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FUNDAMENTOS DA ZOOTECNIA SUMÁRIO • Fundamentos da Zootecnia Mensagem do Fundador04 06 Nutrição Animal Importância Social e Econômica da Zootecnia no Brasil e no Mundo 22 40 64 78 Equinocultura Avicultura de Corte Avicultura de Postura SUMÁRIO 96 119 • Fundamentos da Zootecnia Bovinocultura de Corte Suinocultura Reprodução dos Animais Domésticos Escrituração Zooteécnica/Serviço de Registro Genealógico dos Animais Bovinocultura de Leite Ovinocultura Caprinocultura 144 164 189 211 236 4 • Fundamentos da Zootecnia MENSAGEM DO FUNDADOR O CESCAGE é uma instituição que acredita no poder transformador da educação. É muito mais do que ensinar; é abrir caminho para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Chegamos até aqui graças ao trabalho e dedicação de centenas de pessoas que oferecem o seu melhor para que o acadêmico receba uma formação completa e comprometida com o futuro. Temos orgulho de possuir mais de 3 mil alunos formados ao longo de 20 anos de existência. Temos um compromisso sério com a sociedade. Nossa razão de ser é contribuir para que todos sejam atingidos direta e indiretamente com nosso trabalho. É maravilhoso visualizar o acadêmico interagindo com a sociedade através das clinicas de odontologia ou fisioterapia; sem falar da preciosa ajuda que a sociedade tem à disposição através do Núcleo de Prática Jurídica, totalmente de graça para todos que precisarem de apoio jurídico. O CESCAGE recebe há vários anos o Selo Social Ouro, um reconhecimento da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa pelo trabalho em responsabilidade social. É um tesouro imenso que recebe a cidade, os funcionários, os alunos e toda a região dos Campos Gerais. Você tem nas mãos agora um poderoso instrumento: este material de apoio produzido pelo Núcleo de Ensino a Distância do CESCAGE. Desejamos que você possa aproveita-lo da melhor maneira, pois trouxemos o que há de melhor nas inovações gráficas e visuais para que você seja o principal privilegiado. Nós acreditamos em você.E temos a certeza de que você tem todas as condições para ser um grande profissional. Bons estudos! Prof. Tit. Pós Ph.D. Dr José Sebastião Fagundes Cunha Desembargador do TJPR Fundador do GRUPO CESCAGE. 5 • Fundamentos da Zootecnia CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS Coordenador Geral Pedagógico: Prof. Titular Pós-Ph.D. Desembargador J.S. Fagundes Cunha Coordenadora Geral: Drª Érika Zanoni Fagundes Cunha Ponta Grossa, 2020 6 • Fundamentos da Zootecnia MÓDULO 1 Objetivo Específico Conscientização do papel da Zootecnia como uma atividade agropecuária primordial para expansão da pecuária no Brasil e no mundo, suprindo informações relevantes ao conhecimento atualizado do potencial dessa forma de criação, dos nichos não explorados, das tendências e de suas potencialidades. O que é Empreendedorismo? Introdução ao Geoprocessamento Noções de Floricultura: Aspectos Econômicos e Sociais da Floricultura, Sistemas de Produção de Plantas Ornamentais e Principais Espécies de Plantas Ornamentais Planejamento e Exploração de Aves Importância Social e Econômica da Zootecnia no Brasil e no Mundo 7 • Fundamentos da Zootecnia Evolução da Zootecnia Institucionalização da Zootecnia 1.1 1.2 A criação dos animais domésticos foi uma das primeiras realizações do homem primitivo, na idade da Pedra Polida, cerca de 7.000 anos a.C. De acordo com os estudos de Heiser Júnior (1977) a agricultura teve suas origens no Oriente Médio, nas regiões montanhosas e semiáridas, onde instrumentos de trabalhos como foices de sílex e moinhos de pedras foram encontrados indicando que antes de 8.000 anos a.C. o homem começou a colher grãos naturais e cerca de mil anos depois, já cultivava esses grãos e possuía animais domésticos. Segundo Dominguez (1982) uma das primeiras realizações do homem primitivo foi criar animais, concomitante ao cultivo dos vegetais, quando deixou de ser nômade (caçador e pescador) e se tornou sedentário, passando a ser pastor e agricultor, com a finalidade de satisfazer a nutrição e proteger-se contra o frio. O primeiro contato pacífico do homem com os animais foi criá-lo com intuito religioso o Totemismo (zoolatria). Por outro lado, com a indisponibilidade de alimentos espontâneos (frutos silvestres, caça e peixe) próximos às aldeias, o homem primitivo começou a criar os animais para utilizá-los como alimento. A Arte de Criar apareceu com as primeiras necessidades da humanidade. No seu evoluir, a criação do gado passou primeiro por uma fase empírica e depois entrou em uma fase científica, que atualmente se encontra, na fase técnica de caráter científico. O ensino formal da produção animal nasceu em 1848 na França, com a criação do Instituto Agronômico de Versailles, pelo Conde de Gasparin, de uma disciplina destinada ao estudo dos animais domésticos como um corpo independente de doutrinas denominada como Zootechnie, do grego: zoon = animal, e technê = arte, Zootecnia no português, desligando-se do ensino vigente da Agricultura geral. Os candidatos às disciplinas de professor de Zootecnia deviam expor numa tese, os planos de ensino da matéria que desejavam lecionar; desta forma em fins de 1849, um jovem naturalista chamado Émile Baudement, conquistou a aprovação unânime dos membros do júri, pelas suas ideias inovadoras, explicando em sua dissertação, que a Zootecnia é uma ciência que explica os acontecimentos para constatar os fatos: »Dire que la Zootechnie est une science c´est exprimer un voeu et un besoin plutôt que constater un fat», 8 • Fundamentos da Zootecnia isto é: o animal doméstico é uma máquina viva transformadora e valorizadora dos alimentos. Portanto, a Zootecnia deixou de ser somente uma prática que se aprendia como “lida” com o gado, para ser também uma arte ou ciência aplicada que se apreende observando e experimentando, conforme definiu Cornevin em 1881. A Zootecnia então entendida como ciência complexa deveria evoluir sendo ensinada nas universidades e centros de altos estudos, dispersado pelo mundo civilizado (FERREIRA et al., 2006). A expressão Zootecnia veio inicialmente a ser adotada somente pelos povos de origem latina e alemã, porquanto os ingleses (nos países de língua Inglesa o termo foi substituído pela nomenclatura Animal Science). Na linguagem científica do século XIX e na primeira metade do XX passou-se a empregar com mais intensidade o termo Zootecnia (BAILEY.1989) Assim surgidas formalmente na Europa como consequência ao impulso dado pela Revolução Industrial, as Ciências Agrárias, incluindo a Zootecnia, definiram rapidamente seu objeto de trabalho tanto como Ciências da órbita acadêmica quanto como profissões específicas. Com o surgimento das profissões agrárias, nomeadas de agricultura científica gerada pela agricultura prática, tentava- se articular os desenvolvimentos regidos nas ciências básicas (química, biologia, botânica, zoologia e genética) à solução dos problemas práticos próprios das atividades agropecuárias. Alguns autores têm sugerido que a consolidação das Ciências Agrárias e de suas profissões associadas, além das novas práticas agrícolas que surgiram a partir de seu desenvolvimento, foi possível porque a sociedade europeia estava procurando mudanças nas técnicas agropecuárias. A Zootecnia se revelou na sua própria evolução de significado, que como Ciência dedicada ao estudo da criação dos animais, tendo em vista a sua produção de bens e serviços para a sociedade, incluindo a industrialização dos mesmos, atinge mais que àqueles animais circunscritos como domésticos, permeia os animais úteis ao homem, inscrevendo-se além dos animais de produção ou de interesse econômico aos de preservação ou conservação. É definida como Ciência que estuda e revela os acontecimentos dos animais sem limites em função do bemestar do homem que assumiu uma alta relevância no desenvolvimentoda área de conhecimentos nas regiões tropicais do planeta: a adaptação dos animais ao clima (FERREIRA et al., 2006). A Zootecnia no Brasil é definida de modo diferente quando comparada com o outro hemisfério, para os brasileiros a Zootecnia, ela não é apenas “a ciência da produção e da exploração das máquinas vivas”, como a definiu Sanson. A Zootecnia dos trópicos, e que pode – se enunciar nos seguintes termos: “É a ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório, e deste aquele” Domingues em 1929. Em 1929 a Zootecnia foi definida como: “Ciência aplicada, que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório, 9 • Fundamentos da Zootecnia e deste ambiente ao animal”. Portanto, é a ciência que estuda e aperfeiçoa os animais domésticos e ou de interesse zootécnico em seus aspectos genéticos, nutricionais e de ambiente, visando o aprimoramento da produção de maneira racional. Profissão que está inserida nas atividades econômicas (Produção x produtividade, rentabilidade ao produtor) e sociais (geração de empregos, fixação do homem no campo, produção de alimentos) mais importante do país (SALAS et al., 2010). Objetivo da Zootecnia Zootecnia Geral 1.3 1.4 Utiliza-se de princípios teóricos e práticos para criar e orientar a produção de animais domésticos e outras espécies de interesse econômico, desde a sua origem e domesticação, multiplicação até a sua exploração econômica. Utiliza-se de outras ciências para alcançar seu objetivo, tais como: Biologia para compreender o que se relaciona com a vida do animal; Nutrição Animal para o estudo da formulação de rações para a alimentação animal; Bioquímica para atender aos processos bioquímicos que ocorrem nos animais; Ecologia para o estudo do meio ambiente; Agronomia para o estudo do solo; Forragicultura para o estudo das pastagens a serem usadas na alimentação; Matemática para o registro e análise das provas de desempenho; Estatística para estudar, analisar e correlacionar o comportamento dos fenômenos da produção; Agro-Climatologia para o conhecimento dos elementos com os quais se possa estabelecer a seleção dos animais e do meio ambiente (SALAS et al., 2010). Para fins didáticos, a Zootecnia é subdividida em Zootecnia Geral e Zootecnia Especial (FERREIRA et al., 2006). Estuda os animais domésticos como seres vivos que sofreram evolução e passaram por um processo de domesticação; e apresentam características próprias de natureza étnica e zootécnica, que se deixam influenciar, como todos os seres vivos, pelos diversos fatores ambientais (clima) e artificiais (regulados pelo homem: alimentação e ginástica funcional produtiva) e se reproduzem conforme as leis da hereditariedade e, sujeitos a sofrerem melhoramento genético ou racial. Estuda as normas comuns a todas as espécies de interesse zootécnico. 10 • Fundamentos da Zootecnia 1.4.1 Zootecnia Especial São estudados processos e regimes de criação, variáveis com a finalidade da exploração e o destino dos produtos, com a qualidade dos animais a multiplicar, e com as potencialidades do ambiente criatório. É o estudo individualizado, tendo cada espécie uma técnica ou cultura própria. Assim, surge a Zootecnia de cada espécie doméstica, cada uma com sua denominação particular: Bovinocultura, Bubalinocultura, Ovinocultura, Caprinocultura, Equideocultura, Suinocultura, Cunicultura, Avicultura, Estrutiocultura, Coturnicultura, Apicultura, Sericicultura, Piscicultura, Canicultura, Felinocultura ou mesmo, daquelas que, embora não ainda consideradas domésticas, sejam exploradas racionalmente, como por exemplo, a Ranicultura, ou criação de rãs; a Carcinicultura ou criação de crustáceos; a Minhocultura, ou criação de minhocas (SALAS et al., 2010). Importância da Zootecnia 1.5 A Zootecnia como ciência investiga, por meio da observação e da experimentação, os fenômenos biológicos aos quais estão sujeitos os animais domésticos, em determinado ambiente natural ou artificial. Entretanto, não se trata de uma ciência pura, sendo dependente de outras ciências para desenvolver-se. Portanto, além do conhecimento individual, proporcionado pela Anatomia e Fisiologia Animal, a Zootecnia se fundamenta em ciências auxiliares quando da adaptação, alimentação, melhoramento e sanidade animal, gerenciamento da produção e tecnologia de alimentos, destacando-se na Adaptação (Climatologia - Zooclimatologia e Bioclimatologia), Etologia; Alimentação: Nutrição (Bromatologia), Forragicultura, Botânica, Bioquímica, Química e Edafologia; Melhoramento Genético Animal: Genética, Estatística, Bioestatística, Matemática e Informática; Sanidade: Medicina Veterinária; Gerenciamento da Produção: Economia e Administração; Tecnologia de Alimentos: Engenharia de Alimentos (SALAS et al., 2010). 11 • Fundamentos da Zootecnia Relação da Zootecnia com outras Ciências 1.6 Para o perfeito exercício das atividades na área de Zootecnia, exige-se identidade profissional, determinada pelo Núcleo de Conteúdos Profissionais Essenciais, integrando as subáreas de conhecimento que identificam atribuições, deveres e responsabilidades, segundo Fonseca (2001), assim constituído: Anatomia Descritiva dos Animais Domésticos; Agronomia; Bioclimatologia Zootécnica; Bioquímica; Biotecnologia Animal; Bromatologia; Comunicação e Extensão Rural; Construções Rurais; Economia e Administração Agrária; Ética e Legislação; Ezoognósia e Julgamento Animal; Fisiologia Animal; Pastagens e Forragicultura; Genética e Melhoramento Animal; Gestão de Recursos Ambientais; Gestão Empresarial e Marketing; Industrialização de Produtos de Origem Animal; Instalações e Equipamentos Zootécnicos; Matemática; Mecânica e Máquinas Agrícolas; Meteorologia e Climatologia Agrícola; Microbiologia Zootécnica; Nutrição, Alimentação e Formulação de Rações; Política e Desenvolvimento Agrário; Produção Animal; Profilaxia e Higiene Zootécnica; Reprodução Animal; Sociologia Rural; Solos e Nutrição de Plantas; Técnicas e Análises Experimentais (SALAS et al., 2010). Fonte:http://zootecnistaz.blogspot.com.br/2012/05/voce-sabe-o-significado-do-simbolo-da.html O êxito da Zootecnia é o resultado do processo de domesticação dos animais que acompanham os homens desde os primórdios de sua civilização. http://zootecnistaz.blogspot.com.br/2012/05/voce-sabe-o-significado-do-simbolo-da.html 12 • Fundamentos da Zootecnia O Processo de Domesticação no Comportamento dos Animais de Produção 1.7 A domesticação é uma das maiores realizações da humanidade (Murphey e Ruiz-Miranda, 1998). No contexto histórico da domesticação, as reações emocionais dos animais em relação ao homem, como a tendência de fuga ou da agressão, provavelmente desempenharam importante papel na definição da espécie escolhida para ser domesticada. Diversas definições para domesticação podem ser encontradas na literatura dede 1868 sugerido por Darwin a 2002 sugerido por Gillespie. Mas há um consenso que a domesticação é um processo que inclui contínua associação entre o homem e os animais (Haber e Dayan, 2004). Assim, observa-se uma dificuldade em formular uma definição para domesticação pelos muitos fatores que contribuem para esse processo, podendo ser significativo em termos evolutivo e biológico. De acordo com Bertoli (2008) a domesticação é o ato de tornar domésticos os animais selvagens. A expressão “doméstico” vem do latim Domus = Casa, domésticos, são os animais que convivem com o homem, na sua casa ou dependência, estabelecendo com ele uma simbiose permanente através das gerações. O homem proporciona a estes animais cuidados e alimentação e, em troca, recebe utilidades. Uma espécie é doméstica quando o homem conhece profundamente a sua biologia e sobre ela tem domínio, a ponto de poder reproduzi-la e/oumanipulá-la comercial ou cientificamente. É comum confundir-se animal doméstico com animal amansado, como é o caso de papagaios, macacos, cotia, entre outros. Porém estes não podem ser incluídos no grupo dos bois, cavalos, carneiros, cabras, cães, gatos, que são espécies verdadeiramente domésticas. O animal amansado é um indivíduo, e o doméstico é uma espécie inteira ou um grande grupo representativo. O animal amansado é um indivíduo que perdeu sua agressividade frente ao homem, ou por domínio da força ou por reconhecimento da falta de perigo que este passa a representar. O amestramento também não pode ser confundido com a domesticação uma vez que se resume a ensinar (amestrar – obedecer ao mestre) alguma ação a um animal, seja este doméstico ou selvagem, amansado ou bravio (BERTOLI, 2008). A domesticação foi uma consequência da própria criação dos animais, realizada pelo homem primitivo para satisfazer suas necessidades, entre elas, de companhia, de alimentação, de agasalho e religiosa, estando de acordo com Wilfordd (1958 13 • Fundamentos da Zootecnia apud Bertoli, 2008) que afirmou que a domesticidade está estreitamente ligada ao misticismo, com sacrifício de animais, como oferenda aos deuses, fornecendo carne para os banquetes cerimoniais. O homem primitivo, agindo mais por instinto do que por experiência (resultado do desenvolvimento da inteligência), estava mais próximo dos animais e lhe foi fácil conviver com eles, amansá-los, introduzindo-os na domesticidade. Este processo foi longo e atravessou gerações até estar concluído. O primeiro animal a ser domesticado pelo homem foi o cão, no período neolítico, na idade da pedra polida, na região da Dinamarca. O cão se aproximou do homem em busca dos restos de comida e foi utilizado pelos nossos ancestrais primeiramente como alimento. Posteriormente o homem percebeu que o cão era um bom caçador, passando a aprender técnicas de caça com ele. Na sequência foi utilizado como pastor e também como companhia. Atualmente, além destas funções o cão é utilizado como instrumento de defesa. Logo após, as cabras/bodes foram domesticados na Ásia, devido principalmente à produção de leite que serviria como alimento. Vieram então a ovelha/carneiro (Ásia e Europa), os bovinos (europeus – Europa, zebuínos – Ásia) e o búfalo (Ásia). Este último ainda não é considerado doméstico, mas semi- doméstico, já que retorna facilmente ao estado selvagem quando restituído ao seu habitat original. Ainda no período neolítico (idade da pedra polida – 12 a 4 mil anos a.C.) o suíno foi domesticado na Ásia e Europa em busca de carne e banha e o burro domesticado no noroeste da África (BRUFORD et al., 2003). Mais tarde, já na idade do bronze os homens da Ásia e da Europa domesticaram o cavalo e no Tibet e Etiópia se tem indícios da domesticação do jumento. Não se tem muita informação sobre a domesticação americana do cavalo. O coelho foi domesticado bem mais recentemente, na península Ibérica pouco antes do início da Idade Média. Depois disso vieram a galinha, o marreco, o pato, o peru e a carpa (BERTOLI, 2008). Fases da Domesticação 1.8 Para atingir o estado de domesticação a espécie animal deve passar por três fases: 1ª - Prisão ou cativeiro - Na qual é tirada a liberdade do animal. Onde o homem mantém o animal preso, porém dele não obtém lucro ou serviço. É o caso dos mamíferos dos parques e jardins zoológicos, viveiros, gaiolas. 2ª - Mansidão - Na qual o animal se sujeita ao homem. É a fase de convivência pacífica entre homens e animais, onde os animais já prestam serviços inestimáveis ao homem, embora não sendo domésticos. É o caso dos elefantes na Índia e na África, em estado bem próximo à domesticação, porém sua biologia não permite a transição para o próximo estágio. 14 • Fundamentos da Zootecnia 3ª - Domesticidade - Na qual a espécie (não mais o indivíduo) se submete ao homem. É o estado de simbiose no qual se acham os animais domésticos e o homem. Domesticação é ao ato de tornar domésticos os animais selvagens. Neste estado os animais vivem voluntariamente presos ou quase são naturalmente mansos e presta serviços, de tal forma que, sem eles seria difícil a vida do homem civilizado Segundo Wilkens (1888 apud Salas et al., 2010) pode-se distinguir duas fases de domesticação - Fase Primária - chamada de remota que ocorreu na Pré-história. - Fase Secundária - recente já em plena civilização e diz respeito às espécies de menor importância. Ex: Abelha, pato, galinha, avestruz, faisão e coelho. Estes animais são chamados semi-domésticos. O Estado de Semi-Domesticidade é o estado transitório de certas espécies que, pelo seu comportamento, não podem ser considerados completamente como domésticos. É o caso do búfalo e rena, que voltam ao estado selvagem com relativa facilidade. Alguns estudiosos consideram duvidosa a domesticação de alguns animais como os peixes, ostras, abelhas e até o bicho da seda. A domesticidade é uma qualidade hereditária, inata a certas espécies e resultante de atributos, inerentes à espécie, que são: 1-Sociabilidade: viver em grupos 2-Mansidão: ausência do instinto selvagem hereditariedade 3-Fecundidade em Cativeiro: perpetuação da espécie em cativeiro 4-Função. Especializada: como carne, leite ou lã 5-Facilidade de adaptação Ambiental: mudanças de ambientes, que são comuns durante a domesticação. Sem satisfazer as condições acima, o animal não pode ser domesticado, como acontece com o elefante, que é sociável, de índole mansa, mas não se reproduz facilmente em cativeiro. O número de espécies domésticas é, limitado, havendo para cada 1000 selvagens, entre mamíferos e aves, apenas uma doméstica. No entanto, tentativas para aquisição de novas espécies domésticas continuam a ser feitas, como com no bisão americano, antílopes, veados, raposas, roedores, aves e peixes. Existem pelo menos duas hipóteses para explicar o modo como os animais foram domesticados pelo homem ao longo de sua história. Uns dizem que foi à força, enquanto outros creem que a domesticação se deu por meios pacíficos. A primeira hipótese se baseia em representações antigas, mostrando as várias fases do amansamento dos animais, e nas dificuldades que se encontram ainda hoje no adestramento de algumas espécies, como o cavalo (BERTOLI, 2008). A segunda afirma que os animais domésticos eram naturalmente mansos, pois não tinham o homem como seu predador, sendo o homem o culpado pelo medo que hoje eles demonstram, por terem sido perseguidos e maltratados. Os animais herbívoros e mesmo o lobo (ancestral do cão), nas ocasiões de intempéries e escassez, teriam procurado abrigo e restos de comida junto aos homens, que os retiveram, a princípio por curiosidade 15 • Fundamentos da Zootecnia ou diversão e, descobrindo neles certas utilidades, teriam aprisionando-os, multiplicando-os em cativeiro. O mais provável é que ambas as teorias estejam corretas, onde em certos casos os animais se deixaram amansar facilmente e em outros tenha havido a necessidade do emprego da força. Ao longo do tempo algumas espécies sofreram profundas modificações morfológicas, fisiológicas e psicológicas, ao passo que em outras essas transformações foram pequenas. As causas das modificações foram, provavelmente, a mudança do meio e do regime, através da seleção natural e a seleção artificial exercida pelo homem (SALAS et al., 2010). Fatores que Influenciaram na Domesticação 1.9 Segundo Fox (1968) os principais fatores que influenciaram diretamente no comportamento e nos mecanismos inatos do processo de domesticação foram: 1 Trocar o ambiente natural por um artificial ou similar ao natural, 2 Seleção genética: a – docilidade e manejo influenciam na escolha da espécie que poderá ser domesticada. As bases do temperamento e comportamento são herdadas e controladas por genes; b- seleção por adaptabilidadee/ou adaptação a diferentes ambientes domésticos, diferenças regionais, climáticas e nutricionais; c - seleção para aumentar as características econômicas desejáveis – alta fertilidade, rápido crescimento, eficiência em conversão alimentar e alta produção de leite; d seleção para prolongar o estado infantil; e- redução seletiva das características selvagens através de seleção dos neonatos; e f - cruzamento seletivo entre as raças mais produtivas e as raças mais adaptadas. Segundo Price (1984 e 1999) os mecanismos seletivos atuantes nesse processo de domesticação seriam: 1 a seleção artificial exercida intencionalmente ou não pelo domesticador (exemplo: a escolha para reprodução dos animais mais dóceis); 2 a diminuição da pressão seletiva que atua no ambiente natural (ainda que diminuída, esta pressão pode atuar em determinados comportamentos, como o comportamento reprodutivo); 3 os endocruzamentos e a restrição de trocas gênicas entre populações que favorecem uma ou poucas características, diminuindo a variabilidade gênica da população. Os efeitos da domesticação têm sido avaliados através de comparação em estudos transversais e longitudinais de espécies domesticadas e selvagens em condições padronizadas. As diferenças encontradas podem ser de caráter: 1 morfológico, como as mudanças no tamanho do corpo e no padrão de crescimento e internamente na 16 • Fundamentos da Zootecnia diminuição do intestino (Diamond, 2002; Haber e Dayan, 2004) 2 comportamental, como a sensação de medo reduzida e a sociabilidade aumentada (Price, 1999) e 3 fisiológica, como as respostas endócrinas no ciclo reprodutivo e maturidade sexual precoce (SETCHELL, 1992; JENSEN, 2006). Em relação à morfologia, com o relaxamento da seleção natural e dos predadores na maioria das espécies domésticas, a cabeça e o tamanho do cérebro diminuíram e os órgãos do sentido ficaram menos aguçados do que nos animais selvagens. Cérebro desenvolvido e olhos com visão aguçada são essenciais à sobrevivência dos animais selvagens, mas para os animais domésticos representa um desperdício importante de energia (Diamond, 2002). Foram observados em bovinos uma redução contínua no tamanho do corpo, embora sem mudança na forma (HABER E DAYAN, 2004). Nos aspectos fisiológicos em relação ao processo de domesticação, Setchell, (1992) relatou mudanças nas respostas endócrinas e no ciclo estral dos animais de produção como bovinos, ovinos e suínos. Com respeito ao comportamento, pode ser discutido que a domesticação resultou principalmente dentro do aspecto quantitativo em lugar de mudanças qualitativas. Características do comportamento não aparecem e desaparecem, mas sim, as mudanças das expressões dos limiares (PRICE, 1999). Comportamento Reprodutivo na Domesticação 1.10 Em muitos aspectos, os animais domésticos diferem do seu comportamento dos animais selvagens. Alguns pesquisadores após trabalhar com animais selvagens observaram que os animais domésticos apresentaram uma degeneração, ou seja, perderam os rituais do comportamento sexual dos animais selvagens e ficaram mais juvenis (BEILHARZ, 1985). Os padrões comportamentais estão associados à corte e à cópula, ao nascimento, ao cuidado materno e às tentativas de amamentação do filhote recémnascido. Estes padrões de comportamento têm sido abandonados pela domesticação e restringidos ou modificados pelas condições impostas de acordo com as necessidades do manejo zootécnico. Tais manejos incluem o confinamento em piquetes, currais ou baias; a segregação sexual; as coberturas controladas; os partos por cesariana; a desmama forçada; a proximidade imposta com outros indivíduos; e a inevitável presença de humanos, cães e maquinaria ou equipamentos (HAFEZ e HAFEZ, 2004). O fato é que os animais domésticos mudaram rapidamente o 17 • Fundamentos da Zootecnia seu comportamento em curto tempo evolutivo. Beilharz (1985) relatou que o comportamento inato é capaz de mudar através das gerações e sofrer modificações ambientais. Esta mudança de comportamento dos animais domésticos é devido à crescente escolha dos reprodutores que é praticada de acordo com o manejo das propriedades, com isso não permitindo que os animais escolham o seu parceiro sexual e possam ter um namoro mais prolongado (BEILHARZ, 1985). Os animais domésticos são mais precoces do que os selvagens (MignonGrasteau et al., 2005). Assim, os animais domésticos respondem espontaneamente à necessidade de se acasalar rapidamente com o companheiro escolhido pelo homem e frequentemente reproduzem em uma estação favorável de produção de alimentos (Beilharz, 1985). Na família Bovidae, um dos fatores que determinou a domesticação foi o fato deles serem poligâmicos. A poligamia foi uma característica favorável à domesticação por causa de poucos machos poderem emprenhar muitas fêmeas (MURPHEY e RUIZ-MIRANDA, 1998; HAFEZ e HAFEZ, 2004). Em relação ao comportamento sexual das búfalas não foram observadas diferenças no comportamento das búfalas selvagens e das domesticadas (BARUSELLI, 1992; TULLOCH, 1992). De acordo com Setchell (1992) os animais selvagens apresentam uma atividade reprodutiva estacional, condicionada pela necessidade de coincidir o parto e a desmama com uma estação climática que satisfaça as exigências de temperatura e alimento da prole. Esta característica se perde durante o processo de domesticação, mas ainda se encontra presente em algumas espécies (Bastianetto et al., 2005). As ovelhas domésticas são menos sazonais que as ovelhas selvagens, mas a maioria das raças domésticas ainda retém um padrão sazonal significativo (Setchell, 1992). Por outro lado, os búfalos apresentam estacionalidade reprodutiva mesmo quando estão em locais com boa disponibilidade de alimento durante todo o ano. A manifestação da estacionalidade reprodutiva nos búfalos é influenciada pelo aumento da distância da linha do Equador (ZICARELLI, 1997). Em bovinos, não há nenhum efeito sazonal nos animais domesticados, mas sabe-se que os selvagens eram sazonais. Na Europa, porcos selvagens têm um padrão sazonal de reprodução, em contraste à maioria dos porcos domésticados (SETCHELL, 1992). O comportamento reprodutivo é o que mais evidencia as mudanças ocorridas no processo de domesticação dos animais em relação aos seus antepassados selvagens. Essas mudanças podem ser explicadas pelas diversas biotécnicas reprodutivas que estão sendo utilizadas em animais de produção. 18 • Fundamentos da Zootecnia Comportamento Materno na Domesticação 1.11 Em animais selvagens o comportamento materno é essencial à sobrevivência dos filhotes e nos animais domesticados este comportamento não é tão essencial. Isto pode ser devido a que algumas práticas-padrão interferem nas ligações maternas entre fêmeas e filhotes como, por exemplo, a separação precoce do recém-nascido de sua mãe, como ocorre em gado leiteiro ou na produção de leitões, que induz à modificação do comportamento dos animais jovens (Mignon-Grasteau et al., 2005). De acordo com os mesmos autores, na maioria das espécies de bovídeos selvagens as fêmeas parturientes deixam o rebanho e se isolam durante a parição e o período pós-natal imediato. A maior parte dos procedimentos de manejo após a domesticação impede a realização desses comportamentos e com isso aumenta as chances de interferência de outros membros do rebanho. Em ovelhas a domesticação diminuiu: a- o isolamento dos animais durante a parição; b- as lambidas imediatas nos cordeiros recém-nascidos; c- defesa dos cordeiros dos predadores; e d- teor de lipídio mais no colostro do que nas ovelhas selvagens segundo Dwyer e Lawrence (2005). Por outra lado, Dwyer et al., (1998) relataram que as ovelhas de uma linhagem pouco selecionada vocalizam mais em resposta ao afastamento de seus filhotes do que as ovelhas de uma linhagem altamente selecionada.Entretanto, os cordeiros de linhagem mais selecionada apresentaram maior taxa de vocalização em resposta à separação de suas mães do que os cordeiros de linhagens menos selecionadas. Outro padrão diferencial é que os cordeiros domesticados são mais lentos em ficar de pé e dar a primeira mamada e de reconhecer a mãe do que os selvagens (DWYER E LAWRENCE, 2005). O processo de domesticação dos suínos foi baseado na seleção pelo crescimento rápido, pela qualidade e quantidade de carne, pelo número de leitões desmamados por ano, mas teve pouca influência em relação à habilidade materna. Gustafsson et al., (1999) estudaram o comportamento materno das porcas, avaliaram a construção de ninho comparando porcas domésticas e selvagens, estes autores não encontram diferença entre a frequência ou padrão do comportamento na construção do ninho entre os animais selvagens e os domesticados. Contudo, as porcas domésticas permitiram que os leitões massageassem o úbere durante um tempo mais longo depois da expulsão do leite do que as porcas selvagens. Gustafsson et al., (1999) e Spinka et al., (2000) concluíram que 19 • Fundamentos da Zootecnia existem semelhanças significativas no comportamento materno das porcas selvagens e das porcas domésticas. Essas semelhanças poderiam indicar que as porcas selvagens se adaptaram à proteção humana e que a habilidade materna em porcas não foi modificada substancialmente pela domesticação. Comportamento Alimentar na Domesticação Comportamento Social na Domesticação 1.12 1.13 Na natureza, os animais gastam grande parte do seu tempo e energia procurando comida e água. Assim, o comportamento alimentar apresenta um alto custo energético, induzindo estratégias que são otimizadas nas condições selvagens na busca por alimento. Nos animais domésticos estes custos foram reduzidos (Gustafsson et al., 1999; Andersen et al., 2006). A maioria dos animais em cativeiro é dependente do homem para providenciar a sua dieta apropriada, que é frequentemente uniforme e sazonal. Em cativeiro, a comida e a água são providas frequentemente em um único local e em suficientes quantidades de forma que o tempo e energia gastos para alimentar o animal, são aparentemente reduzidos, quando comparados ao dos animais selvagens (MIGNON-GRASTEAU et al., 2005). Gustafsson et al., (1999) estudaram porcos híbridos de animais selvagens (Holland Landracc x Wild boar) e porcos domésticos (Sus scrofa), identificando que os porcos híbridos tenderam a usar uma estratégia de procura de alimento mais exigente quando comparado com os porcos domésticos. Portanto, os porcos selvagens gastaram mais energia quando comparados aos porcos domésticos. A maioria das espécies domesticadas é constituída de animais naturalmente sociais que vivem em grupos numerosos, altamente organizados com uma hierarquia social estável. Pode-se observar essa hierarquia nas cabras (Barroso et al., 2000) nos búfalos (Tulloch, 1992) e nos bovinos (LAZO, 1994) As cabras selvagens possuem uma complexa e forte hierarquia linear e vivem em grupos sociais grandes (BARROSO et al., 2000). Os búfalos africanos, (Syncerus caffer) (Sinclair, 1977 apud Lazo 1994) apresentaram grupos sociais altamente estáveis, aumentando provavelmente 20 • Fundamentos da Zootecnia os benefícios entre os indivíduos como à eficiência alimentar e nos processos biológicos como a reprodução. Nos bovinos há uma organização hierárquica, observando-se que os jovens machos são menos aderentes aos grupos femininos e as fêmeas permanecem mais perto das mães, concluindo uma relação matriarcal com afinidades específicas entre as fêmeas (Lazo, 1994). Para os animais domésticos, a estrutura do grupo social frequentemente inclui animais do mesmo sexo ou idade. A característica de organização dos animais em grupos sociais foi um atributo que favoreceu a domesticação, entretanto, resultou na interferência das relações sociais com o homem que controla a reprodução e a produção (MIGNON- GRASTEAU et al., 2005). Os resultados destas interferências podem ser relatados no processo de seleção para aumentar crescimento de animais afetando comportamento social. Esse processo de seleção pode aumentar ou diminuir a agressão (BRANNAS et. al., 2005). Em ovelhas e cabras domésticas, observou-se uma diminuição da resposta ao predador (ex. a distância de fuga mais curta, tempo de reação mais lenta) do que as ovelhas e as cabras selvagens (HANSEN et al., 2001; HEMMER, 1990). As causas destas modificações ainda não são totalmente conhecidas. Acredita-se que sejam de natureza endógena (mudanças na parte germinal ou hereditária dos animais - por seleção natural, mutação gênica ou cromossômica ou ainda recombinação) - cruzamentos das espécies e raças as causas diretas destas transformações. O meio ambiente e a seleção artificial realizada pelo homem seriam as causas indiretas. De todas as modificações sofridas pelos animais domésticos, as mais importantes são aquelas relacionadas com as funções de produção. Assim a precocidade e a velocidade de ganho de peso nos animais para corte; a aptidão leiteira altamente desenvolvida na vaca e na cabra; a postura elevada na galinha e na marreca; a prolificidade na porca e na coelha; a velocidade no cavalo de corrida; a força tratora no cavalo de tiro, no boi de canga e no burro; foram aptidões altamente especializadas com a domesticação, atingindo, às vezes, um ponto dificilmente ultrapassável. Estas aptidões, das quais resultam utilidade ou serviço para o homem, são chamadas funções econômicas. Com a domesticação, algumas forças existentes nas populações selvagens passaram a atuar mais intensamente. Tais forças ou mecanismos são: a consanguinidade, o cruzamento e a seleção. Além desses mecanismos, a interferência do homem sobre o ambiente criatório e/ou o transporte dos animais domésticos para outros ambientes provocou diferenças nos caracteres morfológicos e fisiológicos dos animais na medida em que os afastou de seu habitat de origem (SALAS et al., 2010). 21 • Fundamentos da Zootecnia Considerações Finais 1.14 A Zootecnia é uma fonte inesgotável de riqueza para o Brasil e para todo o mundo, por proporcionar qualidade de vida para as pessoas através da oferta de produtos comestíveis de alta qualidade, oriundos dos animais domésticos criados de forma racional, disponibilizando em suas mesas, alimentos ricos em proteínas, vitaminas, minerais, e outros nutrientes nobres. 22 • Fundamentos da Zootecnia Empreendedor,Empresário, Administrador, Empreendimento e Empresa MÓDULO 2 Objetivo Específico Compreender a importância sobre a nutrição animal e suas particularidades para que se possa ter maior entendimento na exploração racional das espécies animal de interesse econômico, através do conhecimento e adoção de estratégias de manejo para alcançar maior eficiência alimentar e econômica otimizando a produtividade. Softwere para o Geoprocessamento Noções de Floricultura: Ambiente Protegido, Formas de Propagação e Adubação das Plantas Ornamenitais Produção de Bezerras Nutrição Animal 23 • Fundamentos da Zootecnia Histórico da Nutrição 2.1 Nestes últimos anos, a eficiência da produção dos rebanhos foi aumentada, devido às novas descobertas realizadas no campo da alimentação e da nutrição dos animais. A nutrição teve seu início com fundamentos de instintos, hábitos, experiências, conjecturas e folclores. Define-se como instinto os atributos congênitos, que não são hábitos e que levam o animal a atuar de uma forma determinada, sem prévia experiência. A fome é um instinto que nasce com o animal e permite a ele distinguir o comestível do não comestível. A nutrição vai ensiná-lo a separar o que deve e pode usar. Para atender às necessidades alimentares do homem, houve necessidade de domesticar e criar os animais. Esse fator aliadoà produtividade levou os criadores, a otimizar a criação, fazendo com que as exigências nutritivas fossem revisadas pelos pesquisadores e, a partir daí a nutrição deixou de ser apenas uma arte para se transformar numa ciência (MACIEL, 2009). Começou com os químicos estudando a composição dos alimentos, os quais eram formados de entidades químicas com características nutritivas, denominadas nutrientes. Os alimentos não são completos em nutrientes e na sua maioria não estão balanceados. O que conduziu a necessidade de misturá-los para balancear adequadamente os nutrientes. Em seguida, os fisiologistas começaram a se interessar pelo conhecimento de como funciona a máquina biológica. O desenvolvimento dessa área de conhecimento permitiu estabelecer às necessidades do organismo em nutrientes. Funções como digestão, trabalho muscular, reprodução e lactação passaram a ser bem interpretadas, levando ao estabelecimento de relações como dieta- saúde e dieta-produção animal. Foi observado que as reações são catalizadas por enzimas e o seu controle é endócrino, o que trouxe apoio para os enzimologistas e endocrinologistas. Os estudos para estabelecer a digestão dos carnívoros e herbívoros mostraram que a fibra é digerida pelos microrganismos, tornando importante o papel do bacteriologista. Animais de uma mesma categoria, recebendo um dado alimento, apresentavam respostas diferentes na produção, o que foi explicado mais tarde pelos geneticistas. Ao mesmo tempo, surgiram dúvidas quanto à interpretação e à quantificação das diferenças no desempenho de animais semelhantes que recebem a mesma dieta, que foram explicadas pelos estatísticos com o uso da matemática (MACIEL, 2009). A nutrição como ciência se baseia em várias disciplinas e qualquer técnico que tiver bom conhecimento de uma delas, aliado ao conhecimento geral das outras, poderá ser um bom nutricionista. Observe- se que o interesse do nutricionista não é nos alimentos e sim nos nutrientes que constituem o mesmo. 24 • Fundamentos da Zootecnia Evolução do Uso de Alimentos e Nutrientes Medidas do Valor Nutritivo dos Alimentos 2.2 2.3 A nutrição constitui a área mais importante da produção animal e o principal responsável pelo sucesso da exploração. Atualmente, as pesquisas são dirigidas para determinar requerimentos nutricionais em níveis mais econômicos e procurar alimentos alternativos, de forma a alimentar os animais e produzir a custos economicamente viáveis. Embora a nutrição animal seja considerada uma das ciências mais desenvolvidas no campo da Zootecnia, ainda existem fatores de produção para serem pesquisados. Segundo Scott et al., (2001), muitos nutrientes requeridos pelos frangos de corte já foram isolados e identificados, mas ainda existem fatores de crescimento não identificados. Segundo eles, os solúveis secos de destilarias, o soro em pó de leite, a levedura seca de cerveja e certos alimentos naturais têm sido mencionados como boas fontes de fatores de crescimento não identificados (MACIEL, 2009). A análise dos alimentos é um dos principais pontos a serem observados na nutrição animal. O objetivo principal é conhecer a composição química, além de verificar a identidade e pureza, sejam elas de natureza orgânica ou inorgânica. Permite ainda o conhecimento das propriedades gerais (aspecto, aroma, sabor, alterações, estrutura microscópica) e, a determinação do teor das substâncias nutritivas, por intermédio das análises aproximativas. Além disso, o conhecimento da digestibilidade, (parte do alimento que está disponível para o animal) é de suma importância. O valor nutritivo de um alimento não é uma característica imutável, depende da composição da ração, isto é, dos outros alimentos que a constituem. Assim, o conceito de alimento é amplo, pois envolve todas as substâncias que podem ser incluídas nas dietas dos animais por conterem nutrientes. Estas substâncias compreendem não somente os produtos vegetais e animais e seus subprodutos, mas também substâncias nutritivas puras, quimicamente sintetizadas ou produzidas por outros processos, como as fermentações microbianas (MACIEL, 2009). 25 • Fundamentos da Zootecnia O alimento não pode conter substâncias tóxicas e deve ser considerado o grau de aceitação pelo animal. Existem substâncias cuja função é tornar aceitável pelo animal alimentos que, no estado natural, seriam rejeitados, contribuindo assim para ampliar a ingestão dos mesmos. É importante considerar como se encontram os nutrientes no alimento, seus fatores de flutuação e aqueles que maior interesse representam para a nutrição animal. Submetendo-se um alimento a 105°C em uma estufa até peso constante, verifica-se que a quantidade inicial diminui em seu peso e volume. A esta temperatura, a perda sofrida pelo alimento foi seu teor em água. Assim, em uma primeira divisão pode-se dizer que os alimentos são constituídos por água (umidade) e matéria seca. Submetendo a matéria seca (MS) a 650°C, e verificado a parte do alimento se queima e se volatiliza, restando um resíduo que é chamado de resíduo mineral ou cinzas. A parte que entra em combustão é a matéria orgânica do alimento e a cinza seu conteúdo mineral. O alimento contém teor em água, constituinte orgânico e mineral. Todo equilíbrio nutricional de uma ração é feito com base em nutrientes referidos à matéria seca, podendo variar de 5 a 95%, seu conteúdo em nutrientes (MACIEL, 2009). Interessa-nos conhecer a composição química dos alimentos para melhor avaliá- los em seu potencial em nutrientes. Posteriormente a avaliação se seguirá sob o aspecto biológico, isto é, do ponto de vista de sua utilização pelo animal: a digestibilidade, a absorção e o metabolismo intermediário, bem como a inter-relação entre nutrientes. Na matéria orgânica dos alimentos, encontra-se 4 grupos de substâncias diferenciadas por suas propriedades químicas, físico-químicas e biológicas que são: os glicídios ou carboidratos, os lipídios, as proteínas e as vitaminas. Na matéria mineral, por sua vez, encontram-se todos os elementos minerais conhecidos, mas em quantidade e formas variáveis. Certos minerais estão presentes na forma de traços (oligoelementos minerais, microelementos minerais, ou minerais traços), sob forma mal definida e, algumas vezes, em estado livre. Outros minerais existem em quantidades significativas, constituindo os chamados macro minerais, que podem ser encontrados em estado sólido cristalizado, ou em solução no meio celular ou nos líquidos intersticiais e circulantes, em estado ionizado ou não ionizados. Os minerais são divididos em grupos: o macro elementos e os microelementos minerais. Os macro minerais são: sódio, fósforo, cálcio, cloro, potássio, magnésio, enxofre, e os micro minerais são: ferro, iodo, cobre, flúor, manganês, zinco, cobalto, selênio, molibdênio (MACIEL, 2009). 26 • Fundamentos da Zootecnia Processo da Digestão 2.4 A ingestão dos alimentos obedece a diversos fatores bioquímicos que agem sobre o sistema nervoso (hipotálamo) promovendo a fome ou a saciedade. Têm fundamental importância, os órgãos dos sentidos (olfato, visão, gustação) além de informações mecânicas que podem partir do esôfago (deglutição) ou do próprio estômago (plenitude ou vacuidade gástrica). Outro elemento regulador pode ser o nível sanguíneo de glicose (glicemia) que informa ao hipotálamo ao circular pelo mesmo (ROCHA, 2016). Os alimentos se apresentam em formas combinadas de macro moléculas que para serem utilizadas necessitam ser transformadas em moléculas menores e absorvíveis. Os diversos e complexos processos que sofrem os alimentos desde a ingestão pelos animais até as transformações ao longo do tubo digestório e eliminação dos resíduos não absorvidos são conhecidos por Digestão. Durante o processo digestivo as substâncias alimentícias sofrem degradação e transformamem produtos com peso molecular menores, perdendo suas características originais, com a finalidade de dispor ao organismo animal os nutrientes que as compõem. A digestão é uma função vital composta por processos físicos e químicos, intimamente relacionados ao Sistema Nervoso e Humoral. 2.4.1 Aparelho Digestivo O aparelho digestivo dos animais é constituído por reservatórios que se comunicam por tubos de calibre irregular, isolados com a presença de esfíncteres e órgãos anexos, os quais intervêm na apreensão dos alimentos, como os lábios, a língua e os dentes, e na digestão, como as glândulas anexas. O aparelho digestivo é constituído por um tubo musculo membranoso, polimorfo, que se estende da boca até o ânus. Na boca pode-se observar algumas estruturas como lábios, bochechas, palato duro, palato mole, faringe, que funciona como um órgão do aparelho digestivo e do aparelho respiratório, o esôfago, o estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) e intestino grosso (ceco, cólon e reto). Embora os processos digestivos sejam comparáveis em todos os animais superiores, as disposições anatômicas e as funcionalidades são diferentes nas várias espécies. Assim considerando os pontos de vista anatômicos e de regime alimentar, existem cinco tipos de aparelho digestivo nas espécies de interesse zootécnico: 1- Herbívoros: animais cuja alimentação é de origem vegetal. Apresentam no trato gastro intestinal (TGI) segmentos ampliados, que são particularmente importantes para a decomposição dos componentes da parede celular por microrganismos, entre eles: bovinos, caprinos e ovinos. 2- 27 • Fundamentos da Zootecnia Herbívoros de estômago simples: animais cuja fermentação microbiana acontece no intestino, tais como equinos e coelhos. 3 - Carnívoros: animais cuja alimentação é de origem animal. O TGI é proporcionalmente curto em relação ao comprimento do corpo (relação 1:5), sua alimentação consiste basicamente de alimentos ricos em nutrientes de alta digestibilidade. São os cães e gatos. 4 – Onívoros: são classificados em posição intermediária, pois sua alimentação pode ser de origem vegetal como animal. O TGI é consideravelmente mais longo que o dos carnívoros, e apresenta diferenciação como exemplar os suínos e as aves. Existem alguns fatores responsáveis pelo processo de digestão, tais como mecânicos ou físicos, como a preensão dos alimentos, e ainda secretórios e químicos, como a saliva e os sucos gástrico e intestinal. Fatores Físicos da Digestão 2.5 2.5.1 Digestão Bucal A captura dos alimentos está de acordo com as características de cada animal, de acordo com as estruturas e órgãos encarregados e responsáveis pela função de apreender o alimento, como os dentes, língua e lábios. Os equinos a tomada do alimento e a com ajuda do lábio superior que se assemelha a uma colher ou concha; os grandes ruminantes fazem a captação dos alimentos, no pasto, com ajuda da língua que funciona como uma “foice” puxando os alimentos para dentro da cavidade bucal (Rocha, 2016). Os pequenos ruminantes, como ovinos e caprinos, fazem a apreensão do pasto com os incisivos e corta mediando movimento lateral da cabeça e dos lábios. Nos ruminantes, animais que não possuem incisivos superiores, apreende o pasto com a língua, leva o alimento até a boca e corta ou arrancam por pressão dos incisivos inferiores. Os suínos possuem uma formação óssea, conhecida por focinho, estando esta estrutura relacionada com a busca e apreensão dos alimentos, principalmente os alimentos líquidos, como água. Os carnívoros capturam os alimentos com os incisivos e molares. Em uma alimentação pastosa há maior participação da língua e lábios e na alimentação líquida eles utilizam a língua exclusivamente. E a apreensão é realizada através da formação córnea, isto é, o bico. O alimento permanece na cavidade bucal por um período variável que é necessário à sua trituração e eventualmente digestão parcial. A permanência do alimento na cavidade bucal dos animais varia de zero até períodos longos. Assim, nas aves que ingerem o grão através de uma “bicada” o tempo será igual a zero, enquanto que os ruminantes e os equídeos podem realizar entre 70 e 90 movimentos mastigatórios por minuto (ROCHA, 2016). 28 • Fundamentos da Zootecnia 2.5.2. Mastigação A mastigação depende diretamente da dentição de cada espécie, tendo como finalidade a fragmentação dos alimentos, aumentando a superfície de contato e garantindo a mistura com a saliva, facilitando a deglutição. Os ruminantes fazem duas mastigações, sendo a primeira mais rápida, que se segue após captura dos alimentos e, uma segunda mais demorada e completa, que ocorre após a regurgitação do conteúdo do rúmen. Nos equídeos e nos bovinos a mandíbula é mais estreita do que o maxilar, não havendo encaixe perfeito entre as duas estruturas; por tal razão é que se encontra o movimento de didução ou lateralidade. Tal movimento faz com que as duas estruturas ósseas deslizem lateralmente e o material é triturado. Além disso, os dentes apresentam uma forma em bisel (oblíquo), independente da presença de rugosidades formadas pela dentina, esmalte e cemento (ROCHA, 2016). 2.5.3 Deglutição Os alimentos triturados e insalivados são deglutidos de maneira voluntária, terminando de maneira reflexa. A língua conduz o bolo alimentar até a entrada da faringe, provocando o reflexo deglutitório. A deglutição só ocorre quando existe material sólido ou líquido para desencadear o reflexo, e neste momento a faringe encontra-se fechada. A língua preenche a cavidade oral é uma estrutura muscular, possui funções: paladar e deglutição. Nos carnívoros contribuem na termorregulação, sendo rica em plexos venosos que facilita a dissipação do calor. Nos equinos ela é mais espessa devido a presença de tecido cartilaginoso. A língua possui as papilas linguais que se diferenciam por suas funções entre elas a função mecânica que confere aspereza, sendo mais desenvolvidas em felinos e ruminantes, entre elas estão às cônicas e as marginais (encontradas somente em carnívoros e suínos, sendo mais desenvolvidas durante a época da amamentação). As papilas gustativas são menos numerosas e contém no seu interior, receptores ou botões gustativos. A língua possui segmentos denominadas carúnculas sublinguais, pontos de abertura para os ductos das glândulas salivares sublinguais e mandibular. As carúnculas sublinguais são mais nítidas nos grandes animais, discretas nos carnívoros e inconstantes (facultativas) nos suínos (CARVALHO, 2011). A língua dos gatos tem um aspecto de lixa devido as papilas cobertas por queratina. Servem para remover sujeira, detritos e pelos soltos, além de soltar o músculo dos ossos de uma presa. 2.5.4 Fatores Químicos da Digestão Os alimentos uma vez no esôfago são transportados ao estômago por contração (peristaltismo) da musculatura do esôfago. A partir deste momento ocorre a secreção de quatro tipos de substancias: 29 • Fundamentos da Zootecnia 1 - Saliva 2 - Suco gástrico formado por HCl, mucina, pepsina, lípase gástrica e renina. 3 - Suco pancreático formado por enzimas proteolíticas, como tripsinogênio, quimiotripsinogênio e procarboxipeptidase, amilase pancreática, lípase pancreática, lecitase e colesterolesterase. 4 - Suco entérico formado pelos sucos duodenal e intestinal. 2.5.5 Saliva As glândulas salivares são três pares de glândulas secretoras de um produto misto O maior dos três pares está representado pela parótida e que apresenta uma secreção serosa; as outras duas (submandibulares e sublinguais) apresentam secreção mucosa. O estímulo para secreção vem do sistema nervoso parassimpático que aumenta o volume da saliva na cavidade bucal (ROCHA, 2016). 2.5.6 Volume Salivar Diariamente as glândulas salivares podem secretar 110 a 180 litros de saliva nos bovinosde grande porte; 10 a 20 litros nos ovinos e caprinos; 40 a 50 litros nos equinos; 15 litros nos suínos, e 7 a 25 mL nas aves. A quantidade não é constante, pois, varia de acordo com a presença de alimento na cavidade bucal e com o tipo de alimento; há ainda o estímulo causado pela observação e odores dos alimentos (secreção psíquica) que precede até mesmo a colocação do alimento na cavidade oral. O pH da saliva é normalmente alcalino nos herbívoros (média = 7,3 nos suínos; 7,5 nos equinos; 8,55 nos ruminantes). As funções mecânicas incluem a lubrificação do trato oro-esofágico, a lubrificação e aglutinação do bolo e do ponto de vista bioquímico pode-se citar a presença de uma enzima amilolítica (ptialina ou α-amilase) cuja função é desdobrar o amido em maltose, maltotriose e dextrinas. Tais fenômenos são o início do desdobramento do amido; nos animais domésticos sua função é limitada, pois, o tempo bucal zero não daria tempo para a ação enzimática e os alimentos celulósicos não permitiriam uma ação sobre o amido (revestidos pela celulose). Há que se considerar ainda a função excretora da saliva (substâncias diversas). Nos bovinos há uma função salivar de natureza bioquímica, mas, não para desdobramento de substância; ocorre a secreção para a saliva de 2,5 kg de bicarbonato de sódio e 1,5 kg de fosfato de sódio. A reingestão da mesma retorna ao rúmen e ajuda a manter o pH do mesmo, sem o que, seu interior seria extremamente ácido (pela formação de ácidos graxos – AGVs); desta forma a saliva concorre para a estabilização do pH do rúmen e para a sobrevivência dos microrganismos pela presença de ureia e os minerais, embora em pequena quantidade (ROCHA, 2016). 2.5.7 Digestão Gástrica 2.5.7.1 Suco Gástrico A digestão gástrica se inicia pela presença do alimento no estômago que desencadeia as secreções estomacais. 30 • Fundamentos da Zootecnia Como os alimentos são heterogêneos, alguns excitam mais do que outros as secreções gástricas além da presença de diferentes regiões da mucosa secretando produtos variados: muco (mucina), HCl, pepsina, gastrina, lipase gástrica e renina (ROCHA, 2016). MUCINA: Secretada pelas células mucoides. A secreção de mucina é importante, pois adere ao epitélio e aos alimentos evitando a ação do HCL sobre o epitélio da parede gástrica e enzimas, (absorve a pepsina), através da sua viscosidade. É mais viscosa do que a água em até 260 vezes (considerando a viscosidade da água = 1). HCI (ácido clorídrico): Tem uma concentração variável conforme o tipo de alimento ingerido pelo animal, grau de concentração deste alimento ingerido e quantidade de saliva presente no estômago. A solubilização de minerais e a ativação da pepsina são feitas pelo HCI, que determina também a secreção de secretina, responsável pela liberação do suco pancreático. Exerce uma potente ação antisséptica sobre os microrganismos ingeridos acidentalmente junto com os alimentos. PEPSINA: É ativada pelo HCI. É um conjunto de enzima é na realidade um conjunto de enzimas (as pepsinas) e provêm do pepsinogênio. São várias enzimas pelo fato de que há vários valores de pH nos vários segmentos estomacais dos diferentes animais (2,0 a 3,5 em aves - e até 4,5; 4,4 a 5,5 nos equídeos). O pH interfere diretamente na conversão de pepsinogênio em pepsina, razão pela qual o grau de acidez tem relação com o “tipo” de pepsina em cada animal; a função da pepsina é agir sobre as proteínas para um primeiro desdobramento das mesmas (ROCHA, 2016). LIPASE GÁSTRICA: Em geral hidrolisa apenas gorduras de baixo ponto de fusão e já emulsionadas. A ação sobre as gorduras da dieta é mais completa e mais eficaz pela lipase pancreática. RENINA OU LAB-FERMENTO: É secretada inativa, sendo ativada pelo HCI; é mais abundante no suco digestivo dos bezerros e demais ruminantes lactentes, tendo uma ação proteolítica sobre a caseína (proteína do leite). 2.5.8 Digestão Intestinal 2.5.8.1 Suco Intestinal É secretado pelas glândulas de Liberküm, é um líquido aquoso amarelado, claro, contendo uma pequena quantidade de sólidos constituídos por detritos celulares, entre ele, os bicarbonatos, cloretos, fosfatases de sódio, potássio e cálcio. A secreção intestinal resulta da ação estimulante exercida pelas substâncias alimentares e de uma ação humoral do suco duodenal e intestinal. É um líquido viscoso, turvo e ou amarelado, devido a seu teor em muco, bem como à presença de células de descamação da mucosa, sendo constituído por uma mistura dos sucos duodenal e intestinal. O suco duodenal é secretado pelas glândulas de Brünner, localizadas no duodeno, é um líquido transparente, incolor, rico em mucina, viscoso, e possui como enzima a enteroquinase (ativadora das 31 • Fundamentos da Zootecnia proteinases trípsicas do suco pancreático) e uma amílase. Para que possa ocorrer a digestão intestinal é necessário que o duodeno se torne alcalino. Após alcalinização o duodeno está apto a receber as secreções “digestivas” ou enzimáticas do pâncreas e ocorre a liberação de uma substância duodenal denominada pancreozimina que é liberada pela presença de ácidos graxos e aminoácidos na circulação sanguínea, desencadeando a liberação de suas enzimas (ROCHA, 2016). 2.5.8.2 Suco Pancreático É secretado por estímulo nervoso e humoral, pelos ácidos pancreáticos, apresentando-se na forma de um fluido claro, sendo responsável pela presença de quase todas as enzimas necessárias para a degradação completa dos alimentos. A quantidade produzida é variável em função da espécie animal e sua atividade é consequência da presença de enzimas proteolíticas. Há três grupos de enzimas digestivas no suco pancreático: Amilase (para amiláceos); proteases (para proteínas) e lípases (para lipídeos). A amilase desdobra o amido cru ou cozido, atuando em ligações α-1,4, em pH 4,0 até 11,0 e forma maltose, maltotriose e dextrinas (em ligações α-1,6). As lipases transformam os lipídeos em glicerol e ácidos graxos que podem ser absorvidos pelos vasos linfáticos das vilosidades intestinais, enquanto que os outros produtos (originários de proteínas e amido) são absorvidos por via venosa das mesmas vilosidades. O suco pancreático é capaz de se modificar em termos percentuais (enzimas proteolíticas, amilolíticas e lipolíticas) de acordo com a alimentação, ou seja, ele se adapta à dieta; assim, se predominar uma dieta rica em caseína ocorrerá um aumento de enzimas proteolíticas (ROCHA, 2016). TRIPSINA: Hidrolisa praticamente todos os tipos de proteínas, inclusive algumas que não são atacadas pela pepsina, digerindo mais facilmente aquelas proteínas já parcialmente desnaturadas e digeridas. QUIMIOTRIPSINA: Tem ação semelhante a tripsina. Atua na coagulação do leite de maneira semelhante à renina e pepsina; CARBOXIPEPTIDASE: Atua na ligação peptídica do aminoácido terminal com a carboxila livre. 2.5.8.3 Secreção Biliar A bile é um líquido límpido, de sabor amargo, com coloração amareloesverdeada, com composição variável conforme a espécie animal. A secreção biliar pode ter dois trajetos distintos: nos animais com vesícula ela pode ir diretamente para o duodeno ou ser armazenada na vesícula biliar nos intervalos entre as refeições; nos animais sem vesícula, como o cavalo, ela tem fluxo constante para o duodeno (basal), mas, aumenta quando ocorre ingestão de alimentos. A bile dos animais sem vesícula é mais fluida do que aquela contida na vesícula; esta é mais xaroposa pela reabsorção de água (ROCHA, 2016). A função da bile é basicamente facilitar a digestão das gorduras, pois, ela emulsifica os lipídeos facilitando a ação das enzimas lipolíticas, oriundas do pâncreas. Atua na 32 • Fundamentos da Zootecnia digestão, na absorção e funciona ainda como via de excreção para substâncias como pigmentos biliares, resultantes do catabolismo da hemoglobina. O esvaziamentoda vesícula se dá por contração. A falta de bile prejudica a digestão de gorduras o que leva a eliminação de fezes “graxas” e descoradas uma vez que a coloração fecal depende de pigmentos biliares. 2.5.8.4 Digestão no Intestino Grosso No intestino grosso há uma população microbiana, variável em quantidade e proporções conforme a espécie animal considerada. Ocorre diferenciação nos microrganismos, conforme as diferentes porções do intestino. Encontram-se bactérias formadoras do ácido lático (lactobacilos) e ainda uma numerosa flora de germes facultativos, que se modifica em função dos alimentos ingeridos. Fazem a degradação dos alimentos que escapam da digestão e da absorção nas porções anteriores do aparelho digestivo, como no caso dos glicídios, uma vez que a maioria dos glicídios solúveis são digeridos e absorvidos no intestino delgado. Parte da proteína que escapa à digestão nas porções anteriores do aparelho digestivo sofre processos de fermentação e putrefação. Ocorre a degradação da celulose por alguns microrganismos, sendo pouco significativa. A digestão no intestino grosso é realizada de forma mais eficaz nos herbívoros de estômago simples, como o cavalo, pela presença de microrganismos. Resultando como produtos finais os aminoácidos, ácidos graxos voláteis, que são fonte de energia para os animais, amônia e diversos gases como gás sulfídrico, metano, hidrogênio entre outros. A absorção que ocorre no intestino grosso é reduzida quando comparada com a digestão no intestino delgado. Processo Digestivo nas Aves 2.6 A cavidade bucal das aves e em especial à preensão dos alimentos pelo bico. Uma galinha tem seu bico curto com a valva superior mais longa do que a inferior e se alimenta tipicamente de grãos e por isso, são classificadas como granívoras, embora as galinhas caipiras possam ser onívora pelo fato de se alimentarem de diversos tipos de alimentos que lhes são oferecidos pelo criador. As galinhas, quando se alimentam de grãos, o fazem com rapidez e desta forma o tempo que o alimento permanece na cavidade oral é curto e assim denominado “tempo bucal zero”. A deglutição na galinha é feita com a ajuda de um movimento de cabeça, jogando-a para frente, o que desloca o grão para trás e, a partir daí o grão segue em direção ao papo por movimentos peristálticos; a ingestão de água e realizada 33 • Fundamentos da Zootecnia com a valva inferior do bico e em seguida “olha” para cima para que a água desça por gravidade (ROCHA, 2016). A apreensão dos alimentos é influenciada pela visão e sensações tácteis do bico. A cavidade oral das galinhas é ampla e não apresenta limites precisos pela ausência do palato mole. O palato duro apresenta uma fenda longitudinal. Tal comunicação está relacionada com a ventilação pulmonar forçada para termorregulação (polipnéia térmica das aves) que é feita com o bico aberto. Diversos autores não confirmam a presença de uma α-amilase (ptialina), enquanto outros dizem que sua presença é mínima e não teria ação, pois, alimentos granulados e revestidos de celulose não poderiam ser digeridos por uma amilase, além do tempo bucal ser curto. Assim, a saliva teria apenas uma função mecânica, ou seja, lubrificação da cavidade oral, umectação do alimento, lubrificação do esôfago, eliminação de substâncias diversas passadas pela corrente sanguínea. Das aves, a única saliva que contém amilase é a do ganso (ROCHA, 2016). O esôfago apresenta uma dilatação que constitui um reservatório: o papo ou inglúvio. É um divertículo do esôfago serve para receber o material proveniente da cavidade oral. Pode ser bem desenvolvido nas aves granívoras (como nas galinhas no pato e no pombo), mas, também pode ser rudimentar ou estar ausente em outras aves (como aves carnívoras), dependendo de sua maior ou menor função, que no caso é armazenamento de grãos ou folhas (aves folhívoras). No caso do armazenamento de grãos (galinhas) os alimentos sofrem um amolecimento durante sua permanência o que facilitará sua digestão posterior. Após um período variável dentro do papo, este inicia movimentos peristálticos (vagais) dirigindo os grãos para o proventrículo (estômago verdadeiro). No interior do papo não há nenhuma secreção digestiva própria e qualquer fenômeno bioquímico de desdobramento poderá ocorrer por conta de enzimas vindas de fora com os alimentos ou de microrganismos ingeridos com alimentos. Quanto à absorção, durante muito tempo se considerou o papo como incapaz de absorver qualquer substância. Entretanto, hoje admite-se a absorção de substâncias nutritivas e de baixo peso molecular como ácido lático, AGVs, álcool e outras. Pode haver pequena hidrólise de sacarose com absorção mínima ou duvidosa (ROCHA, 2016). As glândulas são praticamente ausentes na galinha. Os alimentos úmidos passam mais rapidamente pelo inglúvio que os secos. A movimentação do inglúvio é controlada pelo sistema nervoso, sendo as contrações mais fortes verificadas no repasto. As glândulas do inglúvio das galinhas, apesar de poucas, secretam, embebendo e homogeneizando os alimentos. O estômago das aves compreende duas partes distintas: uma parte glandular e outra muscular. A parte glandular, ventrículo ou também chamado de proventrículo, ou de estômago verdadeiro. É controlado pelo nervo vago e secreta o HCl, a pepsina, a gastrina (pouco conhecida sua função nas aves) e o muco nas aves. Dependendo da 34 • Fundamentos da Zootecnia ave, o pH pode variar o que também pode afetar a transformação do pepsinogênio em pepsina. Tendo em vista que as pepsinas não são exatamente iguais, cada ave pode funcionar com sua pepsina em diferentes valores de pH (ROCHA, 2016). Normalmente este compartimento é desenvolvido em aves carnívoras e, rudimentar em aves granívoras. Assim, ele é pequeno no pato, pombo e galinha e grande em albatroz e gaivotas. Histologicamente o proventrículo só apresenta um tipo celular (oxintico-pépticas) e que seriam responsáveis pelas secreções gástricas (HCl, pepsina e muco). O pH nas carnívoras tende a ser mais baixo do que nas granívoras. Alguns exemplos de pH são dados a seguir: galinhas = 4,8; faisão = 4,7; pombo = 1,4; pato = 3,4; perus = 47. Nas aves carnívoras o pH pode ser mais baixo (3,0) e há citações de até 2,6. A parte muscular do estômago, ou moela, é o estômago mecânico das aves pelo fato de fazer a digestão dos grãos, previamente amolecidos no papo, através da pressão exercida por seus músculos. A pressão pode atingir entre 100-150 Torr (na galinha) ou 180 Torr (nos patos) comprimindo os grãos, fazendo uma verdadeira “moagem” dos mesmos; para isso, a moela ainda conta com a presença de “pedriscos” no seu interior o que ajuda a trituração. Tais pedriscos penetram no aparelho digestivo quando as aves fazem apreensão de seus alimentos em regime “aberto”, ou seja, aves silvestres ou domésticas que estão soltas e podem chegar a 10 gramas nos patos. Os pintos criados em sistema fechado não necessitam de tais pedriscos, pois sua ração (inicial) é um farelo e não necessita de trituração. A moela apresenta contrações musculares rítmicas a cada 2 ou 3 minutos e duram em média 20 a 30 segundos. O pH da moela varia de 2,0 a 3,5, mas, isto não quer dizer que seja por secreções locais e sim porque o material ácido provém do proventrículo (que fica situado próximo e antes da moela). Nas aves carnívoras a moela não necessita ser bem desenvolvida, pois, sua alimentação não é feita à base de grãos (ROCHA, 2016). O intestino delgado das aves está dividido em duodeno, íleo superior e íleo inferior. No duodeno desembocam os canais biliares e pancreáticos. Em geral o intestino das aves é mais curto do que o dos mamíferos e ainda ocorrem diferenças entre aves granívoras e carnívoras; o intestino das herbívoras e granívoras é mais longo do que o das carnívoras, e pelo que se deduz a digestãode vegetais (celulose) é mais lenta do que as proteínas; as vilosidades das carnívoras são mais desenvolvidas do que as das herbívoras. O Intestino grosso apresenta uma grande variedade entre as aves pelo fato de poder existir um único ceco, dois cecos, ceco rudimentar ou ausente e ceco bem desenvolvido, de acordo com a espécie. Nas galinhas, pombos e patos o ceco é duplo e bem desenvolvido, sendo que no gênero Gallus o ceco pode ter em média 15 cm em aves adultas. No final do intestino delgado há uma entrada para os dois cecos e estão separados por válvulas que controlam a entrada do alimento para o ceco bem como seu retorno para passar ao segmento posterior que é colón-reto (ceco é um 35 • Fundamentos da Zootecnia segmento). O colón-reto é o segmento final do intestino grosso e desemboca na cloaca, não havendo distinção para dividi-lo em dois segmentos (colón e reto) como nos mamíferos. Os cecos servem para absorção de água, digestão da fibra bruta (celulose e ainda a lignina que pode ser utilizada entre 10 e 40% do total) além da síntese de vitaminas do complexo B e vitamina K. Ao final do intestino grosso ainda se encontra a cloaca que recebe ductos deferentes (macho), oviduto (fêmea em postura), fezes, ureteres (que podem vir direto dos rins - galinha) ou a partir da bexiga (como na avestruz). Há ainda sobre a cloaca a bolsa (bursa) de Fabrício, responsável pelos chamados linfócitos B (ROCHA, 2016). Processo Digestivo nos Equinos 2.7 O processo digestivo começa com a apreensão dos alimentos pelos lábios e língua, sendo também utilizados os dentes incisivos na ingestão de substâncias mais firmes como tubérculos e ramos. Na boca, especificamente com dentes molares e prémolares, esmagam e moem os alimentos, disponibilizando proteínas e carboidratos que podem ser prontamente digeridos no estômago e intestino delgado. O processo mastigatório dos equinos é eficiente, tornando-se assim um processo metódico e completo. Neste processo os carboidratos estruturais, aqueles constituintes da parede celular, são quebrados em partículas menores, o que facilitará a ação da microbiota cecal no intestino grosso. A saliva, presente também neste momento, tem o papel estritamente de umidificar os alimentos para facilitar a deglutição devido ao seu baixo teor enzimático e pequeno tempo de atuação, com ação pré-gástrica restrita (FAGUNDES, 2005). No esôfago o alimento é forçado para baixo através de ondas peristálticas ou através de contrações da musculatura. A deglutição no cavalo é feita de maneira irreversível em razão do desenvolvimento do véu palatino que impede o retorno do bolo alimentar do esôfago para a boca e também impede a expulsão pelas vias nasais. Devido ao pequeno estômago do cavalo, em torno de 8 a 18 litros ou 10% do trato digestivo, os alimentos não permanecem no estômago por mais de duas horas, esvaziando-se de 6 a 8 vezes por dia e o bolo alimentar é estratificado, sendo que a ordem de chegada dos alimentos é condicionada pela ordem de saída, permanecendo somente o último terço do bolo que sofrerá com maior intensidade a ação do suco gástrico. Apesar de no estômago não ocorrer digestão significativa, o funcionamento deste como regulador do trânsito intestinal 36 • Fundamentos da Zootecnia é um dos fatores determinante à digestão do amido e das proteínas no intestino delgado (FAGUNDES, 2005). Fagundes, (2005) citou que a parede do intestino delgado é musculosa, rígida e ricamente enervada, propiciando a geração de fortes ondas de contração, facilitando assim a progressão do conteúdo intestinal associada a sua grande fluidez resultante do sinergismo das secreções salivar, gástrica, pancreática, biliar e entérica. O intestino delgado possui na sua porção inicial (duodeno) uma mucosa constituída de vilosidades, que por sua vez possuem microvilosidades com função de aumentar a superfície de absorção. Esta mucosa apresenta inúmeras glândulas, que secretam suco entérico e um produto mucóide. O pâncreas secreta seu suco que, com produção constante, porém de baixa concentração de enzimas, ajuda na digestão dos nutrientes. O suco pancreático, devido à presença de álcalis e bicarbonatos, funciona como tampão para neutralizar os ácidos oriundos do estômago e os produzidos no cólon. A bile é liberada de forma contínua sem concentração prévia, pois falta no cavalo a vesícula biliar. O fluxo do intestino delgado gira em torno de 20 cm/minuto, demorando aproximadamente uma hora e meia para percorrê-lo, dependendo da quantidade de fibra ingerida sendo que, quanto maior a porcentagem de concentrado maior o tempo de trânsito. Segundo Fagundes, (2005), é no intestino delgado que o cavalo digere a maior parte do amido e das proteínas alimentares. O intestino grosso do cavalo compreende seções volumosas, bem articuladas e compartimentalizadas. O número de microrganismos no conteúdo do intestino grosso do equino é semelhante ao encontrado no rúmen e retículo dos ruminantes. O intestino grosso, considerando volume de aproximadamente 130 litros para animais de 500 kg e tempo de retenção entre 36 e 46 horas, é o mais significativo seguimento do trato digestivo dos equinos, o suficiente para ação da digestão microbiana. O ceco e a porção anterior do cólon são câmaras de fermentação das quais, semelhantes aos pré-estômagos dos ruminantes, onde bactérias, e protozoários no ceco, degradam carboidratos estruturais não digeridos no intestino delgado. O número desses microrganismos é semelhante aos dos pré-estômagos dos ruminantes. Sua atividade depende principalmente do tipo e da quantidade de substrato proveniente do intestino delgado, da velocidade de trânsito e da capacidade de tamponamento de lúmen. Os microrganismos são capazes de sintetizar uma parte das vitaminas hidrossolúveis, tendo o equino uma boa capacidade de aproveitamento das vitaminas do complexo B e vitamina K (FAGUNDES, 2005). No intestino grosso chegam apenas cerca de 30% dos carboidratos solúveis e do amido da dieta, pois são principalmente digeridos e absorvidos no intestino delgado. A maioria dos glicídios que chegam ao intestino grosso é do tipo fibroso, ou seja, fibras insolúveis como a celulose, hemicelulose e lignina. No ceco, principalmente, ocorre a produção de 37 • Fundamentos da Zootecnia ácidos graxos voláteis (acético, propiônico e butírico). O excesso de celulose na dieta pode prejudicar a digestão gástrica e intestinal e a sua falta pode ocorrer uma alteração no transito intestinal, com permanência excessiva do bolo alimentar no ceco e cólon, com produção de gases em grande quantidade e formação de aminas tóxicas. No intestino grosso a microflora utiliza uma parte do nitrogênio disponível para elaborar sua própria proteína, ou seja, a proteína microbiana. Os microrganismos catabolizam o substrato nitrogenado até a fase de aminoácidos livres e de amoníaco que, juntamente com glicídios prontamente utilizáveis, são necessários à sua proteossíntese. Os compostos nitrogenados não proteicos tais como a ureia, de um modo geral, não podem ser dados aos equinos por serem hidrolisados e absorvidos antes de alcançar o intestino grosso, provocando a intoxicação pela amônia. Processo Digestivo nos Ruminantes 2.8 O ruminante apresenta várias particularidades no seu processo digestivo, quando comparado a outras espécies animais. Eles se alimentam basicamente de forragens, e são considerados herbívoros. A maior diferenciação do aparelho digestivo dos ruminantes está no estômago, que é multicavitário e diferenciado, sendo composto pelo rúmen, retículo, omaso e abomaso, sendo os três primeiros compartimentos classificados como préestômagos e o quarto como estômago glandular ou verdadeiro (digestão química), semelhante ao estômago das outras espécies. A digestão se inicia por uma mastigação rápida até que os alimentos sejam
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