0,012). Sabendo que a declividade do canal medida por você, em sua vistoria, é de 0,030, qual foi a vazão de escoamento determinada no laudo técnico apresentado para as duas soluções? Obras Hidráulicas Aula 04 Seções Compostas e Eficiência Professora Vanessa Silva Obras Hidráulicas Seções Compostas Quando projetamos um canal é comum pensarmos que em relação à seção transversal teremos uma situação ótima, ou seja, o canal não terá nenhuma irregularidade e será possível manter a mesma seção durante todo o trajeto, entretanto, não é isso o que acontece na prática. É comum que a seção do canal seja “adaptada” às condições do relevo do fundo e laterais do canal, por exemplo, ou que sejam feitas otimizações da área da seção transversal de modo a se manipular a velocidade, ou a vazão de escoamento, em determinados trechos. Essa situação de irregularidade das paredes do canal é encontrada tipicamente em canais naturais a céu aberto e nestes casos, deve se fazer uma medida ponto a ponto do fundo do canal a fim de se ter uma aproximação maior de como realmente se comporta este canal em termos de velocidade e vazão de escoamento, devido ao relevo do fundo. Obras Hidráulicas Essa medição é chamada de Batimetria (ou batometria) e contempla a medição da profundidade dos oceanos, lagos e rios, sendo expressa cartograficamente por curvas batimétricas que unem pontos da mesma profundidade com equidistâncias verticais (curvas isobatimétricas), à semelhança das curvas de nível topográfico. Deste modo, pode acontecer de termos de analisar não uma seção transversal tabelada, por assim dizer, mas uma combinação de formas geométricas, ou uma aproximação deste perfil a figuras geométricas conhecidas, que nos leva a facilitar o cálculo da velocidade e da vazão de escoamento, que ocorrerá da mesma forma que em canais de forma geométrica única. https://youtu.be/63iWypTi478 - Batimetria https://youtu.be/oV5kPI9iVWc - Levantamento Hidrográfico por Batimetria https://youtu.be/63iWypTi478 https://youtu.be/oV5kPI9iVWc Obras Hidráulicas Os perfis transversais combinados mais comuns são: Mas pode haver uma grande variedade de combinações de seções de canais, como por exemplo: Desta forma, se supormos um canal de geometria combinada, como deveríamos analisa- lo? Obras Hidráulicas Exemplo: “Você foi contratado para uma consultoria à Secretaria Municipal de Obras, a fim de verificar o dimensionamento um canal combinado. Ao ter acesso ao projeto você verificou que se tratava de uma seção combinada. Você logo entendeu que a geometria do canal podia ser definida por uma combinação de figuras geométricas, tais como um retângulo e um triângulo. Considerando os dados de projeto como sendo a altura da lâmina d’água y0 de 0,30 m, uma declividade de 0,0005m/m e o coeficiente de Manning igual a 0,015, qual é a vazão de escoamento deste canal verificada por você, em sua consultoria? Obras Hidráulicas Inicialmente devemos dividir a seção do canal em figuras geométricas conhecidas, às quais já definimos como um retângulo de 1,0 x 0,30 m e um triângulo (metade de um quadrado na verdade, pois o ângulo apresentado é de 45º) de base 0,30 m e altura 0,30 m. Podemos assim calcular três parâmetros, baseados na geometria do canal, que são a área molhada, Am, o perímetro molhado, Pm e o raio hidráulico, Rh. Obras Hidráulicas Considerando o fluxo é uniforme, é correto dizer que a declividade do fundo do canal S0 é igual a declividade da linha de carga, Se, logo, é possível determinar a velocidade média de escoamento, assim como a vazão. Percebe-se neste caso uma velocidade muito baixa, que está associada diretamente à pequena declividade do fundo do canal. Uma declividade maior, por uma questão de gravidade, mantendo-se a mesma rugosidade de “n”, consequentemente proporcionaria uma velocidade de escoamento maior. Obras Hidráulicas Eficiência das Seções Ao analisarmos a seção transversal de um canal seria interessante nos perguntarmos: mas existe uma seção otimizada, que seja mais eficiente hidraulicamente? Se observarmos a equação do fluxo uniforme e considerarmos iguais a área de seção transversal e a declividade do canal, veremos que a seção com maior eficiência hidráulica é aquela que possui um maior raio hidráulico, pois consequentemente terá uma maior vazão de escoamento. Como o conceito de raio hidráulico envolve a divisão da área molhada pelo perímetro molhado, a seção de mesma área molhada e menor perímetro molhado será considerada a melhor seção hidráulica, ou seja, a seção mais eficiente. Por uma questão geométrica, o semicírculo possui, para uma determinada área, o menor perímetro e é a seção mais eficiente hidraulicamente comparado às demais seções, entretanto, ao otimizar a altura de lâmina d’água em sua plenitude, fazemos com que suas bordas sejam curvas nas margens, o que torna cara sua execução e dificulta sua manutenção. Obras Hidráulicas O conceito de seções hidraulicamente eficientes está submetido ao alinhamento do canal com os materiais utilizados no revestimento do mesmo, ou seja, a utilização de materiais erodíveis e não estabilizados, inviabiliza o conceito, pois implica no coeficiente de rugosidade, n. Desta forma, após a análise numérica das propriedades geométricas dos canais conclui-se que as seções mais eficientes hidraulicamente são: • Seções trapezoidais – meio hexágono; • Seções retangulares – meio quadrado; • Seções circulares – meio círculo (semicirculares). Obras Hidráulicas As seções mais usuais em canais artificiais é o trapezoidal em meio hexágono, que pode ser inscrito em um semicírculo com seu centro na superfície livre da água. Contudo essa condição depende do alcance do nível da água no topo da seção (borda livre do canal). É necessário que se garanta uma distância segura, acima da superfície da água, que evite ondas ou flutuações nas margens. Essa distância segura pode ser interpretada como uma área segura contra o transbordo em épocas de cheia, por exemplo. Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas Fluxo de Água em Canais Abertos Você já se perguntou porque é importante conhecer o fluxo de água em canais abertos? Afinal, o fluxo de um rio pode mudar de forma repentina? Com uma extensão de área tão grande, não seria possível prever uma mudança de fluxo da água previamente? Existem algumas particularidades relacionadas ao fluxo de água em canais abertos. Quando falamos em canais cuja geometria é manipulada, ou seja, quando há intervenções no fundo e na lateral dos canais para que estes se aproximem de uma forma geométrica pré-determinada, o fluxo de água nos canais tende a ser uniforme, principalmente se a profundidade da água permanecer a mesma ao longo de toda a extensão do canal. Mas essa não é única característica do fluxo de água em canais abertos. Ele pode ser classificado por dois critérios distintos. O critério de espaço, que verifica como fluxo se desenvolve mediante sua limitação geométrica e o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua evolução no tempo, como em um maremoto, por exemplo. Obras Hidráulicas Critério Espaço - Fluxo Uniforme Para que compreendamos como se comporta o fluxo de um canal, precisamos entender sua representaçãográfica. A representação de um segmento de um fluxo em canal aberto permite que esclareçamos as relações interdependentes entre a declividade do fundo do canal, a descarga, a profundidade da água e outras características do canal. Se a profundidade do canal não se mantém e há variações de altura da lâmina d’água no canal, podemos dizer que o seu fluxo é variável. Obras Hidráulicas Critério Espaço - Fluxo Variável Quando o fluxo é variável, ele pode ainda ser classificado em gradativamente variado e rapidamente variado, dependendo sempre se as alterações na profundidade do fluxo são graduais ou abruptas. Conclui-se que variações no canal que sejam abruptas implicarão em um fluxo rapidamente variado, portanto turbulento e que variações graduais implicarão em um fluxo gradativamente variado. É fácil perceber essa concepção de fluxo quando observamos o que acontece no processo de escoamento de águas pluviais para dentro de uma galeria (bueiro). Se houver pequenas pedras no caminho de escoamento da água (trajeto), o fluxo faz pequenas ondulações. Contudo, se houver um obstáculo maior, esse escoamento se torna turbulento e vemos a água “espumar”. Obras Hidráulicas Obras Hidráulicas Critério Tempo - Fluxo Estável e Fluxo Instável No fluxo estável a descarga e a profundidade da água em qualquer seção do percurso do canal não se alteram com o tempo durante o período considerado para a observação. Já no fluxo instável, ambas se alteram com o período considerado para a observação. A maioria dos fluxos uniformes em canais abertos é estável, sendo os fluxos instáveis muito raros. Obras Hidráulicas Desta forma, pode se dizer que canais a céu aberto de fluxo uniforme e estável: • Satisfazem a condição de que a profundidade da água, a área do fluxo, a descarga e a velocidade de distribuição devem permanecer as mesmas em todas as seções de toda a extensão do canal; • Satisfazem a condição de que a linha de energia, a superfície da água e o fundo do canal devem estar paralelos uns aos outros; • Não possuem nenhum tipo de aceleração ou desaceleração do fluxo d’água entre as seções. Obras Hidráulicas Aula 05 Canais: Estudo de Caso Professora Vanessa Silva Obras Hidráulicas Leia mais sobre o Canal de Cassiquiare no artigo Cassiquiare: O Canal da Integração Fluvial entre Brasil e Venezuela. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5533/1/BEPI_n18_Cassiquiare.pdf>. Conheça Os 3 Canais de Navegação mais Importantes da História. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/conheca-os-3-canais-de-navegacao- mais-importantes-da-historia/ . Assista sobre o Canal de Suez e descubra a sua importância para o desenvolvimento da política econômica entre três continentes. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Xw9IWLY-kHA. Assista o documentário Megaconstruções: O Novo Canal do Panamá (Dublado HD Completo) Documentário Discovery Channel. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rZkotTa9-Uo. https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/conheca-os-3-canais-de-navegacao-mais-importantes-da-historia/ Obras Hidráulicas Exercícios de Fixação: Questão 1: Presente desde a Antiguidade, a engenharia hidráulica nos remete a importância da água para a vida humana. É possível perceber a engenharia hidráulica em registros que apontam que por volta do ano 4000 a.C. foram construídos diques e canais de irrigação no Egito. Os diques eram grandes reservatórios para armazenar a água nos períodos de cheia e os canais direcionavam fluxo das águas para regiões distantes. Assim, se tornou possível utilizar a água na quantidade necessária e no momento certo, solucionando os problemas de cheias e secas no Egito na Antiguidade. Assim como os diques e canais de irrigação, podemos citar como obras da engenharia hidráulica: a) Aeroportos e viadutos b) Pavimentação de rodovias e terraplanagem c) Instalação de chuveiro e assentamento de alvenaria d) Barragens e portos e) Drenagem e pintura Obras Hidráulicas Questão 2: Tecnicamente definem-se como canais (ou condutos livres) aqueles condutos em que a superfície do líquido está sujeita à pressão atmosférica. Esse conceito difere do conceito do fluxo em tubos, pois no caso de tubos o fluxo preenche todo o “espaço livre do tubo” e as fronteiras que delimitam este fluxo são as paredes do tubo, além disso, há uma pressão hidráulica que varia de uma seção a outra ao longo do tubo. Sabendo que nos canais a água está sujeira à pressão atmosférica é incorreto afirmar que: a) Os rios podem ser considerados como canais a céu aberto b) As galerias podem ser consideradas como canais de contorno fechado c) Em canais de contorno fechado o fluxo preenche o canal inteiro d) O fluxo em canais a céu aberto possui uma superfície livre que se ajusta dependendo das condições de fluxo. e) O fluxo em tubulações preenche o canal inteiro. Obras Hidráulicas Questão 3: Quanto ao revestimento, podemos dizer que os materiais mais comuns utilizados para canais abertos são: a) Terra, terra armada, gabião, alumínio, pedra lascada e concreto b) Terra, terra armada, areola, enrocamento (rachão), pedra polida e concreto c) Terra, terra armada, gabião, enrocamento (rachão), pedra argamassada e concreto d) Terra, argila expandida, gabião, enrocamento (rachão), pedra argamassada e rejunte e) Terra, ferro fundido, gabião, pedras decorativas, pedra argamassada e concreto Gabarito: Letra c). Comentário: Quanto ao revestimento, podemos dizer que os materiais mais comuns utilizados para canais abertos são a terra, terra armada, gabião, enrocamento (rachão), pedra argamassada e concreto. Pode haver ainda uma combinação entre eles dependendo do canal. Obras Hidráulicas Questão 4: As travessias podem ser determinadas como: a) Embarcações responsáveis por levar pessoas, animais e veículos de uma margem a outra do canal b) Distância correspondente à extensão de um canal de contorno fechado (galeria) c) Estruturas submersas responsáveis por filtrar a água dos canais em período de seca d) Estruturas que permitem a passagem de uma margem à outra de um curso d’água para pessoas, animais, veículos, etc. e) Estruturas utilizadas para fazer a dragagem dos canais Gabarito: Letra d). Comentário: Travessias são estruturas que permitem a passagem de uma margem à outra de um curso d’água para pessoas, animais, veículos, água, gás, combustíveis, energia elétrica, telecomunicações, entre outros, por meio de pontes, cabos, condutos, túneis, etc. As travessias podem ser: aéreas, intermediárias e subterrâneas. Obras Hidráulicas Questão 5: Existem algumas particularidades relacionadas ao fluxo de água em canais abertos. Quando falamos em canais cuja geometria é manipulada, ou seja, quando há intervenções no fundo e na lateral dos canais para que estes se aproximem de uma forma geométrica pré-determinada, o fluxo de água nos canais tende a ser uniforme, principalmente se a profundidade da água permanecer a mesma ao longo de toda a extensão do canal. Mas essa não é única característica do fluxo de água em canais abertos. Ele pode ser classificado por dois critérios distintos que são: a) O critério de espaço, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua limitação geométrica e o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua evolução no tempo b) O critério de espaço, que verifica como fluxo se desenvolve mediante sua limitação pela gravidade e o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua queda livre c) O critério de espaço, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua limitação devida à rugosidade do canal e o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante a erosão do fundo do canal d) O critério de espaço, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua limitação geométrica e o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante a erosão das margens do canal e) O critério de espaço, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante sua limitação devida à rugosidade do canale o critério de tempo, que verifica como o fluxo se desenvolve mediante a durabilidade do canal
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