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REDAÇÃO 1 O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES O homem é um ser social. Ele não vive isoladamente no mundo, relaciona- se com outros e interage com os ambientes em que se insere. Tais relações se efetivam por meio de textos, os quais se valem quer da linguagem verbal, quer da linguagem não verbal, ou seja, constantemente somos intimados a produzir, analisar e interpretar os mais variados gêneros de textos, com os quais efetivamos nossos discursos e nos inserimos nos contextos sociais e comunicativos de que fazemos parte. Na sociedade em que vivemos estamos rodeados de textos na modalidade escrita. Esses textos vão desde os panfletos entregues no semáforo, passando pelos outdoors, rótulos de comidas, bulas de remédios, e-mails, WhatsApp, pichações nos muros até chegarmos aos textos profissionais e acadêmicos. Esses últimos sempre nos parecem mais “difíceis”, de elaboração e interpretação mais complexa, exigindo mais conhecimento. Com o intui to de aprofundar os conhecimentos , habi l idades e competências que permitem a elaboração, a leitura e a interpretação de textos escritos, surge este Curso de Redação. Nele, apresentamos questões que facilitam a compreensão do que é esse objeto (o texto) com o qual lidamos diariamente, bem como elementos que nos possibilitam elaborá-los e interpretá-los de forma adequada. Desse modo, este curso se divide em cinco unidades. A primeira dedica- se ao estudo do objeto texto. São discutidas questões referentes ao conceito de texto, a diferença entre texto e discurso e as especificidades do texto escrito. Além das questões teóricas, há exemplos que ilustram os conceitos e exercícios que promovem uma fixação dos conhecimentos construídos. A segunda unidade aborda a textualidade, elemento responsável por tornar um objeto escrito em texto. Nela, estudaremos os fatores de textualidade, tanto os que se relacionam diretamente com o texto como os que envolvem o seu contexto e o seu “recebedor”. Aqui, enfatizaremos a coesão e coerência, mas também veremos a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade. Já na Unidade 3, nos dedicaremos aos gêneros textuais e aos níveis de linguagem. No que se refere aos gêneros, procuraremos estabelecer a diferença entre tipo textual e gênero discursivo, enfatizando os gêneros notícia, artigo APRESENTAÇÃO de opinião, crônica e editorial. Sobre os níveis de linguagem, destacaremos os níveis adequados para a produção de textos escritos, principalmente os profissionais e acadêmicos. A Unidade 4, por sua vez, focaliza a leitura e a interpretação de textos, tanto verbais quanto não verbais. Além disso, apresentará as habilidades e competências necessárias para uma compreensão adequada dos textos que lemos, principalmente aqueles que dizem respeito ao nosso ambiente de estudo e ao nosso ambiente profissional. Assim, questões como a observação, análise, identificação, inferência, dedução, contextualização e interpretação serão trabalhadas, contribuindo para a construção de conhecimentos que aprimorem nosso ato de ler e interpretar. A última unidade aborda as especificidades do texto acadêmico. Nela, veremos as características deste gênero do discurso, ou seja, quais são os elementos que o constituem como tal. Procuremos nos deter em alguns gêneros mais comuns em nossas disciplinas, como o fichamento, o resumo, a resenha e o paper. Igualmente, como nas demais unidades, haverá exemplos e atividades para facilitar o processo de assimilação. Por fim, desejamos que este curso seja um instrumento valioso para sua produção textual, trazendo-lhe informações e conhecimentos necessários para auxiliá-lo nos atos de escrever, ler e interpretar, os quais são frequentes em nossas práticas sociais diárias. Bom trabalho e bom proveito!! Organização Elisabeth Penzlien Tafner Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI Autora Iara de Oliveira CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES .01 1 INTRODUÇÃO Para que possamos, acadêmico, atingir o objetivo de reconhecer as especificidades do texto para melhor analisá-lo e interpretá-lo, iniciaremos nossos estudos buscando entender o que é o texto. Por isso, deteremo-nos, neste primeiro capítulo, no conceito de texto, uma vez que o entendimento de suas dimensões é fundamental para uma prática textual adequada. Veremos também a diferença entre texto e discurso, bem como o que caracteriza um texto escrito. Vamos, lá? 1.1 O TEXTO Imagine a seguinte situação: Pedro e Paulo são amigos que acabaram de se encontrar. Estão colocando a conversa em dia, falando de amigos que não veem há bastante tempo e, em um determinado momento, Pedro diz: - Nossa! Faz tempo que não vejo o Antônio. Tem o número dele? - Anota aí: 55328952 Na situação que acabamos de retratar, temos: Pedro, produtor da fala, por isso chamado de enunciador; Paulo, aquele que está ouvindo e, portanto, considerado o enunciatário; e o que foi dito, chamado de texto. Observe que a fala de Pedro está inserida em um contexto de comunicação: uma conversa entre amigos, a lembrança de um amigo que não é visto com frequência, a solicitação de um meio para reestabelecer o contato. No entanto, se lermos novamente o texto de Pedro com atenção, perceberemos que há algo além das palavras “ditas/escritas”, permitindo o entendimento de toda a situação comunicativa. Se nos fixarmos exclusivamente no que está “dito/escrito”, sem considerarmos o que está nas “entrelinhas”, Paulo poderia apenas dizer “Tenho” e não passar o número do telefone, afinal, a pergunta foi “Tem o número CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES dele?”. No entanto, dentro deste contexto comunicacional, de acordo com os conhecimentos prévios que cada um dos participantes tem, percebe-se a intenção clara do enunciador: obter o número do amigo distante. A intenção com que o texto é produzido (solicitar, ordenar, afirmar, interrogar etc.), o contexto que envolve a produção e recepção desse texto é o que chamamos de enunciação. “A situação comunicativa como um todo, que envolve interlocutores, o assunto, o espaço e o tempo da comunicação, é chamada de enunciação e se relaciona com o discurso, que é a faceta dinâmica, viva do ato comunicativo” (SANTOS, 2010, p. 13). No exemplo, a enunciação fica entendida na pergunta, mas ela poderia estar claramente expressa na fala se ele dissesse: - Nossa! Faz tempo que não vejo o Antônio. Quero que, por favor, você me forneça o número de telefone dele. Quem sabe ligo ou mando uma mensagem para ele. Todos nós, usuários da comunicação verbal, temos um conjunto de conhecimentos prévios, os quais são chamados por alguns autores de repertório, acumulados ao longo de nossa trajetória como falantes de uma língua, que nos permite compreender as intenções dos textos. Entendemos que, muitas vezes, uma pergunta significa indiretamente um pedido: “Você tem algum dinheiro?”, “Tem horas?”. Em outras, é de fato uma indagação: “Ela sabia?”, “A que horas ela chega?” Ou há casos em que a pergunta é um auxiliar na comunicação, uma forma de reforçar o que está sendo dito e permitir que se siga adiante: “Sério?”, “Não é?”. Como fica evidente no que vimos anteriormente, de que um texto não pode ser entendido apenas como um conjunto de palavras, temos que o texto (escrito ou oral) se concretiza como parte de um processo maior que é a própria comunicação. Ele precisa de um enunciador, um enunciatário, uma intenção, um contexto (elemento primordial para sua significação) etc., para ganhar sentido, ter significação. Vamos imaginar outra cena: Pedro está em um ônibus, não há nenhum conhecido, senta ao seu lado um senhor e se estabelece a seguinte conversação: - Está quente hoje! – diz o senhor. - Sim, está e faz tempo que não vejo o Antônio. Tem o número dele? CURSO LIVRE - REDAÇÃO1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Parece conversa de malucos, não é? Então, vamos analisá-la mais detidamente. Há o enunciador, Pedro; há o enunciatário, senhor; mas qual é a intenção? Qual contexto gerou esta produção? Esses elementos não estão presentes, não existe um contexto enunciativo que possamos regatar, reconstruir. A que conclusão chegamos, considerando o que mencionamos no início deste tópico? Não temos um texto no que lemos acima. É importante enfatizar que o texto se concretiza com base em um conjunto de fatores. Reunir palavras não é o suficiente. “A criação de um texto envolve uma intenção, e seu entendimento envolve não apenas o conteúdo semântico – aquilo que o texto diz – mas a interpretação da intenção de quem o produziu” (ABREU, 2008, p. 11). Tudo o que vimos até agora deixa clara a perspectiva de que o texto é um ato comunicativo, não uma produção descontextualizada. Entendendo esta primeira dimensão, podemos aprofundar um pouquinho mais o seu conceito. Sigamos em frente! 1.1.1 O CONCEITO DE TEXTO E SUAS IMPLICAÇÕES Os estudos sobre o texto avançaram significativamente nas últimas décadas. Com eles, o texto deixou de ser visto como um elemento escrito composto por palavras e frases inter-relacionadas e passou a ser compreendido como algo mais amplo, dinâmico e como parte integrante de nosso dia a dia, de nosso processo de comunicação, de nossa inserção na sociedade. A palavra texto vem de textum (latim) e significa tecido. Como qualquer tecido no qual os fios são tramados para constituí-lo, também o texto é entrelaçamento de fios (palavras e orações) que formam o tecido (texto). Para entender melhor a ideia de que os textos são parte integrante de nosso cotidiano, observe os elementos a seguir: FONTE: Disponível em: <http://www.portugues.seed.pr.gov. br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=719>. Acesso em: 29 mar. 2016. FIGURA 1 – PROIBIDO FUMAR CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES FIGURA 2 – CARTAZ SOBRE DENGUE E CHIKUNGUNYA FONTE: Disponível em: <http://www.todamateria.com.br/texto-de-campanha- comunitaria/>. Acesso em: 29 mar. 2016. FIGURA 3 – GRÁFICO SOBRE A PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA DOS ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO, NA CIDADE DE SÃO PAULO FONTE: Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/veja-os-graficos- de-comparacao-da-distribuicao-dos-alunos-nos-niveis-de-proficiencia>. Acesso em: 29 mar. 2016. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES FIGURA 4 – CHARGE SOBRE A ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA FONTE: Disponível em: <http://morfossintaxeaps.blogspot.com. br/2012/11/sugestoes-de-textos-humoristicos.html>. Acesso em: 29 mar. 2016. FIGURA 5 – EMOTICON DE MEDO Responda rapidamente: quais das figuras expostas anteriormente você classificaria como um texto? Acertou quem afirmou TODAS. Veja que na figura 1, mesmo não havendo “palavras” todos conseguimos perfeitamente interpretá-la: no ambiente em que esta imagem se localiza é expressamente proibido fumar. Ela foi colocada lá pelas pessoas que trabalham, que vivem naquele ambiente, portanto, os enunciadores do texto, sendo direcionada para todos os que circulam por aquele local, os enunciatários. O mesmo acontece com a figura 5, há uma carinha expressando medo, utilizada para representar este sentimento nas conversações pela internet. Quando a colocamos em algum lugar, estamos dizendo a alguém: “estou com medo”. Nos dois exemplos não foram utilizadas palavras, apenas imagens, temos, dessa forma, um texto não verbal. FONTE: Disponível em: <http://br.depositphotos.com/63462997/stock- illustration-scared-emoticon-smiley-cartoon.html>. Acesso em: 29 mar. 2016. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES As figuras 2, 3 e 4 misturam imagens e palavras que se associam para criar o sentido do texto. Na figura 2, temos as informações fornecidas pelas autoridades competentes de como evitar a proliferação dos mosquitos transmissores da Dengue da Chikungunya. Seu enunciatário é a população brasileira. Todos aqueles que se deparam com o cartaz e convivem com a questão entendem o que significa e qual sua intenção. Na figura 3, temos os dados de uma pesquisa e que são destinados a conhecer melhor um determinado objeto de estudo, neste caso, a proficiência em língua portuguesa dos alunos do final do ensino médio em São Paulo. Já a figura 4 ironiza o emprego de palavras escritas de forma inadequada nos textos em geral e que vêm levantando polêmicas e discussões principalmente nos meios acadêmicos. Note que, ao observamos qualquer uma das f iguras anter iores , conseguimos construir seu significado e nos apropriarmos das informações nelas contidas. Todas apontam para uma situação comunicativa, ou seja, fazem sentido e estabelecem comunicação dentro de um determinado contexto, recuperado facilmente pelo enunciatário. Por isso, esses objetos são claramente reconhecidos como textos. Se ampliarmos essa dimensão, diremos que as interações humanas ocorrem por meio de textos dos mais variados gêneros. Como afirma Antunes (2010, p. 30, grifo do autor): “Por mais que esteja fora dos padrões considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situações de comunicação, são sempre textos”. Assim, podemos entender o texto como: [...] uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão (KOCH; TRAVAGLIA, 1992, p. 8-9). Resumindo o que estudamos até o momento, o texto se define como qualquer produção (oral ou escrita) com uma finalidade, que estabeleça comunicação em um determinado contexto, envolvendo um enunciador e um enunciatário. Tratemos, agora, de estabelecer as diferenças entre texto e discurso. Neste curso, por questões didáticas e em virtude de sua finalidade (auxiliar acadêmicos em suas produções textuais escritas), nos concentraremos nos textos escritos. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Para aprofundar seus conhecimentos sobre texto, recomendamos o livro: ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010. (Série estratégias de ensino, 21). Assista ao vídeo do professor: José Luiz Fiorin sobre a enunciação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc>. Acesso em: 29 mar. 2016. 1.2 O TEXTO E O DISCURSO Uma questão de suma importância para entendermos melhor o texto e, desse modo, aprimorarmos nossa produção e interpretação de textos, é distinguir texto e discurso. Há autores que afirmam serem ambos iguais, têm o mesmo significado. No entanto, preferimos a linha de pensamento que vê o texto como a “materialidade” do discurso. Vejamos o que isto quer dizer. Você certamente já ouviu ou leu a frase “O ser humano não é uma ilha”. Ela serve para mostrar que o sujeito não vive isolado, ele vive em sociedade e nas relações que estabelece com os demais sujeitos. Cada sociedade, por sua vez, apresenta ideais, ideologias, aspectos culturais, normas, princípios que são seus, que a marcam como tal. Assim, as sociedades são diferentes, mas inter-relacionam-se. Elas representam o contexto em que a comunicação se estabelece, afinal, como você já sabe, a comunicação é um ato social. Ninguém vive em sociedade sem estabelecer comunicação, por isso utilizamos os textos, como vimos no tópico anterior. Toda vez que nos comunicamos, ou seja, que produzimos um texto, nele se inserem todos os elementos que marcam uma determinada sociedade (formas de pensar, aspectos culturais, ideologias, marcas etnográficas, históricas, espaciais etc.). Para que o enunciatário possa compreender o texto e concretizar a situação comunicativa, fará uso dos conhecimentos que construiu nessa sociedade em que se insere,conhecimentos prévios e de mundo. Observemos o exemplo que segue: CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES FIGURA 6 – MAFALDA E MANOLITO FONTE: Disponível em: <http://portugues.uol.com.br/redacao/texto-discurso.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. Os quadrinhos 1 e 2 da tirinha mostram o contexto: dois personagens, Mafalda e Manolito, encontram-se no bairro onde vivem e estudam, e começam uma conversação acerca do fragmento de jornal que Manolito tem nas mãos. Temos dois indivíduos que desempenham papéis sociais, inseridos em uma sociedade em um determinado tempo e espaço, procurando interagir. Ainda no quadrinho 2, aparece a informação sobre mercado de valores, o que gera as perguntas do quadrinho 3, demonstrando que Mafalda está preocupada com as questões éticas, morais, sociais, para as quais dá o devido valor. No entanto, o quadrinho 4, ao trazer a afirmação “dos que servem para alguma coisa”, revela a crítica de que em um mundo capitalista, voltado para o mercado e o lucro imediato, valores éticos, morais ou humanos não são apreciados e, portanto, são descartados. A tirinha é um texto que materializa, em palavras e imagens, o contexto sócio-cultural-ideológico (sociedade ocidental, capitalista, do século XX) em que foi produzido, ou seja, transforma em um objeto concreto o discurso que o gerou. Nessa concretude (texto) estão as marcas do que o locutor pensa sobre o mundo em que vive, as características da sociedade em que se insere e suas posições político-ideológicas sobre este seu “estar em sociedade”. Vejamos um outro texto. Ele foi publicado na revista Housekeeping Monthly, em 1955. O guia da boa esposa 1. Tenha o jantar sempre pronto. Planeje com antecedência. Esta é uma maneira de deixá-lo saber que se importa com ele e com suas necessidades. 2. A maioria dos homens estão com fome quando chegam em casa, e esperam por uma boa refeição (especialmente se for seu prato favorito), faz parte da recepção calorosa. 3. Separe 15 minutos para descansar, assim você estará revigorada quando ele chegar. Retoque a maquiagem, ponha uma fita no cabelo e pareça animada. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES 4. Seja amável e interessante para ele. Seu dia foi chato e pode precisar que o anime e é uma das suas funções fazer isso. 5. Coloque tudo em ordem. Dê uma volta pela parte principal da casa antes do seu marido chegar. Junte os livros escolares, brinquedos, papel, e em seguida, passe um pano sobre as mesas. 6. Durante os meses mais frios você deve preparar e acender uma fogueira para ele relaxar. Seu marido vai sentir que chegou a um lugar de descanso e refúgio. Afinal, providenciando seu conforto, você terá satisfação pessoal. 7. Dedique alguns minutos para lavar as mãos e os rostos das crianças (se eles forem pequenos), pentear os cabelos e, se necessário, trocar de roupa. As crianças são pequenos tesouros e ele gostaria de vê-los assim. 8. Minimize os ruídos. Quando ele chegar desligue a máquina de lavar, secadora ou vácuo. Incentive as crianças a ficarem quietas. 9. Seja feliz em vê-lo. O receba com um sorriso caloroso, mostre sinceridade e desejo em agradá-lo. Ouça-o. 10. Você pode ter uma dúzia de coisas a dizer para ele, mas sua chegada não é o momento. Deixe-o falar primeiro, lembre-se, os temas de conversa dele são mais importantes que os seus. 11. Nunca reclame se ele chegar tarde, sair para jantar ou outros locais de entretenimento sem você. Em vez disso, tente compreender o seu mundo de tensão e pressão, e a necessidade de estar em casa e relaxar. 12. Seu objetivo: certificar-se de que sua casa é um lugar de paz, ordem e tranquilidade, onde seu marido pode se renovar em corpo e espírito. 13. Não o cumprimente com queixas e problemas. 15. Deixe-o confortável. Faça com que ele se incline para trás numa cadeira agradável ou deitar-se no quarto. Dê uma bebida fria ou quente pronta para ele. 16. Arrume o travesseiro e se ofereça para tirar os sapatos dele. Fale em voz baixa, suave e agradável. 17. Não faça-lhe perguntas sobre suas ações ou que questionem sua integridade. Lembre-se, ele é o dono da casa e, como tal, irá sempre exercer sua vontade com imparcialidade e veracidade. Você não tem o direito de questioná-lo. 18. Uma boa esposa sabe o seu lugar. FONTE: GUIA da boa esposa. Housekeeping Monthly, 1955. Disponível em: <http://awebic.com/cultura/ guia-boa-esposa-1950/>. Acesso em: 2 abr. 2016 O texto, como você pode notar durante a leitura, reflete a forma de pensar de uma sociedade (Estados Unidos, década de 50, do século XX, mas aplicável às sociedades ocidentais da época) sobre a mulher. Fica evidente que a proposta deste escrito é mostrar às mulheres que elas devem ocupar- se da casa, dos filhos e do marido, não se envolvendo com qualquer outra atividade ou pensamento que as afastem disso, ou seja, os redatores da revista defendem a visão de que o lugar da mulher é em casa, submissa ao CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES marido e a transmitem em seu “guia”. Não se esqueça de que na década de 50 do século XX, já havia movimentos buscando igualdade entre homens e mulheres, equidade de direitos e deveres, uma maior atuação da mulher nos postos de trabalho e nas questões sociais. O texto, então, traz o discurso de uma parcela da sociedade (ainda maioria naquele momento) que, contrária às mudanças, segue vendo a mulher como uma espécie de “organizadora” da casa, responsável pela harmonia doméstica e totalmente alheia ao que ocorre além dos portões de seu quintal. Uma verdadeira “Rainha do Lar” como foi “carinhosamente” denominada por tanto tempo. Se fossemos adiante nesta ilustração, poderíamos verificar como essa visão foi se modificando nos textos das décadas seguintes, chegando às perspectivas que hoje circulam em nossas sociedades. No entanto, nosso foco aqui não é discutir a visão da mulher e sua emancipação (embora este seja um tema tão relevante quanto tantos outros em nossa esfera social), mas mostrar como os discursos se materializam nos textos que produzimos. Desse modo, podemos conceber discurso como a produção e as trocas de efeitos de sentido, ocorridas em um dado contexto social, orientadas para uma determinada intenção comunicativa. Isso significa dizer que o discurso é dinâmico, pois é interativo e dialógico, estabelece vínculo com outros discursos; estabelece-se dentro de uma esfera social (familiar, de trabalho, jornalística, publicitária etc.); envolve sujeitos que desempenham papéis sociais; é constituído histórica e geograficamente, traz as marcas da época e do lugar em que é/foi produzido; é regulamentado pelas normas sociais de conduta; orienta-se para um determinado objetivo comunicacional. Questões que pudemos verificar na tirinha e no texto que trouxemos como exemplos. Sendo o discurso o processo mencionado anteriormente: uma atividade social, histórica e geográfica de produção de enunciados; precisa materializar- se em um instrumento que concebemos como texto. Por isso, a importância de estudarmos o texto e suas relações. Resumindo o que vimos neste item, trazemos as afirmações de Abreu (2008, p. 11): [...] podemos dizer que o texto é um produto de enunciação, estático, definido e, muitas vezes, com algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo. O discurso, entretanto, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de textualização e só termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de interpretação. Nesse sentido, podemos dizer, também, que o discurso é histórico. Ele é feito, em princípio, para uma ocasião e público determinado. Como neste curso nos preocupamos um pouco mais com a escrita, passaremos, a seguir, a estudar o texto escrito e seus componentes. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES 1.3 O TEXTO ESCRITO Os textos podem ser produzidos tanto de forma oral quanto de forma escrita. No entanto, cada um deles possui dimensõesque lhes são próprias e as distinguem uns dos outros. Ao dizer isso, não estamos de modo algum afirmando que os textos escritos são melhores que os orais ou vice-versa, estamos única e exclusivamente expondo que são duas modalidades diferentes de produção textual. Em virtude dessa perspectiva, comecemos por estudar as diferenças entre eles. 1.3.1 O texto oral e o texto escrito Já vimos que nos comunicamos por meio de textos. Esses textos podem ser falados ou escritos, dependendo das situações comunicativas das quais participamos. Se, por exemplo, estamos caminhando em um lugar desconhecido, estamos um pouco perdidos e precisamos chegar a um local específico, paramos alguém e lhe pedimos informação. Esse é um texto falado, pois no contexto exposto não vamos escrever e entregar o papel para a pessoa esperando que ela escreva a resposta, não é mesmo? Da mesma forma, quando em sala de aula o professor nos pede para que façamos uma redação, mesmo que depois a leiamos em voz alta, ela está na modalidade escrita. É conveniente que saibamos as diferenças entre essas duas modalidades de produção textual, porque cada uma delas tem características que lhes são próprias e por mais que tentemos aproximar uma da outra, não podemos confundi-las ou misturá-las. Quando um de nossos professores nos pede algum tipo de produção escrita, ele não espera encontrar elementos como: “né?”, “tipo”, “então... , então... , então...”, “daí.. .” porque eles são típicos de produções orais. Nossos professores esperam um texto planejado, com um vocabulário adequado para o contexto acadêmico, com uma linguagem mais formal e uma correção textual. Vale destacar que textos orais e textos escritos não são opostos, como já mencionamos anteriormente, não estão em polos diferentes. Lembre- se de que existem níveis de linguagem e gêneros discursivos para cada situação comunicativa, questões que veremos mais adiante neste curso. Há os textos orais, produzidos “face a face”, que ocorrem em uma interação entre enunciador e enunciatário, os quais trazem repetições, fragmentações etc., mas há textos orais, como os que ocorrem em palestras, conferências, em que o texto oral se aproxima da escrita. Igualmente, há textos escritos que se aproximam da oralidade, como os que vemos em alguns blogs ou em seções específicas de jornais e revistas, ou seja, em conformidade com o contexto, os textos, quer orais, quer escritos, sofrem adequações. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Veja como Marcuschi aborda a questão dos textos orais e escritos na figura a seguir: FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DO CONTÍNUO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NA FALA E NA ESCRITA FONTE: Marcuschi (2003, p. 41). 1.3.1.1 O texto oral Koch e Elias (2009) afirmam que durante bastante tempo esteve vigente a ideia de que linguagem oral e linguagem escrita (estendendo a perspectiva para textos orais e escritos) eram opostas, surgindo, inclusive, uma espécie de quadro de diferenças que as autoras reproduziram em seu livro e que mostraremos a seguir: CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Fala Escrita Contextualizada Descontextualizada Implícita Explícita Redundante Condensada Não planejada Planejada Predominância do modus pragmático Predominância do modus sintático Fragmentada Não fragmentada Incompleta Completa Pouco elaborada Elaborada Pouca densidade informacional Densidade informacional Predominância de frases curtas, simples e coordenadas Predominância de frases complexas, com subordinação abundante Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas Poucas nominalizações Abundância de nominalizações Menor densidade lexical Maior densidade lexical QUADRO 1 – DIFERENÇA ENTRE FALA E ESCRITA FONTE: Koch; Elias (2009, p. 16). Observando o quadro mais detidamente, notamos que as características de cada uma das modalidades se apoia em opostos: maior/menor; pouco/ muito; pequena/grande; completa/incompleta. Já sabemos, pelo que vimos nos tópicos anteriores e por nossos conhecimentos prévios, que essa dicotomia/oposição não procede. As próprias autoras afirmam que o quadro não representa a realidade porque algumas das características apresentadas são aplicáveis às duas modalidades e porque tais atributos foram estabelecidos, tendo os textos escritos como referência, considerados durante um longo tempo nos estudos gramaticais e linguísticos, como ideais, como “corretos” (KOCH; ELIAS, 2009). Para elucidar a questão, as mesmas autoras apresentam as características próprias da oralidade, visíveis nos textos orais: • [...] é relativamente não planejável de antemão, o que decorre de sua natureza altamente interacional; isto é, ela necessita ser localmente planejada, ou seja, planejada e replanejada a cada novo lance do jogo da linguagem; • o texto falado apresenta-se em se fazendo, isto é, em sua própria gênese, tendendo, pois, a por a nu o próprio processo da sua construção. Em outras palavras, ao contrário do que acontece com o texto escrito, em cuja elaboração o produtor tem maior tempo de planejamento, podendo fazer rascunhos, proceder revisões e correções, modificar o plano previamente traçado, no texto falado planejamento e verbalização ocorrem simultaneamente, porque ele emerge no próprio momento da interação; • o fluxo discursivo apresenta descontinuidades frequentes, determinadas por uma série de fatores de ordem cognitivo-interacional, as quais têm, portanto, justificativas pragmáticas de relevância; CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES • o texto falado apresenta uma sintaxe característica, sem, contudo, deixar de termo como pano de fundo a sintaxe geral da língua; • a escrita é resultado de um processo, portanto, estática, ao passo que a fala é processo, portanto, dinâmica. (KOCH; ELIAS, 2009, p. 16-17). Desse modo, considerando as afirmações de Koch e Elias (2009), o texto oral se concretiza de imediato, seu sentido é verificado concomitantemente a sua produção. Já está inserido em um contexto e o interlocutor, enunciatário da mensagem ou da informação está presente, é participante, ajuda a construí- lo. Sua interpretação ocorre quase ao mesmo tempo em que sua produção. Inclusive, as repetições, correções, hesitações que ocorrem ao longo de uma conversação são recursos próprios desta modalidade e responsáveis por parte de sua estruturação. Em virtude disso, devem ser considerados quando analisamos um texto oral. Reproduzimos, a seguir, um fragmento de fala, transcrito apenas para ilustrar o que acabamos de estudar sobre os textos orais: [...] como no texto anterior...se bem que vocabulário deve ser trabalhado da mesma forma...não se esqueçam de trabalhar o vocabulário sempre dentro do contexto... pra que seja escolhida a acepção que mais couber dentro do contexto..outros aspectos que a gente poderia pensar em...em destacar aqui nesse texto...seriam aqueles aspectos de linguagem...que saltam diretamente aos olhos desde que a gente analisa... (SANTOS; CABRERA; GÓES, 2008, p. 7). Note que o texto citado traz repetições, lacunas, marcadores de oralidade como “se bem que”, “a gente”, “saltam...aos olhos”, os quais são adequados ao texto oral, porque, como vimos, esta modalidade apresenta uma estrutura que permite tais recursos. O que não ocorre na modalidade escrita, como veremos a seguir. Para saber mais sobre a diferença entre a escrita e a fala, assista ao vídeo do professor Marcuschi. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=XOzoVHyiDew&nohtml5=False>. 1.3.1.2 O texto escrito Houve um tempo em que a escrita era para poucos. Somente um pequeno grupo da sociedade detinha o conhecimento da escrita e, portanto, era-lhe conferido o poder. Hoje, todos temos acesso à escrita e somos diariamente convocados a praticá-la. Pense em quanto tempo por dia você leva lendo e respondendo e-mails, conversas pelo WhatsApp, Skype ou qualquer outro comunicador instantâneo, atualizando suas redes sociais, alimentando-ascom novos textos, lendo e interpretando placas, cartazes, anúncios publicitários on-line etc. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Por conta dessa “socialização” da escrita ao longo dos tempos, a forma de concebê-la também passou por transformações. Uma corrente de pensamento, normativa e tradicionalista, concebia a escrita com foco na língua. Para escrever bem, dominar a escrita, era necessário conhecer as normas gramaticais e ter um amplo vocabulário. Essa visão continha uma perspectiva de linguagem como um sistema fechado, pronto e acabado. O texto, portanto, era tido como o produto de uma codificação. Outra corrente concebia a escrita com foco no escritor. Nela, a escrita é a expressão do pensamento. O texto é visto como fruto do pensamento, como resultado de uma atividade “por meio da qual aquele que escreve expressa seu pensamento, suas intenções, sem levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor ou a interação que envolve esse processo” (KOCH; ELIAS, 2009, p. 33). Por fim, a corrente que vigora hoje, a qual nos parece mais adequada a concepção de texto mantida na atualidade, é a escrita com foco na interação. [...] a escrita é vista como produção textual, cuja realização exige do produtor a ativação de conhecimentos e a mobilização de várias estratégias. Isso significa dizer que o produtor, de forma não linear, “pensa” no que vai escrever e em seu leitor, depois escreve, lê o que escreveu, revê e reescreve o que julga necessário em um movimento constante e on-line guiado pelo princípio interacional (KOCH; ELIAS, 2009, p. 34). Desse modo, a escrita é entendida como não apenas o domínio das regras gramaticais e vocabulário, ou dos pensamentos do escritor, mas fruto da interação entre enunciador-contexto-enunciatário-intenção comunicativa. Todo texto é relacional e coletivo. É produzido num determinado tempo histórico por um enunciador para um enunciatário real ou virtual com base em toda a experiência textual que aquele tem na projeção que faz de seu interlocutor. Por outro lado, a interpretação do texto depende também do cálculo de sentido feito pelo enunciatário a partir de sua experiência de leitor e de produtor de textos (SANTOS, 2010, p. 14). Como fica evidente nas palavras de Santos (2010), o texto escrito também se insere em um contexto específico, articula-se com um propósito e dirige- se a um público, o qual, por sua vez, faz um esforço de interpretação. Sobre este último elemento (público/leitor), destacamos que há uma dinâmica diferenciada da escrita em relação à fala: “escrever quer prever o outro, isto é, prever um leitor. O texto está sendo produzido para alguém lê-lo, seu amigo, seu professor ou o cliente da empresa para a qual você trabalha” (TAFNER, 2009, p. 12). Nosso enunciatário não está presente no momento em que escrevemos, ele não interage no exato momento da produção. É apenas uma imagem, uma projeção de quem imaginamos que lerá o que escrevemos. Sob certos aspectos, construímos, idealizamos o leitor de nosso texto, definimos que conhecimentos ele deve ter para compreender o que tentamos transmitir. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Dito isso, podemos mencionar uma outra dimensão importante do texto escrito: a autonomia. Um texto escrito pode chegar onde a fala não alcança e ultrapassar as barreiras de tempo e espaço. Portanto, nele deverá existir uma amplitude de marcas e pistas que permitam ao enunciatário reestabelecer o contexto comunicacional e, desse modo, depreender a mensagem nele contida. O texto escrito, uma vez enviado a seu destino não pode mais ser “corrigido”, não haverá a possibilidade do “o que eu quis dizer...”. Ele deve ser claro e estruturado de tal forma que diga o que deve dizer e chegue a quem se destina. Perceba que nas interações orais sempre há a possibilidade de “dizer novamente”, explicar, dizer com outras palavras. Podemos utilizar os recursos que estão disponíveis, gestos, expressões faciais e corporais, aumentar ou diminuir a velocidade da fala. Na escrita, no entanto, esses recursos não estão disponíveis. É preciso dispor exclusivamente dos recursos linguísticos para que o texto de fato cumpra seu objetivo e se faça inteligível. Segundo Koch e Elias (2009, p. 43), ao escrevermos precisamos fazer uso de algumas estratégias: • [ . . . ] ativação de conhecimentos sobre os componentes da situação comunicativa (interlocutores, tópico a ser desenvolvido e configuração textual adequada à interação em foco); • seleção, organização e desenvolvimento das ideias, de modo a garantir a continuidade do tema e sua progressão; • “balanceamento” entre informações explícitas e implícitas; entre informações “novas” e “dadas”, levando em conta o compartilhamento de informações como o leitor e o objetivo da escrita; • revisão da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produção e pela interação que o escritor pretende estabelecer com o leitor. Em termos práticos, quando produzimos textos escritos, devemos considerar: a) Intenção ou finalidade: o que queremos com este escrito? Com que intenção produzimos este texto? Queremos informar? Questionar algo? Defender um ponto de vista? Anunciar um produto? Reclamar de algo? Apresentar os resultados de alguma pesquisa? Relatar um feito? Elogiar alguém? b) Gênero discursivo: qual o gênero de texto melhor se enquadra ao propósito do texto? Um anúncio? Uma charge? Um e-mail? Uma carta do leitor? c) Interlocutores: para quem estamos dirigindo nosso texto? Quem será o leitor deste texto? Está dirigido para um leitor específico? Que características ou conhecimentos prévios supomos que este leitor deve ter? d) Lugar de circulação: em que lugar o texto estará? Em uma revista? Jornal? Panfleto? Nas redes sociais? Nos comunicadores instantâneos? Observemos o que foi mencionado em um exemplo: CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES STEPHEN KING VOLTA À VELHA BOA FORMA COM “MR. MERCEDES” O primeiro capítulo de "Mr. Mercedes" reúne as melhores páginas que o americano Stephen King, 68, escreveu nos últimos 20 anos. Flagra um grupo de pessoas passando uma madrugada muito fria numa calçada. É uma fila para novas vagas de emprego. Essa introdução chega a lembrar "filmes-catástrofe" dos anos 1970, como "Terremoto" ou "Inferno na Torre", que dedicavam sua parte inicial a apresentar os personagens que, em seguida, lutariam pela vida diante de terríveis infortúnios. Mas aqui King prega uma peça. Os tipos interessantes que ele esboça nas conversas da madrugada vão desaparecer de cena no capítulo seguinte. Morrem ali, atropelados por um Mercedes. O carro, roubado de uma viúva rica, é largado perto dali. Nada se sabe de seu motorista. Não, King não fez mais um "Christine - O Carro Assassino", um de seus clássicos do terror dos anos 1980 adaptados para o cinema. O motorista existe, é um sociopata e vai guiar a história que se segue. Mas, apesar de o sr. Mercedes ser tão ignóbil, as atenções do leitor vão se desviar para seu antagonista, o policial aposentado Bill Hodges. Depois de vender mais de 300 milhões de livros e deixar seus seguidores arrepiados, King finalmente preenche uma lacuna em sua extensa galeria de tipos. Para quem já criou cachorros e outros animais possuídos pelo demônio, máquinas com desejos assassinos, bonecos vingativos e outras entidades bizarras, faltava a ele o personagem mais comum e reverenciado da literatura de suspense e mistério: o detetive. Bill Hodges é tratado com muito carinho por seu criador. "Mr. Mercedes" foi anunciado como o primeiro livro de uma trilogia de aventuras com o ex-policial. E King já manifestou o desejo de produzir uma série de TV para ele. O escritor é venerado por muitos fãs por sua criatividade. Com justiça, embora sua produção prolixa e irregular dos últimos anos às vezes comprometa a percepção de sua obra extraordinária na literatura de terror e suspense do século passado.Por isso, muitos fãs devem estar esperando para ver quais as características que vão marcar o detetive de King. E aí vem a surpresa. No lugar do recurso habitual de criar alguma bossa para um herói detetive – traumas familiares, alcoolismo, sede de vingança, hobbies esquisitos, coisas assim –, King rascunhou Hodges como um tipo bem comum. Bebe, sim, mas pouco, apenas para atenuar o tédio da aposentadoria. Tem lá seus probleminhas com o passado, mas nada que interfira na ação. Hodges é apenas um veterano de investigações, um cara que conhece bem as ruas de sua cidadezinha no meio-oeste americano. Quando o sr. Mercedes envia ao ex-policial uma carta na qual assume a autoria dos atropelamentos e promete matar novamente, Hodges vai atrás dele porque é só isso que sabe fazer na vida: caçar e prender os caras maus. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES "Mr. Mercedes" não é uma história de mistério. Sabemos quem é o assassino, o que ele fez e como fez logo no primeiro terço da narrativa. O que vale mesmo é a maneira tensa como King vai estabelecendo o confronto entre mocinho e bandido. O mestre do terror ainda sabe contar muito bem uma história. FONTE: Thales de Menezes, Folha Ilustrada, Folha de São Paulo, 2 abr. 2016. Disponível em: <http://www1. folha.uol.com.br/ilustrada/2016/04/1756627-stephen-king-volta-a-velha-boa-forma-com-mr-mercedes. shtml>. Acesso em: 2 abr. 2016. No texto é possível verificar que a intenção do escritor é apresentar o novo livro de Stephen King. Para alcançar tal propósito, utilizou o gênero artigo de opinião, uma vez que mostra a opinião que o crítico tem sobre a nova obra do autor mencionado; está dirigido para todos aqueles que leem o jornal Folha de São Paulo e são conhecedores e apreciadores das obras de Stephen King, bem como foi produzido para circular em um jornal. Perceba que o escritor se dirige a um público que já conhece a obra de King porque, ao longo do texto, faz referência a outras obras do autor e aspectos de suas produções, as quais, supõe, sejam do conhecimento de seus já leitores. Ao mesmo tempo, emite sua avaliação sobre a obra, apresentando os argumentos que consolidam seu julgamento. Quando lemos o texto, fazemos um esforço de interpretação: buscamos reconstruir o contexto comunicacional, retomamos os conhecimentos que já temos sobre o assunto (neste caso específico, o que sabemos sobre Stephen King e sua produção), confrontamos as opiniões do autor do artigo com as nossas, analisamos seus argumentos etc., ou seja, interagimos com o texto, fazemos parte do processo, não apenas decodificamos o que está escrito, também nos apropriamos das informações ali contidas e as somamos aos conhecimentos que já construímos ao longo de nossa trajetória de leitores. Além das questões levantadas até o momento, também é importante destacar que para cumprir os propósitos do texto, seu escritor precisará de um bom conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua. Dominar esses recursos permite uma escolha de vocabulários adequados à finalidade do texto, a dar transparência ao texto. Sob uma perspectiva interacional, obedecer às normas ortográficas é um recurso que contribui para a construção de uma imagem positiva daquele que escreve, porque, dentre outros motivos, demonstra: i) atitude colaborativa do escritor no sentido de evitar problemas no plano da comunicação; ii) atenção e consideração dispensadas ao leitor (KOCH; ELIAS, 2009, p. 37). Ainda, finalizando as questões sobre o texto escrito, é importante destacar algumas características que todo texto escrito deve apresentar para que alcance seu leitor e seja devidamente compreendido por ele. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES a) Clareza: apresentação das informações de modo fácil, simples, em uma ordem que facilite a compreensão. Muitas vezes, a clareza do texto se perde porque o autor tem muita familiaridade com o tema e, em virtude disso, deixa de mencionar dados importantes para a reconstrução de sentido, realizada por um leitor que não tem o mesmo domínio do assunto. Há, ainda, situações em que o escritor não tem dados suficientes sobre o tema, deixando em sua escrita lacunas que dificultam a compreensão da mensagem. Também o uso excessivo de termos técnicos pode comprometer sua clareza, bem como alguns termos que podem gerar ambiguidade. Gold (2002 apud TAFNER, 2009) destaca que para a obtenção da clareza em nossos escritos, faz-se necessário: a) organizar a forma como o assunto será apresentado, estabelecendo uma lógica em sua sequencialização; b) empregar parágrafos de extensão curta, na qual se perceba a ideia central e as ideias secundárias; c) utilizar as frases em sua ordem direta; d) empregar uma linguagem simples, respeitando, entretanto, a formalidade e as normas gramaticais aplicáveis àquela produção específica; e) observar a relação que se estabelece entre as informações, evitando ambiguidades ou mal-entendidos. Para ilustrar o que acabamos de expor, leia o fragmento que segue: Por tudo o que restou até aqui exposto, considerada a legislação tributária de regência, e tendo em vista o atual panorama da jurisprudência aplicável à hipótese em foco, fica claro que a embargante realmente merece ver inteiramente cancelada, nesses autos de embargos contra execução fiscal, a insustentável e inaceitável exigência de ICMS objeto da malsinada CDA aqui guerreada pela empresa. FONTE: FONSECA, Pedro Leal. Fim do juridiquês: Falta de clareza em textos faz juiz pular parágrafos. Consultor Jurídico. 2010. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-mar-31/falta-clareza-textos- juridicos-faz-juiz-estafado-pular-paragrafos>. Acesso em: 2 abr. 2016. Como você notou durante sua leitura, o fragmento não apresenta clareza. A utilização de termos técnicos, a extensão excessiva das frases, bem como a distribuição das informações dificultam a compreensão. Agora, leia o fragmento reescrito: Pelo que foi exposto, considerada a legislação tributária, e tendo em vista a jurisprudência aplicável à hipótese, fica claro que a embargante merece ver cancelada a exigência de ICMS objeto da CDA aqui combatida. FONTE: FONSECA, Pedro Leal. Fim do juridiquês: Falta de clareza em textos faz juiz pular parágrafos. Consultor Jurídico. 2010. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-mar-31/falta-clareza-textos- juridicos-faz-juiz-estafado-pular-paragrafos>. Acesso em: 2 abr. 2016. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Respeitando as especificidades deste que é um texto jurídico (com termos que são próprios à área), percebemos que a reescrita deixou-o mais claro. A utilização de frases mais curtas, permitiu que houvesse maior transparência e, com isso, a informação é mais facilmente compreendida. b) Concisão: qualidade de expressar a informação, fazendo uso de um número mínimo de vocabulários. É a famosa perspectiva do “dizer muito em poucas palavras”. Lembre-se, porém, que ser conciso não significa tirar a riqueza do texto, significa fazer uso de vocabulários que permitam passar a mensagem de forma condensada. Voltemos aos fragmentos acima. No primeiro fragmento foram utilizadas 60 palavras, no segundo 35 palavras. Toda a informação contida, de forma pouco clara, no primeiro fragmento, foi mantida e tornada mais transparente no segundo, com praticamente metade dos vocabulários. Para dar concisão ao texto evite a utilização de expressões desnecessárias como “hoje em dia”; uso excessivo de adjetivos; repetição de ideias; uso de clichês. Observe, ainda, este outro texto: É proibida a entrada, circulação, permanência, uso dos aparelhos e recursos da instituição por pessoas que não foram autorizadas pela direção. A mesma mensagem pode ser passada assim: É proibida a entrada de pessoas não autorizadas. Note que não houve perda de informação, apenas uma escolha vocabular que permitiu dizer tudo que era necessário em poucos termos. Em textos profissionaise acadêmicos, a concisão é um fator de suma importância para a garantia de um texto adequado à situação comunicativa. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES c) Objetividade: “[...] relaciona-se a identificar que ideias são relevantes ao expressarmos nosso pensamento. Se conseguimos diferenciar as ideias principais das secundárias, não distraímos nosso leitor” (TAFNER, 2009, p. 54). Para atingirmos a objetividade, precisamos identificar qual é a ideia principal, quais são as ideias secundárias e dentre estas quais as que podem ser dispensadas ou devem ser mantidas. Vejamos na prática: Prezados Senhores, É com imensa satisfação que entramos em contato para comunicar que, em virtude da qualidade de seus serviços, devidamente confirmada por seus usuários, bem como do ótimo atendimento, também positivamente avaliado pelos clientes, conferimos a esta tão bem conceituada empresa o prêmio Empresa TOP10. Entraremos novamente em contato para confirmar a presença de um de seus representantes no local e hora a serem ainda definidos. Parabenizando-os por esta conquista e certos de que manterão seu alto índice de aproveitamento e satisfação, despedimo-nos. Atenciosamente, Na correria de nosso dia a dia também os textos precisam ser de fácil depreensão. Não cabem mais textos escritos como o que lemos acima. Sua falta de objetividade faz com que tenhamos a tendência de fazer saltos na leitura, procurando identificar a ideias mais importantes. Observemos, agora, como é possível com objetividade, transformar o texto: Prezados Senhores, Informamos que sua empresa recebeu o Prêmio TOP10 pela qualidade nos serviços e no atendimento. Assim que a data e local do evento de premiação sejam definidos, entraremos em contato. Atenciosamente, CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES Temos, no exemplo, um texto objetivo, direto, elegante, sem supérfluos. Ele não apenas é objetivo, mas também claro e conciso. Por fim, não nos esqueçamos de que a correção gramatical também é importante para garantir que o texto escrito esteja adequado à situação comunicativa da qual é representante. Questão que já mencionamos antes. Escrever corretamente as palavras, fazer uso adequado das estruturas sintáticas e lexicais garante as relações necessárias para a constituição e a recepção do texto. Como vimos ao longo de todo este capítulo, nos comunicamos por meio de textos, orais ou escritos, verbais ou não verbais. Eles concretizam os discursos e apresentam características que os tornam modalidades diferentes, mas com um mesmo propósito: estabelecer comunicação nas mais variadas situações. No próximo capítulo, nos dedicaremos a estudar a textualidade, elemento fundamental para a constituição do texto. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES RESUMO Neste capítulo vimos: • Enunciador: produtor do texto. • Enunciatário: recebedor do texto. • Enunciação: interação entre intenção do texto, contexto comunicacional, enunciador e enunciatário. • Texto é uma unidade de sentido que estabelece comunicação em uma determinada situação, envolvendo enunciador e enunciatário. • O texto materializa/concretiza o discurso. • Discurso é a produção e a troca de sentido ocorridas em um contexto social e orientadas para uma determinada situação comunicativa. • Textos orais e textos escritos constituem duas modalidades diferentes. ᵒ Textos orais configuram-se como produções não planejáveis que ocorrem durante as interações entre falante e ouvinte. Sua interpretação acontece quase ao mesmo tempo em que sua produção. ᵒ Textos escritos são produções planejáveis nas quais se evidenciam o contexto de produção, a finalidade, o público a quem se destina. O leitor não está fisicamente presente no ato da produção. O leitor precisa reconstruir o sentido do texto a partir das pistas nele presentes. O texto escrito é autônomo e deve apresentar clareza, concisão, objetividade e correção gramatical. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES AUTOATIVIDADE 1 Leia a tirinha que segue: FONTE: Disponível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/32/htm/comunica/ci144_ arquivos/image002.jp>. Acesso em: 2 abr. 2016. Da leitura é possível afirmar: I- A pergunta de Helga tem o próposito de saber se Hagar quer que lhe sirva um pouco de café. II- Hagar compreende perfeitamente a intenção da pergunta e a responde de maneira adequada. III- Hagar interpreta a pergunta de maneira diferente do que espera Helga, causando o efeito de humor na tirinha. Levando em consideração o que estudamos no tópico 1 deste capítulo, está(ão) CORRETA(S): a) ( ) I e II. b) ( ) II e III. c) ( ) I e III. d) ( ) I, II e III. e) ( ) Somente I. 2 Leia as afirmativas que seguem, julgando-as falsas ou verdadeiras de acordo com o que foi estudado no tópico 1 do Capítulo. ( ) O texto pode ser definido como uma reunião de palavras ou frases, desvinculadas do contexto comunicacional. ( ) A interação entre os seres sociais pode ocorrer de diversas formas, uma delas é por meio de textos. ( ) O texto é um ato social, comunicativo e, portanto, totalmente relacionado à situação comunicativa em que foi gerado. ( ) Cabe ao enunciador interpretar o texto, atribuindo-lhe o significado adequado ao contexto em que foi produzido. A sequência que CORRETA é: a) ( ) F, F, V, F. b) ( ) V, F, V, F. c) ( ) V, V, F, V. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES d) ( ) F, V, V, F. e) ( ) F, F, V, V. 3 Leia o texto a seguir: Como ter uma boa noite de sono O sono é o período de descanso do corpo e da mente. É o momento de relaxar nossos músculos e memorizar tudo o que aprendemos durante o dia. Além disso, várias funções biológicas são realizadas durante a noite. Nosso sistema imunológico produz substâncias fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo, além do hormônio do crescimento e do hormônio leptina (que causa sensação de saciedade), que também são secretados durante a noite. Algumas pessoas não conseguem ter uma boa noite de sono, e isso afeta diretamente na qualidade de suas vidas. Por isso listaremos aqui algumas dicas básicas para uma boa noite de sono, que resultará em corpo e mente descansados. • Refrigerantes, café e chá-preto são bebidas que devem ser evitadas antes do sono, pois contêm cafeína e xantina em sua composição e essas substâncias estimulam o sistema nervoso central, podendo atrapalhar o sono. • Evite o consumo de frituras e comidas gordurosas que possam provocar má digestão e azia, prejudicando o sono. • Não se deite logo após as refeições. • Não pratique atividades físicas até 4 horas antes de dormir. • Recomenda-se tomar uma xícara de leite morno com mel antes de dormir, pois o leite contém triptofano, um aminoácido essencial, que aumenta o nível de serotonina, um calmante natural do cérebro. E o mel, por ser um carboidrato, facilita a entrada de triptofano no cérebro. • Manter um ritmo de sono é importante. Tente se deitar e acordar no mesmo horário todos os dias, mesmo em finais de semana. • Evite fazer anotações, ler, estudar, trabalhar e assistir TV na cama. • Durma em um local onde esteja tudo calmo e escuro. • Nunca se deite com fome. Uma fruta é uma boa opção para enganar a fome e não dormir de barriga vazia. • Um banho morno relaxa o corpo e ajuda a prepará-lo para uma boa noite de sono. • Se tiver muita dificuldade para dormir à noite, é bom evitar dormir durante o dia. • Esqueça todos os problemas na hora de dormir. • Evite dormir com a TV ligada, pois isso impede que a pessoa chegue à fase do sono profundo. • O tabaco é estimulante, por isso evite fumar horas antes de se deitar. • Se você se deitar e não conseguir dormir, levante-se e faça alguma atividade relaxante, como ouvir músicas calmas. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES • Manter uma rotina de atividades físicas colaborapara boas noites de sono. • Tenha colchão e travesseiros confortáveis. Essas são algumas dicas que resultarão em uma excelente noite de sono. Basta segui-las para melhorar seu sono e sua qualidade de vida. Bons sonhos! FONTE: MORAES, Paula Louredo. Como ter uma boa noite de sono. Disponível em: <http:// mundoeducacao.bol.uol.com.br/saude-bem-estar/como-ter-uma-boa-noite-sono.htm>. Acesso em: 2 abr. 2016. Os textos possuem um contexto de uso, uma função social e um objetivo comunicativo. Após a leitura do texto, podemos concluir que sua função é: a) ( ) Expor a opinião da autora sobre o ato de dormir bem. b) ( ) Orientar os leitores sobre os cuidados que devem ter para que consigam dormir bem. c) ( ) Criticar os leitores que não conseguem ter uma boa noite de sono. d) ( ) Divulgar um produto que promete ajudar pessoas que não conseguem dormir bem. e) ( ) Apresentar como funciona o sono do ponto de vista biológico. 4 Analise as seguintes afirmações: I- O texto escrito é uma modalidade de produção textual superior ao texto oral, por isso, deve ser utilizado de forma prioritária. II- Os textos orais são considerados não planejáveis porque ocorrem durante as situações comunicativas, na interação direta entre falantes e ouvintes. III- Os textos escritos utilizam-se do aparato linguístico, ao contrário dos textos orais que podem fazer uso também de gestos, expressões faciais etc. IV- Os enunciatários dos textos escritos não precisam fazer um esforço de interpretação porque essa função cabe exclusivamente ao enunciador. Estão CORRETAS: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) II e III. d) ( ) II e IV. e) ( ) I e IV. 5 Analise os seguintes textos: Texto 1 “Eles acham que não chateia, mas machuca de verdade“, disse, “Vim representar as pessoas que não têm dinheiro para pagar um advogado (…) Esse ódio gratuito das pessoas, de não pensar no próximo… E eu falei: “cara, CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES eu não posso deixar isso passar impune”. (Depoimento da cantora Ludmilla à revista Todateen sobre o racismo que sofreu nas redes sociais). FONTE: Disponível em: <http://todateen.com.br/souassimtt/ludmilla-sofre-com-racismo-desabafa- machuca-de-verdade/>. Acesso em: 10 jun. 2016. Texto 2 “BF: E o que deu o start para colocar o livro em andamento? Houve um episódio, um fato curioso? RQ: Na época, eu trabalhava numa revista feminina e pintou uma reportagem sobre o tema. Sou apaixonada por música, toco piano e adoro cantar MPB, Bossa Nova etc. A pauta caiu para mim e eu pirei... fiquei um mês atrás das histórias, e me encantei muito especialmente com a Lígia do Tom. Tom Jobim é um ícone para mim. Desde a publicação dessa matéria, já imaginei que daria um livro, e nunca mais abandonei o assunto. Só que, nesse meio tempo, o mundo roda, a vida também, trabalho pela sobrevivência, então não podia parar para fazer um projeto independente. Nos últimos três anos, contudo, coloquei como prioridade, me virei nos 30 e fiz, de maneira independente, mas já com uma editora interessada na publicação”. (Entrevista com a jornalista Rosane Queiroz sobre seu livro Musas e música – a mulher por trás da canção para a revista Bons Fluídos). FONTE: Disponível em: <http://bonsfluidos.uol.com.br/noticias/entrevista/livro-reune-depoimentos-de- mulheres-que-inspiraram-as-mais-belas-cancoes-da-mpb.phtml#.V11ZCLsrLMx>. Acesso em: 10 jun. 2016. Sobre os textos é correto afirmar: a) ( ) Ambos são textos representantes da modalidade escrita, evidenciada pelo uso de pontuação e vocabulário simples, mas formal. b) ( ) O primeiro é um texto representante da modalidade oral, e o segundo é um texto representante da modalidade escrita, dada sua extensão. c) ( ) Ambos os textos são representantes da modalidade oral, verificável pelo uso de expressões como “cara”, “pintou”, “pirei”. d) ( ) Os dois não podem ser definidos como textos, pois não apresentam sentido no contexto comunicativo em que se apresentam. e) ( ) Apenas o segundo texto é representante da modalidade escrita porque é dotado de clareza, objetividade, concisão e correção gramatical. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES REFERÊNCIAS ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2008. ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010. (Série estratégias de ensino, 21). KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1992. ______; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. SANTOS, Gerson Tenório dos. Texto e textualidade. São Paulo: Unicastelo, 2010. SANTOS, Flávia Andreia dos; CABRERA, Lúcia Gandarillas; GÓES, Vera Lúcia. Retextualização do texto oral. Revista Anagrama, São Paulo, ano 1, ed. 4, p. 1-14, junho/agosto 2008. Disponível em: <http://www.revistas.univerciencia. org/index.php/anagrama/article/viewFile/6278/5696>. Acesso em: 7 abr. 2016. TAFNER, Elisabeth Penzlien. Redação na vida acadêmica e profissional. Blumenau: Nova Letra, 2009. (Coleção Estudos Independentes). CURSO LIVRE - REDAÇÃO 1 - O TEXTO E SUAS ESPECIFICIDADES GABARITO 1 C 2 A (F, F, V, F) 3 B 4 C 5 C REDAÇÃO 2 OS FATORES DE TEXTUALIDADE Agora que já sabemos o que é um texto, em particular o escrito, vamos estudar sua composição. Nesta unidade, aprenderemos que um texto só é visto como tal porque apresenta textualidade. A textualidade, por sua vez, é composta por elementos que estudaremos separadamente: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. Iniciaremos entendendo o que é a textualidade e quais suas implicações para o texto. Vamos lá? APRESENTAÇÃO Organização Elisabeth Penzlien Tafner Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI Autora Iara de Oliveira CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE OS FATORES DE TEXTUALIDADE .02 1 INTRODUÇÃO Agora que já sabemos o que é um texto, em particular o escrito, vamos estudar sua composição. Nesta unidade, aprenderemos que um texto só é visto como tal porque apresenta textualidade. A textualidade, por sua vez, é composta por elementos que estudaremos separadamente: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. Iniciaremos entendendo o que é a textualidade e quais suas implicações para o texto. Vamos lá? 2 A TEXTUALIDADE E SEUS FATORES TEXTUAIS Na Unidade 1, estudamos o que é um texto em termos conceituais; as diferenças entre o texto e o discurso, apontando para o caráter estático do primeiro e a dinamicidade do segundo; e as diferenças entre texto oral e escrito, identificando as características de cada um. Como o escrito é o nosso foco neste curso, vamos estudar um pouco mais sobre o que faz de uma produção verbal um texto. Já vimos que um texto escrito não é apenas uma sequência de palavras ou frases. Existe algo que faz com que ele se caracterize, materialize-se como texto. Observemos o exemplo que segue: CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE a) Colégios reforçar H1N1 de rotina e SP mudar gripe higiene surto. Está bastante claro que temos apenas um emaranhado de palavras. Não há qualquer sentido que se possa atribuir a este conjunto de palavras. Elas não constituem um texto, não é mesmo? Será preciso rearranjá-las para tentar atribuir-lhes alguma significação juntas. Talvez alguém com algum domínio das estruturas sintáticas de nossa língua diga: é preciso ordenar sintaticamente os elementos para que façam sentido. Uma frase em ordem direta é, normalmente, constituída de sujeito + verbo + complementos, ou seja, quem? O quê? Quando, como, onde? Será que isso é o suficientepara tornar esse conjunto um texto? Observemos: b) Colégios de SP leva reforçar mudar rotina higiene surto da gripe H1N1. Parece melhor agora? Não! Note que temos quem (Colégios de SP), verbo (leva/reforçar/mudar), complementos (rotina higiene surto da gripe H1N1). No entanto, isso não foi suficiente para atribuir sentido a esse ato discursivo. Façamos mais uma tentativa: c) Surto da Gripe H1N1 leva colégios de SP a mudar a rotina e reforçar a higiene. Agora sim! Conseguimos entender a informação. Temos uma combinação de estruturas, organizadas de modo a atender a uma demanda comunicativa: informar os leitores de algo, nesse caso específico, do que as escolas estão fazendo para prevenir-se da gripe H1N1. Essa organização com sentido é o que transforma um conjunto de estruturas linguísticas em texto. A isso chamamos textualidade. Portanto, é possível afirmar que textualidade é um conjunto de características que dão sentido ao que está escrito, tornando-o um texto. Nas palavras de Abreu (2008, p. 13, grifo nosso), “Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico [de sentido, de significação] delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualidade”. A textualidade é constituída de sete fatores, ou seja, existem sete características que tornam “uma ocorrência linguística um todo significativo” (COSTA VAL, 2008, p. 4). Dois deles se referem diretamente ao texto: a coerência e a coesão. Os demais centram-se no enunciatário ou no extratexto: a situacionalidade, a aceitabilidade, a informatividade, a intencionalidade e a intertextualidade. Passaremos, a seguir, ao estudo de cada um desses fatores. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE 2.1 RELAÇÃO ENTRE COESÃO E COERÊNCIA Quando nos deparamos com um texto, observamos dois aspectos: sua macroestrutura, ou seja, o seu todo; e suas microestruturas, isto é, as pequenas partes que o compõem. Assim, temos a coerência (macroestrutura) e a coesão (microestruturas). Ambas estão relacionadas e a utilização adequada de uma, influencia diretamente na outra. Entretanto, não necessariamente são indissociadas. Há textos coerentes, mas não coesos; bem como textos coesos, mas não coerentes. Observe os textos a seguir: Texto 1 – Circuito Fechado Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. FONTE: RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado. Disponível em: <http://portugues.uol.com.br/redacao/ textos-sem-coesao.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE Texto 2 – Poema de um louco Era meia-noite e o sol brilhava no horizonte Um negro careca penteava sua linda cabeleira loira com um pente sem dentes Pertinho dali, a 100 mil milhas de distância Enquanto um cego analfabeto lia um jornal Sem letras, de ponta cabeça Um surdo-mudo sentado em pé em uma pedra de madeira feita de barro dizia: A vida é como uma canoa, que navega de cabeça pra baixo nas ondas de um poço sem água. Enquanto isso, na sua direita ao lado esquerdo um jacaré voava nadando devagar em alta velocidade. As vacas pulavam de galho em galho a procura de seus ninhos em rítmo de Yê-Yê-Yê Os passarinhos pastavam o capim que nascia no asfalto. No outro lado da cidade, em um bosque sem árvores, um elefante descansava Aliviadamente apavorado, debaixo da sombra de uma couve sem folha Os animais observavam, de olhos fechados, uma mulher gritando baixo em voz alta: Prefiro me matar, do que perder a vida! FONTE: Disponível em: <http://visaocontraria.blogspot.com.br/2009/02/era-meia-noite-e-o-sol- brilhava-no.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. Perceba que no texto 1 temos uma sequência de palavras a qual, numa leitura desatenta, poderia não ter significação. No entanto, uma leitura atenta mostra uma sequência de atos executados pelo narrador e revelados na utilização de substantivos. Ao lermos a ordenação de substantivos, vamos construindo a rotina do narrador do texto, da hora em que desperta até o momento de deitar-se. Embora não haja conectivos ligando as palavras, ou mesmo, frases interligadas, percebemos a construção de sentido do texto. Ele é um típico exemplo de texto coerente, porque apresenta sentido em sua macroestrutura, mas totalmente desprovido de coesão, porque não foram utilizados os elementos linguísticos que promovem a articulação das sentenças. Já o texto 2 apresenta coesão. Há partículas que ligam as estruturas, que vão ajustando as microestruturas para a formação do todo. Porém, o texto tem seu sentido comprometido, uma vez que retrata situações totalmente absurdas como “cego analfabeto lendo jornais”, “negro careca penteava a cabeleira loira”, “vacas voavam”, “passarinhos pastavam”. O texto é coeso, mas desprovido de coerência. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE Vale ressaltar que nossos textos acadêmicos e profissionais, em virtude do contexto comunicativo em que se inserem, necessitam obrigatoriamente de coesão e coerência. Embora seja possível, como vimos nos exemplos, produzir textos desprovidos de coesão ou de coerência, em virtude do efeito que se quer gerar com eles ou a finalidade, quando nos propomos a produzir textos escritos, principalmente nos meios profissionais e acadêmicos, devemos considerar esses dois fatores como essenciais para sua elaboração. Afinal, eles promovem a textualidade que, como vimos, é responsável pela atribuição de sentido ao texto. Vamos entender melhor como cada um deles contribui para a significação da escrita. Concentremo-nos primeiro na coerência. 2.2 COERÊNCIA A coerência é extremamente importante para a textualidade. Segundo Koch e Travaglia (2008, p. 53-54): [...] é a coerência que faz com que uma sequência linguística qualquer seja vista como um texto, porque é a coerência, através de vários fatores, que permite estabelecer relações (sintático-gramaticais, semânticas e pragmáticas) entre os elementos da sequência (morfemas, palavras, expressões, frases, parágrafos, capítulos etc.), permitindo construí-la e percebê-la, na recepção, como constituindo uma unidade significativa global. Portanto, é a coerênciaque dá textura ou textualidade à sequência linguística, entendendo-se por textura ou textualidade aquilo que converte uma sequência linguística em texto. Os autores afirmam que a coerência é um fator diretamente inter- relacionado com o enunciatário e o contexto, pois, segundo eles, um texto pode ser incoerente em uma determinada situação comunicativa e para alguns tipos de enunciatários, e ter total sentido em outras situações e para outros enunciatários. Koch e Travaglia (2008) também destacam a importância dos elementos linguísticos do texto para a concretização da coerência. [...] São eles que permitem o estabelecimento de pistas as quais ajudam a ativar “conhecimentos armazenados na memória, constituindo-se em ponto de partida para a elaboração de inferências, ajudando a captar a orientação argumentativa dos enunciados que compõem o texto etc.” (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 71). CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE Ainda segundo os autores, o conhecimento de mundo que cada um de nós constrói ao longo de sua trajetória como sujeito social, é fundamental para o estabelecimento de coerência no texto. Quando um texto trata de assuntos que desconhecemos, não terá sentido, não será lógico (KOCH; TRAVAGLIA, 2008). Observe: Peroxissomos Os peroxissomos são fisicamente parecidos com os lisossomos, mas diferentes em dois aspectos importantes. Primeiro, acredita-se que eles sejam formados por autorreplicação (ou talvez por “brotamento” do retículo endoplasmático liso) e não pelo complexo de Golgi. Em segundo lugar, eles contêm oxidases em vez de hidrolases. Diversas oxidases são capazes de combinar oxigênio com íons hidrogênio derivados de diferentes substâncias químicas intracelulares para formar o peróxido de hidrogênio (H2O2). O peróxido de hidrogênio é uma substância altamente oxidante e é usado em combinação com a catalase, outra oxidase presente em grandes quantidades nos peroxissomos, para oxidar muitas substâncias que poderiam de outra forma ser tóxicas para a célula. FONTE: GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 16. Muitos de nós, pertencentes às mais diversificadas áreas do conhecimento, lerão o fragmento acima e não conseguirão entendê-lo. Como profissionais não pertencentes à medicina ou à área da saúde, não conseguiremos atribuir sentido ao texto e, portanto, ele não terá coerência. O texto do exemplo relaciona-se a conhecimentos que não temos e, em função disto, não conseguimos estabelecer as relações necessárias para sua significação. No entanto, o mesmo texto, lido por um médico ou alguém atuante na área da saúde, conseguirá acionar conhecimentos prévios que deem coerência a ele, dando-lhe significação. Retomemos o exemplo do texto de Ricardo Ramos, Circuito Fechado. Vimos que não possui elementos de coesão, porém quando o lemos atribuimos a ele significação. Isso ocorre porque aciona os conhecimentos de mundo e linguísticos que temos. Refere-se a elementos do mundo que conhecemos com os quais lidamos diariamente e à língua que usamos. Com o que vimos até agora podemos então inferir que para atribuir sentido ao texto, caracterizando-o como coerente, “é preciso que haja correspondência ao menos parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso conhecimento de mundo, pois, caso contrário, não teremos condições CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE de construir o universo textual, dentro do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido” (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 76-77, grifo dos autores). Ou seja, embora duas pessoas não consigam compartilhar o mesmo conhecimento de mundo, é necessário que haja uma sintonia de conhecimentos entre um e outro. Quanto menor for essa sintonia, maior será o esforço de explicitação que o enunciador terá que fazer em seu texto. Quanto maior for a sintonia, mais facilmente o enunciatário fará inferências e atribuirá significação ao texto. Fica evidente, dessa forma, que a coerência não está apenas no texto, ou no autor, ou no leitor, mas na inter-relação entre esses três elementos. “Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto que ele busca compreender e interpretar, ou, então, entre segmentos de texto e os conhecimentos necessários para sua compreensão” (KOCH, TRAVAGLIA, 2008, p. 79). Esse procedimento será um dos assuntos do capítulo 4 deste manual. Ainda sobre a coerência, autores como Koch e Travaglia (2008) fazem uso dos estudos do francês Michel Charolles, publicados no livro "Introdução aos problemas de coerência textual". O autor estabelece quatro princípios fundamentais, responsáveis pela coerência textual, os quais denominou de metarregras. São elas: a) Metarregra da repetição: todo texto deve retomar alguns elementos com o objetivo de manter o sentido. Não se trata de repetir ideias, porque, nesse caso, teríamos um problema de coerência, mas a reiteração de traços linguísticos que permitam manter o foco no assunto tratado. Veja o pequeno texto que construímos para ilustrar essa metarregra: O líder(1) tem um papel muito importante no rendimento de seus colaboradores(2). Cabe a ele(1) mantê-los(2) motivados, mediar conflitos, passar feedback de erros e acertos e, ainda, fazer com que estejam(2) engajados com as necessidades da empresa. Este papel não é fácil e requer constante atualização de conhecimento por parte de quem ocupa um cargo de liderança(1). Perceba que, no intuito de manter o sentido da informação, o elemento (1), líder, é retomado ao longo do texto, não de forma excessiva, mas para manter o foco. O mesmo acontece com o item (2), colaboradores. CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE b) Metarregra de progressão: um texto coerente não apenas reitera ou retoma elementos ou ideias, também avança na exposição do assunto, traz novas ideias, novas informações à medida que vai se desenvolvendo. O texto que ilustra a metarregra da repetição também serve de exemplo para a metarregra de progressão. Note que ele vai agregando informações, dando sequência ao assunto abordado. Diferente do que acontece no exemplo que formulamos a seguir: A empresa indicou, em seus relatórios, um lucro anual de 20% do valor de sua renda bruta. Ela indica que houve um superávit este ano. Apresentou que os lucros foram altos, ou seja, a empresa cresceu financeiramente. Aqui não há qualquer progressão de informação ou ideias. Todos os períodos que compõem o parágrafo dão a mesma informação, utilizando apenas vocabulários diferentes. É evidente como a coerência textual fica comprometida quando há este tipo de procedimento textual. c) Metarregra da não contradição: uso de argumentos, ideias, dados, compatíveis entre si. Um texto coerente não pode afirmar A e, na sequência, negar A, ele deve respeitar princípios lógicos elementares. Antônio não gosta de ler. Ele fica muito feliz quando alguém lhe dá um livro. Perceba que há uma contradição entre a primeira e a segunda informação. Se Antônio não gosta de ler, não pode ficar feliz quando ganha um livro. As ideias são opostas, a segunda negando a primeira. O Poema de um louco, anteriormente mencionado, também é um exemplo de como a contradição compromete o sentido textual. “Era meia-noite e o sol brilhava” são opostos, quando há um não há outro. Vale lembrar que o poema, em virtude de sua natureza artística e o uso diferenciado da linguagem, permite que construções como a do “Poema de um louco” ocorram. d) Metarregra da relação: “em um texto coerente, seu conteúdo deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis” (ABREU, 2008, p. 43). As informações contidas em um texto não podem ferir o senso de realidade que cada indivíduo constrói. Observe: CURSO LIVRE - REDAÇÃO 2 - OS FATORES DE TEXTUALIDADE
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