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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE UNIÃO DA VITÓRIA UNIUV ENGENHARIA CIVIL OBRAS DE TERRA ATERROS SOBRE SOLOS MOLES NOTAS DE AULA Prof. Suellen Karaczuk 2 4 - ATERROS SOBRE SOLOS MOLES Assunto de grande importância, ao verificar-se o histórico das estradas de ferro do Brasil percebe-se a dificuldade de se realizar o trabalho quando se tem aterros sobre solos moles. Um grande exemplo são as ligações terrestres entre Santos e São Paulo. No final do século XIX ia-se de São Paulo a Cubatão por diligências. Outro exemplo de diligência. Depois seguia a viagem de Cubatão para Santos pela barca. 3 A estrada de ferro Santos - Jundiaí, apresentada a seguir. Foi construída pelos ingleses, atravessou o mangue com o recurso à estiva, que consiste em colocar o todo o equipamento a bordo de um navio e transportá-lo de maneira segura tanto para o navio quanto para a tripulação, reduzindo a demora no ponto de descarga. Funcionando como um "assoalho" para a colocação do aterro. A primeira estrada de rodagem da Baixada Santista, foi realizada através de lançamentos de aterro em ponta, ainda muito empregado apesar de alguns inconvenientes: rupturas localizadas do solo mole, acarretando volumes excessivos de material de aterro, recalques diferenciais que provocam ondulações na pista. 4 É o problema da estabilidade dos aterros sobre solos moles, colocados aqui no contexto de um colapso, mas desses problemas tira-se a lição: deve-se antes construir o aterro e, somente depois de algum tempo, necessário para a consolidação do aterro, construir as chamadas obras de arte (pontes e viadutos). 4.1 Problemas Envolvidos Do ponto de vista técnico, nesse apanhado histórico, dois problemas: a) a estabilidade dos aterros logo após a construção; b) os recalques dos aterros ao longo do tempo. De outra forma, referindo aos aterros de encontro às pontes e viadutos, e não abaixo deles, pode-se listar como problemas que merecem certa atenção: a) a estabilidade das fundações das obras de arte; b) os recalques diferenciais entre as obras e o aterro de encontro, possibilitando a formação de degraus junto às pontes e viadutos; c) os efeitos colaterais do estaqueamento, como empuxos de terra e atrito negativo. Do ponto de vista construtivo os problemas dizem respeito: a) ao tráfego dos equipamentos de construção; b) o amolgamento, ou deformação, da superfície do solo, face ao lançamento do aterro; c) os riscos de ruptura durante a construção e pode afetar a integridade de pessoas evolvidas e provocar danos aos equipamentos. A seguir será apresentado as características geotécnicas dos solos moles com informações sobre sua gênese, interessante ao projeto. Será 5 analisado os procedimentos de cálculo, tanto para a verificação da estabilidade quanto para a estimativa de recalques. E por fim será abordado os processos construtivos empregados. 4.2 Características dos Solos Moles Para apresentar os parâmetros dos solos moles, deve-se antes de tudo conhecer sua origem para compreender melhor suas propriedades. 4.2.1 Formação das argilas moles quaternárias Conhece por solos moles aqueles solos sedimentares com baixa resistência à penetração (valores no SPT são superiores a 4 golpes), conferindo as argilas características de solo coesivo e compressível. São em geral argilas moles ou areias argilosas fofas, depositadas recentemente, ou seja, formadas durante o Quaternário. O que é o Quaternário? Na escala de tempo geológico, é o período da Era Cenozóica que congregava as Épocas Pleistocena e Holocena. Por isso muitas formações trarão Pleistoceno e Holoceno no nome. Os ambientes de deposição destes solos podem ser os mais variados, desde o fluvial até o costeiro, incluindo lagunas e baías. Eles se diferenciam: a) pelo meio de deposição podendo ser água doce, salgada ou salobra; b) pelo processo de deposição: fluvial ou marinho; c) pelo local de deposição: várzeas, planíces de inundação, praias, canais de mar, etc. A deposição depende da característica das rochas da área de erosão, do clima e da forma de transporte dos sedimentos (vento ou água). Diferenciando os depósitos através dessas condições ambientais. Para depósitos uniformes é necessário condições ambientais estáveis. Para analisar o quão complexo é o fenômeno, basta listar os fatores que afetam a sedimentação: 1 - velocidade das águas 2 - a quantidade e a composição da matéria em suspensão na água 3 - a salinidade e a floculação das partículas 4 - presença de matéria orgânica: húmus, detritos vegetais, conchas, etc. É comum o solo sedimentar apresentar a presença de húmus ou outros materiais orgânicos, conferindo-lhe cor escura e odor característico. Os pântanos são uma subcategoria dos ambientes de deposição de solos sedimentares. São características dos pântanos: águas rasas e paradas. 6 A ação de bactérias e fungos que fazem a decomposição da matéria orgânica é afetada pela falta de oxigênio e pela presença de ácidos que preservam os detritos vegetais e orgânicos, originando os depósitos orgânicos na beira de lagos e lagunas ou em áreas planas atingidas. Muitos desses depósito formados desse modo encontram-se hoje, soterrados, formando as camadas de argila orgânica turfosas, pretas, superficiais como ocorrem nas várzeas do Rio Pinheiro ou no subsolo da Baixada Santista. 4.2.2 Solos moles de origem fluvial (aluviões) Formam-se por deposições de sedimentos em áreas inundadas ou várzeas dos rios. Nas partes mais baixas, pouco drenadas ocorre a decantação dos sedimentos mais finos: argila e silte, podendo intercalar com areia fina. Essa formação confere ao solo uma heterogeneidade vertical bem acentuada. Acrescentando uma heterogeneidade horizontal devido ao processo de escoamento do curso do rio que descreve curvas sinuosas e semelhantes entre si, através de um contínuo trabalho de escavação da margem côncava e deposição na margem convexa. São exemplos: Pantanal Matogrossence (Rio Paraguai), Amazonas (áreas de igapós), Bacias do Alto Xingu e Alto Araguaia e As regiões do Alto e Médio Rio São Francisco. A figura a seguir apresenta uma seção geológica em terreno do campus da USP localizada na Várzea do Rio Pinheiro na qual evidencia a distribuição heterogênea dos sedimentos superficiais. 7 4.2.3 Solos Moles de Origem Marinha O primeiro tipo de sedimentação, conhecido como Formação Cananeia, depositado entre 100 mil 120mil anos atrás é argiloso (Argilas Transicionais - AT) ou arenoso, na sua base, e arenosos no seu topo ( Areias Transgressivas). O nome "transicional" deve-se ao ambiente misto continental-marinho, de sua formação. 8 9 10 11 4.3 Algumas Propriedades Geotécnicas Do conhecimento da história geológica desses solos resulta uma característica fundamental: a heterogeneidade. 12 Essas características transparece nos perfis de sondagem, onde ocorrem alternâncias de camada de argilas e areias e entre elas, camadas de areia argilosas ou argilas muito arenosas. Também nas cores se nota a heterogeneidade. Em solos aluvionares o solo é preto, cinza escuro, amarelo, vermelho, marrom ou cinza esverdeado. Em solos marinhos as cores apresentam-se em: cinza claro, cinza escuro, preto, marrom escuro, e cinza esverdeado. O mesmo ocorre quando se examinam suas propriedades geotécnicas como apresentado na tabela acima, verifica-se uma grande dispersão de valores inclusive na distribuição granulométrica que não está na tabela, mas alguns parâmetros como o índice de vazios ou o SPT, podem ser utilizados como diferenciadores do tipo de solo. Em termos de espessura dos depósitosde solos moles, os valores situam-se na faixa de 1m a 7m para os aluviões fluviais, e chegam a atingir mais de 70m para solos marinhos.
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