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Aula 10 - Análise de Fernanda Mussalini

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Aula 10: Análise do discurso de linha francesa 2 
 
Análise feita por Fernanda Mussalim 
 
 
Condição de produção, sujeito e imagem 
 
 
Qual é o contexto histórico-social? Em que condições esse texto foi produzido? 
Segundo Mussalim (2001:123), o momento histórico em que esse texto foi produzido 
é o das discussões acerca da clonagem e da consequente questão da ética na 
ciência. 
 
Utilizando-se da figura do Papa, o autor problematiza no texto a oposição entre dois 
pontos de vista: o religioso-católico e o da ciência. Segundo Mussalim, “Se este 
contexto for ignorado, todo o sentido do texto é alterado. Basta considerar a hipótese 
de este texto, por exemplo, ter sido escrito no século passado [...] Este texto não 
teria o estatuto que atribuímos a ele, o de colocar em cena um conflito ideológico 
atual, mas lhe seria atribuído o estatuto de “ficção científica” por abordar fatos 
inconcebíveis ao homem da época”. 
 
Fica problematizada, por meio do Papa, a questão da imagem, amplamente 
discutida pela AD: Quem sou para que você me fale assim? Quem é você para que 
eu lhe fale dessa forma? 
 
Formação discursiva e formação ideológica 
 
Mussalim, por meio da figura do Papa, mostra-nos o confronto entre duas forças 
ideológicas – a da Igreja e a ciência. Veja o que a autora afirma. 
“O que se pode dizer do devaneio do Papa? Que ele representa um posicionamento 
da Igreja Católica com relação à liberdade do homem, diante da própria vida? Que 
ele representa as possibilidades que a ciência moderna oferece ao homem de ser 
senhor de sua própria vida? Não é possível optar por apenas uma das hipóteses 
sem incorrer no risco de desconfigurar o sentido do texto? O devaneio do Papa 
representa, ao mesmo tempo, o posicionamento católico e o posicionamento da 
ciência moderna [...]” (2001: 124) 
 
 
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A noção de sentido para a AD 
 
Para a AD, o sentido é determinado pelo discurso: as formações ideológicas 
determinam o sentido do texto. Segundo a autora, em alguns momentos o Papa fala 
do lugar ideológico da ciência – “Nascer de novo.” -, outras vezes fala do lugar 
ideológico da Igreja – “Obrigado, Senhor. Não mereço esta graça”. 
Analisando a crônica, podemos perceber que o personagem ‘Papa’ “[...] vai sendo 
construído à medida que se dá a sua própria constituição. Esse sentido, no entanto, 
não é qualquer sentido, mas está previsto pelas forças ideológicas colocadas em 
jogo na crônica. A AD diria que os sentidos possíveis para esta crônica deslocam-se 
entre [...] a “formação discursiva da ciência” e a “formação discursiva católica”. No 
espaço de circulação entre essas duas formações discursivas é que residiria o 
sentido“. (2001:132)

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