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AULA 01 - MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

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I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE 
CONFLITOS 
 
1. ASPECTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS SOBRE A ORIGEM DA 
APLICAÇÃO DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
 
1.1) CONSTITUCIONALISMO 
 
- Séculos XVII e XVIII → sob a influência de pensadores como Jacques Rosseau e John 
Locke, eclodiram as Revoluções Inglesa (1688), Americana (1776) e Francesa (1789), dando 
início ao Estado Liberal baseado na soberania popular ESCRITO - CONSTITUIÇÃO e 
destaque para o Poder Legislativo. 
 
- Consolidação do Estado de Direito ao longo do século XIX, havendo o predomínio da razão 
e da ciência jurídica defendida pelo ideal positivista de Hans Kelsen. 
 
- Na dogmática jurídica não há espaço para o papel criativo do juiz ou da filosofia, pois o 
direito está resumido à “lei” e organizado sob um sistema piramidal, em que a Constituição 
ocupa o lugar mais importante no ordenamento → A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA SE 
LIMITA A UMA SIMPLES SUBSUNÇÃO DA NORMA AO CASO CONCRETO 
 
- CRISE DA DOGMÁTICA JURÍDICA: o término da Segunda Guerra Mundial deu espaço 
para o surgimento de teorias pós-positivistas e ascensão do Poder Judiciário no Direito 
Contemporâneo 
 
1.3) NEOCONSTITUCIONALISMO NO BRASIL 
 
- O desfecho da Segunda Guerra Mundial trouxe à tona os equívocos inerentes do nazismo 
alemão e do modelo positivista de normatividade da Constituição defendida por Hans Kelsen. 
 
- A necessidade de limitar o Poder Legislativo e homogeneizar o ordenamento jurídico 
impulsionaram a transição do modelo de Estado Legislativo de Direito para o Estado 
Constitucional de Direito → A CONSTITUIÇÃO TORNOU-SE UMA NORMA JURÍDICA 
AUTÊNTICA, E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PASSARAM A EXERCER PAPEL 
ESSENCIAL NA ESTRUTURA JURÍDICA DOS ESTADOS 
 
- Crescimento do papel político do Poder Judiciário, que passou a ser mais ativo na defesa 
dos direitos fundamentais, em detrimento da interpretação constitucional pelo Legislativo. 
 
OBS. Constitucionalismo da Efetividade: propõe a elevação do status da 
Constituição como norma jurídica e da sua aplicação direta pelo Judiciário, 
independentemente da regulamentação de dispositivos pelo legislador ordinário (Luís 
Roberto Barroso e Clémerson Merlin). 
 
- Jurisdição constitucional: designa a interpretação e aplicação da Constituição por órgão 
judiciais: 
 
→ é exercida por todos os juízes e tribunais 
 
→ duas atuações particulares: 
 
➔ aplicação direta da Constituição às situações nela contempladas; 
 
➔ aplicação indireta da Constituição, que se dá quando o intérprete a utiliza 
como parâmetro para aferir a validade de uma norma infraconstitucional; 
 
- Objeções trazidas pelo Neoconstitucionalismo: 
 
→ ênfase excessiva do Poder Judiciário 
 
→ enfraquecimento de outros meios capazes de proteger e efetivar direitos 
constitucionais (ex: mobilização social) 
 
→ idealização da figura do juiz, a ponto de tornar a sociedade infantil e super 
dependente do Judiciário 
 
→ engessamento da estrutura do Judiciário, sobrecarga de trabalho, morosidade 
das decisões, etc. 
 
OBS. Será que é necessário criar e estimular outros mecanismos capazes de 
proporcionar a solução dos litígios e a garantia de direitos? 
 
 
1.4) A EC 45/2004 E O PAPEL DO JUDICIÁRIO 
 
- Crise do Judiciário: estrutura tecnológica e organizacional dos Tribunais deficitária; 
morosidade da prestação jurisdicional; sobrecarga de leis processuais; distância do Judiciário 
de grandes segmentos da população 
 
- É necessário aproximar o Estado da população através de meios mais eficazes e ágeis para 
o acesso à justiça 
 
- A reforma constitucional garantiu expressamente: 
 
→ observância dos princípios da celeridade processual e do acesso à justiça (art. 5º, 
LXXVII, CF); 
 
→ obrigatoriedade de criação de Justiça Itinerante no âmbito dos Tribunais de Justiça 
dos Estados (art. 125, § 7º, CPC) 
 
→ criação de Tribunais Regionais Federais (107, § 2º, CF), Tribunais Regionais do 
Trabalho (Art. 115, § 1º, CF); 
 
→ vinculação de recursos de custas e emolumentos exclusivamente para o custeio 
dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça; 
 
→ criação do CNJ (art. 103-B, CF). 
 
1.5) CULTURA DO “JEITO” BRASILEIRO 
 
- O ordenamento jurídico brasileiro herdou cinco características dos portugueses: 
 
 → alta tolerância à corrupção 
 
 → falta de responsabilidade cívica 
 
 → profunda desigualdade socioeconômica 
 
 → sentimentalismo 
 
 → disposição de chegar a um acordo 
 
- A abundante legislação regulamentar e pouca flexibilidade normativa reforçaria a política do 
“jeito” para a solução de conflitos no ordenamento jurídico pátrio. 
 
1.6) MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
 
- O surgimento de mecanismos diferenciados deu-se fora da seara jurídica → negociações 
no âmbito comercial 
 
- A ineficiência do Estado na prestação jurisdicional fez que com que o cidadão e seus grupos 
começassem a preferir soluções negociadas em que pudessem se envolver por sua própria 
iniciativa. 
 
- Ao adotar a expressão “meio alternativo”, reconhece-se que a via jurisdicional estatal 
constitui o mecanismo padrão de resolução de conflitos, uma vez que toda alternativa é 
referenciada a algum padrão. 
 
- Os meios diferenciados vêm deixando de ser considerados “alternativos” para passar a 
integrar a categoria de formas “essenciais” de composição de conflitos (jurídicos e 
sociológicos), funcionando como efetivos equivalentes jurisdicionais ao promoverem a 
substituição da decisão do juiz pela decisão conjunta das partes (Fernanda Tartuce). 
 
1.7) EQUIVALENTES JURISDICIONAIS 
 
- São formas não jurisdicionais de solução de conflitos que funcionam como técnica de tutela 
de direitos, resolvendo conflitos ou certificando situações jurídicas 
 
1.7.1) AUTOTUTELA 
 
- É uma forma de solução de conflito que se constitui, fundamentalmente, pelo sacrifício 
integral do interesse de uma das partes envolvidas em razão do exercício da força pela parte 
vencedora 
 
- Trata-se de um equivalente jurisdicional excepcional em nosso ordenamento jurídico e que 
depende de prévia autorização legal: 
 
 → desforço imediato 
 → legítima defesa 
 → direito de vizinhança 
 → direito de retenção 
 
1.7.2) AUTOCOMPOSIÇÃO 
 
- É a forma de solução do conflito pelo consentimento espontâneo de um dos contendores 
em sacrificar, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. Tal modalidade põe fim ao 
litígio mediante a primazia da autonomia da vontade das partes ao invés de se impor uma 
decisão jurisdicional para a solução do conflito. 
 
1.7.2.1) ESPÉCIES DE AUTOCOMPOSIÇÃO 
 
A) TRANSAÇÃO → Trata de um sacrifício recíproco entre os envolvidos no conflito, e 
demonstra-se, sobretudo, um meio especial de pacificação social, pois as próprias partes 
resolvem o conflito e saem satisfeitas. 
 
B) RENÚNCIA → A solução decorre de um ato unilateral daquele que é titular de um pretenso 
direito, mas o abdica em favor da outra parte. 
 
C) SUBMISSÃO → A solução decorre de um ato unilateral daquele que se submete à 
pretensão contrária, ainda que fosse legítima sua resistência. 
 
1.8) INSTRUMENTOS DA AUTOCOMPOSIÇÃO 
 
1.8.1) NEGOCIAÇÃO 
 
- É um processo bilateral de resolução de impasse ou de controvérsias, no qual existe o 
objetivo de alcançar um acordo conjunto, através de concessões mútuas. Envolve a 
comunicação, o processo de tomada de decisão e a resolução extrajudicial de uma 
controvérsia. 
 
- Pela negociação, os sujeitos em conflito podem, sem a intervenção de outrem, alcançar uma 
solução para o assunto suscitado, comunicando-se entre si e expondo seus benefícios 
(Fernanda Tartuce). 
 
 
- Normalmente, é a primeira forma de compor litígios, e caso não seja bem sucedida, é 
possível partir para outra forma alternativa ou até mesmo para a jurisdição tradicional 
 
1.8.2) MEDIAÇÃO 
 
- É uma técnica não-estatalde solução de conflitos, pela qual um terceiro se coloca entre os 
contendores e tenta conduzi-los à solução autocomposta. 
 
- Os próprios litigantes é que descobrem as causas do problema e tentam removê-las. 
 
- O mediador contribui para o restabelecimento da comunicação de modo que as pessoas 
gerem novas formas de relacionamento e equacionamento de controvérsias (Fernanda 
Tartuce). 
 
- O mediador atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as 
partes (art. 165, § 3.º, CPC). 
 
1.8.3) CONCILIAÇÃO 
 
- Por tal técnica de autocomposição, um profissional imparcial intervém para, mediante 
atividades de escuta e investigação, auxiliar os contendores a celebrar um acordo, se 
necessário expondo vantagens e desvantagens em suas posições e propondo saídas 
alternativas para a controvérsia, sem, todavia, forçar a realização do pacto (Fernanda 
Tartuce). 
 
 
- O conciliador, por sua vez, atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo 
anterior entre as partes e poderá sugerir soluções para o litígio (art. 165, § 2º, CPC). 
 
 
1.9) ARBITRAGEM 
 
- Trata-se de um meio heterocompositivo de solução de controvérsias, no qual haverá 
intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, 
decidindo com base nela, sem ingerência do Estado. Sua decisão tem a mesma eficácia da 
sentença judicial. 
 
 OBS. Admite-se a intervenção estatal nos casos de nulidade previstos no artigo 32 da 
Lei 9.037/1996. 
 
 
 
 
 
 
 
Leitura Específica 
 
 
MAYER, Larissa Affonso. Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos sob a Ótica do 
Direito Contemporâneo. Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 29 Jul. 2011. Disponível 
em: investidura.com.br/ufsc/85-processo-civil/190687-metodos-alternativos-de-resolucao-
de-conflitos-sob-a-otica-do-direito-contemporaneo . Acesso em 08 Jul. 2020. 
 
Situação-problema 
 
 
Uma Constituição reuni todas as normas de um Estado. Temos que saber para que ela é 
criada e porque se cria uma Constituição. Diante desse contexto, ciente que a Constituição 
garante direitos e limita a atuação estatal e que o Constitucionalismo é um movimento social 
criado para a construção de uma constituição e que o seu avanço levou ao 
neoconstitucionalismo, indaga-se: De que forma a turma identifica as ligações entre os 
métodos adequados de solução de conflitos e o neoconstitucionalismo? 
 
 
 
Atividade verificadora de aprendizagem 
 
 
1- Em uma determinada Vara de Família, o juiz ao julgar um caso de modificação de guarda, 
determinou, por sentença, que a criança continuasse sob a guarda de sua genitora. A partir 
de então, novas ações ocorreram, acumulando ressentimentos entre os genitores e 
dificultando o desenvolvimento psicossocial da criança. Haveria outra alternativa, nessa 
situação? Se sua resposta for afirmativa, qual seria a alternativa?

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