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Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 1 CURSO: INTEGRAÇÃO SENSORIAL NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM E DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS DA INFÂNCIA POR: LÍGIA MARIA DE GODOY CARVALHO HISTÓRICO A história da educação de crianças com distúrbios de aprendizagem teve seu impacto sobre os termos usados para rotular tal condição. Distúrbios de aprendizagem e lesões cerebrais foram primeiramente identificados como concomitantes. Quando se observava crianças que não tinham lesões cerebrais, mas apresentavam alguns sintomas que caracterizavam tais lesões, era inferido que elas também possuíam lesões ou disfunções cerebrais, de pequeno porte. O termo lesão ou disfunção cerebral mínima foi criado e utilizado de forma imprecisa para classificar uma variedade de crianças que possuíam problemas de aprendizagem de qualquer extensão, fossem hiperativas, tivessem problemas de percepção, falta de atenção ou que fossem desajeitadas. Geralmente, crianças assim rotuladas possuíam escores de inteligência dentro dos limites normais. Lesão cerebral mínima e disfunção cerebral mínima eram termos utilizados popularmente nos anos 50 nos EUA. O primeiro indica que essas crianças têm uma lesão, que está localizada em uma área cerebral e, portanto existe uma patologia no cérebro. A segunda tenta amenizar a gravidade, apresentando um termo mais suave, mas pouco determinante. Este termo não implica que o cérebro da criança esteja literalmente lesado, apenas sugere que alguma área do cérebro não esteja funcionando adequadamente. Em 1963, Dr. Samuel Kirk, sugere a utilização do termo distúrbio de aprendizagem, por não concordar com a aplicação do termo disfunção cerebral mínima, que por sua vez não definia um problema dentro do campo educacional. Por distúrbio de aprendizagem ele descreve a criança com distúrbios da fala, da leitura e habilidades de comunicação associadas, que não fossem cegas, surdas ou mentalmente retardadas. A partir de uma lei federal implantada nos EUA, que utilizou as idéias de Kirk ficaram assim definidos os distúrbios específicos de aprendizagem: “Uma desordem em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode se manifestar em uma habilidade imperfeita para ouvir, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições tais como dificuldades perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia do desenvolvimento. O termo não inclui crianças que tenham problemas de aprendizagem primordialmente resultantes de deficiência visual, auditiva ou motora, de retardo mental, ou de desvantagens ambientais, culturais e econômicas.” Contudo, esta definição tenha sido aceita a nível federal, encontrou controvérsias no campo da educação especial. Gearheart criticou esta definição por considerar que ela não enfatiza suficientemente a natureza neuropsicológica dos distúrbios. Contudo alguns especialistas no campo dos Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 2 distúrbios de aprendizagem, afirma acreditarem que os distúrbios de aprendizagem são clinicamente identificáveis, tanto por meio de um sintoma particular, quanto por um grupo de sintomas. Chalfant e King apontaram cinco características necessárias para o diagnóstico de distúrbios de aprendizagem: (1) problemas na aprendizagem escolar; (2) desempenho diferenciado nas várias tarefas escolares; (3) correlatos psicológicos, (4) processos psicológicos danificados, e (5) exclusão de outras categorias. Gearheart também propõe oito outras características que tentam melhor classificar tais crianças. Ele sugere que não são todos os sintomas que devem estar presentes em uma mesma criança. São eles: Hiperatividade: Inquietação; a qualidade de ser incapaz de se sentar quieto. Movimentos excessivos podem interferir na habilidade de atentar seletivamente para um estímulo. A criança está permanentemente em movimento. Hipoatividade: sinais opostas aos da hiperatividade, com certa apatia e falta de vontade. Gearheart afirma que esta característica não é tão comum quanto à hiperatividade. Desatenção: A incapacidade de focalizar a atenção em qualquer tarefa por um determinado tempo. Superatenção: A inabilidade de interromper o foco após ter-se concentrado em uma atividade por um determinado tempo. A criança ao invés de dirigir a atenção ao elemento significativo de um quadro, focaliza o plano de fundo. Gearheart relaciona a superatenção à falta de habilidade para figura- fundo. Falta de coordenação: Inabilidade de mover os músculos de maneira uniforme. Salienta que apesar de algumas crianças com distúrbios de aprendizagem não terem problemas evidentes de coordenação, algumas podem apresentar. Demonstram coordenação pobre, que podem ser determinadas por falhas durante o desenvolvimento. A criança, por exemplo, pode ter dificuldade em atirar uma bola, saltar ou correr, e ainda ser desajeitada e tropeçar freqüentemente. Desordens perceptivas: Os problemas mais comumente encontrados são os de percepção visual, auditiva, tátil, proprioceptiva e vestibular. Os problemas de percepção olfativa e gustativa são os menos provavelmente associados com distúrbios de aprendizagem. Ele salienta que problemas de visão espacial podem interferir na cópia precisa das letras. Sugere ainda que essas crianças possam ter dificuldades para distinguir a campainha do telefone e a da porta. Perseveração: Essas crianças podem repetir ações persistentemente em vários domínios do comportamento. Há perseveração em respostas verbais, mas pode-se encontrar especialmente na escrita e na cópia. Desordens da memória: Os problemas podem ser tanto de memória visual quanto auditiva, ou ambas. A criança pode ser incapaz de lembrar uma seqüência de objetos que acabou de ver ou repetir alguma letra que acabou de ouvir. Elas podem esquecer as palavras do começo da sentença antes de terem lido até o final. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 3 A TERAPIA OCUPACIONAL E O TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM O uso da estimulação sensorial para evocar respostas de coordenação motora A terapia neuroevolucional começou nos anos 50 e 60, quando poucos terapeutas começaram a modificar sua abordagem de tratamento em pacientes com dano no sistema nervoso central. Esses terapeutas basearam seu tratamento em idéias geradas dos dados disponíveis dos neurofisiologistas da época. Esses dados sugeriam que a saída motora era controlada pela entrada sensorial (periférica). Tradicionalmente os terapeutas ocupacionais até então, trabalhavam em hospitais com pacientes com problemas neuromusculares decorrentes de lesão cerebral. Neste período tinha-se como princípio que os padrões de movimentos incoordenados, tônus muscular anormal, e a presença de reflexos anormais interferiam no desempenho de atividades funcionais e propositadas. Entre os anos 60 e 70, os terapeutas ocupacionais que buscavam a normalização do desempenho motor percebem que este era um pré-requisito para o alcance de habilidades de cuidados pessoais e outras. Nesse período, várias abordagens de tratamento foram descritas na literatura, nas quais princípios neuropsicológicos, que enfatizavam a estimulação sensorial, para promover uma melhor execução de padrões motores. Essas abordagens foram chamadas sensório-motoras, porque todas elas enfatizavam a relação entre a sensação e a resposta motora. As abordagens sensório-motoras muniram os terapeutas ocupacionais com numerosas técnicas baseadas em princípios fisiológicos para o aprimoramento de respostas neuro musculares dos pacientes. A noção de que os estímulos sensoriais poderiam aprimorar as respostas motoras se tornaria um importante princípio da teoria da integração sensorial. Posteriormente os princípios dessas abordagensforam incorporados à integração sensorial por Ayres que teve representatividade nas publicações sobre a abordagem sensória motora. O arcabouço de referência do procedimento ocupacional e a criança com distúrbio de aprendizagem. O arcabouço de referência do procedimento ocupacional oferece uma perspectiva global que vem expandir o foco da terapia ocupacional de uma dimensão neurológica, para uma visão sócio-cultural e ambiental mais ampla o que nos permite também acrescentar aos princípios da integração sensorial esta referência. A abordagem de comportamento ocupacional tem importância especial para a criança com distúrbio de aprendizagem. Takata, na sua introdução a uma série de artigos sobre o procedimento ocupacional em pediatria, afirma que o movimento da prática da terapia ocupacional pediátrica dos hospitais para as escolas exige uma expansão da abordagem da terapia ocupacional. Na abordagem de comportamento ocupacional, como Takata descreveu, o foco está em como o indivíduo ocupa papéis na vida particular, na família, na escola e na comunidade. Quando a criança apresenta distúrbios em sua aprendizagem leva-se em consideração, como a criança está desempenhando o seu papel de estudante. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 4 Assim o terapeuta ocupacional que trata da criança com distúrbios de aprendizagem deve buscar respostas para as seguintes questões: � Como a criança brinca? O brincar é encorajado ou desencorajado por seus pais ou pelo ambiente domiciliar? O brincar da criança oferece suporte à construção de habilidades que são necessárias para o sucesso no papel de estudante? � Como a criança se comporta no processo de escolha ocupacional? Ela está no estágio da fantasia, da tentativa ou do realismo? Seu distúrbio de aprendizagem tornará suas escolhas ocupacionais irrealizáveis? � Como o ambiente familiar da criança encoraja ou desencoraja o sucesso no papel de estudante? Ele contém elementos que sugerem uma valorização das habilidades relacionadas com a escola? Ele contribui para uma abordagem organizada para o estudo e domínio das exigências escolares? Quais são as atitudes da família direcionadas às habilidades que dão suporte ao empreendimento acadêmico e ajustamento social na escola? O ambiente familiar é tal que poderia gerar na criança o desejo de sair-se bem na escola? � Que tipo de hábitos a criança desenvolveu? Ela organiza efetivamente sua conduta dentro das rotinas que são compatíveis com as exigências das tarefas tanto do ambiente escolar quanto do familiar? Em que nível as outras pessoas organizam suas atividades? � Quais são as demandas não ditas do ambiente escolar e familiar? Espera-se que a criança desempenhe além de seus limites normais de habilidades? Quais são as exigências para o papel da criança como um estudante? Estas questões foram elaboradas a partir da perspectiva do comportamento ocupacional que foi criada por Reilly e que desde então tem sido ampliada pelos escritos de vários outros terapeutas. Sucintamente, o que é central para a perspectiva do comportamento ocupacional é a idéia de que as habilidades são consolidadas pela criança como hábitos e papéis internalizados. Hábito é definido como rotinas automáticas das quais consiste a vida diária. Os hábitos sofrem transformações com o amadurecimento da criança. Por exemplo, quando a criança entrar na escola ,ela aplicará hábitos aprendidos em casa ao novo ambiente. Os papéis internalizados foram definidos por Kiellhofner e Burk como um senso pessoal do conjunto de comportamentos necessários para se ocupar uma posição num grupo social. O papel do estudante abrange comportamentos que dão suporte tanto ao desempenho acadêmico quanto ao ajustamento social em sala de aula. “Outra definição que julgamos importantes é a dos papéis ocupacionais que também é definida por Kiellhofner e Burk como” os papéis produtivos que determinam o volume da rotina diária e assim organizam a maior parte dos comportamentos dentro do sistema. Dentro de uma proposta de intervenção com a criança com distúrbio de aprendizagem o arcabouço de referência do comportamento ocupacional sustenta que as habilidades sejam aprendidas e controladas dentro do contexto lúdico. Se uma criança apresenta dificuldade específica para a escrita, por exemplo, o terapeuta ocupacional deve oferecer ou proporcionar um ambiente Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 5 que explore as experiências lúdicas para melhorar a coordenação caso seja essa a dificuldade na escrita. Nesse cenário a criança fica livre para explorar as possibilidades da escrita e do seu próprio corpo, na medida em que as necessidades vão sendo identificadas. O terapeuta pode orientar os pais da criança sobre como criar e encorajar experiências em casa para dar condições de competência para a escrita. Outra situação em que o terapeuta pode interferir e intervir é quando a criança não desenvolveu interesse suficiente para eventualmente fazer uma boa escolha ocupacional, e está em uma idade na qual isto é esperado. O terapeuta deve usar a situação terapêutica para exploração de interesses, envolvendo a criança em atividades nas quais ela nunca participou antes e encorajá-la a apreciar o quanto à experiência pode ser prazeroso. Uma outra meta desta terapia deve ser no sentido de orientar e fazer recomendações aos pais em relação ao ambiente familiar de como este pode ser alterado para dar suporte ao desempenho escolar da criança. Sugerimos que a criança participe das possíveis mudanças, e que entenda porque são necessárias. Essas modificações podem ser tanto a nível de organização de mobiliários, bem como, na elaboração de um rotina adequada à demanda das atividades. A falta de organização, o terapeuta pode trabalhar com a criança na organização e sequenciação de simples tarefas diárias. Numa situação de clínica, a criança pode ser apresentada a desafios ambientais correspondentes ao seu nível de habilidades de forma que possa experimentar o sentido do sucesso. Seria usado meios como arte, jogos brincadeiras, escolhidos de acordo com a prontidão da criança. Enquanto participa dessas atividades, o terapeuta deve avaliar se está havendo melhora na habilidade da criança em atentar seletivamente para estímulos relevantes, aprimoramento nos seus hábitos de trabalho, na organização de condutas, arriscando-se nas tomadas de decisão. O surgimento e a utilização dos procedimentos da integração sensorial Os procedimentos da integração sensorial são largamente usados na prática da terapia ocupacional com crianças com distúrbios de aprendizagem. As diretrizes para o uso desses procedimentos derivam dos princípios da teoria da integração sensorial descrita e desenvolvida por Jean Ayres. No fim dos anos 50 e início dos 60, baseada em uma revisão da literatura sobre desenvolvimento, neurobiologia, psicologia, educação e experiência clínica, Ayres formulou hipóteses nas quais as funções psiconeurológicas podem estar implicadas em distúrbios de aprendizagem. Construiu então os precursores dos 18 testes que hoje são chamados Testes de Integração Sensorial do Sul da Califórnia, que tinham como objetivo detectar ou diagnosticar crianças que eram rotuladas como portadoras de problemas de aprendizagem. Após vários anos de estudos e testagem, os resultados foram sintetizados e foi adotada uma tipologia para diagnosticar os tipos de disfunções de integração sensorial. Esses resultados foram obtidos através da aplicação dos Testes de Integração Sensorial do Sul da Califórnia e Teste de Nistagmo Pós-rotatório, resultados de observações clínicas de respostas neuromusculares; e quando possível, de testes áudio-linguísticos. Essa teoria vem sendo desenvolvida no curso de mais de 20 anos. A teoria trata da forma como os humanos desenvolvem a capacidade de Curso de IntegraçãoSensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 6 organizar sensações para o propósito de executar atividades auto dirigidas e significativas. Sua base está nos estudos neuro-comportamentais, no estudo do desenvolvimento da criança e na pesquisa com crianças com distúrbios de aprendizagem, bem como, com outras deficiências. Embora Ayres tenha incorporado alguns princípios da abordagem sensório-motora, que enfatiza a relação entre a sensação e a resposta motora na teoria da integração sensorial, esta se distanciou desta abordagem inicial tornando-se uma entidade distinta. Isto ocorreu em função do enfoque da integração sensorial ter a preocupação da ocupação, de atividades auto direcionadas, de funções simbólicas e a capacidade do indivíduo de organizar suas próprias condutas que a torna única e separada das abordagens sensório motoras. A teoria da integração sensorial se baseia na premissa de que as funções superiores corticais superiores dependem de uma organização neural adequada nos níveis cerebrais subcorticais. Ayres sugere que a criança com déficits motores e problemas de integração sensorial de fundo pode ser tratada influenciando a integração neurofisiológica através do controle do comportamento sensóriomotor. Nesta teoria é enfatizado que os déficits motores vistos na criança com distúrbio de aprendizagem e disfunções de integração sensorial são resultado de problemas no processamento de impulsos sensoriais. Assim, a terapia de integração sensorial é diferente da terapia do neurodesenvolvimento no fato de os distúrbios tratados por profissionais que usam terapia do neurodesenvolvimento serem primariamente motores, enquanto que os tipos de problemas abordados usando procedimentos de integração sensorial são primariamente distúrbios no processamento sensorial. Os tipos de disfunção sensorial estão freqüentemente associados com déficits no processamento tátil e ou vestibular. Uma explanação de como a criança desenvolve a capacidade de organizar seu próprio comportamento é central para a teoria. Ayres apontou que o recém nascido escuta, vê e percebe as sensações de seu corpo; contudo é incapaz de avaliar distâncias e encontrar significado para os sons que ouve. Quando a habilidade de organizar sensações e comportamentos se desenvolve, a criança pode se tornar mais hábil para dirigir a atenção para estímulos relevantes, permanecer organizada por períodos de tempo mais longos, e executar uma rotina de atividades diárias de forma a dar suporte ao papel ocupacional. Esse processo de organizar a informação sensorial no cérebro para promover respostas adaptativas é o que Ayres chamou integração sensorial. DEFINIÇÃO: Ayres define a IS como sendo a organização de informações sensoriais, provenientes de diferentes canais sensoriais e a habilidade de relacionar estímulos de um canal a outro, de forma a emitir uma resposta adaptativa. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 7 Para a aplicação prática da integração sensorial nos apoiamos em seis princípios básicos que são: 1. Os estímulos sensoriais controlados podem ser usados para eliciar uma resposta adaptativa Ayres define uma resposta adaptativa como “uma ação apropriada na qual o indivíduo responde com sucesso a alguma demanda ambiental" Um exemplo de uma resposta adaptativa em uma criança é observado quando ela suga competentemente. Balançar em um cavalinho de pau constitui uma resposta adaptativa para a criança que está aprendendo a andar (na qual ela deve coordenar flexão e extensão do tronco). Para a criança mais velha andar sobre patins pode ser uma resposta adaptativa. Respostas adaptativas exigem que a criança experimente um tipo e uma quantidade de estimulação sensorial que desafia, mas não sobrecarrega o sistema nervoso central, a manifestação de uma resposta adaptativa é potencializada. 2. Uma resposta adaptativa contribui para o desenvolvimento da integração sensorial Cada vez que a criança é capaz de superar com sucesso um desafio do ambiente, a capacidade de organizar o estímulo sensorial para responder à demanda ambiental se aprimora. Ayres acredita que a atividade motora seja um potente organizador de estímulos sensoriais. Quando respostas adaptativas são emitidas, o sistema nervoso usa o conhecimento dos resultados de ações anteriores para guiar a orientação de informações sensoriais para utilização futura. 3. Quanto mais auto dirigida às atividades da criança, maior é o potencial das atividades para aprimorar a organização neural. Este princípio afirma que as crianças possuem uma força motivacional inata no sentido da integração sensorial, chamada por Ayres de “motivação interna”. A criança é naturalmente atraída para atividades que exigem e trazem organização cerebral dos estímulos sensoriais. Por exemplo, pode-se supor que uma criança de 18 meses cujo sistema nervoso deve estar sobrecarregado por estímulos vestibulares causados pelo balanço poderiam se afastar dessa atividade. Por outro lado, possivelmente devido à crescente capacidade de organizar sensações desse tipo, crianças de 3 a 4 anos buscarão essas atividades que envolvem o balançar. Terapias que utilizam essa motivação interna exploram a inerente capacidade da criança de buscar atividades que proporcionem organização cerebral. 4. Padrões mais amadurecidos e complexos de comportamento são compostos pela consolidação de comportamentos mais primitivos Ayres acredita que as crianças fundem funções aprendidas previamente para a criação de respostas adaptativas mais maduras. A emissão de respostas adaptativas cada vez mais maduras é um produto da prática de cada elemento sensorial e motor. Subjacentes às modificações na complexidade do comportamento, estão os avanços paralelos da organização neural. À medida que o processamento do tronco encefálico de estímulos sensoriais se torna mais eficiente, funções corticais mais elevadas são liberadas para se desenvolver mais completamente. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 8 5. A melhor organização de respostas adaptativas intensificará a organização do comportamento geral da criança Enquanto algumas respostas adaptativas são simples atos isolados, outras requerem mais seqüenciamento e coordenação temporal das atividades motoras. A criança deve calcular como coordenar e temporizar um conjunto de respostas motoras para atingir um objetivo. Em essência, a criança deve programar sua ação. Ayres deduz que o engajamento nesse processo pode intensificar a capacidade de planejamento geral da criança. Por exemplo, um aprimoramento dessa capacidade pode tornar alguém mais apto na organização da rotina diária usual de atividades ou das etapas exigidas para a realização de uma tarefa escolar. 6. É necessário o registro dos estímulos sensoriais significativos antes da resposta poder ser dada Durante um dia, os indivíduos percebem alguns, mas não todos os estímulos do ambiente. Os estímulos que são percebidos influenciam as respostas motoras que são dadas. Se a criança está desatenta à maioria dos estímulos do ambiente, seu repertório de respostas adaptativas será limitado, e seu potencial para o desenvolvimento de comportamentos mais complexos será também frustrado. Por outro lado, algumas crianças parecem registrar estímulos sensoriais excessivos. Essas crianças podem estar bombardeadas por estímulos de tal grau, que tenham dificuldade de extrair o significado das sensações ou focalizar em alguma tarefa dirigida a um objetivo. Em seu livro de 1972, hoje clássico, Ayres relacionou várias atividades que ela hipotetizou que intensificariam a eficiência da integração neural em nível de tronco encefálico. Os procedimentos incorporavam uma provisão de estímulos táteis, proprioceptivos e especialmente vestibulares. Faremos a seguir uma breve revisão destes sistemas. Curso de Integração Sensorial– Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 9 I - SISTEMA VESTIBULAR E VISUAL Os sistemas vestibular e visual têm receptores especializados e axônios dos nervos cranianos na periferia, núcleos específicos no tronco encefálico e áreas do córtex cerebral dedicadas à sua função. A função do sistema visual depende, em parte, do sistema vestibular porque as informações vestibulares contribuem para os movimentos oculares compensatórios que mantêm a estabilidade do mundo visual quando a cabeça se movimenta. 1 - SISTEMA VESTIBULAR O aparelho vestibular é um órgão proprioceptivo. Funcionalmente, ele está envolvido na manutenção do equilíbrio da cabeça e corpo. Como o sistema vestibular está intimamente conectado com os sistemas auditivo, visual, proprioceptivo e motor, ele trabalha em cooperação com um número de outros sistemas para modular funções importantes. Pesquisas sugerem que o sistema vestibular conecta-se com uma variedade de impulsos sensoriais e faz ajustes em sua sensibilidade à posição no espaço e movimento. O sistema vestibular tem sido envolvido na influência do tono muscular, manutenção da mira visual, direcionalidade espacial, orientação da cabeça e corpo, influência no aprendizado e desenvolvimento emocional. O aparelho vestibular é uma estrutura membranosa localizada na região temporal do crânio, no ouvido interno. É subdividido em cóclea (que está primariamente envolvida na audição), vestíbulo e três canais semicirculares. Uma característica em comum entre o sistema auditivo e vestibular é que eles compartilham da mesma raiz de nervo craniano. Contudo, as conexões com os núcleos do tronco cerebral e outras estruturas neurológicas são explicitamente diferentes. O vestíbulo (utrículo e sáculo) está localizado entre os canais semicirculares e a cóclea. É freqüentemente chamado de labiríntico estático, pois desencadeia reflexos tônicos nos músculos posturais em resposta a alterações nas posições da cabeça e do corpo e influências gravitacionais. O vestíbulo contém duas câmaras comunicantes: o sáculo e o utrículo. As células ciliadas no sáculo e no utrículo são semelhantes: cada câmara contém um local espessado de células sensoriais chamadas mácula. As células ciliadas são arranjadas em uma posição fixa de modo que os tufos pilosos se projetam para cima através de uma massa gelatinosa chamada membrana otolítica. Embebidos nessa substância gelatinosa estão pequenos cristais de carbonato de cálcio chamados otólitos. Esse arranjo anatômico permite que as células ciliadas sejam altamente responsivas a alterações na posição da cabeça. Quando a cabeça se move para um lado, a força de gravidade desloca a membrana otolítica, os que fazem com que os cílios das células ciliadas se dobrem. Esse dobramento ou ação de atrito faz com que as células ciliadas disparem e transmitam impulsos aferentes para o SNC. Deve ser enfatizado que as células ciliadas são receptores tônicos, e, portanto mesmo na posição neutra, ficam disparando constantemente. O utrículo responde a forças gravitacionais e à aceleração linear, principalmente no plano horizontal. A maioria dos cílios no utrículo é arranjada verticalmente quando a cabeça está na posição ereta. Assim, a aceleração e desaceleração linear no plano horizontal são estímulos adequados para os Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 10 cílios do utrículo. Imagine uma criança em decúbito ventral escorregando em uma descida (rampa) sobre um carrinho de rolimã (skate). Quando a criança atinge o plano horizontal, a cabeça fica ereta, fazendo com que os cílios façam uma deflexão e disparem. A rápida desaceleração, provocada pelo final da descida, faz com que as células ciliadas se dobrem para frente, fazendo deflexão novamente. O sáculo responde a estímulos vibratórios e à aceleração linear no plano dorso ventral (vertical). O sáculo fica entre o utrículo e o duto coclear. A maioria dos cílios (células ciliadas) no sáculo é arranjada de modo a ficar de lado quando a cabeça estiver na posição ereta. Assim, se a cabeça se move em um plano vertical em aceleração e desaceleração linear, os cílios disparam. Qualquer movimento de subida ou descida, como pular sobre um trampolim, é um estímulo adequado para os cílios no sáculo. Na maioria dos casos, os cílios, tanto do sáculo como do utrículo, são sensíveis a uma variedade de estímulos. Por exemplo, movimentos para frente e para trás irão ativar cílios nas duas câmaras. Em resumo os estímulos adequados para os cílios do utrículo e sáculo (vestíbulo) são a posições estáticas da cabeça no espaço e a aceleração e desaceleração linear nos planos horizontais e verticais. As maiores mudanças de tono ocorrem nos grupos extensores dos músculos posturais. Além disso, o vestíbulo (sáculo e utrículo) contribui para a manutenção das reações de endireitamento e respostas de equilíbrio. Os canais semicirculares são chamados de labirinto cinético, pois respondem a movimentos da cabeça. Os canais semicirculares também exercem influências sobre os membros e os músculos extra-oculares dos olhos, assim como assistem nas respostas de equilíbrio e orientação no espaço. Os canais semicirculares são arranjados aproximadamente em ângulos retos um com o outro, um para cada eixo de rotação.Os canais anterior e posterior são sensíveis ao movimento no plano sagital. O canal horizontal reage à rotação ao redor do eixo central do corpo. Os receptores nos canais semicirculares respondem a movimentos de rotação (aceleração e desaceleração angulares), o que provoca um movimento dos fluídos (endolinfa) e a deflexão dos cílios do epitélio sensorial. Os três canais semicirculares membranosos são contínuos com o vestíbulo. Os canais são alargados na juntura onde os canais terminam dentro do vestíbulo. Esse alargamento é chamado ampola; ele contém receptores similares aos do vestíbulo. Esses receptores consistem de elevações de cílios chamados crista ampular. As cristas são compostas de cílios inseridos firmemente na base das ampolas. Os tufos de cílios se projetam dentro de uma substância gelatinosa em forma de cúpula chamada cúpula. A cúpula difere da membrana otolítica por não conter otólitos; ao contrário, fica no topo dos cílios como um chapéu e é estimulada pelo movimento da endolinfa no canal. Assim, qualquer aceleração ou desaceleração angular (rotatória) da cabeça faz com que a endolinfa circule através dos canais, que por sua vez deslocam a cúpula e faz os cílios dispararem. Deve ser lembrado que a aceleração inicial é a força que faz com que a cúpula sofra deflexão e dispare em uma freqüência maior. Também os canais semicirculares são mais responsivos a movimentos rotacionais curtos e não à rotação prolongada. Uma boa fórmula para a estimulação dos canais semicirculares é girar o indivíduo aproximadamente 10 vezes em 20 segundos, parar abruptamente, esperar 20 segundos, e girar novamente na mesma Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 11 velocidade em direção oposta. É também benéfico considerar a posição da cabeça ao girar. Por exemplo, se a pessoa está em decúbito lateral sobre um dispositivo largo para girar, a endolinfa nos canais anterior e posterior irá circular, provocando uma resposta mais potente. Resumindo, os canais semicirculares detectam movimentos da cabeça em todos os planos e são envolvidos na manutenção da postura ereta. As vias dos canais semicirculares são extremamente importantes para a mira visual, movimentos oculares e alinhamento da cabeça e corpo. As conexões dos canais semicirculares e os otólitos trabalham em cooperação com os receptores articulares do pescoço para fazer a reação de endireitamento da cabeça e do pescoço. O sistema vestibular é extremamente importante no controle reflexo dos movimentos conjugados dos olhos em resposta à movimentação da cabeça e à posição da cabeça no espaço.Os reflexos vestibulares, em cooperação com alguns reflexos do sistema óptico, possibilitam aos olhos permanecerem fixados em objetos estacionários enquanto a cabeça e o corpo estão em movimento. Virando a cabeça levemente para a direita, o indivíduo produz em pequeno fluxo de endolinfa nos canais semicirculares horizontais. O fluxo é dirigido para a esquerda devido à inércia do fluido que se opõe ao movimento da cabeça. O fluxo da endolinfa causa a ativação dos receptores da ampola dos canais semicirculares horizontais que atingem os núcleos vestibulares. Funcionamento: os receptores vestibulares, estimulados tanto pela gravidade como por movimentos rotatórios, dão origem a impulsos que, além de contribuir para a postura normal do corpo, chegam ao córtex cerebral e informa sobre a posição e movimento da cabeça. Os axônios das células bipolares de gânglio vestibular passam através do canal auditivo interno e atingem a parte superior do bulbo. A maioria das fibras do nervo vestibular sofre uma bifurcação, formando ramos ascendentes e descendentes e terminam nos núcleos vestibulares que estão localizados na parte lateral do assoalho do IV ventrículo: o núcleo vestibular medial, núcleo vestibular lateral, núcleo vestibular superior e o núcleo vestibular inferior. Vias Vestibulares: o sistema vestibular faz conexões neuroanatômicas com muitos outros sistemas, através das vias eferentes dos núcleos vestibulares, que forma ou entram na composição dos seguintes tratos e fascículos; � Fascículo vestíbulo cerebelar: formado por fibras que terminam no córtex do arquicerebelo (lobo floculonodular). Através destas fibras o arquicerebelo recebe impulsos sobre a posição da cabeça, estes impulsos são integrados no cerebelo e a resposta cerebelar se projeta sobre os neurônios motores no sentido da manutenção do equilíbrio. � Fascículo longitudinal medial: nos núcleos vestibulares originam-se a maioria das fibras que entram na composição do fascículo longitudinal medial. Este fascículo está envolvido em reflexos que permitem ao olho ajustar-se aos movimentos da cabeça. � Trato vestíbulo-espinhal: pertence ao sistema extrapiramidal e suas fibras levam impulsos aos neurônios motores da medula. � Fibras vestíbulo-talâmico: admite-se a existência de fibras vestíbulo talâmicas que levam impulsos ao tálamo, de onde vão ao córtex. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 12 � Fibras comissurais: fibras que dos núcleos vestibulares dirigem-se transversalmente para dentro, intercruzam-se na linha média com as do lado oposto e chegam à formação reticular. � Via vestíbulo-reticular: por meio destas conexões os núcleos vestibulares podem cooperar com a formação reticular e, por exemplo, influenciar a atividade da medula espinhal e determinadas partes do tálamo. As conexões vestíbulo-reticulares estão envolvidas presumivelmente com o vômito e reações cardiovasculares que acompanham irritação vestibular. Síntese LOCALIZAÇÃO: região temporal do crânio, no ouvido interno, próximo ao órgão auditivo. Consiste em labirintos ósseo e membranoso e nas células pilosas. � Labirinto ósseo é um espaço enrolado em espiral dentro do crânio que consiste em ter canais semicirculares e dois órgãos otolíticos. � Labirinto membranoso fica dentro do labirinto ósseo sendo oco e cheio de um líquido chamado endolinfa. A perilinfa banha o espaço entre o labirinto membranoso e ósseo. � Células pilosas são receptores que ficam dentro do labirinto membranoso. VIAS VESTIBULARES: Receptores sensitivos respondem à posição da cabeça relativamente à gravidade e aos movimentos da cabeça. A informação é convertida em sinais neurais transmitidos pelo nervo vestibular para os núcleos vestibulares. NÚCLEOS VESTIBULARES: estão localizados no tronco encefálico, na junção da ponte com a medula oblonga, perto do quarto ventrículo. Além das informações vestibulares, os núcleos vestibulares recebem informações visuais, proprioceptivas, táteis e auditivas, portanto integra informações de múltiplos sentidos. As vias que transmitem as informações dos núcleos vestibulares incluem: � O fascículo longitudinal medial (para os núcleos extra-oculares, influenciando os movimentos oculares). � Os tratos vestibuloespinhais (medial e lateral para motoneurônios inferiores que influenciam a postura). � Vias vestibulocólicas (para o núcleo do nervo acessório espinhal, influenciando a posição da cabeça). � Vias vestibulotalamocorticais (proporcionando conscientização da posição da cabeça e do seu movimento). � Vias vestibulocerebelares (para o vestibulocerebelo). � Vias vestibuloautônomas (para a formação reticular, influenciando náuseas e vômitos). As projeções dos núcleos vestibulares contribuem para: � Informações sobre o movimento de cabeça e a posição da cabeça relativamente à gravidade. � Estabilidade do olhar (controle dos movimentos oculares quando a cabeça se movimenta). Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 13 � Ajustes posturais. � Função autônoma e consciência. CANAIS SEMICIRCULARES Os canais semicirculares são três anéis ocos dispostos perpendicularmente entre si. Cada canal tem uma tumefação, chamada ampola, contendo uma crista. A crista consiste em células de sustentação e células pilosas sensitivas. Os pelos ficam imersos em massa gelatinosa, a cúpula. Se a cabeça começar a rodar, a inércia fará com que o líquido no canal fique para trás, resultando em curvatura da cúpula e dos pelos das células pilosas. A curvatura dos pelos resulta em excitação ou inibição das terminações nervosas vestibulares, dependendo da direção da curvatura. Os receptores nos canais semicirculares são sensíveis somente à aceleração ou à desaceleração rotacional (acelerar ou tornar mais lenta a rotação da cabeça). As disposições anatômicas dos canais, estando os canais semicirculares orientados em ângulos de 90° entre si, garantem que a aceleração ou a desaceleração num plano de movimento que cause fluxo máximo de líquido num par de canais semicirculares não estimula os outros canais semicirculares. Os canais semicirculares são chamados de labirinto cinético, pois são sensíveis aos movimentos rotacionais da cabeça. São arranjados em ângulos retos um com o outro, um para cada eixo de rotação. Canais anteriores e posterior-são sensíveis ao movimento no plano sagital e frontal (canais verticais) Canal horizontal-é sensível à rotação ao redor do eixo central do corpo no plano horizontal. Os três canais semicirculares são contínuos com o vestíbulo. Eles se alargam na juntura onde os canais terminam dentro do vestíbulo. Esse alargamento é chamado ampola que contém uma estrutura receptora chamada crista ampularis. Crista ampularis - as cristas são compostas de cílios inseridos firmemente na base das ampolas. Os tufos de cílios se projetam dentro de uma substância gelatinosa de forma cônica, chamada cúpula. Cúpula - difere da membrana otolítica por não conter otólitos, ficando no topo dos cílios como um chapéu e é estimulada pelo movimento da endolinfa no canal. Endolinfa - qualquer aceleração ou desaceleração angular (rotatória) da cabeça faz com que a endolinfa circule através dos canais, que por sua vez deslocam a cúpula e faz os cílios dispararem. Importante: a aceleração inicial é a força que faz com que a cúpula sofra deflexão e dispare numa freqüência maior. Além disso, os canais semicirculares são mais responsivos a movimentos rotacionais curtos e não à rotação prolongada. Os canais semicirculares detectam movimentos da cabeça em todos os planos e são envolvidos na manutenção da postura ereta. As vias dos canais semicirculares são extremamente importantes para a mira visual, movimentos oculares e alinhamento da cabeça e corpo. As conexões dos canais semicirculares e os otólitos trabalham em cooperação com os receptores articularesdo pescoço para fazer a reação de endireitamento da cabeça e do pescoço. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 14 SÁCULO E UTRICULO – ÓRGÃOS OTOLÍTICOS O utrículo e o sáculo, também chamados órgãos otolíticos, respondem à posição da cabeça relativamente à gravidade e à aceleração e desaceleração linear. Em cada um desses sacos está a mácula, consistindo em células pilosas encerrada em massa gelatinosa contendo cristais de cálcio. Os cristais, chamados otólitos, são mais densos que o líquido em torno e seu suporte gelatinoso. Mudar a posição da cabeça inclina a mácula e o peso dos otólitos desloca a massa gelatinosa, curvando as células pilosas imersas. A curvatura dos pelos estimula ou inibe as células pilosas (dependendo da direção de curvatura), e isso determina a freqüências das descargas dos neurônios no nervo vestibular. A mácula utricular está no assoalho do utrículo quando a cabeça está ereta; desse modo sua orientação é horizontal. A mácula utricular responde maximamente a inclinações da cabeça que começam com a cabeça na posição ereta, como na curvatura para frente para pegar algo do chão. A mácula sacular é orientada verticalmente. A mácula sacular responde maximamente quando a cabeça se move em uma posição flexionada lateralmente, como no movimento em decúbito lateral para a posição em pé. Além da posição da cabeça, as máculas também respondem à aceleração e a desaceleração linear. À medida que a cabeça começa se mover para frente, os otólitos da mácula utricular caem para trás, e os impulsos resultantes sinalizam a aceleração da cabeça. Mácula- fragmento sensorial que monitora a posição da cabeça em relação ao chão. Células ciliadas-são arranjadas em uma posição fixa de modo que os tufos pilosos se projetam para cima através de uma massa gelatinosa chamada membrana otolítica. Otólitos-cristais de carbonato de cálcio que ficam embebidos na massa gelatinosa. Se a cabeça está inclinada, a gravidade puxa a massa para baixo deslocando a membrana otolítica estimulando e fazendo com que os cílios das células ciliadas _ que são altamente responsivas às alterações na posição da cabeça_ se dobrem. Esse dobramento ou ação de atrito faz com que as células ciliadas disparem e transmitam impulsos aferentes para o SNC. IMPORTANTE: as células ciliadas são receptores tônicos, e, portanto mesmo na posição neutra, ficam disparando constantemente. UTRÍCULO Responde a forças gravitacionais e à aceleração linear e horizontal da cabeça, como no andar para frente. Os cílios no utrículo são arranjados verticalmente quando a cabeça está ereta. A aceleração e desaceleração linear no plano horizontal são estímulos adequados aos cílios do utrículo. Ex: descer de skate na rampa; balançar na plataforma móvel para frente e para trás. SÁCULO Responde a estímulos vibratórios e à aceleração linear no plano dorsoventral (vertical) como andar de cavalo ou pular em uma bola. Os cílios no sáculo são é arranjado de modo a ficar de lado quando a cabeça estiver na posição ereta. Ao mover a cabeça em um plano vertical em aceleração ou desaceleração, os cílios serão disparados. Ex: pular de um trampolim, balanço de mola. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 15 IMPORTANTE: os estímulos adequados para os cílios do sáculo e do utrículo são aqueles em que a cabeça está numa posição estática no espaço e a aceleração e desaceleração linear ocorrerem nos planos horizontais e verticais. PAPEL VESTIBULAR NO CONTROLE MOTOR Além de fornecer informações sensoriais sobre o movimento e a posição da cabeça, o sistema vestibular exerce dois papéis no controle motor: estabilização do olhar e ajustes posturais. A estabilização do olhar opera pelo reflexo vestibulocular. Os ajustes posturais são obtidos por conexões recíprocas entre os núcleos vestibulares e a medula espinhal, a formação reticular, o colículo superior, o núcleo do XI nervo craniano e o cerebelo. CONEXÕES DOS NÚCLEOS VESTIBULARES A rotação rápida da cabeça, através de um giro simples da cabeça, ou do andar em um brinquedo de parque de diversões ativa as conexões dos canais semicirculares, desencadeando: � alteração do controle postural (levando a uma inclinação ou queda) � ajuste da orientação da cabeça � reflexo dos movimentos oculares � alterações autônomas (náuseas, vômitos). � alteração da consciência (tonturas) � conscientização da orientação da cabeça e do movimento da cabeça. Além de ser a origem dos tratos vestibulares, os núcleos vestibulares estão ligados com áreas que afetam os tratos descendentes córticoespinhais, reticuloespinhais e tetoespinhais. Por essas conexões os núcleos vestibulares influenciam fortemente a postura da cabeça e do corpo. As conexões cerebelares com o aparelho vestibular, núcleos vestibulares, medula espinhal e oliva inferior possibilitam ao cerebelo controlar o ganho dos ajustes posturais e reflexos dos movimentos oculares. Desse modo, a magnitude das respostas reflexas a mudanças de posição e movimento (da cabeça, do corpo ou de objetos externos) depende do processamento cerebelar de informações vestibulares e visuais. O SISTEMA VESTIBULAR E SUAS FUNÇÕES O sistema vestibular está estritamente associado com as terminações aferentes secundárias dos fusos neuromusculares, pois lhe cabem a coordenação das contrações tônicas e fásicas dos diferentes grupos musculares, realizando por esse mecanismo uma complexa integração sensorial de grande importância na organização da equilibração e na orientação espacial da motricidade (Ayres, 1977; e Fonseca, 1984). A função do uso neuromuscular é chave para manutenção do tônus muscular, e esta é fundamental para a regulação da equilibração. A sua disfunção é, em certa medida, sinônimo de inadequada informação sensorial. A disfunção tônica sugere uma reduzida aferência neuromuscular, que tende a produzir efeitos em nível da integração proprioceptiva e vestibular. A Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 16 inadequada integração vestibular e proprioceptiva daí resultante reduz a atividade dos fusos neuromusculares, que, por sua vez, tornam-se menos eficientes, pondo em risco a implementação de qualquer reação motora, incluindo os reflexos posturais e os movimentos voluntários. A tonicidade está assim relacionada com a integração sensorial e está inexoravelmente dependente da organização da equilibração. O sistema vestibular como um órgão especializado da equilibração compreende um componente funcional periférico ao nível do ouvido interno e um componente funcional interno situado nos núcleos nervosos do tronco cerebral. Esse sistema desempenha duas funções sensório-motoras vitais a sobrevivência da espécie: a detecção do movimento e a detecção da gravidade. O sistema vestibular, verdadeiro analisador estático-dinâmico multissensorial (Fonseca, 1984), não só responde pela postura como pela orientação espacial, dada a sua inter-relação com outros receptores somáticos e visuais, como responde pela organização perceptiva e pelo potencial de aprendizagem. O sistema vestibular tem inúmeras conexões, por isso, repercute em toda a organização psicomotora. As sensações provocadas pela gravidade são uma referência básica a todas as outras informações sensoriais e perceptivas, daí a sua implicação no desenvolvimento das funções visuais e auditivas, e certamente, a sua repercussão no desenvolvimento da aprendizagem. O núcleo vestibular do tronco cerebral, além de processar informação dos músculos, das articulações, dos tendões e da pele, processa ainda informação dos receptores visuais e auditivos. Organizam em suplemento outros impulsos, que advêm do tronco cerebral, do cerebelo e de muitas outras partes do córtex, especialmente do lóbulo parietal, garantindo a ligação da informação proprioceptiva com a exteroceptiva,fornecendo as condições básicas da organização perceptiva da visão e da audição, daí, conseqüentemente, a sua influência no desenvolvimento psicomotor e emocional. A informação vestibular processada proprioceptivamente é indispensável à visão para se relacionar com o espaço, quer para o movimento global, quer para a manipulação do objeto. O sistema vestibular influencia também as funções emocionais e o comportamento, dadas as suas intrincadas conexões com o sistema límbico, que só pode funcionar adequadamente desde que seja modulada pelos outros sentidos. A ausência de estimulação vestibular pode provocar reações de agressividade ou de isolamento; muitas experiências animais o têm provado (Harlow, 1958 e 1971), e no ser humano, fundamentalmente na criança, os seus efeitos emocionais são concludentes em termos de relação mãe-filho é uma condição do desenvolvimento global da criança. De acordo com Wallon, 1949, a vida emocional interage com as reações tônicas, emoção e motricidade e influenciam-se intimamente em termos de desenvolvimento afetivo. A segurança gravitacional está na base do controle postural e da equilibração, na medida em que traduz a integridade do sistema vestibular. A insegurança postural ou gravitacional gera naturalmente instabilidade emocional, hiperatividade, ansiedade, distraibilidade, etc., alterando todas as condições necessárias ao processamento da informação. Sob uma Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 17 insegurança gravitacional não se podem integrar informação sensorial, nem organizar percepções ou associações de nível superior. O sistema vestibular organiza e participa na elaboração de respostas posturais e adaptações de equilibração, estão necessariamente envolvidas nas funções de vigilância, de alerta e de atenção, condições inerentes à primeira unidade funcional de Lúria envolvidas em todas as funções de processamento da informação. A sua função opera-se muito antes dos sistemas proprioceptivos e exteroceptivos; daí a sua marcada influência na evolução de outros sistemas funcionais mais complexos e hierarquizados. As disfunções posturais, dadas as múltiplas inter-relações do cerebelo com os centros límbicos, talâmicos e subtalâmicos, podem causar distúrbios de ordem perceptiva e de memória, uma vez que aqueles centros assumem funções de integração sensório-motora e de convergência multissensorial (Ayres, 1977, Krauthamer e Albe-Fessaro, 1964). O controle postural envolve a participação de centros inferiores (medulares), intermédios (tronco cerebral e cerebelo) e superiores (córtex), a sua disfunção interfere com todo tipo de atividade mental, não exclusivamente motora, mas emocional, perceptiva, cognitivas, sociais, simbólicas, etc. Para que este organismo aprenda, ele tem primeiro de ser capaz, através de uma adequação energética própria, de ampliar e inibir estímulos, processar informações e agir. Sem o domínio postural, o cérebro não aprende a motricidade não se desenvolve e a atividade simbólica fica inequivocamente afetada. As atividades posturais e motoras precedem as atividades mentais, depois atuam conjuntamente, assistindo-se mutuamente, até que mais tarde a atividade motora se subordina à atividade mental. Cerebelo, sistema vestibular e formação reticular estão intimamente associados ao longo da filogênese e da ontogênese não só produzindo complexos circuitos de retroativação e de reaferência, mas também guiando e modulando a tonicidade e a equilibração para serem integradas em movimentos mais complexos, precisos e seqüencializados, oferecendo condições indispensáveis de plasticidade e de adaptabilidade que os caracterizam. As inibições pré-motoras e antecipativas nos músculos antagonistas, seguidas de acelerações e desacelerações apropriadas para o jogo dialético da postura e do movimento (início e fim) interferem com as múltiplas informações proprioceptivas recebidas pelo cerebelo e pelo sistema vestibular. Toda esta complexa ativação se transforma numa segurança gravitacional, numa independência motora, numa capacidade de controle emocional, numa capacidade de atenção e alerta e numa apreensão espacial, que em si consubstanciam o cerebelo com um centro de estratégias posturais e motoras. TEXTO: O SISTEMA VESTIBULAR (The vestibular system) Da mesma maneira que o sistema tátil é nossa sensação de toque pelo qual nós desenvolvemos relações de amizade (contato) com outros, o sistema vestibular é a nossa sensação de movimento e gravidade. É através do sistema vestibular que nós desenvolvemos uma relação com o mundo, isto é, podemos saber o que está para cima, o que está para baixo, o lado esquerdo, direito, o horizontal e o vertical. A informação por nós recebidos e processados através Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 18 deste sistema é tão básica em tudo o que fazemos que seja muito difícil imaginarmos como seria não usarmos tal informação corretamente. A discussão que trazemos aqui é necessária, pequena; é uma discussão muito simples de um assunto muito complexo. Ayres diz “O sistema vestibular é um sistema unificado. Todos os outros tipos de sensação são processados tendo como referência a informação básica do vestibular. A atividade do sistema vestibular provê um arcabouço para os outros aspectos de nossas experiências” (1979). Assim, o input sensorial do sistema vestibular, dá medidas ou noções do funcionamento do sistema nervoso central como um todo e o prepara para outro input sensorial. O input vestibular nos diz se estamos nos movendo ou não, se estamos nos movendo rapidamente, e para que direção esteja nos movendo. Proporciona-nos aquela sensação de segurança quando estamos com os pés plantados firmemente no solo. Também nos dá uma referência física que nos ajuda no sentido da informação visual, particularmente onde nós e as outras coisas em nosso ambiente estamos em relação umas as outras. O tônus muscular adequado e a postura nos permitem mover eficazmente e assumir e manter várias posições confortavelmente ao longo do dia. Um exemplo de eficiência de movimento é a habilidade para seguir objetos com nossos olhos. Esta habilidade é fundamental para a aquisição de habilidades acadêmicas básicas como ler e escrever. A habilidade para mover diferentes partes do corpo harmoniosamente é outra habilidade importante. Por exemplo, requer controle adequado, estabilidade, e rotação do tronco e da cintura escapular. Outra habilidade importante relacionada ao sistema vestibular é a coordenação bilateral, ou a habilidade para usar ambos os lados do corpo. Esta habilidade nos permite andar de bicicleta, saltar, pular corda, ou tocar piano. A coordenação bilateral pode ser inibida se a dominância da mão não for estabelecida corretamente. Crianças que não processam a informação vestibular eficazmente podem estabelecer a dominância de mão tão completamente, que elas ignoram o lado não dominante do corpo, ou elas podem não estabelecer a dominância da mão adequadamente. Qualquer deficiência faz com que o desempenho de muitas tarefas comuns torne-se bastante difícil. Crianças com disfunção do sistema vestibular provavelmente têm problemas com muitos dos componentes da vida diária. Elas parecem freqüentemente incoordenadas e com falta de habilidade para atividades que requerem seqüenciamento e timing. Elas podem não perceber a informação visual corretamente. Elas podem ter a memorização pobre e se mostrarem lentas para aprenderem muitas das habilidades acadêmicas básicas. Elas podem apresentar náusea ao movimento não importando a intensidade do movimento, ou podem ser muito lentos ou ficarem tontos não importando com o movimento violento. Elas são freqüentemente relutantes em participar de atividades físicas ou experiências que lhes exigem mover ou usar os seus corpos de maneira suave ou calma e coordenadamente. Problemascom memória e com aprendizagem das habilidades acadêmicas básicas, são em parte devido a problemas com o processamento do input auditivo. Enquanto todos nós precisamos até certo ponto nos mover para escutar (ficar na ponta dos pés ou mudarmos de cadeira), crianças com desordens do sistema vestibular precisam mover-se mais para escutar e entender. Adultos podem estranhar a quantidade de movimento que estas Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 19 crianças necessitam. É importante nós tentarmos não dizer para as crianças para “sentar e prestar atenção” quando os seus cérebros estão lhes dizendo para “movimentarem-se”, já que elas demandam movimento para que possam prestar atenção e entender. Pesquisas indicam que processos vestibulares em níveis inferiores do cérebro (subcortical) favorecem os processos que acontecem em níveis mais alto (cortical) do cérebro, inclusive na fala e na linguagem (Stilwell, Crowe, e McCallum 1978). Experiências negativas com movimento causado por uma disfunção do sistema vestibular podem, então, causar nas crianças dificuldades com a fala e a linguagem que são tão essenciais para aprender e estabelecer relações sociais. A linguagem pode não se desenvolver dentro do esperado ou pode não seguir padrões convencionais do desenvolvimento; crianças podem ter dificuldades no uso das palavras e para refletir sobre o que elas sabem. Elas também podem posteriormente ter dificuldades ao tentarem se comunicar com palavras e orações. A meta da terapia é proporcionar experiências positivas com movimentos que permitam as crianças desenvolver um modo organizado de olhar o mundo. Estas atividades lhes ajudam a ter movimentos mais eficientes e também organizados e em usar a linguagem para entender e descrever o mundo e suas experiências. Outro aspecto de comunicação que pode ser afetada através de desordens do sistema vestibular é a habilidade para usar a comunicação não verbal, ou a linguagem corporal, adequadamente. Nós comunicamos uma grande parte dos nossos pensamentos e sentimentos através do uso apropriado de nossas mímicas faciais e corporais. Quando as pessoas dizem uma coisa e o não verbal expressa outra, o ouvinte acredita na comunicação não verbal, independentemente da verdadeira intenção. Por exemplo, se você mostra e fala para os amigos que ama suas fotos de férias, mas freqüentemente fica bocejando e olhando para o relógio, eles acreditarão que você está aborrecido ou contrariado. Para comunicar-se deste modo requer um tônus muscular adequado. O locutor também deve poder coordenar a atividade muscular com a linguagem usada. O sistema vestibular é muito importante no desenvolvimento e modulação destes componentes. Crianças com disfunção nesta área possam freqüentemente ser mal entendidas sem saber por que, com situações frustrantes para eles e para as pessoas ao seu redor. As crianças podem reagir inapropriadamente para tais mal entendidos. Crianças com processamento vestibular inadequado podem ter reações emocionais impróprias e comportamentos muito semelhantes aos processamentos táteis inadequados. Crianças que são inseguras frente a possíveis situações de perigo de queda ou onde eles estão em relação às outras pessoas e objetos no seu meio ambiente terão muitas vezes um comportamento inapropriado. Elas podem na verdade ser inseguras estando ou não se movendo, e freqüentemente têm medo de queda. Caminhar em pedregulho, cimento, ou metal pode ser totalmente ameaçador. Esta insegurança gravitacional causa nas crianças dificuldade para usar a visão e monitorar cada situação, impedindo-as de mover-se com confiança e facilidade. Isto inibe a habilidade para observar e aprender em várias situações. Nem sempre é possível assegurarmos que o que o cérebro está processando é realmente procedente daquilo que estamos lhes informando. Há outras crianças que não tem a experiência da insegurança gravitacional, mas tem Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 20 “fome” do input vestibular e constantemente buscam o novo e ou experiências de movimentos mais intensos. Estas crianças parecem não ter medo de nada o que as levarão a situações de riscos desmedidos ou excessivos para satisfazer esta “fome” do input vestibular. Em ambos os casos, nós temos que ajudar as crianças a tornarem-se mais seguras e mostrarmos que nós entendemos os seus sentimentos e necessidades ajudando-as encontrar maneiras seguras de proceder com as suas dificuldades. 2 - SISTEMA VISUAL O sistema visual proporciona: � Visão para o reconhecimento e localização de objetos. � Controle dos movimentos oculares. � Informações usadas no controle dos movimentos posturais e das extremidades. Processamento de informações visuais As informações visuais que chegam ao córtex visual primário estimulam os neurônios que discriminam a forma, o tamanho ou a textura dos objetos. As informações transmitidas às áreas adjacentes, chamadas córtex de associação visual, são analisadas quanto às cores e ao movimento. Do córtex de associação visual, a informação vai para outras áreas do córtex cerebral onde as informações visuais são usadas para ajustar movimentos ou para identificar visualmente objetos. A corrente de informações visuais que flui dorsalmente é chamada corrente de ação porque essas informações são usadas para direcionar movimentos, e a corrente de informações visuais que flui ventralmente é chamada de corrente de percepção porque essas informações são usadas para reconhecer objetos visuais. Sistema do movimento ocular Os movimentos oculares normais exigem síntese de informações sobre o seguinte: � Movimentos da cabeça (informações vestibulares) � Objetos visuais (visão). � Movimento e posição dos olhos (informações proprioceptivas). � Seleção de um alvo visual (áreas do tronco encefálico e cortical). O controle preciso da posição dos olhos é vital para a visão porque a melhor acuidade visual é possível somente numa pequena região da retina (a fóvea) e porque a percepção binocular de um objeto como único exige que a imagem seja recebida por pontos correspondentes em ambas às retinas. Esse controle requintado da posição dos olhos é obtido pelo fascículo longitudinal medial, reflexos e centros corticais. Tipos de Movimentos Oculares Os movimentos dos olhos têm dois objetivos: manter a posição dos olhos estável durante os movimentos da cabeça para que o ambiente não pareça saltar e direcionar o olhar para alvos visuais. Os movimentos dos olhos são conjugados ou de vergência. Nos movimentos conjugados, ambos os olhos se movimentam na mesma direção. Nos movimentos de vergência, os olhos se movem em direção à linha média ou para longe da linha média. Os movimentos Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 21 de vergência ocorrem quando se olha para um objeto perto dos olhos ou quando se muda o olhar de um objeto próximo para um distante. A estabilização do olhar (também chamada fixação visual) durante os movimentos da cabeça é obtida por: � Reflexo vestibulocular, a ação das informações vestibulares sobre a posição dos olhos durante movimentos rápidos da cabeça. � Reflexo optocinético, o uso de informações visuais para estabilizar imagens durante movimentos lentos da cabeça. Reflexos vestibuloculares Os reflexos vestibulares (RVOs) estabilizam as imagens visuais durante os movimentos da cabeça. Essa estabilização impede o mundo visual de parecer saltar em torno quando a cabeça se movimenta espacialmente durante a caminhada. Quando a cabeça roda para a direita, os sinais do canal semicircular horizontal direito aumentam e os sinais do canal semicircular horizontal esquerdo diminuem. Essa informação é retransmitida para os núcleos vestibulares de III e IV nervos cranianos, ativando os músculos retos que movimentam os olhos para a esquerda e inibem os músculosretos que movimentam os olhos para a direita. Os RVOs verticais podem ser desencadeados por flexão e extensão da cabeça. Todos os RVOs movimentam os olhos na direção oposta ao movimento da cabeça para manter a estabilidade do campo visual e a fixação visual nos objetos. Reflexo Optocinético O reflexo optocinético ajusta a posição dos olhos durante movimentos lentos da cabeça. Optocinético significa que o reflexo é desencadeado por estímulos visuais móveis. A cabeça de uma pessoa que está caminhando se move em relação aos objetos no ambiente. O sistema optocinético permite que os olhos sigam grandes objetos no campo visual. Direção do olhar Sácades, perseguições suaves e convergência são movimentos oculares que servem para direcionar o olhar para objetos selecionados. Sácades: movimentos oculares rápidos para mudar o olhar de um objeto para outro. Os movimentos oculares em alta velocidade trazem novos objetos à visão central, onde são vistos detalhes das imagens. Ex: se uma pessoa estiver lendo e alguém entrar na sala, um movimento ocular sacádico muda o olhar do leitor do texto para a pessoa. Perseguições suaves: movimentos oculares que seguem um objeto móvel. Ex: quando estamos olhando alguém atravessar a sala, movimentos de perseguição suave mantêm a direção do olhar de modo que a imagem é mantida na fóvea. Movimentos de vergência: a direção dos olhos para se ajustarem em diferentes distâncias entre os olhos e o alvo visual. Ex: na leitura, as pupilas são direcionadas para a linha média para permitir que a imagem caísse nas áreas correspondentes das retinas, ou ainda quando alinhamos os olhos num alvo próximo. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 22 Áreas do SNC que controlam os movimentos dos olhos: � Tronco encefálico: controla os movimentos oculares horizontais e verticais. � Área pontina, formação reticular pontina paramediana, controla as sácades horizontais voluntárias: � Núcleo abducente através de conexões com o núcleo ócumotor, controla as perseguições horizontais e as sácades reflexivas. � Formação reticular do mesencéfalo controla os movimentos oculares verticais. Os centros corticais que influenciam os movimentos oculares incluem os campos visuais frontal, occipital e temporal. Os campos visuais frontais dão o controle voluntário dos movimentos oculares quando se toma a decisão de olhar um objeto em particular. Os campos visual occipital e temporal contribuem para a capacidade de perseguir visualmente objetos em movimento (movimentos oculares de perseguição). O córtex pré-frontal dorsolateral inibe os movimentos oculares reflexos conforme apropriado. O córtex parietal posterior dá aferências corticais para os movimentos de perseguição suave. Nistagmo São movimentos involuntários para trás e para frente, como ocorre durante uma rotação ou depois dela. A direção do nistagmo é denominada de acordo com a direção dos movimentos oculares sacádicos. Desse modo, se os movimentos rápidos forem para direita, o nistagmo é chamado nistagmo de batimento para a direita. O nistagmo fisiológico é uma resposta normal que pode ser desencadeada num sistema nervoso intacto por estimulação rotacional ou de temperatura nos canais semicirculares ou por movimentos dos olhos até a posição horizontal extrema. O nistagmo patológico é um sinal de anormalidade do sistema nervoso. Teste da Função Vestibular O teste de rotação para a função vestibular pode ser realizado rodando o sujeito numa cadeira giratória com a cabeça inclinada cerca de trinta graus para frente, de modo a fazer com que os canais horizontais fiquem paralelos com o piso do ambiente. O movimento é interrompido abruptamente após dez a doze voltas. A inércia faz com que a endolinfa continue a fluir na mesma direção em que à cabeça estava girando, embora ela esteja agora estacionária. O nistagmo assim induzido dura ao redor de trinta segundos em indivíduos normais. Se a rotação for para a esquerda, a endolinfa flui para a esquerda e o componente lento do nistagmo é para a esquerda. Uma vez que o componente rápido é para direita, denomina-se neste caso “um nistagmo para a direita”. Neste teste podemos observar no nistagmo os seguintes aspectos: Duração: tempo do nistagmo Freqüência: número de batimentos por segundo. Amplitude: excursão do movimento (ampla, curta, média.) Velocidade: velocidade de movimentação do olho Obs.: a freqüência e a amplitude são os dados mais importantes desta prova Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 23 Tipos de nistagmo-pós-rotatórios Aversiva: causada pela disfunção do sistema vestibular ou por distúrbio na conexão deste sistema com outros. Em geral os indivíduos não aceitam manter a cabeça para baixo. Hiporesponsivo: problema ao nível do núcleo vestibular onde os três sistemas, vestibular, visual e somatosensorial, estão integralmente relacionados. Prolongado: suspeita que seja falta de inibição cortical, dos níveis superiores, acima dos núcleos vestibulares. Discrepantes: suspeita-se de dificuldades de conexão dos lados direito e esquerdo do sistema vestibular. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 24 II - SISTEMA SOMATO SENSORIAL TÁTIL E PROPRIOCEPÇÃO 1 - SISTEMA TÁTIL O sistema somatossensorial é geralmente subdividido em dois sistemas distintos. Um sistema é filogenéticamente mais antigo e não-específico por natureza. O outro sistema é filogeneticamente mais novo e específico em função. O sistema de qualidade dupla do sistema somatossensorial foi primeiro sugerido por Head. O sistema sensorial mais antigo foi chamado de protopático por mediar estímulos primitivos de respostas de proteção. O sistema sensorial mais novo foi descrito como epicrítico por mediar os aspectos discriminativos da sensibilidade somática. Atualmente esses sistemas são descritos mais em termos anatômicos como sistema espino-talâmico (protopático) e lemniscal (epicrítico). Uma compreensão fundamental da anatomia e fisiologia dos dois sistemas sensoriais é importante antes de empreenderem-se técnicas terapêuticas de intervenção. O sistema leminiscal consiste de vias que são claramente distinguíveis anatômica e neurofisiologicamente. Os sinais aferentes são projetados para duas regiões corticais do lobo parietal a partir da medula espinhal e do nervo trigêmeo. A partir do nível espinhal, que é o que mais nos interessam, os impulsos aferentes percorrem pelas colunas posteriores, ascendem pelo lemnisco medial até os núcleos ventro basais do tálamo para regiões específicas do córtex. As fibras do sistema lemniscal são largas e bem mielinizadas. Assim, os sinais são transmitidos rapidamente com um mínimo de três estações sinápticas. Uma característica notável desse sistema é sua organização somatotópica. Existe uma representação topográfica espacial ordenada da superfície da péle nos feixes de fibras das colunas dorsais e a organização sináptica do tálamo. Essa organização altamente desenvolvida das estações sensoriais permite que o sistema lemniscal diferencie os estímulos táteis específicos. Esse sistema transmite informações proprioceptivas e cinestésicas conscientes e inconscientes, tais como toque, pressão, localização, contorno, qualidade e detalhes espaciais de estímulos mecânicos. Os proprioceptores e as informações trazidas por eles são essencial para a consciência da posição dos membros e seus movimentos, o que é comumente referido como sentido cinestésico. Em geral os receptores que alimentam o sistema lemniscal são encapsulados, de adaptação lenta, com fibras do tipo I e II (alfa). Muitos desses receptores são encontrados nas articulações, músculos e superfícies lisas (sem pêlos) da pele, além de incluírem os fusos musculares, os órgãos tendinosos de Golgi e os corpúsculos de Paccini. A capacidade do sistema lemniscalem avaliar a qualidade da estimulação é chamada esterognosia: reconhecimento das formas dos objetos com estimulação da pele. A informação relativa a essas sensações é transmitida não apenas para o nível do córtex cerebral, mas também para certas localizações subcorticais, particularmente o cerebelo, onde a informação é usada para o controle motor e não para sensação. Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 25 O sistema espino-talâmico é menos definido anatomicamente que o sistema lemniscal. Impulsos diferentes são vinculados a esse sistema através dos tratos espino-talâmicos anterior e lateral ou tratos retículo-espinhais. Os impulsos ascendentes ou terminam ou enviam conexões colaterais para a formação reticular. Essas fibras continuam para cima e fazem sinapse com os núcleos talâmicos inespecíficos (medial) e então, divergem para fazer conexões com praticamente todas as regiões do córtex cerebral. Outros colaterais para esse sistema se projetam parareguladores do sistema nervoso autônomo, sistema límbico e os chamados núcleos extra-piramidais. Como o sistema espino-talâmico faz sinapse com a formação reticular e SNA, ele serve mais como um mecanismo de energização ou alerta para estímulos potencialmente dolorosos. Assim, esse sistema é envolvido na percepção da dor, toque leve, sensações sexuais prazerosas e estímulos adversos na produção de orientações primitivas e respostas protetivas. Essa subdivisão em sistemas espino-talâmico e lemniscal podem levar a pensar erroneamente que possam ser ativados separadamente. A maior parte dos estímulos sensoriais irá ativar os dois sistemas simultaneamente, por exemplo, o toque leve. O sistema lemniscal pode levar tanto estímulos exteroceptivos como proprioceptivos. Contudo, é possível “carregar” um sistema mais que o outro usando estímulos seletivos de forma rápida ou lenta. Poggio e Moutcastle sugerem que o sistema lemniscal pode ter uma influência inibidora sobre o sistema espino-talâmico. Ayres propôs que a “defensividade tátil” constitui a predominância do sistema espino-talâmico sobre o sistema lemniscal. Muitas das técnicas terapêuticas utilizadas na terapia de integração sensorial são elaboradas para ativar o sistema lemniscal e estabelecer um equilíbrio melhor entre os dois sistemas. Existem receptores sensoriais em todos os órgãos do corpo, embora a pele seja o “órgão somestésico” por excelência. Apesar da diversidade dos receptores e suas fibras, no SNC eles podem ser reunidos em dois subsistemas somestésicos diferentes, de acordo com a sua natureza funcional e a organização morfológica correspondente. Um desses subsistemas reúne a maioria das fibras que veiculam a submodalidade do tato e as fibras proprioceptivas: é o sistema epicrítico, que possui grande capacidade discriminativa e alta precisão sensorial (acuidade). O segundo é o sistema protopático, que reúne as fibras que veiculam a termossensibilidade e a dor, além de certas fibras táteis de sensibilidade mais grosseira: é um sistema pouco discriminativo e menos preciso. As informações sensoriais da pele são designadas como superficiais ou cutâneas. As informações sensoriais superficiais incluem o tato, a dor e a temperatura. A sensação do tato inclui a pressão e a vibração superficiais. As informações sensoriais do sistema músculo-esquelético, em contraste, incluem a propriocepção e a dor. A propriocepção fornece informações relativas à distensão dos músculos, tensão sobre tendões, posição das articulações e vibração profunda. A propriocepção inclui tanto a sensação posicional articular estática como a cinestésica, as informações sensoriais sobre o movimento. Todas as vias que transmitem informações somatossensoriais têm conformações anatômicas semelhantes. O diâmetro dos axônios, o grau de mielinização axônica e o número de sinapses na via determinam quão rapidamente as informações são processadas. Muitas informações somatossensoriais não são percebidas conscientemente, mas sim processado Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 26 ao nível espinhal em circuitos neurais locais ou pelo cerebelo para o ajuste de movimentos e posturas. Existe uma distinção entre informações sensoriais (impulsos nervosos gerados a partir dos estímulos originais) e sensações (reconhecimento de estímulos provenientes dos sentidos). A percepção, a interpretação de sensações em formas dotadas de significado, ocorre no cérebro. A percepção é um processo ativo de interação entre o encéfalo e o ambiente. Perceber envolve, além de interpretar sensações, um agir sobre o ambiente – mover os olhos, mover a cabeça ou tocar objetos. Sensações cutâneas As sensações da pele incluem: � Tato � Dor � Temperatura As informações táteis são categorizadas como tato fino e tato grosseiro. O tato fino inclui vários receptores e diversos subsensações. Os receptores superficiais para o tato fino têm campos receptivos pequeno, possibilitando a resolução de estímulos bem próximos. O tato grosseiro é mediado por terminações livres em toda a pele. Essas terminações nervosas livres suprem informações percebidas como tato ou pressão grosseiramente localizado e as sensações de cócegas. Nociceptores são terminações nervosas livres localizadas na pele, sensíveis a estímulos que lesam os tecidos ou os colocam em risco.Os nociceptores fornecem informações percebidas como dor. Os receptores térmicos, também são terminações nervosas livres, respondem ao calor ou frio dentro de limites de variação de temperatura que não lesam os tecidos. Embora os receptores cutâneos não sejam receptores proprioceptivos, as informações dos receptores cutâneos contribuem para a nossa percepção da posição e do movimento das articulações. A contribuição dos receptores cutâneos é basicamente cinestésica, respondendo à distensão da pele ou a uma pressão crescente sobre a pele. TEXTO: O SISTEMA TÁTIL (The tactile systems) O sistema tátil é nossa sensação de toque. É através do sistema tátil que nós recebemos a primeira informação sobre o mundo. Processando esta informação efetivamente sentimos uma sensação de segurança, nos permitindo criar vínculos com aqueles que nos amam e assim nos desenvolvermos socialmente e emocionalmente. O sistema tátil é composto por dois sistemas, o discriminativo e o protetivo. O sistema discriminativo nos permite determinar onde nós estamos sendo tocados e o que está nos tocando. A discriminação precisa requer o registro do input sensorial sem defensividade sensorial. O sistema protetivo nos indica quando estamos em contato com algo perigoso e que nos causa reações de fuga, susto, ou uma reação de defesa, na qual mente e corpo está envolvido. Estas respostas acontecem em uma hierarquia. Quando nós sentimos tensão frente a uma situação de perigo, nós tentamos escapar. Se a tensão continua, nós podemos começar demonstrar sinais de medo, respiração Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 27 alterada e aumento do ritmo cardíaco, excitação, palidez, ou perda de nossa habilidade para mover-se. As crianças podem lamentar, podem chorar, ou podem se tornar demasiadamente arredias. Finalmente, se nós estamos tensos, estressados, nós fugimos. O sistema discriminativo e protetivo é extremamente importante para a interpretação da informação, bem como para a sobrevivência. Para que o sistema tátil funcione eficazmente, o sistema discriminativo e o protetivo devem perceber a informação corretamente e trabalhar em equilíbrio. É provável que crianças com disfunção do sistema tátil, tenham dificuldade para aprender habilidades motoras finas porque é através do sistema discriminativo que o cérebro recebe o feedback necessário para o desenvolvimento do sentir, vestir, escrever, e outras habilidades motoras. Além disso, as crianças com esta disfunção podem ter problemas de articulação
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