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CONSTITUCIONAL - SEÇÃO 3

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ
PROCESSO Nº. XXX
Magnólia, já qualificada nos autos do processo em referência, não se conformando com a respeitável decisão da C. Câmara Cível desse Egrégio Tribunal de Justiça que denegou a ordem, vem, respeitosamente, perante vossa excelência por seu advogado adiante assinado, com fundamento no Art. 105, inciso II, alínea “b” da Constituição Federal e no Art. 18 da lei 12.016/90, dentro do prazo legal, interpor:
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL,
Cujas razões seguem anexas, as quais requer sejam encaminhadas ao colendo Supremo Tribunal de Justiça, de acordo com o disposto nos artigos 1027, II e 1028 do CPC/15.
Nestes termos, 
Requer e espera deferimento.
Caicó, Ceará, 30 de Dezembro de 2017.
ADVOGADA /OAB Nº XXX
AO COLENDO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RAZÕES RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL
RECORRENTE: MAGNÓLIA.
RECORRIDA: SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ.
COLENDA TURMA.
ÍNCLITOS MINISTROS.
DOUTA PROCURADORIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
Em que pese o ilibado saber jurídico da colenda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, o venerado acórdão que denegou a segurança pleiteada pela recorrente não merece prosperar, pelas razões de fáticas e jurídicas a seguir expostas:
I – DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE DO RECURSO: 
O recurso é tempestivo, respeitado o prazo legal de 15 dias (Art. 33 da Lei 8.038/90) para a sua interposição. A decisão recorrida foi publicada no dia 20/12/2017, e o presente recurso está sendo oposto no dia 30/12/2017, portando, tempestivo.
Ademais, a decisão de negatória da segurança ora impugnada foi proferida em mandado de segurança de competência originária do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, cabível, assim, o presente recurso nos termos do Art. 18 da Lei 12.016/09.
II – SÍNTESE DO PROCESSO:
Em 15/11/2017 a recorrente e impetrou mandado de segurança contra a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, tendo como objeto ato praticado pelo Secretário de Saúde do Estado, o qual negou a impetrante o acesso gratuito a medicamento essencial para o seu tratamento médico. 
Os fatos que ensejaram a impetração do referido mandado de segurança foram os seguintes: 
A impetrante é uma jovem moça que recentemente foi diagnosticada com uma grave doença. Passou alguns dias internada em Hospital Público estadual, na capital do Estado, após receber alta retornou à sua cidade natal. Entretanto, em razão do seu quadro clínico foi receitado que a impetrante fizesse uso contínuo do medicamento o XXX, conforme consta nos documentos acostados na petição inicial, em especial o seu prontuário médico. 
O medicamento de que a impetrante necessita é gratuitamente fornecido pelo SUS, conforme consulta feita à lista de medicamentos elaborada pelo Poder Público. Em razão disso, a jovem se dirigiu ao centro de distribuição de medicamentos mais perto de sua casa, no município de Caicó, para solicitar a medicação. Chegando lá foi informada de que o fornecimento de medicamentos estava suspenso há alguns meses em razão de uma ordem da Secretaria Estadual de Saúde.
Não lhe restando alternativa, a impetrante elaborou requerimento e protocolou junto a Secretaria, explicando sua situação e solicitando o fornecimento de medicamentos. Referido documento, conforme fez prova em anexo, foi formalizado em 11/10/2017. No dia 15/10/2017 obteve a resposta formal da Secretaria, informando que a compra de todos os medicamentos estava suspensa por tempo indeterminado. 
No mandado de segurança foi feito pedido de concessão de liminar para assegurar a impetrante o direito de obter do Estado o Fornecimento gratuito dos medicamentos receitados, o qual foi reiterado nos pedidos finais, como pedido principal da demanda.
No dia 20/12/17 foi publicado o V. acórdão proferido pela C. Câmara Civil do tribunal de Justiça do Estado do Ceará, negando o pedido formulado pela impetrante com base no poder discricionário do Estado para decidir pelo fornecimento de medicamentos.
III – RAZÕES PARA REFORMA – DO DIREITO À SAÚDE E DA RESPONSABILIDADE E DEVER DO ESTADO NO FORNECIMENTO E MEDICAMENTOS.
O direito à saúde é um direito fundamental social, assegurado no Art 6º da Constituição Federal, a qual estabelece ainda em seu Art. 196, que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
O direito à saúde tem uma dimensão tanto coletiva, como individual, ele não apenas significa uma diretriz a ser cumprida pelo Estado, mais um direito público subjetivo. Nesse sentido, o ilustre ex-ministro do STF Celso de Mello ao julgar o AGR-RE 271.286-8/RS, destacando que “a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse como prestações de relevância pública as ações e serviços de saúde (art. 197)”, legitimando a atuação do poder judiciário nas hipóteses em que a administração pública descumpra o mandamento constitucional em apreço.
Nesse sentido, ressalta-se que a Constituição determina que o Estado, além de preservar a saúde dos indivíduos tem o dever de promove-la mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos. Sobre a competência do município para tanto, no art.23, II da CF/88 há a precisão de que tal dever pertence aos três entes federativos: união, estados, do distrito federal e dos municípios nos seguintes termos:
Art. 23 É competência do comum da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios:
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”.
No mesmo art. 196, a Constituição Federal fala que o Direito à saúde ser garantido mediante políticas sociais e econômicas, políticas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, políticas que visem o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, o que revela o dever do Estado na promoção da saúde, tanto no âmbito preventivo como no âmbito do tratamento médico e hospitalar, bem como o caráter integral do direito à saúde, que não se resume à medidas relativas ao tratamento médico, mais à todas ações ligadas a proteção e promoção da saúde, incluindo o fornecimento de médicos, o desenvolvimento de novas tecnológicas, etc. Essa previsão contida na norma constitucional, faz com que todas as medidas necessárias para a consecução dessas políticas públicas sejam exigíveis do Estado.
A Lei 8.808/90 ao dispor sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e sobre a organização e funcionamento dos serviços correspondentes possui alguns pontos que merecem ser destacados dentro da temática de fornecimento de medicamentos que estamos abordando, vejam (grifo nosso): 
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS): 
(...)
III- A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
(...)
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
(...)
VI- a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; 
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no Art.198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II – integralidade se assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos paracada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; 
III – preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; 
(...)
Portanto, é inegável que o fornecimento de medicamentos, quando necessário à recuperação, promoção ou prevenção da saúde deve ser segurado pelo Poder Público ao indivíduo como parte das ações a serem promovidas em nome da proteção ao direito a saúde, sob a mácula de violação a este direito fundamental.
A respeito da interferência do Poder Judiciário neste campo, é preciso observar quem em função do princípio da separação de poderes, não cabe ao Poder Judiciário formular políticas públicas sócias e econômicas, sob pena da usurpação de competência do Legislativo. E, Excelência, não é isso que se requer na presente demanda. 
O que se pretende é combater um ato ilegal e abusivo do Poder Público Municipal que está pondo em risco direito Líquido e certo da impetrante, qual seja o seu direito fundamental a saúde, especificado no caso pelo acesso gratuito aos medicamentos de que necessita para o tratamento da sua doença.
Nesse sentido, Excelências, convém destacar os ensinamentos do professor Gilmar Mendes, que, com clareza, ensina que as hipóteses de conflito entre o estado e o cidadão envolvendo a efetividade do direito à saúde são diversas, e que, quando o Poder Judiciário constatar envolvendo a efetividade do direito à saúde são diversas, e que, quando o Poder Judiciário constatar a existência de política pública concretizada da mesma, identificando o motivo pelo qual a pretensão do indivíduo foi negada. Destaca que “pode ocorrer de medicamentos requeridos constarem das listas do Ministério da saúde, ou de políticas públicas estaduais ou municipais, mas não estarem sendo fornecidos à população por problemas de gestão: há Política Pública determinando o fornecimento do medicamento requerido, mais por problemas administrativos do órgão competente, o acesso está interrompido. Nesses casos, o cidadão, individualmente considerado, não pode ser punido pela ação administrativa ineficaz ou pela omissão do gestor do sistema de saúde em adquirir os fármacos considerados essenciais, em quantidades suficientes para atender à demanda. Não há dúvida de que está configurado um direito subjetivo à prestação de saúde, passível de efetivação por meio do poder judiciário”.
Muito bem, o conteúdo acima descrito demonstra de maneira objetiva que o direito à saúde é constitucionalmente inquestionável, sendo dever do estado (Poder Público) garantir o exporto na Constituição Federal de 1988. É, portanto, direito líquido e certo que vem sendo violado por ato ilegal cometido pela autoridade coatora, ensejando a reforma do v. acordão recorrido para a concessão da segurança pleiteada.
Ademais, reitera o pedido de concessão de liminar para assegurar à impetrante o direito de obter do Estado o fornecimento gratuito dos medicamentos receitados.
IV – CONCLUSÃO
Diante dessas considerações, a recorrente requer seja conhecido o presente recurso e, quando de seu julgamento, pede que lhe seja dado integral provimento para conceder a segurança pleiteada, determinando à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará que cumpra com o seu dever constitucional de garantir à recorrente o acesso gratuito ao medicamento receitado. Fazendo isto, essa colenda Câmara estará renovando seus propósitos de distribuir a tão almejada Justiça. 
Nestes Termos, 
Pede e espera deferimento. 
Ceará, 30 de dezembro de 2017.
ADVOGADA / OAB nº XXX

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