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Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO Teoria geral do conflito: cultura da pacificação e princípios constitucionais. Meios alternativos de solução de conflitos: aspectos gerais e histórico. Política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses (Res. 125/2010 do CNJ). MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza Graduada em Direito pela Universidade Mackenzie (1987). Doutora (2015) e Mestre (1995) em Direito do Trabalho e Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP. Professora Titular da Universidade Paulista–UNIP dos Cursos de Graduação em Direito e Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Direito Processual Civil, Direito Previdenciário, MARCs e Direito Empresarial, e do Curso de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro, de Ensino Presencial e à Distância-EAD. Advogada e consultora jurídica em Direito do Trabalho. Mediadora e conciliadora. Métodos alternativos de resolução de conflitos (MARCs) são meios complementares ao Poder Judiciário, são eles: Negociação, Conciliação, Mediação e Arbitragem. Com a promulgação da Constituição Federal (CF), em 1988, ocorreu uma excessiva judicialização dos conflitos, devido ao maior acesso do cidadão e de sociedades empresárias ao Poder Judiciário, para a reivindicação de seus direitos, sobrecarregando a Justiça. Há muito o Poder Judiciário brasileiro apresenta-se sobrecarregado de processos e com tardia resolução de conflitos de interesses a sociedade. MARCs são meios aptos a ampliar o acesso à justiça, de forma mais humana, equânime, legítima, e capaz de produzir desfechos idôneos a gerar efetiva satisfação para todas as partes em um litígio, enquanto direito fundamental previsto na CF e, portanto, merecedores de aprimoramento em homenagem ao princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais. Teoria Geral do Conflito Constituição do Império de 1824 já dispunha acerca dos mecanismos do juiz de paz, reconciliação, mediação e do Juízo Arbitral, para a solução de conflitos (arts. 160 e 161). Leis Orgânicas de 1831 e 1837 tornou obrigatório esses mecanismos para matérias relativas a seguro e locação comercial. Com o advento do Código Comercial de 1850, estendeu tal mecanismo a todos os conflitos de natureza mercantil, porém, desaparecendo, em 1866. Na área trabalhista, foram criados mecanismos para solucionar conflitos mediante Mediação e Arbitragem, em 1907, mas abolida em 1932, pois o Estado considerou-a um contrassenso ao direito pátrio. Código Civil (CC) de 1916 previu a possibilidade das partes submeterem suas controvérsias a um Tribunal Arbitral (arts. 1.037 e ss). CF de 1934 também previu o Instituto, mas revogado pela CF de 1937. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943 previu a obrigatoriedade de duas tentativas conciliatórias no processo do trabalho (arts. 847 e 850): Primeira, após a abertura da audiência, mas antes da apresentação da defesa, e Segunda, após a apresentação das alegações finais, sob pena de nulidade processual. CF de 1988, art. 5º, XXXV, dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Breve histórico – No Brasil CF/1988, art. 5º, XXXV: direito fundamental do acesso à justiça e pacificação social. Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei nº 9.099/1995) impõe a conciliação como a primeira fase processual, que somente se frustrado o acordo passa-se à instrução e julgamento da causa, aplicável a causas cíveis cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo. infrações penais de menor potencial ofensivo. Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/1996) regulamenta a solução de conflitos pela via arbitral. Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) precursora da política nacional voltada à “cultura da pacificação”, que dispõe sobre “a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, colocando à disposição do cidadão meios autocompositivos à solução de conflito, por meio de políticas públicas de litígio e da criação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), bem como pelo incentivo ao diálogo das partes conflitantes voltado à solução de conflitos, com o objetivo da pacificação social. Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, com as alterações e atualizações, a seguir: Emenda nº 1, de 31 de janeiro de 2013. Emenda nº 2, de 8 de março de 2016. Resolução nº 290, de 13 de agosto de 2019. Resolução nº 326, de 26 de junho de 2020. Evolução legislativa (1/2) Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) dispõe sobre a internalização da “justiça consensual” na jurisdição e no processo judicial cível, introduzindo uma nova concepção de participação cooperativa entre os sujeitos processuais na condução do processo, o que inclui formas autocompositivas de conciliação e mediação, e maior ênfase à arbitragem. Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), marco legal que regulamenta a mediação judicial e extrajudicial para a solução de conflitos entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Os sujeitos envolvidos na mediação são pessoas físicas e jurídicas, públicas e privadas. Reforma da Lei de Arbitragem (Lei nº 13.129/2015), solução heterônoma de conflitos por meio da arbitragem sofreu uma atualização para ampliar o âmbito de aplicação e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral. Evolução legislativa (2/2) Conciliação e mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, valorizando a solução amigável dos conflitos pelas próprias partes conflitantes, e sua apropriada disciplina em programas já implementados no país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. Conselho Nacional de Justiça (CNJ) delibera, através de seu Pleno, a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, precursora da cultura de pacificação social, que dispõe sobre a Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, por meio do oferecimento de mecanismos de solução de controvérsias, pela via consensual, como a mediação e a conciliação, bem como a prestação de atendimento e orientação ao cidadão (art. 1º e § único). Esta política pública de tratamento adequado à natureza e à peculiaridade dos conflitos está fundamentada nos seguintes princípios constitucionais: Princípio do acesso à Justiça e pacificação social (CF, art. 5º, XXXV). Princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). A Cultura da Pacificação e Princípios Constitucionais Direito fundamental do acesso à justiça é um direito social básico dos indivíduos. Não se restringe ao mero acesso aos órgãos judiciais e ao aparelho judiciário estatal. Óbices que impedem a efetividade do acesso à justiça: Questão econômica: honorários contratuais do advogado e as taxas judiciárias. Demora na prestação jurisdicional e que também onera economicamente o processo. Barreiras burocráticas. Princípio constitucional do acesso à justiça (CF, art. 5, XXXV) Acessibilidade: Assegurar aos sujeitos de direito, com capacidade de estar em juízo, meios para arcar com os custos financeiros do processo, bem como proceder ao correto manejo dos instrumentos legais judiciais ou extrajudiciais, paraefetivar direitos individuais e coletivos. Direito à informação: garantir aos cidadãos o conhecimento de seus direitos e o exercício dos mesmos em caso de violação. Poder-dever das autoridades envolvidas no processo, magistrados e promotores, de assegurar a efetiva paridade de armas e a isonomia substancial entre as partes. Operosidade: atuação mais célere e eficiente para assegurar às partes a escolha de meios de participar da atividade judicial ou extrajudicial, incluindo os mecanismos alternativos de soluções de controvérsia, como a conciliação e a mediação. Utilidade: o processo deve assegurar ao vencedor o que lhe é de direito, de modo rápido, proveitoso e eficiente, de modo a efetivar o princípio constitucional da razoável duração do processo, que é um dos alicerces do processo justo. Proporcionalidade: a escolha pelo julgador da solução mais adequada ao caso concreto, que esteja de acordo com os princípios informadores do direito. Princípio constitucional do acesso à justiça (CF, art. 5, XXXV) - Elementos As normas de regulamentação das relações sociais entre pessoas não são suficientes, nem capazes de evitar ou eliminar os conflitos que podem surgir entre elas. Conflitos de interesses devem ser solucionados com o objetivo da pacificação social e da restauração da paz social. A solução de conflitos tem sua origem quando pelo menos duas pessoas têm o mesmo interesse em um determinado bem da vida, que a só uma pode satisfazer. Temos: Homem = sujeito de interesses. Bem da vida = objetivo de interesse. Interesse é a satisfação das necessidades humanas corporificadas nos bens materiais e imateriais. Há interesses individuais e coletivos: Interesses individuais: atendem às necessidades individuais do homem. Interesses coletivos: atendem a um grupo de pessoas, socialmente consideradas. Conflito de interesses “quando a intensidade do interesse de uma pessoa por determinado bem se opõe a intensidade do interesse de outra pessoa pelo mesmo bem, donde a atitude de uma tende à exclusão de outra quanto a este” (SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Volume 1. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 26). Conflitos de Interesses: objetivo, origem e conceito Os conflitos dão origem a litígios, que são caracterizados “por ser um conflito de interesses em que à pretensão de um dos sujeitos se opõe a resistência do outro” (SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Volume 1. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 31). Ocorrência dos conflitos: no seio de relacionamentos em geral, no âmbito da família, do emprego e da vida social, podendo resultar em litígios das mais diversas áreas do direito, como o direito de família, direito do trabalho, direito civil, direito consumerista, direito penal e outros. Qual é a causa do conflito? A mudança. Mudança de uma situação já existente que provoca algum tipo de transformação, modificação ou extinção do que existia antes, diante de aspirações e percepções divergentes e resistidas entre dois ou mais sujeitos. Exemplos de mudanças: casamento, divórcio, fusão de empresas, troca de chefia, falecimento, consumo, prestação de serviços, nova etapa de vida, etc. Natureza dos conflitos: sobre bens, móveis e imóveis; envolve patrimônio, direitos e valores; sobre princípios, valores e crenças, inclusive política, religião, ciência, etc.; sobre poder (nas diferentes acepções); e relacionamentos interpessoais. Conflitos de Interesses: litígios, ocorrência, causa e natureza A normatização jurídica da vida em sociedade constitui um tema interdisciplinar por compreender dimensões filosóficas, históricas, sociológicas, econômicas e políticas (entre outras). No ordenamento jurídico brasileiro há dispositivos que preveem, no âmbito do processo judicial, além da solução consensual da controvérsia por meio da mediação e conciliação, o encaminhamento do conflito para tratamento à uma “equipe multidisciplinar”, diante da busca de uma abordagem adequada e eficiente do complexo fenômeno conflituoso. Exemplos: Em certos processos judiciais que abordam conflitos familiares, o CPC permite a suspensão do feito para encaminhamento a atendimento multidisciplinar (art. 694, § único). No tratamento de conflitos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher perante o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em que há obrigatória intervenção da equipe multidisciplinar, composta por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde, com funções de fornecimento de subsídios ao juiz, orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas voltadas para a mulher ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes (Lei n. 11.340/2006, arts. 29 e 30). Conflitos de Interesses: multidisciplinariedade Expectativa em relação à mudança as expectativas sofrem influência da percepção de risco ou sofrimento, real ou imaginário, originada de experiências anteriores, crenças inadequadas, pensamentos, relatos de pessoas significativas e informações obtivas nos meios de divulgação. Esse fenômeno aumenta a violência potencial do conflito e a dificuldade de resolvê-lo. Expectativas associadas aos relacionamentos todo relacionamento respeita um contrato psicológico, baseado nas expectativas tácitas e inconscientes de cada pessoa a respeito dos comportamentos das demais pessoas. Esse contrato pode existir entre duas pessoas ou pode ser coletivo e se caracteriza como um pacto dinâmico em constante renegociação. As expectativas mudam com o tempo, idade, estado civil. Resistência à mudança pode ser desejada por uns e rejeitada por outros, provocada por terceiros, de forma inegociável, ou originar-se no próprio sistema. Fatores de influência dos conflitos de interesses (1/3) Consequências para a estabilidade do sistema reação à mudança associada às consequências (reais ou percebidas) para a estabilidade do sistema, uma vez que os envolvidos buscarão preservar valores, princípios, crenças, comportamentos e hábitos, com o intuito de evitar uma transformação ou alteração dessa situação estável. Aderência à realidade no conflito com bases reais as partes percebem diferenças de interesses. O conflito sem bases reais origina-se de falhas de comunicação, de mau entendimento das questões envolvidas. Diferenças de personalidades há pessoas inconciliáveis, que dificultam qualquer relacionamento satisfatório, mas cujo convívio se faz obrigatório por razões sociais, profissionais ou outras. O conflito permanece latente pronto a aflorar. Fatores de influência dos conflitos de interesses (2/3) Efeitos da mudança sobre os valores valor possui fundamento emocional, aprendidos desde a infância, é a ideia aceita pela pessoa, associado à sua visão de mundo, que orienta sua ação e suas decisões. Compreendem mensagens do tipo: obedecer às leis, respeitar os mais velhos, fazer o bem, vencer a qualquer custo, etc. Modificações na estrutura de poder poder é a capacidade de exercer influência e pode ser classificado de diferentes tipos: poder físico, poder da sexualidade, poder econômico, poder da informação. Os poderes podem ser empregados de maneira combinada. Mudanças na estrutura de poder provocam conflitos e conduzem a situações complexas, que afetam o equilíbrio (ou o desequilíbrio) existente, podendo reduzir ou acentuar o poder de um dos indivíduos envolvidos ou de todos, favorecendo o mais forte. Fatores de influência dos conflitos de interesses (3/3) Direito fundamental do acesso à Justiça implica (CF, art. 5º, XXXV) ordem jurídica justa e duração razoável do processo que tramita no Poder Judiciário. Além da jurisdição, cabe ao Estado promover e difundir outras formas desolução dos conflitos, como os métodos de solução consensuais de conciliação e mediação e a solução por arbitragem (CPC, art. 3º, §§ 1º, 2º e 3º). Trata-se a arbitragem da substituição voluntária da jurisdição estatal pelas partes, decorrente da vontade negocial dos conflitantes (Lei nº 9.307/1996, alterada pela Lei nº 13.129/2015). Judicialização dos conflitos de interesse e os meios alternativos de composição (1/2) Conselho Nacional de Justiça que tem por função o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como zelar pela eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social do Poder Judiciário. Editou a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, para estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesse, incentivando e divulgando outros mecanismos de solução consensual de conflitos, como a negociação, a mediação e a conciliação. Mecanismos alternativos e consensuais de conflitos têm como objetivo ser instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, para fins de reduzir a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. Judicialização dos conflitos de interesse e os meios alternativos de composição (2/2) Métodos de Resolução de Conflitos Sistema de composição de conflitos Autotutela ou autodefesa Autocomposição Autocomposição unilateral Autocomposição bilateral Negociação Conciliação Mediação Heterocomposição Jurisdição Arbitragem Forma de solução de conflitos primitiva, praticada quando inexistia um Estado forte e capaz de impor o direito sobre a vontade das partes conflitantes. Autodefesa é forma de “solução de conflitos em que uma das partes impõe o sacrifício do interesse da outra. É caracterizado pelo uso ou ameaça de uso da força, perspicácia ou esperteza e é aplicada de forma generalizada somente em sociedades primitivas, pois conduz ao descontrole social e à prevalência da violência” (CALMON, Petronio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. 3ª edição. Brasília: Gazeta Jurídica, 2015, p. 23-24). Concurso de duas características: “ausência de juiz distinto das partes e a imposição da decisão por uma das partes à outra” (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 29). Os ordenamentos jurídicos proíbem essa técnica, autorizando-a apenas excepcionalmente. Críticas à essa técnica: solução provém de uma das partes interessadas, que é unilateral e imposta. evoca a violência, e sua generalização importa na quebra da ordem e a vitória do mais forte e não do titular do direito. Autodefesa ou autotutela Direito penal: legítima defesa, o estado de necessidade e em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito, que são meios excludentes da ilicitude do ato (CP, art. 23), desde que configurada: injustiça da agressão, reação imediata e proporcionalidade nos meios de defesa. Direito civil: Autodefesa possessória: permite ao possuidor lesado atuar, direta e imediatamente, para manter sua posse (agindo em legítima defesa para evitar a invasão) ou para nela se reintegrar (realizando desforço imediato se já esbulhado), vedando a autotutela quando a reação ao esbulho ou turbação não seja imediata (CC, art. 1.210, § 1.º). Direito de vizinhança: direito de cortar raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassam a estrema do prédio (CC, art. 1.283). Direito de retenção: direto de defesa concedido pela lei para que o titular da relação jurídica possa se opor à restituição de um bem até receber a contraprestação que lhe é devida. Direito administrativo: prevalece o princípio da auto-executividade dos atos administrativos. Direito do trabalho: manifestações de greve (muitas vezes a greve não é forma de solução, mas meio de pressão) (CF, art. 9º); locaute (“lock-out”) (Lei nº 7.783/1989, art. 17), etc. Autodefesa ou autotutela – Exemplos de autodefesa autorizada pela lei brasileira Autocomposição consiste na solução direta entre os litigantes através de acordo firmado entre eles, isto é, o conflito é solucionado por ato das próprias partes, sem emprego de violência, sem a intervenção de um terceiro, mediante ajuste de vontades. Na autocomposição, “um dos litigantes consente no sacrifício do próprio interesse, daí a sua classificação em unilateral e bilateral” (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 6). Exemplo de unilateral: Renúncia: uma parte renuncia o seu direito em favor de outra. Desistência: desistir do processo e abdicar da posição processual assumida após o ajuizamento da causa, exceto nas ações que versam sobre interesses indisponíveis, como ações criminais e as relativas à improbidade administrativa. Reconhecimento jurídico do pedido: o réu admite a procedência da pretensão deduzida pelo autor. Exemplo de bilateral: transação, quando as partes fazem concessões recíprocas. Espécies de autocomposição bilateral: Negociação. Conciliação. Mediação. Autocomposição Heterocomposição consiste na solução do conflito por uma fonte suprapartes, que decide com força obrigatória sobre os litigantes, que são submetidos à decisão. A decisão não é das partes, mas de uma pessoa ou órgão acima delas. Espécies de heterocomposição: Jurisdição ou tutela. Arbitragem. Jurisdição é uma espécie heterocompositiva por que um terceiro alheio às partes conflitantes soluciona o conflito, impondo a solução de forma definitiva e obrigatória às partes, por meio da sentença judicial. No entender de Humberto Theodoro Júnior, jurisdição “é a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Volume I. 57ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 106). Arbitragem é um mecanismo heterônomo de solução dos conflitos de trabalho, realizado por um árbitro escolhido pelas partes, que profere uma decisão chamada sentença arbitral (Lei n. 9.307/96, art. 3º). A sentença arbitral tem natureza jurídica de título executivo judicial (CPC, art. 515, VII). Heterocomposição Autotutela ou autodefesa Autocomposição Heterocomposição As partes solucionam o conflito sem a intervenção de terceiro. As partes consensualmente solucionam o conflito sem ou com a intervenção de terceiro, conciliador ou mediador. Terceiro impõe a solução dos conflitos às partes, de observância obrigatória. A parte mais forte impõe a solução à parte mais fraca, não há ajuste de vontades. Solução direta entre os conflitantes através de acordo firmado entre eles, mediante ajuste de vontades. Solução do conflito por uma pessoa ou órgão acima das partes, que decide com força obrigatória e definitiva sobre os litigantes, que são submetidos à decisão. Diferenças entre os métodos alternativos de solução de conflitos (1/2) Autotutela ou autodefesa Autocomposição Heterocomposição Mecanismo de solução de conflitos vedado por lei. Métodos utilizados são negociação, conciliação e mediação. Métodos utilizados são jurisdição e arbitragem. Não há participação de terceiro. Pode haver a intervenção de terceiro, conciliador ou mediador. Há obrigatoriamente a atuação de terceiro, juiz ou árbitro, que impõe a solução por meio do proferimento de decisão, definitiva e obrigatória. Exceções: legítima defesa, estado de necessidade e estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito; greve; etc. Exemplo: acordo firmado pelo ajustede vontades das partes conflitantes. Exemplos: sentença judicial ou sentença arbitral. Diferenças entre os métodos alternativos de solução de conflitos (2/2) Vantagens Desvantagens Tendência mundial na evolução da sociedade rumo a uma cultura participativa do cidadão, como protagonista na busca da solução por meio do diálogo e do consenso. Deletéria privatização da justiça, vez que retirando do Estado, a ponto de enfraquecê-lo, uma de suas funções essenciais e naturais, a administração do sistema de justiça. Obtenção de resultados rápidos, confiáveis, econômicos e ajustados às mudanças tecnológicas em curso; ampliação de opções ao cidadão, que teria oportunidades diversas de tratamento do conflito; aperfeiçoamento do sistema de justiça estatal por força da redução do número de processos em curso. Falta de controle e confiabilidade de procedimentos e decisões (sem transparência e lisura). Cumprimento do acordo entabulado pelas próprias partes e de atos voluntários de certas iniciativas pela parte contrária. Exclusão de certos cidadãos e relegação ao contexto de uma “justiça de segunda classe”. Manutenção do relacionamento entre as partes. Frustração do jurisdicionado e enfraquecimento do Direito e das leis. Vantagens e desvantagens dos métodos alternativos de solução de conflitos à via jurisdicional Em comparação com a experiência norte-americana, o processo de institucionalização dos métodos alternativos de resolução de conflitos no Brasil apresenta uma defasagem de duas décadas, mas se ancora nos mesmos fundamentos: demora na solução judicial dos processos e custos da jurisdição estatal. O CNJ delibera, através de seu Pleno, a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, marco legal de Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, com base na qual a resolução consensual dos conflitos deve ser organizada e disseminada na sociedade civil a partir do próprio Poder Judiciário, permitindo a instalação de setores de conciliação e mediação junto aos fóruns. Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (1/5) Competência: Ao CNJ compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como zelar pela observância dos princípios relacionados à administração pública, como os da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37). Objetivos estratégicos do Poder Judiciário: eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social. Respeito ao direito de acesso à Justiça, que implica (CF, art. 5º, XXXV): no acesso à ordem jurídica justa e a soluções efetivas de solução de conflitos. Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (2/5) Cabe ao Poder Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado e permanente de problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, de forma a organizar, aperfeiçoar, uniformizar e assegurar a boa execução, em âmbito nacional, o seguinte: os serviços prestados nos processos judiciais. mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação, bem como a instalação de Juízos de resolução alternativa de conflitos. Conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, que tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. Institui a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade (art. 1º). Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (3/5) Aos órgãos judiciários incumbe, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, além da jurisdicional, em especial os meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão, nos termos do CPC, art. 334 c/c Lei 13.140/2015, art. 27 (Lei de Mediação), antes da solução adjudicada mediante sentença (art. 1º, § único). CNJ auxiliará os Tribunais na organização dos serviços de solução consensual de conflitos, podendo firmar parcerias com entidades públicas e privadas, em especial à capacitação e credenciamento de mediadores e conciliadores e à realização de mediações e conciliações, nos termos do CPC, arts. 167, § 3º, e 334 (art. 3º). Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (4/5) CNJ tem como principais funções a(o) Organização de programas de incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação, Estímulo à conciliação nas demandas que envolvam matérias sedimentadas pela jurisprudência. Implementação de uma rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino, com a inclusão de disciplina a propiciar a cultura da solução consensual dos conflitos. Promover a mudança de mentalidade dos atores do direito (juízes, promotores, defensores de justiça, advogados) e da população em geral. Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (5/5) Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) são unidades do Poder Judiciário responsáveis pela realização das sessões de conciliação e mediação pré-processuais e processuais, que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão. Deverão ser instalados nos locais onde exista mais de um Juízo, Juizado ou Vara com competência para realizar audiências nas áreas cíveis e de família, nos termos do CPC, art. 334. Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) Estabelecer diretrizes para implementação da política pública de tratamento adequado de conflitos a serem observadas pelos Tribunais; Desenvolver parâmetro curricular e ações voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de conflitos para servidores, mediadores, conciliadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias, nos termos do CPC, art. 167, § 1º; Providenciar que as atividades relacionadas à conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e remoções de magistrados pelo critério do merecimento; Regulamentar, em código de ética, a atuação dos conciliadores, mediadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias; Cabe ao CNJ desenvolver a rede de forma a (Res. 125/2010, art. 6º): (1/3) Buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e privadas da área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura da solução pacífica dos conflitos, bem como que, nas Escolas de Magistratura, haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento; Estabelecer interlocução com a OAB, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação na prevenção dos litígios; Realizar gestão junto às empresas, públicas e privadas, bem como junto às agências reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar práticas autocompositivas e desenvolver acompanhamento estatístico, com a instituição de banco de dados para visualização de resultados, conferindo selo de qualidade; Atuar junto aos entes públicos de modo a estimular a conciliação, em especial nas demandas que envolvam matérias sedimentadas pela jurisprudência; Cabe ao CNJ desenvolver a rede de formaa (Res. 125/2010, art. 6º): (2/3) Criar Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores, visando interligar os cadastros dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais, nos termos do CPC, art. 167 c/c Lei nº 13.140/2015, art. 12, § 1º (Lei de Mediação); Criar Sistema de Mediação e Conciliação Digital ou a distância para atuação pré- processual de conflitos e, havendo adesão formal de cada Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, para atuação em demandas em curso, nos termos do CPC, art. 334, § 7º, e da Lei nº 13.140/2015, art. 46 (Lei de Mediação); Criar parâmetros de remuneração de mediadores, nos termos do CPC, art. 169; Monitorar, inclusive por meio do Departamento de Pesquisas Judiciárias, a instalação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, o seu adequado funcionamento, a avaliação da capacitação e treinamento dos mediadores/conciliadores, orientando e dando apoio às localidades que estiverem enfrentando dificuldades na efetivação da política judiciária nacional instituída por esta Resolução. Cabe ao CNJ desenvolver a rede de forma a (Res. 125/2010, art. 6º): (3/3) Implementar, no âmbito de sua competência, a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses, conforme diretrizes estabelecidas; Planejar, implementar, manter e aperfeiçoar as ações voltadas ao cumprimento da política e suas metas; Atuar na interlocução com outros Tribunais e com os órgãos integrantes da rede; Instalar CEJUSCs que concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos; Incentivar ou promover capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos; Propor ao Tribunal a realização de convênios e parcerias com entes públicos e privados para atender aos fins desta Resolução; Criar e manter cadastro de mediadores e conciliadores, de forma a regulamentar o processo de inscrição e de desligamento; Regulamentar, se for o caso, a remuneração de conciliadores e mediadores, nos termos do CPC, art. 169 c/c Lei nº 13.140/2015, art. 13 (Lei de Mediação). Cabe aos Tribunais instituir CEJUSCs, coordenados por magistrados e compostos por magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições (Res. 125/2010, art. 7º): CF, art. 5º, XXXV, dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. CPC, art. 3º e §§, dispõem dentre suas normas fundamentais e em complemento ao dispositivo constitucional, a solução de conflitos por métodos alternativos, consensuais ou não, como a arbitragem, a conciliação e a medição, à escolha das partes conflitantes, conforme abaixo transcrito: “§ 1º. É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. CPC elevou a solução consensual de conflitos como uma alternativa às partes, considerando os mediadores e conciliares como auxiliares da justiça (art. 165 e ss). Legislação pertinente OBRIGADA E ATÉ A PRÓXIMA!
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