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O aborto e seus principais aspectos

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https://jus.com.br/artigos/74592/o-aborto-e-seus-principais-aspectos
O aborto e seus principais aspectos
Poliana Melo
Publicado em 06/2019. Elaborado em 06/2018.
O termo “aborto” que cientificamente indica o produto do abortamento foi popularmente usado como sinônimo deste, confundindo-se, assim, a ação com o resultado dela. Apesar da ressalva, usar-se-á indistintamente neste trabalho, dado a consagração do termo
Aspecto Jurídico            
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].” (1988, Constituição Federal, artigo 5). A Constituição Federal garante que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Consequentemente, a vida é o bem supremo em nossa sociedade. Assim, o caráter absoluto do direito à vida só poderia ser afastado quando seu sacrifício visasse proteger um bem de equivalência idêntica, qual seja uma outra vida, nos casos especiais em que tal medida se justificasse, por exemplo, não se aplica a pena nos casos de legítima defesa (artigo 25, Código Penal), no caso de aborto para resguardar a vida da gestante em perigo, aborto necessário (artigo 128, I, Código Penal), ou ainda no caso de gravidez resultante de estupro, aborto humanitário  (artigo 128, II, Código Penal). Atualmente, está em discussão no país, o caso de não se aplicar a pena para o aborto eugênico, este acontece quando o feto não tem condições de sobreviver após o nascimento. O caso mais conhecido neste tipo de abortamento é o do aborto por anencefalia, que é quando a criança não possui cérebro, ou este está mal formado, portanto não terá condições de sobreviver. Neste caso da anencefalia é importante analisar a legislação brasileira, que, muitas vezes torna-se "curiosa". Nota-se na Lei 9.434 de 04 de fevereiro de 1997, que é a lei de Transplante de Órgãos, em seu artigo 3, que prevê a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinadas a transplante, somente se e quando for diagnosticada a morte encefálica do paciente, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção de transplantes. Ora, neste caso a lei é bem clara, que quando constatada a morte encefálica é permitido a remoção de órgãos, e consequentemente, devido a isto, se obteria a morte biológica do paciente. As pessoas que sustentam o respeito à vida do feto devem atentar para o seguinte: em jogo está a vida ou a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas com o feto mal formado. Se até em caso de estupro,  que o feto está bem formado, nosso Direito autoriza o aborto, nada justifica que essa regra não seja estendida para o aborto anencefálico. As leis não devem ser subordinadas aos dogmas religiosos ou à fé de quem quer que seja, portanto deve caber ao legislador deixar em aberto para quem quiser seguir suas crenças ou não. 
Aspecto Econômico
 O aspecto econômico do aborto é bastante avaliado hoje em dia. A maioria das mulheres que engravidam, são jovens que não tem condições financeiras de criar seus filhos. A prática do aborto seria uma solução, mesmo que desumana, para esse problema, já que assim, aconteceria um efetivo controle de natalidade, diminuindo a pobreza e consequentemente a marginalidade no país. Ainda há outro lado nesta questão financeira. Hoje em dia, é da ciência de todos que existem inúmeras clínicas que fazem abortos clandestinos, e estas clínicas cobram preços altíssimos, assim, somente uma pequena parte da população faz esse tipo de prática, de maneira higiênica, sem correr riscos de vida. Quem não tem condições de pagar um aborto em uma dessas clínicas, termina por usar outros métodos como o uso de medicamentos, uso de objetos como facas, tesouras, que introduzidos na vagina, podem até perfurar o útero, e ainda abortos feitos até mesmo dando socos na própria barriga. Ainda existe o argumento de que continuarão a ser realizados abortos, quer o aborto seja descriminalizado ou não, e deste modo, deve-se fornecer melhores condições às mulheres que desejem abortar. A resposta para isso é que se legalizar o aborto o número só tende a aumentar, pois, uma vez que é legal e poderá ter clínicas específicas para isto, e cobrando preço justo. Será cada vez melhor e mais fácil realizar esta prática . É plausível que haja uma conscientização da população sobre o sexo seguro e prevenção da gravidez. Existem inúmeros métodos contraceptivos, para todas as faixas de renda, inclusive doados pelo governo para as pessoas que não tem condições de comprarem preservativos ou pílulas anticoncepcionais. O que deve haver é um programa forte, com profissionais qualificados para educar a população sobre um controle efetivo de natalidade.
Aspecto Moral
 O aspecto moral do aborto é o principal fato da popularidade do assunto. A sociedade se divide em dois lados. De um lado, as pessoas a favor da prática do aborto, alegam que é pior para a sociedade ter que conviver com indivíduos marginalizados e desamparados pela família, e de outro, a parte que é contra afirma que o aborto fere o direito a vida que todos possuem, mesmo dentro do ventre de outro. A moral, neste caso, é bem afirmada, principalmente quando se reflete que com a prática do aborto legalizada, o mundo se tornará ainda mais bagunçado. Outro aspecto moral ligado ao aborto extremamente polêmico, é o argumento utilizado, na maioria das vezes por movimentos feministas, de que o corpo pertence à gestante, então esta tem o direito de fazer o que bem entende com ele. Este argumento limita-se a fugir à questão porque as feministas nunca chegam a dizer nada acerca do estatuto moral do feto, pois nunca dizem se o feto tem, ou não, o direito à vida. Esta é uma falha grave pela seguinte razão: Se o argumento das feministas fosse, simplesmente, o de que "o corpo é da mulher, a mulher é que sabe o que há de fazer com ele", então isso provocaria que seria moralmente permissível abortar até no nono mês. Afinal, no nono mês a criança ainda está no ventre da mãe. As feministas podem agora aceitar esta conclusão, ou rejeitá-la. Imaginemos que a aceitam. Nesse caso, ficam com a dificuldade de explicar porque é que não se pode matar uma criança recém-nascida. Afinal, era possível matá-la dois minutos antes, mas agora já não? Isso parece extremamente arbitrário. Imaginemos agora que as feministas rejeitam a conclusão de que é moralmente permissível abortar no nono mês. Nesse caso, terão de nos dizer a partir de que altura é que o feto, ainda na barriga da mãe, começa a ter o direito à vida. Aí, cabe outra discussão: Quando começa a vida? Uma pergunta difícil ou até impossível de se responder. Se partíssemos da premissa de que a vida começa desde quando há metabolismo no corpo, a vida começa desde a concepção do feto, portanto, seria impossível abortá-lo.
Aspecto Religioso
O aborto, visto pelo aspecto moral, muitas vezes se confunde com o religioso, o que é errado falar. O aspecto religioso do aborto é bem diferente do moral. Enquanto o moral se refere que a prática fere a conduta da sociedade, o religioso consiste em afirmar que a vida é suprema em todos os casos. Eles afirmam que se Deus deu vida a este feto, foi porque ele quis que este existisse, e consequentemente, se este foi mal formado ou fruto de estupro, também aconteceu desta maneira porque foi da vontade de Deus. A posição oficial da Igreja Católica classifica o aborto como um dos pecados sujeitos à excomunhão: “A gravidade do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio [...]” (João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 25/03/1995, nº. 58).
                                    Consequências Físicas
 O aborto causa sérios danos à mulher que o pratica. Quando feito o aborto ela tem que estar ciente de todas as consequências que irão acompanhá-la após a “operação”. As consequências físicas, dependendo do método usado, podem ser muito sérias paraa mulher, inclusive por ela correr risco de morte. A mulher corre o risco de ter sérias hemorragias, infecções, lesões intestinais, complicações renais e hepáticas pelo uso de produtos tóxicos. Dependendo do método utilizado, podem ocorrer perfurações do útero, esterilidade e abortos espontâneos em próximas tentativas de ter outro filho. Porém, quando o aborto é feito em condições boas e decentes, alguns desses riscos podem diminuir. Consequências Psicológicas Segundo Juliane e Maria Júlia Pietro Peres, o aborto além de prejudicar fisicamente a mãe também deixa danos psicológicos graves . Sabe-se que muitas das mães que praticaram o aborto, acabaram depois ficando com sentimento de culpa, remorso e arrependimento. Ainda, muitas acabam ficando com a auto-estima baixa, perdem o desejo sexual, passam a ter comportamentos auto-destrutivos e entram em uma profunda depressão. Além disso, ainda existe bastante preconceito para com a mulher que pratica o aborto, causando assim sérios danos aos relacionamentos sociais desta mulher.
Consequências Legais
Quando se trata de consequências legais para quem pratica o aborto, de acordo com o Código Penal em casos de aborto para resguardar a vida da gestante em perigo (artigo 128,I) e em casos de gravidez resultante de estupro (artigo 128,II) é considerado legal, não tendo assim pena para quem o cometer. Então, em todos os outros casos de abortamento, a pena pode variar em: para a gestante, de 1 a 3 anos de detenção, para o aborteiro, de 1 a 4 anos se houve o consentimento da mãe, e de 3 a 10 anos se não houve o consentimento da mãe. As penas são agravadas se houve lesão corporal da “vítima” elevando a pena para de 2 a 8 anos. É surpreendente o alto número de mulheres que praticam o aborto.
Referências
 Código Penal Brasileiro, 1940.  Código Civil Brasileiro. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.FAZOLLI, Fabrício. Anencefalia e aborto.  MARCÃO, Renato. O aborto no anteprojeto de Código Penal. MOREIRA, Fernando A. Aborto – crime e conseqüência.  O aborto segundo a visão espírita. . PERES, Juliane Prieto e PERES, Maria Julia Prieto. Regressão à vida intra-uterina.  PROGRAM, Population Information. Population Reports. . REIS, Clayton. Aborto – direito ou delito?
o nascimento. O caso mais conhecido neste tipo de abortamento é o do aborto por anencefalia, que é quando a criança não possui cérebro, ou este está mal formado, portanto não terá condições de sobreviver. Neste caso da anencefalia é importante analisar a legislação brasileira, que, muitas vezes torna-se "curiosa". Nota-se na Lei 9.434 de 04 de fevereiro de 1997, que é a lei de Transplante de Órgãos, em seu artigo 3, que prevê a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinadas a transplante, somente se e quando for diagnosticada a morte encefálica do paciente, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção de transplantes. Ora, neste caso a lei é bem clara, que quando constatada a morte encefálica é permitido a remoção de órgãos, e consequentemente, devido a isto, se obteria a morte biológica do paciente. As pessoas que sustentam o respeito à vida do feto devem atentar para o seguinte: em jogo está a vida ou a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas com o feto mal formado. Se até em caso de estupro,  que o feto está bem formado, nosso Direito autoriza o aborto, nada justifica que essa regra não seja estendida para o aborto anencefálico. As leis não devem ser subordinadas aos dogmas religiosos ou à fé de quem quer que seja, portanto deve caber ao legislador deixar em aberto para quem quiser seguir suas crenças ou não.
Aspecto Econômico
 O aspecto econômico do aborto é bastante avaliado hoje em dia. A maioria das mulheres que engravidam, são jovens que não tem condições financeiras de criar seus filhos. A prática do aborto seria uma solução, mesmo que desumana, para esse problema, já que assim, aconteceria um efetivo controle de natalidade, diminuindo a pobreza e consequentemente a marginalidade no país. Ainda há outro lado nesta questão financeira. Hoje em dia, é da ciência de todos que existem inúmeras clínicas que fazem abortos clandestinos, e estas clínicas cobram preços altíssimos, assim, somente uma pequena parte da população faz esse tipo de prática, de maneira higiênica, sem correr riscos de vida. Quem não tem condições de pagar um aborto em uma dessas clínicas, termina por usar outros métodos como o uso de medicamentos, uso de objetos como facas, tesouras, que introduzidos na vagina, podem até perfurar o útero, e ainda abortos feitos até mesmo dando socos na própria barriga. Ainda existe o argumento de que continuarão a ser realizados abortos, quer o aborto seja descriminalizado ou não, e deste modo, deve-se fornecer melhores condições às mulheres que desejem abortar. A resposta para isso é que se legalizar o aborto o número só tende a aumentar, pois, uma vez que é legal e poderá ter clínicas específicas para isto, e cobrando preço justo. Será cada vez melhor e mais fácil realizar esta prática . É plausível que haja uma conscientização da população sobre o sexo seguro e prevenção da gravidez. Existem inúmeros métodos contraceptivos, para todas as faixas de renda, inclusive doados pelo governo para as pessoas que não tem condições de comprarem preservativos ou pílulas anticoncepcionais. O que deve haver é um programa forte, com profissionais qualificados para educar a população sobre um controle efetivo de natalidade.
Aspecto Moral
 O aspecto moral do aborto é o principal fato da popularidade do assunto. A sociedade se divide em dois lados. De um lado, as pessoas a favor da prática do aborto, alegam que é pior para a sociedade ter que conviver com indivíduos marginalizados e desamparados pela família, e de outro, a parte que é contra afirma que o aborto fere o direito a vida que todos possuem, mesmo dentro do ventre de outro. A moral, neste caso, é bem afirmada, principalmente quando se reflete que com a prática do aborto legalizada, o mundo se tornará ainda mais bagunçado. Outro aspecto moral ligado ao aborto extremamente polêmico, é o argumento utilizado, na maioria das vezes por movimentos feministas, de que o corpo pertence à gestante, então esta tem o direito de fazer o que bem entende com ele. Este argumento limita-se a fugir à questão porque as feministas nunca chegam a dizer nada acerca do estatuto moral do feto, pois nunca dizem se o feto tem, ou não, o direito à vida. Esta é uma falha grave pela seguinte razão: Se o argumento das feministas fosse, simplesmente, o de que "o corpo é da mulher, a mulher é que sabe o que há de fazer com ele", então isso provocaria que seria moralmente permissível abortar até no nono mês. Afinal, no nono mês a criança ainda está no ventre da mãe. As feministas podem agora aceitar esta conclusão, ou rejeitá-la. Imaginemos que a aceitam. Nesse caso, ficam com a dificuldade de explicar porque é que não se pode matar uma criança recém-nascida. Afinal, era possível matá-la dois minutos antes, mas agora já não? Isso parece extremamente arbitrário. Imaginemos agora que as feministas rejeitam a conclusão de que é moralmente permissível abortar no nono mês. Nesse caso, terão de nos dizer a partir de que altura é que o feto, ainda na barriga da mãe, começa a ter o direito à vida. Aí, cabe outra discussão: Quando começa a vida? Uma pergunta difícil ou até impossível de se responder. Se partíssemos da premissa de que a vida começa desde quando há metabolismo no corpo, a vida começa desde a concepção do feto, portanto, seria impossível abortá-lo.
Aspecto Religioso
O aborto, visto pelo aspecto moral, muitas vezes se confunde com o religioso, o que é errado falar. O aspecto religioso do aborto é bem diferente do moral. Enquanto o moral se refere que a prática fere a conduta da sociedade, o religioso consiste em afirmar que a vida é suprema em todos os casos. Eles afirmam que se Deus deu vida a este feto, foi porque ele quis que este existisse, e consequentemente, se este foi mal formado ou frutode estupro, também aconteceu desta maneira porque foi da vontade de Deus. A posição oficial da Igreja Católica classifica o aborto como um dos pecados sujeitos à excomunhão: “A gravidade do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio [...]” (João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 25/03/1995, nº. 58).
                                    Consequências Físicas
 O aborto causa sérios danos à mulher que o pratica. Quando feito o aborto ela tem que estar ciente de todas as consequências que irão acompanhá-la após a “operação”. As consequências físicas, dependendo do método usado, podem ser muito sérias para a mulher, inclusive por ela correr risco de morte. A mulher corre o risco de ter sérias hemorragias, infecções, lesões intestinais, complicações renais e hepáticas pelo uso de produtos tóxicos. Dependendo do método utilizado, podem ocorrer perfurações do útero, esterilidade e abortos espontâneos em próximas tentativas de ter outro filho. Porém, quando o aborto é feito em condições boas e decentes, alguns desses riscos podem diminuir. Consequências Psicológicas Segundo Juliane e Maria Júlia Pietro Peres, o aborto além de prejudicar fisicamente a mãe também deixa danos psicológicos graves . Sabe-se que muitas das mães que praticaram o aborto, acabaram depois ficando com sentimento de culpa, remorso e arrependimento. Ainda, muitas acabam ficando com a auto-estima baixa, perdem o desejo sexual, passam a ter comportamentos auto-destrutivos e entram em uma profunda depressão. Além disso, ainda existe bastante preconceito para com a mulher que pratica o aborto, causando assim sérios danos aos relacionamentos sociais desta mulher.
Consequências Legais
Quando se trata de consequências legais para quem pratica o aborto, de acordo com o Código Penal em casos de aborto para resguardar a vida da gestante em perigo (artigo 128,I) e em casos de gravidez resultante de estupro (artigo 128,II) é considerado legal, não tendo assim pena para quem o cometer. Então, em todos os outros casos de abortamento, a pena pode variar em: para a gestante, de 1 a 3 anos de detenção, para o aborteiro, de 1 a 4 anos se houve o consentimento da mãe, e de 3 a 10 anos se não houve o consentimento da mãe. As penas são agravadas se houve lesão corporal da “vítima” elevando a pena para de 2 a 8 anos. É surpreendente o alto número de mulheres que praticam o aborto.
Referências
 Código Penal Brasileiro, 1940.  Código Civil Brasileiro. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.FAZOLLI, Fabrício. Anencefalia e aborto.  MARCÃO, Renato. O aborto no anteprojeto de Código Penal. MOREIRA, Fernando A. Aborto – crime e conseqüência.  O aborto segundo a visão espírita. . PERES, Juliane Prieto e PERES, Maria Julia Prieto. Regressão à vida intra-uterina.  PROGRAM, Population Information. Population Reports. . REIS, Clayton. Aborto – direito ou delito?
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A descriminalização do aborto no Brasil
 Aldo Raphael Mota de Oliveira|- Wermeson Santos
                                                                                                              
RESUMO
Esta pesquisa tem como principal objetivo informar os diversos motivos para que haja a Descriminalização do Aborto no Brasil, para que o Estado seja menos omisso em um tema tão importante para a nossa sociedade. Primeiramente, o trabalho apresenta o conceito sobre o aborto, trazido por diversos autores, além de diversos tipos e métodos que são adotados para a realização de tal prática. Logo após, é tratado todas as práticas de aborto permitidas no Brasil. Em seguida, o aborto é mostrado em pesquisas e estatísticas mostrando que ocorre a prática corriqueiramente no país, mostrando que a lei é ineficaz em sua criminalização. Além disso, o presente trabalho analisa as consequências trazidas pela realização do aborto clandestino que afeta não só a saúde física da mulher como também a psíquica e social. Por fim é apresentado o aborto como um problema de saúde pública, demonstrando que deve-se existir maneiras para que o Estado tente amenizar o referido problema, deixando de lado os aspectos religiosos que é um dos principais empecilhos para que exista ainda a criminalização no país, que não é respeitada pela sociedade e existem milhares realizados de forma insegura e precária no Brasil.
Palavra- chave: aborto, criminalização, ineficácia.
 
ABSTRACT
 
This research aims to inform the various reasons for the decriminalization of abortion in Brazil, so that the state is less silent on such an important issue for our society. Firstly, the paper presents the concept about abortion, brought by several authors, as well as several types and methods that are adopted to perform this practice. Soon after, all abortion practices allowed in Brazil are treated. Next, abortion is shown in research and statistics showing that the practice is common in the country, showing that the law is ineffective in its criminalization. In addition, the present paper analyzes the consequences of illegal abortion that affects not only the physical health of women, but also the psychic and social ones. Finally, abortion is presented as a public health problem, showing that there must be ways for the state to try to alleviate this problem, leaving aside the religious aspects, which is one of the main obstacles to the existence of criminalization in the country. , which is not respected by society and there are thousands of insecurely and precariously performed in Brazil.
Keyword: abortion, criminalization, ineffectiveness.
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, o aborto é proibido como regra no Brasil. No entanto, a proibição de tal ato, não impede o alto número de aborto realizado em diversas clínicas clandestinas no país, o que aumenta o índice de mortalidade de mulheres que realizam o aborto de forma precária.
No Brasil, o aborto tem uma grande repercussão nacional, pois estamos em Estado laico, porém, a maioria da sociedade é religiosa e a tendência é que diversos temas acabem sendo levados para o aspecto religioso o que acaba dificultando as maneiras de solucionar casos concretos. O viés religioso no tema proposto é um grande divisor da sociedade quando é abordado o tema, pois grande maioria da sociedade brasileira tende a discordar da descriminalização do aborto por envolver aspectos religiosos o que não uma linha de pensamento tão correta a ser seguida.
Ademais, conforme já mencionado, o aborto clandestino traz diversas mortes no país, o Estado não pode ser omisso e ignorar a realidade que acontece todos os dias. Cabe registrar, ainda, que a proibição do aborto no Brasil é totalmente ineficaz quanto a prevenção do aborto, o que gera dúvidas sobre a sua vigência nos dias de hoje.
Outrossim, a pesquisa visa demonstrar a ineficácia da proibição do Aborto no Brasil. Mostrar, ainda, as consequências positivas que a descriminalização do abroto traria nos dias de hoje para mulheres que sofreram com abortos de forma precária e para outras que pensam em interromper a gravidez com meios que trariam riscos a sua vida.
Cabe mencionar, os meios que levam a solucionar o grande problema que a sociedade enfrenta durante anos, mas nunca houve uma solução concreta, tendo em vista, os aspectos políticos, religiosos e sociais que acabam retardando para a solução do problema.
Por fim, o trabalho visa mostrar a interferência estatal na liberdade individual de diversas mulheres, sobretudo as mais pobres, que são as diretamente afetadas com a proibição da prática no país. Nesse diapasão, proibir o aborto não proíbe sua prática, mas sim a prática segura de realizar-se.
CONCEITOS, TIPOS E MÉTODOS DE ABORTO
De acordo com Capez (2004, p.108), em sua obra, conceitua o aborto como a interrupção da gravidez com a consequente destruição do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intrauterina. Não faz parte do conceito de aborto, a posterior expulsão do feto, pois pode ocorrer que o embrião seja dissolvido e depois reabsorvido pelo organismo materno, em virtude deum processo de autólise; ou então pode suceder que ele sofra processo de mumificação ou maceração, de modo que continue no útero materno.
 Além disso, a lei não faz distinção entre o óvulo fecundado (3 primeiras semanas de gestação), embrião(3 primeiros meses), ou feto(a partir de 3 meses), pois em qualquer fase da gravidez estará configurado o delito de aborto, quer dizer desde o início da concepção até o início do parto ( apud, VIANA, 2012, p23).
Trazendo outra visão sobre o tema a autora Mirabette (2011, p. 57) refere-se ao  aborto e a interrupção da gravidez, com a interrupção do produto da concepção, e a morte do ovo(até 3 semanas de gestação),embrião(de 3 semanas a 3 meses)o feto(após 3 meses), não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido, pelo organismo da mulher, ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão não deixará de haver, no caso, o aborto. (apud, SILVA, 2011, p30)
Ademais, a palavra aborto vem do latim ab-ortus que significa privação do nascimento a interrupção voluntária da gravidez com a expulsão do feto do interior do corpo materno, tendo como resultado a destruição do produto da concepção, assim também conceitua Pierandeli (2005, p.109, apud VIANA. 2012, p23).
Normalmente o aborto é classificado em dois tipos: espontâneos e provocados. Espontâneos são aqueles que ocorrem sem intenção, são uma interrupção natural da gravidez. As causas podem ser diversas: má-formação embrionária ou fetal, deficiência placentária ou hormonal, tumores no útero, hipovitaminose, interferentes químicos como álcool, fumo, drogas, etc. Estima-se que cerca de 15% das gestações terminam em aborto espontâneo, frequentemente durante as primeiras 12 semanas (MOORE, 2004, apud, SOUZA, p3).
 Abortos provocados são aqueles que acontecem intencionalmente, ou seja, tendo em vista a interrupção da gravidez e a consequente extração do concepto. Este tipo de aborto pode ser subdividido ainda em dois casos: o legal, ou que tenha autorização da justiça e se faz em hospital, usando os possíveis métodos: curetagem, injeção de solução salina, microcesariana, etc. Quando se lança mão de fármacos, os mais utilizados são aqueles que contêm prostaglandina com efeito sobre a musculatura uterina, levando à contrações e a expulsão do embrião ou feto (VERARDO, 1987, apud, SOUZA, p3).
O clandestino possui diversas possibilidades que vão desde a ação de medicamentos, tendo ainda, em alguns casos, intervenção mecânica. Para efeitos didáticos foram separadas as práticas e os métodos abortivos realizados em hospitais daqueles na clandestinidade.
Há no imaginário popular uma série de práticas e métodos, com o fim de se provocar a perda do embrião ou do feto. Destacam-se: introdução de sondas através do colo do útero, objetivando produzir contrações; injeção uterina de substâncias químicas como água sanitária e sabão; introdução de objetos em formato de bastão fino, como o talo da mamona e agulhas de tricô; instrumentos não apropriados com o intuito de se conseguir o efeito da curetagem; choques elétricos premeditados; bolsas de água quente; quedas e levantamento de pesos propositais (CESCA, 1996, apud, SOUZA, p3).
FORMAS DE ABORTO PERMITIDAS NO BRASIL
 
Inicialmente, existem três hipóteses de abortos permitidas no Código Penal Brasileiro ordenamento brasileiro, a primeira hipótese é quando há risco à vida da gestante. Ademais, existe, ainda, a possibilidade de aborto em caso de gestão ocorrida em decorrência de estupro e quando há gestação de fetos anencéfalos.
Nesse sentido, as hipóteses anteriormente mencionadas estão dispostas no artigo 128, incisos I e II, prevê a legalidade das práticas abortivas em duas situações peculiares, isto é, o aborto quando necessário e o intitulado aborto humanitário (ABREU FILHO 2010 apud VARGAS et al,2018, p150).
Destaca-se que o aborto necessário ou terapêutico somente é realizado quando não há meios para que se possa salvar a vida da gestante. Nessa linha de raciocínio, (Witt 2011) entende-se que o aborto, nessa situação, para que seja considerado legal, é preciso que dois requisitos sejam preenchidos: o primeiro é a realidade do risco de vida da mãe, devido à sua gestação, e o segundo é que não haja quaisquer outros métodos que possam salvar sua vida (apud VARGAS et al,2018, p151).
 Outrossim, conforme entendimento do autor Júlio Fabbrini Mirabete (2005),   nos casos em que a mãe apresenta risco à sua vida, por causa da gestação, a execução do aborto não precisará da autorização da mãe para ser consolidado, tendo em vista que apenas o inciso II do artigo 128 do Código Penal requer essa exigência (apud VARGAS et al,2018, p151).
Na mesma linha de raciocínio Júlio Fabrinni Mirabete (2005) e Cezar Roberto Bittencourt (2008) justificam que o aborto necessário, mediante o contexto em que é estabelecido, proporciona sua prática ainda que a gestante não tenha dado consentido. Dessa forma, entende-se que a atuação médica será executada de acordo com o estrito cumprimento do dever legal. (apud VARGAS,2018, p151).
Ademais, conforme MIRABETE (2005), já mencionado anteriormente o aborto humanitário ou ético, se configura mediante os casos de estupro. Para que este seja estabelecido, é de total relevância que a gestante autorize a prática, caso está seja incapaz, o consentimento do aborto será realizado mediante a autorização de tutor ou curador (apud VARGAS,2018, p151).
De acordo com a explicação de Bitencourt (2007), “o aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização.” Nesse sentido, o aborto sentimental necessita do consentimento da gestante justamente por haver alguma possibilidade de esta querer prosseguir com a gestão, mesmo que seja algo provento de um crime gravíssimo. (apud SOUSA, 2014).
Além disso, o aborto em casos de estupros não necessitam de ação judicial contra o agressor para serem realizados, muito menos que a vítima tenha algum tipo de autorização judicial, sendo de grande valor a palavra da vítima nesses casos, ressaltando-se que este crime deixa vestígios que podem ser verificados por profissionais da área da saúde.
Por derradeiro, existe a possibilidade de aborto anencéfalos que é conceituado por FREITAS (2011, p.18) como a malformação em que não acontece o fechamento do tubo neural, ficando o cérebro exposto. O líquido amniótico afeta a massa encefálica impedindo o desenvolvimento dos hemisférios cerebrais. Isto significa vida vegetativa. O feto anencéfalo é um natimorto cerebral, sem possibilidade de tratamento ou cura. Em mais da metade dos casos o feto perde os batimentos cardíacos ainda durante a gestação, e os poucos que alcançam o momento do parto sobrevivem fora do útero apenas alguns minutos ou horas, com raros casos de sobrevida de poucas semanas. (apud, LIRA, 2013, p41)
Conforme a FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a anencefalia é uma disfunção biológica comum nas gestantes, podendo esta ser causada pelo déficit de ácido fólico, durante a gravidez (TESSARO, 2002, apud, VARGAS et al, 2018, p153).
No mesmo ensinamento os autores Sarmento e Piovesan (2007) explicam que essa patologia geralmente é estabelecida no período em que o sistema nervoso do feto é formando, acontecendo aproximadamente vinte e cinco dias desde a fertilização do óvulo (apud, VARGAS, 2018, p153).
Por fim, a possibilidade de realizar a interrupção da gravidez em caso de anencefalia ocorreu com o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais nº54, no qual foi votada pelo Supremo Tribunal Federal.
Apesar da agitação social ocorrido no dia 12 de abril de 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) legalizou o aborto de fetos anencéfalos. Após dois dias de votação entre os ministros o resultado foi de oito votos favoráveis e dois contra.Portanto, a partir desse dia, pode ser realizado o aborto nesses casos que a gravidez apresenta risco à vida da mãe, em caso de estuproe na gestação de bebês anencéfalos. No entanto, em todos os casos apresentados, a interrupção da gravidez é opcional, cabendo à mulher decidir. O posicionamento dos ministros e a votação geraram intensa polêmica em todo o país, movimentando diferenciados setores da sociedade, trazendo à baila, muito além de toda a questão jurídica, implicações religiosas, morais, sociológica e de diversas outras ordens (STF, 2013, apud SOUSA,2014).
Sendo assim, o plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em arguição de descumprimento de preceito fundamental ajuizada, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde – CNTS, a fim de declarar a inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo seria conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II, do CP (STF, 2013 apud SOUSA 2014).
Desse modo, exprimiu-se que mostraria descabido veicular que o Supremo examinaria a descriminalização do aborto, especialmente porque existiria distinção entre aborto e antecipação terapêutica de parto. Nesse contexto, afastou as expressões “aborto eugênico”, “eugenésico” ou “antecipação eugênica da gestação”, em razão do indiscutível viés ideológico e político impregnado na palavra eugenia.
Por fim, é perceptível e inevitável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. Sublinhou que o tema envolveria a dignidade humana, o usufruto da vida, a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais, especificamente, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. (STF, 2013 apud SOUSA 2014).
ABORTO EM NÚMEROS E ESTATÍSTICAS
Conforme a pesquisa nacional de aborto 2016 (PNA 2016) que foi realizada para comparar a PNA 2010 que tinha verificado que aproximadamente uma em cada cinco mulheres com idade de 40 anos já realizaram ao menos aborto.
A pesquisa feita no ano de 2016, nela podemos retirar diversos parâmetros dos abortos realizados no Brasil. Conforme a PNA2016, no ano de 2016 o total estimado de mulheres de 18 a 39 anos no Brasil, incluindo as vivendo em áreas rurais, era de 37.287.746. Extrapolando-se a partir das taxas de aborto de alfabetizadas urbanas (13%), o número de mulheres que, em 2016, já fez aborto ao menos uma vez, portanto, seria em torno de 4,7 milhões. Aplicando-se a taxa de aborto no último ano, o número de mulheres que o fizeram somente no ano de 2015 seria de aproximadamente 503 mil. (DINIZ et al, 2016).
Verifica-se que diversos tipos de mulheres fazem o aborto: mães, solteiras, casadas, ricas, pobres, religiosas ou não. Em 2015, 1.300 mulheres por dia quase uma por minuto -- arriscaram a vida para interromper uma gestação ilegalmente no Brasil. Dessas, 56% eram católicas e 25% evangélicas ou protestantes. Os dados são da Pesquisa Nacional do Aborto (PNA) da ONG Anis - Instituto de Bioética.
Conforme a pesquisa, metade das mulheres aborta usando medicamentos. O aborto foi realizado com medicamentos em 48% (115) dos casos válidos. A proporção é a mesma observada em 2010 (48%). Se considerados os 4% (10) de não-resposta ao quesito, a proporção seria ainda próxima, 46%. O principal medicamento utilizado no Brasil é o Misoprostol, recomendado pela Organização Mundial da Saúde para a realização de abortos seguros (DINIZ et al, 2016).
Além disso, cerca de metade das mulheres precisou ser internada para finalizar o aborto: 48% (115) das mulheres foram internadas no último aborto. A proporção cai para 46% se considerados os 3% (10) de não resposta. Mesmo levando-se em conta os intervalos de confiança de 2 pontos percentuais, ocorreu uma queda nas internações entre 2010 (55%) e 2016 (48%). Dois terços (67%, 18) das mulheres que confirmaram ter abortado em 2015 (27) foram internadas para finalizar o aborto.
Por fim, a taxa de realização do procedimento são maiores entre mulheres nas regiões Norte/ Centro-Oeste e Nordeste (15% e 18%) do que nas regiões Sudeste e Sul (11% e 6%), em capitais (16%) do que em áreas não metropolitanas (11%), com escolaridade até quarta série/quinto ano (22%) do que com nível superior frequentado (11%), renda familiar total mais baixa (até 1 salário-mínimo – S.M., 16%) do que mais alta (mais de 5 S.M., 8%), amarelas, pretas, pardas e indígenas (de 13% a 25%) do que entre brancas (9%), hoje separadas ou viúvas (23%) do que entre casadas ou em união estável (14%) e entre as que hoje têm filhos (15%) do que entre as que nunca tiveram (8%) (DINIZ at al 2016).
Dados estatísticos do Ministério da Saúde, estimam cifras em torno de 1milhão ao ano no Brasil. Desses, 800 seriam ilegais ou clandestinos e se constituiriam na 4ª maior causa de morte. Em 2001 foram 9,4 mortes de mulheres por aborto por 100 mil nascidos vivos. Em 2003 foram registrados 236.365 procedimentos de curetagem pós aborto realizados pelo SUS, em 2004 o número cresceu para 243.998. Os abortos por razões médicas e previstos em lei, foram, em 2003, da ordem de 1888 (FARHAT, 2005, apud SOUZA, p6).
No Brasil, temos uma imprecisão quanto ao número exato de aborto e mortalidade materna por complicações decorrentes do mesmo. Isso se dá porque muitos casos não são notificados ou são subnotificados, em decorrência da sua ilegalidade. Muitas mulheres, com necessidade de atendimento pós-aborto, afirmam ser um processo natural, enquanto este foi induzido. Sobre os óbitos maternos há igualmente uma incógnita; alguns municípios apontam causas de óbitos maternos a falência múltipla de órgãos, a parada cardio-respiratória, sem especificar se foi por consequência de um abortamento (FARHAT, 2005, apud SOUZA, p7).
CONSEQUÊNCIAS DE ABORTOS CLANDESTINOS
De acordo com um estudo divulgado em 2007 pela Federação Internacional de Planejamento Familiar demonstrou que 70 mil mulheres morrem a cada ano por causa de complicações decorrentes de abortos. Conforme a federação, nenhuma dessas mortes ocorreu em países onde o aborto é legalizado.
O aborto realizado de maneira insegura, em contextos de ilegalidade, tal qual a situação brasileira, resulta em sérias consequências para a sociedade, pois compromete a saúde da mulher, com elevada morbimortalidade. Além disso, sobrecarrega o sistema de saúde, implica em custos, diminui a produtividade, traz inúmeras repercussões familiares e estigmatiza a mulher (SEDGH et al., 2007).
Além disso, as desigualdades regionais e sociais tornam-se bastante evidentes quando se observa as distribuições dos riscos de mortalidade materna em consequência de complicações decorrente do aborto.
Na região Norte, o risco de mortalidade materna em consequência de gravidez que termina em aborto é 1,6 vezes maior do que na região Sudeste. Esse risco para mulheres negras, analfabetas ou semianalfabetas é 2,5 vezes maior do que para mulheres brancas. Nessas primeiras, também a mortalidade materna em consequência de aborto é 5,5 vezes maior do que na categoria de mulheres com 12 ou mais anos de escolaridade (GOLLOP, 2009, apud ANJOS et al, 2013).
Cabe mencionar que o aborto é uma das principais causas de morte materna no mundo, e sua maior incidência acontece em países em desenvolvimento. Estima-se que no Brasil ocorram mais de um milhão de abortamentos ao ano. Vulnerabilidades, desigualdades de gênero e de acesso à educação, além das múltiplas dimensões da pobreza, como o deficit de recursos econômicos e a dificuldade de acesso à informação e direitos humanos fazem com que o aborto clandestino e/ou inseguro atinja, especialmente, as mulheres pobres e marginalizadas (BRASIL, 2010, apud ANJOS et al, 2013).
Neste sentido, conforme (DOMINGOS; MERIGHI, 2010), a prevenção da mortalidade materna por aborto depende da existência de serviços de saúde estruturados nos vários níveis de assistência, para garantir atendimento às mulheres (apud, ANJOS et al, 2013).
Deste modo, o aborto pode implicar em sequelas à saúde física, mental e reprodutiva damulher. Dentre as complicações físicas imediatas estão as hemorragias, infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, que se somam aos transtornos subjetivos, ao se vivenciar o ônus de uma escolha inegavelmente difícil em um contexto de culpabilização e penalização do aborto (BRASIL, 2010, apud, ANJOS et al, 2013).
Por fim, cabe destacar o estudo realizado com mulheres baianas sobre aborto induzido evidencia como as mulheres vivenciam este tipo de aborto, revelando um processo amplamente doloroso, desde o momento em que descobre a gestação, perpassando pela complexa decisão de interrompê-la. Quando não são apoiadas, essas mulheres perpetuam essa dor com angústia e culpa, o que pode levar à depressão. Apesar dos vários avanços nas discussões e estudos sobre o aborto induzido, é preciso ampliar as reflexões sobre essa temática a fim de melhorar a atenção à saúde das mulheres que decidem pelo aborto (PEREIRAet al., 2012, apud, ANJOS et al, 2013).
 ABORTO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
De acordo com o artigo 196 da CF/88 a saúde é um direito de todos e um dever do Estado que deve ser garantida mediante políticas econômicas e sociais, para que se possa atingir o bem-estar físico, psíquico e social de todas as pessoas. O direito fundamental a saúde está garantida, ainda, através do artigo 6º da CF/883, sendo este violado diretamente com a criminalização do aborto no país.
Nesse sentido, apesar de o aborto ser um ato criminoso no Brasil, na prática há um número significativo sendo realizado, não havendo inibição por parte do Poder Público. Ainda assim, há uma estimativa que mais de um milhão de abortos são realizados por ano no país, e milhares de mulheres colocam em risco sua vida e sua saúde para interromper uma gravidez indesejada. Conforme Emmerick (2008) o aborto figura como 4ª causa de morte materna no Brasil, sendo sua vítima preferencial a mulher de baixa renda (apud, DICK, 2016, p31).
Ademais, a prática do aborto induzido e realizado de forma insegura é mundialmente reconhecida como um grave problema de saúde pública e de justiça social, configurando como a quarta causa de mortalidade materna no Brasil.
Cabe mencionar, ainda, que a penalização tem impacto, principalmente, na vida de mulheres que detém poucos recursos, que acabam sendo obrigadas a prosseguir na gravidez indesejada, que acaba afetando a criança futuramente, ou acabam praticando o aborto em condições de absoluta insegurança e extrema.
Ademais, as mulheres que tem recursos financeiros são atendidos de modo seguro, com qualidade e sem risco para a sua saúde e vida, o que acaba sendo muito desigual e extremamente desproporcional com as mulheres que não possuem meios de arcar com os meios seguros e acabam se submetendo a prática totalmente insegura e desumana.
Outrossim, como já sabemos, a criminalização do aborto além de ser um problema de justiça social que envolve questões jurídicas, éticas, morais e religiosas, é principalmente um grande problema de saúde pública. De acordo com Borges (2010), no Brasil, estimativas realizadas em 2005 com base em internações hospitalares decorrentes de complicações provenientes de abortos registradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) indicam que ocorrem cerca de 1,5 milhão de abortos a cada ano. É como se fosse eliminada totalmente a população de Porto Alegre, ou de Recife, ou de Campinas e Niterói juntas (apud, DICK, 2016, p21).
Nesse diapasão, é sabido que mulheres de todas as classes sociais sejam elas, brancas, negras ou pardas, praticam o aborto, a diferença está na forma em que isso ocorre e no procedimento adotado. Conforme o autor Varella (2016), “a mulher rica faz normalmente e nunca acontece nada. Já viu alguma ser presa por isso? Agora, a mulher pobre, a mulher da favela, essa engrossa estatísticas. Essa morre. Proibir o aborto é punir quem não tem dinheiro” (apud, DICK, 2016, p21).
 Nessa mesma crítica ao código penal reforça Santiago (2008, p.35): [...] nos países onde o aborto é ilegal, há serviços clandestinos, dirigidos por profissionais capacitados, que oferecem um procedimento seguro, desde que se possa pagar por ele. Nesse ponto, o que determina o acesso ao aborto seguro é também o poder econômico, o que torna o aborto inseguro uma manifestação da iniquidade social. O risco imposto pela ilegalidade do aborto é majoritariamente vivido pelas mulheres pobres e pelas que não têm acesso aos recursos médicos para o aborto seguro (apud, DICK, 2016, p21).
Nesse sentido, de acordo com o autor Zaffaroni (apud DICK, 2016, p.21) até hoje o sistema penal não consegui resolver o conflito gerado pelo aborto, o aumento da repressão sobre os médicos que praticam não faz que aumentar o preço dos seus serviços, excluindo cada vez mais as mulheres das faixas economicamente mais carentes, que se veem entregues a mãos despreparadas e desumanas, o quem tem feito aumentar o número de mortes devido ao emprego de práticas primitivas, fazendo com que o aborto ocupe o primeiro lugar entre as causas de morte materna.
 Além disso, podemos afirmar que direito penal não evita a morte de embriões e fetos, pelo contrário, causa inúmeros outros danos jogando milhares de mulheres em clínicas precárias e em um sistema que acaba matando diversas mulheres no Brasil.  Para expor mais sobre o tema, o autor Karam, esclarece que:
(…) enganosa publicidade do proibicionismo aqui se desnua. Os proibicionistas se apresentam como defensores da vida e, mais do que isso, pretendem-se os únicos defensores da vida. Em suas campanhas, tentam estigmatizar os antiproibicionistas, como se estes não tivessem compromisso com a vida. Mas constatada morte de mulheres causadas pelas condições precárias em que são realizados os proibidos abortos, que, repita-se, não são nem nunca foram impedidos pela proibição, não parecem lhe incomodar (...). À argumentação dos proibicionistas, pretende extrair um sentido criminalizador deste reconhecimento, é tão somente mais um produto de seu enganoso discurso, é tão somente um produto daquela falsa crença de que o controle social se limitaria à intervenção do sistema penal (apud DICK, 2016, p22).
Ressalta-se, ainda, que existem diversos motivos que levam uma mulher a decidir pela interrupção de uma gravidez, dentre elas destaca-se as questões socioeconômicas: pobreza, falta de suporte, interrupção dos estudos, perda do emprego, falta de planejamento familiar, entre inúmeros outros.
As consequências, físicas e psíquicas vivida pelas mulheres pós abortamento são imensuráveis, como por exemplo: a diminuição na autoestima pela destruição do próprio filho, depressão, culpabilidade ou frustração de seu instinto materno, desordens nervosas, insônia, neuroses diversas, entre outras.
Além disso, o impacto dos abortos ilegais é gigantesco, e pode ser estimado por meio dos casos em que as gestantes têm complicações que não são solucionadas de maneira individual ou em clínicas clandestinas, o que acabam recorrendo aos serviços de saúde. É notório que a prática está se tornando cada vez mais comum entre as mulheres, se assim não fosse seria praticamente impossível ter o conhecimento do número de mulheres que se submetem ao aborto pelo fato de ser considerado crime, apesar de diversas gestantes ocultarem ter feito a prática alguma vez durante a vida.
Sabe-se que a questão do aborto no Brasil vai muito além da seara Penal, de acordo com Domingos (2008, p. 69), o número de abortamento voluntário clandestino e ilegal no Brasil supera, de forma irrefutável, o número de casos que chegam até o Judiciário para o devido processo de julgamento, demonstrando certo descompasso entre a lei posta pelo Código Penal vigente e a possível conformação da prática ilícita de aborto em caso concreto a ser apreciado na esfera judicial (apud, DICK, 2016, p23).
Ainda, a análise rigorosa acerca dessa inadequação pode-se revelar como um precioso instrumento para a compreensão de um novo entendimento sobre o aborto no Brasil que articulada a elementos substanciais oferecidas pela Constituição, pode ser capaz de operar significativas transformaçõesno ordenamento jurídico pátrio, havendo, assim, respostas mais significativas a um problema que vai muito além do Direito Penal e acaba afetando milhares de mulheres no Brasil.
 Por fim, cabe frisar que para minorar as consequências decorrentes da prática do aborto clandestino, inseguro e precário, é necessária e urgente adequação da lei penal diante à situação social apresentada, uma vez que o sistema penal é ilegítimo e tem se mostrado ineficaz para a solução do problema, conforme explanado anteriormente.
 CONCLUSÃO
Ao analisar o presente trabalho, verifica-se que o tema apresentado é bastante complexo, porém, pode ser solucionado se tratado com o viés mais humanitário e deixando de lado o aspecto religioso que esbarra totalmente no Estado Laico que nos encontramos.
De acordo com o estudo apresentado, o aborto no país é um caso sério e a sua criminalização não impede que aconteça em todo o país. Além disso, não se pode deixar de mencionar que diversas mulheres morrem cada vez mais no país pela falta de assistência médica básica, devido a procura de clínicas clandestinas que pouco se preocupam com a saúde da mulher, trazendo consequências graves quando não ocorre o evento morte.
Além disso, o aborto precisa ser tratado como um problema de saúde pública para que haja mais eficácia do Estado em tentar solucionar esse enorme problema. Ainda, não se pode deixar com que a criminalização da prática acabe com vidas de diversas pessoas que acabam sendo afetadas pela omissão Estatal em ao menos procurar uma solução para o grande problema apresentado. Conforme já mencionado, existem diversas estatísticas no Brasil de abortos realizados por diferentes mulheres, no entanto, as mais afetadas são as que detém poucos recursos, isso porque pessoas que dispõem de um poder aquisitivo elevado, não passa por tantos traumas, pois procura médicos e clínicas muito mais bem preparadas para realização do procedimento ilegal.
Nesse sentido, não há como negar que esse problema é bem delicado por ser algo que muitas pessoas contrariam e outras que são a favor, ainda mais em um país que acaba sendo bem conservador e religioso, apesar de haver de ser um Estado laico. Ainda, assim, para que haja ao menos um pouco de esperança para diversas mulheres, o Poder Público tem que deixar de ser omisso, nesse tema que é de suma importância.
Por fim, apesar de ocorrer diversos empecilhos para que haja a descriminalização do Aborto no Brasil, por questões jurídicas, éticas e morais, ainda há uma esperança que isso mude com a evolução da sociedade, trazendo, assim, uma maior tranquilidade para milhares de mulheres que sofrem ou ainda vão sofrer com a criminalização do procedimento no país.
REFERÊNCIAS
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DICK, Angélica. A descriminalização do aborto no Brasil. Disponível em:http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/3652. Acesso em 31 de julho de 2019.
DINIZ, Débora; MEDEIROS, Marcelo; MADEIRO, Alberto. Pesquisa Nacional de Aborto 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n2/1413-8123-csc-22-02-0653.pdf. Acesso em: 16 de julho de 2019.
LIRA, Danielle de Araújo. Criminalização do Aborto: reflexos da negação de direitos. Disponível em: https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/4349/1/DanielleAL_Monografia.pdf.  Acesso: 15/09/2019.
SILVA. Ana Paula Pessoa. Aborto sentimental o direito à vida do feto e a liberdade da vítima. Disponível em https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/1094/106147_Ana.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 05 de julho de 2019.
SOUSA, Stephanie Correa Serejo. A descriminalização do aborto de feto Anencéfalo e a Dignidade da Gestante. Disponível em https://www.webartigos.com/index.php/artigos/a-descriminalizacao-do-aborto-de-feto-anencefalo-e-a-dignidade-da-gestante/119805. Acesso em 15/09/2019.
SOUZA, Valdomiro José. O aborto no Brasil: um resgate das concepções morais católicas em contraposição aos grupos pró-aborto. Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/rbhr/o_aborto_no_brasil.pdf. Acesso em: 04 de julho de 2019.
VARGAS.Rodrigo Gindre;VASCONCELOS.Priscila Elise Alves; JESUS. Jandielly Felipe Braga. O STF e o aborto em fase inicial. Disponível em http://www.fsj.edu.br/transformar/index.php/transformar/article/view/149. Acesso em 05 de julho de 2019.
VIANA, Ana Carolina Noronha. Aborto. Disponível em: https://www.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-1131ca1254fdc8d5c850670c8249e54.pdf. Acesso em: 15 de julho de 2019.
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Entendendo o aborto
grazielle mendonca de andrade
Principais aspectos relacionados ao conceito de aborto, em suas várias formas de prática, a leitura que o código penal faz desta conduta, e quais os argumentos daqueles que levantam a bandeira da descriminalização.
CONCEITO
Aborto nada mais é que a interrupção de uma gestação por remoção ou expulsão do embrião/feto, geralmente com menos de 20/22 semanas, sendo causado por morte deste ou, sendo a morte causada por consequência do aborto. Vejamos a definição trazida por alguns doutrinadores; Aníbal Bruno preleciona que:
“Segundo se admite geralmente, provocar aborto é interromper o processo fisiológico da gestação, com a consequente morte do feto. Tem-se admitido o aborto ou como expulsão prematura do feto, ou como a interrupção do processo de gestação. Mas nem um nem outro desses fatos bastará isoladamente para caracterizá-lo”. (Anibal, 1976, p. 159). (Disponível em http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_12924/artigo_sobre_o-crime-de-aborto-e-suas-principais-caracteristicas).
Na definição proposta por Fabbrini Mirabete:
“Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo, embrião ou feto, não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido pelo organismo da mulher ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da sua expulsão. Não deixara de haver, no caso, o aborto”. (Mirabete, 1997, p.93) (Disponível em: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_12924/artigo_sobre_o-crime-de-aborto-e-suas-principais-caracteristicas).
TIPOS DE ABORTO
            O aborto pode ocorrer de forma livre e ser cometido por qualquer pessoa, sendo a grande maioria cometida diretamente pela gestante ou com seu consentimento. O aborto pode ser do tipo involuntário e induzido.
1 Aborto involuntário:        
Espontâneo ou natural: onde o organismo expulsa o embrião/feto, seja por alguma anomalia de formação, ou por algum fator predisposto da gestante, como por exemplo, alguma doença do aparelho reprodutor que diminui a capacidade de manter uma gestação, alguma doença crônica como diabetes, hipertensão dentre outros.
 Acidental: forma de aborto causado por trauma (queda, acidentes em geral, agressão, etc.) durante a gestação e, em decorrência desse trauma, o organismo expulsa o feto, morto ou não, naturalmente ou, através de uma intervenção médica, já que o mesmo devera ser retirado do organismo da gestante.
2 Aborto induzido ou provocado: é aquele em que há ação humana direta no seu resultado. Pode ser provocado por medicamentos ou por outros meios mecânicos. A previsibilidade da tipificação do aborto encontra-se descrita no Codigo Penal, nos artigos 124 a 127, descrevendo a pena para quem pratica o aborto em si mesmo ou quem a ajudar; para quem pratica o aborto sem o consentimento da gestante e para quem pratica o aborto na gestante com o seu consentimento se valendo de sua incapacidade mental, física ou se provocado em menores de 14 anos, com penas de detenção de 1 a 3 anos ou reclusão de 1 a 10, tendo cada tipo uma pena diferente. Ainda pode-se ter apena aumentada, caso este ato venha causar lesões corporais graves a gestante ou mesmo sua morte.
3 Abordo legal: para a justiça brasileira, aborto é descrito como crime pelo códigopenal, com possibilidade de aplicação de pena para gestante e/ou para quem a ajuda a praticar; porém, existe a forma de aborto em que há uma autorização previa da lei, conhecidos como aborto humanitário ou sentimental. Duas possibilidades são adotadas pela justiça para permissão do ato.
Primeira: quando comprovadamente, a gestação traga risco de morte para gestante caso venha a prosseguir com a gravidez e, que não haja outro meio de salvar a sua vida, sendo opção da gestante em continuar ou por fim a gestação, art. 128, I do CP;
Segunda: quando a gestação for decorrente de estupro e a gestante não queira prosseguir com a gestação e/ou, caso seja incapaz a gestante, a decisão caberá aos seus representantes, art. 128, II do CP.
            Para ambos os casos é indispensável a comprovação por meios legais  do risco de morte à gestante e a ocorrência do estupro alem do seu consentimento.
METODOS MAIS UTILIZADOS X RISCOS DE PROVOCAR O ABORTO
            Alguns países admitem o aborto em qualquer forma, obedecendo à autonomia da vontade da mulher em prosseguir ou não com uma gestação indesejada. No Brasil, como o ordenamento jurídico não autoriza e pune a quem o comete, muitas mulheres se submentem às formas obscuras em clínicas clandestinas, realizado por pessoas não qualificadas, tendo como consequência grave lesão corporal com possibilidade de perda do aparelho reprodutor, ou mesmo sua morte.
            Segundo a Organização Mundial de Saúde, abortos não seguros são aqueles realizados por indivíduos sem formação, equipamentos perigosos ou em instituições sem higiene ¹.
            A forma mais utilizada em clinicas é a aspiração/ sucção uterina a vácuo, o que seria o método mais eficaz utilizado no primeiro trimestre (12 semanas) da gestação, se realizado em lugar autorizado e capacitado para o feito, oferece menor risco à gestante por não ser um procedimento cirúrgico e poder ser realizado em consultórios, sem a necessidade de anestesia ou dilatadores; curetagem já é um procedimento ao qual a gestante receberá dilatadores em bloco cirúrgico para posterior introdução da cureta para retirada do conteúdo uterino, oferece grande risco de perfuração uterina. Não deve ser feito após a 16ª semanas de gestação. A curetagem ainda é usada como forma de finalização e limpeza do útero, quando não houve sucesso em outra forma de aborto provocado, ou mesmo espontâneo, que deixou resíduos da gravidez.
            Temos ainda a forma farmacológica, muito utilizada por conta própria das gestantes, que usam uma combinação de  mifepristona e misoprostol. O uso de prostaglandina, por via oral ou vaginal, provoca o trabalho de parto em qualquer período da gestação, podendo o feto nascer vivo. O uso indiscriminado dessas medicações leva muitas mulheres a procurar atendimento medico, com ou sem a expulsão do feto, o que as submeterá a uma curetagem.
            Pouco se fala sobre o esvaziamento intracraniano, mas essa técnica é utilizada em alguns países que permitem o aborto. Consiste na retirada parcial do feto pela cavidade vaginal, puxando-o pelos pés deixando sua cabeça ainda no útero e, introduzindo um cateter na nuca para sugar o cérebro e posteriormente puxar sua cabeça. Esse método é utilizado em gestação mais avançada, após a 20ª semana.
            Outra técnica utilizada é a introdução de solução salina concentrada dentro do saco amniótico, causando a morte por envenenamento do feto pela ingestão dessa solução. Chás e soluções caseiras também são usados com frequência pelas gestantes, mas sua eficácia não é confirmada, mas sabe-se que pode levar a consequências mais gravosas tendo estas gestantes que recorrer ao serviço de saúde por complicações relacionadas a essas soluções, e nem sempre ocorrerá o aborto.
            Segundo a ONU, “Globalmente, mais de 25 milhões de abortos inseguros (45% do total) ocorrem anualmente, segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS). A maioria é realizada em países em desenvolvimento de África, Ásia e América Latina.
O estudo mostrou que a restrição ou proibição do acesso não reduz o número de abortos. Além disso, em países onde o aborto é completa ou parcialmente proibido, um em cada quatro abortos é seguro. Em países onde o aborto é legal, nove entre dez são realizados de maneira segura.
Quando os abortos são feitos de acordo com as diretrizes e padrões da OMS, o risco de complicações severas ou de morte é insignificante, explicou a agência da ONU”. ²        
Segundo Fabbrini Mirabete: “Os processos utilizados podem ser químicos, orgânicos, físicos ou psíquicos. São substancias que provocam a intoxicação do organismo da gestante e o consequente aborto o fósforo, o chumbo, o mercúrio, o arsênico (químicos), e a quinina, a estricnina, o ópio a beladona etc. (orgânicos). Os meios físicos são os mecânicos (traumatismo do ovo com punção, dilatação do colo do útero, curetagem do útero, microcesária), térmicos (bolsas de água quente, escalda-pés etc.) ou elétricos (choque elétrico por maquina estática). Os meios psíquicos ou morais são que agem sobre o psiquismo da mulher (sugestões, susto, terror, choque moral etc.)”. (Mirabete, 1997, p.95) (Disponível em http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_12924/artigo_sobre_o-crime-de-aborto-e-suas-principais-caracteristicas).
A realidade atual diz que a previsão de pena para quem comete o crime não inibe o ato, o que agrava suas consequências, pois, a repressão ou proibição levará cada vez mais mulheres a procurarem o submundo da clandestinidade arriscando suas vidas. O poder aquisitivo é outro fator que favorece as mais afortunadas, que pagarão pela qualidade do serviço.
SUJEITOS DO CRIME
O crime de aborto tem a presença do sujeito ativo e passivo, diferenciando-se em cada tipo penal. Analisemos cada tipo de acordo com o CP.
SUJEITO ATIVO
O sujeito ativo é sempre aquele que pratica a ação, independente do tipo penal. Assim, na leitura do art. 124 do CP – provocar em sim mesmo ou permitir que outro lhe provoque – sera aqui o sujeito ativo sera sempre a gestante; no art. 125 – provocar aborto sem o consentimento da gestante – sujeito ativo nessa figura sera unicamente quem o praticar, podendo ser qualquer pessoa; no art. 126 – provocar aborto com o consentimento da gestante – ambos serão sujeito ativo, tanto a gestante quanto quem a ajudar no ato.
SUJEITO PASSIVO
 O sujeito passivo é aquele que sofre o dano em seu bem tutelado. Segundo doutrina majoritária, o sujeito passivo aqui será o Feto, pois ele que  sofrerá o dano em seu bem juridicamente tutelado – sua vida. Há possibilidade de entender que a gestante também sofrerá dano ao seu bem tutelado, quando esta não consentir na ação do terceiro e sua autonomia da vontade não for considerada, forma que Cezar Roberto Bittencourt descreve (Bittencourt, 2003, p. 159): “nessa espécie de aborto, há dupla subjetividade passiva: o feto e a gestante”.
ANALISANDO O CRIME DE ABORTO
O aborto pode ser cometido por qualquer pessoa (gestante ou terceiros) que queira o resultado, sendo, portanto, um crime doloso que ocorre de forma livre, pois vários são os meios pelos quais chegam ao resultado final – morte do embrião/feto. Assim, tendo a morte como consequência, o bem juridicamente tutelado é a vida; seja do feto/embrião, seja da gestante quando for objeto do tipo descrito no art. 126 do CP – aborto sem consentimento – e, em decorrência do método utilizado, lhe causou grave lesão ou sua morte.
O nosso Codigo Penal aduz que, para que o crime de aborto seja consumado é necessário que, no momento do início do ato, o feto esteja vivo, independente de sua expulsão da cavidade uterina e do método utilizado. É um crime de natureza material se, quando do início da ação, o feto esteja vivo; caso ele já esteja morto, não há que se falar em aborto, pois o crime passa ser impossível, já que fator indispensável para configuração do crime seja matar o feto.
Admite-se, portanto, a tentativa, quando no momento da ação executória, por motivos alheios a vontade, não consegue finalizar a infração. A mesmaqualificação pode se dar quando o agente, após realizar todas as ações com os meios necessários e expulsando o feto da cavidade uterina, ele sobrevive a tudo que foi feito e continua vivo após a expulsão.
COMPLICAÇÕES DE SE FAZER O ABORTO         
Como já dito, o nosso ordenamento não autoriza o aborto, senão em caso de risco de morte para a gestante ou no caso em que a gravidez seja fruto de outro crime, o estupro. A proibição não reduz o numero de abortos. A falta de legalidade acarreta na busca da clandestinidade pelas mulheres que não querem prosseguir com uma gravidez indesejada. Varias são as consequências que este ato pode deixar em quem o pratica que vão de alterações emocionais até físicas, em destaque, algumas das mais gravosas:
- perfuração do útero,
- perda do aparelho reprodutor,
- infecção devido a restos fetais na cavidade uterina,
- tétano por uso de materiais introduzidos não esterilizados,
- depressão e arrependimento por ter cometido o crime,
- medo, angústia insônia, dentre outras complicações que podem aumentar de acordo com o tempo da gestação.
            Por outro lado, a autorização teria consequências tanto negativas quanto positivas.
Negativas: elevaria o numero de DST’s dentre outras doenças, banalização do sexo, mercantilismo entre profissionais para fazer a prática, diminuição demográfica, etc..
Positivas: países em que é legal a prática do aborto existem um numero muito menor, em relação aos países que o proíbem, de mutilação ou morte em mulheres que praticam o ato, pois elas terão acesso a meios seguros para a prática.
GRAVIDEZ INDESEJADA
É sabido que não existe nenhum método contraceptivo 100% seguro, portanto, a gravidez indesejada pode ser fruto de uma relação que a mulher julgava ser segura.
Consequências para a mulher: depressão, baixa estima revolta, doenças físicas geradas pelas doenças psicológicas, etc.
Consequências para a criança: doença e morte prematura, exposição à pobreza, exposição da criança ao despreza da mãe seguido de maus tratos, abandono, delinquência juvenil, etc.
PROJETOS EM DISCUSSÃO
De acordo com uma pesquisa realizada no site do Congresso, vários são os projetos que tramitam à espera de votação, que vão desde a descriminalização do aborto em qualquer situação, proposta pelo PSOL, em março de 2017, até a exclusão da possibilidade daquele tido como aborto legal no art.128, II do CP – gravidez oriunda de estupro. Vejamos:
Trecho extraído da pagina do congresso, onde o PSOL justifica sem pedido: “Os marcos legais internacionais de interrupção da gestação por prazos são coerentes tanto com experiências das mulheres, quanto com recomendações médicas. Mesmo em países nos quais o aborto legal é permitido, em até 20 semanas de gestação, a maioria dos procedimentos ocorre muito antes: nos Estados Unidos, em 2013, 66% dos procedimentos foram realizados em até 8 semanas de gestação e 91% ocorreram em até 13 semanas; no Reino Unido, em 2014, 80% dos procedimentos ocorreram em até 10 semanas e 92% em até 13 semanas”, ressalta a ação.
“A interrupção da gestação no primeiro trimestre é segura, com menos de 0,05% de risco de complicações; a Organização Mundial de Saúde inclusive recomenda que, até 9 semanas de gestação, o aborto medicamentoso seja realizado em ambiente de conveniência às mulheres, como a residência, após orientação médica adequada e acesso a medicamentos, de forma a garantir maior privacidade e bem-estar”, acrescenta a sigla às exposições encaminhadas ao STF.
No pedido, a sigla pede ao Supremo a declaração de não recepção parcial dos artigos 124 e 126 do Código Penal. O intuito do Psol é excluir as penalidades ligadas à interrupção da gestação induzida e voluntária realizada nas primeiras 12 semanas “por serem incompatíveis com a dignidade da pessoa”. Ainda de acordo com o documento, os artigos “violam direitos fundamentais das mulheres à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica, à igualdade de gênero, à proibição de tortura ou tratamento desumano ou degradante, à saúde e ao planejamento familiar’.” (disponível em http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/psol-vai-ao-stf-pela-descriminalizacao-do-aborto/).
Em contrapartida, do outro lado tem a vertente de criminalizar aquilo que a lei já considera legal: “A comissão especial da Câmara que analisa a ampliação da licença maternidade em caso de bebê prematuro aprovou, nesta tarde, por 19 votos a 1, o texto principal de proposta que, além de aumentar o período de afastamento da mãe de 120 dias para até 240 dias, insere na Constituição a proibição de todas as formas de aborto no País. Falta analisar 11 destaques.
Ao examinar duas propostas de emenda à Constituição que tratam da licença maternidade – PEC 181/15, do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e PEC 58/11, do deputado Dr. Jorge Silva (PHS-ES) –, o relator do colegiado, deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), optou por um novo texto.
Nele, Mudalen estabelece que o princípio da dignidade da pessoa humana e a garantia de inviolabilidade do direito à vida, ambos já previstos na Constituição, deverão ser respeitados desde a concepção – ou seja, do momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozóide –, e não apenas após o nascimento. “Isso significa que nós somos favoráveis à vida”, disse. Segundo ele, o Código Penal não é alterado pela proposta.
Segundo a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), a medida poderá inviabilizar o aborto nos casos permitidos pelo ordenamento jurídico brasileiro. Atualmente, o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) não considera crime o aborto praticado nos casos em que a gestação decorre de estupro ou põe em risco a vida da mulher. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é crime a interrupção da gravidez quando o feto apresentar má formação do cérebro (anencefalia).
Criada em 30 de novembro do ano passado, a comissão especial da Câmara surgiu como resposta a uma decisão da Primeira Turma do STF que, um dia antes, havia decidido não considerar crime a prática do aborto durante o primeiro trimestre de gestação.”
DADOS
Segundo pesquisa publicada no site pragmatismo político, dados transcritos na integra de algumas pesquisas.
Por: Thais Folego, AzMina
“Mulheres negras têm duas vezes e meia mais chances de morrer durante um aborto do que as mulheres brancas. Provenientes das classes sociais mais pobres, elas costumam não ter condições financeiras para pagar por um procedimento seguro e recorrem a métodos caseiros com maiores riscos de complicações. E diante de um aborto mal sucedido, estudos mostram que elas têm maior dificuldade no acesso a serviços de saúde, o que aumenta o risco à vida dessas mulheres.
Os caminhos que levam as mulheres negras a isso são muitos. A criminalização do aborto é um deles, segundo Mário Monteiro, um dos autores do estudo do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que detectou o risco mais de duas vezes maior de óbito por aborto entre as mulheres negras. “É possível que a descriminalização do abortamento induzido permitisse a redução de riscos de complicações e mortalidade materna por gravidez que termina em aborto”, afirma o pesquisador.
Atualmente, o aborto provocado é considerado crime previsto nos artigos 124 a 128 do Código Penal Brasileiro e pune tanto a gestante como os profissionais que realizam o procedimento. O único tipo de aborto provocado previsto em lei é em caso de estupro ou de risco à vida da mulher – mas mesmo nesses casos há obstáculos burocráticos que desencorajam a prática.
Outro fator que explica a mortalidade maior entre as mulheres negras é o fato de elas abortarem mais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de aborto provocado das mulheres pretas é de 3,5%, o dobro do percentual entre as brancas (1,7%). O perfil mais comum de mulher que recorre ao aborto é o de uma jovem de até 19 anos, negra e já com filhos, segundo a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA)”.(Disponível em https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/10/aborto-mulheres-negras-sao-as-que-mais-morrem.html)CONSIDERACOES FINAIS
Como vimos, o assunto vai muito além do jurídico, envolvendo adventos religiosos, morais e pessoais. Não há uma corrente majoritária nesse assunto por ser tão controverso e admitir análise de acordo com o pensamento de cada um. O que se tem certeza é que cada vez mais mulheres morrem em busca de se livrar de uma gravidez indesejada, à espera de que haja uma pacificação quanto ao assunto, solucionando esse problema sério no Brasil e no mundo.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
Citações:
¹  «The Prevention and Management of Unsafe Abortion» (PDF) (em inglês). World Health Organization. Abril de 1995. Consultado em 1 de junho de 2010. Cópia arquivada(PDF) em 30 de maio de 2010
² Aborto ONU, disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-proibicao-nao-reduz-numero-de-abortos-e-aumenta-procedimentos-inseguros/   acesso em 19/11/2017
Fontes:
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1997. 
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/psol-vai-ao-stf-pela-descriminalizacao-do-aborto/ ...em 20/11/2017
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/10/aborto-mulheres-negras-sao-as-que-mais-morrem.html ...em 20/11/2017
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