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ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA DA VISÃO FUNDAMENTALISTA DE BENJAMIN GRAHAM MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO Vinicius de Castro Scottá dos Passos Pedro Leopoldo, 2006 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA DA VISÃO FUNDAMENTALISTA DE BENJAMIN GRAHAM Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado das Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Finanças Orientador: Juliano Lima Pinheiro, Dr. Pedro Leopoldo Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo Mestrado Profissional em Administração 2006 “Se uma jóia cair no lago, muitas pessoas cairão na água a fim de recuperá-la, agitando-a até que se torne turva. O homem sábio espera que a água se acalme de modo que a jóia venha a brilhar naturalmente, por si própria”. Buda AGRADECIMENTOS Aos meus saudosos pais Hirmo e Rosali que em vida me deixaram inestimáveis ensinamentos, como o apreço pelos estudos. Aos meus irmãos Victor e Rafael, minha enorme família. Aos amigos capixabas e mineiros pelo apoio. A Luciana pelo carinho e paciência. Ao amigo Juliano pelas orientações e pelo incentivo ao longo do Mestrado. RESUMO PASSOS, Vinicius de Castro Scottá dos. Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores: Uma Pesquisa Exploratória da Visão Fundamentalista de Benjamin Graham. 2006. 103 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração de Empresas) – Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, Pedro Leopoldo, 2006. Investimentos em bolsa de valores têm sido associados a incertezas e grandes riscos, quando na verdade existem teorias que podem ser aprendidas e assimiladas por qualquer pessoa que deseje diversificar seus investimentos. Estudar as ferramentas de análise de mercado de ações e as estratégias utilizadas por célebres investidores podem nos oferecer preciosas orientações de como devemos nos preparar psicologicamente e tecnicamente para operar no mercado de ações. O cenário globalizado favorece o fluxo de informação aos quatro ventos, mas ainda assim existe a chamada assimetria informacional do mercado, ou seja, a diferença de conhecimento entre a realidade das empresas e o que o mercado sabe realmente sobre a situação. A análise fundamentalista tem sido forte aliada do mercado de capitais e tem em Benjamin Graham um de seus principais expoentes. Este projeto versará sobre as teorias de Graham buscando a aplicabilidade de tais premissas na realidade brasileira. A realização da pesquisa poderá dar mais um passo no aprendizado de variáveis que se correlacionam com o mercado bursátil, contribuindo para futuros investidores, sejam eles grandes corporações ou pessoas físicas querendo aumentar os benefícios de se aplicar inteligentemente a renda do cotidiano. Palavras-chave: Estratégia; Bolsa de Valores; Análise Fundamentalista; Investidores. ABSTRACT PASSOS, Vinicius de Castro Scottá dos. Strategies of Investment in the Stock Exchange: An Exploratory Research of the Fundamentalist View off Benjamin Graham. 2006. 103 p. Dissertation (Master Degree in Administration) – Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, Pedro Leopoldo, 2006. Investments in the stock market have been associated to uncertainties and great risks, whereas actually there are theories that can be learned and assimilated by any individual who wishes to broaden his investments. Studying the tools of stock market analysis and the strategies used by renowned investors may offer precious advice as to how we should prepare ourselves both technically and psychologically to operate in the stock market. The globalized scenario favours the widespread flow of information, but there is yet the so- called market information assymetry, or yet, the difference of knowledge between the corporate reality and what the market really knows about the situation. The fundamentalist analysis has been a strong ally to the market of shares and has Benjamin Graham as one of its main exponents. This project refers to the theories of Graham seeking the applicability of such premisses in the Brazilian reality. The performance of the research may take a further step into learning about variables which are correlated with the stock market, contributing thus to future investments, be they great corporations ou individuals who wish to increase the benefits of applying daily basis income intelligently. Key words: Strategy; Stock Market; Fundamentalist Analysis; Investors. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Fatos históricos relacionados ao modelo de caminho aleatório 18 Gráfico 1 Aplicação do Índice de Força na Bovespa 46 Gráfico 2 Aplicação do Índice de Força na Petrobrás 47 Gráfico 3 Desempenho do lucro da Home Depot 83 Gráfico 4 Desempenho do lucro da Gerdau 84 Gráfico 5 Desempenho do lucro do Bradesco 85 Gráfico 6 Desempenho do lucro da Gerdau nos últimos doze anos 85 Quadro 1 Previsibilidade das variações de preços em mercados latinos 19 Quadro 2 Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro 22 Quadro 3 Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro 23 Quadro 4 Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro 24 Quadro 5 Comparativo entre as estratégia de investimento na bolsa 75 Quadro 6 Performance de ações do setor químico/petróleo – EUA 1964-1970 76 Quadro 7 Empresas analisadas no modelo Graham - EUA 1995-1999 82 Quadro 8 Oscilação no mercado acionário americano 83 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Avaliação dos Múltiplos da Metalúrgica Gerdau - 2005 86 Tabela 2 Resultados do retorno do Ibovespa e da Selic – 1995-2005 88 Tabela 3 Carteira Proposta – Série Histórica – 1994-2000 - lucro 91 Tabela 4 Carteira Proposta – Série Histórica – 1994-2000 - múltiplos 91 Tabela 5 Carteira Proposta – Série Histórica – 1994-2000 – Retorno (%) 92 Tabela 6 Carteira Proposta – Histórica – Comparativo com Benchmarks 92 Tabela 7 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2000 - lucro 93 Tabela 8 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2000 - múltiplos 93 Tabela 9 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2000 – Retorno (%) 94 Tabela 10 Carteira Proposta – Ajustada – Comparativo com Benchmarks 94 Tabela 11 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2005 – lucro - parte 1 95 Tabela 12 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2005 – lucro - parte 2 95 Tabela 13 Carteira Proposta – Série Ajustada – 1994-2005 - múltiplos 95 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 1.1 Objetivo Geral e Objetivos Secundários 7 1.2 Delimitação do Estudo 8 2 METODOLOGIA 9 2.1 Definição do Problema e Objetivos 10 2.2 Classificação e Tipologia da Pesquisa 11 2.3 Passos para a Realização da Pesquisa 12 3 REFERENCIAL TEÓRICO 13 3.1 Alguns aspectos relevantes ao investimento em Bolsa de Valores 13 3.1.1 Liquidez 13 3.1.2 Comportamento Aleatório (Randon Walk) e Movimento Browniano 15 3.1.3 Assimetria Informacional 20 3.1.4 Formação e Balanceamento da Carteira X Perspectiva de Risco e Retorno 24 3.1.5 Governança Corporativa 26 3.1.6 Precificação de Ativos 28 3.1.7 Investimentos e Aspectos Comportamentais 32 3.2 Estratégias de Alguns Célebres Investidores 37 3.2.1 Os Axiomas de Zurique 38 3.2.2 Robert Haugen 41 3.2.3 Alexandre Elder 43 3.2.4 Warren Buffett 48 3.2.5 George Soros 53 3.2.6 Benjamin Graham 59 3.2.7 Tabela comparativa das estratégiasdos investidores pesquisados 74 4 O MODELO GRAHAM 75 5 TRABALHO EMPÍRICO 87 5.2 Carteiras de Graham sugeridas na Bovespa 87 5.2.1 Aspectos Gerais 87 5.2.2 Metodologia 88 5.2.3 Carteiras Empíricas 90 6 COMENTÁRIOS FINAIS 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97 1 1 INTRODUÇÃO “O que torna arriscado um investimento no mercado de ações é a dispersão dos resultados possíveis”. (Brealey & Mayers) Há quem dica que o ser humano deveria conceder a mesma importância dada à preservação de saúde para suas aplicações financeiras. Na visão de muitos pode parecer um excesso, principalmente para o brasileiro que ao longo de sua história tem-se mostrado um forte adepto aos investimentos em renda fixa. No Brasil, temos um número muito reduzido de pessoas que participam do mercado acionário. Nos EUA, onde 50% das famílias aplicam na Bolsa, e como acontece na Inglaterra, cujo percentual chega a 30%.(Magliano Filho,2002,p.1) Entretanto, conforme o Jornal Estado de Minas de 05.03.06, do total de R$ 48, bilhões girados pela Bovespa em fevereiro de 2006, cerca de 23,3% foram movimentados por pessoas físicas. Além disso, a indústria de fundos de investimento no Brasil gira anualmente cerca de R$ 750 bilhões. Desse total, cerca de 10% correspondem a fundo de ações. Os investimentos em bolsa de valores tem sido associados a incertezas e grandes riscos, quando na verdade existem teorias que podem ser aprendidas e assimiladas por qualquer pessoa que deseje diversificar seus investimentos, potencializando resultados. Dentre as ferramentas disponíveis podemos destacar as análises técnica e fundamentalista. Na visão de Allen (2003), os operadores que seguem a análise fundamentalista, e se opõe às tendências, exercem efeito estabilizador sobre o mercado, enquanto os operadores que seguem a análise técnica acentuam a volatilidade, por meio de negociações baseadas em programas de computador, que tendem a gerar compras e vendas automáticas, em típico 2 comportamento de manada. Segundo Póvoa (2005) A Escola Gráfica e Técnica aceita a teoria da “eficiência dos mercados”. Ou seja: assume que qualquer nova informação existente no mercado é automaticamente transmitida e interpretada de forma linear por todos os agentes, que tomam decisões ajustando, também em tempo real, os preços dos ativos que podem ser influenciados pela nova situação. A Escola Gráfica de análise admite indiretamente que os investidores possuem um grau de informação razoavelmente uniforme e tendem a repetir as atitudes do passado. Os gráficos simples, com definição de figuras, são os instrumentos principais para definir tendências e preços futuros. Já a escola fundamentalista trabalha com os fundamentos macroeconômicos, setoriais e relativos especificamente a determinada empresa, com o objetivo de determinar um “valor justo” para esta. Neste caso, a informação, ou pelo menos a forma de processá- la, possui valor inestimável, fazendo com que haja um distanciamento entre o passado a cada dado novo. Ainda na visão de Póvoa (2005), apesar da perda relativa diante da Escola Fundamentalista, é importante estar atento a todas as recomendações, já que há épocas de mercado em que os analistas técnicos ganham força, influenciando de certa forma a disposição dos investidores em vender ou comprar determinados ativos. Conforme Pinheiro (2005), pode-se conceituar a análise fundamentalista como o estudo de toda a informação disponível no mercado sobre determinada empresa, com a finalidade de se obter o seu verdadeiro valor, e assim formular uma recomendação de investimento. A justificativa para o uso desse tipo de análise é antecipar o comportamento futuro de uma empresa no mercado. 3 O cenário globalizado favorece o fluxo de informação aos quatro ventos, mas ainda assim existe a chamada assimetria informacional do mercado, ou seja, a diferença de conhecimento entre a realidade das empresas e o que o mercado sabe realmente sobre a situação. A Teoria do Mercado Eficiente afirma que os preços que regem os mercados descontam automaticamente toda nova informação. Para minimizar as distorções da assimetria informacional, o analista fundamentalista percorre algumas etapas como: • A pesquisa de informações, que envolve entrevistas com executivos da empresa, leitura de relatórios, dados em tempo real como Broadcasting. • Transformação da informação em idéia, de onde sairão as projeções financeiras e as recomendações de investimento. Para Copeland (2002), o aumento da importância dos acionistas na maioria dos países desenvolvidos levou um número crescente de administradores a concentrar-se na criação de valor como sendo a medida mais importante do desempenho corporativo. Segundo a perspectiva que se queira utilizar na hora de fazer a análise, existem dois métodos ou enfoques. Os partidários da Top Down pensam que o que move a bolsa em longo prazo são as principais variáveis macroeconômicas, dado que a bolsa deve refletir o comportamento da economia. Os partidários da Bottom Up pensam que o que tem de ser feito é a analisar o comportamento e as perspectivas de cada empresa para detectar quais oferecem melhor oportunidade de investimento. Povoa (2005) explica que o objetivo mais importante do avaliador é, através da aplicação de uma teoria específica ou algumas combinadas, atingir não necessariamente um só valor, mas uma região de preço para o ativo. Na visão de Damodaran (2003), em termos gerais, há três abordagens para avaliação, embora não sejam mutuamente excludentes: 4 A primeira, avaliação por fluxo de caixa descontado, relaciona o valor de um ativo ao valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados relativos àquele ativo, que pode ser obtido avaliando apenas a participação acionária do negócio ou a empresa como um todo, que inclui, além da participação acionária, a participação dos demais detentores de direitos da empresa. A avaliação pelo fluxo de caixa descontado a valor presente é baseada em fluxos de caixa e taxas de desconto futuros. Quanto mais longe desse cenário ideal estivermos, mais difícil se tornará a avaliação. A segunda, a avaliação relativa, estima o valor de um ativo enfocando a precificação de ativos comparáveis relativamente a uma variável comum, como lucros, fluxos de caixa, valor contábil ou vendas. Um exemplo dessa abordagem é a utilização de um índice preço/lucro setorial médio, para avaliar uma empresa, pressupondo-se que outras empresas do setor são comparáveis à empresa objeto da avaliação. Outro indicador de largo uso é o índice preço/valor contábil, com empresas sendo vendidas com um desconto sobre o valor contábil relativo a empresas comparáveis consideradas subavaliadas. Existem ainda outros índices que também desempenham um papel na análise como: preço / fluxos de caixa, preço / dividendos, Q de Tobin (valor de mercado / valor de reposição), entre outros. A atratividade dos indicadores é que são simples e é fácil se relacionar a eles. Da mesma forma, também são facilmente manipulados e usados incorretamente, especialmente quando empresas comparáveis são utilizadas. Em contraste, a avaliação pelo fluxo de caixa descontado é baseada em taxas de crescimento e fluxos de caixa de uma empresa específica, e é menos provável que sofra influência de erros de mercado na avaliação. 5 A terceira, avaliação de direitos contingentes, utiliza modelos de precificação de opções para medir o valor de ativos que possuam características de opções. Conforme Brasil (2005), o valor de um investimento ou de uma empresa deve considerar a sua capacidade operacional de geração de caixa mais o valor das oportunidades gerenciais embutidas. Dentre as diversas escolas de avaliação de investimento, a análise fundamentalista tem colaborado no processode verificação da real situação corporativa, observando atentamente o passado de resultados, a gestão empresarial e as perspectivas para o futuro. Estudar as estratégias e como se comportaram ao longo do último século alguns dos mais célebres investidores podem oferecer preciosas orientações de como devemos nos preparar psicologicamente e tecnicamente para operar no mercado de ações, onde poderemos cometer novos erros, mas não os mesmos cometidos pelos ilustres investidores. Nesse contexto, surge a figura de Benjamin Graham, considerado pela Money magazine, revista renomada nos EUA, por Haugen (2000) e Cunningham (2005), o pai da análise fundamentalista, que desenvolveu há meio século os pilares conceituais de como o investidor comum poderia se munir de informações disponíveis no mercado para minimizar as chances de perda e de paulatinamente agregar valor aos deu investimentos. Uma curiosidade então vem a tona. Os conceitos fundamentais de Graham teriam aplicabilidade na Bovespa ? Existem no mercado brasileiro papéis que atendam ao rigoroso filtro proposto por Graham ? Nas páginas a seguir iremos relatar o sucesso de algumas pessoas que obtiveram notoriedade e respeito do mundo acadêmico e profissional através de seus investimentos em bolsa de valores, dando um destaque a Graham. Além disso, destacamos a importância dos aspectos comportamentais como fator de sucesso no cotidiano de futuros investidores, 6 independentemente das estratégias utilizadas. Com a crescente credibilidade dos fundamentos da economia brasileira no mercado internacional, o fortalecimento e popularização do mercado de capitais e o fato da necessidade de financiamentos “mais baratos” por parte das empresas, torna-se cada vez mais pertinente o aprofundamento sobre o tema “bolsa de valores”. Conforme Pinheiro (2005), a existência de mercados financeiros organizados e eficientes possibilita o incremento do bem-estar global da sociedade, à medida que facilita a localização eficiente dos recursos financeiros e a própria competitividade do sistema produtivo ao fornecer seus serviços ao menor custo possível. A proposição de testes de hipóteses que produzam conhecimento que possam favorecer maior rentabilidade aos investidores é peça chave na atratividade do mercado bursátil local, diminuindo a dependência excessiva do capital estrangeiro para elevação dos principais índices da bolsa brasileira. Em suma, o tema ainda é pouco desenvolvido, principalmente no Brasil. Assim, a realização da pesquisa que se segue poderá dar mais um passo no aprendizado de variáveis ou mesmo agrupar numa mesma fonte o que pensam ou pensaram grandes expoentes da análise de investimento, contribuindo para futuros investidores, sejam eles grandes corporações ou pessoas físicas querendo ampliar a renda do cotidiano. 7 1.1 Objetivo Principal e Objetivos Secundários 1.1.1 Investigação • Análise de estratégias de Benjamin Graham aplicadas a bolsa de valores brasileira. 1.1.2 Problema da Pesquisa • Qual a aplicabilidade da Teoria de Benjamin Graham na Bovespa ? 1.1.3 Objetivo Principal • Apresentar as principais estratégias utilizadas por Benjamin Graham visando conhecer a sua aplicabilidade na realidade brasileira. 1.1.4 Objetivos Secundários • Elencar aspectos relevantes para a comunidade acadêmica no que tange aos investimentos em bolsa de valores. • Mostrar algumas das principais características dos investimentos em ações, como por exemplo o aspecto comportamental. • Descrever as estratégias de célebres investidores contemporâneos. • Testar o modelo de Benjamin Graham de referência para investimento em bolsa. 8 1.1.5 Justificativa • Países desenvolvidos tem na sua Bolsa de Valores, importante ferramenta de estímulo ao desenvolvimento econômico. No Brasil ainda estamos iniciando a fase de amadurecimento em Mercado de Capitais. • Estrategistas do Mercado de Capitais tem difundido suas idéias ao longo dos tempos com foco em rentabilidade superior à Renda Fixa, inclusive no Brasil. • Desmistificar as formas de se investir em bolsa, relatando como explorar as principais ferramentas de apoio e esclarecendo estratégias de pessoas bem sucedidas na área é de suma importância para pessoas físicas, instituições financeiras e as corretoras de valores. • Na pesquisa, o foco foi dado em Benjamin Graham, considerado pai da Análise Fundamentalista, reconhecido pela academia pelo seu trabalho em Colúmbia e pelo fato de ser o principal mestre de Warren Buffett. • A aplicabilidade das idéias de Benjamin Graham no contexto brasileiro pode colaborar na eterna luta de superação da Renda Fixa pelos operadores de mercado. 1.2 Delimitação do Estudo A idéia central do trabalho foi explorar as estratégias de alguns célebres investidores, com ênfase central nas características mais marcantes das teorias de Benjamin Graham. 9 Por fim, aplicamos as idéias de Benjamin Graham no contexto brasileiro, onde buscamos criar uma carteira sugerida pelo estudo, caso haja aplicabilidade da teoria de Benjamin Graham no país. Embora o aprofundamento e atualização da pesquisa no futuro possa ser realizado, o material produzido poderá colaborar como ferramenta de suporte para investidores com foco em Value Investing, ou seja, empresas com fundamentos atrativos. Deve-se ressaltar utilização da fonte de dados disponível na ferramenta Economática1 para o levantamento das séries históricas da Bovespa, com posterior migração desta base de dados para o Excel, utilizado em larga escala no mundo financeiro. Iremos utilizar ao longo da pesquisa somente o nome “Graham” para se referir ao professor de Columbia, Benjamin Graham. 2 METODOLOGIA Neste capítulo será apresentada a metodologia que foi utilizada neste estudo, assim como, a justificativa para o tipo de pesquisa selecionada e utilizada para a investigação do problema especificado. Para possibilitar a execução da pesquisa, a metodologia adotada para a realização do estudo proposto constou dos seguintes passos: a) Definição do problema a ser pesquisado e seus objetivos; b) Classificação e tipologia da pesquisa; 1. Empresa com atuação internacional que fornece através de um software informações consolidadas sobre mais de 3.000 empresas no mundo, inclusive as brasileiras. 10 c) Especificação das técnicas de levantamento de dados a serem empregadas na consecução do estudo. 2.1 Definição do Problema e Objetivos Esta pesquisa teve como objetivo principal avaliar a aplicabilidade das teorias de Graham no mercado bursátil brasileiro. A pesquisa foi efetuada a partir do estudo das diversas estratégias de investimento de célebres investidores, análise de ferramentas de investimentos e buscando ao final propor um modelo que possa orientar, principalmente, o pequeno investidor, preocupação principal de Graham. Este trabalho teve como principal objetivo responder a seguinte pergunta: • Qual a aplicabilidade da Teoria de Graham na Bovespa? Este objetivo torna-se relevante em função do mercado de capitais nos paises desenvolvidos e demais emergentes ter sido ao longo dos últimos anos, primordial ao crescimento e desenvolvimento nacionais. Além disso, a contribuição da pesquisa visa permitir que pessoas de variadas áreas do conhecimento, investidores, profissionais liberais possam ter um contato maior com o tema, conhecer as características do investimento em bolsa de valores, podendo ainda se basear em algumas ferramentas e estratégias para implementar seus investimentos. Além do objetivo principal, foram também atendidos por esta pesquisa os seguintes objetivos secundários , citados em 1.1.4. 11 2.2 Classificação e Tipologia da Pesquisa Esta pesquisa, do ponto de vista de seus objetivos, foi caracterizada como exploratório-descritiva.Do ponto de vista da abordagem do problema foi classificada como qualitativa. Quanto ao tipo de pesquisa a ser utilizado caracteriza-se como pesquisa bibliográfica e análise documental, além dos dados da Economática para inferência. O tipo de pesquisa exploratório-descritiva vai de encontro aos objetivos desta pesquisa, pois procurará obter uma maior familiarização ou descrição da situação atual das principais estratégias de investimento, as principais ferramentas utilizadas para a tomada de decisões e ainda levantando as principais idéias de Graham com sua possibilidade de aplicação ou não na realidade brasileira. No que tange aos meios, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica efetuada por meio de uma revisão de literatura acadêmica sobre temas como: 1. Estudo preliminar sobre os aspectos relevantes ao investimento em bolsa na visão da comunidade acadêmica, como: • Liquidez • Comportamento Aleatório (Randon Walk) e Movimento Browniano • Assimetria Informacional • Formação e Balanceamento da Carteira X Perspectiva de Risco e Retorno • Governança Corporativa • Precificação de Ativos 12 • Aspectos Comportamentais 2. Análise das estratégias de célebres investidores, alguns reconhecidos pela academia, outros pelo mercado. Inúmeros investidores poderiam ser objeto da pesquisa, mas a amostra buscou a escolha de investidores com publicação em português(exceto Graham) e acessíveis ao pequeno investidor brasileiro. Buscou-se também representantes da análise técnica e da análise fundamentalista. Nesse contexto, os investidores analisados foram: • Alexander Elder • George Soros • Warren Buffett • Robert Haugen • Benjamin Graham 3. Complementando o Referencial Teórico utilizamos Análise Documental, através de séries históricas fornecidas pela Bovespa e pelo software Economática. 2.3 Passos para a Realização da Pesquisa O primeiro passo para a consecução da pesquisa foi a realização de uma revisão de literatura sobre os principais assuntos que justificassem a relevância do estudo, conforme citado em 1.2 e 2.2. O segundo passo, a aplicação prática de pesquisa e a busca por novas informações, onde aplicamos o modelo proposto por Graham na análise de compra e venda de ações no 13 mercado brasileiro. Na busca pela aplicabilidade da teoria de Graham na realidade do mercado de capitais brasileiro, propomos empiricamente uma carteira base em 31/12/2000 e outra em 31/12/2005 com as possíveis ações que poderiam ser adquiridas pela análise de Graham. Por fim, apresentamos apresentadas as conclusões a respeito da viabilidade das Teorias de Graham no Mercado Brasileiro 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Alguns aspectos relevantes ao investimento em Bolsa de Valores 3.1.1 Liquidez Segundo Sharpe, Alexander e Bailey (1995, p.285), “a liquidez refere-se ao custo para se vender ou comprar um ativo às pressas”. Segundo Carvalho et. al (2000), é na sua obra The General Theory of Employment, Interest and Money, de 1936, que Keynes explicita sua teoria da preferência pela liquidez e posteriormente a generaliza para uma teoria de precificação de ativos. Keynes foi o primeiro a considerar a influência da liquidez no retorno dos ativos, ainda na primeira metade do século passado. A contribuição fundamental de Keynes para a teoria econômica consiste na rejeição dos axiomas ou princípios básicos sobre os quais se fundamentava a teoria neoclássica do emprego e da renda. Nesse contexto, a preferência pela liquidez dos tomadores de decisão, 14 ao estimular a demanda por ativos líquidos porém não reprodutíveis, pode resultar num volume insuficiente de investimento e, portanto, numa situação de insuficiência de demanda efetiva. Sendo assim, a preferência pela liquidez dos tomadores de decisão — e não a rigidez de preços e/ou salários nominais — é a causa fundamental do “equilíbrio com desemprego”.(Davidson apud Sarmento, Costa e Alberti, 2002) As pessoas e empresas tomam constantemente decisões de investimento que requerem o conhecimento de quando e como investir. Tais decisões contemplam uma análise que se traduz num trade-off entre investir ou manter recursos em espécie – moeda – necessária para criar uma condição de liquidez. Segundo a Teoria da Preferência pela Liquidez de Tobin, os agentes trocarão a liquidez por investimentos em títulos do governo somente nos casos em que as expectativas futuras sobre o retorno e risco associados ao investimento forem boas, isto é, altos retornos e baixos riscos. (Nakamura & Júnior, 2004) No estudo de MASCARENHAS(2005), o conceito de liquidez apresenta-se em duas dimensões que, embora distintas, encontram-se inter-relacionadas. A primeira relaciona-se com a administração financeira da empresa, em suas atividades relacionadas à gestão da oferta e da demanda por capital de giro, com suas preocupações focadas na gestão de ativos e passivos de curto prazo e na otimização de caixa. Esta dimensão da liquidez recebeu contribuições desde a década de 50, como os modelos de predição e otimização de caixa desenvolvidos por William Baumol, Merton Miller e Daniel Orr. A outra dimensão da liquidez está relacionada à área de finanças denominada “Microestrutura de Mercado”, que trata do estudo da economia dos mercados financeiros, incluindo o papel da informação na precificação de ativos, a definição e mensuração da liquidez e dos custos de transação e suas implicações na eficiência dos mercados. Segundo Treynor apud Mascarenhas(2005) existem três figuras principais no 15 mercado: • os negociadores que não possuem informação especial e realizam transações em função de suas necessidades de liquidez (outsiders); • os negociadores que possuem informação privilegiada (insiders) e, • os market makers. O market maker tem, portanto, sua existência apoiada em dois pilares: proporcionar liquidez ao investidor (liquidity provider) e estabelecer um preço de referência conhecido de todos os negociadores. Para o investidor, o efeito da liquidez assemelha-se ao do risco. Assim como, entre dois ativos de igual retorno esperado, o investidor preferirá o de menor risco, o mesmo se aplica à liquidez, ou seja, entre ativos de igual retorno, o investidor optará por aquele de maior liquidez. Segundo Sharpe, Alexander e Bailey (1995, p.285), “mantidas constantes as demais variáveis, os investidores terão maior atração por ativos mais líquidos”. Apesar disso, o tema liquidez ainda não recebeu um tratamento conclusivo em finanças, com diversas questões ainda não explicadas pela teoria, figurando entre os dez problemas não resolvidos sobre finanças, na lista de Brealey e Myers (1998, p.992). 3.1.2 Comportamento Aleatório (Randon Walk) e Movimento Browniano O modelo de caminho aleatório para o mercado financeiro foi desenvolvido pelo matemático Louis Bachelier em 1900, quando elaborou sua tese de doutorado. O estudo investigou a correlação linear nos preços de títulos financeiros (opções), concluindo que a probabilidade de aumento dos preços dos títulos a qualquer momento seria idêntica à probabilidade de sua diminuição e acabou por antecipar por cinco anos um famoso trabalho 16 de Albert Einstein sobre o movimento aleatório originário da colisão de moléculas de gás, em 1905, que consistiu na descoberta da equação que descreve o fenômeno do movimento molecular aleatório, também conhecido como movimento browniano2, que é exatamente a equação desenvolvida por Bachelier para descrever o comportamento dos preços dos ativos financeiros.(Ceretta, 2001). O trabalho de divulgação do estudo de Bachelier coube ao economista Paul Samuelson que procurou sintetizar uma idéia sobre o comportamento das flutuações dos preços em seu artigo Proof that properly anteciped prices fluctuate randomly. Sua idéia é de que, num mercado informacionalmente eficiente, os preços mudam, mas sãoimprevisíveis, e isso só é válido desde que eles incorporem as expectativas e informações de todos os participantes do mercado. Em outras palavras, se não existirem barreiras à informação nem custos de transação, a variação de preços para o próximo período será reflexo da informação para esse período, e sendo essa informação imprevisível, as variações nos preços também seguirão o mesmo caminho. Para Samuelson, a aleatoriedade é alcançada através da participação ativa de muitos investidores que procuram maximizar suas riquezas. Quanto mais eficiente for o mercado, mais aleatória será a mudança nos preços, de maneira que sejam totalmente aleatórios.(Samuelson apud Cereta,2001) Garcia (2002) menciona o estudo de Fama (1970) que despenderam esforços na distinção entre três formas de eficiência. Segundo os conceitos desses autores, a eficiência de mercado pode ser classificada como: __________________________________________________________ 2. O movimento browniano1, foi descrito pela primeira vez pelo botânico Robert Brown, em 1827, ao observar que o pólen de diversas plantas dispersava-se na água sob a forma de um grande número de partículas em direções que estariam de acordo com as do caminho aleatório. (Osborne, 1959 e 1972) 17 • eficiência na forma fraca, onde o mercado é eficiente na forma fraca se os preços das ações já refletem todas as informações que podem estar contidas nas suas séries históricas. Portanto, sob esta hipótese, o estudo do comportamento histórico das taxas de retorno das ações em nada poderá contribuir para a definição de estratégias de negociação que possam garantir retornos anormais. • eficiência na forma semiforte, onde se presume que toda informação pública, disponível para avaliação, esteja incorporada nos preços. Esse conceito engloba, além das séries históricas dos preços, as demonstrações financeiras, planos operacionais e mercadológicos publicamente disponíveis para avaliação. • eficiência na forma forte, presume-se que os preços das ações reflitam tanto informações disponíveis, quanto informações privilegiadas, não disponíveis a todos os investidores (inside information). Para Ross (2002), testes empíricos envolvendo a forma semiforte de eficiência costumam envolver dois testes a seguir: • Estudo de eventos, na qual se examina o retorno de uma dada ação em períodos anterior e posterior à divulgação de uma informação; e • Estudo de desempenho dos fundos mútuos, no qual se examina se os retornos desses fundos seriam iguais ao de um investidor típico. Ainda conforme Ross (2002), a forma forte de eficiência forte, ocorre através de operações das pessoas que detêm as consideradas informações privilegiadas. Abaixo temos na Figura 1 um breve histórico do Randon Walk e na Tabela 1 os 18 impactos da teoria do movimento aleatório nos principais mercados latino americanos. Figura 1: Resumo dos fatos históricos relacionados ao modelo de caminho aleatório. Fonte: Ceretta , 2001. 19 Quadro 1: Resumo das principais investigações relacionadas à previsibilidade das variações de preço em mercados da América Latina. Fonte: Ceretta,2001. Existem poucos estudos sobre a dinâmica dos preços de títulos e comportamento aleatório nas variações para mercados emergentes da América Latina, e os que existem mostram resultados conflitantes. Ceretta (2001) utilizou o teste quociente de variância e um conjunto de outros testes, ambos nas versões paramétricas e não- paramétricas sobre as variações dos índices dos mercados da Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México e Venezuela. Os dados são relativos a índices de preços semanais dos mercados expressos em dólares americanos obtidos do International Finance Corporation abrangendo o período 1990 - 1999 e dois subperíodos. Os resultados mostraram que para os mercados da Argentina e do Brasil não há evidências de previsibilidade, estando eles de 20 acordo com o modelo de caminho aleatório. Em contraste, os mercados da Colômbia e do Chile apresentam uma grande tendência contraria ao modelo de caminho aleatório. 3.1.2 Assimetria Informacional Alguns dos conceitos mais importantes e que se tornaram pilares dentro do campo de finanças têm como base o teorema de Modigliani-Miller (1958) que nos diz que não é possível a determinação de uma estrutura de capital ótima que maximize o valor da empresa, isto porque não há como a empresa produzir alterações de preços das suas ações no mercado através da mudança de sua estrutura de capital. Em outras palavras, o valor da empresa é sempre o mesmo independentemente do seu mix de financiamento. O teorema traz para a teoria de investimento o pressuposto básico de que existe independência entre os investimentos da empresa e as suas decisões de financiamento. Estudos mais recentes mostram-nos que esse pressuposto pode não prevalecer dentro de um ambiente de mercado imperfeito. Assim sendo, informações não difundidas igualmente para todo o mercado e a liquidez da empresa podem afetar suas decisões de investimento de capital (Garcia, 2002). Brealey e Myers (1998) definem mercados eficientes como aqueles em que os participantes formam expectativas em relação aos preços, baseados em toda a informação disponível sobre eventos que possam influenciar os preços do ativo negociado. O preço da ação é um indicador da avaliação que o mercado faz do produto e deve refletir as informações disponíveis sobre o mercado em determinado momento. No estudo de Garcia (1997) podemos estabelecer, de maneira objetiva, que o termo “Assimetria de Informação” refere-se aos diferentes graus de informações sobre uma 21 determinada empresa, possuídos, por um lado, pelos administradores da companhia e, por outro, pelos diversos agentes de mercado de capitais. Esta situação é vista com obviedade porque os gerentes (administradores) da empresa conhecem com exatidão o seu fluxo de caixa, têm uma perspectiva bastante firme sobre os resultados futuros, os seus projetos de investimento, o potencial de cada projeto, enfim, estão tão intimamente ligados aos negócios da empresa que, de forma natural, detêm informações que o mercado como um todo não possui. Um trabalho de grande influência nesse campo de estudo foi elaborado por Myers e Majluf (1984) o qual nos mostra que, quando da existência de assimetria de informação entre os administradores (insiders) e os agentes externos (outsiders), os gerentes da empresa podem ser levados a não investirem em alguns projetos de investimento, mesmo com Valor Presente Líquido (VPL) positivo, dessa forma, substanciando a hipótese da ordem de captação de capital por parte da companhia, conhecida na literatura como “Pecking Order Hypothesis - POH”. Abaixo, temos alguns trabalhos empíricos sobre a Hipótese de Eficiência no Mercado(HEM) de Capitais Brasileiro (Camargos e Barbosa, 2003). 22 Quadro 2: Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro. Fonte: Camargos e Barbosa, 2003 23 Quadro 3: Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro. Fonte: Camargos e Barbosa, 2003 24 Quadro 4: Estudo sobre a Eficiência no Mercado brasileiro. Fonte: Camargos e Barbosa, 2003 3.1.4 Formação e Balanceamento da Carteira x Perspectiva de Risco e Retorno No início da década de 50, Markowitz (1952) publicou um trabalho intitulado Portfolio Selection que formaliza os princípios da teoria de carteiras. A finalidade era compor uma carteira de títulos, obedecendo às preferências do investidor com relação ao risco e retorno esperados. É assim que, em seu trabalho, esse autor aplicou um modelo de programação quadrática para a determinação destas carteiras, maximizando o retorno esperado dado um nível de risco ou minimizando o risco dado um nível de retorno esperado. Segundo o estudo de Oda (2003), os investimentos em ações normalmente apresentamretornos maiores que as aplicações em renda fixa, especialmente se considerarmos prazos mais longos de maturação. Por outro lado, esta maior rentabilidade é freqüentemente acompanhada de um elevado nível de risco. Assim, para aumentar a possibilidade de ganhos, um investidor deve buscar sempre as melhores formas de aplicar o seu capital, evitando correr mais riscos do que está apto a suportar. Para o investidor 25 comum, um modo simples de obter redução dos riscos é através da aplicação em uma carteira de ativos, onde a própria diversificação do portfólio já é suficiente para, na maioria dos casos, diminuir sensivelmente o risco da aplicação. Markowitz (1959, p.3) afirma que “um bom portfólio de ativos é mais que uma grande lista de boas ações e títulos de dívida. É um conjunto balanceado, que fornece ao investidor proteções e oportunidades em um conjunto amplo de situações”. Foi a partir de seu artigo inicial (1952) que desenvolveram-se e incrementaram-se todos estudos sobre a construção de carteiras de ativos de risco. Ainda segundo Markowitz (1959, p.3), “o objetivo da análise de portfólios é encontrar as carteiras que melhor se adeqüem aos objetivos do investidor”. A seguir mostra que, se o investidor levar em consideração tanto o retorno esperado quanto a variância desse retorno, então é possível construir um modelo que não apenas é capaz de explicar as razões da diversificação como também de propor um processo decisório para a seleção de carteiras ótimas segundo as preferências de cada investidor. Assim, no modelo proposto por Markowitz (1952), as duas únicas variáveis que interessam à satisfação do investidor são o retorno esperado e o risco, expresso pela variância desses retornos.(Decourt , 2004) Além disso, ele assume que os investidores são avessos ao risco, o que resulta no conhecido Princípio da Dominância (Sharpe, 1995, p.194): “Um investidor irá escolher seu portfólio ótimo do conjunto de portfólios que: 1. Oferecer o máximo retorno esperado para diferentes níveis de risco, e 2. Oferecer o mínimo risco para diferentes níveis de retorno esperado.” Naturalmente, não existem apenas investidores avessos ao risco. Há investidores que preferem incorrer em um risco mais elevado para ganharem um pouco mais, e também 26 há aqueles que para um mesmo retorno, aceitam correr qualquer risco. Posteriormente (1976, 1991), Markowitz discute a validade da utilização de seu modelo com outra medida de risco (semi-variância), e outros tipos de função utilidade. No modelo original de Markowitz, onde os investidores são avessos ao risco, para manter o mesmo nível de satisfação um investidor apenas aceita correr mais risco se o retorno também aumentar Uma forma didática de expressar essa relação entre retorno e risco é através da Teoria da Utilidade, muito embora Markowitz (1991, p.209) ressalte que “não existe uma conexão inevitável entre a validade do princípio de maximização da utilidade e a validade da análise de portfólios”, sendo possível aceitar ou rejeitar o uso da análise de média e variância independentemente da aceitação ou não do princípio de maximização da utilidade. Sharpe (1995) utiliza esta abordagem para ilustrar o processo de obtenção de carteiras ótimas, partindo de um mapa de contorno com curvas que representam níveis constantes de satisfação do investidor. Conforme Berenstein (2004) a palavra risco deriva do italiano antigo risicare, que significa “ousar”. Neste sentido, o risco é uma opção, e não um destino. É das ações que ousamos tomar, que dependem de nosso grau de liberdade de opção, que as estratégias de investimento em renda variável devem ser estudadas. 3.1.5 Governança Corporativa Governança Corporativa é um termo que surgiu nos Estados Unidos em decorrência das pressões exercidas pelos fundos de pensão, os quais passaram a exigir mais informações e transparência das empresas com a intenção de limitar o poder dos acionistas 27 controladores. Há hoje princípios básicos de uma boa governança corporativa: transparência (disclosure), equidade (fairness), conformidade com as normas legais (compliance) e prestação de contas (accountability), criação de órgãos voltados a esse assunto, tais como: IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e OCDE - Organization for Economic Co-operation and Development. Além dos órgãos houve a criação de níveis diferenciados de governança corporativa pela Bovespa com regras de adesão e alguns benefícios para as empresas listadas. Estar presente entre os níveis diferenciados de governança passou a fazer diferença entre as organizações. (Nardi & Nakao, 2006) Em 2000 a Bovespa criou os níveis diferenciados de governança corporativa que compreendem o Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2, com o objetivo de proporcionar um ambiente que estimule tanto o interesse dos investidores, a valorização e o aumento da liquidez das ações das empresas, já que a adesão aos oferece um maior grau de segurança aos direitos dos acionistas e maior qualidade nas informações apresentadas pelas corporações.(Magliano Filho, 2002) Bernstein (1991) nos conscientiza de que, já que as pessoas existem no mundo e precisam fazer negócios para sobreviver, para prosperar e crescer, todas as impressões criadas são importantes. O que pode ser relacionado com a imagem institucional de uma empresa frente aos seus investidores, possíveis investidores e outras partes interessadas, se a impressão que eles têm de uma empresa é positiva, tenderá à atitude natural de negociar e investir em tal empresa, o contrário é verdadeiro. No estudo de Nardi & Nakao (2006), procurou-se entender qual o efeito na imagem da empresa, percebida pelos shareholders (acionistas majoritários) e pelos stakeholders (outras partes interessadas), quando a companhia começa a fazer parte do Nível 1, Nível 2 28 e Novo Mercado. A premissa adotada foi a de que imagem é um fator que interfere na tomada de decisões e nas escolhas do ser humano, sejam decisões desde fisiológicas até decisões de segurança no que tange aos seus negócios. Dessa forma, o estudo baseou-se no envio de questionários, por e-mail, ao departamento de “Relações com Investidores” das empresas listadas nos níveis diferenciados de governança corporativa, de acordo com a Bovespa - Bolsa de Valores de São Paulo. Pela análise dos resultados, verifica-se que a entrada das empresas nos níveis citados, modifica a imagem institucional das mesmas, do ponto de vista da empresa, tanto para as partes interessadas quanto para os acionistas majoritários, tendo uma leve preocupação, ainda, mais para os interesses dos últimos. Atualmente, podemos quantificar o desempenho das empresas presentes nos níveis diferenciados da Bovespa através do desempenho do IGC – Índice de Governança Corporativa, que compreende as ações das empresas presentes no Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. De 25.06.01 ao final de março de 2006 o Ibovespa, principal referência da Bolsa brasileira, valorizou 161,4%, contra 323,8% do IGC. A melhoria na qualidade das informações prestadas pelas empresas reduz as incertezas no processo de avaliação da mesma e, conseqüentemente o risco. 3.1.6 Precificação de Ativos A precificação de um ativo sempre foi foco de grande interesse acadêmico e empresarial. A determinação de um valor justo para um ativo pode ser considerada a questão mais desafiadora e fascinante do mundo das finanças. A moderna teoria de finanças busca auxiliar os investidores a determinar, objetivamente, o valor dos ativos, desenvolvendo modelos matemáticos como o CAPM – 29 Capital Asset Pricing Model e o Modelo Black-Scholes. Alvo de discussões sobre sua validade, o CAPM ainda é considerado a principal referência para acadêmicos e operadores em finanças, ao relacionar os dois componentes básicos em uma avaliação de ativos: o risco e o retorno. (Mascarenhas,2005) Segundo Brealey & Myers (1998, p.990), “o que o modelo tem de atrativo é o fato de nos proporcionar um instrumento prático para refletir sobre a rentabilidade exigida a um investimento com risco”. Segundo Pablo Fernández apud Muller (2004) há dez modelos diferentes e nove teorias para a avaliação de empresas através dos modelos de fluxo de caixa descontado. Ele explica que todos os dez modelos sempre resultam no mesmo valor. Esse resultado é lógico, uma vez que todos os modelos analisam a mesma realidade sob as mesmas hipóteses; eles somente diferem no fluxo de caixa tomado como ponto inicial para a avaliação. Portanto, não deve haver inconveniente ou diferença significativa na utilização de um modelo simplificado, como nos procedimentos desta pesquisa. Damodaran apud Muller (2004) defendeu a idéia de que “o valor de um ativo decorre de sua capacidade de geração de fluxos de caixa”. O capítulo 4 de sua obra (O caixa é o que interessa: estimativa do fluxo de caixa) assemelha-se com a abordagem de Copeland, Koller e Murrin, citada acima. Em outro capítulo, o capítulo 8, no entanto, trata do que denomina de avaliação relativa, definindo-a comparativamente: Na avaliação pelo fluxo de caixa descontado, o objetivo é encontrar o valor dos ativos tendo em vista suas características de fluxo de caixa, crescimento e risco. Na avaliação relativa, o objetivo é avaliar os ativos com base na precificação de outros ativos semelhantes no mercado.(Damodaram, 2003) Damodaran é muito prudente ao apontar dificuldades e cuidados que se devem ter 30 ao utilizar um modelo de avaliação relativa como base, e alerta: “embora os múltiplos sejam intuitivos e de uso simples, também é fácil usá-los de forma errada”. E complementa com uma expressão, direcionando o tema para a utilização de empresas de um mesmo setor, que podem apresentar diferenças de risco, potencial de crescimento e fluxos de caixa,mencionando que “a questão de como controlar essas diferenças ao comparar os múltiplos de diversas empresas passa a ser crucial”. Entende-se aqui a validação dos demais modelos, apesar de criticáveis do ponto de vista dos ajustes contábeis.(Muller, 2004) Por sua experiência, Damodaran não ousa descartar outros modelos, com valores e múltiplos padronizados, e ainda assume que “o preço de uma ação é função tanto do valor do patrimônio da empresa.(Damodaram, 2003) O modelo simplificado para o fluxo de caixa sugere uma adaptação do modelo de Gordon (fluxo de dividendos) com taxa de crescimento constante. Sua validação surge na proposição de modelos como o de Ohlson. Oliveira, Guerreiro e Securato (2002) apresentam a pressuposição de que o lucro residual pode crescer constantemente ao longo do tempo e de forma compatível com a taxa de crescimento da economia. Damodaran (1997, p.241) explica: Assim, embora a exigência do modelo seja para uma taxa de crescimento esperada dos dividendos, os analistas devem ser capazes de substituí-la pela taxa esperada de crescimento nos lucros e obter exatamente o mesmo resultado, caso a empresa esteja realmente num estado de equilíbrio. Na visão de Nagano (2003), o modelo de precificação de ativos (CAPM) tem sido utilizado principalmente na avaliação de investimentos nos mercados acionários. Durante o período de 1995 a 2000, a economia brasileira vivenciou um momento de estabilidade inflacionária, criando-se uma ótima oportunidade para a verificação dos impactos das 31 variáveis fundamentalistas na explicação dos retornos das ações. Foram analisadas as relações entre os retornos das ações e as seguintes variáveis independentes: beta, valor de mercado, vendas/ preço, fluxo de caixa/preço, valor patrimonial/preço, dividendos/preço, lucro/preço e endividamento, expresso pelas relações ativo total sobre valor de mercado e ativo total sobre valor patrimonial. Os resultados mostraram que a controvérsia entre o uso do modelo unidimensional do CAPM e o uso de modelos multidimensionais está longe de ser resolvida. Os problemas encontrados nos testes empíricos do CAPM podem ser tanto falhas desse modelo, como também ineficiências do mercado, que não precifica corretamente as ações ou os ativos. Ou então, como as variáveis fundamentalistas estão muito relacionadas com o preço das ações, seguramente algumas serão redundantes na explicação das rentabilidades das ações. Damodaran (2006), explicita e analisa 10 formas de se investir no mercado de capitais. Entre as estratégias, podemos valorar determinado ativo com base no preço/lucro, no preço/valor patrimonial, focando empresas de crescimento ou ainda ativos com recente desvalorização. A conclusão do livro é uma série de observações que devem ser incorporadas ao processo de precificação.Abaixo seguem algumas: Proposição 1: A única característica previsível das ações é sua imprevisibilidade. Proposição 2: Empresas baratas nem sempre são bons negócios. Proposição 3: Boas empresas nem sempre são bons investimentos. Proposição 4: Não há uma estratégia de investimento que seja a melhor para todos os investidores. 32 3.1.7 Aspectos Comportamentais “Um surpreendente número de investidores subscrevem a teoria de investimentos do “idiota maior”, que argumenta que o valor de um ativo é irrelevante desde que haja um “idiota maior”por aí, que esteja disposto a comprar o ativo deles. Embora isto possa configurar a base para a realização de algum lucro, é um jogo perigoso, uma vez que não há garantia de um tal investidor ainda esteja em circulação quando chegar a hora de vender.”. (Aswath Damodaran, 2003) Cada vez mais os pesquisadores procuram explicar por que, às vezes, os investidores se comportam de forma irracional. As Finanças Comportamentais, a nova área de estudo vem atraindo o interesse tanto de investidores individuais, quanto dos institucionais. Afinal, os aspectos psicológicos não afetam apenas o investidor individual, mas também o grupo de investidores, ou seja, o mercado. Em alguns casos, o viés do mercado gera erros na avaliação dos ativos financeiros, o que acaba oferecendo boas oportunidades de investimento. Porém, para aproveitar estas oportunidades, é preciso entender a natureza destes erros de julgamento. Abaixo abordamos cinco erros mais comuns cometidos pelos investidores. Conforme Aldrighi (2005), muitos economistas identificam uma dinâmica típica em episódios de bolhas especulativas — situação em que os preços de mercado dos ativos excedem significativa e prolongadamente os valores de seus fundamentos Não raro os investidores passam a crer na emergência de uma “nova era” de opulência e segurança ininterruptas, crença sancionada e difundida por analistas e pela mídia para racionalizar o 33 próprio aumento espetacular de preços. Mesmo os investidores racionais, que reconhecem o exagero dos preços nos mercado dos ativos vis-à-vis seus respectivos valores de fundamento, atuariam de modo desestabilizador, adquirindo os ativos sob a expectativa de revendêlos com lucro logo depois. Na mesma linha de “erros de expectativas”, mostram que ações menos valorizadas no período anterior e que apresentam preços baixos em relação aos ganhos, dividendos, preços históricos, ou outros fundamentos (as chamadas value stocks) geram retornos bem superiores aos das ações de empresas que apresentaram crescimento elevado dos retornos ou das receitas (denominadas growth stocks).( Lakonishok et al.,1994 e La Porta et al., 1997, apud Aldrighi,2005) A análise a seguir embora contenha algumas indicações e sugestões de comportamento, foram elaborados por Schoti (2005). Portanto, não se trata do ponto de vista pessoal ou interferência do autor da pesquisa sobre o referencial teórico. Excesso de confiança Pessoas excessivamente confiantes negociam de forma mais ativa, efetuando um número maior de operações de compra e venda de títulos e/ouações. Como era de se esperar, os homens são mais suscetíveis ao excesso de confiança. Estudos elaborados no mercado norte-americano sugerem que eles negociam, em média, 45% mais do que as mulheres, sendo que este percentual é ainda maior entre os homens solteiros (67%). Porém, como negociar implica em custos, esta postura acaba prejudicando o retorno da carteira. Estudo elaborado por uma corretora de valores norte-americana constatou que, para um determinado período de tempo, enquanto o S&P 500 registrou alta anual média de 34 17,9%, o retorno médio anual da carteira de ações dos investidores que negociam intensamente foi de 11,4%. E para quem investe baseado na opinião de analistas, vale a observação: eles também estão sujeitos aos mesmos vieses psicológicos, sobretudo, o de excesso de confiança. Daí a importância de se avaliar estas recomendações com cautela e, como diz Warren Buffett, ter a sua própria opinião. Fique atento, sobretudo, aos casos de excesso de otimismo ou pessimismo com relação a um determinado ativo. Medo de errar Outro erro de julgamento que pode afetar sua capacidade de tomar decisões de investimento é o medo de errar. Temendo errar, um investidor pode acabar adiando a decisão de vender uma ação com fundamentos ruins, o que só piora a sua situação. A venda da ação colocaria um fim ao sofrimento, mas diante do medo o investidor prolonga este sentimento. Da mesma forma, o investidor pode ser levado a vender muito rapidamente uma ação com bom potencial, pois teme que a tendência de alta se reverta. É interessante notar que este comportamento individual afeta o desempenho do mercado e cria oportunidades para quem o entende. Como? Simples. Em geral, os investidores tendem a manter "ações ruins" por um tempo mais longo, pois acreditam em uma recuperação, e isso acaba fazendo com que a queda do preço desta ação seja mais lenta. Por outro lado, a venda precipitada de ações com bom potencial acaba reduzindo o ritmo de alta dos papéis. Em ambos os casos, o investidor pode ganhar com esta tendência. A lição aqui é clara: somente através do entendimento dos fundamentos você pode identificar quando uma 35 tendência de alta (baixa) é temporária ou fruto de uma nova realidade da empresa. Em caso de uma fraqueza nos fundamentos, o ideal é que você assuma o erro e saia o quanto antes, de forma a reduzir suas perdas. Dissonância cognitiva Segundo os psicólogos, o medo de errar também leva o investidor a evitar informações conflitantes. A isso se chama dissonância cognitiva. Assim, quando toma uma decisão, o investidor evita obter informações que possam levá-lo a se arrepender. Ou seja, temendo errar, ele, irracionalmente, filtra a informação recebida depois que tomou a sua decisão. Para ilustrar melhor este tipo de situação, imagine uma pessoa que acabou de comprar um carro. Na maioria dos casos, a tendência é que evite os anúncios de veículos semelhantes por medo de constatar que não tomou a melhor decisão. Em alguns casos, a pessoa até recebe e absorve a informação, mas não atribui a ela a importância necessária. A melhor forma de evitar este tipo de erro de julgamento é manter-se aberto às opiniões contrárias: procure entendê-las antes de tomar uma decisão de investimento. Seja disciplinado: antes de investir faça uma lista do por que tomou a decisão, e reveja periodicamente estes argumentos para avaliar sua validade. Se as razões que justificaram sua decisão não existem mais, então o melhor é admitir o erro e vender. Ancoragem Até agora, as características analisadas estão associadas aos sentimentos e emoções 36 dos investidores. Porém, alguns erros são cometidos porque tomamos atalhos na hora de decidir. Ao abordar problemas complexos, nosso cérebro define um ponto de referência inicial (ou âncora), o qual não é alterado significativamente mesmo com o surgimento de novas informações. Agindo desta forma, nosso cérebro consegue reduzir um problema complexo - a necessidade de reavaliar toda a informação sempre que novos dados surgem, por outro mais simples - rever as conclusões iniciais com base na nova informação. A diferença pode parecer pequena, mas se considerarmos que a nova informação poderia alterar a conclusão inicial, não é difícil entender como isso pode afetar nossas decisões de investimento. A ancoragem explica, por exemplo, o porquê de alguns investidores seguirem a estratégia de comprar, sempre que uma ação cai muito. Para estes investidores, o último preço é considerado como um indicador de valor, daí, portanto, comprar a um preço mais baixo parece uma decisão correta. Porém, isso nem sempre é verdade. Os psicólogos alertam que os investidores tendem a usar informações recentes (preço, crescimento de lucro, etc.) como âncoras. Isso acaba retardando a revisão do valor de uma ação, e pode induzir o investidor ao erro, pois ações de baixo potencial de crescimento podem ser vistas como baratas, enquanto ações de empresas com bom potencial, podem ser consideradas caras. Representatividade Outro mecanismo usado pelo nosso cérebro para facilitar nossas decisões se chama representatividade. Através dela somos levados a acreditar que coisas que compartilham algumas qualidades em comum são bastante parecidas. O grande problema é que, em geral, 37 esta constatação é feita com base em poucos fatores. Assim, o mecanismo de representatividade pode levar um investidor a considerar semelhante duas empresas que apresentaram um resultado ruim, o que nem sempre é verdade. Em geral, os investidores tendem a agrupar as ações com base em algumas poucas características, o que pode induzir erros de julgamento. Assim como no caso da ancoragem, a representatividade também pode adiar uma reavaliação da ação. Se, no passado, uma ação foi considerada ruim devido aos fracos resultados, mesmo que tenha conseguido recuperar-se, a percepção dos investidores demora a mudar. Ou seja, esta ação deve continuar sendo vista como ruim, mesmo que agora isso não mais seja verdade. O inverso também é válido, e pode levar uma ação a continuar sendo considerada como boa, apesar dos seus fundamentos terem alterado. É através destas discrepâncias entre o valor efetivo da ação e a percepção dos investidores sobre o papel, que o investidor informado e racional pode obter boas oportunidades de investimento. À medida que o investidor entende os fatores psicológicos que levam a essa discrepância, conseguem identificar boas oportunidades de investimento. 3.2 Estratégias de Célebres Investidores “Não importa o quão experiente um operador possa ser, a possibilidade de fazer jogadas perdedoras está sempre presente porque a especulação não pode ser feita com 100 por cento de segurança.” (Edwin Lefevre,1996) Essa parte da pesquisa visa contextualizar alguns célebres investidores e o que 38 fizeram para obter resultados no mercado. Iniciamos com os Axiomas de Zurique que trazem alguns conceitos gerais sobre o investimento no mercado de ações e a seguir descremos as principais idéias de grandes estrategistas em bolsa de valores. Deve-se ressaltar o fato de que vários outros nomes poderiam estar aqui, obviamente cada um defendendo sua posição técnica, fundamentalista ou ainda baseada em aspectos não convencionais como Mandelbrot (2005) e sua teoria que correlaciona os acontecimentos na bolsa com os fundamentos da Física dos fractais. Dentre todos, atenção especial em Graham, que tinha foco no pequeno investidor, daí a busca por sua teoria e aplicabilidade no contexto brasileiro. 3.2.1 Os Axiomas de Zurique No estudo de Gunther (2005), são apresentados uma série de orientações desenvolvidas sobre investimento em renda variável por clube de suíços que operavam em mercadorias e ações em Wall Street após a Segunda Guerra Mundial, relatando as estratégias que os tornaramalguns dos investidores, especuladores e jogadores mais espertos do mundo. As estratégias são divididas em “axiomas” e dentre as orientações apresentadas no livro, percebe-se que a preocupação associada ao investimento em renda variável é algo natural, levando-se em conta que você deve fazer aplicações vultosas e pouco diversificadas. Torna-se pertinente a definição da estratégia de saída da aplicação e na dúvida, realizar o lucro cedo demais. Entretanto, quando o barco começar afundar, não reze. Abandone-o. 39 Além disso, deve-se aceitar as pequenas perdas como fatos da vida e desconfiar das previsões de quem afirma conhecer os acontecimentos futuros do mercado. Contudo, devemos evitar a armadilha do historiador, baseada na crença de que a história se repete. Outros comentários fazem menção ao fato de que não devemos confundir palpite com esperança, não nos apegarmos aos papéis e não hesitar em sair de um negócio se algo mais atraente aparecer à sua frente. Finalmente, o autor comenta que entre os desígnios de Deus para o Universo se inclua o de fazer você ficar rico, mas afirma que à medida que o tempo passa, você vai se tornando um especulador mais esperto. Na seqüência temos a síntese das principais idéias relacionadas com os axiomas: Risco • Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante. • Só se deve apostar o que se possa perder. • Resista à tentação das diversificações. Ganância • Realize o lucro sempre cedo demais. • Entre no negócio sabendo quanto quer ganhar; quando chegar lá, caia fora. Esperança • Quando o barco começar afundar, não reze. Abandone-o. • Aceite as pequenas perdas com um sorriso, como fatos da vida. Conte incorrer em várias, enquanto espera um grande ganho. 40 Previsões • O comportamento do ser humano não é previsível. Desconfie de quem afirmar que conhece uma nesga que seja o futuro. Padrões • Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso. • Cuidado com a armadilha do historiador, baseada na crença de que a história se repete. • Cuidado com a análise técnica, pois ela pode levar a armadilha do historiador. • Cuidado com a ilusão de correlação e ilusão de causalidade. • À medida que o tempo passa, você vai se tornando um especulador mais esperto. Mobilidade • Não se pegue ao papel. • Numa operação que não deu certo, não se deixe apanhar por sentimentos como lealdade ou saudade. • Jamais hesite em sair de um negócio se algo mais atraente aparecer à sua frente Intuição • Só se pode confiar num palpite que possa ser explicado. • Jamais confunda palpite com esperança. 41 Religião e Ocultismo • É improvável que entre os desígnios de Deus para o Universo se inclua o de fazer você ficar rico. • Se astrologia funcionasse, todos os astrólogos seriam ricos. • Não é necessário exorcizar uma superstição. Podemos curti-la, desde que ela conheça o seu lugar. A contribuição dos axiomas para o investimento em ações reside na recomendação de que as pessoas precisam desenvolver disciplina e lucidez ao investir, tornar o aprendizado nessa área um processo contínuo e definir o seu ponto ótimo do binômio risco- retorno. 3.2.2 Robert Haugen Robert Haugen é Ph.D em finanças pela Universidade de Illinois e foi professor na Universidade da Califórnia. Atuou como gestor de fundos e hoje preside a Haugen Custom Financial Systems, empresa especializada em sistemas de análise de portifólio para grandes administradores de carteiras de ações. Em sua visão, questiona mito de que o mercado financeiro opera de maneira eficiente, ou seja, que o preço de cada ação reflete sempre a melhor estimativa dos rendimentos a serem recebidos por aquela empresa em toda sua vida, e que a melhor maneira de investir é utilizar os índices do mercado, como o S&P 500. Escreveu livros de prestigio como Modern Investmente Theory e The New finance, onde na revisão de 2004 foi adicionado o capítulo Rational Finance, Behavioral Finance, and The New Finance. Entre alguns de seus artigos publicados, podemos destacar: 42 Commonality in the Determinants of Expected Stock Returns. The Journal of Financial Economics, Summer, 1996 The Effects of Intrigue, Liquidity, Imprecision, and Bias on the Cross Section of Expected Stock Returns. The Journal of Portfolio Management, February, 1996 The Effects of Imprecision and Bias on the Abilities of Growth and Value Managers to Out-perform their Respective Benchmarks Finance From a New Perspective. Financial Management, Spring, 1996 The Race Between Value and Growth. The Journal of Investing, Spring, 1997 O foco da sua estratégia parte da premissa de que ações baratas e de baixo risco de empresas lucrativas tendem a proporcionar retornos elevados e sugere a construção de uma carteira com ações altamente rentáveis como caminho para superação de índices. Hoje, defende que o mercado financeiro é volátil e ineficiente e que muitos aspectos importantes do comportamento desse mercado não podem ser explicados em bases racionais e é conhecido internacionalmente por suas contribuições para a teoria de portifólio e para a modelagem computadorizada de sistemas econômicos complexos. Os conceitos de Haugen baseiam-se em sua experiência de que os agentes participantes do mercado acionário tomam decisões distintas daquelas preconizadas pelos defensores das hipóteses de mercado acionário eficiente. “Os lucros das ações podem ser previstos! Não pelas teorias ensinadas nos cursos de finanças modernas, mas pela utilização de um instrumento poderoso: os modelos de fator de retorno esperado. Com base nesses modelos é possível montar carteiras de ações de baixo risco que possuam boa liquidez - carteiras formadas por ações de empresas 43 financeiramente saudáveis, altamente lucrativas e com uma relação lucro/preço muito mais alta que as do índice S&P 500.” (Robert Haugen,2004) 3.2.3 Alexander Elder Nascido em Leningrado, foi criado na Estônia onde cursou medicina. Trabalhou como médico a bordo de navios, fugiu de uma embarcação soviética na áfrica e recebeu asilo político nos EUA. Trabalha como Psiquiatra em Nova York e lecionou na Columbia University. Em 1988 fundou a Financial Trading Seminars, Inc, instituição educacional para investidores em mercados financeiros. Elder é um investidor profissional em bolsa de valores; especialista em análise técnica e psiquiatra atuante. Em sua opinião, o sucesso nas operações baseia-se em três palavras: mente, método e dinheiro. Os operadores de mercado capazes de ganhar dinheiro de maneira consistente atuam sob a perspectiva de uma disciplina mental. Saiba que o investidor é o elo mais fraco em qualquer sistema de negociação. As operações de mercado bem-sucedidas erguem-se sobre três pilares. É preciso analisar o equilíbrio de poder entre touros e ursos. É fundamental praticar a boa gestão do dinheiro. É imprescindível seguir seu plano de negociações e evitar empolgar-se com o mercado. Desenvolva um plano de gestão do dinheiro. Seu primeiro objetivo deve ser a sobrevivência no longo prazo; seu segundo objetivo, o crescimento constante de capital; e seu terceiro objetivo, gerar altos lucros. A maioria dos investidores põe o terceiro objetivo em primeiro lugar e ignoram os objetivos 1 e 2. 44 Alexander Elder, escreveu livros clássicos "Trading for a Living" e "Come Into My Trading Room" defende o uso preferencial de médias exponenciais. Elaborou softwares e publicou mais de 50 artigos, entre os quais: Market Gurus, Futures and Options Word, Londres, setembro de 1990. Triple Screen Trading System, Futures Magazine, abril de 1986. Abaixo, expomos o indicador Force Index desenvolvido por Elder e apresentado pela primeira vez no clássico livro Trading for a Living. Em seus livros, Elder refere-seao Force Index como uma de suas principais armas. O Force Index relaciona preço e volume. A fórmula utiliza a amplitude do preço entre dois dias (ou entre duas unidades de tempo da periodicidade sendo usada) e procura medir o tamanho da movimentação e sua força. Assim: Force Index = (Fechamento (hoje) - Fechamento (ontem)) x Volume (hoje) Se a variação for maior que zero o Force Index será positivo. De maneira semelhante, se o fechamento for inferior ao do dia anterior o Force Index será negativo. O volume entra como um fator que amplifica ou atenua a importância do dia, ou seja, ajuda a qualificar a relevância da variação. O Force Index normalmente recebe mais um nível de tratamento, no qual aplica-se uma média móvel aos seus resultados, sendo mostrado como uma linha ao invés de um histograma. Essa, aliás, é uma das recomendações do criador do indicador. Dessa forma, a notação Force Index [14], refere-se ao indicador atenuado por uma média móvel de 14 unidades de tempo. 45 Como operar o indicador Force Index Uma das técnicas de utilização emprega um Force Index [2] em combinação com um indicador de acompanhamento de tendência. No gráfico mostrado a seguir, estamos usando para acompanhar o movimento uma média móvel exponencial de 22 períodos. Os pontos de entrada podem ser gerados de acordo com 2 critérios: • O indicador de acompanhamento de tendência aponta para cima. • O Force Index [2] está abaixo de zero. A idéia por trás desse mecanismo é identificar um pequeno momento dos vendedores dentro de uma tendência de alta e, assim, conseguir comprar por um preço barato. Claro que os Stops devem estar posicionados, pois o momento dos vendedores pode não ser tão breve como achamos inicialmente. Entretanto, esta técnica pode gerar melhores resultados se adicionarmos um pequeno recurso extra. Além dos itens citados acima, o ponto de compra é gerado quando os preços estão próximos da média móvel. Este item a mais vai diminuir o número de sinais, mas, de acordo com nossos testes, os resultados são superiores, de modo que recomendamos sua utilização. O gráfico abaixo mostra a técnica sendo aplicada ao IBOVESPA. As linhas verticais identificam claramente os pontos de entrada gerados. 46 Gráfico 1 – Aplicação do Índice de Força na Bovespa. Fonte: www.neologica.com.br Os mesmos conceitos podem ser usados para uma operação de venda, basta para isso, inverter as afirmações. O Force Index [2] deve estar acima de zero e o indicador de acompanhamento de tendência apontando para baixo. Exaustão Muitas vezes um movimento de alta ou de baixa dá um último e forte "suspiro" antes de finalizar sua trajetória. Esse acontecimento chama-se exaustão e pode ser identificado de algumas maneiras, uma delas utilizando-se o Force Index [2]. Observe o gráfico abaixo da Petrobrás (PETR4). O indicador realiza um pico muito maior do que o normal. Essa sinalização mostra uma exaustão no movimento de alta, de modo que nos dias seguintes o papel iniciou um processo de correção. 47 Gráfico 2 – Aplicação do Índice de Força na Petrobrás. Fonte: www.neologica.com.br Divergências Como muitos outros osciladores deve-se prestar atenção às divergências entre o Force Index e o preço. Uma distinção que se faz é que para a observação de divergências é muito melhor trabalhar com um Force Index maior como [13] ou [22]. Assim, quando o Force Index falha ao fazer um topo mais alto, enquanto o gráfico dos preços consegue, existe um indicativo de possíveis problemas pela frente. O análogo também é verdadeiro, ou seja, se o Force Index falha ao fazer um fundo mais baixo, mas os preços conseguem atingir um nível inferior, temos a indicação de que uma reação altista pode estar surgindo. 48 Para o Force Index , não existem regras fixas para os parâmetos e com certeza cada investidor pode encontrar uma configuração ideal para seus ativos. 3.2.3 Warren Buffet Warren Buffett nasceu em 30 de agosto de 1930 em Omaha, Nebraska, nos Estados Unidos. Ainda vivendo e trabalhando nessa cidade, ganhou o afetuoso apelido de o “Sábio de Omaha”. A escolha da profissão foi algo bem natural: seu pai era um banqueiro de investimentos. Buffett aprendeu os fundamentos de finanças na Wharton School of Finance, na Pensilvânia, e se formou em economia na University of Nebraska. Quando fazia mestrado na Columbia Graduate Business Schol, recebeu forte influência de Graham. Depois de trabalhar como corretor de investimentos para a firma da família em Omaha de 1951 a 1954, foi trabalhar na empresa de investimentos Graham-Newman Corporation, em Nova York como analista de ações. A partir de 1970, começou a obter sucesso ainda maior, mudando radicalmente a Berkshire Hathaway, que ao longo de 34 conseguiu um retorno anual médio de 24,7% para seus acionistas. Conforme publicação do Jornal Valor Econômico em 09/03/2006, baseado na lista da Revista Forbes, Warren Buffett é atualmente o segundo homem mais rico do mundo. Suas únicas publicações são os relatórios anuais da Berkshire, que recentemente foram compilados no livro Ensaios de Warren Buffett: Lições para Investidores e Administradores. Um dos poucos artigos publicados foram: 49 Warren Buffet na Forbes em 1974, The following interview with Warren Buffett, taken from the November 1, 1974 issue of Forbes magazine, still makes for interesting and useful reading today. The Superinvestor of Graham-and-Doddsville, issue of Hermes Magazine of Colúmbia Business Scholl, 1984. Benjamin Graham , by Warren Buffett, from the November/December 1976 issue of Financial Analyst Journal. Buffett diz que seu objetivo como investidor deveria ser simplesmente comprar, a um preço racional, uma participação num negócio que é fácil de entender, e cujos lucros, está praticamente certo, vão ser significativamente mais altos daqui a 5, 10 e 20 anos. “Com o tempo vai descobrir que poucas empresas se encaixam neste padrão. Por isso, se descobrir uma, você deve comprar uma quantidade significativa de suas ações. Você também deve resistir à tentação de se desviar de suas diretrizes. Se não estiver disposto a manter uma ação durante 10 anos, evite mantê-la por 10 minutos. Junte uma carteira de empresas cujos lucros marcham para cima ao longo dos anos, e o valor do mercado da carteira marchará junto." ( W. Buffett) "Investimento inteligente não é complexo, o que tampouco signifique que seja fácil. O que um investidor precisa é de uma capacidade para avaliar corretamente negócios selecionados. Note a palavra "selecionados": não precisa ser um especialista em todas as empresas, nem, necessariamente, em muitas. Você só precisa ter a habilidade para avaliar as empresas que ficam dentro de seu círculo de competência. O tamanho do círculo não é muito importante; o conhecimento de suas extremidades, no entanto, é vital." ( W. Buffett) 50 As duas citações destilam uma boa parte da filosofia de Warren Buffet, um dos investidores mais renomados dos Estados Unidos, e o expoente mais conhecido de investimento em valor (value investment). Como pode ser visto, ele é a antítese da concepção popular de um investidor em bolsa: considera que investe em negócios, não em ações; não se preocupa com o movimento dos preços de suas ações, mas com as vendas, lucros, margens e necessidades de capital de suas empresas; não procura ganhos de capital de curto prazo, mas, compra participações em poucas empresas para mantê-las durante anos, se não décadas; e mora em Omaha, bem longe de Wall Street. Mas com suas técnicas "pão-pão queijo-queijo" conseguiu juntar uma das maiores fortunas do país. As idéias de Buffet são fascinantes, mas, antes de descrevê-las em mais detalhe, um aviso. Suas estratégias parecem simples, mas não são: envolvem uma vida de conhecimento do mundo de negócios.
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