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Contestação - Raimundinho 2 - Reformulada

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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DO MUNICÍPIO X - XX
Processo sob o n° xxxxxxxx
RAIMUNDINHO, brasileiro, vereador, ,portador da cédula de identidade RG nº xxxxxx, inscrita no CPF sob o nº xxxxxx, endereço eletrônico, residente e domiciliada na rua, nº, bairro, CEP, Município X, do Estado XX, por meio de seu advogado legalmente constituído, com endereço profissional na rua, n°, bairro, CEP, cidade, Estado, com endereço eletrônico conforme anexo, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência com fundamento na Lei 9099/95 dos Juizado Especiais, apresentar
CONTESTAÇÃO
à AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS ajuizada por ZECA, brasileiro, prefeito, portador da cédula de identidade RG n° xxxxxxx, inscrito no CPF sob o n° xxxxxxx, endereço eletrônico, residente e domiciliado na rua, nº, bairro, CEP, Município X do Estado X, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:
I – SÍNTESE DA DEMANDA
O requerente sustenta em sua petição inicial que se sentiu ofendido pelas denúncias ofertadas e ingressou com uma ação indenizatória por danos morais. 
O Requerente afirma que o requerido apresentou inúmeras denúncias em face do Demandante, afirmando que este não promoveu a “atualização do estatuto dos servidores municipais e, não apresentou o reajuste anual com base no art. 37, X da CF”. 
Desta forma, ajuizou a ação postulando quantia de 50 salários mínimos no Juizado Especial Cível da referida comarca, requerendo audiência de instrução e julgamento. 
II – DA VERDADE DOS FATOS
O requerido na função de vereador possui total legitimidade e competência para verificar e analisar as leis e as mesmas assim produzi-las em razão e direito da população de determinado município, como qualquer outro vereador que exerça sua real função.
A motivação para o pronunciamento do requerido em razão do requerente fora única e direta em razão dos servidores públicos municipais na qual se verificava o não reajuste anual, desta forma, fundamentado em lei constitucional.
O requerido não ofende em momento algum a honra do requerente ferindo a sua imagem perante a população do município XX, pois apenas verifica a falha e denuncia para que seja resolvido, haja vista que não havia sido reajustado pela prefeitura.
Além disso, na qualidade de valor da causa, a quantia exigida ultrapassa até mesmo o que a lei permite, entendendo assim que isso fora apenas razões de oposições políticas dentro do município e não há relação alguma com o que almeja o requerente relacionado a ofensa e danos morais.
III – PRELIMINARMENTE
a) DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO COMUM. 
De acordo com o artigo 98, I, da Constituição Federal: 
“A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.” 
A priori é importante destacar que diante dos fatos expostos, há incompetência de juízo em razão de que os Juizados Especiais Cíveis, de acordo com o artigo 3º, I, da lei 9.099/95, servem para conciliar, julgar e executar causas de menor complexidade, que não exceda 40 salários mínimos, tais como: ações de despejo para uso próprio; possessórias sobre bens imóveis; de arrendamento rural e de parceria agrícola; de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos, ressalvados os casos de processo de execução; de cobrança de seguro, relativo aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução; de cobrança de honorários dos profissionais liberais, salvo o disposto em legislação especial. 
Observa-se, portanto, que a competência dos juizados especiais, cíveis e criminais é fixada na própria Carta Magna sendo que, na esfera cível, fixou o poder constituinte originário um critério inequívoco: serão os juizados especiais competentes para conciliar, julgar e executar as causas de menor complexidade. Logo, o critério utilizado pelo constituinte para fixar a competência dos juizados especiais são as causas, ditas de menor complexidade, a serem definidas pelo legislador ordinário. Além disso, o legislador infraconstitucional definiu essas causas, e ele o fez no artigo 3º da Lei 9.099/95. 
Na esfera Federal, os juizados cíveis conciliam e julgam as causas da Justiça Federal até o limite de 60 salários mínimos, exceto as causas dispostas nos incisos I, II, III e IV, §1º, Art. 3º, da Lei nº 10.259/01.
Ou seja, nas condições ajuizadas em peça exordial, não há domínio ou competência para tal realização e seria inapropriado o feito do juízo em face do pedido e mérito observado.
Em observância comprobatória segue-se julgado:
EMENTA RECURSO INOMINADO. BANCO. INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS PROTETIVOS. PRETENSÃO DE DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. VALOR DA OBRIGAÇÃO SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO ESPECIAL RECONHECIDA “EX OFFÍCIO”. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ART. 3º, I C/C 51, I, DA LEI 9.099/95. O Juizado Especial é incompetente para processar e julgar a causa se o valor ultrapassar a 40 (quarenta) salários mínimos. Processo julgado extinto sem resolução do mérito, nos termos do estatuído no art. 485, inciso IV, do Novo Código de Processo Civil. (TJ-MT - RI: 10067991220188110040 MT, Relator: VALMIR ALAERCIO DOS SANTOS, Data de Julgamento: 08/11/2019, Turma Recursal Única, Data de Publicação: 11/11/2019)
Contudo, amparado no princípio da eventualidade, em não perfilhando deste entendimento uníssono na doutrina e jurisprudência, diga-se a extinção do presente feito sem resolução do mérito, nos termos do art. 51, II da Lei n°9.099/95, oferta-se abaixo as ponderações necessárias a rechaçar a aventura jurídica incorrida pelo autor.
IV – DO MÉRITO
a) Do exercício regular de um direito 
O Exercício regular de direito é decorrente do princípio constitucional da
legalidade, previsto no artigo 5º, inciso II da Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Sendo assim, possibilita ao cidadão o exercício do direito subjetivo, desde que não contrarie a lei vigente.
O exercício regular de um direito, consiste no desempenho de uma atividade ou prática de uma conduta autorizada pelo ordenamento jurídico, que torna lícito um fato típico. 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. SINDICÂNCIA. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. AUSÊNCIA DE PROVA. - A instauração de sindicância, por si só, não tem o condão de acarretar dano moral, pois configura exercício regular de direito. (TJ-MG - AC: 10322140000421001 MG, Relator: Cláudia Maia, Data de Julgamento: 28/02/2019, Data de Publicação: 15/03/2019)
Vejamos o art. 187 do Código Civil: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Vemos que o exercício regular de um direito deverá ter uma medida para ser considerado como lícito; se ultrapassada esta medida, têm-se o abuso do direito, ensejando o ato ilícito, passível de indenização. O que no caso supracitado não se verifica ato ilícito ou abuso de poder, pois na função de verificador da lei municipal perante aos servidores públicos cabe ao requerido fiscalizar a vigência e eficácia delas.
b) Do nexo de causalidade e valor excessivo dos danos morais
Pela própria narração dos fatos, conclui-se que o requerido estava apenas defendendo um direito que é seu e dos demais servidores municipais. 
O requerente pleiteia indenização por danos morais no valor de 50 salários mínimos. No entanto, não está demonstrado e nem explicado as razões do pleitode tal quantia. Segundo Maria Helena Diniz: 
“o dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais e pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo”. 
A doutrina e a jurisprudência majoritária entendem que o dano moral independe de prova, bastando para tanto a comprovação do nexo de causalidade entre o evento danoso e os aborrecimentos, angustias e dissabores enfrentados pela vítima. Logo, no caso em questão, além de o pedido ser excessivo, não ficou demonstrado o real prejuízo sofrido pelo requerente. 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL OU CONCAUSAL. Para que haja o dever de reparação, exige-se a presença concomitante dos seguintes requisitos: conduta ilícita do empregador (dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva), dano e, finalmente, nexo de causalidade entre este e aquela, nos termos dos artigos 186 e 927, caput, Código Civil. Não comprovado o nexo causal/concausal entre a atividade laboral da reclamante e o mal de que foi acometida, não prospera o pedido de indenização por danos morais e materiais. (TRT-3 - RO: 00104589820155030048 0010458-98.2015.5.03.0048, Relator: Paulo Mauricio R. Pires, Quinta Turma) 
Reconhece-se que o vereador apresentou as denúncias em um momento inoportuno, porém, a quantia pleiteada é absolutamente improcedente e incoerente, uma vez que não causou grandes prejuízos ao prefeito e as denúncias se tratava apenas de suas obrigações não realizadas. 
Aliás, eventual indenização por dano moral deve levar em conta que o ofendido não pode ficar em situação melhor do que aquela em que se encontrava antes de ter sofrido o pretenso dano, bem como deve ser aplicado levando em consideração os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. 
c) Da Inexistência de indenização por danos morais
Entende-se o dano como prejuízo resultante de lesão a bem ou direito, ou seja, é a perda de patrimônio material ou a lesão à imagem em decorrência de conduta ilícita praticada pelo agente, de modo a gerar ao lesado o direito de ser ressarcido.
Conforme definição do art. 186 do Código Civil, comete ato ilícito “aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem”.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. PRESSUPOSTOS. INEXISTÊNCIA DE DEVER DE INDENIZAR. Para que a empregadora seja compelida a pagar indenização por danos materiais e morais é necessária a comprovação dos pressupostos da responsabilidade civil, a saber, o dano experimentado pela vítima, a ação ou omissão do agente e o nexo de causalidade. Não demonstrados nos autos um desses elementos, resta improcedente o pedido de reforma. (TRT12 - ROT - 0001086-77.2016.5.12.0004 , Rel. AMARILDO CARLOS DE LIMA , 3ª Câmara , Data de Assinatura: 12/02/2020) (TRT-12 - RO: 00010867720165120004 SC, Relator: AMARILDO CARLOS DE LIMA, Data de Julgamento: 29/01/2020, Gab. Des. Amarildo Carlos de Lima)
Nesse sentido, a conduta do agente deve comprovadamente causar dano, seja moral ou material, para que se possa imputar a responsabilidade civil, tendo em vista que esta tem como pressuposto o ato ilícito, e haja a obrigação de indenização. O requerente, contudo, em nenhum momento comprova o dano moral alegado.
Postula o requerente indenização por danos morais causados pelo requerido por dizer que o requerente não promoveu a atualização do estatuto dos servidores municipais e, não apresentou o reajuste anual bem como dos termos dos artigos supracitados em petição, alegando que o uso de tais lhe ofende a honra.
EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE DISCUSSÃO E AGRESSÕES VERBAIS. MEROS DESENTENDIMENTOS. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL. INACOLHIMENTO DE PLEITO INDENIZATÓRIO. Para que a indenização por danos morais seja cabível, mister se faz estejam presentes os três requisitos: ato ilícito, dano moral e nexo causal entre ambos. Ausentes tais requisitos, não pode ser acolhido o pleito indenizatório. Para que se possa falar em dano moral, é preciso que a pessoa seja atingida em sua honra, sua reputação, sua personalidade, seu sentimento de dignidade, passe por dor, humilhação, constrangimentos, tenha os seus sentimentos violados. Meros desentendimentos e chateações não podem ensejar indenização por danos morais. Cabe ao autor demonstrar, a teor do art. 373, inc. I do CPC, fato constitutivo do seu direito. (TJ-MG - AC: 10000180743221001 MG, Relator: Pedro Bernardes, Data de Julgamento: 18/12/2018, Data de Publicação: 16/01/2019)
Contudo, da leitura do documento juntado a este processo, pode-se perceber que em nenhum momento o requerido teve a intenção de ofender ao requerente de qualquer forma, tendo tão somente a intenção de informar a população e de denunciar uma irresponsabilidade civil como legislador observador das leis municipais e cumprimento delas seja por parte de qualquer poder público, inclusive a prefeitura.
Conforme ensinamento de Guilherme de Souza Nucci, em sua obra “Manual de Direito Penal”, às páginas 692 e 694, predomina na doutrina e jurisprudência o entendimento de que não se configura crime contra a honra quando o fato ofensivo ou o insulto sejam proferidos fora do contexto da vontade de ferir a reputação ou o amor próprio de alguém.
Ora, como já mencionado, o requerido buscava, tão somente, com o referido prefeito, esclarecer fatos que lhe incomodavam e preocupavam como vereador.
d) Quantum Indenizatório 
Para fixar o valor indenizatório do dano moral, deve o juiz observar as funções ressarcitórias e putativas da indenização, bem como a repercussão do dano, a possibilidade econômica do ofensor e o princípio de que o dano não pode servir de fonte de lucro. Nesse sentido, esclarece Sérgio Cavalieri Filho que:
 “(...) o juiz, ao valor do dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que fizerem presentes”.
A indenização do dano moral deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento sem causa, com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência, e do bom-senso, atendo à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve ela contribuir para desestimular o ofensor repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica (RSTJ 137/486 e STJ-RT 775/211).
Temos como exemplo:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ART. 493, DO CPC. LIMITES. CAUSA DE PEDIR. RESPONSABILIDADE CIVIL - CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE DANOS MORAIS - REQUISITOS PRESENTES - QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS - PRUDENTE ARBÍTRIO. Segundo o Superior Tribunal de Justiça o enunciado do art. 493, do CPC, encontra limites na causa de pedir, ou seja, admite-se que o juiz leve em consideração fatos favoráveis à pretensão do autor supervenientes à propositura da ação, desde que inalterada a causa de pedir Presentes os requisitos ensejadores da responsabilidade civil, deve ser mantida a condenação por danos materiais e morais. A fixação do quantum indenizatório dos danos morais deve se dar com prudente arbítrio, observadas as circunstâncias do caso, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para que o valor não seja irrisório.
(TJ-MG - AC: 10000180701757001 MG, Relator: Pedro Bernardes, Data de Julgamento: 07/05/2019, Data de Publicação: 15/05/2019)
Assim, equivale a uma justa indenização por danos morais no presente caso. Tendo em vista que, não enriquece a parte autora e adverte a parte ré.
V – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência: 
a) Acolher a preliminar de incompetência deste juízo de forma a extinguiro feito sem resolução de mérito, de acordo com a lei 9099/95.
b) No mérito, acolher a incompetência deste juízo e declarar o julgamento improcedente do pedido, quanto ao pagamento de dano moral, porquanto não comprovados de acordo com o Art.485, VI do CPC.
c) Caso seja deferido o dano moral, requer a minoração do dano moral por um valor mais justo com tal ação. De acordo com o Art.5°, incisos V, X, CF.
d) Protesta por todos os meios de direito admitidos para comprovar os fatos alegados, especialmente prova documental, testemunhal e depoimento pessoal das partes, de acordo com o Art.369 do CPC.
e) Pretende o autor participar de eventual audiência de conciliação/mediação por ventura designada por V. Exa, de acordo com o Art.334 do CPC.
Nestes termos,
Pede e aguarda deferimento
MUNICÍPIO XX – XX, 09 de Junho de 2020
Advogado OAB/XX nº

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