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Malária plasmodium spp Introdução Sinônimos · paludismo, febre palustre, impaludismo, maleita ou sezão Estimativas · OMS relata redução significativa na incidência e na mortalidade da doença entre os anos de 2000 e 2013 (redução de 30 e 47%, respectivamente). · OMS -2015: 216 milhões casos · Brasil (2014): Amazônia => 143.552 casos/ano · 2000: 723.000 mortes no mundo · 2015: 306.000 mortes no mundo · Uma criança morre a cada 30 segundos de malária · Crianças abaixo de 5 anos são as mais acometidas Agente Etiológico PARASITA · Filo: Apicomplexa · Ordem: Eucoccidiida · Família: Plasmodiidae · Gênero: Plasmodium. · Espécies: · Plasmodium falciparum - febre terçã maligna · Plasmodium vivax - febre terçã benigna · Plasmodium malariae - febre quartã · Plasmodium ovale (apenas África) · Plasmodium knowesi (nova asiática): · Hospedeiro vertebrado - Macaca fascicularis e Macaca nemestrina. VETOR: · Anopheles leucosphyrus Morfologia · formas evolutivas extracelulares (esporozoítos, merozoítos, oocineto) · possuem um complexo apical: roptrias e micronemas (organelas) → interiorização celular · formas intracelulares (trofozoítos, esquizontes e gametócitos) Esporozoíto · forma infectante para o homem (inseto libera) · Alongado e apresenta núcleo central único · Sua membrana é formada por duas camadas sendo a mais externa formada principalmente pela proteína CS · Os esporozoítos são móveis apesar de não apresentarem cílios ou flagelos. Essa mobilidade está intimamente associada a proteínas de superfície do parasito: CS, TRAP Obs: A proteína CS é importante na invasão à célula hospedeira. O parasita reconhece a célula hospedeira e se liga a ela através dessa proteína. Hipnozoítos · P. Vivax e P. Ovale · Formas dormentes/latentes do esporozoíto · Responsáveis pelas recaídas tardias da doença → esquizogonia nos hepatócitos Merozoíto · piriformes · capazes de invadir somente hemácias · pode ter origem pré-eritrocítica ou sanguínea · estruturalmente, assemelham-se aos esporozoítos: · porém menores e arredondados · tendo uma membrana externa composta por três camadas Trofozoítos (jovem/maduro) · Aspecto de anel com citoplasma e núcleo · Parasito dentro da hemácia · Após a penetração do esporozoíto no hepatócito, ocorre a perda das organelas do complexo apical e o parasito se torna arredondado => trofozoíto · Após sucessivas divisões celulares dá origem ao esquizonte tissular Esquizonte/Criptozoíto · Tem aspecto irregular · Massa citoplasmática única com vários núcleos · causa aumento do hepatócito infectado · Começa a dividir o núcleo e após o núcleo estar dividido ele divide o citoplasma · Número de merozoítos formados varia entre as espécies de plasmódios Gametócitos · Na fase do gametócito é possível identificar os plasmódios: · P. Falciparum → alongado · P. Vivax → redondo · não se dividem mais · Microgametócitos: gametas masculinos · Macrogametócitos: gametas femininos Ciclo Biológico · Heteroxeno → necessita de mais de um hospedeiro para completar o ciclo HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO - HOMEM 1ª Fase do Ciclo: Exo-eritrocítica/Pré-eritrocítica/Tissular/Hepático (externo a hemácia, pré-hemácia, orgânico - fígado) 1. Esporozoítos infectantes são inoculados pelo inseto vetor no homem 2. Esporozoítos migram por diferentes células até que ocorra a infecção de um hepatócito, 3. formação de um vacúolo parasitóforo, onde se processa o desenvolvimento parasitário 4. Nos hepatócitos, os esporozoítos se diferenciam em trofozoíto pré-eritrocítico 5. trofozoítos se multiplicam por esquizogonia (reprodução assexuada) → esquizontes teciduais → milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos 2ª Fase do Ciclo: Eritrocítico/Sanguíneo (sangue e hemáceas) 1. Início do Ciclo Eritrocítico: merozoítos invadem os eritrócitos 2. O desenvolvimento intraeritrocítico se dá por esquizogonia, com consequente formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos 3. Depois de ter uma massa parasitária considerável de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação em estágios sexuados, os gametócitos 4. merozoítos seguem seu desenvolvimento no mosquito vetor, dando origem aos esporozoítos HOSPEDEIRO DEFINITIVO - INSETO 3ª Fase do Ciclo Sexuado/Esporogônico 1. repasto sanguíneo → a fêmea do anofelino ingere as formas sanguíneas do parasito 2. somente os gametócitos serão capazes de evoluir no inseto 3. No intestino médio do mosquito, fatores como: 4. a temperatura inferior a 30° e o aumento do pH por baixa pressão de CO2 estimulam o processo de gametogênese (gametócitos se transformam em gametas extracelulares) 5. O gametócito feminino transforma-se em macrogameta 6. o gametócito masculino por um processo denominado exflagelação, dá origem a 8 microgametas 7. O microgameta fecundará o macrogameta, formando o ovo ou zigoto. 8. O zigoto passa a movimentar-se por contrações do corpo, sendo denominado oocineto 9. O oocineto atinge a parede do intestino médio, onde se encista passando a ser chamado oocisto (esporulado → cheio de esporozoítos) 10. Inicia-se a divisão esporogônica 11. ruptura da parede do oocisto, sendo liberados os esporozoítos formados durante a esporogonia 12. Os esporozoítos serão disseminados por todo o corpo do inseto através da hemolinfa, até atingir as glândulas salivares 13. Esses esporozoítos serão injetados no hospedeiro vertebrado juntamente com a saliva durante o repasto sanguíneo infectante. Considerações sobre o ciclo: · O pico de produção de gametócitos é observado tardiamente no P. Falciparum · infecções por P. Vivax , P. Malariae e P. Ovale, as formas sexuadas podem ser verificadas após as primeiras esquizogonias sanguíneas · O ciclo sanguíneo se repete sucessivas vezes: · P. Falciparum/P. Vivax/P. Ovale: a cada 48h · P. Malariae: a cada 72h · A fêmea do Anopheles precisa de sangue para amadurecer os folículos ovarianos e ovipor · O merozoíto entra na hemácia e se diferencia em trofozoíto (jovem→ maduro) · esquizogonia → formação do esquizonte (jovem → maduro) · Quando o esquizonte está maduro, significa que o parasito já dividiu TUDO o que precisava · O produto da esquizogonia são merozoítos. Habitat Diferente em cada etapa do ciclo · Ciclo Pré-eritrócito: derme, brevemente a corrente sanguínea e hepatócitos · Ciclo Eritrócito: hemácias · Ciclo Esporogônico: interior da matriz peritrófica, epitélio médio, hemolinfa e glândulas salivares. Transmissão · Inseto → se infecta com gametócitos · Homem → se infecta com esporozoítos · A transmissão ao homem: fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles, parasitadas com esporozoítos em suas glândulas salivares, inoculam essas formas infectantes durante o repasto sanguíneo. · fontes de infecção humana para os mosquitos: pessoas doentes, indivíduos assintomáticos, que albergam formas sexuadas do parasito (gametóforo). · transfusão sanguínea acidental (ex: laboratório) · A infecção congênita pode ocorrer com consequências graves para o feto ou recém-nascido. Nutrição · Trofozoítos e esquizontes sanguíneos: hemoglobina · outros componentes: glicose, metionina, biotina, certas purinas e pirimidinas, fosfato, ácido paraminobenzóico (PABA), riboflavina, ácido pantotênico · Organela responsável pela ingestão da hemoglobina: citóstoma Consequências · A digestão ocorre dentro de um vacúolo digestivo, com a formação do pigmento malárico ou hemozoína → pigmento amarelo produto do metabolismo da Hb. · A hemoglobina perde sua conformação e vira uma massa de pigmento malárico: · monômeros ou dímeros de ferriprotoporfiria IX (heme), metamoglobina e proteínas plasmodiais · Como arrebenta a hemácia, a hemozoína vai ao hipotálamo e dá a descarga, causando o pico de febre Imunidade Os mecanismos envolvidos na proteção contra a malária são complexos, mas podem ser divididos em 3 categorias: · Resistência Inata · Imunidade Inata · Imunidade Adquirida Resistência Inata/Imunidade Inata · Propriedade inerente ao hospedeiro · Independente de qualquer contato prévio com o parasito Resposta Imune Inata · Fundamental para o estabelecimento da resposta imune adquirida· Receptores Toll-like (TLRs) expressos na membrana plasmática de células dendríticas, macrófagos e células B estão envolvidos nesse processo. Resposta Imune Adquirida · Imunidade dependente de exposição contínua ao parasito, sendo perdida por indivíduos imunes após cerca de 1 ano, na ausência de exposição Patogenia · ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. · A passagem do parasito pelo fígado (ciclo exoeritrocítico) não é patogênica e não determina sintomas. · Destruição dos eritrócitos + liberação dos parasitos e seus metabólicos na circulação → provocam resposta do hospedeiro, determinando alterações morfológicas e funcionais no indivíduo Fenômenos patogênicos · Destruição dos eritrócitos parasitados · Presente em todos os tipos de malária · Em maior ou menor grau participam do desenvolvimento da anemia · Toxicidade resultante da liberação de citocinas · Exemplo: febre => resultado da liberação de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos, ativados por produtos do parasito · Citocinas possuem ação inibitória da gliconeogênese responsável pela hipoglicemia e a gravidade da malária na gestação · Sequestro de eritrócitos parasitados na rede capilar (caso específico P. falciparum) · Fenômeno de citoaderência: durante o desenvolvimento esquizogônico sanguíneo, o P. Falciparum induz uma série de modificações na superfície da célula parasitada, que permitem a sua adesão à parede endotelial dos capilares · formação de “rosetas” principalmente nas vênulas de órgãos vitais · representa um mecanismo de escape do parasito, evitando a sua destruição no baço. · Lesão Capilar por deposição de Imunocomplexos, no caso de P. Malariae · Lesão glomerular => produzida pela deposição de imunocomplexos e componentes nos glomérulos, alterando a sua permeabilidade e induzindo perda maciça de proteína Quadro Clínico · Período de Incubação (desde a infecção até o aparecimento de sintomas) => varia de acordo com a espécie: · P. Falciparum: 8 a 12 dias · P. Vivax: 13 a 15 dias · -P. Malariae: 28 a 30 dias · P. Ovale: 16 a 18 dias Fase Hepática · Sintomas iniciais: mal estar, cefaléia, cansaço e mialgia · Geralmente precede a clássica febre da malária · Não permite um diagnóstico clínico seguro: · P. Vivax: 1 semana · P. Malariae: 2 semanas · P. Falciparum: 1 semana Fase Eritrocítica · Acesso malárico (ataque paroxístico agudo) · Ruptura das hemácias ao final da esquizogonia · Febre com calafrio, calor e sudorese · Tempo: 15 min a 1 hora · Estado febril: 41o C ou mais · Possibilidade de recrudescências e recaídas Malária Não-Complicada · As manifestações clínicas na fase aguda são comuns às 4 espécies parasitos · Durante a fase aguda da doença é comum a ocorrência de herpes simples labial. · Os acessos maláricos são acompanhados de: · Intensa debilidade física · Náuseas · Vômitos · Palidez · Baço palpável · Anemia (apresenta-se em graus variáveis, sendo mais intensa em P. Falciparum) · Síndrome de Esplenomegalia tropical/ Esplenomegalia reativa da malária · Pode ocorrer em jovens quando altamente expostos à transmissão Sintomas: esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia e plaquetopenia (fígado e baço aumentam porque são muito solicitados => fazem hiperplasia) · Infecções não tratados pelo P. Malariae → síndrome nefrótica da malária → proteinúria acentuada, hipoalbuminemia e edema Malária Grave e Complicada · Manifestações mais graves da infecção: adultos não imunes, crianças e gestantes · Fatal no caso de P. Falciparum Quadros clínicos graves da doença: - Coma - Insuficiência renal aguda - Edema pulmonar agudo - Convulsões - Hiperpirexia - Distúrbio da consciência - Insuficiência hepática - Hemorragias - Hipoglicemia - Vômitos repetidos - Icterícia Malária Cerebral (P. Falciparum) · Ocorre em cerca de 2% dos indivíduos não imunes · Sintomas: · forte cefaléia, hipertermia, vômitos e sonolência · Em crianças ocorrem convulsões · Paciente evolui para um quadro de coma → pupilas contraídas e alteração dos reflexos profundos · Principal causa de morte na malária · Lembrar que é o P. Falciparum que faz o sequestro das hemácias que estão parasitadas. Epidemiologia Fatores Ecológicos: condições ambientais que podem favorecer ou dificultar a transmissão; · Sabe-se que a transmissão não ocorre em temperaturas inferiores a 16°C ou acima de 33°C e nem em altitudes superiores a 2.000 m, condições estas que impossibilitam o desenvolvimento do ciclo esporogônico no mosquito. · Condições que favorecem o ciclo de transmissão do parasito no inseto vetor são a alta umidade relativa do ar (acima de 60%) e temperaturas entre 20-30°C. Nessas condições, a esporogonia dura cerca de 1 semana e o mosquito pode sobreviver por muito tempo após se alimentar de um hospedeiro infectado apresentando gametócitos circulantes. Comportamento Humano: · a infecção é frequente entre garimpeiros e trabalhadores envolvidos em projetos agropecuários e de colonização. E ainda, em migrantes que se aglomeram na periferia das grandes cidades, desencadeando um processo de pauperização da doença (más condições de habitação). · EXEMPLO: periferia das cidades de Belém e Manaus. Diagnóstico da Malária O diagnóstico de certeza da infecção malárica só é possível pela demonstração do parasito, ou de antígenos relacionados, no sangue periférico do paciente. Diagnóstico Clínico · Febre com caráter intermitente (especialmente a intervalos de 48h a 72h) · Anemia do tipo hipocrômico (leucócitos normais ou baixos, monocitose) · Esplenomegalia dolorosa · Diagnóstico diferencial: febre tifóide, febre amarela, hepatite infecciosa, calazar, esquistossomose, leptospirose ou outros processos febris Diagnóstico Laboratorial · O diagnóstico da malária continua sendo feito pela tradicional pesquisa do parasito no sangue periférico, seja pelo método do esfregaço espesso (gota espessa) ou delgado de sangue. Estas técnicas baseiam-se na visualização do parasito pela microscopia ótica, após coloração com corante vital (azul-de-metileno ou Giemsa). · O exame da gota espessa é de baixo custo e de alta eficiência diagnóstica. Diagnóstico Imunológico · Métodos de diagnóstico rápido => áreas remotas ou em epidemias · Métodos imunocromatográficos com anticorpos monoclonais e policlonais Vantagens: · Diferenciar o P. Falciparum das demais espécies · Diferenciar fase aguda e convalescença da infecção Desvantagem: · Não permitir o diagnóstico de uma infecção mista Tratamento Tratamento das malárias causadas por P. Vivax/P. Ovale/P. Malariae · Devem ser tratadas com a cloroquina → ativa contra as formas sanguíneas e gametócitos (entretanto não possui ação contra o ciclo tecidual do P. Vivax e P. Ovale) · P. Vivax e P. Ovale → é necessária a associação de um esquizonticida tecidual → primaquina para atuar contra os seus hipnozoítos Tratamento da Malária causada pelo P. Falciparum · O P. Falciparum mostrou resistência à cloroquina · Segundo a OMS recomenda: · Artemeter + Lumefantrina · Artesunato + Mefloquina Tratamento da malária na gravidez · Risco substancial para a mãe, o feto e o recém-nascido · P. Falciparum → aborto espontâneo, prematuridade, baixo peso ao nascer e morte · materna (tratamento com quinina em monoterapia) · P. Vivax → tratamento com cloroquina que é droga segura na gravidez (o uso de primaquina como esquizonticida tecidual pode dar alto risco de hemólise fetal) Vetor Família Colicidae Subfamília Anophelinae Tribo Anophelini Gênero Anopheles Subgênero · Nyssorhynchus · Kertesia · As fêmeas desovam água limpa, salobra, doce, até no verticilo de bromélias · Hábitos noturnos ou crepusculares · Somente as fêmeas são hematófitas · Holometábolos → metamorfose completa Anopheles darlingi · Dois picos hematofágicos: crepúsculo vespertino e matutino · Grandes cursos d’água, florestas de interior e litoral · No Brasil, não tem no Nordeste e extremo sul → Alta altitude Anopheles aquasalis · Vetor primário em zonas áridas do NE, Amapá e Belém · Crepúsculo vespertino · Alta densidade apósperíodos chuvosos Profilaxia e Controle · Detecção oportuna de epidemia · Diagnóstico precoce para cortar o ciclo · Controle dos vetores · Avaliação regular da situação local · Medidas de proteção individual/profilaxia de contato: · Evitar aproximação às áreas de risco (hábitos noturnos) · Uso de repelentes nas áreas expostas do corpo · Telar portas e janelas e dormir com mosquiteiros · Uso de roupas compridas e claras · Medicamentos e alimentos como repelente natural (exemplo: alho) · Medidas coletivas: · Borrifação das paredes dos domicílios com inseticidas de ação residual · Uso de larvicidas · Saneamento básico: construção de estradas, açudes, pontes...
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