Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Seção 3 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CONSTITUCIONAL Muito bem, aluno! Já identificou qual o recurso cabível contra a decisão que denegou a segurança pleiteada pela sua cliente? Não é assim tão difícil, através de tudo que estudamos certamente você já sabe que o recurso cabível é o recurso ordinário constitucional. Você com certeza chegou a essa conclusão verificando que, primeiro, trata-se de mandado de segurança de competência originária do Tribunal de Justiça, eis que a autoridade coatora é Secretário de Estado, certo? Segundo, a decisão impugnada é uma decisão denegatória da segurança, ou seja, foi desfavorável a impetrante. Observados esses pontos, é evidente a aplicação do art.18 da Lei 12.096/09, que determina que das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos tribunais que deneguem a ordem pleiteada cabe recurso ordinário. Identificado o recurso cabível, você deve se lembrar que antes de mais nada ele possui expressa previsão constitucional, a qual não pode deixar de ser mencionado, pois está é a origem jurídica do instrumento processual. A Constituição Federal, nos arts. 102, II, ‘a’ e 105, II, ‘b’ trata da competência do STF e do STJ para julgar recurso ordinário em mandado de segurança. Observado os dois dispositivos, verifica-se que no presente caso se está diante da hipótese do art. 105, II, ‘b’, ou seja, que o seu recurso ordinário deverá ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, já que a decisão impugnada é oriunda de Tribunal de Justiça estadual, certo? Seção 3 DIREITO CONSTITUCIONAL Na prática! Ademais , você também deve se lembrar que o recurso ordinário é elaborado em duas petições, uma dirigida ao Tribunal de origem da decisão, no caso o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, eis que compete ao seu respectivo presidente a intimação do recorrido para apresentar contrarrazões e determinar a remessa ao Tribunal superior na forma do Art. 1.028, §2º do CPC. Por fim, não se esqueça do prazo legal de 15 dias para a interposição do recurso. A tempestividade é requisito essencial para o recebimento e processamento do recurso! Vamos então conferir o espelho da peça? EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ PROCESSO Nº. _________ Magnólia, já qualificada nos autos do processo em referência, não se conformando com a respeitável decisão da C. Câmara Cível desse Egrégio Tribunal de Justiça que denegou a ordem, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência por seu advogado adiante assinado, com fundamento no artigo 105, inciso II, alínea “b” da Questão de ordem! Constituição Federal e no art. 18 da Lei 12.016/90, dentro do prazo legal, opor o presente RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL, cujas razões seguem anexas, as quais requer sejam encaminhadas ao Colendo Superior Tribunal de Justiça. Nestes termos, Requer e espera deferimento. Caicó, Ceará, 30 de dezembro de 2017. ADVOGADO OAB Nº XXXXX AO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RAZÕES RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL RECORRENTE: MAGNÓLIA. RECORRIDA: SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ. COLENDA TURMA. ÍNCLITOS MINISTROS. DOUTA PROCURADORIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Em que pese o ilibado saber jurídico da Colenda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, o venerado acórdão que denegou a segurança pleiteada pela recorrente não merece prosperar, pelas razões de fáticas e jurídicas a seguir expostas: 1. DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE DO RECURSO: O recurso é tempestivo, respeitado o prazo legal de 15 dias (art.33 da Lei 8.038/90) para a sua interposição. A decisão recorrida foi publicada no dia 20/12/2017, e o presente recurso está sendo oposto no dia 30/12/2017, portanto, tempestivo. Ademais, a decisão denegatória da segurança ora impugnada foi proferida em mandado de segurança de competência originária do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, cabível, assim, o presente recurso nos termos do art. 18 da Lei 12.016/09. 2. SÍNTESE DO PROCESSO: Em 15/11/2017 a recorrente impetrou mandado de segurança contra a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará tendo como objeto ato praticado pelo Secretário de Saúde do Estado, o qual negou a impetrante o acesso gratuito a medicamento essencial para o seu tratamento médico. Os fatos que ensejaram a impetração do referido mandado de segurança foram os seguintes: a impetrante é uma jovem moça que recentemente foi diagnosticada com uma grave doença. Passou alguns dias internadas em Hospital Público estadual, na capital do Estado, após receber alta retornou à sua cidade natal. Entretanto, em razão do seu quadro clínico foi receitado que a impetrante fizesse uso contínuo do medicamento xxxxx, conforme consta nos documentos acostados na petição inicial, em especial o seu prontuário médico. O medicamento de que a impetrante necessita é gratuitamente fornecido pelo SUS, conforme consulta feita à lista de medicamentos elaborada pelo Poder Público. Em razão disso, a jovem se dirigiu ao centro de distribuição de medicamentos mais perto de sua casa, no município de Caicó, para solicitar a medicação. Lá chegando foi informada de que o fornecimento de medicamentos estava suspenso há alguns meses em razão de uma ordem da Secretaria Estadual de Saúde. Não lhe restando alternativa, a impetrante elaborou requerimento e protocolou junto a Secretaria, explicando sua situação e solicitando o fornecimento de medicamentos. Referido documento, conforme fez prova em anexo, foi formalizado em 11/10/2017. No dia 15/10/2017 obteve a resposta formal da Secretaria, informando que a compra de todos os medicamentos estava suspensa por tempo indeterminado. No mandado de segurança foi feito pedido de concessão de liminar para assegurar a Impetrante o direito de obter do Estado o fornecimento gratuito dos medicamentos receitados, o qual foi reiterado nos pedidos finais, como pedido principal da demanda. No dia 20/12/17 foi publicado o v. ácordão proferido pela C. Câmara Cívil do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará negando o pedido formulado pela impetrante com base no poder discricionário do Estado para decidir pelo fornecimento de medicamentos. Este é o resumo dos autos. 3. RAZÕES PARA REFORMA – DO DIREITO À SAÚDE E DA RESPONSABILIDADE E DEVER DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. O Direito à Saúde é um direito fundamental social, assegurado no art. 6º da Constituição Federal, a qual estabelece ainda em seu art.196, que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” O Direito à saúde tem uma dimensão tanto coletiva, como individual, ele não apenas significa uma diretriz a ser cumprida pelo Estado, mas um direito público subjetivo. Nesse sentido, o ilustre ex-ministro do STF Celso de Mello, ao julgar o AgR- RE 271.286-8/RS1, proferiu voto no sentido de reconhecer o direito à saúde como um direito exigível judicialmente, destacando que “a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse como prestações de relevância pública as ações e serviços de saúde (art. 197)”, legitimando a atuação do Poder Judiciário nas hipóteses em que a Administração Pública descumpra o mandamento constitucional em apreço. Nesse sentido, ressalta-se que a Constituição determina que o Estado, além de preservar a saúde dos indivíduos temo dever de promovê-la mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos. Sobre a competência do município para tanto, no art.23, II, da CF/88 há a previsão de que tal dever pertence aos três entes federativos: União, Estados e Municípios, nos seguintes termos: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”. No mesmo art. 196, a Constituição Federal fala que o Direito à Saúde deve ser garantido mediante políticas sociais e econômicas, políticas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, políticas que visem o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, o que revela o dever do Estado na promoção da saúde, tanto no âmbito preventivo como no âmbito do tratamento médico e hospitalar, bem como o caráter integral do direito à saúde, 1 AgR-RE 271.286-8, rel. Min. Celso de Mello, DJ de 12-9-2000. que não se resume à medidas relativas ao tratamento médico, mas à todas as ações ligadas a proteção e promoção da saúde, incluindo o fornecimento de medicamentos médicos, o desenvolvimento de novas tecnológicas, etc. Essa previsão contida na norma constitucional, faz com que todas as medidas necessárias para a consecução dessas políticas públicas sejam exigíveis do Estado. A Lei 8.808/90 ao dispor sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e sobre a organização e funcionamento dos serviços correspondentes possui alguns pontos que merecem ser destacados dentro da temática de fornecimento de medicamentos que estamos abordando, vejamos (grifo nosso): “Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: (...) III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): (...) d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; (...) VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; (...)” Portanto, é inegável que o fornecimento de medicamentos, quando necessários à recuperação, promoção ou prevenção da saúde deve ser assegurado pelo Poder Público ao indivíduo como parte das ações a serem promovidas em nome da proteção ao direito à saúde, sob a mácula de violação a este direito fundamental. A respeito da interferência do Poder Judiciário nesta seara, é preciso observar quem em função do princípio da separação de poderes, não cabe ao Poder Judiciário formular políticas públicas sociais e econômicas, sob pena da usurpação de competência do Legislativo. E, Excelência, não é isso que se requer na presente demanda! O que se pretende é combater um ato ilegal e abusivo do Poder Público Municipal que está pondo em risco direito líquido e certo da impetrante, qual seja o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#cfart198 seu direito fundamental à saúde, especificado no caso pelo acesso gratuito aos medicamentos de que necessita para o tratamento da sua doença. Nesse sentido, Excelências, convém destacar os ensinamentos do professor Gilmar Mendes2, que, com clareza, ensina que as hipóteses de conflito entre o Estado e o cidadão envolvendo a efetividade do direito à saúde são diversas, e que, quando o Poder Judiciário constatar a existência de política pública concretizadora do direito constitucional, deve então procurar verificar quais as razões para o não cumprimento da mesma, identificando o motivo pelo qual a pretensão do indivíduo foi negada. Destaca que “pode ocorrer de medicamentos requeridos constarem das listas do Ministério da Saúde, ou de políticas públicas estaduais ou municipais, mas não estarem sendo fornecidos à população por problemas de gestão: há politica pública determinando o fornecimento do medicamento requerido, mas, por problemas administrativos do órgão competente, o acesso está interrompido. Nesses casos, o cidadão, individualmente considerado, não pode ser punido pela ação administrativa ineficaz ou pela omissão do gestor do sistema de saúde em adquirir os fármacos considerados essenciais, em quantidades suficientes para atender à demanda. Não há dúvida de que está configurado um direito subjetivo à prestação de saúde, passível de efetivação por meio do Poder Judiciário”. Muito bem, o conteúdo acima descrito demostra de maneira objetiva que o direito à saúde é constitucionalmente inquestionável, sendo dever do Estado (Poder Público) garantir o exposto na Constituição Federal de 1988. É, portanto, direito líquido e certo que vem sendo violado por ato ilegal cometido pela autoridade coatora, 2 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev. e atual. – SãoPaulo : Saraiva, 2017. – (Série IDP). p. 703. ensejando a reforma do v. acordão recorrido para a concessão da segurança pleiteada. Ademais, reitera o pedido de concessão de liminar para assegurar à Impetrante o direito de obter do Estado o fornecimento gratuito dos medicamentos receitados. 4. CONCLUSÃO Diante dessas considerações, a Recorrente requer seja conhecido o presente recurso e, quando de seu julgamento, pede que lhe seja dado integral provimento para conceder a segurança pleiteada, determinando à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará que cumpra com o seu dever constitucional de garantir à recorrente o acesso gratuito ao medicamento receitado. Fazendo isto, essa colenda Câmara estará renovando seus propósitos de distribuir a tão almejada Justiça. Nestes termos, Pede e espera deferimento. Ceará, 30 de dezembro de 2017. ADVOGADO OAB Nº XXXXX 1) Qual o limite da discricionariedade do Estado quando se trata da efetivação de direito fundamental? 2) Por que razão o recurso ordinário possui previsão constitucional? 3) O legislador previu de forma específica o cabimento do recurso ordinário em mandado de segurança, no que ela se difere das demais hipóteses de cabimento? 4) A aplicação subsidiária do CPC ao processo de mandado de segurança levanta algumas controvérsias, como elas se fundamentam? 5) O que justifica o duplo grau de jurisdição no processo de mandado de segurança? Ele se aplica em outras situações? Resolução comentada
Compartilhar