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AULA Negociação e Mediação 1

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Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza 
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO 
DE CONFLITOS: NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO 
Teoria geral do conflito: cultura da pacificação e princípios constitucionais. 
Meios alternativos de solução de conflitos: aspectos gerais e histórico. 
Política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses 
(Res. 125/2010 do CNJ). 
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO 
DE CONFLITOS: NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO 
 Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza 
Graduada em Direito pela Universidade Mackenzie (1987). 
Doutora (2015) e Mestre (1995) em Direito do Trabalho e Direito das Relações Sociais pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP. 
Professora Titular da Universidade Paulista–UNIP dos Cursos de Graduação em Direito e Pós-Graduação 
em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Direito Processual Civil, Direito Previdenciário, MARCs e Direito Empresarial, 
 e do Curso de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro, de Ensino Presencial e à Distância-EAD. 
Advogada e consultora jurídica em Direito do Trabalho. Mediadora e conciliadora. 
 Métodos alternativos de resolução de conflitos (MARCs) são meios complementares ao 
Poder Judiciário, são eles: 
Negociação, 
Conciliação, 
Mediação e 
Arbitragem. 
 Com a promulgação da Constituição Federal (CF), em 1988, ocorreu uma excessiva 
judicialização dos conflitos, devido ao maior acesso do cidadão e de sociedades empresárias 
ao Poder Judiciário, para a reivindicação de seus direitos, sobrecarregando a Justiça. 
 Há muito o Poder Judiciário brasileiro apresenta-se sobrecarregado de processos e com 
tardia resolução de conflitos de interesses a sociedade. 
 MARCs são meios aptos a ampliar o acesso à justiça, de forma mais humana, equânime, 
legítima, e capaz de produzir desfechos idôneos a gerar efetiva satisfação para todas as 
partes em um litígio, enquanto direito fundamental previsto na CF e, portanto, merecedores 
de aprimoramento em homenagem ao princípio da máxima efetividade dos direitos 
fundamentais. 
 
 
Teoria Geral do Conflito 
 Constituição do Império de 1824 já dispunha acerca dos mecanismos do juiz de paz, reconciliação, 
mediação e do Juízo Arbitral, para a solução de conflitos (arts. 160 e 161). 
 Leis Orgânicas de 1831 e 1837 tornou obrigatório esses mecanismos para matérias relativas a seguro 
e locação comercial. 
 Com o advento do Código Comercial de 1850, estendeu tal mecanismo a todos os conflitos de 
natureza mercantil, porém, desaparecendo, em 1866. 
 Na área trabalhista, foram criados mecanismos para solucionar conflitos mediante Mediação e 
Arbitragem, em 1907, mas abolida em 1932, pois o Estado considerou-a um contrassenso ao direito 
pátrio. 
 Código Civil (CC) de 1916 previu a possibilidade das partes submeterem suas controvérsias a um 
Tribunal Arbitral (arts. 1.037 e ss). 
 CF de 1934 também previu o Instituto, mas revogado pela CF de 1937. 
 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943 previu a obrigatoriedade de duas tentativas 
conciliatórias no processo do trabalho (arts. 847 e 850): 
 Primeira, após a abertura da audiência, mas antes da apresentação da defesa, e 
 Segunda, após a apresentação das alegações finais, sob pena de nulidade processual. 
 CF de 1988, art. 5º, XXXV, dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito”. 
 Breve histórico – No Brasil 
 CF/1988, art. 5º, XXXV: direito fundamental do acesso à justiça e pacificação social. 
 Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei nº 9.099/1995) impõe a conciliação como a primeira 
fase processual, que somente se frustrado o acordo passa-se à instrução e julgamento da causa, 
aplicável a 
 causas cíveis cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo. 
 infrações penais de menor potencial ofensivo. 
 Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/1996) regulamenta a solução de conflitos pela via arbitral. 
 Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) precursora da política nacional voltada 
à “cultura da pacificação”, que dispõe sobre “a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado 
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, colocando à disposição do cidadão meios 
autocompositivos à solução de conflito, por meio de políticas públicas de litígio e da criação dos 
Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), bem como pelo incentivo ao 
diálogo das partes conflitantes voltado à solução de conflitos, com o objetivo da pacificação social. 
 Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, com as alterações e atualizações, a seguir: 
 Emenda nº 1, de 31 de janeiro de 2013. 
 Emenda nº 2, de 8 de março de 2016. 
 Resolução nº 290, de 13 de agosto de 2019. 
 Resolução nº 326, de 26 de junho de 2020. 
 
 
 
Evolução legislativa (1/2) 
 Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) dispõe sobre a internalização da “justiça 
consensual” na jurisdição e no processo judicial cível, introduzindo uma nova concepção de 
participação cooperativa entre os sujeitos processuais na condução do processo, o que inclui 
formas autocompositivas de conciliação e mediação, e maior ênfase à arbitragem. 
 Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), marco legal que regulamenta a mediação judicial e 
extrajudicial para a solução de conflitos entre particulares e sobre a autocomposição de 
conflitos no âmbito da administração pública. Os sujeitos envolvidos na mediação são 
pessoas físicas e jurídicas, públicas e privadas. 
 Reforma da Lei de Arbitragem (Lei nº 13.129/2015), solução heterônoma de conflitos por 
meio da arbitragem sofreu uma atualização para ampliar o âmbito de aplicação e dispor 
sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção da 
prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência 
nos casos de arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral. 
Evolução legislativa (2/2) 
 Conciliação e mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção 
de litígios, valorizando a solução amigável dos conflitos pelas próprias partes conflitantes, e 
sua apropriada disciplina em programas já implementados no país tem reduzido 
 a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, 
 a quantidade de recursos e de execução de sentenças. 
 Conselho Nacional de Justiça (CNJ) delibera, através de seu Pleno, a Resolução nº 125, de 
29 de novembro de 2010, precursora da cultura de pacificação social, que dispõe sobre a 
Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder 
Judiciário, por meio do oferecimento de mecanismos de solução de controvérsias, pela via 
consensual, como a mediação e a conciliação, bem como a prestação de atendimento e 
orientação ao cidadão (art. 1º e § único). 
 Esta política pública de tratamento adequado à natureza e à peculiaridade dos conflitos está 
fundamentada nos seguintes princípios constitucionais: 
Princípio do acesso à Justiça e pacificação social (CF, art. 5º, XXXV). 
Princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). 
 
A Cultura da Pacificação e Princípios Constitucionais 
 Direito fundamental do acesso à justiça é um direito social básico dos indivíduos. 
 
 Não se restringe ao mero acesso aos órgãos judiciais e ao aparelho judiciário estatal. 
 
 Óbices que impedem a efetividade do acesso à justiça: 
Questão econômica: honorários contratuais do advogado e as taxas judiciárias. 
Demora na prestação jurisdicional e que também onera economicamente o processo. 
Barreiras burocráticas. 
 
Princípio constitucional do acesso à justiça (CF, art. 5, XXXV) 
 Acessibilidade: 
Assegurar aos sujeitos de direito, com capacidade de estar em juízo, meios para arcar com 
os custos financeiros do processo, bem como proceder ao correto manejo dos 
instrumentos legais judiciais ou extrajudiciais, paraefetivar direitos individuais e coletivos. 
Direito à informação: garantir aos cidadãos o conhecimento de seus direitos e o exercício 
dos mesmos em caso de violação. 
Poder-dever das autoridades envolvidas no processo, magistrados e promotores, de 
assegurar a efetiva paridade de armas e a isonomia substancial entre as partes. 
 Operosidade: atuação mais célere e eficiente para assegurar às partes a escolha de meios 
de participar da atividade judicial ou extrajudicial, incluindo os mecanismos alternativos de 
soluções de controvérsia, como a conciliação e a mediação. 
 Utilidade: o processo deve assegurar ao vencedor o que lhe é de direito, de modo rápido, 
proveitoso e eficiente, de modo a efetivar o princípio constitucional da razoável duração do 
processo, que é um dos alicerces do processo justo. 
 Proporcionalidade: a escolha pelo julgador da solução mais adequada ao caso concreto, que 
esteja de acordo com os princípios informadores do direito. 
Princípio constitucional do acesso à justiça (CF, art. 5, XXXV) - Elementos 
 As normas de regulamentação das relações sociais entre pessoas não são suficientes, nem 
capazes de evitar ou eliminar os conflitos que podem surgir entre elas. 
 Conflitos de interesses devem ser solucionados com o objetivo da pacificação social e da 
restauração da paz social. 
 A solução de conflitos tem sua origem quando pelo menos duas pessoas têm o mesmo 
interesse em um determinado bem da vida, que a só uma pode satisfazer. Temos: 
Homem = sujeito de interesses. 
Bem da vida = objetivo de interesse. 
 Interesse é a satisfação das necessidades humanas corporificadas nos bens materiais e 
imateriais. Há interesses individuais e coletivos: 
 Interesses individuais: atendem às necessidades individuais do homem. 
 Interesses coletivos: atendem a um grupo de pessoas, socialmente consideradas. 
 Conflito de interesses “quando a intensidade do interesse de uma pessoa por determinado 
bem se opõe a intensidade do interesse de outra pessoa pelo mesmo bem, donde a atitude 
de uma tende à exclusão de outra quanto a este” (SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual 
Civil. Volume 1. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 26). 
Conflitos de Interesses: objetivo, origem e conceito 
 Os conflitos dão origem a litígios, que são caracterizados “por ser um conflito de interesses 
em que à pretensão de um dos sujeitos se opõe a resistência do outro” (SANTOS, Moacir Amaral. 
Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Volume 1. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 31). 
 Ocorrência dos conflitos: no seio de relacionamentos em geral, no âmbito da família, do 
emprego e da vida social, podendo resultar em litígios das mais diversas áreas do direito, 
como o direito de família, direito do trabalho, direito civil, direito consumerista, direito penal e 
outros. 
 Qual é a causa do conflito? A mudança. 
 Mudança de uma situação já existente que provoca algum tipo de transformação, 
modificação ou extinção do que existia antes, diante de aspirações e percepções divergentes 
e resistidas entre dois ou mais sujeitos. 
Exemplos de mudanças: casamento, divórcio, fusão de empresas, troca de chefia, 
falecimento, consumo, prestação de serviços, nova etapa de vida, etc. 
 Natureza dos conflitos: sobre bens, móveis e imóveis; envolve patrimônio, direitos e valores; 
sobre princípios, valores e crenças, inclusive política, religião, ciência, etc.; sobre poder (nas 
diferentes acepções); e relacionamentos interpessoais. 
Conflitos de Interesses: litígios, ocorrência, causa e natureza 
 A normatização jurídica da vida em sociedade constitui um tema interdisciplinar por 
compreender dimensões filosóficas, históricas, sociológicas, econômicas e políticas (entre 
outras). 
 No ordenamento jurídico brasileiro há dispositivos que preveem, no âmbito do processo 
judicial, além da solução consensual da controvérsia por meio da mediação e conciliação, o 
encaminhamento do conflito para tratamento à uma “equipe multidisciplinar”, diante da busca 
de uma abordagem adequada e eficiente do complexo fenômeno conflituoso. Exemplos: 
Em certos processos judiciais que abordam conflitos familiares, o CPC permite a 
suspensão do feito para encaminhamento a atendimento multidisciplinar (art. 694, § único). 
No tratamento de conflitos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher 
perante o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em que há 
obrigatória intervenção da equipe multidisciplinar, composta por profissionais 
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde, com funções de fornecimento 
de subsídios ao juiz, orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas voltadas 
para a mulher ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e 
aos adolescentes (Lei n. 11.340/2006, arts. 29 e 30). 
Conflitos de Interesses: multidisciplinariedade 
 Expectativa em relação à mudança 
 as expectativas sofrem influência da percepção de risco ou sofrimento, real ou imaginário, 
originada de experiências anteriores, crenças inadequadas, pensamentos, relatos de 
pessoas significativas e informações obtivas nos meios de divulgação. Esse fenômeno 
aumenta a violência potencial do conflito e a dificuldade de resolvê-lo. 
 
 Expectativas associadas aos relacionamentos 
 todo relacionamento respeita um contrato psicológico, baseado nas expectativas tácitas e 
inconscientes de cada pessoa a respeito dos comportamentos das demais pessoas. Esse 
contrato pode existir entre duas pessoas ou pode ser coletivo e se caracteriza como um 
pacto dinâmico em constante renegociação. As expectativas mudam com o tempo, idade, 
estado civil. 
 
 Resistência à mudança 
 pode ser desejada por uns e rejeitada por outros, provocada por terceiros, de forma 
inegociável, ou originar-se no próprio sistema. 
 
Fatores de influência dos conflitos de interesses (1/3) 
 Consequências para a estabilidade do sistema 
 reação à mudança associada às consequências (reais ou percebidas) para a 
estabilidade do sistema, uma vez que os envolvidos buscarão preservar valores, 
princípios, crenças, comportamentos e hábitos, com o intuito de evitar uma 
transformação ou alteração dessa situação estável. 
 
 Aderência à realidade 
 no conflito com bases reais as partes percebem diferenças de interesses. O conflito 
sem bases reais origina-se de falhas de comunicação, de mau entendimento das 
questões envolvidas. 
 
 Diferenças de personalidades 
 há pessoas inconciliáveis, que dificultam qualquer relacionamento satisfatório, mas 
cujo convívio se faz obrigatório por razões sociais, profissionais ou outras. O conflito 
permanece latente pronto a aflorar. 
 
 
Fatores de influência dos conflitos de interesses (2/3) 
 Efeitos da mudança sobre os valores 
 valor possui fundamento emocional, aprendidos desde a infância, é a ideia aceita 
pela pessoa, associado à sua visão de mundo, que orienta sua ação e suas 
decisões. Compreendem mensagens do tipo: obedecer às leis, respeitar os mais 
velhos, fazer o bem, vencer a qualquer custo, etc. 
 
 Modificações na estrutura de poder 
 poder é a capacidade de exercer influência e pode ser classificado de diferentes 
tipos: poder físico, poder da sexualidade, poder econômico, poder da informação. Os 
poderes podem ser empregados de maneira combinada. Mudanças na estrutura de 
poder provocam conflitos e conduzem a situações complexas, que afetam o equilíbrio 
(ou o desequilíbrio) existente, podendo reduzir ou acentuar o poder de um dos 
indivíduos envolvidos ou de todos, favorecendo o mais forte. 
 
Fatores de influência dos conflitos de interesses (3/3) 
 Direito fundamental do acesso à Justiça implica (CF, art. 5º, XXXV) 
ordem jurídica justa e 
duração razoável do processo que tramita no Poder Judiciário. 
 
 Além da jurisdição, cabe ao Estado promover e difundir outras formas desolução dos 
conflitos, como os métodos de solução consensuais de conciliação e mediação e a 
solução por arbitragem (CPC, art. 3º, §§ 1º, 2º e 3º). 
 
 Trata-se a arbitragem da substituição voluntária da jurisdição estatal pelas partes, 
decorrente da vontade negocial dos conflitantes (Lei nº 9.307/1996, alterada pela Lei 
nº 13.129/2015). 
 
Judicialização dos conflitos de interesse e os meios alternativos de 
composição (1/2) 
 Conselho Nacional de Justiça que tem por função 
 o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, 
 bem como zelar pela eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e 
 a responsabilidade social do Poder Judiciário. 
 
 Editou a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, para estabelecer política 
pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesse, 
incentivando e divulgando outros mecanismos de solução consensual de conflitos, 
como a negociação, a mediação e a conciliação. 
 
 Mecanismos alternativos e consensuais de conflitos têm como objetivo ser 
instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, para fins 
de reduzir a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de 
recursos e de execução de sentenças. 
 
Judicialização dos conflitos de interesse e os meios alternativos de 
composição (2/2) 
 
 
 
Métodos de Resolução de Conflitos 
Sistema de composição de 
conflitos 
Autotutela ou 
autodefesa 
Autocomposição 
Autocomposição 
unilateral 
Autocomposição 
bilateral 
Negociação Conciliação Mediação 
Heterocomposição 
Jurisdição Arbitragem 
 Forma de solução de conflitos primitiva, praticada quando inexistia um Estado forte e capaz 
de impor o direito sobre a vontade das partes conflitantes. 
 Autodefesa é forma de “solução de conflitos em que uma das partes impõe o sacrifício do 
interesse da outra. É caracterizado pelo uso ou ameaça de uso da força, perspicácia ou 
esperteza e é aplicada de forma generalizada somente em sociedades primitivas, pois 
conduz ao descontrole social e à prevalência da violência” (CALMON, Petronio. Fundamentos da Mediação e da 
Conciliação. 3ª edição. Brasília: Gazeta Jurídica, 2015, p. 23-24). 
 Concurso de duas características: “ausência de juiz distinto das partes e a imposição da 
decisão por uma das partes à outra” (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido 
Rangel. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 29). 
 Os ordenamentos jurídicos proíbem essa técnica, autorizando-a apenas excepcionalmente. 
 Críticas à essa técnica: 
 solução provém de uma das partes interessadas, que é unilateral e imposta. 
 evoca a violência, e 
 sua generalização importa na quebra da ordem e a vitória do mais forte e não do titular do 
direito. 
 
Autodefesa ou autotutela 
 Direito penal: legítima defesa, o estado de necessidade e em estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular de direito, que são meios excludentes da ilicitude do ato (CP, 
art. 23), desde que configurada: injustiça da agressão, reação imediata e proporcionalidade 
nos meios de defesa. 
 Direito civil: 
Autodefesa possessória: permite ao possuidor lesado atuar, direta e imediatamente, para 
manter sua posse (agindo em legítima defesa para evitar a invasão) ou para nela se 
reintegrar (realizando desforço imediato se já esbulhado), vedando a autotutela quando a 
reação ao esbulho ou turbação não seja imediata (CC, art. 1.210, § 1.º). 
Direito de vizinhança: direito de cortar raízes e ramos de árvores limítrofes que 
ultrapassam a estrema do prédio (CC, art. 1.283). 
Direito de retenção: direto de defesa concedido pela lei para que o titular da relação 
jurídica possa se opor à restituição de um bem até receber a contraprestação que lhe é 
devida. 
 Direito administrativo: prevalece o princípio da auto-executividade dos atos administrativos. 
 Direito do trabalho: manifestações de greve (muitas vezes a greve não é forma de solução, 
mas meio de pressão) (CF, art. 9º); locaute (“lock-out”) (Lei nº 7.783/1989, art. 17), etc. 
 
Autodefesa ou autotutela – Exemplos de autodefesa autorizada pela lei 
brasileira 
 Autocomposição consiste na solução direta entre os litigantes através de acordo firmado 
entre eles, isto é, o conflito é solucionado por ato das próprias partes, sem emprego de 
violência, sem a intervenção de um terceiro, mediante ajuste de vontades. 
 Na autocomposição, “um dos litigantes consente no sacrifício do próprio interesse, daí a sua 
classificação em unilateral e bilateral” (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24ª 
edição. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 6). 
 Exemplo de unilateral: 
Renúncia: uma parte renuncia o seu direito em favor de outra. 
Desistência: desistir do processo e abdicar da posição processual assumida após o 
ajuizamento da causa, exceto nas ações que versam sobre interesses indisponíveis, como 
ações criminais e as relativas à improbidade administrativa. 
Reconhecimento jurídico do pedido: o réu admite a procedência da pretensão deduzida 
pelo autor. 
 Exemplo de bilateral: transação, quando as partes fazem concessões recíprocas. 
 Espécies de autocomposição bilateral: 
Negociação. 
Conciliação. 
Mediação. 
 
Autocomposição 
 Heterocomposição consiste na solução do conflito por uma fonte suprapartes, que decide 
com força obrigatória sobre os litigantes, que são submetidos à decisão. A decisão não é das 
partes, mas de uma pessoa ou órgão acima delas. 
 Espécies de heterocomposição: 
 Jurisdição ou tutela. 
Arbitragem. 
 Jurisdição é uma espécie heterocompositiva por que um terceiro alheio às partes conflitantes 
soluciona o conflito, impondo a solução de forma definitiva e obrigatória às partes, por meio 
da sentença judicial. 
No entender de Humberto Theodoro Júnior, jurisdição “é a função do Estado de declarar e 
realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida” 
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Volume I. 57ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 106). 
 Arbitragem é um mecanismo heterônomo de solução dos conflitos de trabalho, realizado por 
um árbitro escolhido pelas partes, que profere uma decisão chamada sentença arbitral (Lei n. 
9.307/96, art. 3º). 
A sentença arbitral tem natureza jurídica de título executivo judicial (CPC, art. 515, VII). 
Heterocomposição 
Autotutela ou 
autodefesa 
Autocomposição Heterocomposição 
As partes solucionam o 
conflito sem a intervenção 
de terceiro. 
As partes consensualmente 
solucionam o conflito sem 
ou com a intervenção de 
terceiro, conciliador ou 
mediador. 
Terceiro impõe a solução 
dos conflitos às partes, de 
observância obrigatória. 
A parte mais forte impõe a 
solução à parte mais fraca, 
não há ajuste de vontades. 
Solução direta entre os 
conflitantes através de 
acordo firmado entre eles, 
mediante ajuste de 
vontades. 
Solução do conflito por uma 
pessoa ou órgão acima das 
partes, que decide com 
força obrigatória e definitiva 
sobre os litigantes, que são 
submetidos à decisão. 
Diferenças entre os métodos alternativos de solução de conflitos (1/2) 
Autotutela ou autodefesa Autocomposição Heterocomposição 
Mecanismo de solução de 
conflitos vedado por lei. 
Métodos utilizados são 
negociação, conciliação e 
mediação. 
Métodos utilizados são 
jurisdição e arbitragem. 
Não há participação de 
terceiro. 
Pode haver a intervenção de 
terceiro, conciliador ou 
mediador. 
Há obrigatoriamente a atuação 
de terceiro, juiz ou árbitro, que 
impõe a solução por meio do 
proferimento de decisão, 
definitiva e obrigatória. 
Exceções: legítima defesa, 
estado de necessidade e 
estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular 
de direito; greve; etc. 
Exemplo: acordo firmado pelo 
ajustede vontades das partes 
conflitantes. 
Exemplos: sentença judicial ou 
sentença arbitral. 
 
Diferenças entre os métodos alternativos de solução de conflitos (2/2) 
Vantagens Desvantagens 
Tendência mundial na evolução da sociedade 
rumo a uma cultura participativa do cidadão, 
como protagonista na busca da solução por meio 
do diálogo e do consenso. 
Deletéria privatização da justiça, vez que 
retirando do Estado, a ponto de enfraquecê-lo, 
uma de suas funções essenciais e naturais, a 
administração do sistema de justiça. 
Obtenção de resultados rápidos, confiáveis, 
econômicos e ajustados às mudanças 
tecnológicas em curso; ampliação de opções ao 
cidadão, que teria oportunidades diversas de 
tratamento do conflito; aperfeiçoamento do 
sistema de justiça estatal por força da redução 
do número de processos em curso. 
Falta de controle e confiabilidade de 
procedimentos e decisões (sem transparência e 
lisura). 
Cumprimento do acordo entabulado pelas 
próprias partes e de atos voluntários de certas 
iniciativas pela parte contrária. 
Exclusão de certos cidadãos e relegação ao 
contexto de uma “justiça de segunda classe”. 
 
Manutenção do relacionamento entre as partes. Frustração do jurisdicionado e enfraquecimento 
do Direito e das leis. 
Vantagens e desvantagens dos métodos alternativos de solução de conflitos 
à via jurisdicional 
 Em comparação com a experiência norte-americana, o processo de 
institucionalização dos métodos alternativos de resolução de conflitos no Brasil 
apresenta uma defasagem de duas décadas, mas se ancora nos mesmos 
fundamentos: 
 demora na solução judicial dos processos e 
 custos da jurisdição estatal. 
 
 O CNJ delibera, através de seu Pleno, a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 
2010, marco legal de Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos 
conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, com base na qual a resolução 
consensual dos conflitos deve ser organizada e disseminada na sociedade civil a 
partir do próprio Poder Judiciário, permitindo a instalação de setores de conciliação e 
mediação junto aos fóruns. 
Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (1/5) 
 Competência: 
Ao CNJ compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder 
Judiciário, bem como zelar pela observância dos princípios relacionados à 
administração pública, como os da legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência (CF, art. 37). 
 
 Objetivos estratégicos do Poder Judiciário: 
eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social. 
 
 Respeito ao direito de acesso à Justiça, que implica (CF, art. 5º, XXXV): 
no acesso à ordem jurídica justa e 
a soluções efetivas de solução de conflitos. 
 
Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (2/5) 
 Cabe ao Poder Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado e 
permanente de problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, de forma a 
organizar, aperfeiçoar, uniformizar e assegurar a boa execução, em âmbito nacional, 
o seguinte: 
os serviços prestados nos processos judiciais. 
mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a 
mediação e a conciliação, bem como a instalação de Juízos de resolução 
alternativa de conflitos. 
 Conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e 
prevenção de litígios, que tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de 
interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. 
 Institui a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de 
Interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios 
adequados à sua natureza e peculiaridade (art. 1º). 
Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (3/5) 
 Aos órgãos judiciários incumbe, oferecer outros mecanismos de soluções de 
controvérsias, além da jurisdicional, em especial os meios consensuais, como a 
mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão, 
nos termos do CPC, art. 334 c/c Lei 13.140/2015, art. 27 (Lei de Mediação), antes da 
solução adjudicada mediante sentença (art. 1º, § único). 
 
 CNJ auxiliará os Tribunais na organização dos serviços de solução consensual de 
conflitos, podendo firmar parcerias com entidades públicas e privadas, em especial à 
capacitação e credenciamento de mediadores e conciliadores e à realização de 
mediações e conciliações, nos termos do CPC, arts. 167, § 3º, e 334 (art. 3º). 
Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (4/5) 
 CNJ tem como principais funções a(o) 
 
 Organização de programas de incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação 
social por meio da conciliação e da mediação, 
 
 Estímulo à conciliação nas demandas que envolvam matérias sedimentadas pela 
jurisprudência. 
 
 Implementação de uma rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e 
por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de 
ensino, com a inclusão de disciplina a propiciar a cultura da solução consensual dos 
conflitos. 
 
 Promover a mudança de mentalidade dos atores do direito (juízes, promotores, 
defensores de justiça, advogados) e da população em geral. 
Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (5/5) 
 Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) 
 
 são unidades do Poder Judiciário responsáveis pela realização das 
sessões de conciliação e mediação pré-processuais e processuais, que 
estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo 
atendimento e orientação ao cidadão. Deverão ser instalados nos locais 
onde exista mais de um Juízo, Juizado ou Vara com competência para 
realizar audiências nas áreas cíveis e de família, nos termos do CPC, art. 
334. 
 
Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) 
 Estabelecer diretrizes para implementação da política pública de tratamento 
adequado de conflitos a serem observadas pelos Tribunais; 
 
 Desenvolver parâmetro curricular e ações voltadas à capacitação em métodos 
consensuais de solução de conflitos para servidores, mediadores, conciliadores e 
demais facilitadores da solução consensual de controvérsias, nos termos do CPC, 
art. 167, § 1º; 
 
 Providenciar que as atividades relacionadas à conciliação, mediação e outros 
métodos consensuais de solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e 
remoções de magistrados pelo critério do merecimento; 
 
 Regulamentar, em código de ética, a atuação dos conciliadores, mediadores e 
demais facilitadores da solução consensual de controvérsias; 
Cabe ao CNJ desenvolver a rede de forma a (Res. 125/2010, art. 6º): (1/3) 
 Buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e 
privadas da área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento 
da cultura da solução pacífica dos conflitos, bem como que, nas Escolas de 
Magistratura, haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, 
no curso de iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento; 
 Estabelecer interlocução com a OAB, Defensorias Públicas, Procuradorias e 
Ministério Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários de Solução 
de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação na prevenção dos litígios; 
 Realizar gestão junto às empresas, públicas e privadas, bem como junto às agências 
reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar práticas autocompositivas e 
desenvolver acompanhamento estatístico, com a instituição de banco de dados para 
visualização de resultados, conferindo selo de qualidade; 
 Atuar junto aos entes públicos de modo a estimular a conciliação, em especial nas 
demandas que envolvam matérias sedimentadas pela jurisprudência; 
 
Cabe ao CNJ desenvolver a rede de formaa (Res. 125/2010, art. 6º): (2/3) 
 Criar Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores, visando interligar 
os cadastros dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais, nos 
termos do CPC, art. 167 c/c Lei nº 13.140/2015, art. 12, § 1º (Lei de Mediação); 
 Criar Sistema de Mediação e Conciliação Digital ou a distância para atuação pré-
processual de conflitos e, havendo adesão formal de cada Tribunal de Justiça ou 
Tribunal Regional Federal, para atuação em demandas em curso, nos termos do 
CPC, art. 334, § 7º, e da Lei nº 13.140/2015, art. 46 (Lei de Mediação); 
 Criar parâmetros de remuneração de mediadores, nos termos do CPC, art. 169; 
 Monitorar, inclusive por meio do Departamento de Pesquisas Judiciárias, a instalação 
dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, o seu adequado 
funcionamento, a avaliação da capacitação e treinamento dos 
mediadores/conciliadores, orientando e dando apoio às localidades que estiverem 
enfrentando dificuldades na efetivação da política judiciária nacional instituída por 
esta Resolução. 
 
 
Cabe ao CNJ desenvolver a rede de forma a (Res. 125/2010, art. 6º): (3/3) 
 Implementar, no âmbito de sua competência, a Política Judiciária Nacional de Tratamento 
Adequado dos Conflitos de Interesses, conforme diretrizes estabelecidas; 
 Planejar, implementar, manter e aperfeiçoar as ações voltadas ao cumprimento da política e 
suas metas; 
 Atuar na interlocução com outros Tribunais e com os órgãos integrantes da rede; 
 Instalar CEJUSCs que concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação 
que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos; 
 Incentivar ou promover capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, 
servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos; 
 Propor ao Tribunal a realização de convênios e parcerias com entes públicos e privados para 
atender aos fins desta Resolução; 
 Criar e manter cadastro de mediadores e conciliadores, de forma a regulamentar o processo 
de inscrição e de desligamento; 
 Regulamentar, se for o caso, a remuneração de conciliadores e mediadores, nos termos do 
CPC, art. 169 c/c Lei nº 13.140/2015, art. 13 (Lei de Mediação). 
Cabe aos Tribunais instituir CEJUSCs, coordenados por magistrados e compostos por 
magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente atuantes na área, com as 
seguintes atribuições (Res. 125/2010, art. 7º): 
 CF, art. 5º, XXXV, dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito”. 
 CPC, art. 3º e §§, dispõem dentre suas normas fundamentais e em complemento ao 
dispositivo constitucional, a solução de conflitos por métodos alternativos, consensuais ou 
não, como a arbitragem, a conciliação e a medição, à escolha das partes conflitantes, 
conforme abaixo transcrito: 
“§ 1º. É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos 
deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do 
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. 
 CPC elevou a solução consensual de conflitos como uma alternativa às partes, considerando 
os mediadores e conciliares como auxiliares da justiça (art. 165 e ss). 
 
Legislação pertinente 
OBRIGADA 
E 
ATÉ A PRÓXIMA!

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