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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS PROFESSORES Dr.ª Vânia de Fátima Matias de Souza Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 2 Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Qualidade Textual Hellyery Agda, Revisão Textual Cíntia Prezoto Ferreira, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; SOUZA, Vânia de Fátima Matias de. Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira; Vânia de Fátima Matias de Souza. Maringá - PR.:UniCesumar, 2018. 160 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Infantil . 2. Pedagógicas. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0945-3 CDD - 22ª Ed. 701.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoriade Permanência 6 autores Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2014). Mestre em Educação Física pela UEM (2009). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa/2000) e graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/2000). Professora Adjunta do Departamento de Educação Física da UEM. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, estágio supervisionado, formação profissional e políticas públicas. Link: <http://lattes.cnpq.br/7642081335847897>. Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Pós-Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2015). Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/1999). Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/1988). Especialista em Educação Física Infantil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/1984). Graduado em Educação Física pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar/1979). Atualmente é professor Associado nível C da UEM. Integrante do Programa de Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física, com orientações de mestrado e doutorado. Tem experiência na área de educação física, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino e Metodologia da Pesquisa, atuando principalmente nos seguintes temas: formação profissional, currículo, atividade física e saúde, educação física escolar, atividade física e obesidade. Consultor ad hoc do Ministério da Educação/SESu/Inep para comissões de ava- liação institucional e de autorização e reconhecimento de cursos em educação física. Atuou como Consultor do Ministério do Esporte na Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis) como Coordenador Pedagógico Nacional dos Programas de Esporte Educacional. Link: <http://lattes.cnpq.br/5845836567219056>. apresentação EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS Seja bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), este material é fruto de reflexões e análises que buscam con- tribuir para que as aulas de educação física escolar, tratadas na educação infantil e nas séries inicias do ensino fundamental, possam avançar cada vez mais! Afinal, reconhecemos que o caminho trilhado pela educação física no universo escolar tem sido uma trajetória marcada pela busca de uma ação pedagógica que valorize o desenvolvimento da criança, respeitando suas individualidades, potencializando suas capacidades e valorizando suas experiências, sua cultura e seus conhecimentos. Neste livro, trazemos uma proposta de intervenção por meio da qual você poderá construir um planejamento para as aulas aplicadas no contexto de atuação da educação física escolar a partir da valorização das potencialidades da criança. Aliás, é ela – a criança – o centro de nossas ações e interações, e é por esse motivo que trazemos argumentos e apontamentos que contribuirão para a organização dos conteúdos. As discussões aqui apresentadas se dão a partir das relações estabelecidas entre as temáticas do movimento e da corporeidade; do movimento e dos jogos; do movimento e do esporte; do movimento em expressão e ritmo; e, por fim, do movimento e da saúde. Nosso intuito é que você tenha um rol de conhecimentos que lhe possibilite estruturar um planejamento adequado à realidade das crianças no contexto escolar. Para tanto, o livro foi organizado e escrito com o intuito de levar você a en- tender a importância do planejamento para as aulas de educação física escolar. Assim, organizamos as discussões trazendo reflexões e análises acerca do conceito e construção da infância, e trazemos os apontamentos legais da educação física escolar, que irão ajudá-lo(a) a compreender como se dá o processo de legalização da educação física. Outro ponto central para as ações didático-pedagógicas apresentadas neste livro é a questão do planejamento, que está estruturado e organizado por meio de um passo a passo para a construção de um bom programa escolar. E, para auxiliá-lo(a) nessa tarefa, na sequência você terá os mapas conceituais que irão lhe ajudar a com- por esse planejamento para os contextos da educação infantil e das séries iniciais. Esperamos que você aproveite a leitura, reflita e analise todos os caminhos e ações tratados para que as aulas de educação física possam romper com os discursos fragmentados de uma prática pouco estruturada. Ótimos estudos! Abraços. sumário UNIDADE I O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA SOCIEDADE E NA ESCOLA 14 O Conceito de Infância: Uma Construção Histórica 20 A Infância no Espaço Escolar: da Assistência ao Caráter Educativo das Instituições de Edu- cação Infantil 26 A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância 30 Considerações Finais 35 Referências 38 Gabarito UNIDADE II A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO 44 Educação, Educação Infantil e Educação Física 48 A Educação Infantil na Legislação 54 Refletindo Sobre A Educação Física Na Edu- cação Infantil 59 Considerações Finais 65 Referências 67 Gabarito UNIDADE III PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 74 Planejar é Imprescindível 86 Como Pensar a Educação Física de Forma Sistematizada 88 Caminhos Para o Processo de Estruturação dos Conteúdos da Educação Física 92 Considerações Finais 97 Referências 99 Gabarito UNIDADE IV SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 104 A Educação Física na Educação Infantil: quem é a Criança 110 Características da Criança da Educação Infantil 114 Mapa Conceitual dos Conteúdos da Educação Infantil 120 Planejando as Aulas para a Educação Infantil 122 Considerações Finais 127 Referências 129 Gabarito UNIDADE V PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 134 A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir das Abordagens Educacionais: quem é a Criança 140 Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: mapas Conceituais 1º ao 3º Anos 144 Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: mapas Conceituais do 4º e 5º Anos 148 Considerações Finais 153 Referências 154 Gabarito 156 Conclusão Geral Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O conceito de infância: uma construção histórica • A infância no espaço escolar: da assistência ao caráter educativo das instituições de educação infantil • A escola e a infância: a institucionalização da criança e da infância Objetivos de Aprendizagem • Analisar a construção histórica da infância e suas relações com o campo escolar. • Compreender o conceito de infância tratado na sociedade contemporânea a partir das finalidades do atendimento das crianças da educação infantil e das séries iniciais nas instituições educativas. • Entender as implicações da formação do conceito de infância nas relações escolares. O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA SOCIEDADE E NA ESCOLA I unidade INTRODUÇÃO As ações educativas vão se constituindo ao longo da história enquanto possibili- dades de transformações sociais partem das práticas individuais e se expandem às coletivas. Nesse sentido, estamos iniciando um momento para refletirmos so- bre a compreensão da infância ao longo da história da sociedade, bem como sua estruturação no campo da educação infantil e das séries iniciais da Educação Básica, como uma possibilidade de repensarmos e reorganizarmos nossa prática cotidiana escolar. Partimos desse pressuposto por entendermos que, para iniciarmos os estudos acerca da infância, é preciso, em um primeiro momento, conhecer e reconhecer o papel que a criança tem ocupado na família e na sociedade ao longo dos séculos, para que possamos chegar àcompreensão dos caminhos que a infância, na edu- cação brasileira, tem ocupado. Revisitar alguns fatos que marcaram a história e os caminhos que a infância tem trilhado na sociedade nos possibilita revisitar a história social a que estamos submetidos. Assim, temos condições para refletirmos e analisarmos os aconte- cimentos como possibilidade de compreensão e entendimento das práticas que se estabelecem. Para Coelho (2001, p. 31), “estudar a história é ainda escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”. Por essa razão, optamos por apresentar, como caminho histórico desta unidade, os aponta- mentos e considerações acerca da infância no seu entendimento a partir da realidade social para então, tratar, dos espaços educativos. Para tanto, é imprescindível situarmos a compreensão da infância no contexto social e histórico para chegarmos à representação e ao papel da infância nas instituições de ensino na sociedade contemporânea. Assim, precisamos refletir sobre as seguintes questões: quem é a criança a que nos referimos no espaço escolar na atualidade? Como podemos enten- der e tratar a infância a partir dos paradigmas e propostas educacionais? Buscando respostas a esses questionamentos e a outros que podem sur- gir ao longo da caminhada, vamos aos estudos! EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 14 Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância implica estar disposto a buscar, junto aos aconteci- mentos que se deram na sociedade contemporânea, as dimensões e compreensões que foram sendo de- sencadeadas a partir das relações sociais, políticas e econômicas existentes, e relacioná-las ao papel que a criança foi constituindo e ocupando junto à família, ao Estado e no campo educacional. Para os estudos relacionados à educação física in- fantil e das séries iniciais, vamos considerar a criança O Conceito de Infância: Uma Construção Histórica e a infância como objetos centrais das discussões e encaminhamentos propostos. Afinal, para tratarmos das questões da corporalidade e do movimento das ações infantis nesse momento da escolarização, é ne- cessário, em um primeiro momento, entendermos de quem estamos falando, para, na sequência, com- preendermos como trabalhar os conhecimentos, princípios, normas e valores escolares, respeitando os limites e fragilidades das crianças e destacando suas potencialidades nas aulas de educação física. 15 EDUCAÇÃO FÍSICA ça tem sido vista, principalmente, a partir das rela- ções e necessidades sociais. Veja o que dizia Platão sobre a criança da realidade ateniense de sua época: [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança é a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte de razão que nela existe ainda ser indisciplina- da, a criança é uma criatura traiçoeira, astucio- sa e sumamente insolente, diante do que tem que ser atada, por assim dizer, por múltiplas rédeas [...] (PLATÃO, 2010, p. 302). Essa afirmação retrata a visão que se tinha na Anti- guidade acerca do que era ser criança; significava ser um sujeito que deveria ser disciplinado, com regras rígidas e poucas oportunidades para explorar seu potencial, pois este poderia ser prejudicial ao con- vívio social. Afinal, a infância era entendida como uma fase da vida construída socialmente e, portanto, a criança deveria ser educada de tal forma que não se tornasse um adulto indisciplinado para com as re- gras de convívio social. A história da infância sempre esteve associada às ações e aos contextos sociais que envolvem todas as relações existentes entre a política, a influência da cultura, da economia e dos espaços a que esta- mos submetidos em cada tempo social. Para Ariès (2006), o sentimento de infância traduz a evolução histórica de suas várias concepções, desde o não re- conhecimento ao reconhecimento de que as crian- ças são diferentes dos adultos, culminando com as novas invenções e sentimentos de infância na mo- dernidade. É importante destacar que o trato para com a infância, no que se refere à pesquisa, valoriza- ção e/ou preocupação enquanto formação humana, pertencente às artes e ao convívio social, foi, durante um longo período da história da sociedade, muito ignorada e, por vezes, estereotipada. Esse fato se evi- Para tanto, caro(a) aluno(a), iniciamos com o entendimento básico acerca do que se trata a infân- cia – segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe (2001, p. 11), “a infância nada mais é que um arte- fato social e histórico, e não uma simples entidade biológica”. A partir dessa definição, você deve estar se questionando por que o estudo da infância se faz necessário nesse momento. A resposta a esse ques- tionamento está no fato de que é preciso estudar e revisar o significado de infância na história da so- ciedade a partir de perspectivas pedagógicas e so- ciais, para que possamos realizar as devidas análises conjunturais e estruturais que envolvem a criança na sociedade contemporânea no contexto escolar, para que seja possível planejar e orientar ações que levem a uma ação pedagógica que possibilite, à criança, desenvolver suas potencialidades motoras, sociais e comportamentais a partir das diversas infâncias e realidades que se apresentam nesses espaços de in- tervenção pedagógica. O conceito de infância não é algo linear na his- tória – tem se alterado e, para chegarmos ao con- ceito de infância brasileira, é preciso entendermos a conjuntura social global que tem se constituído em torno do assunto. Tendo essa compreensão, vamos primeiro, nesta unidade, compreender o conceito de infância trata- do na sociedade contemporânea a partir dos estu- dos de Ariès (2006), Durkheim (1996), Guiraldelli (1996), Bujes (2001), Steinberg e Kincheloe (2001) e Heywood (2004): como tem se constituído o con- ceito de infância, como esta tem sido apresentada e considerada junto ao universo familiar, escolar e social no decorrer da história da sociedade contem- porânea. O conceito de infância tem se constituído de for- mas distintas. Em cada tempo e espaço social, a crian- EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 16 dencia a partir da afirmativa de Ariès (2006, p. 50), ao dizer em seus estudos que “até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo”. Cabe lembrar que até por volta do século XVIII, as imagens, gravuras e retratos das crianças foram escassos ou quase inexistentes e, quando retratadas, não eram caracterizadas como crianças, mas como adultos em miniatura, ou seja, desde a roupa, a ves- timenta e a postura até o comportamento ali repre- sentado eram de um adulto em tamanho reduzido. Heywood (2004, p. 23) vai além, e afirma que a ‘descoberta’ da infância teria de esperar pelos séculos XV, XVI e XVII, quando então se reco- nheceria que as crianças precisavam de trata- mento especial, ‘uma espécie de quarentena’, an- tes que pudessem integrar o mundo dos adultos. Essa forma de olhar para a criança começou a se mo- dificar lentamente a partir do século XIX, com os estudos realizados e publicados por Ariès (2006). De acordo com o autor, a preocupação com a infância vai se dar a partir do instante em que o campo his- toriográfico passa a romper com as rígidas regras da investigação tradicional, institucional e política, para abordar temas e problemas vinculados à história so- cial. Nesse sentido, o autor contrapõe as afirmativas de que a infância foi esquecida ou ignorada. Para ele, o que aconteceu foi decorrente das dificuldades em- píricas e científicas para se estruturar e reconhecer a infância a partir da perspectiva histórica. Essas relações ocorridas entre o pensar, o agir, o conceituar, valorizar, pesquisar e/ou se preocupa com a formação do ser humano na sua infância tem se transformado de acordo com cada tempo histórico – com cada realidade social e econômica o olhar para a infância foi modificadopara atender as demandas que foram surgindo no decorrer de cada momento da sociedade. Em séculos distintos, esse interesse e preocupação com a infância foram alterados. Até o século XIII e início do século XIX, por exemplo, [...] pode-se apresentar um argumento con- tundente para demonstrar que a suposta in- diferença com relação à infância nos períodos medieval e moderno resultou em uma postura insensível com relação à criação de filhos. Os bebês abaixo de 2 anos, em particular, sofriam de descaso assustador, com os pais consideran- do pouco aconselhável investir muito tempo ou esforço em um “pobre animal suspirante”, que tinha tantas probabilidades de morrer com pouca idade (HEYWOOD, 2004, p. 87). Como consequência, o trato para com a infância e o desenvolvimento da criança naquele momento acabava sendo refletida no contexto da educação da criança pequena, o que significava que aos adultos responsáveis pelas crianças não era exigida nenhu- ma preparação. A criança não traz mais do que a sua natureza de indivíduo. A sociedade se encontra, a cada nova geração, como que em face de uma nova tabula rasa, sobre a qual é preciso construir quase tudo de novo. É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela agregue ao ser egoísta e so- cial, que acaba de nascer, uma natureza capaz de vida moral e social, eis aí a obra educação (DURKHEIM, 1994, p. 42). Em sua análise histórica, Ariès (2006) assume e en- fatiza que a infância do século XIX e início do sé- culo XX passou por fenômenos de clausura, pois as crianças eram separadas dos adultos por faixa etária e tinham assegurada uma educação voltada para os bons hábitos, o que garantia uma infância inocente e 17 EDUCAÇÃO FÍSICA civilizada. Desse modo, a vida social em um espaço público era substituída por um espaço privado. As- sim, a criança, tida como irracional, não teria meios psicológicos para o pensar e o agir socialmente, dei- xando de aproveitar tal momento para aprender ati- tudes socialmente valorizadas, como nos aponta De Mause (1991). Elias (1994), em seu texto A Sociedade dos In- divíduos, traz à tona outras reflexões acerca da in- fância ao enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem uma dependência natural do outro para se tornar social, ressaltando os processos sociais presentes na infância. O autor ainda afirma que os valores ou crenças, as representações, os sistemas simbólicos constituídos pelas crianças e o significado das suas experiências ao longo de seu processo civilizador têm se modificado ao longo da história da socie- dade em função das mudanças sociais; assim, pas- sou-se a entender que a medida em que a criança se relaciona com os indivíduos à sua volta, a sua sub- jetividade se depara com novos mundos que trans- formam seu comportamento social e suas funções psicológicas. Elias (1994, p. 27), afirma, ainda, que o indivíduo só se humaniza através do outro, a criança, isolada dessas relações, evolui, na me- lhor das hipóteses, para a condição de um ani- mal humano semi‐selvagem afinal, [...] a criança não é apenas maleável ou adap- tável em grau muito maior que os adultos. Ela precisa ser adaptada pelo outro, precisada da sociedade. [...] Na criança, não são apenas as ideias ou apenas o comportamento consciente que se veem constantemente formados e trans- formados nas relações com o outro e por meio delas (ELIAS, 1994, p. 30). De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès (2006) quanto por Elias (1994), o destaque foi para evidenciar que as crianças, que inicialmente eram vistas apenas como seres biológicos, passaram a ser vistas e compreendidas na sua totalidade e chegam na sociedade moderna como sendo aquelas que ne- cessitavam de grandes cuidados e, também, de uma rígida disciplina, a fim de serem transformadas em adultos socialmente aceitos. Logo, não era só a fa- mília a responsável pela criança; o Estado passa a ocupar um papel importante junto a essa categoria da sociedade. Segundo Levin (1997, p. 254), a par- tir da Revolução Francesa, em 1789, modificou-se a função do Estado e, com isso, a responsabilidade para com a criança e o interesse por ela. Assim, “os governos começaram a se preocupar com o bem-es- tar e com a educação das crianças”. As mudanças e transformações para com o conceito de infância se alteraram, em especial, a partir do século XVIII, isto porque, de acordo com Guiraldelli (1995), [...] o século XVIII, em que um novo sentimen- to dos adultos em relação às crianças já carac- teriza a presença social da noção de infância, o que proporciona o advento de uma pedagogia que advoga uma disciplina autônoma, e não mais heterônoma. Se Locke trabalha com o ob- jetivo de estabelecer as condições da liberdade dos homens, Montaigne, antes dele, quer que os adultos façam da criança um homem – o que já significa considerar que ela não é um “adulto em miniatura” – e Rousseau, depois dele, quer que os adultos deixem a criança ser criança, de modo que a infância aconteça, pois ela é o que há de melhor nos homens (GHIRALDELLI, 1996, p. 15). EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 18 Evidente que essa mudança na perspectiva de se co- locar a infância como um período que compreendia o desenvolvimento global da criança só foi possível porque também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser criança e a importância que foi dada ao momen- to específico da infância (BUJES, 2001, p. 13). Chegamos à atualidade entendendo que não é pos- sível classificar a infância como sendo simplesmen- te uma fase do desenvolvimento humano ou que o crescimento natural da criança se dá exclusivamen- te por razões biológicas, pois essa visão seria muito reducionista. Tal entendimento foi se constituindo durante as transformações da ciência produzida na sociedade moderna, que ao longo dos tempos pas- sou a caracterizar e buscar a compreensão da criança e da infância a partir dos fenômenos psicológicos, das influências sociais, culturais e históricas – e essa realidade é sempre modificada culturalmente. Na realidade brasileira, o conceito de infância tem sido o adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg e Kincheloe (2001, p. 11) “na realidade, o que nos últimos anos do século XX foi rotulado como uma infância tradicionalmente ocidental tem apenas cer- ca de 150 anos”, o que significa que ainda temos uma história da infância muito recente com escassos es- tudos que se ocupam do desenvolvimento integral da criança para além do biológico. Essas mudanças podem ser justificadas de acordo com Sarmento (2005, p. 363), pelo fato de que histori- camente associamos infância à imagem da criança ou, mais especificamente, a uma determinada etapa cro- nológica do desenvolvimento humano, fruto de pers- pectivas biologistas e psicologizantes. Essa perspecti- va foi se modificando ao longo dos tempos, afinal, [...] a infância que aqui está em questão não pode ser simplesmente algo que precede cro- nologicamente a linguagem e que, a uma certa altura, cessa de existir para versar-se na pala- vra, não é um paraíso que, em um determi- nado momento, abandonamos para sempre a fim de falar, mas coexiste originalmente com a linguagem, constitui-se aliás ela mesma na expropriação que dela efetua, produzindo a cada vez o homem como sujeito (AGAMBEN, 2005, p. 59). Observamos que a palavra “infância” foi se modifi- cando ao longo dos tempos: passa de um ser infante – “não falante” (ARIÈS, 2006) – para ser valoriza- da enquanto um ser em formação essencial e como parte da sociedade à qual pertence. Contribuíram para essa mudança de pensamento os estudos de Comenius (1592-1670), Locke (1632-1704), Rou- sseau (1712-1778), dentre outros que possibilita- ram tornar o século XX o que Becchi (1994) vai chamar de “século das crianças”, em que os estudos sobre a infância se colocaram como centro das teo- rias, das pesquisas, das preocupações pedagógicas, sanitárias e sociais, atentas ao desenvolvimento das chamadascrianças pequenas. Com essas compreensões, chegamos à atuali- dade entendendo a infância como um momento de desenvolvimento do ser humano que deve ser considerado na sua integralidade. Entendemos que a criança possui características e necessidades pró- prias, que influencia e é influenciada pelo contexto em que se encontra inserida, porque pertence a um meio social cuja imersão cultural lhe permite en- tender o mundo que a cerca, e o contexto escolar vai surgir nesse compasso como um importante meio dessa transformação. 19 EDUCAÇÃO FÍSICA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 20 Reconhecemos que a história da infância tem sido marcada por inúmeras transformações e que, ao re- fletirmos acerca do desenvolvimento da criança e da infância no espaço escolar, temos que compreendê- -la a partir das diversas possibilidades e perspectivas históricas de cada contexto e espaço social. Segundo Kuhlmann Jr. (1991, p. 05), “a compa- ração com o passado precisa superar a linearidade para não obscurecer o presente que se quer pôr em questão”. Tendo esse entendimento, compreender o conceito de infância e seu desenvolvimento para as ações do cotidiano pedagógico escolar se torna essencial para que estas possam ser planejadas de acordo com cada momento que a criança está pas- sando e que, como consequência, poderá influenciar no processo de aprendizagem escolar. Os conceitos de criança e infância são diferen- ciados, porém se encontram intimamente ligados. É preciso entender que, ao tratarmos da criança, esta- mos nos referindo a uma fase com desenvolvimento e ações desejadas para um determinado momento cronológico. Quando nos referimos ao conceito de infância, referimo-nos a uma categoria ampla na qual se considera a criança um ser social e cultural. Para esclarecer essas definições, fazemos uso das pa- lavras de Sarmento (2005a, p. 04), que define que a infância é independente das crianças; estas são os atores sociais concretos que em cada momen- to integram a categoria geracional; ora por efeito da variação etária desses atores, a “geração” está continuamente a ser “preenchida” e “esvaziada” dos seus elementos constitutivos concretos. A Infância no Espaço Escolar: DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER EDUCATIVO DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL 21 EDUCAÇÃO FÍSICA Para entendermos melhor a definição do termo crian- ça, vamos recorrer ao Estatuto da Criança e do Ado- lescente (BRASIL, 1990). Nele, temos estabelecido que se considera criança “a pessoa até os 12 anos de idade incompletos”. Kramer (2006) vai além e afirma que as crianças são sujeitos sociais e históricos, que produzem cultura e são nela produzidas. A infância, segundo Castro (2008, p. 04), deriva da palavra infante e evoca um período da vida humana. [...] É um período que pode- ríamos chamar de construção/apropriação de um sistema de comunicação, de signos e sinais destinados a fazerem-se ouvir. Em síntese, tratamos aqui de infância, pois conside- ramos, dentre outras, as transformações culturais, so- ciais, políticas, econômicas e pedagógicas que ocor- rem na sociedade num dado tempo e espaço, e que vão se configurar e se desenvolver de acordo com o contexto familiar, social e cultural, tendo ou não um papel social significativo. Nesse contexto, podemos considerar as ideias de Sarmento (2005), que entende a infância como uma construção social, com diferenças diacrônicas, ou seja, historicamente construídas e transformadas no decorrer dos anos. Há, também, diferenças sin- crônicas, que revelam que, em um mesmo tempo, as formas de compreender a infância podem ser distin- tas, conforme a localização geográfica, as religiões, a etnia, a classe social, o gênero, enfim, são muitas as variáveis que interferem na maneira de representar a infância, isso porque é nesse período que se pode experimentar e vivenciar diversas experiências em contextos diferenciados. É visível que, como vimos anteriormente, essa noção e preocupação para com a infância vai se dar efetivamente e com maior intensidade ao longo do século XX, período que se constituiu como um sécu- lo que trouxe inúmeras transformações na sociedade e, em especial, para a infância, para com as responsa- bilidades do cuidar e educar a criança pequena. Vale lembrar que foi nesse século que o Estado passou a ter efetivamente o dever obrigatório com a educação infantil, que passou a ser vista como um momento essencial para o desenvolvimento da criança. Muitas transformações se aglutinaram com a presença do Estado como um dos gerenciadores e responsáveis pela educação da criança, influen- ciando e refletindo diretamente em mudanças na construção e ideal de famílias da sociedade con- temporânea. De acordo com Perez (2012), essas transformações nas finalidades da família resulta- ram das mudanças que aconteceram no processo histórico, social, econômico e cultural – muitos aspectos contribuíram para a caracterização do grupo familiar tal qual o concebemos em nossos dias, ou seja, como instituição que representa es- paço de educação e transmissão de valores e nor- mas, bem como de expressão da afetividade entre seus componentes. Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto histórico da infância, passamos a buscar o entendi- mento de como essas mudanças no conceito e ideal de família e de sociedade passaram a influenciar e a modificar o campo da educação para atender as crianças que necessitavam de cuidados; afinal, a educação também precisou se adequar para atender a essas novas demandas sociais. EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 22 [...] entender as condições históricas da emergên- cia do ‘sentimento de infância’ possibilita também a compreensão de que esse sentimento começa a se fazer necessário a partir do século XVI. Inventá- -lo foi uma estratégia de governo para preservar as crianças de diversas práticas, como a dos hospícios de menores abandonados, a criação dos filhos por amas-de-leite e a educação artificial das crianças ricas. Acima de tudo, de impedir a morte das crian- ças. O governo dos infantis enquanto população constitui-se num certo sentido como uma tomada de poder sobre as crianças, a fim de fazê-las viver. Para uma maior compreensão dessa afirmativa, vale nos voltarmos para Kramer (2001), que destaca que o grande impulso para o desenvolvimento da educa- ção infantil foi a Segunda Guerra Mundial: [...] a segunda guerra mundial provocou um novo impulso ao atendimento pré-escolar, vol- tando-se principalmente para aquelas crianças cujas mães trabalhavam em indústrias bélicas ou naquelas em que substituíam o trabalho mas- culino. Por um lado, foi introduzido o conceito de assistência social para as crianças pequenas, sendo ressaltada a sua importância para a comu- nidade na medida em que liberava a mulher para o trabalho (KRAMER, 2001, p. 27). Como consequência desse movimento necessário de ingresso da mulher no mundo do trabalho, a educa- ção infantil passa a ter como objeto de ação e discus- são os elementos culturais que precisavam ser assi- milados pelos sujeitos que compõem a sociedade, o que significava que, para buscar o desenvolvimento da industrialização e do comércio na sociedade, ou seja, para que a sociedade fosse transformada, era preciso que a mulher também passasse a fazer parte desse cenário; daí a necessidade de se efetivar um local no qual as crianças pequenas pudessem ficar sob cuidados e iniciarem sua formação. Assim, fo- ram concebidas as primeiras creches: A escola passa a exercer um papel essencial na for- mação do sujeito e, para tanto, o devir pedagógico torna-se significativo para as ações desencadeadas nesse contexto. De acordo com Saviani (1997, p. 17), o trabalho educativo é entendido como “o ato de pro- duzir, direta e in tencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Na prática cotidiana escolar, háque se considerar todos os co- nhecimentos e elementos produzidos ao longo da his- tória por meio da ciência e do empirismo sobre quem é a criança, como é ser criança e o que significa a in- fância, visando um trabalho pedagógico qualificado e que tenha condições de oportunizar o desenvolvi- mento nesses espaços educativos de educação formal. No compasso das discussões acerca do papel da es- cola surge a discussão e a necessidade de uma modali- dade de ensino que dê conta dessas chamadas crianças pequenas – surgem aí os primeiros indícios da educa- ção infantil. Evidente que essa modalidade de ensino teve origens diversas, mas a unanimidade dos estudos e pesquisas relata que sua origem sempre esteve atrela- da às necessidades econômicas e sociais, associada às diferentes necessidades dentro do contexto histórico- -social em que as famílias e as crianças encontram-se inseridas. Segundo Dornelles (2002, p. 33), 23 EDUCAÇÃO FÍSICA A escola é, portanto, um espaço para desenvolver, transformar, modificar e ser modificado a partir de todas as mudanças que são implícitas no percurso es- colar, isso porque, segundo Bissoli (2005), na escola, a criança amplia seus interesses além do mundo in- fantil e dos objetos, estende as possibilidades de rela- ções sociais, estabelece interações mais diversificadas com os adultos, compreende, paulatinamente, as ati- tudes e as várias formas de atividades humanas, tais como trabalho, lazer, produção cultural e científica. Após a criação do jardim de infância de Froebel, muitas versões foram criadas para atender a deman- da, mas com o passar do tempo, esse espaço educati- vo passou a fazer parte da escola e foi integrado a ela. De acordo com Sacristán (2005, p. 125), a escola e as práticas que nela se desenvolvem não nasceram nem são somente cenários do de- senvolvimento, nos quais os atores podem me- lhorar ou fracassar em suas atuações: a maneira de viver nelas é que faz o ator. A criança vai à escola, e esta prepara a criança. A memória do brincar, hoje, encontra-se apa- gada pelo excesso de estímulos oferecidos incessantemente, em um ritmo veloz e instan- tâneo. A exaltação do objeto eleva minúsculos brinquedos à extrema potência, para dali a alguns dias serem substituídos por outros, novas versões tecnológicas, mais avançadas, melhores. Hoje, a dimensão do social confere ao sujeito um lugar onde o singular encontra- -se fragmentado na multiplicidade que o rege. Os games e jogos virtuais não têm a mes- ma dimensão simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas. São formas que as crianças encontram de falar do universo que as cerca, de apropriar-se dele ao navegar nas vias eletrônicas, mas a automatização que rege os jogos virtuais apresenta efeitos de apagamento do tecido social que se cons- truiria em presença. O brincar é tecido por histórias e a travessia pelos brinquedos feitos com arte, elaborados com as mãos das crian- ças e dos adultos que as cercam, representa uma via possível de construir suas bordas. Fonte: Meira (2003) SAIBA MAIS [...] a creche ao longo da história foi concebida como refúgio assistencial de crianças desprovidas de cuidados, ou seja, criança pobre, para uma fa- mília que não sabe cuidar, tem até seus dias atu- ais definido a infância com um caráter privativo, desconsiderando as políticas públicas de proteção e direitos a educação da infância. A creche como substituta da família, cabe, portanto, organizar atividades que atendam aos cuidados tipicamen- te domésticos, deslocados do conhecimento e da cultura na qual está inserida (REGO, 2006, p. 08). EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 24 O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL de infância, mais tarde chamados de pré-primário e pré-escolar, davam ênfase ao aspecto educacional, sendo destinados para as crianças ricas, com méto- dos e atividades pedagógicas voltadas para o desen- volvimento social, cognitivo e outras habilidades; por outro lado, nas instituições denominadas como creches e escolas maternais era enfatizada a guarda, a alimentação e os cuidados com saúde, higiene e formação de hábitos de bom comportamento na so- ciedade, sendo destinadas para as crianças pobres e abandonadas. Essa relação entre o educar e o cuidar no am- biente da educação infantil vai gerar conflitos, tam- bém, na atuação junto às questões pedagógicas a serem desenvolvidas nessas instituições. Conforme descreve Campos (2013), é muito importante reco- nhecer quais são os objetivos que se deseja alcançar com a criança, pois eles orientarão as ações. É preci- so definir se os objetivos são cuidar e educar, aliando as questões pedagógicas com as questões ligadas à higiene, alimentação e cuidados em geral, ou se o objetivo é apenas um ou outro. Afinal, qual seria a função da educação infantil? Para amenizar essas dicotomias e compreender os objetivos desse período educacional, é preciso re- correr aos documentos orientadores e norteadores para essa modalidade de ensino. Dentre eles, desta- cam-se os pressupostos estabelecidos no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998), no qual se tem a proposição de que deve ha- ver a indissociabilidade das ações de cuidar e educar crianças de zero a seis anos de idade, sem hierarqui- zar os profissionais ou a instituição que atuam com as crianças pequenas. De acordo com o documento, educar significa: A função da escola e, em especial, da educação in- fantil, tem sido um emaranhado de ações com signi- ficados e funções oscilando entre o cuidar e o educar, entre o fazer pedagógico e o assistencialismo. Essa dicotomia entre cuidar e educar vai se refletir, tam- bém, no campo das políticas públicas educacionais e das políticas sociais. Segundo Campos (2013), no Brasil, a educação da infância surge como princípio de uma política assistencial associada ao processo civilizatório que teve por base as necessidades indi- viduais e não coletivas, evidenciando as responsabi- lidades individuais e não a questão do direito social. Essa ideia acabou influenciando a educação infantil enquanto instituição que tem como função inicial a ação civilizatória e assistencial, cujo papel assumido foi o de compensar carências. Outro paradigma relacionado à educação infan- til está vinculado ao termo utilizado. De acordo com Vieira (1999), as instituições de educação infantil durante a história tiveram dupla trajetória: os jardins 25 EDUCAÇÃO FÍSICA [...] propiciar situações de cuidados, brincadei- ras e aprendizagens orientadas de forma inte- grada e que possam contribuir para o desen- volvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e con- fiança, e o acesso a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropria- ção e conhecimento das potencialidades corpo- rais, afetivas, emocionais, estéticas, na perspec- tiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (RCN/I, vol. I, 1998, p. 23). Por outro lado, o cuidar no documento está definido como [...] parte integrante da educação, embora exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educa- tivo demanda integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas (BRASIL, 1998, p. 24). Ainda que haja conflitos e distanciamentos entre as ações pedagógicas e as delimitações com os cuida- dos básicos de subsistência da criança nesses espa- ços educacionais e o que seria seu objetivo central, tanto os documentos orientadores quanto os estu- diosos da área entendem que, na educação infantil, o educar está relacionado a preparar para o conví- vio junto à sociedade, para o mundo do trabalho e o cuidar, ao bem-estar relacionado às questões bá- sicas de subsistência da criança, tais como alimen- tação e higiene. Ao longo da história daeducação e da infância, a educação infantil passa a assumir, na sociedade, o pedagógico que auxilia no desenvol- vimento integral da criança na atualidade, atrelada às necessidades de desenvolvimento econômico e político de um determinado grupo social. EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 26 A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância 27 EDUCAÇÃO FÍSICA A história da educação infantil brasileira não diferiu das demais realidades sociais. De acordo com Kuhl- mann Jr. (1991), a constituição da educação infantil brasileira apresentou como marco representativo os anos de 1940, quando essa modalidade de ensino passou a sofrer transformações. Kuhlmann Jr. (ibi- dem) também destaca o fato de que o processo de legalização do ensino da educação infantil se consti- tuiu efetivamente a partir das definições da Consti- tuição Nacional de 1988. Outro destaque legislativo para a educação infantil se deu nos anos de 1990, com a criação e implementação do Estatuto da Criança e do Ado- lescente (ECA), Lei nº 8.069/90, que regulamentou os artigos da Constituição Federal e esclareceu as ações que deveriam ser realizadas, efetivando a legalidade dos direitos da criança a partir de uma normativa legal. Além da Constituição de 1988 e do ECA em 1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei nº 9394/96 – legalizou efetivamente as ações políti- cas enquanto predisposições, orientações e normati- vas de uma legislação educacional, na qual se reco- nhece oficialmente que as creches e pré-escolas para crianças de zero a seis anos são parte integrante do sistema educacional, sendo consideradas a primeira etapa da educação básica. No entanto, mesmo com as definições legais, o objetivo da educação infantil ainda causa polêmica na sociedade atualmente, haja vista que, de acordo com Craydi (2001, p. 24), é preciso estar claro que as “creches e pré-escolas têm uma função de com- plementação e não de substituição da família, como muitas vezes foi entendido”. Nesse sentido, esses es- paços educativos devem estar integrados às diversas realidades e necessidades das infâncias, consideran- do as realidades das famílias e do contexto cultural, econômico e social das comunidades, para que se possa oferecer o que a criança necessita para o seu desenvolvimento. Vale ressaltar que a educação infantil que temos tratado refere-se ao estabelecido pela lei, compreen- dendo o atendimento em creches e pré-escolas. Se- gundo Kramer (2001, p. 49), a diferença entre ambas está no fato de que [...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas ora pela idade das crianças incluídas nos pro- gramas – a creche se definiria por incluir crian- ças de 0 a 3 anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo seu tipo de funcionamento e pela sua extensão em termos sociais – a creche se caracterizaria por uma atuação diária em [horário integral], e a pré-escola, por um funcionamento semelhan- te à escola, em [meio período]. Há ainda uma terceira classificação que diz respeito à vincu- lação administrativa: a creche se subordinaria, assim, a órgãos de caráter médico ou assisten- cial, e a pré-escola ao sistema educacional. A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica que tem por objetivo o desenvol- vimento integral da criança, em seus aspectos físi- co, psicológico, intelectual e social, e se constitui em um espaço privilegiado para interação e aprendiza- gens significativas, onde o lúdico é o foco principal (BRASIL, 1996). Se a educação infantil é uma necessidade social, por que os organismos nacionais e internacionais tratam esses espaços educa- tivos como sendo espaços em que o educar sucumbe ao cuidar? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 28 Segundo Kramer (2006), é preciso entender que a educação infantil e o ensino fundamental são indis- sociáveis e, para tanto, devem assumir a apropria- ção da cultura como suporte para a educação das crianças, respeitando-se, em contrapartida, nas duas modalidades de ensino, as crianças nas suas singula- ridades. Devem ser espaços nos quais a ludicidade, a imaginação e as interações sociais sejam os eixos estruturantes considerados como as culturas infan- tis (SARMENTO, 2005). Essa relação de infância e educação, aspectos conceituais e orientações normativas e pedagógi- cas vão se dar, no entendimento de Molina e Lara, (2008, p. 3982) pela compreensão de que [...] infância, do mesmo modo que a educação, não pode ser compreendida fora de um contex- to socioeconômico e político. Por isso, quando se fala em infância, não é possível se referir à criança sem se considerar o tempo, o lugar e a estrutura social na qual ela está inserida. Logo, infância, educação, políticas públicas e ações pedagógicas estão sempre entrelaçadas, afinal, para se desenvolver as proposições e encaminhamentos nessa instituição de ensino é preciso seguir as nor- mativas da legislação. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, nos artigos 29, 30 e 31, específicos da educação infantil, tem-se esta- belecido e considerado como sendo essa modalida- de de ensino a primeira etapa da educação básica. Consolidando essa lei, o Referencial Curricular Na- cional para a Educação Infantil também vai trazer as orientações para as ações nesses espaços educativos, definindo a educação infantil como um espaço em que se deve considerar que [...] as crianças possuem uma natureza singu- lar, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. E isto através das interações que estabelecem des- de cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças reve- lam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que pre- senciam, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos (BRASIL, 1996, p. 21). Para além dos documentos orientadores que legis- lam e deliberam acerca da educação infantil bra- sileira, tem-se os documentos provenientes das agências e organismos multilaterais, que trazem orientações acerca da compreensão do conceito de infância a partir das análises descritas em seus do- cumentos. Rosemberg (2001, p. 27-28) postula que as políticas de educação infantil contemporâ- neas nos países subdesenvolvidos têm sido for- temente influenciadas por modelos ditos ‘não formais’ a baixo investimento público, propug- nados por organismos multilaterais. Na concepção dessa autora, as influências sobre os projetos da educação infantil brasileira, na atuali- dade, provêm, em especial, do Banco Mundial. Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013). Segundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as discussões acerca das crianças e seus direitos, sendo este, inclusive, o tema de diferentes conferências e reuniões internacionais e regionais. Dentre os di- reitos aí referidos, o direito à educação, sobretudo à educação infantil, configurou-se como uma questão fundamental para os governos locais. Segundo Dale (2004), as agências e organismos multilaterais, tais como a Unesco e a Unicef, têm influenciado de for- 29 EDUCAÇÃO FÍSICA ma significativa o desenvolvimento das ações políti- cas e governamentais para com a educação infantil. Entre esses documentos que têm, na atualidade, transformado e modificado as relações, objetivos e metas para serem desenvolvidas na educação infan- til, destacam-se as orientações continuadas da Con- ferência de Jomtienbem como os seguintes: Proyecto regional de educación para América Latina y el Caribe (Unesco, 2002); Síntesis regional de indicadores de la primera infancia; Informe de seguimiento de la EPT en el mundo: bases sólidas: atención y educación de la primera infancia; Situação mundial da infância 2007: mulheres e crianças: o duplo dividendo da igualdade de gênero (Unesco, 2007); Pobreza infantil en América Latina y el Caribe(Cepal; Unicef, 2010); Metas educa- tivas 2021: la educación que queremos para la genera- ción de los Bicentenarios; e o relatório Educação para Todos 2000-2015: progresso e desafios (Cepal, 2000). Dale (2004) ainda destaca os documentos para a educação infantil propostos para a América Lati- na com o formato de projetos, sendo eles a Agenda Iberoamericana para a Infância e a Adolescência, o Programa Iberoamericano de Educação e o Projeto Regional de Educação para América Latina e Caribe, projetos desenvolvidos e coordenados pela Organi- zação dos Estados Ibero-Americanos, pela Organi- zação dos Estados Americanos e pela Unesco. Dentre esses documentos, a educação infantil é tratada com destaque no Plano Ibero-americano de Educação, no qual as discussões e determinações se configuraram a partir da proposição de que deve- riam ser aplicadas e direcionadas ações denomina- das no documento como “políticas compensatórias e intersetoriais para populações vulneráveis”, deixan- do claro os elementos que consolidam o objetivo e o desenvolvimento da educação infantil, uma vez que essa modalidade de ensino deve ser uma forma de [...] fortalecer os programas destinados à pri- meira infância e dinamizar a produção de co- nhecimentos sobre a infância na região, apoian- do o esforço de pesquisa educacional baseada nas experiências intersetoriais com populações vulneráveis, e difundir as lições aprendidas (OEA, 1998, p. 05). Segundo Rosemberg (2001), a entrada de organi- zações internacionais, como a Unesco e a Unicef, no âmbito da educação infantil na América Lati- na trouxe implicações referentes aos incentivos e às políticas de indução à expansão desse nível de atendimento educacional por meio das instituições não formais, mas seu apoderamento suscitou uma mudança no modus operandi desses organismos, que passaram a se envolver nos projetos educativos destinados à infância e à juventude em seus países membros. As ações desencadeadas enquanto normativas serão detalhadas na unidade seguinte, mas é preciso que você entenda, caro(a) aluno(a), que a educação infantil, ao longo da sua constituição histórica, se oficializa enquanto um campo educacional passí- vel de provocar mudanças, mas que também é tido, ainda, por inúmeras vezes, como sendo um espaço apenas destinado aos cuidados básicos da criança. Ainda há que se repensar e refletir acerca do que se espera para a educação infantil, mas muitos passos já foram dados e o planejar pode ser um gesto essen- cial para que os resultados nas áreas sociais possam ser refletidos a partir do reconhecimento e valoriza- ção da infância. 30 considerações finais C aro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade trouxemos as discussões acerca do conceito de infância, discutimos e refletimos sobre o fato de que a infância se constituiu historicamente enquanto artefato social e histórico que foi e tem sido moldado de acordo com cada tempo e espaço, vinculado a um fazer social necessário para cada momento vivido pela sociedade. Vimos que a infância em suas múltiplas facetas tem sido tratada no espaço es- colar como uma ação necessária ao desenvolvimento do homem para a vida em sociedade, mas que a educação infantil persevera na dicotomia de como tratar a criança inserida em seu espaço escolar, vagando entre as ações de cunho assisten- cialista e práticas de caráter totalmente educativos. A partir da análise estrutural e conjuntural do conceito de infância a partir do lócus social, percebemos a existência de uma linha tênue entre o ser criança e a necessidade de se estruturar e orientar e/ou normatizar as ações políticas e gover- namentais de tal modo que a finalidade do atendimento às crianças da educação infantil e das séries iniciais nas instituições educativas seja por meio de ações de corresponsabilidade, nas quais Estado e Família comunguem dos mesmos an- seios para que as relações escolares possam ser bem-sucedidas. Tendo essa compreensão, é possível que se tenha chegado ao final desta uni- dade com o entendimento de que a educação infantil é uma modalidade de ensi- no com características próprias, que as crianças envolvidas nesse contexto devem ter suas particularidades respeitadas, e que essa é uma modalidade integrada ao conjunto da estrutura educacional que compõe a Educação Básica no País. As- sim, teremos um educador reflexivo com condições de compreender que as ações no local são sempre originárias ou influenciadas pelo global e que, portanto, a educação infantil não se difere ou se distancia desse fato. 31 atividades de estudo 1. O conceito de infância tem se alterado durante o decorrer da história da sociedade. Releia o conteúdo que discorre a respeito dos principais acontecimentos que influenciaram a construção do conceito de in- fância que se tem na atualidade e explique como esse conceito tem modificado o trato pedagógico no campo da educação infantil. 2. A infância tem sido vista de formas diferenciadas em cada tempo histórico. Explique como a infância era vista na Antiguidade até chegar aos dias atuais. 3. Os documentos provenientes das agências e organismos multilaterais têm influenciado de forma significativa os objetivos de atendimento da educa- ção infantil. Explique como esses documentos influenciam a ação na prática da educação infantil. 4. A educação infantil é uma fase de desenvolvimento essencial para a crian- ça. Com isso em mente, quais as contribuições da educação física para a educação infantil? 5. O conceito de infância tem se alterado ao longo da história. É possível afirmar que na atualidade a infância não é valorizada? 32 LEITURA COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS E BRINCADEIRAS EM PAUTA A educação infantil brasileira tem sido um tema recor- rente nos debates educacionais que tratam das políticas da educação, das questões pedagógicas, do seu papel na sociedade atual e do trato com a infância. Kramer (2006) corrobora essa afirmativa ao defender a ideia de que nos últimos vinte anos no Brasil têm-se destacado as discussões da educação infantil nos fóruns estaduais de educação, especificamente no tocante ao financiamento e ao papel que a educação infantil ocupa no cenário da educação. [...] Para Ferrero e Teberosky (1999, p. 105), devemos consi- derar que [...] as crianças possuem conceitualizações sobre a natureza da escrita muito antes da intervenção de um ensino sistemático. Porém, além disso, essas conceitualizações não são arbitrárias, mas sim possuem uma lógica interna que as torna explicáveis e compreensíveis sob um ponto de vista psicogenético. Afinal, a educação infantil deve ser vista como um espa- ço de experiência, em que o uso da linguagem deveria partir de uma temporalidade, de um processo de criação que possibilite ao pensamento se entrelaçar e navegar por outros universos e assim encontrar semelhanças, construir e desconstruir suas ações. [...] Para Abramovay e Kramer (1984), inicialmente, as ati- vidades trabalhadas no campo escolar aparecem basica- mente como ações e desenvolvem a coordenação moto- ra e sensorial das crianças; em seguida vêm as atividades que aparecem como imitações, dramatizações, constru- ção, modelagens, reconhecimento de figuras e símbolos, desenhos e linguagem, que trabalham o simbólico da criança e, assim, posteriormente são codificadas e apare- cem como o processo de leitura e escrita (alfabetização). CONHECENDO E CONCEITUANDO JOGOS E BRINCADEIRAS A compreensão de infância, cultura, jogos e brincadeiras infantis pode ser tratada a partir de diversos olhares. A opção foi partir do pressuposto e entendimento de uma infância enquanto categoria social e da criança como ser produtor de cultura (PEREIRA, 2013), que, por meio da interação com os seus pares no contexto escolar, produz uma série de culturas, que se tornam conhecimentos e práticas infantis que serão transformados de modo a ad- quirir novos conhecimentos, construindo, configurando e reconfigurandoseus saberes e seu universo. [...] Na visão de Vygotsky (1979), existem duas concepções importantes do jogo e do ato de brincar: a imaginação e as regras. O jogo e a brincadeira são atividades que ajudam a recriar a realidade da criança com objetos sim- bólicos. Brincando, a criança representa papéis do mun- do adulto que irá desempenhar mais tarde, desenvolve capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando-se capaz de se comunicar. O jogo e o brinquedo são fatores de comunicação mais amplos do que a linguagem, pois propiciam o diálogo entre pessoas de culturas diferentes. 33 LEITURA COMPLEMENTAR Atualmente, os jogos também podem se constituir de um brinquedo ou brincadeira que a criança executa por puro prazer e com vontade de exercer. De acordo com Brougère (1996), o brinquedo seria munido de significa- dos, carregando consigo uma representação de infância, e a brincadeira deveria desvendar essa representação, decodificando o brinquedo. [...] OS JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO NOS PRIMEIROS ANOS [...] Vygotsky (1991) explica que existe uma grande relação entre o jogo e a aprendizagem, em que a criança executa papéis, assume as regras das brincadeiras e desempe- nha funções para as quais ainda não está apta e prepa- rada na realidade. Vygotsky defende que o ato de brincar permite que a criança aprimore a sua imaginação, fazen- do com que ela conviva e entenda melhor o grupo social no qual está inserida. [...] Segundo Kishimoto (1994), o jogo está vinculado à ima- ginação, aos símbolos e ao pensamento. A criança pré- -escolar aprende por modo espontâneo e intuitivo, e o brinquedo, se usado com propósito pedagógico, trans- forma-se em um instrumento muito importante e essen- cial para a aprendizagem e o desenvolvimento intelec- tual infantil. A autora ainda esclarece que o jogo, para vários professores da educação infantil, é visto como uma prática desnecessária, que não ajuda na educação por não apresentar características sérias. Entretanto, ao jogar os alunos mostram muita concentração e dedica- ção nas atividades lúdicas. OS JOGOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Quando brinca, a criança não está preocupada com a aquisição de conhecimentos ou com o desenvolvimento de qualquer habilidade – assim, a atividade pedagógica/ lúdica proposta com determinados jogos ou brincadei- ras devem ter por base a conduta dos educandos, suas espontaneidades e estímulos externos durante as brin- cadeiras. Segundo Kishimoto (2000, p. 26), “o jogo edu- cativo utilizado em sala de aula desvirtua o conceito de brincar ao dar prioridade para o produto”, ou seja, para a aprendizagem e as habilidades adquiridas. Os jogos e brincadeiras estimulam a curiosidade e o de- senvolvimento de habilidades físicas e cognitivas que auxiliam posteriormente o processo alfabetizador. Se- gundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) (Brasil, 2012), o processo de alfabetização é um processo cognitivo complexo – a criança precisa não só decorar o formato e nome dos códigos, mas reconstruir em sua mente propriedades complexas desse sistema, ou seja, ela precisa compreender sua lógica funcional. No primeiro ano do ensino fundamental, os alunos deverão iniciar, aprofundar e consolidar alguns conhecimentos convencionais e, como dito no PNAIC, a educação infantil se constitui de um espaço e tempo de vivências e experi- mentações que poderão ser transportadas no momento da alfabetização da criança. Fonte: Bonora, Krüger e Souza (2016, on-line) EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS 34 Crianças Invisíveis Ano: 2006 Sinopse: o documentário Crianças invisíveis, lançado em 2006, mostra a realidade de um grupo de crianças, muitas em situ- ação de vulnerabilidade, que vivem no Brasil, Itália, Inglaterra, Sérvia, Burkina Faso, China e Estados Unidos. Retrata a infância construída por crianças que coletam sucata nas ruas de São Paulo ou que roubam para viver em Nápoles e no interior da Sérvia. Mostra a realidade vivida por essas crianças de forma explícita, denunciando problemas, erros e dificuldades que elas enfrentam no seu dia a dia. Esse documentário não só irá lhe permitir trazer à tona suas lembranças de infância, mas também vai lhe fazer refletir sobre o que estamos fazendo pelas crianças da nossa realidade. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IxmBRrbEhFA>. 35 referências AGAMBEN, G. 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A história da infância foi marcada por acontecimentos provenientes dos contextos sociais, econômicos e políticos de cada época. Os que mais marcaram o campo da educação física foram os referentes ao ingresso da mulher no mundo do trabalho após a Revolução Industrial. O que se percebe, ao longo da história, tem sido a di- cotomia com relação ao objetivo da educação infantil: o educar e o cuidar, aspectos relevantes que sempre foram considerados como essenciais nessa modalidade de ensino. 2. A história da infância foi marcada por inúmeros acontecimentos. A criança pequena era vista na Antiguidade como um ser que pouco ou nada influenciava a casa e a vida, assim como na Idade Média era vista apenas sob a responsabilidade da família, tida como um adulto em miniatura, que poderia ser descartada/rejeitada quando afligida por alguma anomalia. Essa ideia vai mudar apenas com o advento da socie- dade moderna, quando a criança passa a ser vista pelo prisma da ciência e a ocupar um lugar central nas discussões do Estado, na constituição da família e dos cuidados para com o seu desenvolvimento. 3. A questão da influência das agências e organismos multilaterais na educação infantil está em destaque no tópico “A escola e a infância: a institucionalização da crian- ça e da infância”. Como Visto, a influência reside no fato de que esses organismos internacionais, por meio de seus documentos, repassam aos países membros as indicações de ações políticas que devem regular e regulamentar as ações para com a criança, em especial na educação infantil. Esses documentos acabam se tornando os parâmetros globais acerca das definições das finalidades e objetivos que devem ser seguidos. 4. A educação física pode contribuir para o desenvolvimento da criança por meio das atividades que exploram, da linguagem corporal e do movimento, as potencialidades da criança. 5. Na atualidade, o conceito de infância está atrelado ao próprio conceito que se tem de sociedade e de ser humano. UNIDADE II Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza Professor Doutor Amauri
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