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2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 FISIOLOGIA AULA 2 – SISTEMA DIGESTÓRIO Mastigação e Deglutição CONCEITOS GERAIS • Fome: Impulso comportamental que gera uma sensação, habitualmente gástrica, de necessidade de ingestão alimentar. É gerado através de grupamento neuronais no hipotálamo, o qual induz o sistema límbico, tornando a sensação de fome desagradável para que o indivíduo busque alimento. • Saciedade: Sensação de satisfação pós-prandial, resultado do relaxamento do sistema digestório após enchimento do estômago e diminuição da produção de saliva. • Apetite: Qualificação do alimento que se deseja inferir. Também chamado de orexia. Está ligado a sensação de fome. FÊNOMENOS MECÂNICOS TRITURAÇÃO É fundamental para aumentar a superfície de contato das substâncias e elas possam sofrer ação das hidrolases posteriormente. A trituração nem sempre é bem sucedida, depende do tempo de mastigação de cada indivíduo. HOMOGENIZAÇÃO É a formação de uma única fase pastosa do alimento ingerido. Quanto mais homogênea mais fácil a propulsão e digestão do alimento. SOLUBILIZAÇÃO É feita pela saliva, a qual transforma o alimento sólido em uma solução contínua. LUBRIFICAÇÃO Realizada pela mucina, proporcionando um melhor deslizamento do alimento pelo tubo digestório. A mucina é uma glicoproteína produzida pelas glândulas do tecido digestório. TEMPORIZAÇÃO DIGESTIVA Cada parte do sistema gastrointestinal possui um tempo perfeito para preparação e absorção de nutrientes. Estas partes são chamadas de estações de transformação, cada estação possui um tempo de permanência determinado, para que possa ter o processamento mecânico e químico adequado, respeitando a cinética enzimática das reações orgânicas. FISIOLOGIA DA MASTIGAÇÃO A mastigação reduz o alimento a pequenas partículas e as misturam com as secreções das glândulas salivares. Ela é dependente de um arco sensitivo-motor onde ambos são oriundos do nervo trigêmeo. Ela ocorre pela oposição de elementos dentários, os incisivos e caninos (cortar) e os molares (triturar), e com o auxílio dos ossos, músculos e articulações. REFLEXO MASTIGATÓRIO A presença do alimento na cavidade oral e a força compressiva dos dentes, gengiva e palato, são fatores percebidos pelos receptores periféricos. Eles desencadeiam reflexos, que são conduzidos por um ramo receptivo sensitivo do nervo trigêmeo, para o tronco encefálico. O núcleo sensitivo do trigêmeo no tronco encefálico detecta o aumento da estimulação táctil das estruturas intraorais, e encaminha para os neurônios do núcleo motor do trigêmeo, os quais inervam os músculos masseter e os pterigoides. PAROREXIA, HIPEROREXIA E HIPERFAGIA A parorexia é quando o indivíduo apresenta desejos de alimentação, é uma perversão do sistema alimentar. Também chamado de pica. Acontece em grávidas ou quando se têm a presença de um parasita. A hiperorexia é quando se têm uma ingestão alimentar acentuada, mas sem prazer. Pode levar a casos de bulimia ou obesidade. A hiperfagia é quando temos o aumento do catabolismo ou a descompensação metabólica, que leva a um grande aumento da ingestão alimentar, visando compensar o que está desequilibrado. Muito frequente em casos de diabetes, por exemplo. ANOREXIA E ANOREXIA NERVOSA A anorexia significa a falta total ou parcial do apetite. No caso da anorexia nervosa, os pacientes possuem um distúrbio da imagem corporal, eles se enxergam obesos. É uma patologia psiquiátrica grave, onde o indivíduo estimula o vômito compulsório, causando redução súbita da calorimetria da dieta e dificuldade para retorno da alimentação. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 Eles enviam uma resposta inibindo a atividade contrátil dos músculos, fazendo com que ocorra um relaxamento da mandíbula e ela distende novamente. O aumento da tensão das estruturas tendíneas por estiramento do relaxamento muscular, estimula o mesmo núcleo sensitivo do trigêmeo no tronco encefálico, que em seguida envia uma resposta através do ramo motor do trigêmeo causando uma nova contração da musculatura mastigatória. FISIOLOGIA DA SECREÇÃO SALIVAR A saliva é um líquido que contém eletrólitos e solutos orgânicos, secretado pelas glândulas exócrinas tubuloacinares, localizadas no crânio. Dentre elas temos as glândulas salivares maiores: parótidas (serosas), submandibulares (mistas) e sublinguais (mistas). Além disso, temos glândulas pequenas espelhadas por toda mucosa oral (mucosas). Essas glândulas produzem dois tipos de secreções proteica, uma serosa, contendo uma α-amilase salivar, denominada ptialina, e uma mucosa, contendo uma glicoproteína importante para proteção, lubrificação e tamponamento do trato gastroentérico, chamada de mucina. SECREÇÕES SALIVARES As células acinares sintetizam e secretam proteínas e um fluido com composição eletrolítica semelhante à do plasma. Esta secreção é chamada de saliva primária. Em seguida, a saliva primária é secretada nos ductos excretores, onde sofre alteração iônica e passa a ser chamada de saliva secundária. Uma bomba de sódio-potássio, faz uma troca reabsorvendo Na+ e secretando K+, criando uma diferença de concentração de cargas elétricas, que induz a reabsorção passiva de cloreto (Cl-). Também temos a secreção do íon bicarbonato (HCO3-) no ducto, parte ativa por meio de uma bomba e parte trocando cloreto por bicarbonato. No final, na saliva temos uma alta concentração de potássio e bicarbonato e uma baixa concentração de sódio e cloreto, pois foram reabsorvidos. AMILASE SALIVAR (PTIALINA) A ptialina tem o trabalho de ajudar a digerir o bolo alimentar no curto período de tempo até a região gástrica, pois lá essa amilase é exposta ao suco gástrico e tem sua ação inibida. PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA Parte de um ramo do nervo facial é afetada diminuindo o tônus muscular, tornando-o flácido. DENTES Os dentes são constituídos por um canal central inervado, chamado de cavidade pulpar. Esse é recoberto por um material de tecido vivo, denominado dentina. Por fim, na camada mais externa temos o esmalte, um material resistente, mas suscetível a dano ácido produzido pela placa bacteriana. • Dentição permanente: 2 incisivos, 1 canino, 2 pré-molares e 3 molares. • Dentição decídua: 2 incisivos, 1 canino e 3 molares. REFLEXO DE SUCÇÃO O lactente tem um reflexo primitivo de sucção, no qual a estimulação de áreas da gengiva e língua desencadeiam a sucção através da musculatura labial e do músculo bucinador. MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO • Masseter: É o principal, faz a elevação e protusão da mandíbula e auxilia a mover a mandíbula lateralmente. Inervado pelo nervo mandibular (ramo do trigêmeo). • Temporal: Eleva e retrai a mandíbula, auxilia no movimento lateral. Inervado pelo nervo mandibular (ramo do trigêmeo). • Pterigoide Medial: Faz elevação, protusão e deslocamento lateral da mandíbula. Inervado pelo nervo mandibular (ramo do trigêmeo). • Pterigoide Lateral: Abaixa, faz protusão e movimento lateral da mandíbula. Inervado pelo nervo mandibular (ramo do trigêmeo). O reflexo mastigatório pode ser ativado também por estímulos dolorosos ou gustativo-olfatórios. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 5 A composição iônica da saliva, varia de acordo com o fluxo. Quando temos um baixo fluxo de secreção, sua composição é hipotônica ao plasma, poisse tem mais tempo para as trocas, por isso as concentrações de Na+ e Cl- são menores. O aumento do fluxo, estimulado pela inervação parassimpática, eleva a osmolaridade da saliva, pois tem menos tempo para as trocas iônicas acontecerem e as concentrações de Na+ e Cl- são maiores. REGULAÇÃO DA SALIVA As glândulas salivares possuem inervação parassimpática superior e inferior. A superior é através do nervo glossofaríngeo e a inferior através do nervo facial. A estimulação acontece através de estímulos tácteis e gustativos, na língua e na região faríngea. Com isso, a produção de saliva ocorre pela presença de algo na cavidade oral ou pela presença de algum sabor. Por exemplo, a presença de alimentos lisos ou com sabor ácido. Também, podemos ter estímulo ou inibição da produção salivar por meio da visão ou do cheiro, através da área do apetite, próxima de núcleos parassimpáticos no hipotálamo anterior. Estímulos gástricos e duodenais como irritação e náuseas, podem estimular a produção de saliva. Por exemplo, no caso de ingestão de uma substância irritativa e que nos cause náuseas, temos o aumento da produção de saliva e outras secreções para diluir essa substância. O sistema nervoso simpático aumenta discretamente a salivação, por meio dos gânglios cervicais superiores ou pela parede vascular. Afeta mais a eliminação proteica do que a fluída, secretando uma saliva com gosto amargo pela alta quantidade de proteínas. FUNÇÕES DA SALIVA • Facilita a deglutição, lubrificando e homogeneizando o bolo alimentar. • Facilita os movimentos orais, permitindo a fonação. • Serve como solvente para moléculas saporíficas (moléculas de sabor), tornando possível a identificação delas pelas papilas gustativas. • Umidificação e irrigação da cavidade oral, removendo partículas alimentares e bactérias. Já que, em sua composição apresenta o íon tiocianato e proteases, como a lisozima. • Presença de imunoglobulina-A secretória, conferindo função imunológica. • Presença de lactoferrina (função bacteriostática, se ligando ao ferro). • Presença de proteínas ricas no aminoácido prolina, altamente glicolisadas. Protegem o esmalte dentário e inativam taninos tóxicos. • Neutralização de acides do bolo alimentar e do quimo refluído para o esôfago. FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO A deglutição é a passagem do bolo alimentar da boca para o estômago, através do esôfago. É dividido em dois estágios, sendo um voluntário e o outro involuntário. 1. Estágio Voluntário (Fase Oral): Presença do alimento na cavidade oral e sua retroprojeção para a faringe. Para realizar esse movimento, dependemos da musculatura estriada esquelética da cavidade oral, a língua. 2. Estágio Involuntário (Fase Faríngea e Esofágica): Estimulação de receptores tácteis na região faríngea, para empurrar o bolo alimentar pela porção mais caudal do esôfago, com posterior relaxamento do esfíncter esofagogástrico (cárdia), permitindo que o bolo alimentar entre no estômago. SEQUÊNCIA DA DEGLUTIÇÃO A fase oral é voluntária, e se inicia com a ingestão do alimento. O bolo alimentar é pressionado pela língua, contra o palato, e movimentado em direção à orofaringe. XEROSTOMIA Redução do volume de produção salivar. É um sintoma da Síndrome de Sjogren. Pode ser feito o uso de um spray, o qual cria uma camada líquida na cavidade oral, agindo como uma saliva artificial e facilitando a deglutição. SIALORRÉIA Produção de um volume excessivo de saliva. Comum de acontecer na doença de Parkinson ou por algum efeito irritativo na cavidade oral, podendo causar aumento da produção salivar até mesmo durante o sono A reabsorção de sódio é importante, pois ele conserva a osmolaridade do sangue. Por isso, as perdas de sódio são evitadas ao máximo. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 6 A fase faríngea é involuntária, e se inicia quando o bolo alimentar estimula receptores epiteliais da deglutição, especialmente nos pilares tonsilares, e seus impulsos passam para o tronco encefálico, iniciando uma sequência de eventos, os quais ocorrem rapidamente. Primeiramente, temos a elevação do palato mole em direção a nasofaringe, impedindo a entrada de alimento. Em seguida, as pregas palatofaríngeas são empurradas medialmente de forma a se aproximarem, formando uma fenda, a qual seleciona alimentos suficientemente mastigados, regulando o tamanho do bolo alimentar que digerimos. Após, ele chega na região de encontro do canal respiratório e do canal digestório, com isso, temos a aproximação das cordas vocais com tração da laringe para cima e para frente pelos músculos do pescoço. Assim, a epiglote é movimentada para trás, na direção da abertura da laringe, e a glote é movimentada para cima, impedindo a passagem do alimento para traqueia. O esfíncter esofágico superior se relaxa, o alimento passa e a faringe faz contração criando uma onda peristáltica para prosseguimento do bolo alimentar. A fase esofágica é involuntária, e se inicia quando o bolo alimentar chega até o esôfago e ocorre a peristalse primária esofagiana. Essa é a continuação da onda peristáltica que começa na faringe e percorre todo o esôfago, relaxando o esfíncter esofágico inferior. Ainda temos a peristalse secundária esofagiana, quando a primeira onda não é suficiente para empurrar o bolo alimentar, a segunda é resultado da distensão do próprio esôfago, por circuitos intrínsecos mioentéricos e por reflexos dos nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X). ESFÍNCTER ESÔFAGO-GÁSTRICO (CÁRDIA) É um anel muscular localizado na porção final do esôfago, que, em condições normais permanece tonicamente contraído, só relaxando quando a onda peristáltica desce. • Componente Intrínseco: Musculatura circular, localizada 3 cm acima da junção. Ela faz a contração tônica entre as deglutições. • Componente Extrínseco: Construído pelas fibras da porção crural do diafragma, as quais abraçam o cárdia em sua passagem. O enfraquecimento delas pode causar hérnias hiatais e diminui a função do esfíncter. • Fibras Gástricas Oblíquas: Ao entrar no estômago, o alimento empurra uma parte das fibras gástricas para cima e veda o retorno do conteúdo gástrico. Esse mecanismo mantém o cárdia ocluído. Isso também ocorre, quando temos o aumento abrupto da pressão intragástrica, como na tosse, inspiração profunda ou esforço físico. Quando os ramos do nervo vago para o esôfago são cortados, o plexo nervoso mioentérico do esôfago fica excitável o suficiente para causar, ondas peristálticas secundárias fortes, mesmo sem o suporte dos reflexos vagais. Portanto, mesmo depois da paralisia do reflexo da deglutição no tronco encefálico, alimento introduzido por sonda no esôfago, ainda passa rapidamente para o estômago. INERVAÇÃO DO ESÔFAGO Impulsos aferentes se originam do esôfago e atingem o centro de deglutição, principalmente pelos nervos vago e glossofaríngeo. O centro de deglutição fica no tronco encefálico, dele partem os nervos motores eferentes para o esôfago, inervando a musculatura estriada, via fibras vagais somáticas, e a musculatura lisa e seus plexos intramurais, via fibras vagais viscerais. As fibras eferentes para a faringe e o esôfago se originam nos núcleos dos nervos facial, hipoglosso e trigêmeo. Os pilares faríngeos são inervados pelos nervos trigêmeo (V) e glossofaríngeo (IX), o estímulo é projetado para o nervo vago (X). A gravidade também é um fator que auxilia na fase de deglutição, ajudando a empurrar o bolo alimentar. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 7 INTEGRAÇÃOCLÍNICO-CIRÚGICA • Esofagite por cáusticos: Ingestão de soca cáustica. A pessoas que sobrevivam a isso, permaneciam com a destruição do tecido do esôfago pela cicatrização, tendo a diminuição da elasticidade, podendo resultar em estenose (redução da luz). • Cateterização naso ou oroesofagogástrica: Usada para lavagem gástrica ou como via de administração de alimentação por pouco tempo. REFLUXO GASTROESOFÁGICO Disfunção do esfíncter gastroesofágico, devido a um distúrbio da regulação neural do cárdia. Ele é mantido contraído por uma relação colinérgica vagal e relaxa por ação do óxido nítrico e do peptídeo intestinal vasoativo, que são interneurônios parassimpáticos. O tratamento cirúrgico se chama fundoplicação, no qual pegam um pedaço de tecido do fundo gástrico para reforçar as estruturas próximas do esfíncter. O refluxo é comum em lactentes, pois eles ainda não possuem uma maturação do sistema. AEROFAGIA Aerofagia é uma condição de deglutição excessiva do ar, o qual fica aprisionado no esôfago ou no estômago. Acontece em situações de alto nível de ansiedade, normalmente associada a queixa de eructação e gases presentes no tubo digestivo. ACALASIA Contração exagerada com déficit de relaxamento do esfíncter, por baixa liberação de fatores humorais inibitórios ou por dilatação maciça. O tratamento cirúrgico é feito através de miotomia (corta parte das fibras), dilatação pneumática (passa uma vela por endoscopia) ou bloqueio botulínico (injeta toxina botulínica, a qual possui um efeito bloqueador da contratilidade muscular. Engolimos cerca de 600 vezes nas 24 horas, 200 vezes prandiais, 350 vezes quando não estamos comendo e 50 vezes durante o sono.
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