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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS PSICOSSOCIAIS EM PACIENTES DE LEPRA NA CIDADE – CASO MONTEPUEZ/2018 Autor: Francisco Matos PEMBA, JULHO DE 2018 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS PSICOSSOCIAIS EM PACIENTES DE LEPRA NA CIDADE – CASO MONTEPUEZ/2018 Autor: Francisco Matos Supervisor: Dr. Alcino Stélio Genito Fernando PEMBA, JULHO DE 2018 3 Autorização de entrega do Trabalho Trabalho de Culminação do Curso AVALIAÇÃO DE IMPACTOS PSICOSSOCIAIS EM PACIENTES DE LEPRA NA CIDADE – CASO MONTEPUEZ/2018 Supervisor Co-supervisor Estudante ______________________ __________________ ______________________ PEMBA, JULHO DE 2018 I JÚRI _____________________________________________________ Presidente ________________________________________________ Supervisor ____________________________________________________ Oponente ________________________________________________ Secretário _______________________________________________ Vogal II AGRADECIMENTOS Ao meu supervisor, pela orientação e correcção atenciosa para elaboração com sucesso desta monografia. A todos os docentes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Lúrio que ao longo dos anos deram o seu contributo durante a minha formação. Aos profissionais de Saúde do Hospital Rural de Montepuez (HRM) e ao médico chefe daquela instituição, pela prontidão em fornecer informações relevantes para a concretização deste trabalho. Vão ainda aos meus colegas do curso de Ciências Biológicas e amigos que directa ou indirectamente contribuíram para a elaboração deste trabalho de investigação. III DECLARAÇÃO DE HONRA Eu, Francisco Matos, declaro por minha honra que este trabalho de investigação nunca foi apresentado, parcial ou integralmente, em nenhuma instituição para obtenção de qualquer grau académico e que consiste no resultado do meu trabalho pessoal, estando indicadas no texto e nas referências bibliográficas as fontes utilizadas. Pemba, 25 de Julho de 2018 ___________________________________ (Francisco Matos) IV DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus filhos, que têm me acompanhado durante esse tempo todo. Dedico também a todos aqueles que directa ou indirectamente deram o seu contributo na realização deste trabalho de investigação. V RESUMO O ecossistema do mangal tem desempenhado um papel preponderante no desenvolvimento económico, na protecção dos ambientes e da biodiversidade natural nas regiões costeiras. Contudo, nos últimos anos, o mangal da zona costeira de Bandar, reduziu significativamente por causa do crescente movimento migratório a procura de mecanismos de sustento das famílias. A maior parte de residências, estão em iminência de erosão costeira por causa de as mesmas serem implantadas em locais impróprios. Segundo a comunidade local e evidências indicam que uma parte de residências foi devorada pelas águas do oceano, constituindo assim uma das consequências de influência da comunidade local sobre ecossistema do mangal. A costa de Bandar é zona habitacional que enfrenta muitos problemas por a maioria das casas estarem implantadas em áreas impróprias, designadamente marés, erosão costeira, ausência de drenagens pluvial, entre outros problemas ambientais. Porém a causa primária da perda de áreas de mangal nessa zona é atribuída à actividade humana como a construção de casas, combustível lenhoso para venda e sua subsistência. No entanto, segundo os nossos entrevistados, ainda não foram avançadas alternativas com vista a mitigar os problemas de modo a alcançar o desenvolvimento sustentável do mangal na área de estudo. Palavras-chave: Influencias, comunidade local, ecossistema, mangal e impacto ambiental. VI LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais espécies de mangal na costa moçambicana e sua utilização ............Error! Bookmark not defined. Tabela 2 – Causas da diminuição do mangal de Bandar .......... Error! Bookmark not defined. Tabela 3 – Principais usos do mangal em Bandar .................... Error! Bookmark not defined. Tabela 4 – Impactos resultantes do corte do mangal em Bandar…………………………......Error! Bookmark not defined. _Toc518499449 VII LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS gráf – gráfico ha – hectares INE – Instituto Nacional de Estatística m – metro PDM – Perfil Distrital de Metuge tab – tabela VIII LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Condições da habitação da comunidade de Bandar ............. Error! Bookmark not defined. Gráfico 2 – Material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar .................Error! Bookmark not defined. Gráfico 3 – Evolução do mangal nos últimos 3 anos ............... Error! Bookmark not defined. Gráfico 4 – Medidas de preservação do mangal de Bandar ..... Error! Bookmark not defined. 1 CAPITULO I – INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO De acordo com ZAMPARONI (2008, p. 44), “a lepra é a doença mais antiga e continua a ser a mais temida. Apesar de ser uma patologia arqueológica, uma doença do passado, que se encaixa numa representação de uma doença erradicada, em África a lepra é uma doença re- emergente com novos casos em cada ano, fruto das condições de higiene mas em grande medida pela inacessibilidade à medicação antibiótica”. Nesta perspectiva, ARAÚJO (2003, p. 121), diz que a lepra é uma “doença infecciosa crónica transmissível, típica do homem, causada por Mycobacterium Leprae, que afecta principalmente a pele e o sistema nervoso periférico”. MEDINA et al (2004, p.53), conceituam a lepra como sendo uma “doença infecto-contagiosa de evolução crónica que se manifesta, principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e táctil”. Tais manifestações são resultantes da acção do Mycobacterium leprae, agente causador da doença da Lepra, em acometer células cutâneas e nervosas periféricas. A partir das percepções dos autores a cima citados, importa referir que a lepra é uma doença infecciosa crónica, que incide, numa fase inicial sobre a “pele e nervos periféricos e posteriormente sobre estruturas mais profundas como os músculos, ossos, olhos e vísceras”. “É causada pelo Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen), descoberto por Gerard H. A. Hansen, em 1873, microrganismo pertencente à mesma família da micobactéria causadora da tuberculose” (NDEVE et al, 2008, p.98). “A lepra é uma doença que ataca hoje em dia mais de 12 milhões de pessoas em todo o mundo. Há 700.000 casos novos por ano no mundo” tal como realça ALVARENGA, (2013, p.134). No entanto, em países desenvolvidos é quase inexistente, por exemplo a “França conta com apenas 250 casos declarados. Em 2000, 738.284 novos casos foram identificados em todo o mundo contra 640.000 em 1999”, isto demonstra um aumento do número de casos notificados por ano. (ZAMPARONI, 2008, p.49).O continente africano ocupa o terceiro lugar na notificação de novos casos de lepra. “Em primeiro lugar o Sudoeste asiático com 167.505 novos casos, seguido da América com 41.891 https://pt.wikipedia.org/wiki/2000 https://pt.wikipedia.org/wiki/1999 2 novos casos. Em quarto e quinto lugar estão a zona do Pacífico Ocidental e a região Este do Mediterrâneo com, respectivamente, 5.859 e 3.938 novos casos” (WHO, 2009, p.71). De acordo com WHO (2009, p.72), “o número total de novos casos detectados no ano de 2008, reportados por 121 países, foi de 249. 007 casos, traduzindo um decréscimo em relação a anos anteriores. No continente africano foram notificados 29.814 novos casos”, dos quais “1200 casos foram identificados em Moçambique”, isso no ano de 2008. Na passagem do século XIX para XX, a lepra na África atraía a atenção dos missionários e médicos europeus. O missionário suíço Henri Junod, em sua etnografia sobre os povos tsonga, do sul de Moçambique, afirma que a lepra era considerada uma das duas doenças contagiosas mais temidas a outra era a tuberculose (ZAMPARONI, 2008, p.38). De acordo com MISAU (2017, p.87), Moçambique registou um aumento do número de casos de lepra, de 2016 para 2017, com taxas elevadas nas províncias do centro e norte. No total, o país registou em 2017, dois mil casos de lepra, contra 1.500 em 2016. Do número total de casos registados no país em 2017, “211 foram diagnosticados em crianças. Isto significa que o problema persiste”. Quer dizer que os mais velhos transmitem aos mais novos, que são os seus filhos e outros educandos” (MISAU, 2017, p.87). Segundo o MISAU (2017, p.94), as regiões Centro e Norte de Moçambique são as que continuam a registar maior número de casos de Lepra em todo o país, onde as províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia representam mais de 70 por cento de novos casos notificados por ano, sendo que Cabo Delgado é a mais endémica, com uma prevalência de Lepra de aproximadamente dois (2) casos em cada 10.000 habitantes. Segundo o BISACD (2017, p.52), no distrito de Montepuez registou-se um aumento do número de casos notificados em 2016 de 43 contra 18 em 2017, dos quais, 3 em crianças. De acordo com ROMERO (1995, p.64), a “ausência ou o baixo nível de civilização dos povos subdesenvolvidos, pela miséria que atinge a maioria dos seus habitantes, é um dos principais factores para a disseminação da lepra”. Com efeito, é evidente que a cidade de Montepuez na sua maioria tem uma população residente que nos últimos anos fez o êxodo rural. 3 Esta monografia científica é destinada a obtenção do grau académico de licenciatura em ensino de Biologia. Ela está estruturada em cinco (5) capítulos. Aos quais se acrescentam as conclusões, as referências bibliográficas, apêndices e anexos. O primeiro capítulo é a parte introdutória onde é apresentado o tema e engloba a delimitação do tema da pesquisa, a sua justificativa, a problematização, hipóteses bem como os objectivos a alcançar. O segundo capítulo diz respeito a revisão da literatura onde são apresentados alguns conceitos e conteúdos que versam sobre o ecossistema do mangal. Todavia, são apresentadas ainda neste capítulo as características da área de estudo como a localização geográfica, os aspectos climáticos, pedológicos, hidrográficos, florísticos e faunísticos. No terceiro capítulo corresponde a metodologia adoptada para a execução desse trabalho que tem a ver com as componentes bibliográficas e de campo onde igualmente foram usadas técnicas que suscitaram até a fase final do mesmo. No quarto capítulo são interpretados e analisados os principais dados colhidos na base de ferramentas como entrevista, inquérito e observação, na fase do trabalho de campo. Na sequência disso, são produzidos tabelas, gráficos e inseridas imagens fotográficas mais relevantes para o estudo. As principais conclusões e sugestões são apresentadas no quinto e último capítulo onde, igualmente, são ostentados os apêndices e anexos. 4 1.1 Problema A lepra é um grande problema de saúde pública, sendo Moçambique um país endémico. Embora esta doença ocorra em todas as classes sociais, “é supõe-se que a maior incidência acomete as classes socioeconómicas baixas, concentrando-se em regiões de maior pobreza onde se encontra um baixo nível de educação, cultural e nutrição afectando a vida de milhares de pessoas” como aborda OLIVEIRA (1990, p.66). O preconceito em relação aos portadores de lepra pode ser explicado pela ignorância e pelo medo. A sociedade julga, afasta, discrimina e no entanto, não conhece o outro. “O auto- estigma é algo que também faz parte da realidade dos indivíduos acometidos por essa doença e é uma questão central para grande parte dos pacientes” (POLASTRO, 1999). Isto pode ser explicado quando em “2017 verificou-se uma diminuição do número de casos notificados de 93 contra 174 em 2016” (BISACD, 2017, p.50). De acordo com BISACD (2017, p.51), “maior número de pessoas diagnosticadas em 2017 apresentavam-se num estado de agravamento, ou melhor em fase de lepra”. Isto, significa que os pacientes para fazerem consultas médicas esperavam pelo agravamento da doença o que contribui na disseminação da lepra. “Dos 174 casos diagnosticados em 2017, 49 chegaram ao fim do ano e os restantes abandonaram com o tratamento. Montepuez é um dos distritos mais vulnerável da província de Cabo Delgado segundo as estatísticas sobre o diagnóstico de lepra (BISACD, 2017, p.52). 1.2 Questões de pesquisa Que factores concorrem na propagação da lepra em Montepuez? Porque é que em 2017 verificou-se uma diminuição dos casos diagnosticados comparativamente à dos anos anteriores e quais foram as razões do abandono no tratamento dos pacientes? O que deve ser feito com as pessoas portadoras de sinais e sintomas de lepra para aderirem ao diagnóstico em Montepuez? 5 1.3 Relevância do estudo “O paciente com lepra pode passar por uma série de problemas psicossociais que dificultam a sua reabilitação” (ALVARENGA, 2013, p.129). Se pensarmos, por exemplo, com relação à não-aceitação da doença, podemos observar manifestações tanto do paciente como da família ou da sociedade. No âmbito social, a pesquisa traz-nos aquilo que é vivenciado hoje em dia pelos leprosos em geral e da cidade de Montepuez em particular, visto que as limitações nas actividades de vida como dificuldades de cuidar da própria higiene, dos afazeres da casa; e as actividades na vida prática como, por exemplo, “ir ao banco, ao supermercado, frequentar clubes para a realização de actividades sociais e físicas que passam a ser restringidas e por vezes impossíveis de serem realizadas sejam casos normais ou incentivo em que qualquer indivíduo realize, independentemente do seu estado físico e psicológico” (SANTANA, 1998, p.167). No âmbito científico, esta pesquisa poderá servir de ponto de partida onde irá incentivar para que se façam mais estudos sobre a lepra, isto quer dizer, a partir de Montepuez pode-se fazer estudos a nível provincial. 1.4 Justificação do estudo Os sentimentos relacionados à doença de lepra, como o medo, a vergonha, a culpa, a exclusão social, a rejeição e a raiva estão internalizados no psiquismo de seus portadores. “O estigma e o preconceito permanecem no imaginário dos indivíduos, pois estão enraizados em nossa cultura, causam grande sofrimento e dor aos portadores desta doença” (MALERBI, 2000, p.21). Neste sentido, o diagnóstico deveria ser um alívio, ou melhor, uma suavização dessa angústia mas em pacientes de lepra tem-se percebido que o efeito é o contrário do esperado. “Facto este que tem sido observado por desencadear um forte impacto momentâneo que se estende aos demais convívios sociais do adoentado” (BENFICA, 2000, p.86). Pois, o interesse em escrever sobre este tema partiu da necessidadede buscar um entendimento mais aprofundado de como o diagnóstico pode influenciar na redução dos casos de prevalência da endemia que tem presumido a comunidade do distrito de Montepuez. 6 2. OBJECTIVOS 2.1. Objectivo geral Avaliar os impactos psicossociais em pacientes de lepra na cidade de Montepuez. 2.2. Objectivos específicos Identificar os factores da propagação da Lepra na cidade de Montepuez; Explicar as causas da redução dos casos diagnosticados e as respectivas razões do abandono no tratamento dos pacientes; Sugerir possíveis soluções ou estratégias para aderência de pessoas com sinais e sintomas ao diagnóstico da Lepra em Montepuez. 3. HIPÓTESES A falta de higiene pessoal, do vestuário e domiciliar e ainda a mais completa promiscuidade da população podem proporcionar factores da propagação da lepra em Montepuez. Possivelmente os preconceitos permanentes e a falta de informação satisfatória sobre as consequências da lepra pode estar por detrás do abandono do tratamento da doença. Com a realização de campanhas de sensibilização a comunidade local sobre as consequências da lepra pode contribuir para aderência de pessoas com sinais e sintomas ao diagnóstico em Montepuez. 7 CAPITULO II – MATERIAL E MÉTODO 2. Descrição de área de amostragem 2.1. Localização geográfica da cidade de Montepuez Segundo o MAE (2005, p.47), “Montepuez é uma cidade moçambicana da província de Cabo Delgado, sede do município e distrito do mesmo nome. A cidade tem uma área de 79 km² e uma população de 55.600 habitantes”. “Em termos de divisão administrativa territorial, para além da cidade de Montepuez, este distrito conta com quatro Postos Administrativos, nomeadamente: Mapupulo, Mirate, Nairoto e Namanhumbir”. PDM (2007, p.37). Observa o mapa da figura 1 sobre a localização da Cidade. Mapa 1: Enquadramento geográfico da cidade de Montepuez Figura 1: Mapa de localização geográfica da cidade de Montepuez. 8 O distrito de “Montepuez faz fronteira com os distritos de Namuno e Chiúre a sul, e a norte com o distrito de Mueda, a Leste com os distritos de Ancuabe e Meluco, e a Oeste com o distrito de Balama e com a província de Niassa através do distrito de Mecula”. (MAE, 2005, p.47). 2.1.2 Clima Á semelhança dos distritos vizinhos, “Montepuez conta com um clima semi-árido e sub- húmido seco, com uma precipitação média anual entre 800-1200 mm, podendo na zona costeira exceder os 1500 mm anuais (clima sub-húmido chuvoso). A temperatura média anual varia de 20-25ºC, excedendo ocasionalmente os 25ºC” (PDM, 2007, p.45). 2.1.3 Solos De acordo com o PDM (2007, p.45), os “solos de Montepuez são condicionados por depressões hidromórficas suaves ou vales extensos de textura variada desde os solos aluvionares, arenosos-argilosos, arenosos estratificados ou grosseiro, cores cinzentas, escuros, profundos, de textura média a pesada, bem a moderadamente bem drenados, sujeitos a inundações regulares”. Nos topos e encostas entre rios predominam complexos de solos vermelhos, amarelos e alaranjados. 2.1.4 Hidrografia A rede hidrográfica de Montepuez caracteriza-se por possuir importantes rios de regime temporário com excepção do rio Lugela que delimita Montepuez com a província de Niassa através do distrito de Mecula. Na sua maioria, os rios que percorrem este distrito são inavegáveis devido a topografia do terreno (MAE, 2005, p.49). 2.1.5 População Pela sua extensão (17721 km2), “Montepuez é relativamente menos povoado, com uma densidade populacional estimada de cerca de 13 habitantes/km2. As projecções mostram que a população cresce a uma taxa anual média de 3% ” (INAE, 2010, p.68). 9 2.1.6 Actividade mais praticada De acordo com PDM (2007, p.48), a “agricultura é a actividade dominante e envolve quase todos os agregados familiares. De um modo geral, a agricultura é praticada manualmente em pequenas explorações familiares em regime de consociação de culturas com base em variedades locais. A produção agrícola é feita predominantemente em condições de sequeiro, nem sempre bem sucedida, uma vez que o risco de perda das colheitas é alto, dada a baixa capacidade de armazenamento de humidade no solo durante o período de crescimento das culturas”. 2.2 O material usado nos métodos Para o desenvolvimento deste trabalho foi necessário o uso de materiais a saber: Gravador de voz (celular SUMSUNG Note IIII) – este serviu para gravar as ideias dos informantes que foram colhidas através da entrevista; Câmara fotográfica (celular SUMSUNG Note IIII com 16 MP) – esta permitiu na recolha de imagens fotográficas de pacientes em Montepuez, isto é justificado nos resultados através do método de observação directa. Resma – esses papéis foram úteis na reprodução dos questionários para realização do inquérito que foi conduzido à comunidade residente na Cidade de Montepuez. Esferográfica – serviu para anotação das informações colhidas na entrevista que foi destinada aos portadores de lepra e aos funcionários da saúde no HRM. Outros materiais com menos importância e que eventualmente foram usados não foram mencionados como por exemplo o lápis, borracha, agrafador, entre outros. 2.2 Descrição dos passos ou procedimentos metodológicos A metodologia adoptada para a execução desse trabalho traduz a maneira como essa pesquisa foi desenvolvida. Para esta pesquisa foram realizadas as componentes bibliográficas e de campo a decorrer nos moldes que a seguir se passa a apresentar: 10 2.2.1 Fase de pesquisa bibliográfica De acordo GIL (2008, p.12) esta pesquisa “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros, e artigos científicos com material disponibilizado na Internet”. No caso desse trabalho, para esta fase consistiu na busca de informações inerentes ao tema a partir de livros, artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso nomeadamente monografias, dissertações e teses em certos casos, documentos normativos existentes para o país. 2.2.2 Fase da Pesquisa de Campo GIL (2008, p.12) ressalta que o “estudo de campo procura o aprofundamento de uma realidade específica”. É basicamente realizada por meio da “observação directa das actividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do ocorrem naquela realidade”. Nesta fase, baseou-se em actividades de recolha de dados por via de entrevistas e inquérito que foram aplicados à comunidade da cidade de Montepuez portadora da Lepra na base de um critério estabelecido para o efeito. Método Estatístico: neste método consistiu na sistematização de dados do questionário aplicado na área de estudo, cujos resultados foram configurados em tabelas e gráficos através do Microsoft Excel, com o objectivo de avaliar os impactos psicossociais influenciados pelo diagnóstico da Lepra. 2.2.2.1.Técnicas de recolha de dados Entrevista No que se refere a entrevista, foi conduzida para a recolha de sensibilidades de diversas individualidades em relação a enfermidade em causa. Para tal usou-se um guião de perguntas que foi se fazer aos portadores da Lepra e aos profissionais de saúde. Para esse efeito, foram entrevistados três (3) portadores dessa doença e dois (2) profissionais da saúde, isto é, pessoas que cuidam dos pacientes. 11 No entanto, o autor apoiou-se de um gravador para o registo das declarações e anotações directas que foram feitas durante a entrevista. Questionário Quanto ao questionário recorreu-se a um conjunto de questões pré-elaboradas, sistemática e sequencialmente dispostas em itens que constituíram o tema da pesquisa, com objectivo de suscitar dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre assunto que os informantes sabiam opinar ou informar acerca da doença. O inquérito foidestinado aos pacientes dessa enfermidade e à população residente na área abrangida pela pesquisa. No entanto, foi feito duma forma aleatória. Os dados obtidos no questionário aplicado na área de estudo, foram representados tabelas e gráficos com propósito de analisar as ideias colhidas no terreno como resultados desta técnica. 2.3 Universo LAKATOS e MARCONI (2003, p.218), conceituam universo ou população como o “conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”. A cidade de Montepuez possui um universo de 3961 casos notificados. Esses são dados correspondentes dos últimos quatro (4) anos. 2.4 Amostra De acordo com MARINHO (1980), uma amostra de dados é um “conjunto de dados colectados e/ou seleccionados de uma população estatística por um procedimento definido”. No entanto, fizeram parte da amostra 40 pacientes num universo de 396 juntamente com a comunidade local e a escolha de amostra é de salientar que foi de forma aleatória. 1 Dados correspondentes dos últimos quatro (4) anos, de 2014 – 2017. Estes dados foram extraídos no Boletim Informativo da Saúde da província de Cabo Delgado, Ministério da Saúde. https://pt.wikipedia.org/wiki/Dados https://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_(estat%C3%ADstica) 12 CAPÍTULO III – RESULTADOS Para o desenvolvimento do presente capítulo, foram feitos trabalhos de campo onde traçou-se técnicas de inquérito, entrevista e o método de observação com objectivo de recolher dados referente a impactos psicossociais sobre o diagnóstico da lepra. Para a pesquisa do problema, foram cruzados métodos e técnicas de pesquisa entre os quais se destacam as técnicas de entrevista e inquérito e o método de observação directa, onde inicialmente foram traçados guiões para a efectivação das respectivas técnicas (observa os anexos). No que concerne ao inquérito, referir que não estava somente destinado aos portadores da lepra mas também alguns residentes não contaminados neste caso a comunidade local, durante quatro dias onde visava recolher informações de base referentes a propagação da lepra, com vista a traçar estratégias adequadas para minimizar os efeitos psicossociais. Por se tratar duma doença de preconceitos, não existem dados estatísticos sobre o número total dos portadores dessa doença, mas o autor inquiriu 40 pessoas incluindo os pacientes de lepra. Assim 75% dos inquiridos são do sexo masculino, 25% são do sexo feminino e cerca de 60% possuem idade compreendida entre 35 a 45 anos, 35% para a faixa etária de 50-70 e os restantes maiores que 70 anos. Em relação às entrevistas, referir que foram feitas aos profissionais da área de Dermatologia em número de dois e de igual número de pacientes, onde pretendia identificar os factores da propagação da lepra compreendendo os casos de lepra notificados nos últimos 4 anos para intensificar o combate a lepra por meio de campanhas de sensibilização, prevenção e diagnostico precoce. Portanto, a apresentação dos resultados da pesquisa efectuada, faz uma combinação dos dados adquiridos nas variadas técnicas e métodos de pesquisa. Assim, apresenta-se os seguintes resultados: Segundo dados obtidos a partir do inquérito, a maioria dos portadores provêm dos distritos circunvizinhos como Namuno e Balama. Estes afluíram a cidade de Montepuez com as suas famílias a procura de melhores condições de vida. 13 3.1 Condições da habitação dos leprosos em Montepuez Segundo dados obtidos a partir do inquérito indicam que 80% dos inquiridos habitam nas casas de pau a pique, 15% residem em casas de blocos de adobe e 5% habitam nas casas de alvenaria ou blocos de cimento o que constitui a minoria. E referir que o regime de propriedade a maioria vive nas casas dos familiares. Observa o gráfico 1. Gráfico 1 – Condições da habitação dos leprosos de Montepuez Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 3.2 O nível de conhecimento sobre a lepra aos portadores da doença em Montepuez Dados do inquérito indicam que 60% dos portadores inquiridos obtiveram informação pelos profissionais da saúde local através do diagnóstico realizado, o que constitui a maioria em número de 24. Como se não bastasse 14 portadores ouviram a partir dos familiares o que representa 35% dos inquiridos, 5% obtiveram com base nos cartazes e ninguém teve informação a partir da rádio como a tabela a baixo ilustra. Vide a tabela 1. Tabela – Obtenção da informação sobre a lepra aos portadores de Montepuez Obtenção da informação através de: No de respostas Percentagem Profissionais de saúde 24 60% Familiar 14 35% Cartaz 2 5% Rádio 0 0% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. Blocos de cimento/tij olo Blocos de adobe Pau a pique Madeira e zinco Condições da habitação dos leprosos de Montepuez 5% 15% 80% 0% 0% 20% 40% 60% 80% 100% P e rc e n ta ge m Condições da habitação dos leprosos de Montepuez 14 3.3 O nível de transmissão da enfermidade em Montepuez De acordo com dados do inquérito a maior parte dos portadores da lepra não sabe como contagiou esta doença, isso indica que a comunidade não presta atenção as medidas de prevenção da doença em causa tal como ilustra o gráfico 2. Gráf. 2 – O nível de transmissão da lepra em Montepuez Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 3.4 Factores sociológicos associados à propagação da lepra em Montepuez Em relação aos factores sociológicos associados a propagação da lepra destacam-se a pobreza e os preconceitos por parte da comunidade. É notório que essas noções encontram-se enraizadas naqueles núcleos de população onde vicejam a miséria e a ignorância e, dessa maneira, contribuem para o agravamento do problema médico-sanitário que representa o controlo dos focos nas referidas colectividades. Como a tabela 2 ilustra. Vide tab.2 Tab. 2: Factores sociológicos associados a propagação da lepra em Montepuez Factor sociológico Nº de respostas Percentagem Pobreza 22 55% Preconceito 6 15% Profissão 0 0% Não sabe 12 39% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 10% 5% 0% 85% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Familiar Parceiro Amigo Não sabe O nível de transmissão da lepra em Montepuez O nível de transmissão da lepra em Montepuez 15 3.5 Reacção do paciente após o diagnóstico da lepra em Montepuez Questionados se fizeram o diagnostico de Lepra a resposta foi positiva em relação ao numero total dos inquiridos, onde afirmaram que fizeram o diagnostico 80%, isto, quer dizer que 20% dos leprosos inquiridos não fizeram o diagnóstico, visto que é positivo aderir ao diagnostico para o combate e diminuição do nível de contaminação. Observa o gráfico 3. Gráf. 3: Reacção do paciente após o diagnóstico da lepra em Montepuez Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 3.6 Orientações do medico após o diagnostico de lepra em Montepuez Dados do inquérito indicam que após o diagnóstico são orientados pelo médico a procederem com o tratamento. Observa a tabela 3. Tab. 3: Orientações do medico após o diagnostico de Lepra em Montepuez Orientação do médico Nº de respostas Percentagem Aderir ao tratamento 40 100% Esperar agravar 0 0% Não disse nada 0 0% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018 Tristeza 40% Medo 25% Vergonha 25% Falta de esperança 10% Reacção do paciente após o diagnóstico da lepra em Montepuez 16 3.7 Pessoas com sinais e sintomas de lepra Uma menor com sinais de lepra Jovem com sinais e sintomas de lepra Uma senhora com sinais de lepra Um senhor comsinais de lepra 3.8 Pessoas padecendo de lepra já num estado mais avançado Idoso num estado de lepra mais avançada Idoso abandonado com os seus familiares 17 Pessoa infectada de lepra recebendo tratamentos no Hospital Rural de Montepuez 18 CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO 4.1 Condições da habitação dos leprosos de Montepuez Segundo BAIA (2004, p.172), a urbanização é resultado do crescimento demográfico combinado com a expansão espacial através da construção de casas em áreas anteriormente ocupadas por florestas. Entorno da ideia acima citada, pode-se dizer que em relação às condições de habitação da área de estudo, a comunidade, possui na sua maioria habitações de produtos provenientes de pau. Segundo dados obtidos do inquérito indicam que a maioria dos leprosos habita nas casas de pau a pique sendo um dos resultados da expansão territorial. 4.2 O nível de conhecimento sobre a lepra aos portadores da doença em Montepuez Questionados se alguma vez ouviram falar da lepra quase na sua totalidade assegurou em ter ouvido da doença. E dados obtidos a partir do inquérito indicam que a maior parte dos portadores inquiridos obtiveram informação pelos profissionais da saúde local através do diagnóstico realizado. 4.3 O nível de transmissão da enfermidade em Montepuez De acordo com Lira e Silva (2010, p.82), a transmissão da doença se faz “através das vias aéreas superiores passando pelas vias hemolinfáticas”. Há estudos que considera a pele uma possível forma de contágio, lembrando quando não medicado, mas para isso acontecer o leproso tem que conviver intimamente com outra pessoa, para se transmitir a doença. No contexto familiar o contágio é mais comum, no caso do virchowiano ou dimorfa, pois pessoas que não tiverem iniciado o tratamento possuem grande probabilidade de transmissão. Os seres humanos são considerados a única fonte de infecção da lepra, além das vias aéreas as secreções eliminada pelo homem como leite, esperma, suor, e secreção vaginal, podem eliminar a bactéria (ARAUJO, 2003). 19 A maioria dos inquiridos leprosos não sabem como contagiou esta doença, isso indica que a comunidade não presta atenção as medidas de prevenção da doença em causa. Desta feita, há necessidade de concluir que os leprosos dificilmente têm amigos. 3.4 Factores sociológicos associados à propagação da lepra em Montepuez Em relação aos factores sociológicos associados a propagação da lepra destacam-se a pobreza e os preconceitos por parte da comunidade. É notório que essas noções encontram-se enraizadas naqueles núcleos de população onde vicejam a miséria e a ignorância e, dessa maneira, contribuem para o agravamento do problema médico-sanitário que representa o controlo dos focos nas referidas colectividades. Fazendo uma profunda análise, podemos concluir que o baixo nível socioeconómico, a falta de condições habitacionais, habitualmente superlotadas, a dificuldade de acesso ao sistema de saúde, bem como às redes de apoio social, e a discriminação social são factores a ter em conta na propagação da lepra aos familiares e amigos. 3.5 Reacção do paciente após o diagnóstico da lepra em Montepuez COELHO (2008, p.34), salienta que o “diagnóstico é uma experiência subjectiva muito forte, no qual a pessoa necessitará de um tempo para se reabilitar sobre as novas condições que a doença traz”, pois quando o indivíduo toma conhecimento do diagnóstico tende a não aceitar, isso pode estar ligado ao medo, ao preconceito, à discriminação e também a características religiosas. Realmente concordamos com a ideia do autor, visto que quando a pessoa começa a ter aceitação da doença, passa a preocupar-se com a aparência física, a auto-estima se altera, apresenta medo de perder a família, esses comportamentos interferem de forma relevante na rotina do indivíduo. Questionados se fizeram o diagnostico de Lepra a resposta foi positiva em relação ao numero total dos inquiridos, onde afirmaram que fizeram o diagnostico 80%. Segundo os nossos inquiridos a maior parte quando fez o diagnóstico ficou triste e acima de tudo muita vergonha de si mesmo e assim como o medo de enfrentar a sociedade. 20 O impacto do diagnóstico deixa transparecer o sofrimento e a incerteza em relação à fidedignidade do próprio diagnóstico, com o tempo o sofrimento psíquico pode desencadear um estado de crise provocando tensões, com isso desestabilizando o relacionamento familiar e social. 4.6 Orientações do medico após o diagnostico de lepra em Montepuez BRASIL (2008, p.57), diz que quando um indivíduo recebe o diagnóstico que tem a Lepra é passado para o mesmo orientações para o tratamento que deve seguir. Em grande maioria o indivíduo tem que ter um tempo para entender o diagnóstico, ter conhecimento sobre a doença, compreender e enfrentar o tratamento, entender que é necessário o comprometimento com o tratamento para se curar. O apoio familiar é fundamental para que o sujeito aceite sua condição e não se sinta isolado neste processo, contribuindo para uma melhor adesão ao tratamento. A ideia do autor, relaciona-se com os dados obtidos no inquérito que após o diagnóstico foram orientados pelo médico a procederem com o tratamento. No que concerne ao tratamento, referir que alguns já abandonaram e não se sabe quais são as causas que lhes levam a repudiar com o processo. Alguns dos nossos inquiridos referem que a vergonha de apresentarem no meio social é uma das causas do abandono. Dados do inquérito indicam que poucas vezes os familiares fazem acompanhamento dos mesmos. Logo, levanta-se a questão da exclusão, do preconceito e da discriminação que se encontram enraizados na construção social da lepra e são factores que dificultam seu enfrentamento e o convívio do portador com as demais pessoas, tornando-se necessário resgatar sua auto-estima, recuperar seus vínculos e reintegrá- lo à sociedade. 4.7 Resultados das entrevistas realizadas As informações presentes nas entrevistas foram agrupadas em quatro categorias. A categoria 1 aborda da situação da Lepra na cidade de Montepuez; a Categoria 2 trata de campanhas de sensibilização às comunidades em matéria de Lepra; a Categoria 3 tem a ver com o acolhimento dos portadores da lepra pelos profissionais de saúde no HRM; a Categoria 4 refere as informações que são transmitidas aos portadores da doença pelos profissionais da 21 saúde a respeito da lepra; a Categoria 5 aborda a reacção das pessoas ao receber o diagnóstico de lepra; e a Categoria 6 relata o quotidiano do portador da doença e suas relações com os indivíduos. Visando preservar a identidade dos entrevistados, os discursos estão identificados por Pr (profissional) e Pa (paciente) os participantes classificados numericamente com base na sequência das entrevistas (Pr1, Pr2, Pa1, Pa2 e Pa3). 6.7.1 Categoria 1: A situação da Lepra na cidade de Montepuez Na referida categoria pretende-se saber qual é a situação actual da Lepra em Montepuez. De acordo com o nosso entrevistado em Montepuez, o número de casos diagnosticados diminuiu comparativamente dos anos passados. Dos 174 casos diagnosticados em 2017, 49 chegaram ao fim do ano e os restantes abandonaram com o tratamento. As autoridades estão a tentar eliminar a doença. Uma das grandes preocupações dos médicos é que nem todos os pacientes com lepra, acabam o tratamento, que pode demorar até um ano. O perigo de infectar outras pessoas é grande. O profissional frisa que: “No caso de haver desistência e a pessoa não terminar o tratamento, ela continua com o microorganismo no corpo e vai ser um foco. Onde vai na comunidade, vai ser um foco. Por ser uma doença contagiosa, vai contaminar os outros, porque as outras pessoas não conhecem a manifestação da doença. Vão vivendo com a doençae contaminarão os outros.” (Pr1) 3.7.2 Categoria 2: Campanhas de sensibilização às comunidades em matéria de Lepra Nesta categoria pretende-se saber se os profissionais de saúde em Montepuez têm realizado campanhas de sensibilização de combate e prevenção da lepra. E o nosso entrevistado afirma que tem se realizado campanha de sensibilização para o combate e prevenção da doença onde ressalta que: “Actualmente, as autoridades de saúde promovem campanhas de sensibilização, para garantir que os doentes façam o tratamento até ao fim, alertando-os para os sintomas da lepra.” (Pr1) 22 “Temos feito visitas domiciliares de acompanhamento, e as pessoas que são infectadas quando iniciam o tratamento um rastreio, também é feito para as famílias de convivência daquele individuo que foi infectado, principalmente para as crianças, porque a criança até pode crescer com uma mancha que a mãe não liga.” (Pr2) 3.7.3 Categoria 3: Acolhimento dos portadores da lepra pelos profissionais de saúde no HRM A referida categoria aborda a forma como são acolhidos os leprosos pelos profissionais da saúde no Hospital Rural de Montepuez. Acolher é “receber o ajudado calorosamente ao iniciar o encontro com ele, sendo que, ao acolhê-lo, deve-se transmitir receptividade e interesse, de modo que ele se sinta valorizado”. Desta forma, torna-se relevante a presença de uma equipe humanizada nos sistemas de saúde que actue como facilitadora na consolidação de estratégias de acolhimento ao compartilhar todo um processo de respeito e empatia (MORAIS, 2010). Os discursos obtidos nas entrevistas demonstraram que os profissionais do HRM fazem o acolhimento do início ao término do tratamento. Ressaltaram que, mesmo sendo um atendimento público, não apresenta diferença do atendimento exclusivo, pois consideraram ser bem recebidos e bem tratados pelos profissionais, como confirmado nas palavras dos entrevistados abaixo: “Nós os profissionais de saúde acolhemos os pacientes desde o inicio até ao fim de tratamento. Até mesmo os portadores sempre têm desejado melhor o nosso desempenho para com eles. Todavia, apareceu uma visita provincial que tinha a ver com o combate e prevenção contra a lepra onde participaram numa palestra foram abertamente questionados se eram bem atendidos, e a resposta deles foi sempre positiva e muito satisfatória a favor de nós os profissionais. Ressaltavam ainda que o acolhimento não fazia diferença com um tratamento privado”. (Pr1) “Os pacientes são muito bem recebidos e é de salientar que todas as vezes que eu vim trabalhar nunca acompanhei queixas de mão atendimento aqui no nosso 23 Hospital e em relação ao tratamento, aqui nunca faltou nada em termos de medicação”. (Pr2) Logo, fica claro que o acolhimento é um factor motivador de auto cuidado. Ser bem atendido, avaliado e ter acesso ao atendimento multiprofissional, quando necessário, é um direito de todos os moçambicanos. No estudo de DAMASCENO et all. (2012, p.72), é mostrada a concepção dos profissionais da saúde sobre acolhimento. Eles afirmam que “acolhimento compreende-se como uma forma humanizada de receber o paciente, por meio da escuta, da conversa e da tentativa de resolver os problemas que são apresentados aos profissionais de saúde”. A partir de tais contribuições, é possível ampliar acções para a melhor aderência e resposta ao tratamento da lepra em Montepuez, para garantir a satisfação do paciente e estimulá-lo como agente de sua própria reabilitação. 3.7.4 Categoria 4: Informações que são transmitidas aos portadores da doença pelos profissionais da saúde a respeito da lepra Essa categoria está relacionada com as informações que são transmitidas aos pacientes pelos profissionais da saúde a respeito da lepra. Além do acesso ao tratamento e à medicação gratuita, os pacientes dos sistemas de saúde têm direito de receber informações sobre a sua doença, orientações sobre o seu diagnóstico e como se dá o tratamento. Tal informação deve ser prestada de forma clara, devendo ter sempre em conta a personalidade, o grau de instrução e as condições clínicas e psíquicas do doente. Especificamente, a informação deve conter elementos relativos ao diagnóstico (tipo de doença), ao prognóstico (evolução da doença), tratamentos a efectuar, riscos associados e eventuais tratamentos alternativos (MISAU, 2008). Foi constatado neste estudo que a população pesquisada teve acesso a materiais informativos (panfletos e cartazes), bem como informações verbais transmitidas pelos familiares e profissionais durante o tratamento, como ilustrado nos fragmentos dos seguintes discursos: 24 “Eu comecei ler uns cartazes que tem aqui dentro, os médicos também me orientaram bem, então eu passei a ter mais informação através daqui do HRM. Do que se trata, do que é a lepra, o que ela pode causar, então todo esse tipo de informação foi aqui no Hospital Rural de Montepuez”. (Pa1) “Eles me falaram que tinha que fazer o tratamento, não podia beber bebida alcoólica durante o tratamento, mas fiz o tratamento normal. Alguns pacientes aqui em Montepuez bebem muito álcool enquanto estão a medicar o que poderá impedir a reacção do medicamento”. (Pa2) BAIALARDI (2007, p.51), constatou, em estudo realizado por meio das transmissões de informações sobre a doença aos portadores de lepra, em forma de um trabalho educativo, que “essas informações contribuem para aliviar a angústia referente a alguns aspectos que fazem parte do estigma da doença, como o medo de contaminar outras pessoas e o medo da morte”. Nesta perspectiva, MINUZZO (2008), assinala em seu estudo a importância de fornecer correcta informação sobre a doença e seu tratamento ao paciente, à sociedade em geral e principalmente às famílias dos leprosos. “O apoio familiar é fundamental para que o sujeito aceite sua condição e não se sinta isolado neste processo, contribuindo para uma melhor adesão ao tratamento”. 3.7.5 Categoria 5: A reacção das pessoas ao receber o diagnóstico de lepra Esta categoria reflecte como o indivíduo reagiu ao receber o diagnóstico de lepra. A pessoa atingida pela lepra, ao receber o diagnóstico, recebe também da equipe de saúde as orientações para o tratamento que deve seguir. Na maioria das vezes, quando o diagnóstico é confirmado pelo médico, a pessoa tem que ter um tempo para entender o diagnóstico; conhecer mais sobre a doença; entender, enfrentar e comprometer-se com o tratamento, tomando os medicamentos regularmente para ficar curado (MISAU, 2008). Conforme SILVA et al. (2008, p.37), o “diagnóstico pode causar um impacto emocional no indivíduo. As principais reacções psicológicas são: negar, revoltar-se, ocultar ou revelar, podendo chegar à aceitação através de um processo que para cada um varia no tempo e na 25 intensidade”, como comprovado pelo discurso: “Foi muito desagradável, não gostei... fiquei muito triste, até ao ponto de cair lágrimas”. (Pa2) No presente trabalho, a confirmação do diagnóstico da doença mostrou-se como um dado relevante, uma vez que vários indivíduos afirmaram que já estavam preparados para receber tal informação. Já havia uma suspeita em relação à doença, e que tiveram tempo para elaborar um possível diagnóstico, como elucidado nos discursos abaixo: “Eu já estava preparado, graças a Deus que eu sou preparado para o que der e vier, eu já estava desconfiar, consegui aceitar as coisas”. (Pa2) “Eu já vinha assim preparado para receber uma notícia ou outra, por causa da mancha, que eu já havia suspeitado dela e isso sabia através dos cartazes que vinha lendo a cerca da doença e sensibilização dos profissionais que vinha tendo eu aceitei numa boa, eu soube controlar as emoções.” (Pa3) Pode-se perceber que a mudança após o diagnóstico de lepra na população pesquisada está associada aos sentimentos de solidão, angústia, tristeza, inutilidade,raiva e falta de esperança e medo. 3.7.6 Categoria 6: O quotidiano do portador da doença e suas relações com os indivíduos Esta categoria aborda o dia-a-dia do portador de lepra e como ele se relaciona com sua família/amigos e como sua doença interfere quando está na presença de outras pessoas, fazendo um paralelo do seu quotidiano antes e depois do diagnóstico da doença. GREGÓRIO at al (2008), comprovaram em seu estudo que as principais mudanças ocorridas em portadores de lepra após o diagnóstico foram nos relacionamentos família/amigos, assim como descreve o diálogo do entrevistado abaixo: “Ficaram com o pé atrás, eles ficaram assim, preconceituosos, a minha sobrinha comprou novos pratos e talheres no sentido de separar e tinha aquele preconceito de transmitir para outros familiares e assim nem em contacto com familiar.” (Pa3) 26 Os resultados mostraram que, no quotidiano dos portadores, eles continuaram desenvolvendo suas actividades, principalmente as laborais, mas de uma maneira restrita devido às reacções dos medicamentos e às incapacidades físicas. Buscavam formas alternativas de lidar com a doença, preferindo não se isolar, pois afirmaram que a lepra tem cura, como exemplifica a fala abaixo: “Se colocar na cabeça que está com aquele problema, aí piora cada vez mais, então eu tento me controlar, eu converso com meus amigos. Tento distrair a mente com outras coisas, escutando música, assistindo filme, fazendo alguma coisa, isso tudo para ter foco, sair da doença, sair dessa situação”. (Pa1) As reacções com a família e amigos próximos dos portadores podem variar conforme as condições culturais e socioeconómicas dos mesmos, visto que alguns entrevistados preferiram não comunicar para a família com receio de serem abandonados e isolados, como afirma o discurso a seguir: “Não vou falar, mas vou ficar na minha, e continuar uma vida normal, amizade fidedigna...não acha que é certo ficar calado? Nem com parente...e assim vou levando a vida, se eu for a ficar triste por causa disso, eu sei que minha situação vai piorar”. (Pa3) Segundo o estudo de VIDERES (2010), “alguns leprosos possuem dificuldades de aceitação das marcas deixadas pela doença como manchas e cicatrizes ocasionadas pelas lesões de pele e também quanto às deformidades, o que evidencia sentimentos de vergonha e medo de expor o corpo”. 3.8 A doença na sociedade makuwa A doença é uma realidade na vida humana, pela qual o Homem normalmente passa. A doença representa uma ameaça à saúde, supõe um agravamento da qualidade de vida e trás consigo uma ruptura do ritmo normal da actividade do indivíduo2. Na sociedade makuwa a doença da lepra é denominada localmente (MAKUTHULA3) os portadores desta doença são atribuídos aos espíritos maus (MINEPA SOTAKHALA), mágicos, 2 Ministério de Saúde 2007 3 Tem a ver com a mutilação em que o paciente fica deformado, sem dedos e com manch as na pele. 27 feiticeiros, maldição. Sobre isso fala um paciente que está no processo de tratamento no Hospital Rural de Montepuez: “Há muito tempo eu doente de lepra se me encontrar com as pessoas diziam que sou feiticeiro então Deus me deu esta doença para me castigar”. Espíritos (MINEPA) são localmente representados como sendo os mortos ou antepassados que deixaram a vida terrena (a sociedade e famílias) e transformaram-se em deuses e continuam a aparecer no corpo dos vivos ou para desordem ou para sorte. A doença simboliza a culpa e é considerada castigo emanado de um espírito maligno. Dois tipos de espíritos povoam o imaginário desta sociedade. Por um lado, Espíritos maus que intervêm para ameaçar o bem-estar das pessoas e a colectividade, e impõem a tristeza aos membros da família, criando desordem na unidade familiar e na comunidade.4 Sendo assim, deve-se lutar no sentido de superar a maldade através de ritos de cura que restauram a ordem quebrada pela doença e estabelecer harmonia na família. Os ritos de cura são praticados por especialista (NKHULUKANO)5 que possuem um conhecimento secreto de todos elementos necessários para a cura; esse conhecimento pode ser hereditário ou mesmo conseguido através de iniciativa própria e habilidades6. 3.9 Representação social da lepra As representações sociais constituem uma série de opiniões, explicações e as afirmações produzidas a partir do quotidiano dos grupos, das famílias, sendo a comunicação interpessoal importante neste processo7. A representação da lepra é um produto de processo de reinterpretação dos fenómenos vividos, concretamente, aquilo que não é da informação universal, ou seja cientificamente válido sobre o que é efectivamente a lepra. 4 Textos compilados 1989, dizem respeito a História de Moçambique. 5 Nome atribuído ao indivíduo que procura descobrir o culto e investigar as causas das desgraças e das doenças. 6 MARTINEZ, F.L. (2007). Antropologia Cultural. 5.ed. Maputo. 7 MOSCIVICI, S. (1969). Representações Sociais: investigações em psicologia social . São Paulo: Editora Vozes. 28 O próprio paciente que vive a doença pode produzir crenças e modificar as existentes sobre a sua enfermidade. As pessoas acreditavam que a lepra surge porque alguém da família cometeu algo errado que não vai de acordo com a moral dos seus antepassados, e, estes deixam de intervir a seu favor ou ainda desobedeceu algum compromisso para com a Ordem Superior Todo Poderoso (Deus), por isso o leproso devia ser isolado. O estudo de campo, permitiu-nos perceber que as representações da lepra no Moçambique colonial, baseadas tanto nos discursos do pecado e da impureza8, quanto ao combate, e isolamento, invisibilização do doente, marcaram as mentalidades do povo moçambicano em geral e de Montepuez em particular. De acordo com os nossos entrevistados a prática de isolamento teve distintas justificativas, tendo como a principal delas: isolar os leprosos para não contagiar. No período pós colonial foi possível deixar o isolamento e tratar os pacientes, o que possibilitou uma nova leitura da doença. As condições financeiras, domiciliares, de vizinhança, actividade ocupacional, característica de género e a educação fazem parte do processo da vivência e significação das doenças, sendo que esta, é parcialmente dependente das representações sociais9. A representação social da lepra deve servir como fonte de estudos e conhecimentos para a capacitação, das pessoas capazes de reverter para os portadores da lepra acções educativas, buscando minimizar o quadro do doente e da doença10. 3.10 Aspectos culturais da doença da lepra ALVEZ (1993), revelou que nas últimas décadas houve um crescente interesse pelo estudo dos aspectos socioculturais ligados ao processo da saúde-doença, em contraposição à visão positivista como fenómeno unicamente biológico. Os autores concebem cultura como universo de símbolos e significados que permitem, aos indivíduos de um grupo interpretar a vivência e guiar suas acções. 8 DOUGLAS, M. (1991). Pureza e perigo: ensaio sobre as noções de poluição e tabu . Rio de Janeiro. 9 NDEVE, Alcino, Benfica, A.H., Phaff, Charles 2008. Manual Nacional de lepra. MISAU, Maputo. 10 COELHO, A. R. 1998. Psicologia hospitalar: realidade actual e vicissitudes. Vertentes. Nº11. 29 As representações sobre as atitudes do doente de lepra, vêm acompanhadas pela vergonha em expor suas manchas, a preocupação em contagiar seus parentes mais próximos, facto que leva o leproso a responder de forma estigmatizante. Essas atitudes provocam alterações na auto-estima, na relação que o doente tem com seu trabalho e principalmente com sua família. “A lepra apresenta sérios comprometimentos clínicos, manchas brancase vermelhas, pelo corpo As manchas brancas são partes do corpo sem sensibilidade e são percebidas como essa parte do corpo afectada estivesse anestesiada, sem dor” (COELHO, 1998). Além da manifestação clínica, essa doença tem uma dimensão cultural decorrente especialmente por ser uma enfermidade que se expressa nas partes públicas e externas do corpo: “A pessoa quando no seu corpo apresenta manchas vê-se anormal, e a tendência do portador é encobrir e, afastar da convivência de outras pessoas eu próprio vejo algo que não faz parte daquilo que sou11”, relata um dos familiares da pessoa infectada por lepra. Expressão popular do dia-a-dia, cria assim, uma imagem estereotipada que provoca o afastamento dos pacientes do convívio social e o medo generalizado da enfermidade. Imaginemos, as mãos e pés sem dedos, facilmente pensamos que este Homem já não existe. 3.11 Em relação as imagens fotográficas Nesta secção a metodologia usada foi a de observação directa onde foram tiradas as imagens fotográficas de algumas pessoas infectadas por lepra. Essas imagens fotográficas anexadas nos resultados existe uma sobre um idoso abandonado com parentes e vive sozinho, como se não bastasse está num estado avançado de lepra. Diante disso, BORESTEIN et. al. (2008), comentam dizendo que “as famílias de pessoas que tinham lepra em meados de 1940, costumavam construir pequenas casas ou quartos separados e distantes, onde se colocavam o doente e neste lugar davam a ele alimentos, roupas, medicamentos para que não saísse desse espaço e colocasse a família em risco”. 11 Entrevista com um dos familiares de um leproso em Montepuez. 30 Para FIGUEIREDO (2006), há casos de pessoas que têm a doença e optam por não contar para a família sobre o problema no intuito de manter a família integrada, para que não haja desmembração ou discriminação sobre o semelhante. Do mesmo modo BAIALARDI (2007), relata que a “lepra deixa cicatrizes profundas nas pessoas, o estigma na maioria das vezes enraíza nelas e há grandes perdas e mudanças, tanto fisiológicas quanto psicológicas, perdas essas que se configuram no âmbito familiar de forma geral, perdas dos amigos, do trabalho e da saúde”, factos estes que são comprovados e ainda acontecem actualmente em Montepuez. De acordo com o MISAU (2008) “o principal meio de contágio é por via respiratória, durante o acto de falar e tossir na interacção com pessoas, não portadoras da doença”. Embora seja uma doença de pele, é sempre através de um contacto humano frequente, próximo e prolongado com o paciente que ainda não começou o tratamento, mas depois da primeira dose de tratamento não ocorre o perigo de contágio. 31 CAPITULO V – CONCLUSÕES 5. Conclusão Chegado ao fim deste trabalho, foi possível verificar que a lepra é uma doença milenar que percorreu e percorre por todo o desenvolvimento humano até os dias actuais, levando ao isolamento familiar e social do paciente resultante do preconceito e da discriminação. O trabalho de campo realizado foi possível identificar os factores associados a propagação da lepra em Montepuez destacando-se a pobreza e os preconceitos por parte da comunidade. É notório que essas noções encontram-se enraizadas naqueles núcleos de população onde ostentam-se a miséria e a ignorância e, dessa maneira, contribuem para o agravamento do problema médico-sanitário que representa o controlo dos focos nas referidas colectividades. Ainda foi provável que a diminuição de casos diagnosticados em 2017 e o abandono do tratamento de alguns pacientes deveu-se através dos preconceitos aliados com a ignorância do termo lepra e das consequências que pode causar. Se pensarmos, por exemplo, com relação à não-aceitação da doença, podemos observar manifestações tanto do paciente como da família ou da sociedade. Estudos de BORENSTEIN at. al fazem referência ao impacto do diagnóstico da lepra em pessoas que se sentiram fragilizados ao receberem o diagnóstico da doença, traz o desejo de morrer, estigma, exclusão social, isolamento da família e mudanças nos seus hábitos. Ainda nesse contexto, OLIVEIRA (1990) aponta que as reacções de tristeza, preocupação, insegurança, medo, entre outros, devem ser identificadas e compreendidas pelos profissionais que lidam com o leproso, bem como devem eles intervir e criar oportunidades para o paciente externar suas fantasias. A situação de lepra em Montepuez é muito preocupante segundo os nossos entrevistados contudo a preocupações dos médicos é que nem todos os pacientes com lepra, acabam o tratamento, que pode demorar até um ano. A probabilidade de infectar outras pessoas é maior. Actualmente, as autoridades de saúde promovem campanhas de sensibilização, para garantir que os doentes façam o tratamento até ao fim, alertando-os para os sintomas da lepra. 32 Segundo as autoridades fazem visitas domiciliares de acompanhamento, e as pessoas que são infectadas quando iniciam o tratamento um rastreio, também é feito para as famílias de convivência do individuo que foi infectado, principalmente para as crianças, porque a criança até pode crescer com uma mancha que a mãe não liga. De acordo com MINUZZO (2008), até meados de 1980 “existiam casos de pessoas que eram levadas para colónias longe de cidades para fazerem tratamento, os famosos leprosários, longe de amigos e família, os filhos dos pacientes eram separados dos pais, levados para orfanatos para que não viessem a se tornar possíveis doentes acometidos pela doença”, contudo havia um grande sofrimento psicológico com a ruptura da família, pois muitas dessas crianças nunca vieram a encontrar com seus pais biológicos. Actualmente, através da revisão de literatura o isolamento ainda se mantém, no entanto, de forma diferente os indivíduos se escondem dentro de suas próprias residências para que não sofram com algum preconceito ou discriminação, isso tudo pelo peso que a “lepra” era encarada em tempos remotos, tanto no carácter religioso ou social. Logo, através de todo apanhado teórico foi possível se chegar ao objectivo da pesquisa que era avaliar os impactos psicossociais em pacientes de lepra, o processo de isolamento familiar e social da pessoa com lepra, que ainda é vivida nos dias actuais. O problema de aludir o preconceito pode ser avaliado e ser responsabilizado por factores com crença religiosa, dificuldade de compreensão, aceitação e conhecimento científico da sociedade. O caminho tem sido árduo e longo para a quebra do preconceito e dos estigmas, porém observa-se que um dos caminhos a percorrer é o de educação em saúde, que orienta a população, aumentando assim o conhecimento sobre a doença. Esta pesquisa foi importante porque é mais um material e momento de reflexão para problema de discriminação de pessoas que são diagnosticados com lepra do isolamento familiar e social enfrentado e sofridos por elas. Sugere-se então que mais estudos sejam realizados para que se possa ainda mais descobrir formas de lidar e trabalhar este problema. 33 5.2. Sugestões Sugerimos às instituições de direito, que proporcionem momentos de sensibilização as comunidades locais no sentido de reverter a situação cada vez galopante sobre devastação das áreas do ecossistema do mangal de Bandar. Que se façam mais estudos acerca desta temática, com vista a encontrar soluções mais fiáveis sobre as possibilidades de uso sustentável das áreas do mangal em Bandar. Ainda ao governo local, que crie organizações de fiscais comunitários que possam velar pelo supervisionamento do mangal atribuindo multa aos indivíduos que transgridem as leis de protecção e conservação do mangal. 34 Referências Bibliográficas 1. BAIA, A. H. M. (1998). Uma análise da degradaçãoda Floresta de Mangal - o caso de Nhangau. Tese de Licenciatura, UEM. Maputo. 2. BAIA, A. H. M. (2004). 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Preservação dos manguezais e seus reflexos; Bauru, SP, Brasil. Em: (www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/c204694.pdf) Acessado em 18/06/2018) pelas 14:50h. 15. PDM. (2007) Perfil Distrital de Metuge. Perfis Distritais de Cabo Delgado, Maputo. 16. PEREIRA, A. R. (2005). Análise de ambiente físico: mangal – floresta de maré. Em http://aaf.weebly.com/uploads/5/3/1/3/531370/mangal_compatibility_mode.pdf. Acessado em 19/06/2018) as16:17h. 17. PILIACKAS, J. M. (2007): Breve histórico da acção antrópica sobre os ecossistemas costeiros do Brasil, com ênfase nos manguezais do estado de São Paulo. Disponível em: (ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/343_51.pdf) Acessado em 20/06/2018 pelas 13:12h. 18. SAKET, M. e MATUSSE, R, (1994). Study for the determination of the rate of deforestation of the mangrove vegetation in Mozambique. DNFFB. Maputo. 19. SCHEPIS, W.R. (2008). (s/d) A importância dos manguezais para o nosso planeta (URL: http://ecofaxina.blogspot.com/2008/10/importancia-dos-manguezais-para-o- nosso.html,) Consultada em 19/06/2018 pelas 13:27h. 20. SERRA, C. (2007), Colectânea de Legislação do Ambiente: Ministério da Justiça Centro de Formação Jurídica e Judiciaria, 3ª edição, revista e aumentada, Maputo. 21. UACANE, M. S. (2014). Impactos ambientais decorrentes da erosão costeira na orla marítima. Disponível (www.educamazonia.cw7.inf: ano 7.vol XII, numero1. Acessado em 16/06/2018 pelas 15:10h. 22. ALVEZ P.C., MINAYO, M.C.S. 1994. Saúde e doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 23. MINUZZO DA. (2008). O homem paciente de Hanseníase (lepra): representação social, rede social familiar, experiencia e imagem corporal. Universidade de Évora. Portugal. 24. GIL, A. C. (2008). Como elaborar projectos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas. 25. BORENSTEIN, Miriam Sussking; PADILHA, Maria Itayara; COSTA, Eliane; GREGÓRIO, Vitória Regina Petters; KOERICH, Ana Maria Espindola; RIBAS Doroteia Lões. (2008) Hanseniase: estigma e preconceito vivenciados por pacientes institucionalizados em Santa Catarina. 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Basta responder com sinceridade e rigor, com um (X) à maior parte das perguntas. Se achar importante pode usar a parte de trás da folha para escrever algum comentário que pretende deixar-nos. Número do Inquérito:__________ Data do inquérito: _____/_____/________ Local da realização do inquérito: _____________________________________ Nome do inquiridor: ______________________________________________ O quadro que se segue deve ser preenchido em todos os espaços sem excepção nenhuma no 1.1 e assinalar com um X para cada ponto a seguir. 1.0 CARACTERIZAÇÃO DO INDIVIDUO INQUIRIDO 1.1 Identificação Idade Sexo Estado civil Nacionalidade (País) Naturalidade (Distrito) Residência (Bairro) 1.2 Habilitações Escolares Sabe ler e escrever Ensino Primário 1º Grau (1ª a 5ª classe) Ensino Primário 2º Grau (6ª a 7ª classe) Ensino Secundário Básico (8ª a 10ª classe) Ensino Pré-Universitário (11ª a 12ª classe) Formação superior 1.3 Situação sócio-profissional Activa(o) com profissão Desempregada(o) Doméstica(o) Reformada(o) Estudante Outra (especifique) 1.4 Situação profissional Assalariado Trabalhador por conta própria Trabalhador familiar não remunerado 38 Patrão Desempregado Outra (especificar) 1.5 Trabalha numa instituição Pública Privada 2.0 CONDIÇÕES DA HABITAÇÃO 2.1. A casa onde habita é construída em: Blocos de cimento/tijolo ( ) Blocos de adobe ( ) Pau a pique ( ) Madeira e zinco ( ) 2.2. Regime de propriedade, (a casa onde reside é): Própria ( ) Familiar ( ) Alugada ( ) 3. INFORMAÇÕES SOBRE A LEPRA 3.1 Já ouviste falar dalepra? Sim ( ) Não ( ) 3.2 Como obteve informação sobre a lepra? (através de:) Profissionais da saúde ( ) Rádio ( ) Cartazes ( ) Familiar ( ) 4. SOBRE A TRANSMISSÃO DA ENFERMIDADE 4.1 Como transmitiu esta doença? (através de:) Familiar ( ) Parceiro ( ) Amigo ( ) Não sabe ( ) 4.2 Que factor sociológico que considera em estar por detrás da doença? Pobreza ( ) Preconceitos ( ) Profissão ( ) Não sabe ( ) 5. EM RELAÇÃO AO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA LEPRA 5.1 Alguma vez já fez o diagnóstico da lepra? Sim ( ) Não ( ) 5.2 Se fez qual foi a sua reacção após o diagnostico da lepra? Tristeza ( ) Medo e angustia ( ) 39 Vergonha ( ) Falta de esperança ( ) 5.3 Quais foram as orientações do medico após o diagnostico? Aderir ao tratamento ( ) Esperar ate agravar a doença ( ) Não disse nada ( ) 5.4 Neste momento já esta a tratar a doença? Sim ( ) Não ( ) 5.5 Que avaliação faz do seu quotidiano da doença em relação a consideração na sociedade? Boa ( ) Suficiente ( ) Má ( ) 5.6 Os seus familiares te fazem acompanhamento na doença sem desprezo e preconceitos? Fazem ( ) Poucas vezes ( ) Nunca ( ) MUITO OBRIGADO PELA ATENÇÃO DISPENSADA E COLABORAÇÃO PRESTADA À NOSSA PESQUISA APÊNDICE II: GUIÃO DE ENTEVISTA AOS PORTADORES DA LEPRA EM MONTEPUEZ Objectivo geral da entrevista Compreender a situação relacionada com o nível de adesão e tratamento bem como as informações transmitidas pelos profissionais de saúde. Local de entrevista Província – Cabo Delgado Distrito – Montepuez Bairro: Identificação do entrevistado Nome_____________________________________________ 40 Idade_______ Sexo________ Questionário 1. Desde quando está com essa doença? R:_________________________________________________________________________ 2. Alguma vez já fez o diagnóstico dessa doença? R:____________________________________________________________________ 3. Como tem sido o acolhimento dos portadores da lepra pelos profissionais da saúde? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4. Que informações são transmitidas aos portadores da doença pelos profissionais da saúde a respeito da lepra? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 5. Qual tem sido o seu quotidiano da doença e suas relações com os indivíduos dessa comunidade? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Muito obrigado! APÊNDICE II: GUIÃO DE ENTEVISTA AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO HOSPITAL RURAL DE MONTEPUEZ (HRM) Objectivo geral da entrevista Conhecer os casos de lepra diagnosticados nos últimos quatro anos e compreender a causa da propagação da enfermidade na área de estudo. Local de entrevista Província – Cabo Delgado Distrito – Montepuez Local – Hospital Rural de Montepuez Identificação do entrevistado Nome_____________________________________________ 41 Idade_______ Sexo________ Questionário 1. Qual é a situação da lepra no distrito de Montepuez? R:_________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2. O sector da saúde do distrito de Montepuez tem realizado campanhas de sensibilização as comunidades em matéria de Lepra? R:_________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3. Como tem realizado as campanhas de sensibilização será que a comunidade local tem acatado as mensagens transmitidas pelo pessoal da saúde pública? R:_________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4. Será que o HRM tem diagnosticado casos de lepra todos os anos? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 5. Como tem sido o acolhimento dos portadores da lepra pelos profissionais da saúde? R:_________________________________________________________________________ 6. Como analisa o reflexo de evolução dos casos diagnosticados nos últimos quatro anos (2013 a 2017)? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 7. Como tem sido a reacção das pessoas ao receber o diagnóstico de lepra aqui no HRM? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8. Que recomendações deixa para os pacientes e a comunidade em geral para a minimização da propagação desta doença no distrito e no país em geral? R:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Muito obrigado!
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