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Apostila Curso de Integração Sensorial (1)

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Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
1 
CURSO: INTEGRAÇÃO SENSORIAL NOS 
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM E DISTÚRBIOS 
NEUROLÓGICOS DA INFÂNCIA 
 
POR: LÍGIA MARIA DE GODOY CARVALHO 
 
HISTÓRICO 
 
 A história da educação de crianças com distúrbios de aprendizagem teve 
seu impacto sobre os termos usados para rotular tal condição. Distúrbios de 
aprendizagem e lesões cerebrais foram primeiramente identificados como 
concomitantes. Quando se observava crianças que não tinham lesões 
cerebrais, mas apresentavam alguns sintomas que caracterizavam tais lesões, 
era inferido que elas também possuíam lesões ou disfunções cerebrais, de 
pequeno porte. O termo lesão ou disfunção cerebral mínima foi criado e 
utilizado de forma imprecisa para classificar uma variedade de crianças que 
possuíam problemas de aprendizagem de qualquer extensão, fossem 
hiperativas, tivessem problemas de percepção, falta de atenção ou que fossem 
desajeitadas. Geralmente, crianças assim rotuladas possuíam escores de 
inteligência dentro dos limites normais. 
 Lesão cerebral mínima e disfunção cerebral mínima eram termos 
utilizados popularmente nos anos 50 nos EUA. O primeiro indica que essas 
crianças têm uma lesão, que está localizada em uma área cerebral e, portanto 
existe uma patologia no cérebro. A segunda tenta amenizar a gravidade, 
apresentando um termo mais suave, mas pouco determinante. Este termo não 
implica que o cérebro da criança esteja literalmente lesado, apenas sugere que 
alguma área do cérebro não esteja funcionando adequadamente. 
 Em 1963, Dr. Samuel Kirk, sugere a utilização do termo distúrbio de 
aprendizagem, por não concordar com a aplicação do termo disfunção cerebral 
mínima, que por sua vez não definia um problema dentro do campo 
educacional. Por distúrbio de aprendizagem ele descreve a criança com 
distúrbios da fala, da leitura e habilidades de comunicação associadas, que não 
fossem cegas, surdas ou mentalmente retardadas. 
 A partir de uma lei federal implantada nos EUA, que utilizou as idéias de 
Kirk ficaram assim definidos os distúrbios específicos de aprendizagem: 
 “Uma desordem em um ou mais processos psicológicos básicos 
envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que 
pode se manifestar em uma habilidade imperfeita para ouvir, pensar, ler, 
escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições tais 
como dificuldades perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, 
dislexia e afasia do desenvolvimento. O termo não inclui crianças que tenham 
problemas de aprendizagem primordialmente resultantes de deficiência visual, 
auditiva ou motora, de retardo mental, ou de desvantagens ambientais, 
culturais e econômicas.” 
 Contudo, esta definição tenha sido aceita a nível federal, encontrou 
controvérsias no campo da educação especial. Gearheart criticou esta 
definição por considerar que ela não enfatiza suficientemente a natureza 
neuropsicológica dos distúrbios. Contudo alguns especialistas no campo dos 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
2 
distúrbios de aprendizagem, afirma acreditarem que os distúrbios de 
aprendizagem são clinicamente identificáveis, tanto por meio de um sintoma 
particular, quanto por um grupo de sintomas. 
 Chalfant e King apontaram cinco características necessárias para o 
diagnóstico de distúrbios de aprendizagem: (1) problemas na aprendizagem 
escolar; (2) desempenho diferenciado nas várias tarefas escolares; (3) 
correlatos psicológicos, (4) processos psicológicos danificados, e (5) exclusão 
de outras categorias. 
 Gearheart também propõe oito outras características que tentam melhor 
classificar tais crianças. Ele sugere que não são todos os sintomas que devem 
estar presentes em uma mesma criança. São eles: 
 
Hiperatividade: Inquietação; a qualidade de ser incapaz de se sentar 
quieto. Movimentos excessivos podem interferir na habilidade de atentar 
seletivamente para um estímulo. A criança está permanentemente em 
movimento. 
Hipoatividade: sinais opostas aos da hiperatividade, com certa apatia e 
falta de vontade. Gearheart afirma que esta característica não é tão comum 
quanto à hiperatividade. 
Desatenção: A incapacidade de focalizar a atenção em qualquer tarefa 
por um determinado tempo. 
Superatenção: A inabilidade de interromper o foco após ter-se 
concentrado em uma atividade por um determinado tempo. A criança ao invés 
de dirigir a atenção ao elemento significativo de um quadro, focaliza o plano de 
fundo. 
Gearheart relaciona a superatenção à falta de habilidade para figura-
fundo. 
Falta de coordenação: Inabilidade de mover os músculos de maneira 
uniforme. Salienta que apesar de algumas crianças com distúrbios de 
aprendizagem não terem problemas evidentes de coordenação, algumas 
podem apresentar. Demonstram coordenação pobre, que podem ser 
determinadas por falhas durante o desenvolvimento. A criança, por exemplo, 
pode ter dificuldade em atirar uma bola, saltar ou correr, e ainda ser 
desajeitada e tropeçar freqüentemente. 
Desordens perceptivas: Os problemas mais comumente encontrados 
são os de percepção visual, auditiva, tátil, proprioceptiva e vestibular. Os 
problemas de percepção olfativa e gustativa são os menos provavelmente 
associados com distúrbios de aprendizagem. Ele salienta que problemas de 
visão espacial podem interferir na cópia precisa das letras. Sugere ainda que 
essas crianças possam ter dificuldades para distinguir a campainha do telefone 
e a da porta. 
Perseveração: Essas crianças podem repetir ações persistentemente 
em vários domínios do comportamento. Há perseveração em respostas 
verbais, mas pode-se encontrar especialmente na escrita e na cópia. 
Desordens da memória: Os problemas podem ser tanto de memória 
visual quanto auditiva, ou ambas. A criança pode ser incapaz de lembrar uma 
seqüência de objetos que acabou de ver ou repetir alguma letra que acabou de 
ouvir. Elas podem esquecer as palavras do começo da sentença antes de 
terem lido até o final. 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
3 
A TERAPIA OCUPACIONAL E O TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE 
APRENDIZAGEM 
 
O uso da estimulação sensorial para evocar respostas de coordenação 
motora 
 A terapia neuroevolucional começou nos anos 50 e 60, quando poucos 
terapeutas começaram a modificar sua abordagem de tratamento em pacientes 
com dano no sistema nervoso central. Esses terapeutas basearam seu 
tratamento em idéias geradas dos dados disponíveis dos neurofisiologistas da 
época. Esses dados sugeriam que a saída motora era controlada pela entrada 
sensorial (periférica). 
 Tradicionalmente os terapeutas ocupacionais até então, trabalhavam em 
hospitais com pacientes com problemas neuromusculares decorrentes de lesão 
cerebral. Neste período tinha-se como princípio que os padrões de movimentos 
incoordenados, tônus muscular anormal, e a presença de reflexos anormais 
interferiam no desempenho de atividades funcionais e propositadas. Entre os 
anos 60 e 70, os terapeutas ocupacionais que buscavam a normalização do 
desempenho motor percebem que este era um pré-requisito para o alcance de 
habilidades de cuidados pessoais e outras. 
 Nesse período, várias abordagens de tratamento foram descritas na 
literatura, nas quais princípios neuropsicológicos, que enfatizavam a 
estimulação sensorial, para promover uma melhor execução de padrões 
motores. Essas abordagens foram chamadas sensório-motoras, porque todas 
elas enfatizavam a relação entre a sensação e a resposta motora. 
 As abordagens sensório-motoras muniram os terapeutas ocupacionais 
com numerosas técnicas baseadas em princípios fisiológicos para o 
aprimoramento de respostas neuro musculares dos pacientes. A noção de que 
os estímulos sensoriais poderiam aprimorar as respostas motoras se tornaria 
um importante princípio da teoria da integração sensorial. 
 Posteriormente os princípios dessas abordagensforam incorporados à 
integração sensorial por Ayres que teve representatividade nas publicações 
sobre a abordagem sensória motora. 
 
O arcabouço de referência do procedimento ocupacional e a criança com 
distúrbio de aprendizagem. 
 
 O arcabouço de referência do procedimento ocupacional oferece uma 
perspectiva global que vem expandir o foco da terapia ocupacional de uma 
dimensão neurológica, para uma visão sócio-cultural e ambiental mais ampla o 
que nos permite também acrescentar aos princípios da integração sensorial 
esta referência. 
 A abordagem de comportamento ocupacional tem importância especial 
para a criança com distúrbio de aprendizagem. Takata, na sua introdução a 
uma série de artigos sobre o procedimento ocupacional em pediatria, afirma 
que o movimento da prática da terapia ocupacional pediátrica dos hospitais 
para as escolas exige uma expansão da abordagem da terapia ocupacional. Na 
abordagem de comportamento ocupacional, como Takata descreveu, o foco 
está em como o indivíduo ocupa papéis na vida particular, na família, na escola 
e na comunidade. Quando a criança apresenta distúrbios em sua 
aprendizagem leva-se em consideração, como a criança está desempenhando 
o seu papel de estudante. 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
4 
 Assim o terapeuta ocupacional que trata da criança com distúrbios de 
aprendizagem deve buscar respostas para as seguintes questões: 
 
� Como a criança brinca? O brincar é encorajado ou desencorajado por 
seus pais ou pelo ambiente domiciliar? O brincar da criança oferece 
suporte à construção de habilidades que são necessárias para o sucesso 
no papel de estudante? 
� Como a criança se comporta no processo de escolha ocupacional? Ela 
está no estágio da fantasia, da tentativa ou do realismo? Seu distúrbio de 
aprendizagem tornará suas escolhas ocupacionais irrealizáveis? 
� Como o ambiente familiar da criança encoraja ou desencoraja o 
sucesso no papel de estudante? Ele contém elementos que sugerem uma 
valorização das habilidades relacionadas com a escola? Ele contribui para 
uma abordagem organizada para o estudo e domínio das exigências 
escolares? Quais são as atitudes da família direcionadas às habilidades 
que dão suporte ao empreendimento acadêmico e ajustamento social na 
escola? O ambiente familiar é tal que poderia gerar na criança o desejo de 
sair-se bem na escola? 
� Que tipo de hábitos a criança desenvolveu? Ela organiza efetivamente 
sua conduta dentro das rotinas que são compatíveis com as exigências 
das tarefas tanto do ambiente escolar quanto do familiar? Em que nível as 
outras pessoas organizam suas atividades? 
� Quais são as demandas não ditas do ambiente escolar e familiar? 
Espera-se que a criança desempenhe além de seus limites normais de 
habilidades? Quais são as exigências para o papel da criança como um 
estudante? 
 
 Estas questões foram elaboradas a partir da perspectiva do 
comportamento ocupacional que foi criada por Reilly e que desde então tem 
sido ampliada pelos escritos de vários outros terapeutas. Sucintamente, o que 
é central para a perspectiva do comportamento ocupacional é a idéia de que as 
habilidades são consolidadas pela criança como hábitos e papéis 
internalizados. 
 Hábito é definido como rotinas automáticas das quais consiste a vida 
diária. Os hábitos sofrem transformações com o amadurecimento da criança. 
Por exemplo, quando a criança entrar na escola ,ela aplicará hábitos 
aprendidos em casa ao novo ambiente. Os papéis internalizados foram 
definidos por Kiellhofner e Burk como um senso pessoal do conjunto de 
comportamentos necessários para se ocupar uma posição num grupo social. O 
papel do estudante abrange comportamentos que dão suporte tanto ao 
desempenho acadêmico quanto ao ajustamento social em sala de aula. 
 “Outra definição que julgamos importantes é a dos papéis ocupacionais 
que também é definida por Kiellhofner e Burk como” os papéis produtivos que 
determinam o volume da rotina diária e assim organizam a maior parte dos 
comportamentos dentro do sistema. 
 Dentro de uma proposta de intervenção com a criança com distúrbio de 
aprendizagem o arcabouço de referência do comportamento ocupacional 
sustenta que as habilidades sejam aprendidas e controladas dentro do contexto 
lúdico. 
 Se uma criança apresenta dificuldade específica para a escrita, por 
exemplo, o terapeuta ocupacional deve oferecer ou proporcionar um ambiente 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
5 
que explore as experiências lúdicas para melhorar a coordenação caso seja 
essa a dificuldade na escrita. Nesse cenário a criança fica livre para explorar as 
possibilidades da escrita e do seu próprio corpo, na medida em que as 
necessidades vão sendo identificadas. O terapeuta pode orientar os pais da 
criança sobre como criar e encorajar experiências em casa para dar condições 
de competência para a escrita. 
 Outra situação em que o terapeuta pode interferir e intervir é quando a 
criança não desenvolveu interesse suficiente para eventualmente fazer uma 
boa escolha ocupacional, e está em uma idade na qual isto é esperado. O 
terapeuta deve usar a situação terapêutica para exploração de interesses, 
envolvendo a criança em atividades nas quais ela nunca participou antes e 
encorajá-la a apreciar o quanto à experiência pode ser prazeroso. 
 Uma outra meta desta terapia deve ser no sentido de orientar e fazer 
recomendações aos pais em relação ao ambiente familiar de como este pode 
ser alterado para dar suporte ao desempenho escolar da criança. Sugerimos 
que a criança participe das possíveis mudanças, e que entenda porque são 
necessárias. Essas modificações podem ser tanto a nível de organização de 
mobiliários, bem como, na elaboração de um rotina adequada à demanda das 
atividades. A falta de organização, o terapeuta pode trabalhar com a criança na 
organização e sequenciação de simples tarefas diárias. 
 Numa situação de clínica, a criança pode ser apresentada a desafios 
ambientais correspondentes ao seu nível de habilidades de forma que possa 
experimentar o sentido do sucesso. Seria usado meios como arte, jogos 
brincadeiras, escolhidos de acordo com a prontidão da criança. Enquanto 
participa dessas atividades, o terapeuta deve avaliar se está havendo melhora 
na habilidade da criança em atentar seletivamente para estímulos relevantes, 
aprimoramento nos seus hábitos de trabalho, na organização de condutas, 
arriscando-se nas tomadas de decisão. 
 
O surgimento e a utilização dos procedimentos da integração sensorial 
 
 Os procedimentos da integração sensorial são largamente usados na 
prática da terapia ocupacional com crianças com distúrbios de aprendizagem. 
As diretrizes para o uso desses procedimentos derivam dos princípios da teoria 
da integração sensorial descrita e desenvolvida por Jean Ayres. 
 No fim dos anos 50 e início dos 60, baseada em uma revisão da 
literatura sobre desenvolvimento, neurobiologia, psicologia, educação e 
experiência clínica, Ayres formulou hipóteses nas quais as funções 
psiconeurológicas podem estar implicadas em distúrbios de aprendizagem. 
Construiu então os precursores dos 18 testes que hoje são chamados Testes 
de Integração Sensorial do Sul da Califórnia, que tinham como objetivo detectar 
ou diagnosticar crianças que eram rotuladas como portadoras de problemas de 
aprendizagem. 
 Após vários anos de estudos e testagem, os resultados foram 
sintetizados e foi adotada uma tipologia para diagnosticar os tipos de 
disfunções de integração sensorial. Esses resultados foram obtidos através da 
aplicação dos Testes de Integração Sensorial do Sul da Califórnia e Teste de 
Nistagmo Pós-rotatório, resultados de observações clínicas de respostas 
neuromusculares; e quando possível, de testes áudio-linguísticos. 
 Essa teoria vem sendo desenvolvida no curso de mais de 20 anos. A 
teoria trata da forma como os humanos desenvolvem a capacidade de 
Curso de IntegraçãoSensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
6 
organizar sensações para o propósito de executar atividades auto dirigidas e 
significativas. Sua base está nos estudos neuro-comportamentais, no estudo 
do desenvolvimento da criança e na pesquisa com crianças com distúrbios de 
aprendizagem, bem como, com outras deficiências. 
 Embora Ayres tenha incorporado alguns princípios da abordagem 
sensório-motora, que enfatiza a relação entre a sensação e a resposta motora 
na teoria da integração sensorial, esta se distanciou desta abordagem inicial 
tornando-se uma entidade distinta. Isto ocorreu em função do enfoque da 
integração sensorial ter a preocupação da ocupação, de atividades auto 
direcionadas, de funções simbólicas e a capacidade do indivíduo de organizar 
suas próprias condutas que a torna única e separada das abordagens sensório 
motoras. 
 A teoria da integração sensorial se baseia na premissa de que as 
funções superiores corticais superiores dependem de uma organização neural 
adequada nos níveis cerebrais subcorticais. Ayres sugere que a criança com 
déficits motores e problemas de integração sensorial de fundo pode ser tratada 
influenciando a integração neurofisiológica através do controle do 
comportamento sensóriomotor. 
 Nesta teoria é enfatizado que os déficits motores vistos na criança com 
distúrbio de aprendizagem e disfunções de integração sensorial são resultado 
de problemas no processamento de impulsos sensoriais. Assim, a terapia de 
integração sensorial é diferente da terapia do neurodesenvolvimento no fato de 
os distúrbios tratados por profissionais que usam terapia do 
neurodesenvolvimento serem primariamente motores, enquanto que os tipos 
de problemas abordados usando procedimentos de integração sensorial são 
primariamente distúrbios no processamento sensorial. Os tipos de disfunção 
sensorial estão freqüentemente associados com déficits no processamento tátil 
e ou vestibular. 
 Uma explanação de como a criança desenvolve a capacidade de 
organizar seu próprio comportamento é central para a teoria. Ayres apontou 
que o recém nascido escuta, vê e percebe as sensações de seu corpo; contudo 
é incapaz de avaliar distâncias e encontrar significado para os sons que ouve. 
Quando a habilidade de organizar sensações e comportamentos se 
desenvolve, a criança pode se tornar mais hábil para dirigir a atenção para 
estímulos relevantes, permanecer organizada por períodos de tempo mais 
longos, e executar uma rotina de atividades diárias de forma a dar suporte ao 
papel ocupacional. Esse processo de organizar a informação sensorial no 
cérebro para promover respostas adaptativas é o que Ayres chamou 
integração sensorial. 
 
DEFINIÇÃO: Ayres define a IS como sendo a organização de informações 
sensoriais, provenientes de diferentes canais sensoriais e a habilidade de 
relacionar estímulos de um canal a outro, de forma a emitir uma resposta 
adaptativa. 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
7 
Para a aplicação prática da integração sensorial nos apoiamos em seis 
princípios básicos que são: 
 
1. Os estímulos sensoriais controlados podem ser usados para eliciar 
uma resposta adaptativa 
 Ayres define uma resposta adaptativa como “uma ação apropriada 
na qual o indivíduo responde com sucesso a alguma demanda ambiental" 
Um exemplo de uma resposta adaptativa em uma criança é observado quando 
ela suga competentemente. Balançar em um cavalinho de pau constitui uma 
resposta adaptativa para a criança que está aprendendo a andar (na qual ela 
deve coordenar flexão e extensão do tronco). Para a criança mais velha andar 
sobre patins pode ser uma resposta adaptativa. Respostas adaptativas exigem 
que a criança experimente um tipo e uma quantidade de estimulação sensorial 
que desafia, mas não sobrecarrega o sistema nervoso central, a manifestação 
de uma resposta adaptativa é potencializada. 
 
2. Uma resposta adaptativa contribui para o desenvolvimento da 
integração sensorial 
 Cada vez que a criança é capaz de superar com sucesso um desafio do 
ambiente, a capacidade de organizar o estímulo sensorial para responder à 
demanda ambiental se aprimora. Ayres acredita que a atividade motora seja 
um potente organizador de estímulos sensoriais. Quando respostas adaptativas 
são emitidas, o sistema nervoso usa o conhecimento dos resultados de ações 
anteriores para guiar a orientação de informações sensoriais para utilização 
futura. 
 
3. Quanto mais auto dirigida às atividades da criança, maior é o potencial 
das atividades para aprimorar a organização neural. 
 Este princípio afirma que as crianças possuem uma força motivacional 
inata no sentido da integração sensorial, chamada por Ayres de “motivação 
interna”. A criança é naturalmente atraída para atividades que exigem e trazem 
organização cerebral dos estímulos sensoriais. Por exemplo, pode-se supor 
que uma criança de 18 meses cujo sistema nervoso deve estar sobrecarregado 
por estímulos vestibulares causados pelo balanço poderiam se afastar dessa 
atividade. Por outro lado, possivelmente devido à crescente capacidade de 
organizar sensações desse tipo, crianças de 3 a 4 anos buscarão essas 
atividades que envolvem o balançar. Terapias que utilizam essa motivação 
interna exploram a inerente capacidade da criança de buscar atividades que 
proporcionem organização cerebral. 
 
4. Padrões mais amadurecidos e complexos de comportamento são 
compostos pela consolidação de comportamentos mais primitivos 
 Ayres acredita que as crianças fundem funções aprendidas previamente 
para a criação de respostas adaptativas mais maduras. A emissão de 
respostas adaptativas cada vez mais maduras é um produto da prática de cada 
elemento sensorial e motor. Subjacentes às modificações na complexidade do 
comportamento, estão os avanços paralelos da organização neural. À medida 
que o processamento do tronco encefálico de estímulos sensoriais se torna 
mais eficiente, funções corticais mais elevadas são liberadas para se 
desenvolver mais completamente. 
 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
8 
5. A melhor organização de respostas adaptativas intensificará a 
organização do comportamento geral da criança 
 Enquanto algumas respostas adaptativas são simples atos isolados, 
outras requerem mais seqüenciamento e coordenação temporal das atividades 
motoras. A criança deve calcular como coordenar e temporizar um conjunto de 
respostas motoras para atingir um objetivo. Em essência, a criança deve 
programar sua ação. Ayres deduz que o engajamento nesse processo pode 
intensificar a capacidade de planejamento geral da criança. Por exemplo, um 
aprimoramento dessa capacidade pode tornar alguém mais apto na 
organização da rotina diária usual de atividades ou das etapas exigidas para a 
realização de uma tarefa escolar. 
 
6. É necessário o registro dos estímulos sensoriais significativos antes da 
resposta poder ser dada 
 Durante um dia, os indivíduos percebem alguns, mas não todos os 
estímulos do ambiente. Os estímulos que são percebidos influenciam as 
respostas motoras que são dadas. Se a criança está desatenta à maioria dos 
estímulos do ambiente, seu repertório de respostas adaptativas será limitado, e 
seu potencial para o desenvolvimento de comportamentos mais complexos 
será também frustrado. Por outro lado, algumas crianças parecem registrar 
estímulos sensoriais excessivos. Essas crianças podem estar bombardeadas 
por estímulos de tal grau, que tenham dificuldade de extrair o significado das 
sensações ou focalizar em alguma tarefa dirigida a um objetivo. 
 Em seu livro de 1972, hoje clássico, Ayres relacionou várias atividades 
que ela hipotetizou que intensificariam a eficiência da integração neural em 
nível de tronco encefálico. Os procedimentos incorporavam uma provisão de 
estímulos táteis, proprioceptivos e especialmente vestibulares. Faremos a 
seguir uma breve revisão destes sistemas. 
 
Curso de Integração Sensorial– Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
9 
I - SISTEMA VESTIBULAR E VISUAL 
 
Os sistemas vestibular e visual têm receptores especializados e axônios 
dos nervos cranianos na periferia, núcleos específicos no tronco encefálico e 
áreas do córtex cerebral dedicadas à sua função. A função do sistema visual 
depende, em parte, do sistema vestibular porque as informações vestibulares 
contribuem para os movimentos oculares compensatórios que mantêm a 
estabilidade do mundo visual quando a cabeça se movimenta. 
 
1 - SISTEMA VESTIBULAR 
 
O aparelho vestibular é um órgão proprioceptivo. Funcionalmente, ele 
está envolvido na manutenção do equilíbrio da cabeça e corpo. Como o 
sistema vestibular está intimamente conectado com os sistemas auditivo, 
visual, proprioceptivo e motor, ele trabalha em cooperação com um número de 
outros sistemas para modular funções importantes. Pesquisas sugerem que o 
sistema vestibular conecta-se com uma variedade de impulsos sensoriais e faz 
ajustes em sua sensibilidade à posição no espaço e movimento. O sistema 
vestibular tem sido envolvido na influência do tono muscular, manutenção da 
mira visual, direcionalidade espacial, orientação da cabeça e corpo, influência 
no aprendizado e desenvolvimento emocional. 
 O aparelho vestibular é uma estrutura membranosa localizada na 
região temporal do crânio, no ouvido interno. É subdividido em cóclea (que 
está primariamente envolvida na audição), vestíbulo e três canais 
semicirculares. Uma característica em comum entre o sistema auditivo e 
vestibular é que eles compartilham da mesma raiz de nervo craniano. Contudo, 
as conexões com os núcleos do tronco cerebral e outras estruturas 
neurológicas são explicitamente diferentes. 
 O vestíbulo (utrículo e sáculo) está localizado entre os canais 
semicirculares e a cóclea. É freqüentemente chamado de labiríntico estático, 
pois desencadeia reflexos tônicos nos músculos posturais em resposta a 
alterações nas posições da cabeça e do corpo e influências gravitacionais. 
 O vestíbulo contém duas câmaras comunicantes: o sáculo e o utrículo. 
As células ciliadas no sáculo e no utrículo são semelhantes: cada câmara 
contém um local espessado de células sensoriais chamadas mácula. As 
células ciliadas são arranjadas em uma posição fixa de modo que os tufos 
pilosos se projetam para cima através de uma massa gelatinosa chamada 
membrana otolítica. Embebidos nessa substância gelatinosa estão pequenos 
cristais de carbonato de cálcio chamados otólitos. Esse arranjo anatômico 
permite que as células ciliadas sejam altamente responsivas a alterações na 
posição da cabeça. Quando a cabeça se move para um lado, a força de 
gravidade desloca a membrana otolítica, os que fazem com que os cílios das 
células ciliadas se dobrem. Esse dobramento ou ação de atrito faz com que as 
células ciliadas disparem e transmitam impulsos aferentes para o SNC. 
 Deve ser enfatizado que as células ciliadas são receptores tônicos, e, 
portanto mesmo na posição neutra, ficam disparando constantemente. 
 O utrículo responde a forças gravitacionais e à aceleração linear, 
principalmente no plano horizontal. A maioria dos cílios no utrículo é arranjada 
verticalmente quando a cabeça está na posição ereta. Assim, a aceleração e 
desaceleração linear no plano horizontal são estímulos adequados para os 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
10 
cílios do utrículo. Imagine uma criança em decúbito ventral escorregando em 
uma descida (rampa) sobre um carrinho de rolimã (skate). Quando a criança 
atinge o plano horizontal, a cabeça fica ereta, fazendo com que os cílios façam 
uma deflexão e disparem. A rápida desaceleração, provocada pelo final da 
descida, faz com que as células ciliadas se dobrem para frente, fazendo 
deflexão novamente. 
 O sáculo responde a estímulos vibratórios e à aceleração linear no 
plano dorso ventral (vertical). O sáculo fica entre o utrículo e o duto coclear. A 
maioria dos cílios (células ciliadas) no sáculo é arranjada de modo a ficar de 
lado quando a cabeça estiver na posição ereta. Assim, se a cabeça se move 
em um plano vertical em aceleração e desaceleração linear, os cílios disparam. 
Qualquer movimento de subida ou descida, como pular sobre um trampolim, é 
um estímulo adequado para os cílios no sáculo. 
 Na maioria dos casos, os cílios, tanto do sáculo como do utrículo, são 
sensíveis a uma variedade de estímulos. Por exemplo, movimentos para frente 
e para trás irão ativar cílios nas duas câmaras. Em resumo os estímulos 
adequados para os cílios do utrículo e sáculo (vestíbulo) são a posições 
estáticas da cabeça no espaço e a aceleração e desaceleração linear nos 
planos horizontais e verticais. As maiores mudanças de tono ocorrem nos 
grupos extensores dos músculos posturais. Além disso, o vestíbulo (sáculo e 
utrículo) contribui para a manutenção das reações de endireitamento e 
respostas de equilíbrio. 
 Os canais semicirculares são chamados de labirinto cinético, pois 
respondem a movimentos da cabeça. Os canais semicirculares também 
exercem influências sobre os membros e os músculos extra-oculares dos 
olhos, assim como assistem nas respostas de equilíbrio e orientação no 
espaço. Os canais semicirculares são arranjados aproximadamente em 
ângulos retos um com o outro, um para cada eixo de rotação.Os canais anterior 
e posterior são sensíveis ao movimento no plano sagital. O canal horizontal 
reage à rotação ao redor do eixo central do corpo. 
 Os receptores nos canais semicirculares respondem a movimentos de 
rotação (aceleração e desaceleração angulares), o que provoca um movimento 
dos fluídos (endolinfa) e a deflexão dos cílios do epitélio sensorial. 
 Os três canais semicirculares membranosos são contínuos com o 
vestíbulo. Os canais são alargados na juntura onde os canais terminam dentro 
do vestíbulo. Esse alargamento é chamado ampola; ele contém receptores 
similares aos do vestíbulo. Esses receptores consistem de elevações de cílios 
chamados crista ampular. As cristas são compostas de cílios inseridos 
firmemente na base das ampolas. Os tufos de cílios se projetam dentro de uma 
substância gelatinosa em forma de cúpula chamada cúpula. A cúpula difere da 
membrana otolítica por não conter otólitos; ao contrário, fica no topo dos cílios 
como um chapéu e é estimulada pelo movimento da endolinfa no canal. Assim, 
qualquer aceleração ou desaceleração angular (rotatória) da cabeça faz com 
que a endolinfa circule através dos canais, que por sua vez deslocam a cúpula 
e faz os cílios dispararem. 
 Deve ser lembrado que a aceleração inicial é a força que faz com que a 
cúpula sofra deflexão e dispare em uma freqüência maior. Também os canais 
semicirculares são mais responsivos a movimentos rotacionais curtos e não à 
rotação prolongada. Uma boa fórmula para a estimulação dos canais 
semicirculares é girar o indivíduo aproximadamente 10 vezes em 20 segundos, 
parar abruptamente, esperar 20 segundos, e girar novamente na mesma 
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11 
velocidade em direção oposta. É também benéfico considerar a posição da 
cabeça ao girar. Por exemplo, se a pessoa está em decúbito lateral sobre um 
dispositivo largo para girar, a endolinfa nos canais anterior e posterior irá 
circular, provocando uma resposta mais potente. 
 Resumindo, os canais semicirculares detectam movimentos da cabeça 
em todos os planos e são envolvidos na manutenção da postura ereta. As vias 
dos canais semicirculares são extremamente importantes para a mira visual, 
movimentos oculares e alinhamento da cabeça e corpo. As conexões dos 
canais semicirculares e os otólitos trabalham em cooperação com os 
receptores articulares do pescoço para fazer a reação de endireitamento da 
cabeça e do pescoço. 
 O sistema vestibular é extremamente importante no controle reflexo dos 
movimentos conjugados dos olhos em resposta à movimentação da cabeça e à 
posição da cabeça no espaço.Os reflexos vestibulares, em cooperação com 
alguns reflexos do sistema óptico, possibilitam aos olhos permanecerem 
fixados em objetos estacionários enquanto a cabeça e o corpo estão em 
movimento. Virando a cabeça levemente para a direita, o indivíduo produz em 
pequeno fluxo de endolinfa nos canais semicirculares horizontais. O fluxo é 
dirigido para a esquerda devido à inércia do fluido que se opõe ao movimento 
da cabeça. O fluxo da endolinfa causa a ativação dos receptores da ampola 
dos canais semicirculares horizontais que atingem os núcleos vestibulares. 
 
Funcionamento: os receptores vestibulares, estimulados tanto pela gravidade 
como por movimentos rotatórios, dão origem a impulsos que, além de contribuir 
para a postura normal do corpo, chegam ao córtex cerebral e informa sobre a 
posição e movimento da cabeça. Os axônios das células bipolares de gânglio 
vestibular passam através do canal auditivo interno e atingem a parte superior 
do bulbo. A maioria das fibras do nervo vestibular sofre uma bifurcação, 
formando ramos ascendentes e descendentes e terminam nos núcleos 
vestibulares que estão localizados na parte lateral do assoalho do IV ventrículo: 
o núcleo vestibular medial, núcleo vestibular lateral, núcleo vestibular superior e 
o núcleo vestibular inferior. 
 
Vias Vestibulares: o sistema vestibular faz conexões neuroanatômicas com 
muitos outros sistemas, através das vias eferentes dos núcleos vestibulares, 
que forma ou entram na composição dos seguintes tratos e fascículos; 
 
� Fascículo vestíbulo cerebelar: formado por fibras que terminam no córtex 
do arquicerebelo (lobo floculonodular). Através destas fibras o arquicerebelo 
recebe impulsos sobre a posição da cabeça, estes impulsos são integrados 
no cerebelo e a resposta cerebelar se projeta sobre os neurônios motores 
no sentido da manutenção do equilíbrio. 
� Fascículo longitudinal medial: nos núcleos vestibulares originam-se a 
maioria das fibras que entram na composição do fascículo longitudinal 
medial. Este fascículo está envolvido em reflexos que permitem ao olho 
ajustar-se aos movimentos da cabeça. 
� Trato vestíbulo-espinhal: pertence ao sistema extrapiramidal e suas fibras 
levam impulsos aos neurônios motores da medula. 
� Fibras vestíbulo-talâmico: admite-se a existência de fibras vestíbulo 
talâmicas que levam impulsos ao tálamo, de onde vão ao córtex. 
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12 
� Fibras comissurais: fibras que dos núcleos vestibulares dirigem-se 
transversalmente para dentro, intercruzam-se na linha média com as do 
lado oposto e chegam à formação reticular. 
� Via vestíbulo-reticular: por meio destas conexões os núcleos vestibulares 
podem cooperar com a formação reticular e, por exemplo, influenciar a 
atividade da medula espinhal e determinadas partes do tálamo. As 
conexões vestíbulo-reticulares estão envolvidas presumivelmente com o 
vômito e reações cardiovasculares que acompanham irritação vestibular. 
 
Síntese 
 
LOCALIZAÇÃO: região temporal do crânio, no ouvido interno, próximo ao 
órgão auditivo. Consiste em labirintos ósseo e membranoso e nas células 
pilosas. 
� Labirinto ósseo é um espaço enrolado em espiral dentro do crânio que 
consiste em ter canais semicirculares e dois órgãos otolíticos. 
� Labirinto membranoso fica dentro do labirinto ósseo sendo oco e cheio 
de um líquido chamado endolinfa. A perilinfa banha o espaço entre o 
labirinto membranoso e ósseo. 
� Células pilosas são receptores que ficam dentro do labirinto 
membranoso. 
 
VIAS VESTIBULARES: Receptores sensitivos respondem à posição da cabeça 
relativamente à gravidade e aos movimentos da cabeça. A informação é 
convertida em sinais neurais transmitidos pelo nervo vestibular para os núcleos 
vestibulares. 
 
NÚCLEOS VESTIBULARES: estão localizados no tronco encefálico, na junção 
da ponte com a medula oblonga, perto do quarto ventrículo. Além das 
informações vestibulares, os núcleos vestibulares recebem informações 
visuais, proprioceptivas, táteis e auditivas, portanto integra informações de 
múltiplos sentidos. As vias que transmitem as informações dos núcleos 
vestibulares incluem: 
� O fascículo longitudinal medial (para os núcleos extra-oculares, 
influenciando os movimentos oculares). 
� Os tratos vestibuloespinhais (medial e lateral para motoneurônios 
inferiores que influenciam a postura). 
� Vias vestibulocólicas (para o núcleo do nervo acessório espinhal, 
influenciando a posição da cabeça). 
� Vias vestibulotalamocorticais (proporcionando conscientização da 
posição da cabeça e do seu movimento). 
� Vias vestibulocerebelares (para o vestibulocerebelo). 
� Vias vestibuloautônomas (para a formação reticular, influenciando 
náuseas e vômitos). 
 
As projeções dos núcleos vestibulares contribuem para: 
� Informações sobre o movimento de cabeça e a posição da cabeça 
relativamente à gravidade. 
� Estabilidade do olhar (controle dos movimentos oculares quando a 
cabeça se movimenta). 
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13 
� Ajustes posturais. 
� Função autônoma e consciência. 
 
CANAIS SEMICIRCULARES 
 
 Os canais semicirculares são três anéis ocos dispostos 
perpendicularmente entre si. Cada canal tem uma tumefação, chamada 
ampola, contendo uma crista. A crista consiste em células de sustentação e 
células pilosas sensitivas. Os pelos ficam imersos em massa gelatinosa, a 
cúpula. Se a cabeça começar a rodar, a inércia fará com que o líquido no canal 
fique para trás, resultando em curvatura da cúpula e dos pelos das células 
pilosas. A curvatura dos pelos resulta em excitação ou inibição das 
terminações nervosas vestibulares, dependendo da direção da curvatura. Os 
receptores nos canais semicirculares são sensíveis somente à aceleração ou à 
desaceleração rotacional (acelerar ou tornar mais lenta a rotação da cabeça). 
 As disposições anatômicas dos canais, estando os canais semicirculares 
orientados em ângulos de 90° entre si, garantem que a aceleração ou a 
desaceleração num plano de movimento que cause fluxo máximo de líquido 
num par de canais semicirculares não estimula os outros canais semicirculares. 
Os canais semicirculares são chamados de labirinto cinético, pois são 
sensíveis aos movimentos rotacionais da cabeça. São arranjados em ângulos 
retos um com o outro, um para cada eixo de rotação. 
 
Canais anteriores e posterior-são sensíveis ao movimento no plano 
sagital e frontal (canais verticais) 
Canal horizontal-é sensível à rotação ao redor do eixo central do 
corpo no plano horizontal. 
Os três canais semicirculares são contínuos com o vestíbulo. Eles se 
alargam na juntura onde os canais terminam dentro do vestíbulo. Esse 
alargamento é chamado ampola que contém uma estrutura receptora chamada 
crista ampularis. 
Crista ampularis - as cristas são compostas de cílios inseridos 
firmemente na base das ampolas. Os tufos de cílios se projetam dentro de uma 
substância gelatinosa de forma cônica, chamada cúpula. 
Cúpula - difere da membrana otolítica por não conter otólitos, ficando 
no topo dos cílios como um chapéu e é estimulada pelo movimento da 
endolinfa no canal. 
Endolinfa - qualquer aceleração ou desaceleração angular (rotatória) 
da cabeça faz com que a endolinfa circule através dos canais, que por sua vez 
deslocam a cúpula e faz os cílios dispararem. 
Importante: a aceleração inicial é a força que faz com que a cúpula 
sofra deflexão e dispare numa freqüência maior. Além disso, os canais 
semicirculares são mais responsivos a movimentos rotacionais curtos e não à 
rotação prolongada. 
Os canais semicirculares detectam movimentos da cabeça em todos os 
planos e são envolvidos na manutenção da postura ereta. As vias dos canais 
semicirculares são extremamente importantes para a mira visual, movimentos 
oculares e alinhamento da cabeça e corpo. As conexões dos canais 
semicirculares e os otólitos trabalham em cooperação com os receptores 
articularesdo pescoço para fazer a reação de endireitamento da cabeça e do 
pescoço. 
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14 
SÁCULO E UTRICULO – ÓRGÃOS OTOLÍTICOS 
 
 O utrículo e o sáculo, também chamados órgãos otolíticos, respondem à 
posição da cabeça relativamente à gravidade e à aceleração e desaceleração 
linear. Em cada um desses sacos está a mácula, consistindo em células 
pilosas encerrada em massa gelatinosa contendo cristais de cálcio. Os cristais, 
chamados otólitos, são mais densos que o líquido em torno e seu suporte 
gelatinoso. Mudar a posição da cabeça inclina a mácula e o peso dos otólitos 
desloca a massa gelatinosa, curvando as células pilosas imersas. A curvatura 
dos pelos estimula ou inibe as células pilosas (dependendo da direção de 
curvatura), e isso determina a freqüências das descargas dos neurônios no 
nervo vestibular. 
 A mácula utricular está no assoalho do utrículo quando a cabeça está 
ereta; desse modo sua orientação é horizontal. A mácula utricular responde 
maximamente a inclinações da cabeça que começam com a cabeça na posição 
ereta, como na curvatura para frente para pegar algo do chão. A mácula 
sacular é orientada verticalmente. A mácula sacular responde maximamente 
quando a cabeça se move em uma posição flexionada lateralmente, como no 
movimento em decúbito lateral para a posição em pé. Além da posição da 
cabeça, as máculas também respondem à aceleração e a desaceleração 
linear. À medida que a cabeça começa se mover para frente, os otólitos da 
mácula utricular caem para trás, e os impulsos resultantes sinalizam a 
aceleração da cabeça. 
Mácula- fragmento sensorial que monitora a posição da cabeça em 
relação ao chão. 
Células ciliadas-são arranjadas em uma posição fixa de modo que os 
tufos pilosos se projetam para cima através de uma massa gelatinosa chamada 
membrana otolítica. 
Otólitos-cristais de carbonato de cálcio que ficam embebidos na 
massa gelatinosa. Se a cabeça está inclinada, a gravidade puxa a massa para 
baixo deslocando a membrana otolítica estimulando e fazendo com que os 
cílios das células ciliadas _ que são altamente responsivas às alterações na 
posição da cabeça_ se dobrem. Esse dobramento ou ação de atrito faz com 
que as células ciliadas disparem e transmitam impulsos aferentes para o SNC. 
IMPORTANTE: as células ciliadas são receptores tônicos, e, 
portanto mesmo na posição neutra, ficam disparando constantemente. 
 
UTRÍCULO 
Responde a forças gravitacionais e à aceleração linear e horizontal da 
cabeça, como no andar para frente. Os cílios no utrículo são arranjados 
verticalmente quando a cabeça está ereta. A aceleração e desaceleração linear 
no plano horizontal são estímulos adequados aos cílios do utrículo. Ex: descer 
de skate na rampa; balançar na plataforma móvel para frente e para trás. 
SÁCULO 
Responde a estímulos vibratórios e à aceleração linear no plano 
dorsoventral (vertical) como andar de cavalo ou pular em uma bola. Os cílios no 
sáculo são é arranjado de modo a ficar de lado quando a cabeça estiver na 
posição ereta. Ao mover a cabeça em um plano vertical em aceleração ou 
desaceleração, os cílios serão disparados. Ex: pular de um trampolim, balanço 
de mola. 
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15 
IMPORTANTE: os estímulos adequados para os cílios do sáculo e 
do utrículo são aqueles em que a cabeça está numa posição estática no 
espaço e a aceleração e desaceleração linear ocorrerem nos planos 
horizontais e verticais. 
 
PAPEL VESTIBULAR NO CONTROLE MOTOR 
 
 Além de fornecer informações sensoriais sobre o movimento e a posição 
da cabeça, o sistema vestibular exerce dois papéis no controle motor: 
estabilização do olhar e ajustes posturais. 
A estabilização do olhar opera pelo reflexo vestibulocular. Os ajustes 
posturais são obtidos por conexões recíprocas entre os núcleos vestibulares e 
a medula espinhal, a formação reticular, o colículo superior, o núcleo do XI 
nervo craniano e o cerebelo. 
 
CONEXÕES DOS NÚCLEOS VESTIBULARES 
 
A rotação rápida da cabeça, através de um giro simples da cabeça, ou 
do andar em um brinquedo de parque de diversões ativa as conexões dos 
canais semicirculares, desencadeando: 
� alteração do controle postural (levando a uma inclinação ou queda) 
� ajuste da orientação da cabeça 
� reflexo dos movimentos oculares 
� alterações autônomas (náuseas, vômitos). 
� alteração da consciência (tonturas) 
� conscientização da orientação da cabeça e do movimento da cabeça. 
 
 Além de ser a origem dos tratos vestibulares, os núcleos vestibulares 
estão ligados com áreas que afetam os tratos descendentes córticoespinhais, 
reticuloespinhais e tetoespinhais. Por essas conexões os núcleos vestibulares 
influenciam fortemente a postura da cabeça e do corpo. 
 As conexões cerebelares com o aparelho vestibular, núcleos 
vestibulares, medula espinhal e oliva inferior possibilitam ao cerebelo controlar 
o ganho dos ajustes posturais e reflexos dos movimentos oculares. Desse 
modo, a magnitude das respostas reflexas a mudanças de posição e 
movimento (da cabeça, do corpo ou de objetos externos) depende do 
processamento cerebelar de informações vestibulares e visuais. 
 
O SISTEMA VESTIBULAR E SUAS FUNÇÕES 
 
O sistema vestibular está estritamente associado com as terminações 
aferentes secundárias dos fusos neuromusculares, pois lhe cabem a 
coordenação das contrações tônicas e fásicas dos diferentes grupos 
musculares, realizando por esse mecanismo uma complexa integração 
sensorial de grande importância na organização da equilibração e na 
orientação espacial da motricidade (Ayres, 1977; e Fonseca, 1984). 
A função do uso neuromuscular é chave para manutenção do tônus 
muscular, e esta é fundamental para a regulação da equilibração. A sua 
disfunção é, em certa medida, sinônimo de inadequada informação sensorial. A 
disfunção tônica sugere uma reduzida aferência neuromuscular, que tende a 
produzir efeitos em nível da integração proprioceptiva e vestibular. A 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
16 
inadequada integração vestibular e proprioceptiva daí resultante reduz a 
atividade dos fusos neuromusculares, que, por sua vez, tornam-se menos 
eficientes, pondo em risco a implementação de qualquer reação motora, 
incluindo os reflexos posturais e os movimentos voluntários. A tonicidade está 
assim relacionada com a integração sensorial e está inexoravelmente 
dependente da organização da equilibração. 
O sistema vestibular como um órgão especializado da equilibração 
compreende um componente funcional periférico ao nível do ouvido interno e 
um componente funcional interno situado nos núcleos nervosos do tronco 
cerebral. Esse sistema desempenha duas funções sensório-motoras vitais a 
sobrevivência da espécie: a detecção do movimento e a detecção da 
gravidade. 
O sistema vestibular, verdadeiro analisador estático-dinâmico 
multissensorial (Fonseca, 1984), não só responde pela postura como pela 
orientação espacial, dada a sua inter-relação com outros receptores somáticos 
e visuais, como responde pela organização perceptiva e pelo potencial de 
aprendizagem. 
O sistema vestibular tem inúmeras conexões, por isso, repercute em 
toda a organização psicomotora. As sensações provocadas pela gravidade são 
uma referência básica a todas as outras informações sensoriais e perceptivas, 
daí a sua implicação no desenvolvimento das funções visuais e auditivas, e 
certamente, a sua repercussão no desenvolvimento da aprendizagem. 
O núcleo vestibular do tronco cerebral, além de processar informação 
dos músculos, das articulações, dos tendões e da pele, processa ainda 
informação dos receptores visuais e auditivos. Organizam em suplemento 
outros impulsos, que advêm do tronco cerebral, do cerebelo e de muitas outras 
partes do córtex, especialmente do lóbulo parietal, garantindo a ligação da 
informação proprioceptiva com a exteroceptiva,fornecendo as condições 
básicas da organização perceptiva da visão e da audição, daí, 
conseqüentemente, a sua influência no desenvolvimento psicomotor e 
emocional. 
A informação vestibular processada proprioceptivamente é 
indispensável à visão para se relacionar com o espaço, quer para o movimento 
global, quer para a manipulação do objeto. 
O sistema vestibular influencia também as funções emocionais e o 
comportamento, dadas as suas intrincadas conexões com o sistema límbico, 
que só pode funcionar adequadamente desde que seja modulada pelos outros 
sentidos. A ausência de estimulação vestibular pode provocar reações de 
agressividade ou de isolamento; muitas experiências animais o têm provado 
(Harlow, 1958 e 1971), e no ser humano, fundamentalmente na criança, os 
seus efeitos emocionais são concludentes em termos de relação mãe-filho é 
uma condição do desenvolvimento global da criança. 
De acordo com Wallon, 1949, a vida emocional interage com as 
reações tônicas, emoção e motricidade e influenciam-se intimamente em 
termos de desenvolvimento afetivo. 
A segurança gravitacional está na base do controle postural e da 
equilibração, na medida em que traduz a integridade do sistema vestibular. A 
insegurança postural ou gravitacional gera naturalmente instabilidade 
emocional, hiperatividade, ansiedade, distraibilidade, etc., alterando todas as 
condições necessárias ao processamento da informação. Sob uma 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
17 
insegurança gravitacional não se podem integrar informação sensorial, nem 
organizar percepções ou associações de nível superior. 
O sistema vestibular organiza e participa na elaboração de respostas 
posturais e adaptações de equilibração, estão necessariamente envolvidas nas 
funções de vigilância, de alerta e de atenção, condições inerentes à primeira 
unidade funcional de Lúria envolvidas em todas as funções de processamento 
da informação. A sua função opera-se muito antes dos sistemas 
proprioceptivos e exteroceptivos; daí a sua marcada influência na evolução de 
outros sistemas funcionais mais complexos e hierarquizados. 
As disfunções posturais, dadas as múltiplas inter-relações do cerebelo 
com os centros límbicos, talâmicos e subtalâmicos, podem causar distúrbios de 
ordem perceptiva e de memória, uma vez que aqueles centros assumem 
funções de integração sensório-motora e de convergência multissensorial 
(Ayres, 1977, Krauthamer e Albe-Fessaro, 1964). 
O controle postural envolve a participação de centros inferiores 
(medulares), intermédios (tronco cerebral e cerebelo) e superiores (córtex), a 
sua disfunção interfere com todo tipo de atividade mental, não exclusivamente 
motora, mas emocional, perceptiva, cognitivas, sociais, simbólicas, etc. 
Para que este organismo aprenda, ele tem primeiro de ser capaz, 
através de uma adequação energética própria, de ampliar e inibir estímulos, 
processar informações e agir. Sem o domínio postural, o cérebro não aprende 
a motricidade não se desenvolve e a atividade simbólica fica inequivocamente 
afetada. 
As atividades posturais e motoras precedem as atividades mentais, 
depois atuam conjuntamente, assistindo-se mutuamente, até que mais tarde a 
atividade motora se subordina à atividade mental. 
Cerebelo, sistema vestibular e formação reticular estão intimamente 
associados ao longo da filogênese e da ontogênese não só produzindo 
complexos circuitos de retroativação e de reaferência, mas também guiando e 
modulando a tonicidade e a equilibração para serem integradas em 
movimentos mais complexos, precisos e seqüencializados, oferecendo 
condições indispensáveis de plasticidade e de adaptabilidade que os 
caracterizam. 
As inibições pré-motoras e antecipativas nos músculos antagonistas, 
seguidas de acelerações e desacelerações apropriadas para o jogo dialético da 
postura e do movimento (início e fim) interferem com as múltiplas informações 
proprioceptivas recebidas pelo cerebelo e pelo sistema vestibular. 
Toda esta complexa ativação se transforma numa segurança 
gravitacional, numa independência motora, numa capacidade de controle 
emocional, numa capacidade de atenção e alerta e numa apreensão espacial, 
que em si consubstanciam o cerebelo com um centro de estratégias posturais e 
motoras. 
 
TEXTO: O SISTEMA VESTIBULAR (The vestibular system) 
 
Da mesma maneira que o sistema tátil é nossa sensação de toque pelo 
qual nós desenvolvemos relações de amizade (contato) com outros, o sistema 
vestibular é a nossa sensação de movimento e gravidade. É através do sistema 
vestibular que nós desenvolvemos uma relação com o mundo, isto é, podemos 
saber o que está para cima, o que está para baixo, o lado esquerdo, direito, o 
horizontal e o vertical. A informação por nós recebidos e processados através 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
18 
deste sistema é tão básica em tudo o que fazemos que seja muito difícil 
imaginarmos como seria não usarmos tal informação corretamente. A 
discussão que trazemos aqui é necessária, pequena; é uma discussão muito 
simples de um assunto muito complexo. 
Ayres diz “O sistema vestibular é um sistema unificado. Todos os outros 
tipos de sensação são processados tendo como referência a informação básica 
do vestibular. A atividade do sistema vestibular provê um arcabouço para os 
outros aspectos de nossas experiências” (1979). Assim, o input sensorial do 
sistema vestibular, dá medidas ou noções do funcionamento do sistema 
nervoso central como um todo e o prepara para outro input sensorial. 
O input vestibular nos diz se estamos nos movendo ou não, se estamos 
nos movendo rapidamente, e para que direção esteja nos movendo. 
Proporciona-nos aquela sensação de segurança quando estamos com os pés 
plantados firmemente no solo. Também nos dá uma referência física que nos 
ajuda no sentido da informação visual, particularmente onde nós e as outras 
coisas em nosso ambiente estamos em relação umas as outras. 
O tônus muscular adequado e a postura nos permitem mover 
eficazmente e assumir e manter várias posições confortavelmente ao longo do 
dia. Um exemplo de eficiência de movimento é a habilidade para seguir objetos 
com nossos olhos. Esta habilidade é fundamental para a aquisição de 
habilidades acadêmicas básicas como ler e escrever. A habilidade para mover 
diferentes partes do corpo harmoniosamente é outra habilidade importante. Por 
exemplo, requer controle adequado, estabilidade, e rotação do tronco e da 
cintura escapular. 
Outra habilidade importante relacionada ao sistema vestibular é a 
coordenação bilateral, ou a habilidade para usar ambos os lados do corpo. Esta 
habilidade nos permite andar de bicicleta, saltar, pular corda, ou tocar piano. A 
coordenação bilateral pode ser inibida se a dominância da mão não for 
estabelecida corretamente. Crianças que não processam a informação 
vestibular eficazmente podem estabelecer a dominância de mão tão 
completamente, que elas ignoram o lado não dominante do corpo, ou elas 
podem não estabelecer a dominância da mão adequadamente. Qualquer 
deficiência faz com que o desempenho de muitas tarefas comuns torne-se 
bastante difícil. 
Crianças com disfunção do sistema vestibular provavelmente têm 
problemas com muitos dos componentes da vida diária. Elas parecem 
freqüentemente incoordenadas e com falta de habilidade para atividades que 
requerem seqüenciamento e timing. Elas podem não perceber a informação 
visual corretamente. Elas podem ter a memorização pobre e se mostrarem 
lentas para aprenderem muitas das habilidades acadêmicas básicas. Elas 
podem apresentar náusea ao movimento não importando a intensidade do 
movimento, ou podem ser muito lentos ou ficarem tontos não importando com o 
movimento violento. Elas são freqüentemente relutantes em participar de 
atividades físicas ou experiências que lhes exigem mover ou usar os seus 
corpos de maneira suave ou calma e coordenadamente. 
Problemascom memória e com aprendizagem das habilidades 
acadêmicas básicas, são em parte devido a problemas com o processamento 
do input auditivo. Enquanto todos nós precisamos até certo ponto nos mover 
para escutar (ficar na ponta dos pés ou mudarmos de cadeira), crianças com 
desordens do sistema vestibular precisam mover-se mais para escutar e 
entender. Adultos podem estranhar a quantidade de movimento que estas 
Curso de Integração Sensorial – Módulos I e II – Lígia Maria de Godoy Carvalho 
19 
crianças necessitam. É importante nós tentarmos não dizer para as crianças 
para “sentar e prestar atenção” quando os seus cérebros estão lhes dizendo 
para “movimentarem-se”, já que elas demandam movimento para que possam 
prestar atenção e entender. 
Pesquisas indicam que processos vestibulares em níveis inferiores do 
cérebro (subcortical) favorecem os processos que acontecem em níveis mais 
alto (cortical) do cérebro, inclusive na fala e na linguagem (Stilwell, Crowe, e 
McCallum 1978). Experiências negativas com movimento causado por uma 
disfunção do sistema vestibular podem, então, causar nas crianças dificuldades 
com a fala e a linguagem que são tão essenciais para aprender e estabelecer 
relações sociais. A linguagem pode não se desenvolver dentro do esperado ou 
pode não seguir padrões convencionais do desenvolvimento; crianças podem 
ter dificuldades no uso das palavras e para refletir sobre o que elas sabem. 
Elas também podem posteriormente ter dificuldades ao tentarem se comunicar 
com palavras e orações. 
A meta da terapia é proporcionar experiências positivas com 
movimentos que permitam as crianças desenvolver um modo organizado de 
olhar o mundo. Estas atividades lhes ajudam a ter movimentos mais eficientes 
e também organizados e em usar a linguagem para entender e descrever o 
mundo e suas experiências. 
Outro aspecto de comunicação que pode ser afetada através de 
desordens do sistema vestibular é a habilidade para usar a comunicação não 
verbal, ou a linguagem corporal, adequadamente. Nós comunicamos uma 
grande parte dos nossos pensamentos e sentimentos através do uso 
apropriado de nossas mímicas faciais e corporais. Quando as pessoas dizem 
uma coisa e o não verbal expressa outra, o ouvinte acredita na comunicação 
não verbal, independentemente da verdadeira intenção. Por exemplo, se você 
mostra e fala para os amigos que ama suas fotos de férias, mas 
freqüentemente fica bocejando e olhando para o relógio, eles acreditarão que 
você está aborrecido ou contrariado. 
Para comunicar-se deste modo requer um tônus muscular adequado. O 
locutor também deve poder coordenar a atividade muscular com a linguagem 
usada. O sistema vestibular é muito importante no desenvolvimento e 
modulação destes componentes. Crianças com disfunção nesta área possam 
freqüentemente ser mal entendidas sem saber por que, com situações 
frustrantes para eles e para as pessoas ao seu redor. As crianças podem reagir 
inapropriadamente para tais mal entendidos. 
Crianças com processamento vestibular inadequado podem ter reações 
emocionais impróprias e comportamentos muito semelhantes aos 
processamentos táteis inadequados. Crianças que são inseguras frente a 
possíveis situações de perigo de queda ou onde eles estão em relação às 
outras pessoas e objetos no seu meio ambiente terão muitas vezes um 
comportamento inapropriado. Elas podem na verdade ser inseguras estando ou 
não se movendo, e freqüentemente têm medo de queda. Caminhar em 
pedregulho, cimento, ou metal pode ser totalmente ameaçador. Esta 
insegurança gravitacional causa nas crianças dificuldade para usar a visão e 
monitorar cada situação, impedindo-as de mover-se com confiança e facilidade. 
Isto inibe a habilidade para observar e aprender em várias situações. Nem 
sempre é possível assegurarmos que o que o cérebro está processando é 
realmente procedente daquilo que estamos lhes informando. Há outras 
crianças que não tem a experiência da insegurança gravitacional, mas tem 
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“fome” do input vestibular e constantemente buscam o novo e ou experiências 
de movimentos mais intensos. Estas crianças parecem não ter medo de nada o 
que as levarão a situações de riscos desmedidos ou excessivos para satisfazer 
esta “fome” do input vestibular. Em ambos os casos, nós temos que ajudar as 
crianças a tornarem-se mais seguras e mostrarmos que nós entendemos os 
seus sentimentos e necessidades ajudando-as encontrar maneiras seguras de 
proceder com as suas dificuldades. 
 
2 - SISTEMA VISUAL 
 
O sistema visual proporciona: 
 
� Visão para o reconhecimento e localização de objetos. 
� Controle dos movimentos oculares. 
� Informações usadas no controle dos movimentos posturais e das 
extremidades. 
Processamento de informações visuais 
 As informações visuais que chegam ao córtex visual primário estimulam 
os neurônios que discriminam a forma, o tamanho ou a textura dos objetos. As 
informações transmitidas às áreas adjacentes, chamadas córtex de associação 
visual, são analisadas quanto às cores e ao movimento. Do córtex de 
associação visual, a informação vai para outras áreas do córtex cerebral onde 
as informações visuais são usadas para ajustar movimentos ou para identificar 
visualmente objetos. A corrente de informações visuais que flui dorsalmente é 
chamada corrente de ação porque essas informações são usadas para 
direcionar movimentos, e a corrente de informações visuais que flui 
ventralmente é chamada de corrente de percepção porque essas informações 
são usadas para reconhecer objetos visuais. 
 
Sistema do movimento ocular 
Os movimentos oculares normais exigem síntese de informações sobre o 
seguinte: 
� Movimentos da cabeça (informações vestibulares) 
� Objetos visuais (visão). 
� Movimento e posição dos olhos (informações proprioceptivas). 
� Seleção de um alvo visual (áreas do tronco encefálico e cortical). 
O controle preciso da posição dos olhos é vital para a visão porque a 
melhor acuidade visual é possível somente numa pequena região da retina (a 
fóvea) e porque a percepção binocular de um objeto como único exige que a 
imagem seja recebida por pontos correspondentes em ambas às retinas. Esse 
controle requintado da posição dos olhos é obtido pelo fascículo longitudinal 
medial, reflexos e centros corticais. 
 
Tipos de Movimentos Oculares 
Os movimentos dos olhos têm dois objetivos: manter a posição dos 
olhos estável durante os movimentos da cabeça para que o ambiente não 
pareça saltar e direcionar o olhar para alvos visuais. Os movimentos dos olhos 
são conjugados ou de vergência. Nos movimentos conjugados, ambos os olhos 
se movimentam na mesma direção. Nos movimentos de vergência, os olhos se 
movem em direção à linha média ou para longe da linha média. Os movimentos 
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de vergência ocorrem quando se olha para um objeto perto dos olhos ou 
quando se muda o olhar de um objeto próximo para um distante. 
A estabilização do olhar (também chamada fixação visual) durante os 
movimentos da cabeça é obtida por: 
� Reflexo vestibulocular, a ação das informações vestibulares sobre a 
posição dos olhos durante movimentos rápidos da cabeça. 
� Reflexo optocinético, o uso de informações visuais para estabilizar 
imagens durante movimentos lentos da cabeça. 
 
Reflexos vestibuloculares 
Os reflexos vestibulares (RVOs) estabilizam as imagens visuais durante 
os movimentos da cabeça. Essa estabilização impede o mundo visual de 
parecer saltar em torno quando a cabeça se movimenta espacialmente durante 
a caminhada. 
Quando a cabeça roda para a direita, os sinais do canal semicircular 
horizontal direito aumentam e os sinais do canal semicircular horizontal 
esquerdo diminuem. Essa informação é retransmitida para os núcleos 
vestibulares de III e IV nervos cranianos, ativando os músculos retos que 
movimentam os olhos para a esquerda e inibem os músculosretos que 
movimentam os olhos para a direita. 
Os RVOs verticais podem ser desencadeados por flexão e extensão da 
cabeça. Todos os RVOs movimentam os olhos na direção oposta ao 
movimento da cabeça para manter a estabilidade do campo visual e a fixação 
visual nos objetos. 
 
Reflexo Optocinético 
O reflexo optocinético ajusta a posição dos olhos durante movimentos 
lentos da cabeça. Optocinético significa que o reflexo é desencadeado por 
estímulos visuais móveis. A cabeça de uma pessoa que está caminhando se 
move em relação aos objetos no ambiente. O sistema optocinético permite que 
os olhos sigam grandes objetos no campo visual. 
 
Direção do olhar 
Sácades, perseguições suaves e convergência são movimentos 
oculares que servem para direcionar o olhar para objetos selecionados. 
 
Sácades: movimentos oculares rápidos para mudar o olhar de um objeto para 
outro. Os movimentos oculares em alta velocidade trazem novos objetos à 
visão central, onde são vistos detalhes das imagens. Ex: se uma pessoa estiver 
lendo e alguém entrar na sala, um movimento ocular sacádico muda o olhar do 
leitor do texto para a pessoa. 
Perseguições suaves: movimentos oculares que seguem um objeto móvel. 
Ex: quando estamos olhando alguém atravessar a sala, movimentos de 
perseguição suave mantêm a direção do olhar de modo que a imagem é 
mantida na fóvea. 
Movimentos de vergência: a direção dos olhos para se ajustarem em 
diferentes distâncias entre os olhos e o alvo visual. Ex: na leitura, as pupilas 
são direcionadas para a linha média para permitir que a imagem caísse nas 
áreas correspondentes das retinas, ou ainda quando alinhamos os olhos num 
alvo próximo. 
 
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Áreas do SNC que controlam os movimentos dos olhos: 
 
� Tronco encefálico: controla os movimentos oculares horizontais e 
verticais. 
� Área pontina, formação reticular pontina paramediana, controla as 
sácades horizontais voluntárias: 
� Núcleo abducente através de conexões com o núcleo ócumotor, 
controla as perseguições horizontais e as sácades reflexivas. 
� Formação reticular do mesencéfalo controla os movimentos oculares 
verticais. 
 
Os centros corticais que influenciam os movimentos oculares incluem os 
campos visuais frontal, occipital e temporal. Os campos visuais frontais dão o 
controle voluntário dos movimentos oculares quando se toma a decisão de 
olhar um objeto em particular. Os campos visual occipital e temporal 
contribuem para a capacidade de perseguir visualmente objetos em movimento 
(movimentos oculares de perseguição). O córtex pré-frontal dorsolateral inibe 
os movimentos oculares reflexos conforme apropriado. O córtex parietal 
posterior dá aferências corticais para os movimentos de perseguição suave. 
 
Nistagmo 
 São movimentos involuntários para trás e para frente, como ocorre 
durante uma rotação ou depois dela. A direção do nistagmo é denominada de 
acordo com a direção dos movimentos oculares sacádicos. Desse modo, se os 
movimentos rápidos forem para direita, o nistagmo é chamado nistagmo de 
batimento para a direita. 
O nistagmo fisiológico é uma resposta normal que pode ser 
desencadeada num sistema nervoso intacto por estimulação rotacional ou de 
temperatura nos canais semicirculares ou por movimentos dos olhos até a 
posição horizontal extrema. O nistagmo patológico é um sinal de anormalidade 
do sistema nervoso. 
 
Teste da Função Vestibular 
O teste de rotação para a função vestibular pode ser realizado rodando 
o sujeito numa cadeira giratória com a cabeça inclinada cerca de trinta graus 
para frente, de modo a fazer com que os canais horizontais fiquem paralelos 
com o piso do ambiente. O movimento é interrompido abruptamente após dez a 
doze voltas. A inércia faz com que a endolinfa continue a fluir na mesma 
direção em que à cabeça estava girando, embora ela esteja agora estacionária. 
O nistagmo assim induzido dura ao redor de trinta segundos em indivíduos 
normais. Se a rotação for para a esquerda, a endolinfa flui para a esquerda e o 
componente lento do nistagmo é para a esquerda. Uma vez que o componente 
rápido é para direita, denomina-se neste caso “um nistagmo para a direita”. 
Neste teste podemos observar no nistagmo os seguintes aspectos: 
Duração: tempo do nistagmo 
Freqüência: número de batimentos por segundo. 
Amplitude: excursão do movimento (ampla, curta, média.) 
Velocidade: velocidade de movimentação do olho 
Obs.: a freqüência e a amplitude são os dados mais importantes desta prova 
 
 
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23 
Tipos de nistagmo-pós-rotatórios 
 
Aversiva: causada pela disfunção do sistema vestibular ou por distúrbio 
na conexão deste sistema com outros. Em geral os indivíduos não 
aceitam manter a cabeça para baixo. 
Hiporesponsivo: problema ao nível do núcleo vestibular onde os três 
sistemas, vestibular, visual e somatosensorial, estão integralmente 
relacionados. 
Prolongado: suspeita que seja falta de inibição cortical, dos níveis 
superiores, acima dos núcleos vestibulares. 
Discrepantes: suspeita-se de dificuldades de conexão dos lados direito 
e esquerdo do sistema vestibular. 
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II - SISTEMA SOMATO SENSORIAL 
TÁTIL E PROPRIOCEPÇÃO 
 
1 - SISTEMA TÁTIL 
 
O sistema somatossensorial é geralmente subdividido em dois sistemas 
distintos. Um sistema é filogenéticamente mais antigo e não-específico por 
natureza. O outro sistema é filogeneticamente mais novo e específico em 
função. 
 O sistema de qualidade dupla do sistema somatossensorial foi primeiro 
sugerido por Head. O sistema sensorial mais antigo foi chamado de protopático 
por mediar estímulos primitivos de respostas de proteção. O sistema sensorial 
mais novo foi descrito como epicrítico por mediar os aspectos discriminativos 
da sensibilidade somática. Atualmente esses sistemas são descritos mais em 
termos anatômicos como sistema espino-talâmico (protopático) e lemniscal 
(epicrítico). 
 Uma compreensão fundamental da anatomia e fisiologia dos dois 
sistemas sensoriais é importante antes de empreenderem-se técnicas 
terapêuticas de intervenção. O sistema leminiscal consiste de vias que são 
claramente distinguíveis anatômica e neurofisiologicamente. Os sinais 
aferentes são projetados para duas regiões corticais do lobo parietal a partir da 
medula espinhal e do nervo trigêmeo. A partir do nível espinhal, que é o que 
mais nos interessam, os impulsos aferentes percorrem pelas colunas 
posteriores, ascendem pelo lemnisco medial até os núcleos ventro basais do 
tálamo para regiões específicas do córtex. 
 As fibras do sistema lemniscal são largas e bem mielinizadas. Assim, os 
sinais são transmitidos rapidamente com um mínimo de três estações 
sinápticas. Uma característica notável desse sistema é sua organização 
somatotópica. Existe uma representação topográfica espacial ordenada da 
superfície da péle nos feixes de fibras das colunas dorsais e a organização 
sináptica do tálamo. Essa organização altamente desenvolvida das estações 
sensoriais permite que o sistema lemniscal diferencie os estímulos táteis 
específicos. Esse sistema transmite informações proprioceptivas e cinestésicas 
conscientes e inconscientes, tais como toque, pressão, localização, contorno, 
qualidade e detalhes espaciais de estímulos mecânicos. Os proprioceptores e 
as informações trazidas por eles são essencial para a consciência da posição 
dos membros e seus movimentos, o que é comumente referido como sentido 
cinestésico. Em geral os receptores que alimentam o sistema lemniscal são 
encapsulados, de adaptação lenta, com fibras do tipo I e II (alfa). Muitos desses 
receptores são encontrados nas articulações, músculos e superfícies lisas (sem 
pêlos) da pele, além de incluírem os fusos musculares, os órgãos tendinosos 
de Golgi e os corpúsculos de Paccini. 
 A capacidade do sistema lemniscalem avaliar a qualidade da 
estimulação é chamada esterognosia: reconhecimento das formas dos objetos 
com estimulação da pele. A informação relativa a essas sensações é 
transmitida não apenas para o nível do córtex cerebral, mas também para 
certas localizações subcorticais, particularmente o cerebelo, onde a informação 
é usada para o controle motor e não para sensação. 
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25 
 O sistema espino-talâmico é menos definido anatomicamente que o 
sistema lemniscal. Impulsos diferentes são vinculados a esse sistema através 
dos tratos espino-talâmicos anterior e lateral ou tratos retículo-espinhais. Os 
impulsos ascendentes ou terminam ou enviam conexões colaterais para a 
formação reticular. Essas fibras continuam para cima e fazem sinapse com os 
núcleos talâmicos inespecíficos (medial) e então, divergem para fazer 
conexões com praticamente todas as regiões do córtex cerebral. Outros 
colaterais para esse sistema se projetam parareguladores do sistema nervoso 
autônomo, sistema límbico e os chamados núcleos extra-piramidais. 
 Como o sistema espino-talâmico faz sinapse com a formação reticular e 
SNA, ele serve mais como um mecanismo de energização ou alerta para 
estímulos potencialmente dolorosos. Assim, esse sistema é envolvido na 
percepção da dor, toque leve, sensações sexuais prazerosas e estímulos 
adversos na produção de orientações primitivas e respostas protetivas. 
 Essa subdivisão em sistemas espino-talâmico e lemniscal podem levar a 
pensar erroneamente que possam ser ativados separadamente. A maior parte 
dos estímulos sensoriais irá ativar os dois sistemas simultaneamente, por 
exemplo, o toque leve. O sistema lemniscal pode levar tanto estímulos 
exteroceptivos como proprioceptivos. Contudo, é possível “carregar” um 
sistema mais que o outro usando estímulos seletivos de forma rápida ou lenta. 
 Poggio e Moutcastle sugerem que o sistema lemniscal pode ter uma 
influência inibidora sobre o sistema espino-talâmico. Ayres propôs que a 
“defensividade tátil” constitui a predominância do sistema espino-talâmico 
sobre o sistema lemniscal. Muitas das técnicas terapêuticas utilizadas na 
terapia de integração sensorial são elaboradas para ativar o sistema lemniscal 
e estabelecer um equilíbrio melhor entre os dois sistemas. 
 Existem receptores sensoriais em todos os órgãos do corpo, embora a 
pele seja o “órgão somestésico” por excelência. 
Apesar da diversidade dos receptores e suas fibras, no SNC eles podem 
ser reunidos em dois subsistemas somestésicos diferentes, de acordo com a 
sua natureza funcional e a organização morfológica correspondente. Um 
desses subsistemas reúne a maioria das fibras que veiculam a submodalidade 
do tato e as fibras proprioceptivas: é o sistema epicrítico, que possui grande 
capacidade discriminativa e alta precisão sensorial (acuidade). O segundo é o 
sistema protopático, que reúne as fibras que veiculam a termossensibilidade 
e a dor, além de certas fibras táteis de sensibilidade mais grosseira: é um 
sistema pouco discriminativo e menos preciso. 
 As informações sensoriais da pele são designadas como superficiais ou 
cutâneas. As informações sensoriais superficiais incluem o tato, a dor e a 
temperatura. A sensação do tato inclui a pressão e a vibração superficiais. As 
informações sensoriais do sistema músculo-esquelético, em contraste, incluem 
a propriocepção e a dor. A propriocepção fornece informações relativas à 
distensão dos músculos, tensão sobre tendões, posição das articulações e 
vibração profunda. A propriocepção inclui tanto a sensação posicional articular 
estática como a cinestésica, as informações sensoriais sobre o movimento. 
 Todas as vias que transmitem informações somatossensoriais têm 
conformações anatômicas semelhantes. O diâmetro dos axônios, o grau de 
mielinização axônica e o número de sinapses na via determinam quão 
rapidamente as informações são processadas. Muitas informações 
somatossensoriais não são percebidas conscientemente, mas sim processado 
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ao nível espinhal em circuitos neurais locais ou pelo cerebelo para o ajuste de 
movimentos e posturas. 
 Existe uma distinção entre informações sensoriais (impulsos nervosos 
gerados a partir dos estímulos originais) e sensações (reconhecimento de 
estímulos provenientes dos sentidos). A percepção, a interpretação de 
sensações em formas dotadas de significado, ocorre no cérebro. A percepção 
é um processo ativo de interação entre o encéfalo e o ambiente. Perceber 
envolve, além de interpretar sensações, um agir sobre o ambiente – mover os 
olhos, mover a cabeça ou tocar objetos. 
 
Sensações cutâneas 
As sensações da pele incluem: 
� Tato 
� Dor 
� Temperatura 
 
As informações táteis são categorizadas como tato fino e tato grosseiro. 
O tato fino inclui vários receptores e diversos subsensações. Os receptores 
superficiais para o tato fino têm campos receptivos pequeno, possibilitando a 
resolução de estímulos bem próximos. O tato grosseiro é mediado por 
terminações livres em toda a pele. Essas terminações nervosas livres suprem 
informações percebidas como tato ou pressão grosseiramente localizado e as 
sensações de cócegas. Nociceptores são terminações nervosas livres 
localizadas na pele, sensíveis a estímulos que lesam os tecidos ou os colocam 
em risco.Os nociceptores fornecem informações percebidas como dor. Os 
receptores térmicos, também são terminações nervosas livres, respondem ao 
calor ou frio dentro de limites de variação de temperatura que não lesam os 
tecidos. 
Embora os receptores cutâneos não sejam receptores proprioceptivos, 
as informações dos receptores cutâneos contribuem para a nossa percepção 
da posição e do movimento das articulações. A contribuição dos receptores 
cutâneos é basicamente cinestésica, respondendo à distensão da pele ou a 
uma pressão crescente sobre a pele. 
 
TEXTO: O SISTEMA TÁTIL (The tactile systems) 
 
O sistema tátil é nossa sensação de toque. É através do sistema tátil 
que nós recebemos a primeira informação sobre o mundo. Processando esta 
informação efetivamente sentimos uma sensação de segurança, nos 
permitindo criar vínculos com aqueles que nos amam e assim nos 
desenvolvermos socialmente e emocionalmente. 
O sistema tátil é composto por dois sistemas, o discriminativo e o 
protetivo. O sistema discriminativo nos permite determinar onde nós estamos 
sendo tocados e o que está nos tocando. A discriminação precisa requer o 
registro do input sensorial sem defensividade sensorial. O sistema protetivo nos 
indica quando estamos em contato com algo perigoso e que nos causa reações 
de fuga, susto, ou uma reação de defesa, na qual mente e corpo está 
envolvido. Estas respostas acontecem em uma hierarquia. Quando nós 
sentimos tensão frente a uma situação de perigo, nós tentamos escapar. Se a 
tensão continua, nós podemos começar demonstrar sinais de medo, respiração 
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alterada e aumento do ritmo cardíaco, excitação, palidez, ou perda de nossa 
habilidade para mover-se. As crianças podem lamentar, podem chorar, ou 
podem se tornar demasiadamente arredias. Finalmente, se nós estamos 
tensos, estressados, nós fugimos. O sistema discriminativo e protetivo é 
extremamente importante para a interpretação da informação, bem como para 
a sobrevivência. Para que o sistema tátil funcione eficazmente, o sistema 
discriminativo e o protetivo devem perceber a informação corretamente e 
trabalhar em equilíbrio. 
É provável que crianças com disfunção do sistema tátil, tenham 
dificuldade para aprender habilidades motoras finas porque é através do 
sistema discriminativo que o cérebro recebe o feedback necessário para o 
desenvolvimento do sentir, vestir, escrever, e outras habilidades motoras. Além 
disso, as crianças com esta disfunção podem ter problemas de articulação

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