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Autoria Wenderson Saraiva Nunes adMinistRação FinanceiRa e oRçaMentáRia ii SEJA BEM-VINDO! ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos Pró-reitora acadêmica: Profa. flávia alves de almeida diretor de oPerações: Prof. José Pereira de oliveira coordenação nead: Profa. luCiana rodrigues ramos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou par- cialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotos- tática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: Wenderson saraiva nunes suPervisão de Produção nead: franCisCo Cleuson do nasCimento alves design instrucional: antonio Carlos vieira / emanoela de araúJo Projeto gráfico e caPa: miguel José de andrade Carvalho diagramação e tratamento de imagens: miguel José de andrade Carvalho revisão textual: emanoela de araúJo Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu NUNES, Wenderson Saraiva. Administração Financeira e Orçamentária II. / Wenderson Saraiva Nunes. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2019. 132 p. ISBN: 1. Administração financeira. 2. Recursos e carteira de ativos. 3. Investimento de capital. 4. Planejamento orçamentário. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SEJA BEM-VINDO! Caro estudante, temos a satisfação de apresentar o material didático da disciplina Administração Financeira e Orçamentária II. Ao ler e estudar por esse material, você irá conhecer os instrumentos desenvolvidos por essa área e suas aplicações; conhecimento que contribui para a solução dos mais variados problemas relacionados ao ambiente empresarial. Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da disciplina. Os estudos serão focados nos fundamentos e premissas de risco e retorno, precificação de ativos, análise de investimentos e planejamento orçamentário. A partir do estudo desse material didático, você terá adquirido um conhecimento básico sobre o assunto e conseguirá dirigir empresas de modo eficaz, já que poderá tomar decisões relativas aos investimentos de forma lucrativa. Mas não pense que todo o assunto se resume a este livro, pois devido à crescente complexidade do mundo dos negócios, sugerimos a você procurar outras fontes para aprofundar seu conhecimento e gerar uma visão mais integrativa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente externo. Sabemos que o conhecimento restrito às técnicas e instrumentos de administração financeira é insuficiente no atual mundo dos negócios, isso exige do estudante uma maior sensibilidade em relação às outras informações estratégicas. Então, seja curioso, busque conhecimento de várias formas e em diversos locais. Bons estudos! SUMÁRIO CONECTE-SE ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem e significam: SUMÁRIO 1. Uma visão da administração financeira................... 8 2. Políticas econômicas ............................................. 13 3. Globalização .......................................................... 17 4. Risco e retorno ...................................................... 19 Referências ............................................................... 34 01 1. Fontes e aplicações de recursos ........................... 36 2. Decisões de investimentos e financiamentos a longo prazo ......................................................... 37 3. Fontes de risco ...................................................... 39 4. Portfólio de ativos .................................................. 41 5. Diversificação do risco........................................... 43 6. Teoria do portfólio.................................................. 56 7. Coeficiente beta (β) ............................................... 58 8. Modelo de formação de preços de ativos de capital – CAPM ................................................. 60 Referências ............................................................... 65 02 FONTES E APLICAÇÃO DOS RECURSOS E ANÁLISE DA CARTEIRA DE ATIVOS A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA, SEUS RISCOS E RETORNOS 1. Conceitos de planejamento ................................. 102 2. Sistema de orçamentos ....................................... 106 3. Orçamentos específicos e projeções .................. 111 4. Elaboração de quadros orçamentários................ 117 Referências ............................................................. 129 04 PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO 1. Decisões de investimento de capital ..................... 68 1.1. Tipos de projetos .......................................... 68 1.2. Fluxos de caixa ............................................. 70 1.3. Taxa Mínima de Atratividade (TMA) ............. 73 1.4. Orçamento de capital .................................... 74 1.5. Métodos de análise de investimentos ........... 75 Referências ............................................................. 100 03 ORÇAMENTO DE CAPITAL Apresentação Estudaremos, nesta unidade, os conceitos que formam a estrutura da administração financeira, oferecendo o conhecimento necessário ao gestor desta atividade. Veremos que é um assunto de tamanha grandeza que vai bem além das paredes da tesouraria de uma empresa. Falaremos sobre a dificuldade na tomada de decisão, a responsabilidade, a autonomia e a capacidade de correr riscos que o administrador precisa ter, além dos entendimentos sobre o que está acontecendo no mundo ao seu redor, no qual as informações estão mudando cada vez mais rápido. A administração financeira contempla tanto um planejamento orçamentário para um simples projeto como um projeto de ordem mundial que envolve altos riscos, no qual as peculiaridades da globalização e das políticas monetárias precisam ser bem avaliadas, ao ponto de a organização acumular prejuízos caso não dê a devida importância. Unidade 01 A AdministrAção finAnceirA, seus riscos e retornos WendeRson saRaiva nunes 8 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender os principais conceitos da administração financeira; • Conhecer o perfil do gestor dessa área, seus principais desafios e necessi- dades; • Entender como funcionam os principais elementos que podem impactar na gestão de sucesso de uma organização; • Conhecer as técnicas de análise de risco e de retorno que servem para ava- liar projetos de investimento, visando à saúde financeira da empresa. 1. umA visão dA AdministrAção finAnceirA O objetivo deste estudo é fornecer as nuances da área financeira, os conceitos de uma empresa, as funções de um administrador, a gestão administrativa e os demais aspectos relacionados às finanças (como o capital), às empresas, ao sistema econômico, ao mercado financeiro e às políticas econômicas. 1.1. A administração financeira e sua função De acordo com Gitman (1997, p. 54), finança pode ser definida como "A arte e a ciência de administrar fundos”. Já a administração financeira é uma atividade orientada por objetivos, sendo que o administrador financeiro tem como premissas a análise e o planejamento financeiro, as decisões sobre investimentos e o cumprimento dos objetivos dos proprietários das empresas e/ou dos seus acionistas. Logo, deve-se entender qual é o objetivo da administração financeira, o qual irá gerar uma base concreta para a tomada e a avaliação de decisões financeiras. Pode-se descrever as funções financeiras de uma organização considerando inicialmente o seu ciclo de vida. O planejamento financeiro pode ser dividido em curto prazo e longo prazo. No curto prazo, têm-se o planejamento financeiro como o centro do orçamentode caixa, as ferramentas dos recebíveis e das contas a pagar. Já no longo prazo, conta-se com um planejamento de objetivos estratégicos para gerar planos operacionais. Dessa forma, uma empresa pode ser vista a partir de três níveis: estratégico, operacional e administrativo. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 9| É necessário dizer que o objetivo primário da administração financeira é a maximização do lucro, ou seja, o valor de mercado do capital investido. As decisões financeiras atuam diretamente na valorização do capital da empresa. Devido a essa condição, a administração financeira deve se dedicar à avaliação sobre como tomar decisões que impulsionam cada vez mais o crescimento da companhia. Atualmente, os administradores utilizam métodos mais modernos e estratégias mais eficazes, vislumbrando um melhor desempenho. Também dispõem de muitas ferramentas sofisticadas para solucionar problemas de grande complexidade nas empresas. O administrador financeiro é a figura responsável pelas funções financeiras de uma empresa. Em algumas empresas não é notória a divisão de funções ou sua estrutura organizacional, sendo que em algumas não há um setor ou departamento financeiro, cabendo ao proprietário exercer tal função. À medida que elas crescem, essa estrutura passa a ser necessária, sendo fundamental a figura do administrador financeiro, que pode ter diversas nomeações, por exemplo, gerente financeiro, diretor financeiro, gestor de finanças etc.; todos possuindo o mesmo papel, o de gerir a empresa vislumbrando o lucro e o valor de mercado. Figura 01: O administrador e suas análises. Fonte: <https://bit.ly/2XUMroy>. De acordo com Gitman (1997, p. 58), “acredita-se que o objetivo dos empresários está muitas vezes mais voltado para a maximização dos lucros”. Ross, Westerfield e Jordan (1998, p. 97) também afirmam que o lucro geralmente é o foco mais proposto pelos donos de empresas ou acionistas. 10 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| Dessa forma, o administrador, para atingir esses lucros, muitas vezes acaba tomando decisões pouco pensadas, pois nem sempre a decisão pela alternativa de maior lucratividade é a mais assertiva. É sempre necessário considerar todos os riscos e se cercar de toda a seguridade, e não focar apenas no lucro. O controle de algumas empresas intituladas sociedades anônimas muitas vezes não é realizado pelos seus proprietários, ou seja, o controle das empresas é feito por administradores denominados de agentes dos proprietários, que os contratam e lhes delegam poderes para tomar decisões e administrar a empresa em seu benefício. Todavia, nessa ligação, existe a possibilidade de conflito de interesses entre o principal e o agente. Essa divergência, denominada de conflito de agência, significa que a maioria dos administradores financeiros concorda com o objetivo de maximização da riqueza do proprietário. Porém, na prática, os administradores também estão preocupados com sua riqueza pessoal, estabilidade, estilo de vida e outras vantagens. Tais preocupações podem tornar os administradores relutantes ou sem disposição para correr riscos elevados se perceberem que um negócio arriscado poderá resultar na perda do emprego e prejuízo à riqueza pessoal. Essa postura de moderação leva a retornos inferiores e à perda potencial de riqueza para os proprietários e, consequentemente, para as agências. FIQUE ATENTO O conflito de agência é um impasse que geralmente acontece quando os interesses dos acionistas de uma empresa divergem dos de seus gestores. Ocorre principalmente quando os gestores que acompanham as operações di- árias da empresa não são os investidores, pois estes últimos tendem a ter uma visão diferente da que os gestores julgam como positivo, levando em conta o que veem acontecendo nas atividades da empresa. 1.2. Mercado financeiro O conhecimento sobre esse mercado é de extrema relevância, partindo da ideia de que todas as operações financeiras são realizadas ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 11| dentro desse sistema. O conhecimento desse mercado permite ao administrador realizar uma melhor gestão, provido de informações e dados que fornecerá subsídios para proteger os diversos ativos financeiros, exercendo, pois, uma eficiente administração. Em um sistema econômico, o mercado financeiro apresenta grande notoriedade ao apresentar a intermediação de recursos financeiros. As empresas normalmente operam em pelo menos quatro segmentos de mercado, que são: o mercado monetário, o mercado de crédito, o mercado de capital e o mercado cambial. No mercado monetário, também conhecido como mercado de moeda, ocorrem as captações de recursos à vista, no curtíssimo e no curto prazo. Nesse mercado, atuam principalmente os intermediadores financeiros, negociando títulos e criando um parâmetro médio para taxas de juros básicas no mercado. O mercado de crédito é o segmento que trata e atende às necessidades de crédito de curto e de médio prazo. Atende ainda os financiamentos de bens duráveis e de capital de giro. Já no mercado de capitais, os agentes econômicos focam em operações mais voltadas para ações e debêntures, mas também atendem aos créditos de médio e longo prazo. No mercado cambial, existe a realização de compra e venda de moedas estrangeiras. Quem atua nesse mercado tem foco no comércio internacional, sendo que essas operações são realizadas por instituições financeiras autorizadas, que podem ser tanto bancárias como não bancárias. Figura 02: As moedas estrangeiras compõem o mercado cambial. Fonte: <https://bit.ly/2VUh2kD>. 12 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| Quanto à política de preços na economia, ocorre a aplicação da equação dinheiro e tempo. Pode-se citar o valor de um investimento após um período determinado de tempo sob uma taxa de juros, em outras palavras, o valor do dinheiro muda ao longo do tempo. Quais são os fatores que influenciam na diminuição do valor do dinheiro? Principalmente a inflação, que se dá pelo aumento dos preços em geral, quando os preços sobem, o valor da moeda diminui, o que baixa o poder de compra. O risco ou a incerteza sobre o nosso futuro também é um fator que impacta no valor da moeda. O risco pode aumentar com o passar do tempo, isto é, o dinheiro que está hoje em mãos é mais valorizado do que a promessa dele. Ninguém pode prever o futuro, portanto, não existe precisão em saber se o dinheiro de hoje vai estar disponível amanhã ou se o preço garantido hoje poderá ser cumprido amanhã, pois não existe nenhuma garantia de solidez financeira para o futuro. Dessa forma, esses fatores de instabilidade aumentam o risco de dividendos, e as garantias não podem ser asseguradas nem para as empresas nem para os investidores. Os investidores têm preferência pela liquidez, sendo esta de suma importância tanto para eles como para a empresa. A liquidez funciona mais como um fator que influencia diretamente na valorização da moeda, pois a ela é designada a possibilidade de transformar os ativos da empresa em dinheiro ou poder de compra, ou seja, esses ativos podem ser facilmente transformados em caixa. Nesse contexto, é importante manter dinheiro em caixa para imprevistos ou compromissos financeiros ao invés de comprometer fundos de reserva ou aplicações futuras. 1.3. Mercado de capitais O mercado de capitais corresponde ao sistema que proporciona a distribuição de valores mobiliários, isto é, as empresas precisam se capitalizar de forma mais barata; para isso, eles vendem títulos que compõem parte de seus patrimônios para investidores interessados, que acontece por intermédio da bolsa de valores, na comercialização de ações. As ações, então, são títulos que representam a menor fração do capital de uma empresa. Desse modo, ao comprar uma ação, um investidor se torna sócio dessa empresa, passando a ter direito aos dividendos e lucros que venham a ser distribuídos. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIAII 13| Essas ações podem ser ordinárias, cujos acionistas têm direito a votos em assembleias que norteiam o futuro da empresa, e preferenciais, cujos acionistas não têm o mesmo direito como no caso dos acionistas das ações ordinárias, porém ele recebe dividendos (participação nos resultados da empresa). Existem ainda as debêntures, que são títulos emitidos com a intenção de captar recursos com dois objetivos: proporcionar investimento ou financiar o capital de giro da empresa. Elas são emitidas por sociedades anônimas. Figura 03: Negociação de ações na bolsa de valores. Fonte: <http://bit.ly/2PCUHrS>. 2. PolíticAs econômicAs A política econômica consiste no conjunto de ações governamentais que são planejadas para atingir determinadas finalidades, como promover o crescimento econômico, a estabilidade de preços, entre outras, relacionadas com a situação econômica de um país, uma região ou um conjunto de países. A economia dos países é composta por históricos de crescimento e, respectivamente, pela queda nos índices ou atividades econômicas. Essa movimentação é refletida diretamente nas vendas das empresas. 14 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| 2.1. Política monetária A política monetária é responsável por controlar a taxa de juros da economia por meio da contratação ou aumento da oferta de moeda. É o processo de ofertar moeda à economia. Mesmo sendo de extrema importância, não é correto afirmar que somente a política monetária é importante, e que somente ela é responsável pelas flutuações e pela estabilidade da economia. As autoridades monetárias não são, em sistema algum, as únicas que detêm o controle da política econômica em sua totalidade. Segundo Lopes e Rossetti (2005, p. 253), “por mais acentuada que possa ser a tendência monetarista da política econômica, esta interage com políticas que em geral estão sobre o controle de outros organismos governamentais”. Entre as outras políticas econômicas governamentais destacam-se a política fiscal e ainda a política cambial. FIQUE ATENTO O controle do governo sobre essa política se dá principalmente pela taxa de juros. Quanto maior a taxa, menor o consumo interno, pois fica mais caro ad- quirir um bem financiado, por exemplo, o investimento de capital estrangeiro no país em busca de ganhos com as altas taxas. Quanto menor a taxa de juros, maior o consumo interno e menor o in- vestimento de capital estrangeiro, pois taxas baixas não são atrativas em um país considerado de risco médio-alto como o Brasil (270 pontos no risco-país em 30/11/2018). 2.2. Política fiscal A política fiscal trata-se da administração do governo sobre as receitas e despesas na esfera federal, estadual e municipal. Sua fonte de recursos é advinda do tributo, composto por impostos, taxas e contribuições de melhorias. No Brasil, os gastos do governo em um ano fiscal devem seguir a programação do orçamento elaborado no ano fiscal anterior, aprovado pelo Congresso Nacional. Devido a esse princípio, um novo imposto ou a alteração das alíquotas de certos impostos devem ser aprovados pelo Congresso ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 15| Nacional em um ano fiscal, passando a vigorar no ano seguinte. Segundo Bacha e Lima (2006, p. 33), “a política fiscal é geralmente concebida como política de controle da demanda agregada. Ela objetiva manter, de forma aproximada, o equilíbrio entre oferta e demanda agregada, assim como o nível de preços existentes”. Segundo Rossetti (1987, p. 240), os instrumentos fiscais referem-se às despesas e receitas do governo. Do lado das despesas, pode-se dividi-las em consumo do governo, investimentos do governo e subsídios e transferências. • Consumo do governo: as despesas do governo classificadas como consumo referem-se aos pagamentos de funcionários civis ou militares, aquisição de materiais e contratação de terceiros. Tudo isso para a produção de serviços de uso coletivo; • Investimentos do governo: segundo Rossetti (1987), as despesas classificadas como investimento referem-se àquelas que o governo faz com o objetivo de aumentar a capacidade de produção de bens e serviços no país (construção de rodovias, ferrovias, hidrelétricas, escolas etc.); • Subsídios e transferências: os subsídios correspondem aos gastos do governo com o objetivo de garantir aos consumidores preços mais baixos do que o custo de produção. Com relação às transferências, Rossetti (1987, p. 241) diz que as parcelas dos pa- gamentos de transferência classificável como o seguro-desemprego tem ponderável efeito anticíclico, ajudando a manter os níveis de demanda agregada em situações conjunturais de recessão. Em situações opostas, a redução do dispêndio público com este item exerce, automaticamente, efeitos em direção contrária. De forma resumida, para ajudar no entendimento, quando o governo reduz a cobrança do imposto, sobra mais dinheiro no bolso da sociedade, que passa a comprar mais, o que acaba girando a economia de forma positiva, porém, quando o governo aumenta a cobrança de impostos, seja sobre a renda, seja sobre produtos, isso reduz o recurso no bolso da sociedade, que passa a gastar menos ou perde o poder de compra. 16 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| 2.3. Política cambial A política cambial é definida de acordo com o dicionário como tudo aquilo que configura troca, permuta ou escambo. No âmbito econômico, principalmente no contexto de mercado financeiro, normalmente significa a taxa de câmbio entre a moeda nacional e uma moeda estrangeira, ou até mesmo o movimento de capitais em um determinado período. Para Garofalo Filho (2005, p. 42), o câmbio é o conjunto de normas, ações, tradições (usos e costumes) e técnicas aplicáveis às trocas ou ao câmbio de moedas de diferentes países. O referido autor (2005, p. 13), em seu dicionário de economia, ainda define câmbio como sendo, “uma operação financeira que consiste em vender, trocar ou comprar valores em moedas de outros países ou papéis que representem moedas de outros países”. Portanto, a política cambial é constituída pela administração das taxas de câmbio e pelo controle das operações cambiais, tendo como objetivo central o mercado externo, no sentido de manter equalizado o poder de compra do país em relação aos outros com os quais ele mantém contato. Isso interfere na economia devido ao poder de compra que cada moeda tem, então, por exemplo, se uma empresa vende seus produtos para o exterior (exportação) e a moeda de seu país é menos valorizada que a do país de destino, quem está comprando acaba pagando mais barato, o que é bom para a empresa, pois acaba vendendo mais, porém, é ruim para a empresa que compra produtos do exterior (importação), pois, no mesmo cenário, acaba pagando mais caro por isso. Figura 04: Containers preparados para exportar produtos. Fonte: <https://bit.ly/2VKgAVY>. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 17| 3. GlobAlizAção A maioria das grandes organizações opera mundialmente, sendo que elas têm uma boa e simples razão para isso: investir em países do exterior, visto que isso tem se revelado altamente lucrativo. Nesse cenário, a mão de obra de baixo custo e a facilidade na transferência de tecnologia eficiente propiciam vantagens competitivas de preço, além de gerar o desejo de reduzir riscos. Como as economias variam de um país para outro, as empresas conseguem explorar de formas diferentes; existindo mais vendas em um lugar quando no outro ocorre o contrário, por exemplo, reduz a exposição ao risco e funciona como uma balança, pois, um país com economia crescente acaba ajudando a equilibrar as vendas de um país que está com dificuldade. A globalização tem algumas características básicas como a integração de mercado, quando alguns produtos deixam de ter nacionalidade aparente, isto é, os consumidores passam a consumir produtos de empresas de outras nacionalidades sem sequer saber desse fato. A mudança do modo de produção também é uma característicaimportante, pois novas empresas, com formas e tecnologias diferentes, fazem com que novos profissionais mais qualificados se formem e isso é repassado para outras empresas que passam a ter melhor produtividade. Outra característica bem interessante é a homogeneização cultural. Os países se uniformizam por todo o mundo, ultrapassando os limites da economia, em que todo o marketing, preços e condições são adequados a cada país, a cada cultura, e um produto de determinada marca poderá ser apresentado de formas diferentes, apesar de se manter o mesmo produto. De forma geral, os gestores enfrentam novos desafios a cada dia, pois o que funciona em um determinado mercado poderá não funcionar em outro. CURIOSIDADE A marca McDonald’s estava perdendo mercado em um determinado país da América do Norte e não entendia o porquê dos seus clientes estarem deixan- do de consumir seus produtos, até que, por meio de uma pesquisa de mercado, percebeu que seus clientes não eram a favor das embalagens utilizadas pela 18 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| marca, pois não eram biodegradáveis, sendo que em todos os outros merca- dos as embalagens eram iguais, não constituindo um fator que impactasse nas vendas. Portanto, a empresa teve que se adaptar, mudando suas embalagens e divulgando isso para voltar a vender. E você, já deixou de comprar um produto de determinada marca porque a embalagem não era biodegradável? Figura 05: Globalização – o espaço geográfico torna-se mundial com a interligação econômica, política, social e cultural. Fonte: <https://bit.ly/2NXjDHD>. PRATIQUE 1. Quais as características de um bom gestor financeiro que você considera já ter ou busca adquirir em seu dia a dia? ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 19| 2. Sabendo que todos nós convivemos com os impactos das decisões governa- mentais com relação às políticas monetárias, fiscais e cambiais, cite alguma situação real na qual você percebeu que ocorreu esse impacto e em qual das três políticas ela se encaixa. 3. Diferencie os tipos de ações existentes no mercado de capital. 4. A globalização é responsável pela entrada de vários produtos modernos em nossa economia. Cite as principais características desse grande fenômeno econômico. 4. risco e retorno Ambientes de total certeza não fazem parte das decisões financeiras, visto que estas são tomadas pensando no futuro, ou seja, a incerteza é uma das variáveis que deve ser incluída na análise como um aspecto de grande importância para o estudo financeiro. 20 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| A questão do risco, por exemplo, está ligada à probabilidade de ocorrer ou não um resultado esperado, revelando possibilidades de perda ou ganho nos retornos sobre os investimentos realizados, por isso, é um conceito base dizer que o risco é a capacidade de medir a quantidade de incerteza que há em uma decisão, caso ela tenha sido tomada com base no conhecimento sobre as probabilidades ligadas à ocorrência analisada. O risco é representado, em sua maioria, por algumas medidas estatísticas bem conhecidas, como o desvio-padrão ou variância, identificando um valor médio esperado e analisando o comportamento dos possíveis resultados. Dessa forma, tomando as decisões com base no valor esperado, o desvio-padrão nos revela a dispersão dos resultados em relação à média, sendo assim, o risco da análise. A incerteza deverá ser considerada sempre que não forem conhecidas as probabilidades de ocorrência dos eventos, tendo como premissa básica a de que todo investidor espera receber um maior retorno por investir seu dinheiro em algo que apresente maior risco. “Toda decisão racional de investimentos tem por fundamento a análise do risco e retorno. Quanto maior o risco, mais elevado é o retorno desejado.” (ASSAF NETO, 2014, p. 218). Dimensionar o risco e o retorno de ativos é imprescindível para a tomada de decisões. De forma resumida, então, pode-se dizer que o risco é uma medida de incerteza dos retornos e a possibilidade de perda (ou ganho) financeiro. É a variabilidade dos retornos associados a um ativo. Os retornos são as receitas esperadas, ou fluxos de caixa previstos de qualquer investimento. A análise dos dois formam a base sobre a qual se tomam decisões inteligentes sobre investimentos. FIQUE ATENTO Quando dois investimentos rendem o mesmo retorno, a escolha final deve ser baseada na avaliação do risco envolvido, devendo ser escolhido aquele com menor risco. Já quando há dois investimentos com riscos iguais, deverá ser es- colhido aquele que gerar maior retorno. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 21| Na relação entre risco e retorno, o retorno sobre o dinheiro deve ser proporcional ao risco envolvido no projeto. À medida que o risco cresce, o retorno exigido também é maior. Figura 06: Relação entre risco e retorno. k1 k2 k3 RETORNO r1 r2 r3 RI SC O Linha de risco/retorno 0 Fonte: Elaborada pelo autor. O risco é mensurado de acordo com o grau de volatilidade, que é a quantidade de flutuações que ocorrem com uma série de números ao se desviarem de sua média, por exemplo: Série numérica x: 1, 2, 3. Onde sua média é 2. Série numérica y: 1, 3, 5. Onde sua média é 3. Sendo assim, a série y é considerada mais volátil que a x, e quanto mais volátil, mais arriscado é. Imagine que a média é a quantidade de possibilidade de algo variar e dar errado, então, em x há duas possibilidades de algo dar errado, já em y, três possibilidades do imprevisto acontecer, portanto, há um maior risco. 4.1. Cálculo do retorno Um conceito bem prático para entender o retorno de um investimento é que este corresponde ao total de ganhos ou prejuízos gerados durante certo intervalo de tempo. Existem duas formas desse retorno ocorrer: • Recebíveis gerados ao investidor em forma de lucros, dividendos etc.; • Valorização do ativo durante o intervalo de tempo em que perma- necer com o investidor. 22 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| Para melhor entendimento, considere a compra de um imóvel residencial como forma de investimento. O retorno, geralmente, é medido em termos percentuais, ou taxa de retorno, facilmente encontrado com a utilização da equação abaixo: 𝐾𝑡 = 𝑃𝑡 − 𝑃𝑡−1 + 𝐷𝑡 𝑃𝑡−1 ou simplesmente Dividendos + Valorização Investimento Sendo: Kt = taxa de retorno do ativo, em certo intervalo de tempo (t); Pt = preço do ativo ao final do período considerado (t); Pt-1 = preço do ativo no início do período considerado (t); Dt = lucro ou dividendo gerado durante o período (t). Quanto ao exemplo do imóvel residencial, considere que ele foi adquirido por R$ 100.000 (este seria o investimento, o preço de compra) e que logo após a aquisição, foi alugado por R$ 2.000 por mês (esse seria o lucro), e, ao final de 2 anos, o inquilino resolveu comprá-lo por R$ 130.000 (esse é o preço ao final do período) devido à valorização imobiliária à época. Sendo assim: Kt = 130.000 − 100.000 + (24 x 2.000) 100.000 Kt = 30.000 + 48.000 100.000 ➡ 0,78 ou ainda 78% de retorno Você pôde entender, então, que a valorização do imóvel entre a data da compra e a data da venda retornou em R$ 30.000 a mais para o investidor, assim como os 24 meses de aluguel de R$ 2.000 rendeu mais R$ 48.000 de lucro a ele, gerando, assim, um total de ganhos de R$ 78.000, que representa 78% do valor investido, que foi de R$ 100.000. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 23| Figura 07: Imóveis são, historicamente, uma das formas mais tradicionais de investimento. Fonte: <https://bit.ly/2F6a9Hd>. 4.2. Cenários e probabilidades Como já foi mencionado anteriormente, a análise do risco é feita por meio de um estudo estatístico de suas variáveis, e quando se fala em risco na administração financeira, é necessário considerar seus principais fatores de variação, os cenários aos quais o ativo está inserido economicamente e as probabilidades de cada cenário ocorrer. Vários itenspodem caracterizar os cenários de uma análise, como o momento político ou econômico de um país, a demanda pelo ativo no momento da análise, a sazonalidade de produção, as leis de comercialização e subsídios, entre outros. Ao analisar um investimento, deve-se analisar primeiramente quais os cenários que poderão influenciar no retorno desse investimento. CURIOSIDADE Antes de continuar com o assunto, você deve estar se perguntando por que os ativos estão sendo utilizados como sinônimo de investimento em vários momentos do texto. No mercado financeiro, ativo é toda e qualquer coisa que poderá sofrer investimento e gerar benefícios (lucros) num momento futuro. En- tão, quando um investidor aplica recursos em ações de uma empresa (ativos), ou monta um negócio próprio (ativos), ou compra títulos públicos federais (ativos), ele espera obter retorno do recurso aplicado, por isso a utilização do termo. 24 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| Imagine que um determinado investidor está em dúvida sobre onde aplicar seu dinheiro e está analisando duas possibilidades. Ambas consistiriam na aplicação de recursos em empresas que têm parte do seu patrimônio no mercado de ações, com grande parte dos seus produtos consumidos no mercado interno de seus países. A empresa W está em um país que passa por uma série de dificuldades político-econômicas, onde vários escândalos ocorrem, a dívida pública só cresce e a população está cada vez com menos poder de compra devido ao desemprego, mas existe uma mudança governamental prevista para dois anos, que alegra os economistas mundiais. Existem, então, no mínimo dois cenários; no primeiro projeto de investimento, encontra-se o realista (que leva em consideração as dificuldades do referido país) e o otimista (que aposta na possibilidade de o país reverter a situação e melhorar economicamente). Já a empresa Z está localizada em um país onde a economia está em crescimento, com muita movimentação de capital estrangeiro, bons retornos financeiros devido à economia positiva de consumo, porém com uma previsão de mudança governamental que não tem sido bem avaliada pelos economistas mundiais. Para o segundo projeto, pode-se encontrar facilmente outros dois cenários; o realista (que neste caso é uma opção positiva, com menos riscos) e o pessimista (que aposta que algum acontecimento pode tirar o país de uma situação economicamente viável para o investimento). Cada análise tem seu número variável de cenários; o importante é que os principais estejam sendo contemplados, visto que estes irão dar maior credibilidade ao resultado do risco e do retorno. Utilizando, ainda, o exemplo citado, sabendo que ambos os países estão em uma determinada situação (uma positiva e outra negativa) e que ainda faltam mais dois anos para uma nova possibilidade de mudança de governo, pode-se pensar, então, que nos próximos dois anos os países continuarão na mesma situação, visto que os mesmos governantes poderão estar no poder. Portanto, o cenário realista deverá ter mais peso na análise do que o cenário pessimista ou otimista durante esse período. Esse “peso” irá fazer toda a diferença no resultado final, visto que será determinante para aumentar ou reduzir a participação de cada cenário; é o que se chama de probabilidade. A probabilidade de cada cenário acontecer dentro da análise deve sempre representar, ao final, o somatório de 100%, visto que podem coexistir vários cenários, porém em busca de apresentar um só resultado. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 25| A distribuição de probabilidades não se resume a um único evento esperado, mas a diversas possibilidades de ocorrência. A ideia é dividir os elementos de incerteza em valores possíveis de se verificar e identificar em cada um deles, isto é, uma probabilidade de ocorrência de cada elemento. Para facilitar o entendimento, continuando com a análise do exemplo citado anteriormente, pode-se sugerir, então, que, para o projeto “W”, a probabilidade de chances de o cenário pessimista ocorrer é de apenas 10%; o “realista”, de 60%, visto que é o estado mais comum da economia no momento da análise; e o otimista, de 30%, de acordo com a perspectiva dos economistas. Para o projeto “Z”, os cenários “pessimista” e “otimista” têm a probabilidade de chances de ocorrência de 25%; já a probabilidade do cenário “realista” continuar é de 50%, visto que a mudança governamental após dois anos está amedrontando os economistas em suas análises. O que pode ser visto no quadro a seguir: Quadro 01: Exemplo de distribuição de probabilidades e cenários. Projeto W Cenários Probabilidade de ocorrência Pessimista 10% Realista 60% Otimista 30% Total 100% Projeto Z Cenários Probabilidade de ocorrência Pessimista 25% Realista 50% Otimista 25% Total 100% Fonte: Elaborado pelo autor. 26 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| MATERIAL COMPLEMENTAR A análise de cenários no contexto da gestão de riscos A análise de cenários pode ser utilizada para auxiliar na tomada de deci- sões de políticas e no planejamento de futuras estratégias, bem como em con- siderar as atividades existentes de uma organização. Pode desempenhar um importante papel em todos os três componentes do processo de avaliação de riscos, conforme definido nas normas ISO 31000 e ISO/IEC 31010. Para a identificação e análise de riscos, conjuntos de cenários refletindo, por exemplo, o “melhor caso”, o “pior caso” e o “caso esperado”, podem ser uti- lizados para identificar o que poderia acontecer sob circunstâncias específicas e analisar as consequências potenciais (negativas e positivas) e suas probabilida- des para cada cenário. A análise de cenários não pode prever as probabilidades de mudanças, mas pode considerar as consequências e auxiliar as organizações a desenvol- verem forças e resiliência necessárias para se adaptar às mudanças previsíveis. As principais dificuldades na utilização da análise de cenários estão as- sociadas à disponibilidade de dados e à capacidade dos analistas e tomadores de decisão de serem capazes de desenvolver cenários realistas que possam explorar os resultados possíveis. Os perigos do uso da análise de cenários como uma ferramenta para a tomada de decisões residem no fato de que os cenários utilizados podem não ter um fundamento adequado, os dados podem ser especulativos, e resultados irreais podem não ser reconhecidos como tal. Fonte: <https://bit.ly/2EQmFcH>. 4.3. O retorno esperado A medida inicial a aprender no estudo do risco e do retorno é o valor esperado de cada cenário e distribuição de probabilidade citados na análise. Tal termo nada mais é que uma média dos resultados esperados, ponderada pela probabilidade atribuída a cada um deles. Os parâmetros para o cálculo do retorno esperado são dados pelo somatório de todos os cenários considerados, sendo que cada um deles deverá ser demonstrado ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 27| por meio da multiplicação das estimativas de retorno de cada cenário, por suas respectivas probabilidades de ocorrência: Sendo: K = Retorno esperado; K1 = Valor do retorno conhecido considerado; P1 = Probabilidade de ocorrência de cada evento. Para visualizar melhor o cálculo anterior, serão dados valores de retorno conhecidos a partir do exemplo anterior. Admita que a empresa em questão, do projeto “W”, deverá pagar de retorno apenas 6% do recurso nela investido se for confirmado o cenário pessimista; 15% de retorno caso o cenário realista se mantenha e, por fim, 18% de retorno se o cenário otimista acontecer. Com esses dados, chega-se ao seguinte cálculo: Kw= (0,06 x 0,10) + (0,15 x 0,60) + (0,18 x 0,30) = 15% Já para o projeto “Z”, considere um retorno pessimista de 10%; caso o cenário realista se mantenha, um retorno de 15%; e se o cenário melhorar, for otimista, um retorno de 20%. Assim, chega-se ao cálculo adiante: Kw= (0,10 x 0,25) + (0,15 x 0,50) + (0,20 x 0,25) = 15% Ou seja, multiplicando ospercentuais de retorno de cada cenário pelo percentual de probabilidade respectivo (apresentados na equação anterior em números decimais), e depois somando todos eles, obtém- se o retorno esperado da análise. Considerando que nenhum cenário tem 100% de probabilidade de ocorrer, encontrando-se, no caso, o real valor de contribuição de cada cenário, de acordo com sua probabilidade de ocorrer, e somando todos os que fazem parte da análise. Trata-se de uma forma prática e mais segura de considerar todos os dados levantados. Megliorini e Vallim (2009, p. 70) afirmam que “a análise estatística procura verificar o grau de incerteza associado a um investimento, para que 28 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| se tenha uma noção do quanto ele é arriscado”. Cada investidor tem seu perfil com relação ao risco. Os mais conservadores se contentam com um retorno menor, buscando correr menos riscos; já os mais arrojados correm maiores riscos esperando maiores recompensas. Mas é importante salientar que todos eles levam em consideração dados estatísticos que servem de embasamento e segurança para seus investimentos. 4.4. O desvio-padrão como risco Eis a principal medida de risco, visto que apresenta o grau de dispersão sobre os retornos esperados em relação à média, ou seja, indica como os valores se distribuem (se dispersam) em relação a um determinado ponto central (a média). Caso exista mais de um investimento em análise, é possível mensurar a volatilidade dos retornos para cada projeto, para que se possa comparar seus riscos e escolher o que for melhor para o investidor de acordo com seu perfil. Para medir estatisticamente a variabilidade dos resultados em termos de valor esperado, você pode utilizar a seguinte equação: Sendo: σ = Sigma (símbolo grego), que representa o desvio-padrão; Kj = Retorno já conhecido de um ativo em um determinado cenário; Kj = Retorno esperado do ativo, considerando todos os cenários; Pj = Probabilidade de um ativo em um determinado cenário. Aplicando esse formato de cálculo no exemplo já conhecido, encontra- se o seguinte resultado de dispersão para o projeto “W”: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 29| Cenários Kj k (kj - k) 2 x Prob. ∑ √ Pessimista 6 15 81 8,10 10,80 3,29Realista 15 15 0 0,00 Otimista 18 15 9 2,70 Ou você pode seguir no mesmo formato da equação, como o apresentado adiante, no projeto “Z”: σ = (10 − 15)² x 0,25 + (15 − 15)² x 0,50 + (20 − 15)² x 0,25� σ = 3,54 Para o entendimento da análise dos resultados encontrados, pode- se dizer que uma parte dos resultados conhecidos é menor que a média, enquanto que a outra parte, maior que a média. Com base nisso, afirma-se que aqueles resultados que estão mais próximos da média são os menos arriscados. Como falado anteriormente, imagine que eles apresentam uma menor possibilidade de algo dar errado. Nos exemplos calculados, o projeto “W” apresenta menor dispersão, isto é, menor risco, sendo, então, o projeto de investimento com as promessas de retorno mais positivas no momento analisado, mesmo com a descrição de um cenário menos propenso ao título de melhor proposta de investimento. CURIOSIDADE Em época de eleição, os jornais sempre veiculam os resultados das pes- quisas de intenção de voto, sendo apresentados os percentuais de votos dos candidatos e, ainda, a margem de erro para mais ou para menos. Essa margem é o desvio-padrão, que serve para informar a dispersão da intenção de voto dos eleitores. Por exemplo, se for dito que um candidato tem 20% das intenções de voto, com margem de erro de 3% para mais ou para menos, pode-se entender que esse mesmo candidato possivelmente irá receber no mínimo 17% dos votos (20% - 3%) e no máximo 23% dos votos (20% + 3%). 30 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| 4.5. Coeficiente de variação É considerado o balanceamento entre o risco e o retorno, pois apresenta o risco do projeto em relação ao seu valor esperado. Imagine que na comparação de dois projetos, todos os resultados encontrados (dispersões e retornos) sejam diferentes, isso dificultará a definição de qual deles é o melhor. Para isso existe o coeficiente de variação, que é calculado da seguinte forma: CV = σ K� Com base nos exemplos anteriores, encontram-se os seguintes resultados para analisar: CVw = 3,29 15 = 0,2193 ou ainda 21,93% de risco sobre o retorno esperado. CVz = 3,54 15 = 0,2360 ou ainda 23,60% de risco sobre o retorno esperado. Dessa forma, consegue-se comprovar que o projeto “Z” é realmente o mais arriscado, pois o coeficiente de variação apresentado por ele é o maior, ou seja, apresenta mais risco sobre o retorno esperado. Portanto, quanto menor o valor do coeficiente de variação, melhor é a qualidade do investimento, do ponto de vista risco e retorno. MATERIAL COMPLEMENTAR Entenda como funciona a relação risco e retorno Existe um velho ditado que diz: "dinheiro gera dinheiro". Certamente ele funciona muito bem no Brasil, onde as taxas de juros são elevadas e onde exis- tem muitas oportunidades de investimento, tanto no mercado financeiro como em negócios próprios. Porém, na busca de lucros elevados, muitos investidores acabam se esquecendo de analisar o risco. De forma geral, retornos mais elevados somente podem ser obtidos quan- do o investidor está também correndo maiores riscos. A não ser em curtos perí- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 31| odos de tempo, onde a disseminação de informações pode não funcionar direito, esta é uma das principais regras do mercado. Portanto, atenção para as promes- sas de rentabilidade elevada! A relação entre risco e retorno é simples: ambos andam de mãos da- das. Basta olhar para o mercado financeiro: enquanto a poupança e os fundos DI mostram maior segurança, investimentos em ativos mais arriscados, como a Bolsa, por exemplo, acabam mostrando retornos de longo prazo mais elevados. O porquê dessa relação pode ser exemplificado fora do mercado finan- ceiro. Imagine que você montou um novo negócio, que mostre, desde o início, uma lucratividade elevada. Por algum tempo esta pode ser a situação, mas isso tende a mudar, a partir do momento em que mais pessoas souberem dessa in- formação. Se o negócio é bom, rapidamente você ganhará concorrentes, o que provavelmente pressionará as margens de lucro para baixo. Da mesma forma que acontece neste exemplo, no mercado financeiro é o mecanismo de arbitragem que reina. Ou seja, se um investimento apresen- ta uma relação de retorno elevado e risco baixo, muitos investidores buscarão aplicar, o que pressionará para baixo o retorno. Um dos principais motivos que leva muitos investidores a perdas significativas no mercado financeiro é o não entendimento desta regra. Embora oportunidades interessantes de curto prazo possam ocorrer, retornos elevados têm que ser necessariamente associados a riscos mais altos. Um exemplo é a Bolsa de Valores. Embora as estatísticas mostrem que a rentabilidade do mercado de ações supere o da renda fixa em grande parte do mundo, investir em ações traz maiores riscos. Não adianta querer ganhar mais, se não estiver preparado para assumir a possibilidade de perdas que, cedo ou tarde, irão ocorrer. Mesmo dentro de investimentos em renda fixa, retorno mais elevado não vem sem a contrapartida de riscos maiores. Por exemplo, títulos de dívida corpo- rativa, como CDBs ou debêntures, em geral, pagam mais que papéis do gover- no. A resposta é simples: apresentam riscos mais elevados. Muita gente conhece pessoas que perderam muito em alternativas de investimento de alta rentabilidade, aparentemente saudáveis, que, no final das contas, nada mais eram do que esquemas para lesar os mais desavisados. Como juntar dinheiro não é nada fácil, antes de investir sempre procu- re analisar os riscos envolvidos. Nesta hora, todo o cuidado é pouco, mesmo quando amigos ou parentes aparecem com investimentos onde, aparentemente, 32 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIAII| o retorno é elevado e o risco baixo. Na dúvida, fique com a sabedoria popular: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". Fonte: <https://bit.ly/2TCth7X>. PRATIQUE 5. Qual a premissa básica quanto à relação entre o grau de risco e a exigência do retorno? 6. Supondo que um certo investidor comprou um caminhão por R$ 250.000 e o agregou numa empresa de transportes, ganhando, assim, R$ 3.000 por mês, porém só conseguiu manter o contrato por 15 meses e precisou vender o ca- minhão por R$ 220.000. Qual foi o retorno que ele conseguiu neste negócio? 7. Considerando que o investidor tem perfil cauteloso e que opta por investimen- tos menos arriscados, observe os dois ativos adiante: um (ativo A) apresenta um retorno esperado de 12% e um desvio-padrão de 3%, já o outro (ativo B) apresenta retorno esperado de 15%, porém com um desvio de 3,5%. Qual dos dois ativos será a escolha do investidor? ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II 33| 8. Considerando a possibilidade de uma nova loja dar certo, um empresário es- tipulou dois cenários: um otimista, no qual ele consiga 30% de retorno do seu investimento; e outra pessimista, em que terá apenas 10% de retorno. Con- siderando que ambos os cenários têm a mesma possibilidade de acontecer, qual a dispersão a ser apresentada ao empresário? RELEMBRE Nesta unidade, você viu que a administração financeira engloba bem mais que a simples atuação de um setor financeiro em uma empresa, pois depende de políticas governamentais, comportamento dos mercados, decisões de risco, variações de câmbio. Além disso, a autonomia do profissional desta área tam- bém é necessária para o entendimento dos resultados da globalização. Você também aprendeu que o risco e o retorno estão sempre juntos e que em qualquer tipo de projeto de investimento, o tamanho de cada um tende a ser diretamente proporcional. Por isso que em investimentos de menor risco, também se espera um menor retorno. A análise dos cenários e das probabilida- des relativos a cada um se mostra essencial para uma análise mais verídica e com maior possibilidade de acerto, visto que quando o dinheiro está envolvido, ninguém gosta de perder seu capital. Lembrando que as principais técnicas para auxiliar na análise do risco e do retorno são medidas da estatística, que é uma ciência que busca explicar a frequência das ocorrências de eventos, modelando a incerteza para possibilitar previsões de dados futuros, tudo em comum com o comportamento do mercado financeiro. 34 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II| REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BACHA, Carlos José Caetano; LIMA, Roberto Arruda de Sousa. Macroeconomia: teorias e aplicações à economia brasileira. Campinas, São Paulo: Alínea, 2006. GAROFALO FILHO, Emilio. Câmbio$ – Princípios básicos do mercado cambial. São Paulo: Saraiva, 2005. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Ed. Harbra, 1997. INFOMONEY. Entenda como funciona a relação risco e retorno. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/educacao/guias/noticia/485239/ entenda-como-funciona-relacao-risco-retorno>. Acesso em: 15 fev. 2019. ISO31000.NET. A análise de cenários no contexto da gestão de riscos. Disponível em: <https://iso31000.net/analise-de-cenarios/>. Acesso em: 15 fev. 2019. LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia monetária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2005. MEGLIORINI, Evandir; VALLIM, Marco Aurélio. Administração financeira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JORDAN, Bradford D. Princípios da administração financeira. São Paulo: Atlas, 1997. ROSSETTI, José Paschoal. Política e programação econômica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1987.
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