Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso Técnico em Agronegócio FORMAÇÃO TÉCNICA Introdução ao Agronegócio Sumário Introdução à Unidade Curricular –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6 Tema 1: Agronegócio ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9 Tópico 1: Importância do Agronegócio ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9 Tópico 2: Contextualização Histórica –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1 3 Tópico 3: Definição de Agronegócio ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––1 8 Tópico 4: Agricultura Familiar ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––2 1 Encerramento –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––2 4 Tema 2: Panorama Geral do Agronegócio no Brasil e no Mundo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––2 6 Tópico 1: Panorama Geral Mundial do Agronegócio ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––2 6 Tópico 2: Panorama Geral do Agronegócio Brasileiro –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––3 2 Encerramento ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 8 7 Tema 3: Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––8 9 Tópico 1: Definição de Desenvolvimento Sustentável –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––8 9 Tópico 2: Agronegócio Sustentável ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––9 3 Tópico 3: O Mercado de Orgânicos ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––9 3 Tópico 4: O Consumidor de Produtos Saudáveis –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––9 5 Tópico 5: O Novo Código Florestal –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––9 7 Encerramento ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––102 Tema 4: Desafios do Agronegócio ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––104 Tópico 1: Mudanças Climáticas ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––105 Tópico 2: O Mercado de Fertilizantes Brasileiro–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––108 Tópico 3: Consumo Mundial de Fertilizantes –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––110 Tópico 4: Histórico da Utilização de Tecnologia na Agricultura Brasileira –––––––––––––––––––––112 Tópico 5: Agricultura de Precisão –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––114 Tópico 6: Sementes geneticamente modificadas (GM) ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––115 Tópico 7: Logística ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––116 Encerramento –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––122 Referências Básicas –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––123 Referências Complementares ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––123 Introdução à Unidade Curricular Curso Técnico em Agronegócio 6 Introdução à Unidade Curricular A unidade curricular Introdução ao agronegócio foi desenvolvida a partir de uma sólida base teórica e prática para que você se capacite sobre os principais conceitos e desafios desse importante setor da economia brasileira e do mundo. Ao final desta unidade curricular, você deverá ser capaz de: • compreender as definições de agronegócio; • conhecer o cenário do agronegócio no Brasil; • analisar as interfaces do agronegócio brasileiro; • refletir sobre a Cadeia de Valor do agronegócio e seus desdobramentos sociais, econômicos e políticos dos pontos de vista nacional e internacional; • entender o agronegócio brasileiro e suas perspectivas futuras. Dessa forma, a presente unidade curricular, com carga horária de 75 horas, está organizada em quatro temas que se subdividem nos seguintes tópicos e sub-tópicos: Introdução à Informática 7 TEMA TÓPICO Tema 1: Agronegócio Tópico 1: Importância do Agronegócio Tópico 2: Contextualização Histórica Tópico 3: Definição de Agronegócio Tópico 4: Agricultura Familiar Tema 2: Panorama Geral do Agronegócio no Brasil e no Mundo Tópico 1: Panorama Geral Mundial do Agronegócio Tópico 2: Panorama Geral do Agronegócio Brasileiro 1: Soja 2: Café 3: Cana-de-Açúcar 4: Algodão 5: Arroz 6: Milho 7: Carnes 8: Fruticultura 9: Feijão Tema 3: Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Tópico 1: Definição de Desenvolvimento Sustentável 1. Breve Histórico Tópico 2: Agronegócio Sustentável Tópico 3: O Mercado de Orgânicos Tópico 4: O Consumidor de Produtos Saudáveis Tópico 5: O Novo Código Florestal 1.Evolução Histórica do Código Florestal Brasileiro Tema 4: Desafios do Agronegócio Tópico 1: Mudanças Climáticas Tópico 2: O Mercado Brasileiro de Fertilizantes Tópico 3: Consumo Mundial de Fertilizantes Tópico 4: Histórico da Utilização de Tecnologia na Agricultura Brasileira Tópico 5: Agricultura de Precisão Tópico 6: Sementes Geneticamente Modificadas (GM) Tópico 7: Logística Agronegócio 01 Introdução ao Agronegócio 9 Tema 1: Agronegócio Este primeiro tema é uma apresentação completa dos principais fundamentos do setor, elaborado para que você desenvolva as seguintes competências: • compreender e fazer uso dos conceitos de Agronegócio utilizados no curso; • conhecer as principais características do agronegócio brasileiro; • identificar as principais questões e debates sobre o agronegócio nos contextos brasileiro e mundial. Neste tópico, você aprenderá o que é o agronegócio. Para isso, primeiramente será feita uma breve contextualização histórica da agricultura na qual veremos a evolução do agronegócio ao longo dos anos. O objetivo é entender como o conceito de agronegócio precisa sempre ser analisado de maneira mais ampla e sistêmica. Tópico 1: Importância do Agronegócio Atualmente, muito se tem falado sobre a importância do agronegócio brasileiro. Você sabe por quê? Eventos específicos e alguns números podem ajudar nessa resposta. Um bom exemplo é o aumento considerável das exportações brasileira de grãos, em especial a exportação de soja para a China, uma das principais economias do mundo. No ano de 2013, as exportações do agronegócio registraram um novo recorde se comparado a anos anteriores, somando US$ 99,97 bilhões. Também foi registrado um aumento de cerca de 4% das importações, antingindo a cifra de US$ 17,06 bilhões. A economia brasileira agradece esse resultado, pois o setor teve um saldo positivo de US$ 82,91 bilhões, o que compensou o deficit de US$ 80,35 bilhões dos outros setores da economia (DEAGRO/FIESP,2013). Curso Técnico em Agronegócio 10 O quadro a seguir mostra a Balança Comercial do Brasil no biênio 2012-2013. Repare que o agronegócio, ao contrário dosoutros setores, fechou o período com saldo positivo. Balança Comercial É a parte do balanço de pagamentos que registra a diferença entre exportações e importações de mercadorias de um país. É calculada por meio da análise do valor total das exportações, subtraindo-se dele o valor referente às importações de bens promovidas em determinado período. Balança Comercial Brasileira (2012 e 2013 , em US$ bilhões) Exportação Importação Saldo 2012 2013 2012 2013 2012 2013 Agronegócio 95,8 99,97 16,4 17,06 79,4 82,91 Demais setores 146,8 142,2 206,7 222,55 -59,9 -80,35 Total Brasil 242,6 242,2 223,1 239,6 19,5 2,56 Fonte: MDIC Observe que no período de 2012 e 2013 ocorreu um aumento das exportações do agronegócio, que passaram de 95,8 bilhões de dólares para 99,97 bilhões de dólares. Veja também que o saldo da Balança Comercial foi superavitário passando de 79,4 bilhões de dólares em 2012, para 82,91 bilhões de dólares em 2013. Superavit Situação em que o valor total das exportações de certo país supera o valor total das importações realizadas por este mesmo país, em dado período de tempo. Agora, observe os números dos demais setores da economia brasileira. Percebe-se que nesses setores houve um deficit entre importação e exportação. Não fosse o resultado positivo do agronegócio, o resultado da Balança Comercial brasileira seria negativo. Esses dados comprovam a importância do agronegócio para a economia brasileira e o porquê de tanto se falar a respeito desse setor. Deficit na Balança Comercial Situação em que o valor total das importações de certo país supera o valor total das exportações realizadas por este mesmo país, em dado período de tempo. Introdução ao Agronegócio 11 Já sabemos que o Brasil é um país com grandes extensões territoriais e, portanto, diversificado em relação à sua terra – o perfil da produção agrícola difere de uma região para outra. Por exemplo, no Centro-Oeste predominam culturas como soja e algodão. Ambas são produzidas como commodities, em grande escala de produção e direcionadas para a exportação. Commodity Produtos padronizados e não diferenciados, cujo preço é, normalmente, formado em bolsas de mercadorias no próprio país ou no exterior. Perfil da Produção Agrícola Brasileira Região Número de produtores Culturas Perfil Uso da tecnologia Centro-Oeste e MAPITOBA 25.000 Algodão, soja e cana-de-açúcar Grandes produtores e tradings Alta tecnologia Sudeste 250.000 Cana,café, milho, horticulturas e vegetais Pequenos médios produtores, grandes usinas de açúcar e álcool e indústria processadora de suco de laranja Tradicional e empresarial Sul 600.000 Soja, milho, arroz e trigo Pequenos e médios produtores Tradicionais e profissionais Fonte:IBGE (2011) Curso Técnico em Agronegócio 12 Note que na região Sul o perfil é outro. Observa-se o predomínio de pequenos e médios produtores, em áreas menores de produção e com o uso mais tradicional da tecnologia. As principais culturas da região Sul são o arroz, o trigo, o milho, e frutas, como a uva e os citros. É preciso considerar, também, as propriedades com pecuária de corte e de leite, e a suinocultura, ambas baseadas na agricultura familiar. Depois de ver rapidamente como se divide a produção agrícola em certas regiões do Brasil e os números que as constituem, fica fácil entender porque atualmente o país é grande produtor e exportador de soja, suco de laranja, açúcar, café e outros. Observe a posição brasileira na produção e na exportação mundial de produtos agrícolas, no período de 2013 a 2014. Posição brasileira na produção e exportação mundial de produtos agrícolas (2013/14) Produtos Produção Exportação % da produção exportada Açúcar 1º 1º 48,6% Café 1º 1º 26,8% Suco de laranja 1º 1º 79,9% Soja em grão 2º 1º 40,8% Carne bovina 2º 1º 20,2% Carne de frango 3º 1º 34,4% Carne suína 4º 4º 8,5% Óleo de soja 4º 2º 15,8% Milho 3º 2º 18,1% Fonte:USDA, Elaboração:MAPA As informações acima foram elaboradas pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-MAPA, construídas com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos-USDA. Elas comprovam que o Brasil é um grande produtor e exportador de commodities agrícolas, como por exemplo, suco de laranja concentrado e congelado, café e açúcar. Esta liderança em relação ao mercado mundial é conseguida devido à eficiência do produtor brasileiro, aliado ao aumento de tecnologia nas propriedades e aos incentivos governamentais. d Comentário do autor O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos-USDA divulga informações de produção, importação, exportação, consumo etc., de diversos produtos agrícolas do Brasil e do mundo. Os dados divulgados pelo USDA são tomados como referência por grande parte das empresas, dos bancos, dos produtores e demais participantes do agronegócio brasileiro e do mundial. Introdução ao Agronegócio 13 Tópico 2: Contextualização Histórica De onde surgiu o conceito atual de agronegócio? Você sabe como surgiu o agronegócio? Tudo começou com a agricultura. Há milhares de anos os homens viviam em bandos, percorrendo lugares distantes, sempre em busca de alimentos ofertados pela natureza e, também, movidos pela necessidade de caça e pesca. Durante essas jornadas, vivenciava-se tanto períodos de grande fartura quanto períodos de total escassez devido às condições climáticas adversas. Com o passar do tempo, esses homens entenderam que, se eles lançassem as sementes ao solo, elas germinariam, cresceriam e dariam frutos que serviriam para a sua alimentação. Além disso, eles descobriram que era possível domesticar os animais e que eles poderiam ajudá-los em suas tarefas no campo (ARAÚJO, 2010). Podemos considerar que esse é o início da agropecuária, o que permitiu que o homem se fixasse em lugares preestabelecidos, deixando de se deslocar por grandes distâncias em busca de comida, um marco significativo na história da humanidade. Todo o necessário para a produção de subsistência estava disponível nesses espaços fixos, ainda que na época fossem muito precárias as condições em termos de infraestrutura, o que impossibilitava, por exemplo, a conservação dos alimentos. Avançando séculos e mais séculos nessa história, com a diversificação da produção de várias culturas, as criações de animais e o desenvolvimento tecnológico, foi ocorrendo a integração das atividades agropecuárias com as atividades industriais (ARAÚJO, 2010). E como será que se desenvolveu essa integração e onde estamos hoje nesse importante capítulo da história do homem e do agronegócio? Evolução da agricultura Para contar esta parte recente da historia da agricultura, veremos quatro marcos temporais: as décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. Curso Técnico em Agronegócio 14 1960 – A modernização da agricultura Um exemplo de como era o processo agrícola no Brasil na década de 1960 são as propriedades rurais de Minas Gerais, que produziam café, milho, e cana-de-açúcar, e também criavam porcos, e gados de corte e de leite. Nessas propriedades, o leite era utilizado para a produção de queijos e manteiga; o algodão, para o tecido, que se transformava em roupas; e, ainda, da cana-de-açúcar se faziam a cachaça e o melaço. Já a segunda metade da década de 1960 é marcada por um processo de modernização da agricultura brasileira, na qual se intensificam as relações entre a agricultura e a indústria (MAZALLI, 2000). Durante os anos seguintes, com a grande evolução socioeconômica e tecnológica que ocorreu nos diversos setores da economia, iniciou-se um processo de especialização em determinadas atividades, o que fez com que as propriedades rurais se tornassem dependentes de insumos e serviços que elas mesmas não eram mais capazes de produzir. Parte disso ocorreu, também, em função de um forte movimento de êxodo rural, já que a cidade se tornou atrativa com a oferta de empregos e as propriedades rurais foram perdendo sua autossuficiência (ARAÚJO, 2010). Aqui temosum marco fundamental na história do desenvolvimento agrícola brasileiro. Com essa evolução agrícola, o termo “agricultura” deixou de abranger a complexidade do setor. “Já não se tratava mais de propriedades autossuficientes, mas de todo um complexo de bens, serviços e infraestrutura que envolve agentes diversos e interdependentes” (ARAÚJO, 2010). O conceito de setor primário, ou de agricultura, perdeu sentido, pois passou a envolver muitos setores e não era mais classificado como rural, agrícola, ou primário (ARAÚJO, 2010). Introdução ao Agronegócio 15 Nesse período, o governo brasileiro atuou fortemente concedendo o crédito agrícola e fornecendo financiamentos com taxas de juros subsidiadas, sendo os principais objetivos: J Modernização da agricultura Incentivo à produção de alimentos % Administração dos preços agrícolas. A modernização da agricultura necessitava de investimentos em tecnologia, pois a estrutura agrária existente era arcaica. Dessa forma, em 1965, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi estruturado, com o objetivo de acelerar esse desenvolvimento tecnológico na produção agrícola nacional. Em suma, a década de 1960 é considerada como uma referência no processo de modernização da agricultura brasileira, pois, nesse período, delineou-se um novo modo de produção agrícola, ocorrendo um aumento das relações entre agricultura e indústria, no qual a produção agrícola passou a depender dos insumos que recebia de determinadas indústrias. 1970 – Investimentos e crédito facilitado para a agricultura Alguns anos mais tarde, já na década de 1970, os financiamentos foram facilitados e proporcionaram maior capitalização aos produtores e às agroindústrias de modo geral. Esse Curso Técnico em Agronegócio 16 fato acabou prejudicando os pequenos produtores no mercado e favorecendo os médios e grandes produtores com maior poder de capitalização. O crédito fácil para os agricultores impulsionou a expansão de culturas de larga escala e a utilização de grandes áreas em uma mesma propriedade, devido à mecanização e ao aumento do consumo de insumos agrícola, ocorrendo também um incentivo à exportação (KAGEYAMA ET AL., 1987; GRAZIANO DA SILVA, 1998; RAMOS, 2007). É importante lembrar que, no período entre 1950 e 1975, o Estado Brasileiro promoveu a política de Substituição de Importações (SI), pela qual se implantaram as indústrias de insumos e as máquinas para a agricultura no território brasileiro. 1980 – Crise mundial e seus impactos na agricultura Nos anos 1980, o mundo e o Brasil passavam por uma forte crise econômica, e nesse período foi realizada a Reforma da Política Agrícola Brasileira, que levou a uma drástica redução do crédito oficial do SNCR. Com a crise dos mecanismos tradicionais de apoio ao setor (crédito governamental, política de garantia de preços mínimos, estoques reguladores etc.), o Estado passou a priorizar ações estratégicas dirigidas a segmentos específicos, como: • as linhas especiais para agricultores familiares; • o programa de reforma agrária; • a solução de endividamento de produtores e cooperativas; • os fundos regionais de investimento. Introdução ao Agronegócio 17 1990 – Neoliberalismo e agricultura Durante os anos 1990, o Brasil aderiu a uma polí- tica neoliberal, e nesse período ocorrem vários avanços tecnológicos que permitiram a estrutu- ração dos agentes necessários para atender aos mercados interno e externo. Houve uma política de incentivo às importações durante o Governo Collor o que gerou a necessidade de a indústria local se modernizar, para se tornar competitiva em relação aos produtos importados. O Informações extras O termo “neoliberalismo” foi definido por Perry Anderson em 1995 como um fenômeno diferente do liberalismo clássico do século XVIII, e a adoção desse termo ocorreu nos países capitalistas da Europa e nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial. Neste período há um aumento da ação dos capitais privados no campo, que proporcionam um aumento do financiamento privado da agricultura, substituindo em parte o crédito do governo. Em paralelo cresce os mecanismos privados de financiamento para a agricultura vindos das agroindústrias, tradings e de outros agentes financeiros. Tradings Empresas que financiam o produtor nas atividades de produção e que geralmente recebem produtos, como, por exemplo, os grãos, em troca da disponibilização ao produtor de recursos financeiros, assistência técnica e insumos. Assim, grandes empresas multinacionais chegaram ao Brasil e compraram fábricas que estavam em operação. ' Dica O agronegócio da soja no Brasil cresceu a partir da Lei Kandir (1996) que isenta de ICMS produtos primários e semi-elaborados destinados à exportação. Essa lei foi um marco no incentivo à produção agrícola do país, contribuindo fortemente com o aumento da produção e a expansão da cultura em diversas regiões do Brasil. Curso Técnico em Agronegócio 18 Tópico 3: Definição de Agronegócio O conceito de agronegócio vem do inglês agribusiness, proposto por Davis e Goldberg, em 1957. Ao estudar os Sistemas Agroindustriais (SAG), os autores desenvolveram uma ferramenta para analisar a importância de cada elo do agronegócio e concluíram que um dependia do outro. Isso levou à definição de agribusiness como: A soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, e do armazenamento, do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas e dos itens produzidos a partir deles. O conceito de agribusiness passou a ser difundido no Brasil somente a partir da década de 1980; e foi apenas a partir da década de 1990 que a tradução do termo para o português (agronegócio) passou a ser aceita e utilizada no país (ARAÚJO, 2010). No conceito de agronegócio, também são consideradas as exigências do consumidor final, que muitas vezes é o responsável por decisões dentro da cadeia produtiva. Atualmente, o consumidor está cada vez mais exigente, procurando consumir produtos que tenham qualidade garantida pelo seu fabricante. Podemos citar como exemplo, a questão da carne bovina. O consumidor, ao exigir uma carne com qualidade melhor ou da qual o animal a ser abatido sofra o menos possível, está influenciando diretamente na produção da carne. Se o frigorífico não atender a essas exigências, poderá perder mercado. Alguns países importadores como os da União Europeia, exigem que toda a carne que for exportada pelo Brasil seja certificada e rastreada desde o início do processo de produção, que ocorre na propriedade rural. Ou seja, é uma tendência do mercado mundial da qual não se pode ficar para trás. Introdução ao Agronegócio 19 Sistema agroindustrial Consumidor Varejista InstitucionalIndustrial ESTRUTURAS DE COORDENAÇÃO Mercado Mercado de Futuros Programas governamentais Agências governamentais Cooperativas Joint Ventures Integração - Contratual Vertical Agências de Estatística Trendings Filmes Individuais INFRA-ESTRUTURA DE APOIO Trabalho Crédito Transporte Energia Tecnologia Propaganda Armazenagem Outros Serviços Processador Produtor Fornecedor Produtor Matéria-Prima Fonte: SHELMAN, 1991 apud ZYLBERSZTAJN, 2000, p. 6. Ao analisarmos uma cadeia produtiva, é preciso ter uma visão sistêmica; todos os elos estão interligados e são monitorados pelo governo, sob a pressão exercida pelos consumidores. Observe com atenção à figura anterior pois ela exemplifica a visão sistêmica do agronegócio. Repare que há vários elementos interligados e interdependentes, como os dos fornecedores de insumos agropecuários (fertilizantes, defensivos, rações, crédito e sementes), dos produtores rurais, dos processadores, dos transformadores, dos distribuidores e das revendas de produtos agropecuários. Devemos considerar todos aqueles que estão envolvidos antes da produção, durante a produção e no fluxo dos produtos agrícolas até chegar ao consumidor Também fazemparte desse complexo os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, como o governo, os mercados, e as entidades comerciais, financeiras e de serviços (MENDES; PADILHA JUNIOR, 2007, p. 48). E você? A qual parte desse sistema pertence? Ao analisar novamente a figura anterior, observamos que existe uma interligação entre os elementos da cadeia produtiva, havendo a necessidade de uma coordenação da cadeia, Curso Técnico em Agronegócio 20 pois como todos os elementos estão relacionados, caso ocorra algum problema em algum deles, toda a cadeia será afetada. Os sistemas agroindustriais assemelham-se às redes de relacionamento, sendo que nestas cada agente tem contato com um ou mais agentes. O Informações extras Podemos citar como exemplo um caso de adulteração do leite ocorrido no Rio Grande do Sul que causou impactos em todos os elos da cadeia produtiva. Acesse no AVA a reportagem que foi publicada em um jornal do RS para saber mais sobre o assunto. Pode-se, também, definir o agronegócio de uma maneira mais esquemática de modo a facilitar sua compreensão. Sendo assim, podemos considerá-lo baseado em cinco setores principais (MENDES,2007): • fornecedores de insumos e bens de produção; • produção agropecuária; • processamento e transformação; • distribuição e consumo; • serviços de apoio. Os principais setores do agronegócio Fornecedores de insumos e bens de produção Produção agropecuária Processamento e ransformação Distribuição e consumo Serviços de apoio Sementes Calcário Fertilizantes Rações Defensivos Produtos veterinários Combustíveis Tratores Colheitadeiras Implementos Máquinas Motores Produção animal Lavouras permanentes Lavouras temporárias Horticultura Silvicultura Floricultura Extração vegetal Indústria rural Alimentos Têxteis Vestuário Calçados Madeira Etanol Papel e papelão Fumo Óleos essenciais Restaurantes Hotéis Bares Padarias Feiras Supermercados Comércio Exportação Agronômicos Veterinários Pesquisa Bancários Marketing Vendas Transporte Armazenagem Portos Bolsas Seguros Fonte: Mendes (2007), baseado em ABAG Introdução ao Agronegócio 21 ` Atenção Para analisar um Sistema Agroindustrial - SAG é preciso seguir as duas orientações abaixo. 1. Ter uma visão sistêmica do agronegócio ou seja, jamais um elo pode ser analisado separadamente. Por exemplo, no SAG da laranja é preciso analisar o elo dos insumos de produção, como fertilizantes, o elo do fornecedor de matéria-prima, o elo da produção de laranja e, depois, o elo da indústria processadora de suco de laranja. Também devem ser analisados os elos da distribuição (que farão a venda do suco) e o consumidor. 2. Dentro dessa perspectiva, é preciso analisar as ações do governo e das instituições responsáveis pela comercialização (como as bolsas de mercadorias), a logística, a tecnologia, a pesquisa etc. A ação de cada elo do SAG influencia outros elos e sofre influência deles. Tópico 4: Agricultura Familiar Após aprender a respeito dos fatores mais mercadológicos sobre o agronegócio, é preciso considerar outro aspecto: a importância do papel da agricultura familiar no desenvolvimento do país em função da relevância de questões como desenvolvimento sustentável, geração de renda e de emprego, segurança alimentar e desenvolvimento local. A expressão “agricultura familiar” passou a ser utilizada no Brasil a partir de meados da década de 1990. Nesse período, ocorreram dois eventos que impactaram social e politicamente o meio rural, em especial a região Centro-Sul (SCHNEIDER, 2006). Curso Técnico em Agronegócio 22 O primeiro deles refere-se à questão política, pois, nesse período, ocorreu a mobilização de diversos movimentos sociais no campo liderados pelo sindicalismo rural ligado à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. Esses movimentos produziram diversas formas de manifestação (que ocorrem até hoje, basta acompanhar os noticiários), como o “Grito da Terra”, e os principais motivos eram (SCHNEIDER, 2006): • a falta de crédito do governo para o meio rural; • a queda dos principais produtos agrícolas de exportação, além de outras questões econômicas. Como resposta às manifestações sociais da década de 1990, foi criado o Programa Nacional de Agricultura Familiar – PRONAF com o objetivo principal de prover crédito agrícola e apoio institucional às categorias de pequenos produtores rurais, que estavam sendo preteridas das políticas públicas desde a década de 1970, e por conta disso não estavam conseguindo se manter na atividade (SCHNEIDER, 2006). O PRONAF afirmou a agricultura familiar no cenário político e social do Brasil. A agricultura familiar, então, pode ser definida a partir de três características principais (INCRA,1995): g A administração da unidade produtiva e os investimentos nela realizados devem ser feitos por indivíduos da mesma família; A maior parte do trabalho deve ser realizada pelos membros da família; A propriedade dos meios de produção, mas nem sempre a terra, deve pertencer à família e deverá ser feita no interior da propriedade a transmissão desses meios de produção caso ocorra o falecimento ou a aposentadoria dos responsáveis No Brasil, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO, 84,4% dos estabelecimentos rurais pertencem à agricultura familiar, que emprega quase 75% da mão de obra do setor agropecuário, mas somente 24,3% das áreas ocupadas por estabelecimentos agrícolas são administradas por pequenos proprietários. A produção oriunda da agricultura familiar é direcionada principalmente para o mercado interno, sendo responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos no país: cerca de 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite e 46% do milho (SALCEDO, 2014). São números altamente relevantes para todo o abastecimento interno, concorda? Introdução ao Agronegócio 23 De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, a agricultura familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84% da mandioca, 67% do feijão; 54% do leite; 49% do milho, 40% das aves e dos ovos, e 58% dos suínos. Ao analisarmos esses números, observamos a importância da agricultura familiar, que, nos últimos anos, passou a ser um setor prioritário para o governo federal. As políticas públicas brasileiras de incentivo ao pequeno produtor são consideradas um exemplo pela FAO. De acordo com Salcedo (2014): O incentivo à agricultura familiar contribui para reduzir a pobreza extrema, dinamizar os mercados locais, incentivar a permanência de agricultores na sua comunidade e também, em nível nacional, para aumentar a segurança alimentar, reduzindo a vulnerabilidade do país ao mercado global e ao choque de preços. A agricultura familiar ganhou uma importância tão grande que o ano de 2014 foi escolhido pela FAO para ser o Ano Internacional da Agricultura Familiar. “Com o aumento dos preços dos alimentos e as mudanças climáticas, percebemos que o modelo de grandes fazendas não é um modelo para ser seguido no futuro”, afirma Salcedo (2014). O modelo da agricultura familiar é importante para garantir a segurança alimentar e, também, a produção de alimentos, principalmente em um contexto drástico de mudanças climáticas. Curso Técnico em Agronegócio 24 Mas como é a produção dentro desse sistema mais familiar? Na maioria das propriedades de agricultores familiares, são plantadas grandes variedades de produtos, além de serem utilizadas sementes e espécies tradicionais existentes há centenas de anos, consideradas mais resistentes às pragas e às mudanças climáticas (SALCEDO, 2014). De acordo com dados do MDA, o segmento da agricultura familiar conta com mais de 4,3 milhões de unidades produtivas, que correspondem a 84% do número de estabelecimentos rurais brasileiros. Segundo a FAO, considerando apenas os países do MERCOSUL, o segmento da agriculturafamiliar emprega diretamente cerca de 10 milhões de pessoas. No mundo, a Organização das Nações Unidas estima que existam cerca de 500 milhões de pequenas propriedades, sendo que, na América Latina e no Caribe, elas representam cerca de 80% das propriedades agrícolas e produzem mais de 60% dos alimentos consumidos na região, além de empregar mais de 70% da mão de obra do setor. A grande concentração de agricultores familiares está na Ásia: o continente concentra 87% dos pequenos agricultores do mundo – a China possui 193 milhões, e a Índia, 93 milhões. Na África, a agricultura familiar é responsável pela produção de 80% dos alimentos consumidos no continente. Encerramento Neste tema, você pôde aprender os conceitos mais gerais acerca do agronegócio. Essa primeira parte foi fundamental para lhe dar base não somente para avançar nos demais temas, como também para aplicar em sua jornada prática. Como ponto a se destacar até agora, temos a importância das políticas públicas e econômicas do Brasil para o desenvolvimento do agronegócio no país Panorama Geral do Agronegócio no Brasil e no Mundo 02 Curso Técnico em Agronegócio 26 Tema 2: Panorama Geral do Agronegócio no Brasil e no Mundo Neste segundo tema, analisaremos dados dos agronegócios mundial e brasileiro, como as produções agrícola e pecuária, para que você, ao final deste tema, desenvolva as seguintes competências: • identificar as principais questões e debates acerca do agronegócio nos contextos brasileiro e mundial; • conhecer as principais cadeias produtivas brasileiras, assim como as suas perspectivas futuras; • comparar dados do setor agrícola nacional e do internacional. Tópico 1: Panorama Geral Mundial do Agronegócio Introdução ao Agronegócio 27 O agronegócio tem uma enorme importância na economia brasileira e na mundial. Como já exposto no tema anterior, devemos sempre analisá-lo de uma maneira sistêmica. Por isso, é importante ressaltar que a produção agropecuária é apenas uma parte do conceito, que envolve também o setor de insumos e equipamentos para a produção, o processamento da matéria-prima, a industrialização, o transporte, a armazenagem e a distribuição até chegar ao consumidor final. Assim, para termos uma dimensão do que isso representa no mundo, serão apresentados a seguir alguns dados referentes aos principais produtos que são produzidos e comercializados, assim como à produção agrícola e aos estoques mundiais de grãos. A figura abaixo mostra a produção agrícola e os estoques mundiais de grãos, na qual podemos observar que, desde 2000, a produção de grãos vem aumentando, mas os estoques oscilam sempre na faixa de 500 milhões de toneladas. Produção agrícola e estoques mundiais de grãos 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Produção Estoques Finais M ilh õe s de to ne la da s 20 00 /0 1 20 01 /0 2 20 02 /0 3 20 03 /0 4 20 04 /0 5 20 05 /0 6 20 06 /0 7 20 07 /0 8 20 08 /0 9 20 09 /1 0 20 10 /1 1 20 01 1/ 12 20 12 /1 3 Fonte: USDA Mas por que os números relativos aos estoques não variam muito? Podemos dizer que eles estão, inclusive, diminuindo. Isso vem ocorrendo em função do aumento da demanda por grãos, que pode ser justificado por fatores como o crescimento da população mundial, por exemplo. No entanto, a produção de grãos não acompanha esse ritmo devido a fatores climáticos adversos. Os principais grãos produzidos na safra 2012/2013 foram o arroz, o milho, a soja, o trigo, a cevada e o sorgo. A imagem a seguir apresenta o percentual de produção de cada um desses produtos. Curso Técnico em Agronegócio 28 Principais produtos (Safra 2012/2013) Arroz Milho Soja Trigo Outros (aveia, centeio, cevada e trigo) 20% 33% 11% 27% 9% Fonte: USDA Como lei básica do mercado, quando os estoques começam a diminuir muito, os preços no mercado internacional de grãos aumentam, prejudicando em maior escala a população dos países menos favorecidos. Para exemplificar melhor esse cenário, a seguir serão abordadas algumas das questões mais importantes no cenário internacional e que afetam todos os países, incluindo o Brasil. As questões a serem discutidas estão relacionadas ao protecionismo dos países ricos, como os subsídios e as barreiras fitossanitárias. d Comentário do autor Os subsídios agrícolas são incentivos pagos (em valores) pelo governo para os agricultores de seu país, sendo que uma das principais motivações pelo pagamento é a compensação dos preços de mercado inferiores ao custo de produção. Os subsídios são uma ajuda do governo para que os agricultores garantam uma renda mínima e também funcionam como incentivo ao aumento da produção (ARAÚJO, 2010). São considerados exemplos de subsídios a sustentação de preços mínimos ou de renda, a contribuição financeira de um governo ou algum órgão público em que há transferência direta de recursos (concessões, empréstimos e títulos), o fornecimento de bens e serviços de infraestrutura geral, a aquisição de bens etc. (ICONE, 2014). Como visto no tema anterior, na década de 1970 no Brasil, os agricultores receberam subsídios oferecidos pelo governo na forma de financiamentos bancários oficiais em um período no qual havia crédito abundante do governo, com uma parcela de subsídios incluída. Esse tipo de financiamento foi muito criticado, pois priorizou a liberação de crédito para os grandes proprietários de terra em detrimento dos pequenos. O governo brasileiro também forneceu subsídios para o setor do trigo, em especial aos moinhos, com o objetivo de limitar os preços pagos pelos consumidores. No início da década Introdução ao Agronegócio 29 de 1980, o governo federal passou a restringir o crédito à agricultura, levando à extinção dos subsídios na década de 1990 (ARAÚJO, 2010). Após esse breve histórico, é importante refletir sobre questões que são permanentes no universo da agricultura. Por exemplo: • A instabilidade de preços; • Os riscos climáticos e sanitários; • Fatores de ordem histórica, cultural e política; • Essencialidade dos produtos agropecuários destinados à alimentação. Todos esses aspectos levam os países a adotarem uma série de políticas agropecuárias de proteção aos seus agricultores. Além de assegurar renda aos produtores, o protecionismo agropecuário objetiva garantir a segurança alimentar e, muitas vezes, a soberania alimentar: ter alimentos suficientes para todos e, de preferência, produzidos no próprio país (ALMEIDA, 2009). Farm Bill é o nome popular dado à legislação agrícola dos EUA, geralmente renovada a cada quatro anos, que possui como objetivo consolidar em um único documento os programas de política agrícola do Departamento de Agricultura dos EUA – USDA. A Farm Bill aprovada em maio de 2008 teve gastos com a agricultura de até US$ 307 bilhões, e os Estados Unidos forneceram subsídios para diversas culturas, como a soja e o milho, levando ao aumento da produção. Curso Técnico em Agronegócio 30 A estimativa é de que o Brasil perca cerca de 700 a 800 milhões de dólares com esses subsídios americanos, o que também afeta os preços internacionais, já que os EUA são o maior mercado e a sua produção excedente é exportada (ALMEIDA, 2009). Como visto, a Farm Bill fornece bilhões de dólares em subsídios, cuja maior parte vai para grandes agronegócios produtores de milho, soja, trigo, algodão e arroz (os dois primeiros são usados na alimentação do gado). Ou seja, esses subsídios “agrícolas” acabam indo para a produção de carne. Dessa forma, agricultores que produzem frutas e vegetais recebem menos de 1% de apoio governamental. A União Europeia também fornece grandes subsídios para os seus agricultores – estima-se que sejam fornecidos cerca de 70 bilhões de euros por ano, sendo que 45% do orçamento da UE são destinados a subsídios agrícolas. A Europa é, simultaneamente, um importante exportador e o maior importador de produtos alimentares do mundo. O setor agrícola europeu utiliza métodos de produçãoseguros, limpos e ecológicos, e fornece produtos de qualidade que satisfazem às exigências dos consumidores. O seu papel não consiste apenas em produzir produtos alimentícios, mas também em garantir a sobrevivência do espaço natural enquanto espaço para se viver, trabalhar e visitar (COMISSÃO EUROPEIA, 2014). A Política Agrícola Comum europeia – PAC é definida e aplicada pelos governos dos Estados- membros. O seu objetivo é apoiar os rendimentos dos agricultores ao mesmo tempo em que os incentiva a produzir produtos de alta qualidade, de acordo com as exigências do mercado, e a procurar novas oportunidades de desenvolvimento, nomeadamente fontes de energia renováveis mais sustentáveis (COMISSÃO EUROPEIA, 2014). Introdução ao Agronegócio 31 A política agrícola da União Europeia está em constante evolução. Há 50 anos, a sua principal prioridade era produzir alimentos suficientes em uma Europa que emergia de uma década de escassez causada pela guerra, mas o apoio à produção em grande escala e a compra de excedentes para garantir a segurança alimentar pertencem ao passado. ` Atenção O objetivo da política da UE é permitir que os produtores de todos os alimentos sejam capazes de sobreviver, pelos seus próprios meios, no mercado da UE e nos mercados mundiais. Sua pretensão é fazer a economia girar com foco na produção local. Cerca de um terço da renda dos agricultores europeus provém dos subsídios, e isso faz com que eles produzam mais e tenham preços mais competitivos no mercado internacional (COMISSÃO EUROPEIA, 2014). A renovação da PAC europeia, em vigor de 2014 a 2020, está gerando uma expectativa de redução dos subsídios devido ao alto preço das commodities no mercado internacional e, também, à crise dos países da zona do euro. O Brasil não tem condições de garantir os mesmos níveis de subsídios de países como EUA e da UE, e convive no mercado internacional pautado por preços internacionais gerados por essas nações. O país é afetado principalmente nos setores da cana-de-açúcar e da pecuária de corte: • cana-de-açúcar: o nosso mercado será atingido se eles aumentarem os incentivos para a produção de açúcar de beterraba; • pecuária de corte: excessivas exigências de rastreabilidade, e o mercado europeu paga por qualidade, dificultando ainda mais as exportações para lá. A Link Para saber mais sobre protecionismo da União Europeia, leia uma reportagem disponibilizada no AVA. http://www.youtube.com/watch?v=gUY2Lg7t4FE. Como e onde o Brasil e outros países podem se defender do protecionismo nas nações mais ricas? Essa resposta está relacionada com a Organização Mundial do Comércio – OMC, entidade internacional criada em 1995 para coordenar e administrar questões referentes ao comércio mundial. O seu principal objetivo é apoiar os produtores de bens e serviços, assim como os exportadores e os importadores no desenvolvimento de suas atividades. A OMC é a organização à qual os países participantes recorrem para a resolução de problemas comerciais uns com os outros. A entidade possui um acordo agrícola, que é um conjunto de normas criado com o objetivo de regularizar os níveis de subsídios e protecionismos do setor agrícola. Curso Técnico em Agronegócio 32 Por meio desse acordo, pretende-se (ICONE, 2014): • fornecer maior transparência dos mercados agrícolas; • promover a liberalização gradual do comércio pela redução das barreiras tarifárias e não tarifárias; • corrigir distorções de preços e equiparação das condições de concorrência, com a redução dos subsídios domésticos e nas exportações. A título de exemplo prático, veja algumas ações já realizadas pelo Brasil na OMC: Suco de Laranja: a disputa entre Brasil e EUA teve início na OMC em 2009 e se encerrou em junho de 2011. O Brasil saiu vitorioso, e os norte-americanos desistiram de recorrer da decisão favorável que questionou medidas antidumping impostas ao suco de laranja brasileiro. Algodão: o Brasil questiona os subsídios pagos aos produtores americanos de algodão, considerados ilegais pela OMC. Mais uma vez, saindo-se vitorioso, devendo receber dos EUA US$ 147 milhões anuais. O valor do fundo do algodão foi aprovado pelos dois países, mas foi bloqueado em 2012 pelo Congresso norte-americano. Como resposta, o Brasil ameaçou retaliar na área de propriedade intelectual, o que já foi autorizado pelo órgão de solução de controvérsias da OMC. Carne Bovina: o setor privado brasileiro decidiu pedir ao governo a abertura de queixa contra a União Europeia na OMC por discriminação no caso das exportações brasileiras dentro da Cota Hilton. A Cota Hilton é constituída de cortes especiais do quarto traseiro de novilhos precoces, e seu preço no mercado internacional corresponde de três a quatro vezes o preço da carne comum. A cota anual de 65.250 toneladas é fixa, e a ela somente têm acesso os países credenciados: Argentina, Austrália, Brasil, Uruguai, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá e Paraguai. A tarifa extracota é de 12,8% mais 303,4 euros por 100 kg de carne. A cota brasileira é de 10 mil toneladas anuais Tópico 2: Panorama Geral do Agronegócio Brasileiro Nesta etapa, você conhecerá um perfil aprofundado sobre o agronegócio nacional. O tópico foi dividido por tipo de commodity, bem como pelas respectivas informações sobre sua cadeia, seu diagnóstico e suas perspectivas futuras. 1: Soja A soja é a principal oleaginosa produzida no mundo, sendo utilizada como commodity na produção de óleo, na formulação de rações e na produção de carnes. A imagem a seguir Introdução ao Agronegócio 33 mostra como os diferentes elos da cadeia estão interligados: o início está no elo dos insumos, passando pelos elos da produção, dos originadores, das esmagadoras, da indústria de derivados do óleo e da distribuição até chegar ao elo do consumidor final. Cadeia produtiva da soja Insumos (sementes, defensivos, máquinas etc) Produção Centro-Oeste, Sul, Sudeste, Nordeste e Norte Originadores Armazéns Gerais, Cooperativas e trading companies Indústria derivados do óleo Maionese, margarina, sabão, tinta etc Distribuição Atacado, Varejo, Mercado Institucional Consumidor Fonte: Elaboração da autora A imagem seguinte apresenta os dados relacionados à produção, ao consumo e aos estoques mundiais divulgados pelo USDA. Repare que o mercado internacional da soja está dividido entre quatro países. Quais são eles? Produção, consumo e estoques mundiais de soja: safra 2012/13 300 250 200 150 100 50 0 EU A Br as il Ar ge nt ina Ch ina Ou tro s Mu nd o M ilh õe s de to ne la da s Produção Consumo Estoques Fonte: USDA (2014) Na safra 2012/2013, a produção mundial foi de 267 milhões de toneladas de soja, sendo que Brasil, Estados Unidos e Argentina respondem por grande parte do total produzido. Foram consumidas no mundo 258,8 milhões de toneladas de soja, sendo a China o principal importador da commodity. Curso Técnico em Agronegócio 34 A Argentina possuía 22,4 milhões de toneladas em estoque, e esse montante representava quase metade dos estoques mundiais, que foi de 57,8 milhões de toneladas. Um dos motivos que justificam esse estoque alto é que a oferta da soja é menor do que a demanda nesse país. Em relação ao Brasil, a imagem a seguir apresenta a produção brasileira do complexo soja no período de 1999 a 2014. Produção brasileira do complexo soja 1000.000 90.000 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Soja M il. T on . 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 (E ) 20 14 (E ) Farelo Óleo Fonte:ABIOVE (2014) Note que o complexo soja (soja em grão, farelo e óleo) aparece como tendo grande destaque no agronegócio brasileiro, já que, em 2012, 26,1 bilhões de dólares foram gerados como divisa pelo setor da soja. Esse mesmo setor representou 10,8% do total exportado pelo Brasil. Em 2013, observa-se um salto de 2% na participação do complexo sojanas exportações do Brasil: 12,8%. Participação do complexo soja nas exportações brasileiras (%) 15 10 5 0 Part. Complexo Soja 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 Fonte:ABIOVE (2014) Os principais mercados para a soja em grão e para o farelo de soja são a União Europeia e a Ásia (China), como se vê nos dados das exportações do complexo soja nos períodos de 2012 e 2013. Introdução ao Agronegócio 35 Exportações do complexo soja (2012 e 2013) 0 China União Europeia Ásia (exceto china) Outros Destinos 5 10 15 20 2013 2012 Fonte: ABIOVE A China, que faz parte do BRICs, é o segundo maior produtor de grãos do mundo (530 milhões de tonelada/ano), sendo igualmente o maior consumidor, e, por isso, busca a autossuficiência com claras intenções de ficar independente do mercado internacional. Setores do agribusiness enxergam a China como o mais promissor país no consumo de alimentos e fibras, sendo responsável pelo aumento do comércio de produtos agroindustriais e dos preços das commodities agrícolas, como soja e milho. Como consequência, a China aumentou sua participação como importadora nesse mercado. Aliás, o comércio de mercadorias entre Brasil e China apresentou, em 2002, duas características principais: • a concentração das pautas de exportação e importação (soja, minério de ferro, produtos siderúrgicos e óleo de soja) respondeu por 67,53% das exportações brasileiras destinadas à China em 2002; • a China foi o principal país de destino das exportações brasileiras de soja, tendo essas operações representado 27,19% do total exportado (superando a Holanda, 17,96%, e a Alemanha, 10,17%). Uma das razões para a elevada concentração da pauta nesses produtos foi a demanda por soja e óleo de soja, itens que fazem parte dos hábitos alimentares dos chineses, pois são usados na produção de tofu, shoyu e óleo de cozinha. A China entrou na OMC em 2001. Por ser um dos maiores importadores do complexo soja, causou mudanças importantes no mercado internacional do grão, como o maior acesso ao mercado chinês e a limitação dos subsídios do governo desse país aos produtores domésticos Curso Técnico em Agronegócio 36 Nesse período, transformou-se no maior exportador e na segunda maior economia do mundo. O crescimento das exportações brasileiras para a China decorreu da estratégia das transnacionais que atuam no mercado de grãos, da produtividade da soja brasileira e da proibição dos transgênicos no Brasil (2002), o que provocou um deslocamento de parcela da soja americana no mercado internacional. Mas o que seria essa estratégia das transnacionais? ` Atenção A estratégia das transnacionais era baseada na ideia de eficiência global, que consiste em utilizar as regiões economicamente mais produtivas para suprir as regiões mais populosas, como a China. Com essa estratégia, as transnacionais buscaram, também, diversificar as suas cadeias de oferta. Elas atuaram em ambas as regiões, e, de acordo com as suas próprias estimativas, as zonas mais populosas apresentavam perspectivas de crescimento da renda. A China resiste aos transgênicos, razão pela qual a sua preferência recaiu naturalmente sobre o Brasil. Ela também exige, em acordos temporários, um certificado indicando que as remessas brasileiras de soja não contenham o grão transgênico. Introdução ao Agronegócio 37 Perspectiva O trabalho exploratório de economistas (Jim O’Neill, Dominic Wilson e Roopa Purushothaman) do banco de investimentos Goldman Sachs sobre a economia mundial indica que, nos próximos 50 anos, as economias de Brasil, Rússia, Índia e China podem tornar-se uma força importante na economia mundial. O estudo mapeia os crescimentos do PIB e da renda per capita, e os movimentos monetários dos BRICs até 2050. PIB O Produto Interno Bruto mede o valor monetário total dos bens e serviços finais produzidos para o mercado durante determinado período de tempo dentro das fronteiras de um país. No Brasil, a produção de soja concentra-se nas regiões Centro-Oeste e Sul, nos estados de Mato Grosso, com 29% da produção nacional; Paraná, com 19,5%; Rio Grande do Sul, com 15,4%; e Goiás, com 10,5%. Mas as regiões Norte e Nordeste também estão aumentando a sua área de plantio, e áreas no Maranhão, em Tocantins, no Piauí e na Bahia, no período de 2012-2013, responderam por 8,4% da produção brasileira. A seguir, veja a participação da soja por região no Brasil. Soja: participação por região do Brasil Norte Nordeste Sul Centro-Oeste Sudeste 6% 37% 47% 7% 3% Fonte: Outlook FIESP (2013) Abaixo tem-se uma panorama da cadeia produtiva da soja, na qual podem-se identificar os seus pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades e as ameaças. Curso Técnico em Agronegócio 38 Análise SWOT da cadeia produtiva da soja Pontos Fortes Pontos Fracos Brasil é segundo maior produtor e exportador mundial. Tecnologia dominada para gerar valor à cadeia. Áreas agricultáveis que permitem aumento da produção. Geração de renda nas regiões produtoras (aumenta o IDH). Maior produtor mundial é os EUA. Estímulo governamental à exportacao de soja in natura. O Brasil utiliza um modal de transporte impróprio pela distância percorrida pela soja (± 1.000 km). Oportunidades Ameaças Abrangência do complexo soja na geração de produtos. Adoção de biodiesel global via metas de adição. Fortalecimento de ações sustentáveis nos âmbitos nacional e internacional. Melhoria nos modais utilizados para o transporte de soja no Brasil. Diversificação via criação de produtos inovadores. Tarifas alfandegárias. Novas barreiras de entrada por países importadores. Diferentes cobranças de ICMS pelos estados brasileiros. Fonte:ABIOVE Na sequência, acompanhe uma analise dos quatro itens. Pontos fortes Neste item, observa-se que um dos grandes pontos fortes está na geração de renda nas regiões produtoras de soja, principalmente nos estados de Mato Grosso e Goiás, e também por possuírem áreas agricultáveis para expansão do plantio. Igualmente é necessário considerar a tecnologia empregada nas propriedades rurais, como o uso de agricultura de precisão e sementes altamente produtivas. Pontos fracos Podemos citar como principal ponto fraco a logística deficiente nas regiões produtoras, o que aumenta o custo de produção, dificultando o escoamento da oleaginosa para os portos que a levarão para o exterior. Introdução ao Agronegócio 39 Ameaças Entre as ameaças estão as tarifas alfandegárias e o protecionismo de países como os Estados Unidos, que subsidiam uma boa parte da sua produção de soja e de outras commodities, como milho, carnes e algodão. Isso torna os seus produtos mais competitivos no mercado internacional Oportunidade Como uma oportunidade está a possibilidade de se pesquisarem novos usos para a soja, como sabão, tintas e biocombustível, gerando valor e produzindo produtos que serão vendidos por um valor superior para a commodity. Após analisar o quadro anteriormente exposto, temos como avançar e pensar a respeito das tendências futuras. Qual é o seu palpite a respeito da cadeia de soja? Confira, abaixo, algumas projeções. De acordo com o MAPA, a produção de soja em grão em 2013 foi de 81,3 milhões de toneladas, com uma produtividade média projetada para os próximos anos de 3,3 toneladas por hectare. Existe uma forte tendência da produtividade de aumentar devido ao aumento da tecnificação das lavouras, em especial daquelas que se encontram na região Centro-Oeste. Estima-se que em 2023 a produção de soja seja de 99,2 milhões de toneladas, o que representará um acréscimo de 21,8% em relação à produção de 2013. As projeções de consumo indicam que as demandas de soja no mercado internacional e no mercado interno devem continuar aumentando, pois, além da demanda de rações animais, também se estima que ocorrerá um grande aumento do consumo de soja para a produção de biodiesel. Essa produção foi estimadaem 2013, pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – Abiove, em cerca de 10 milhões de toneladas. Curso Técnico em Agronegócio 40 Estima-se, também, que o consumo interno de soja em grão chegue a 50,6 milhões de tonela- das ao final da projeção, sendo que se espera um aumento de 19,4% no consumo até 2023. De acordo com o MAPA, deve haver um consu- mo adicional de soja em relação ao período de 2012-2013 de 8,2 milhões de toneladas. Espera-se que, além da utilização da soja na fabricação de rações animais, ela também seja utilizada de maneira crescente na ali- mentação humana, principalmente em bebi- das, queijos etc. A seguir, veja uma projeção de produção, consumo e exportação de soja em grão, mostrando uma perspectiva positiva de crescimento do mercado. Brasil: projeção da produção, consumo e exportação de soja em grão 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 Produção M il to n. 20 12 /1 3 20 14 /1 5 20 16 /1 7 20 18 /1 9 20 20 /2 1 20 22 /2 3 Fonte: MAPA, com dados da CONAB (2013) A cadeia da soja apresenta alto potencial de crescimento, mas ainda possui grandes gargalos (em logística, impostos e barreiras tarifárias e não tarifárias) e necessita de maiores investimentos em marketing, além de incentivos governamentais para a geração de valor. Esta proporciona mais renda para as regiões produtoras e para o país, assim como mais empregos, tecnologia e impostos a serem arrecadados. O Informações extras Barreiras Não-Tarifárias são restrições à entrada de mercadorias importadas que possuem como fundamento requisitos técnicos, sanitários, ambientais, laborais, restrições quantitativas (quotas e contingenciamento de importação). Normalmente, as BNTs visam a proteger bens jurídicos importantes para os Estados, como a segurança nacional, a proteção do meio ambiente e do consumidor, e ainda, a saúde dos animais e das plantas. Saiba mais sobre barreiras comerciais e técnicas no AVA. Introdução ao Agronegócio 41 Um exemplo de como é possível gerar valor foi dado por Henry Ford, em 1933, ao desenvolver nos Estados Unidos o primeiro produto construído à base de soja: um painel de carro feito de plástico de soja. Desde essa época, novas tecnologias que incluem o grão foram descobertas. Entre os produtos à base de soja, desenvolvidos pelos produtores e patrocinados pelo governo americano, estão xampus para animais domésticos, lubrificantes, isolante térmico para casas, velas feitas à base de cera de soja, produtos de limpeza, bola de paintball etc. Abaixo, apresentamos alguns usos originais para o grão O Brasil precisa investir em geração de valor produzindo produtos diferenciados, pois isso trará benefícios aos produtores rurais e, em especial, ao pequeno e ao médio produtor, que não tem condições de concorrer com uma grande empresa. É mais interessante gerar valor e obter mais lucros do que exportar commodities e deixar o lucro do desenvolvimento de produtos para os outros países. Aliás, o Brasil é conhecido como o celeiro do mundo, mas, de que adianta produzir tanto, se as estradas e os portos não conseguem escoar a produção? O governo tem uma parcela de responsabilidade importante nisso, mas não basta: o produtor precisa se organizar, informar-se e tratar a sua propriedade como uma empresa rural, deixar alguns conceitos no passado e partir em busca de novos desafios. 2: Café O Brasil é o maior produtor e exportador da commodity e conta, atualmente, com 37% do mercado mundial cafeeiro, sendo que os principais países importadores de café brasileiro são: Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão e Bélgica. A seguir, veja o ranking dos países produtores de café na safra 2012/2013. Participação (%) dos países na produção mundial de café em grão: safra 2012/13 Brasil 37% Vietnã 17% Outros 17%México 3% Peru 3% Índia 4% Honduras 4% Etiópia 4% Colômbia 5% Indonésia 6% Fonte: USDA O gráfico acima nos mostra que, na safra 2012/13, os três principais produtores foram o Brasil, o Vietnã e a Indonésia. Somos o primeiro na produção mundial de café em grão. Curso Técnico em Agronegócio 42 É importante observar que, devido à sua grande extensão, pela qual a produção cafeeira está espalhada em 2,3 milhões de hectares no território nacional, o Brasil possui a vantagem de desenvolver diversos tipos e qualidades de cafés – um diferencial que possibilita atender às diferentes demandas. O país conta atualmente com 2.341,73 hectares voltados à cultura de café dos tipos arábica e robusta. Conforme a Conab (2013), houve um acréscimo, no ano de 2013, de 12.370 hectares, o que representa um crescimento de 0,54% da área utilizada em relação à safra de 2012. É importante ressaltar que estão ocorrendo significativos aprimoramentos na tecnologia de produção, no manejo, nos aperfeiçoamentos genéticos e nas reduções de custos na logística. Diferentes tipos de café Arábica A variedade de café mais apreciada no mundo é a arábica e ela representa 59% da produção mundial da cultura de café. Trata-se de um grão bastante achatado e alongado, que gera um café fino e com alto valor comercial. A qualidade desse grão está relacionada com a altitude em que é plantado (altitudes superiores a 900 metros). O maior produtor de café arábica no Brasil é o Estado de Minas Gerais. Outros estados, como São Paulo, Paraná, Bahia, Espírito Santo e Rondônia, também produzem essa variedade. O cultivo de café arábica totaliza 74,9% da quantidade de café nacional. Robusta Conilon O café robusta conilon tem a sua origem na África Central e pode ser produzido em altitudes que variam entre o nível do mar e 600 metros. É mais utilizado na fabricação de café solúvel. Essa variedade tem uma grande aceitação na Europa e nos Estados Unidos, pois é utilizada para fazer o blend com a variedade arábica. Os principais estados brasileiros produtores dessa variedade são: Espírito Santo (maior produtor de conilon), Rondônia, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso. A produção nacional de robusta em maio de 2013, por exemplo, representou cerca de 25% da cultura nacional de café. Introdução ao Agronegócio 43 Veja os estados nacionais produtores de café e as respectivas espécies cultivadas em cada local. Regiões produtoras de café Arabicas Conillon (Robusta) Fonte: ABIC (2013) Agora, ao compararmos os hectares utilizados na produção brasileira de café nos estados produtores, podemos observar que as maiores áreas de produção estão concentradas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Hectares produzidos na produção brasileira de café 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 H ec ta re s 2012 2013 M in as G er ai s Es pí ri to S an to Sã o Pa ul o Pa ra ná Ba hi a Ro nd ôn ia M at o G ro ss o Pa rá G oi ás Ri o de Ja ne ir o O ut ro s Fonte:ABIC A cadeia agroindustrial do café, segundo Zilbersztajn (1993), é estruturada pelas operações agrícolas, como a industrialização do grão verde, a torrefação e a comercialização. Paralelamente Curso Técnico em Agronegócio 44 a esse conceito, surge outro estudo que indica que a cadeia de café brasileira é constituída pelos seguintes segmentos (SAES E FARINA, 1999): Cadeia produtiva do café no Brasil Insumos (mudas, defensivos, máquinas etc) Produção MG, ES, SP, PR, BA, RO, MT 1º Processamento do Café Maquinistas e Cooperativas 2º Processamento do Café Empresas de torrefação e moagem Vendedores Nacionais Cooperativas, Exportadores e Atacadistas Compradores Internacionais Empresas de solúvel, torrefação e dealars Varejo Nacional e Internacional Supermercados, mercado institucional, cafeteiras, bares e restaurantes Consumidor Fonte: Adaptação de Saes e Farina (199) A maioria dos produtores de café no Brasil são membros de alguma associação de interesse privado, e os insumos, em grande parte, são obtidos por meio das cooperativas, que os disponibilizam com menor preço por operarem em grande escala.Apenas grandes cafeicultores vendem os grãos para compradores diretos, pois a maioria dos produtores se relaciona com a cooperativa para entregar seus produtos. Zilbersztajn (1993) acredita que “em geral os produtores trabalham com um nível de incerteza e insegurança muito alto em relação às informações disponíveis no mercado”. Mas por que essa incerteza acontece para os produtores de café? Essa situação ocorre em função de fatores como distância física entre produtor e cooperativa, desinteresse em participar das transações e dificuldade de comunicação com as fontes. Nesse sentido, o produtor mantém uma relação instável com a cooperativa, já que ele possui a possibilidade de vender a sua produção para outros atores da cadeia (ZILBERSZTAJN, 1993). Introdução ao Agronegócio 45 Por sua vez, as cooperativas vendem o café para a indústria de torrefação, os exportadores e os dealers. Dealers Negociantes que atuam como intermediários em uma transação comercial. É importante destacar que algumas cooperativas atuam, também, nos processos de torrefação e moagem. A comercialização e a distribuição de café no Brasil são realizadas “por meio dos exportadores, maquinistas, corretores, atacadistas e varejistas em geral, como bares, restaurantes, padarias, supermercados e as próprias torrefadoras” (ZYLBERSZTAJN, 1993). O Informações extras Veja alguns dados sobre a cafeicultura brasileira: • sustenta de 250 mil a 300 mil produtores; • emprega diretamente três milhões de pessoas; • responde por 5% das divisas geradas. O povo brasileiro é um dos maiores consumidores de café do mundo, e a preferência nacional é o café torrado e moído: cada consumidor consome em média 2,1 quilos de café por ano, o que equivale a cerca de 400 cafezinhos. Fonte: ABIC. Perspectivas futuras Consumo de café Segundo a Organização Internacional do Café – OIC, o consumo de café no Brasil tem crescido a uma taxa média anual de 4,8%. Segundo a ABIC (2012), “os brasileiros estão consumindo mais xícaras de café por dia e diversificando as formas da bebida durante o dia, adicionando ao café filtrado também os cafés espressos, os cappuccinos e outras combinações com leite”. Veja como vem ocorrendo a evolução do consumo interno no Brasil durante o período de 1990 a 2012. Brasil: consumo per capita de café verde e café torrado 7 6 5 4 3 2 1 0 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 20 10 Ma io/ 11 - A br il/1 2 kg /h ab ita nt es Kg café verde Kg café torrado Fonte: ABIC (2013) Curso Técnico em Agronegócio 46 Outro fato curioso é que, desde 2004, observa-se o aumento do consumo de café fora do lar em função da popularização das cafeterias em diversas cidades brasileiras. Isso incrementa os hábitos de consumo do grão, bem como sua economia. Aliás, já se observa essa tendência ocorrendo em países da Europa e também nos Estados Unidos. Nestes, a preferência é por cafés especiais, geralmente de melhor qualidade. As projeções feitas pelo MAPA para o café estimam o aumento da produção até 2023, bem como das exportações. A previsão do MAPA é de que o país continue como o maior produtor mundial e o principal exportador, e que também mantenha os compradores habituais e os parceiros estimados em mais de cem mercados – cenário bastante promissor! Observa-se que o crescimento estimado para o consumo da bebida é de 28,6% até 2023. A título de observação, e ainda de acordo com a ABIC, esse panorama teve uma pequena diminuição em 2013 devido ao café disputar a preferência dos consumidores com os produtos prontos, tais como sucos e achocolatados Brasil: projeção da produção, consumo e exportação de café 60 50 40 30 20 10 0 Produção Consumo M ilh õe s de to ne la da s 20 12 /1 3 20 13 /1 4 20 14 /1 5 20 15 /1 6 20 16 /1 7 20 17 /1 8 20 18 /1 9 20 19 /2 0 20 20 /2 1 20 21 /2 2 20 22 /2 3 Exportação Fonte:MAPA (2013) O evento é importante, pois foi a primeira queda registrada no consumo no país desde 2003 e o segundo recuo da série histórica, segundo dados da ABIC contabilizados desde 1990. De acordo com a associação, as inúmeras novas opções prontas para o consumo no café da manhã (que incluem bebidas à base de soja, cuja penetração no mercado ainda é pequena comparada ao tradicional cafezinho) têm apresentado crescimento bastante elevado. Essas categorias com maior valor agregado desafiam a indústria de café para que busque a inovação e, também, para que procure voltar a ter altos índices de crescimento, o que se espera alcançar com a oferta de cafés de melhor qualidade, diferenciados e certificados. E, para finalizar esta análise sobre perspectivas futuras do café, a ABIC estimou em 2014 a retomada do crescimento do consumo interno de café entre 3% a 4%, com maior procura por cafés de melhor qualidade, desde os tradicionais até os cafés gourmet – informação importante a se considerar não só como tendência futura, mas obviamente de mercado. Introdução ao Agronegócio 47 3: Cana-de-Açúcar No período entre 2000 e 2010, constata-se um grande crescimento da produção de cana-de- açúcar em função do aumento da demanda de açúcar no mundo. Mas como isso ocorreu? Confira abaixo os principais motivos: • crescimento da população e respectivo aumento do poder de compra dos consumidores em diversas regiões do mundo; • aumento do consumo de alimentos processados da cana-de-açúcar resultante da migração da população das áreas rurais para as urbanas; • aumento da produção estimulado pelo consumo de adoçantes de baixas calorias à base de açúcar, como a sucralose; Repare como vem crescendo a produção mundial de açúcar a partir da cana-de-açúcar e da beterraba. Produção mundial de cana-de-açúcar e beterraba 200.000 180.000 160.000 140.000 120.000 100.000 0 M ilh õe s de to ne la da s 20 00 /0 1 20 01 /0 2 20 02 /0 3 20 03 /0 4 20 04 /0 5 20 05 /0 6 20 06 /0 7 20 07 /0 8 20 08 /0 9 20 09 /1 0 20 10 /1 1 20 01 1/ 12 20 12 /1 3 Fonte: USDA Curso Técnico em Agronegócio 48 Uma informação importante é a de que, em alguns países da União Europeia, o açúcar vem da beterraba, e esse açúcar é utilizado também na produção de refrigerantes, ao contrário do Brasil, que só utiliza o açúcar de cana-de-açúcar. Na composição mundial dos países produtores de cana-de-açúcar, o Brasil se destaca. Como se nota, em um total de 27 participantes, há quatro principais produtores: Índia, União Europeia, Brasil e China. Participação mundial dos países produtores de cana-de-açúcar Brasil 22% Índia 15% Outros 26% Paquistão 3% Rússia 3% México 3% EUA 5% Tailândia 6% China 8% União Europeia 9% Fonte: USDA O aumento da produção de cana-de-açúcar também está relacionado ao aumento do uso do etanol no Brasil, combustível indicado para veículos com motores flex fuel. Existe, também, a expectativa do governo brasileiro em exportar etanol para os países que adotam os biocombustíveis em suas matrizes energéticas. Veja como foi a produção brasileira de cana- de-açúcar no período de 1999/2000 a 2012/2013. Brasil: produção de cana-de-açúcar 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 M ilh õe s de to ne la da s 20 00 /0 1 20 01 /0 2 20 02 /0 3 20 03 /0 4 20 04 /0 5 20 05 /0 6 20 06 /0 7 20 07 /0 8 20 08 /0 9 20 09 /1 0 20 10 /1 1 20 01 1/ 12 20 12 /1 3 Fonte: UNICA (2013) O tema biocombustível tornou-se uma discussão extremamente relevante no século XXI. Você sabe por quê? Introdução ao Agronegócio 49 Basicamente porque a pauta do biocombustível está diretamente ligada ao contexto de um desenvolvimento sustentável, ponto urgente na agenda desenvolvimentista mundial. Biocombustíveis que não causam danos ao meio ambiente, alavancam a geração de postos de trabalho e avançam rumo ao desenvolvimento tecnológico. O Informações extras O etanol (nome técnico do álcool etílico combustível) pode ser produzidoa partir da sacarose da cana-de-açúcar, no Brasil, da sacarina da beterraba, do amido de milho, nos Estados Unidos, além do trigo e da mandioca. Trata-se de uma fonte de energia natural, limpa, renovável, sustentável. No Brasil, produz-se o etanol hidratado com 5% de água, que abastece os automóveis flex, e o etanol anidro (0,5% de água), misturado à gasolina na proporção de 20% a 25%. Para entender melhor como funciona a cadeia de produção do etanol, observe o diagrama a seguir. Ele nos mostra os canais de distribuição, a produção nas usinas, a distribuição e o varejo até chegar ao consumidor final. Canais de distribuição do etanol Usinas Destilarias Terminais Portuários Mercado Externo Produção Distribuição Varejo Consumidor Bases das Distribuidoras e Terminais Postos Revendedores Automobilistas Pequenas empresas, Grandes consumidores Transportador, Revendedor e Retalhista Fonte: Baseado em Caixeta-Filho et al (2008) Você sabia que, no período de 1976 a 2005, a utilização de álcool combustível permitiu ao Brasil economizar US$ 69,1 bilhões em divisas com a importação de petróleo (ETH, 2008)? E que, no início de 2008, o setor comemorava o crescimento da sua produção e das exportações, prevendo a geração de um milhão de empregos, com investimentos de US$ 30 bilhões até 2012? Definitivamente, um mercado promissor. Ainda no contexto de 2008, havia também perspectivas de se cogerar, a partir do bagaço e da palha disponíveis, o equivalente à capacidade de uma usina Itaipu e meia em bioeletricidade, Curso Técnico em Agronegócio 50 além da movimentação de uma grande indústria nacional de máquinas e equipamentos (JANK, 2008) – ordens de grandeza bem interessantes. Porém, em setembro de 2008, ocorreu a grande crise financeira mundial, levando à cessão dos investimentos do setor. Dessa forma, o crédito diminuiu bastante, comprometendo a expansão dos canaviais, o investimento em pesquisas e os cuidados fitossanitários. Podemos observar que o período de 1999 a 2007 foi de crescimento da produção brasileira, mas, a partir de 2008, a produção passou a ser instável, alternando períodos de retração com crescimento moderado. Brasil: produção total de etanol 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Região Centro-Sul Região Norte-Nordeste m il m ² 20 00 /0 1 20 01 /0 2 20 02 /0 3 20 03 /0 4 20 04 /0 5 20 05 /0 6 20 06 /0 7 20 07 /0 8 20 08 /0 9 20 09 /1 0 20 10 /1 1 20 01 1/ 12 20 12 /1 3 Brasil Fonte: UNICA (2013) Todo esse quadro pessimista levou ao endividamento de grande parte do setor e, também, ao aumento dos custos de produção. A recuperação dos preços internacionais do açúcar e do etanol na safra 2009/2010 não foi suficiente para a retomada do setor, levando à venda das empresas endividadas, que foram compradas por grandes grupos nacionais e internacionais. Nesse mesmo período, o setor perdeu uma capacidade de moagem de 48 milhões de toneladas de cana e chegou à capacidade de 600 milhões de toneladas na região Centro-Sul (OUTLOOK FIESP (2013). Durante esse processo, os grandes grupos familiares deram lugar a grandes empresas multinacionais, tradings e fundos de investimento. Essas empresas passaram a delinear outra forma de gestão do setor, buscando a eficiência e se voltando para uma gestão mais profissional a fim de gerar maior rentabilidade. É nas regiões Sudeste e Centro-Oeste que está concentrada a maior parte da produção e das usinas de açúcar e etanol. De acordo com o estudo Outlook Fiesp, a região Sudeste deverá ter um aumento de área de 11% até 2023 em relação a 2013 (o que representa 616 mil hectares), resultado próximo ao estimado para o Centro-Oeste. Introdução ao Agronegócio 51 Participação de cada região do Brasil na produção de cana-de-açúcar Nordeste Sul Centro-Oeste Sudeste 7% 19% 66% 8% Fonte: Outlook FIESP (2013) O Informações extras Confira números do Setor Sucroenergético: • estrutura produtiva: 432 plantas (2010); • fornecedores de cana: 70.000; • postos de trabalho formais: 1,28 milhão; • receita do setor: superior a R$ 50 bilhões; • divisas externas: US$ 13,8 bilhões (2010); • porcentagem na matriz energética nacional: 18% (segunda fonte: hidroeletricidade); • redução de emissões de CO2: 600 milhões de toneladas desde 1975. Fonte:UNICA Perspectivas futuras De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar – UNICA, o setor pretende trazer tecnologias que elevem a produtividade dos atuais 7.000 para 13.000 L/ha até o final da década de 2010. Isso representará um aumento de produtividade acima de 5% ao ano. Os principais vetores do crescimento serão: • melhoramento genético clássico e a biotecnologia; • o manejo agrícola; • o etanol celulósico. A demanda mundial por energia vem aumentando, e o Brasil está retomando os investimentos em tecnologia e na construção de novas fábricas. No entanto, países como China e Índia, que representam um quarto da população mundial, também estão investindo em novas unidades de produção de etanol, o que pode representar forte concorrência para o país. Curso Técnico em Agronegócio 52 Lembrando que, com toda a importância em se desenvolverem formas sustentáveis de produção, buscar fontes energéticas que causem menos impacto ao meio ambiente é crucial. Sendo assim, é necessária a conscientização de todos os cidadãos para o consumo consciente. Em paralelo a isso, também devem ser estimuladas as pesquisas sobre fontes renováveis de energia, sendo feitas de maneira global por meio da troca de experiências entre os pesquisadores de diversos países. Por outro lado, órgãos governamentais internacionais divulgam que o biocombustível poderá afetar a capacidade de produção de alimentos no mundo. Ou seja, o debate sobre o futuro do biocombustível é bastante complexo. Hoje, temos o Brasil em situação privilegiada, pois o país necessita de apenas 2% de suas terras cultiváveis para mover toda a frota nacional de veículos leves exclusivamente a etanol. De acordo com Goldemberg (2007), desde 1960 a área colhida com cana-de-açúcar apresentou uma taxa de crescimento de 3% ao ano, sem prejudicar o avanço de outras culturas. A maioria das destilarias concentra-se no Estado de São Paulo, havendo uma expansão em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Brasil utiliza 62 milhões de hectares, dos quais 19,7% com milho e 8,9% com cana-de-açúcar. A título de comparação, os Estados Unidos empregam 99 milhões de hectares, sendo que o milho representa 30% dessa área. d Comentário do autor O bioetanol produzido no mundo representa 4% do consumo de gasolina, e a gasolina representa um quarto do consumo de petróleo. Nessa matemática, seriam necessários 123 milhões de hectares para substituir 10% da gasolina produzida no mundo. Em relação ao açúcar, o Brasil é o principal exportador mundial de cana-de-açúcar, com cerca de 50% do volume total. Atrás dele vem a Tailândia, que representa 14% das exportações mundiais. Introdução ao Agronegócio 53 Confira a projeção de produção, consumo e exportação de açúcar e de crescimento da produção no período de 2012/2013 a 2022/2023 – mais uma cadeia com futuro promissor na agricultura brasileira de exportação. Brasil: projeção da produção, consumo e exportação de açúcar 50.000 45.000 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Produção ConsumoM il to n. 20 12 /1 3 20 13 /1 4 20 14 /1 5 20 15 /1 6 20 16 /1 7 20 17 /1 8 20 18 /1 9 20 19 /2 0 20 20 /2 1 20 21 /2 2 20 22 /2 3 Exportação Fonte:MAPA (2013) 4: Algodão O algodão é considerado uma das mais importantes culturas de fibras no mundo! Estima-se que, todos os anos, cerca de 35 milhões de hectares de algodão sejam plantados no globo terrestre. Além disso, desde a década de 1950, está ocorrendo um aumento da demanda mundial a um crescimento anual médio de 2%. O comércio mundial do algodão movimenta anualmente US$ 12 bilhões, e a cadeia produtiva
Compartilhar