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Historia da Igreja Antiga e Medieval 4

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EA
D
Características do Mundo 
Medieval, Queda de Roma 
e Ascensão do 
Cristianismo 4
1. OBJETIVOS
•	 Reconhecer	a	terminologia	e	as	características	do	mundo	
medieval.
•	 Identificar	e	interpretar	a	queda	de	Roma	(476)	e	as	ca-
racterísticas	dos	povos	germânicos	e	eslavos	(bárbaros).
•	 Analisar	a	ascensão	da	Igreja,	o	Estado	Pontifício	e	o	Feu-
dalismo.
2. CONTEÚDOS
•	 Idade	Média.
•	 Queda	de	Roma	(476),	povos	germânicos	e	eslavos	(bár-
baros).
•	 Ascensão	da	Igreja,	o	Estado	Pontifício	e	o	Feudalismo.
•	 Espiritualidade	Cristã	.	
•	 	Vida	monástica.
© História da Igreja Antiga e Medieval180
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Para	 a	 maior	 compreensão	 desta	 unidade,	 sugerimos	
que	você	retome	as	segunites	obras:	
•	 PIERRARD,	P.	História da igreja.	Tradução	de	Álvaro	
Cunha.	São	Paulo:	Paulinas,	1982.
•	 COMBY,	J.	Para ler a história da igreja.	Tradução	de	
Maria	Stela.	São	Paulo:	Loyola,	1994.	v.	1-2.	
2)	 Renove	suas	ideias	sobre	a	Idade	Média.	Para	tanto,	leia	
as	páginas	de	9	a	14	da	obra:	DEL	ROIO,	J.	L.	Igreja me-
dieval, a cristandade latina.	São	Paulo:	Ática,	1997.
3)	 Amplie	 seus	 conhecimentos!	 Realize	 pesquisas	 em	 si-
tes	 de	 busca,	 utilizando	 o	 termo	 "Idade	Média"	 como	
palavra-chave.	 Sugerimos,	 também,	 a	 consulta	 ao	 se-
guinte	site:	SUA	PESQUISA.	Idade	Média.	Disponível	em:	
<http://www.suapesquisa.com/idademedia/>.	 Acesso	
em:	18	maio	2011.
4)	 Quem	foram	os	francos?	Os	lombardos?	Os	burgúndios?	
Os	ostrogodos?	Os	vândalos?	Os	anglo-saxões?	Para	res-
ponder	a	essas	questões,	é	muito	importante	que	não	se	
limite	 ao	 conteúdo	do	 texto	 principal,	 complemente-o	
por	meio	de	pesquisas	às	obras	referenciadas	ao	térmi-
no	desta	unidade,	ou	em	sites	de	busca,	nos	quais	pode-
rá	utilizar	a	denominação	do	povo	como	palavra-chave	
para	sua	busca.		
5)	 O	que	é	piedade	eucarística?	O	que	é	a	festa	de	Corpus 
Christi?	O	que	é	Via-Sacra?	Há	inúmeros	termos	citados	
no	texto	principal	que	você	pode	pesquisar	para	ampliar	
sua	compreensão	sobre	os	conteúdos	estudados.	Saiba	
mais,	você	é	o	protagonista	de	sua	aprendizagem!	
6)	 Se	 houver	 dúvidas,	 não	 desanime!	 Procure	 ajuda	 com	
seus	colegas	de	curso	ou	com	seu	tutor.	Lembre-se	de	
que	o	entendimento	do	 conteúdo	é	 fundamental	para	
que	possa	prosseguir	com	o	seu	estudo.	Acesse	a	Sala	de	
Aula	Virtual	e	interaja!
181© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	Unidade	3,	você	foi	convidado	a	compreender	a	relação	
de	poder	estabelecida	pelo	Império	Romano	contra	os	cristãos.
Nesta	 	unidade,	vamos	 reconhecer	a	 terminologia	e	as	ca-
racterísticas	do	mundo	medieval,	estudar	a	queda	de	Roma	(476),	
as	características	dos	povos	germânicos	e	eslavos	(bárbaros),	a	as-
censão	da	Igreja	e	a	organização	do	Cristianismo	medieval.
Bom	estudo!
5. IDADE MÉDIA 
A	Idade	Média	é	um	dos	períodos	mais	interessantes	de	se	
estudar,	seja	no	âmbito	social,	seja	no	âmbito	eclesial.
Quando	se	fala	em	Idade	Média,	pensa-se	no	"século	de	ferro" 
da	Igreja,	na	papisa	Joana,	no	Feudalismo,	na	Cristandade	e	no	auge	
do	papado,	no	surgimento	do	Islamismo,	nas	Cruzadas,	na	Inquisição,	
na	perseguição	aos	hereges	e	às	mulheres	acusadas	de	bruxaria,	no	
Humanismo	e	no	 início	 do	Renascimento	 (porque	o	Renascimento	
continua	até	o	século	16), temas	que	até	hoje	são	discutidos	com	evi-
dência	e	nem	sempre	analisados	criticamente.	
Para	 entender	melhor,	 vejamos	 alguns	 esclarecimentos	 in-
trodutórios	para	nos	situar	no	contexto	da	Idade	Média:
1)	 A	Idade	Média	está	inserida	no	período	entre	os	séculos	
8º	e	13.	Porém,	para	alguns	historiadores	eclesiásticos,	
a	Idade	Média	já	começa	com	o	Edito	de	Milão,	em	313;	
para	outros,	inicia-se	com	a	derrocada	do	Império	Roma-
no	do	Ocidente,	ocorrida	no	ano	476,	ou	com	o	fim	das	
controvérsias	doutrinais	antigas,	no	3º	Concílio	de	Cons-
tantinopla,	em	681.	E	ela	se	estenderia	até	o	 início	da	
crise	eclesial	do	século	13,	ou	até	a	queda	de	Constanti-
nopla,	em	1453;	ou	ainda,	até	a	descoberta	da	América	e	
a	vitória	espanhola	contra	os	muçulmanos,	em	1492;	ou	
até	o	início	da	reforma	luterana,	em	1517.	
© História da Igreja Antiga e Medieval182
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Sobre	a	questão	da	datação	ou	periodização	da	Idade	Média,	
Del	Roio	escreve:
Muitos	estudiosos	da	história	da	Igreja	consideram	o	ano	313	como	
o	marco	 terminal	do	período	heróico,	da	 Igreja-testemunho,	e	o	
início	da	era	da	Igreja-poder.	Como	se	sabe,	naquele	ano	os	impe-
radores	Constantino	e	Licínio	promulgaram	o	Edito	de	Milão,	pelo	
qual	o	cristianismo	foi	declarado	religião	oficial	de	todo	o	Império	
Romano.	Esses	historiadores	situam	aí	o	início	da	Idade	Média.
Mais	conhecido,	porém,	é	o	ano	de	476,	quando	o	chefe	germano	
Odoacro	destrona	o	último	imperador	romano	do	Ocidente,	Rômulo	
Augústulo,	e	envia	as	insígnias	imperiais	a	Zenão,	imperador	de	Cons-
tantinopla,	significando	que	o	Império	deixara	de	existir	no	Ocidente.
No	entanto,	melhor	ainda	seria	deslocar	essa	data	para	o	ano	800,	
quando	o	papa	Leão	III	coroa	Carlos	Magno	imperador	do	renascido	
Império	Romano	do	Ocidente.	Só	a	partir	de	então,	basicamente,	é	
que	começa	a	existir	a	‘cristandade	latina’.	Anteriormente,	o	eixo	da	
cristandade	espraiava-se	pelo	Mediterrâneo	e	mantinha	profundas	
relações	com	o	Oriente.	Era	uma	Igreja	que,	poder-se-ia	dizer,	ainda	
‘falava’	o	idioma	grego.	A	partir	dos	anos	oitocentos	–	também	por	
conta	da	ocupação	paulatina	do	Mediterrâneo	pelo	Islã	–	esse	eixo	
desloca-se	para	o	mundo	franco-germânico,	onde	se	desenvolverá	
uma	Igreja	que	‘fala’	o	idioma	latino.	Roma	deixará	de	ser	a	encru-
zilhada	do	mundo,	ponto	de	convergência,	para	se	tornar	sempre	
mais	um	centro	diretor	e	impositivo.	Inicia	a	sua	marcha	para	a	au-
tocracia,	vértice	de	um	poder	concreto	e	ao	mesmo	tempo	simbó-
lico	do	Ocidente	em	gestação.
As	divergências	a	respeito	do	momento	inicial	do	medievo	se	re-
petem	em	relação	a	qual	seria	o	marco	de	seu	fim,	demarcando	
os	albores	do	mundo	moderno.	O	grande	historiador	R.	Morghen,	
de	acordo	com	toda	uma	visão	religiosa,	situa	esse	momento	em	
torno	da	 figura	do	pregador	popular	Bernardino	de	Siena	 (1383-
1444),	herdeiro	das	melhores	tradições	franciscanas.	Siena	soube	
ligar	perfeitamente	o	ideal	da	salvação	coletiva,	intrínseco	aos	últi-
mos	séculos	medievais,	com	o	da	salvação	individual	e,	sobretudo,	
com	a	possibilidade	de	uma	existência	feliz	também	em	terra,	este	
um	ideal	típico	da	modernidade.	
De	forma	menos	densa	em	riqueza	interior,	a	maior	parte	da	his-
toriografia	prefere	 localizar	esta	 transição	alegórica	na	queda	do	
Império	Romano	do	Oriente,	em	1453,	ou	ainda	no	fatídico	1492,	
quando	as	velas	de	Castela	comandadas	por	Colombo	atingiram	as	
ilhas	antilhanas.
Seria,	contudo,	mais	adequado	deslocar-se	essa	passagem	para	o	
momento	da	eclosão	do	movimento	da	 reforma	protestante,	 na	
183© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
segunda	década	do	século	XVI.	Isso	porque	esse	momento	repre-
senta	a	divisão	irreversível	no	núcleo	central	da	‘cristandade	latina’.	
Roma	já	não	será	mais	aquele	centro	onde,	para	o	bem	ou	para	o	
mal,	os	estados	buscavam	legitimidade	para	a	sua	existência	e	para	
as	suas	políticas.	
Além	disso,	 trata-se	 do	momento	 através	 do	 qual	 começamos	 a	
compreender	o	significado	do	transbordamento	da	‘cristandade	la-
tina’	para	terras	externas	às	suas	fronteiras,	de	África,	Ásia	e	Améri-
ca,	que	se	tornariam	‘periféricas’	(	1997,	p.	10-13).
	Um	tema	a	ser	aprofundado	é	o	da	divisão	interna	da	Ida-
de	Média,	considerando	que	esse	período	pode	ter	mais	de	1000	
anos,	dependendo	da	divisão	que	se	faz.	Para	tanto,	vejamos	o	que	
nos	fala	Pierini:		
Mais	discutível,	naturalmente,	é	a	periodização	da	própria	 Idade	
Média.	Em	geral	se	falava,	no	passado,	de	‘alta	Idade	Média’	e	de	
‘baixaIdade	Média’,	mais	ou	menos	divididos	pelo	ano	1000.	Acres-
centou-se	depois	o	conceito	de	‘antigo	tardio’	(mais	ou	menos	de	
200	a	600	d.C.)	e	de	‘transição	ao	mundo	moderno’		(1300-1520),	
equivale	à	‘época	nova’.	
Hoje	torna-se	cada	vez	mais	comum	uma	periodização	oriunda,	so-
bretudo,	da	área	alemã	e	inglesa,	que	fala	de	uma	‘primeira	Idade	
Média’		(da	metade	do	século	5º	à	metade	do	século	10	aproxima-
damente),	de	uma	‘alta	Idade	Média’		(da	metade	do	século	10	à	
metade	do	século	13)	e,	enfim,	de	uma	‘baixa	 Idade	Média’	 	 (da	
metade	do	século	13	a	todo	ou	quase	todo	o	século	15).
Em	toda	essa	obra	de	periodização	parece	particularmente	signifi-
cativa	a	primeira	época,	que	vai	do	século	V	ao	século	X.	Nela,	de	
fato,	verificaram-se	os	mais	importantes	deslocamentos	de	povos,	
as	invasões	mais	decisivas	para	os	três	principais	continentes	(Ásia,	
África,	Europa).	Depois	dessa	época,	o	mundo,	um	pouco	por	toda	
parte	já	não	era	mais	o	mesmo;	caminhava	agora	com	idéias	e	pers-
pectivas	radicalmente	novas	(1998,	p.	12-13).
2)	 O	termo	Idade	Média	foi	usado,	pela	primeira	vez,	por	
Cristóvão	Cellario	(1638-1707),	monge	e	historiador	ale-
mão,	no	final	do	século	17.	Mas,	antes	dele,	Jorge	Horn	
(1620-1670),	em	meados	do	século	17,	já	escrevia	sobre	
a	história	antiga,	que	duraria	até	476,	e	a	partir	daí	se	
iniciaria	a	Idade	Média,	com	duração	até	1453,	ano	da	
queda	de	Constantinopla.
© História da Igreja Antiga e Medieval184
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3)	 Em	termos	de	história	ocidental,	podemos	afirmar	que	
a	Idade	Média,	geográfica	e	culturalmente,	está	dividida	
em	três	grandes	esferas:	a	latino-ocidental,	com	os	po-
vos	romanos	e	germânicos	que	se	convertem	ao	Cristia-
nismo;	a	muçulmana,	organizada	no	início	do	século	7º	
e	a	greco-bizantina,	que	vai	se	separando	de	Roma	e	vai	
durar	até	meados	do	século	15.
4)	 As	principais	características	da	Idade	Média	são:	a	estrutu-
ra	social	é	do	tipo	piramidal,	com	forte	autoritarismo	mas-
culino	dos	senhores	feudais;	sua	base	é	feudal	com	forte	
acento	na	terra	e	na	agricultura;	com	as	invasões	bárbaras	
e	a	desarticulação	das	cidades	e	escolas,	foi	gerada	uma	
sociedade	carente	de	sistemas	racionais,	o	que	provocou	
o	surgi	mento	de	grandes	 líderes	governamentais,	quase	
todos	militares.	Ademais,	todas	as	pessoas	estavam	sub-
metidas	à	religião	cristã,	que	penetra	em	todos	os	setores	
da	vida	e	se	torna	a	base	de	toda	a	vida	pública	e	privada,	
com	a	implantação	do	"sistema	de	Cristandade".
5)	 A	Idade	Média,	em	síntese,	tem	três	fatores	essenciais:	
•	 a	 cultura	 romana,	 que	 se	mostra	 ainda	 superior	 às	
outras;	
•	 a	força	jovem	da	cultura	germânica,	que	foi	se	impon-
do	com	a	expansão	e	domínio	dos	"povos	bárbaros";		
•	 a	religião	cristã,	favorecida	pelos	 impérios	e,	muitas	
vezes,	dona	do	poder	político-temporal.
A	história	do	medievo	–	já	intuía	F.	Melanchton,	amigo	e	cor-
religionário	de	Lutero	–	é,	sobretudo,	a	história	da	Igreja.	Há	um	exa-
gero	nesta	colocação,	mas	é	inegável,	como	afirmou	F.	Braudel,	que	
o	Cristianismo	é	uma	realidade	essencial	na	vida	do	Ocidente,	tão	
forte	que	condiciona	até	mesmo	os	ateus	(DEL	ROIO,	1997,	p.	13).	
Segundo	Jedin,	no	período	medieval:	
A	 Igreja	como	enteléquia	ou	princípio	vital	da	comunidade	de	po-
vos	cristãos	do	ocidente	(ca.	700-1300).	Enquanto	a	Igreja	grega	se	
concentra	em	salvaguardar	as	antigas	tradições	cristãs,	os	francos	e	
anglosaxões	aceitam	a	fé	romana	católica,	o	que	tem	por	conseqü-
185© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
ência	a	germanização	do	cristianismo	e	a	aliança	do	pontificado	com	
o	grande	império	franco	do	século	VIII.	Estes	fatos	brindam	a	possi-
bilidade	singular	de	penetração	do	espírito	cristão	na	comunidade	
de	povos	romano-germânicos,	cercada	pelo	anel	islâmico,	debilmen-
te	unida	com	Bizâncio	e	que	logo	se	dilata	graças	aos	povos	eslavos	
orientais;	e	a	possibilidade	de	transmitir-lhes	a	herança	da	cultura	an-
tiga	(renascimento	carolíngio	e	otônico).	No	feudalismo	com	o	qual	a	
Igreja	se	encontra,	mas	que	ela	não	cria,	domina	a	monarquia	teocrá-
tica	ou	cesarismo	ocidental	renovado	(‘domínio	dos	leigos’),	até	que,	
desde	a	metade	do	século	XI,	o	pontificado	renovado	pela	reforma	
gregoriana,	em	reiterados	conflitos	com	o	poder	leigo	(questão	das	
investiduras,	os	Hohenstaufen	Frederico	I	e	Frederico	II),	se	erige	em	
força	ordenadora	dominante	do	ocidente	e	se	cria	na	cúria	romana	o	
instrumento	para	o	governo	centralizado	da	Igreja;	mas,	por	sua	vez,	
se	complica	em	medida	crescente	na	política	e	na	luta	pelo	poder,	
isto	é,	no	'mundo'.	Uma	piedade	mais	individual	e	de	tom	mais	sub-
jetivo	vai	deixando	num	segundo	plano	a	piedade	objetiva	e	litúrgica;	
a	escolástica	e	o	direito	canônico	traçam	um	sistema	de	pensamento	
e	ordem	eclesiástica,	se	não	uniforme,	sim	perfeitamente	concluso	
em	seus	traços	principais,	que	se	estrutura	ou	constrói	nas	universi-
dades.	As	ordens	mendicantes	aceitam	a	idéia	da	pobreza,	e	se	con-
sagram	principalmente	na	cura	das	almas	nas	cidades.	A	adesão	da	
Rússia	a	Bizâncio	e	o	cisma	do	oriente	fortalecem	o	isolamento,	as	
cruzadas	dilatam	o	horizonte	visual,	a	invasão	mongólica	torna	pos-
sível	a	 ruptura	temporal	com	os	cinturão	 islâmico	e	os	ensaios	de	
evangelização	do	distante	oriente.	Bonifácio	VIII,	em	luta	com	Felipe	
o	Belo,	formula	a	teoria	papal,	filha	do	momento,	mas	sucumbe	na	
catástrofe	de	Anagni	(1980,	p.	34-35).	
Agora,	vamos	aprofundar	alguns	temas	básicos	da	"primei-
ra	Idade	Média",	cronologicamente	situados	entre	os	séculos	5º	e	
10.	Assim,	poderemos	descobrir	vários	aspectos	essenciais	deste	
apaixonante	período!
6. QUEDA DE ROMA (476) E OS POVOS GERMÂNICOS 
E ESLAVOS (BÁRBAROS)
Queda de Roma
A	partir	do	século	2º,	o	grande	Império	Romano	passou	por	vá-
rias	crises	e,	de	modo	especial,	sofreu	com	o	processo	migratório	de	
vários	povos	do	norte	e	leste	europeu	que	ameaçavam	as	fronteiras.	
© História da Igreja Antiga e Medieval186
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Estes,	em	sua	maioria,	já	não	se	contentavam	em	fazer	acor-
dos	com	os	romanos,	invadiram	o	império	e	foram	se	impondo	tan-
to,	a	ponto	de	saquear	várias	cidades,	inclusive,	Roma.	O	auge	desta	
triste	situação	foi	a	queda	de	Roma	no	ano	476,	quando	Odoacro,	
guerreiro	germânico	ostro	godo,	depôs	o	Imperador	Rômulo	Augús-
tulo.	Muitos	se	questionam	sobre	as	razões	que	levaram	à	queda	do	
Império	Romano.	Dentre	as	causas,	destacam-se:
1)	 lutas	internas	pelo	poder	no	Império	Romano,	golpes	de	
Estado	e	consequente	enfraquecimento	do	imperador;	
2)	 altos	 custos	 de	manutenção	 da	 estrutura	militar	 e	 do	
exército,	cada	vez	mais	potente;
3)	 processo	inflacionário	e	crise	agrícola;	
4)	 acordos,	tratados	e	conchavos	com	os	invasores	que	não	
levaram	à	estabilidade	política,	mas	a	guerras,	lutas	que	
provocaram	instabilidades	e	destruição;	
5)	 vida	fácil,	corrupta,	luxuosa	e	sedentária	da	maioria	dos	
cidadãos	romanos,	que	não	estavam	mais	aptos	para	o	
trabalho	e	para	a	luta;	
6)	 invasões	dos	povos	bárbaros	e	acordos	que	enfraquece-
ram	o	poder	romano.
Gibbon,	aprofundando	a	questão	da	queda	de	Roma,	assim	
escreve,	após	falar	da	força	militar	romana	e	suas	conquistas:
A	ascensão	de	uma	cidade	que	se	avantajou	num	império	bem	me-
rece,	por	 singular	prodígio,	 ser	 tema	de	 reflexão	para	um	espíri-
to	filosófico.	Todavia,	o	declínio	de	Roma	foi	a	natural	e	inevitável	
conseqüência	da	grandeza	imoderada.	A	prosperidade	fez	com	que	
amadurecesse	o	princípio	da	decadência;	as	causas	de	destruição	
se	multiplicaram	com	a	extensão	das	conquistas;	e	tão	logo	o	tem-
po	ou	os	acidentes	removeram	os	sustentáculos	artificiais,	a	estu-
penda	estrutura	desabou	sob	seu	próprio	peso.	A	história	de	sua	
ruína	é	simples	e	óbvia;	em	vez	de	perguntar	por	que	o	 império	
romano	foi	destruído,	devemos	antes	surpreender-nos	de	ele	ter	
durado	tanto.	As	legiões	vitoriosas,	que	em	guerras	remotas	adqui-
riram	os	vícios	de	estrangeiros	e	mercenários,	primeiro	tiranizaram	
a	liberdadepública	e	mais	tarde	violaram	a	majestade	da	púrpura	
Os	 imperadores,	preocupados	com	sua	segurança	pessoal	e	com	
a	ordem	pública,	viram-se	reduzidos	ao	vil	expediente	de	corrom-
187© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
per	a	disciplina	que	as	tinham	tornado	temíveis	ao	seu	soberano	e	
ao	 inimigo;	relaxou-se	a	energia	do	governo	militar,	e	finalmente	
dissolveu-se	com	as	instituições	facciosas	de	Constantino;	e	eis	que	
o	mundo	romano	foi	engolfado	por	um	dilúvio	de	bárbaros.	
A	decadência	de	Roma	tem	sido	frequentemente	atribuída	à	trans-
ferência	da	sede	do	império;	esta	história	já	mostrou	contudo	que	
os	poderes	de	governo	foram	divididos,	mais	que	transferidos.	O	
trono	de	Constantinopla	ergueu-se	no	Oriente	enquanto	o	Ociden-
te	ainda	era	dominado	por	uma	série	de	imperadores	que	tinham	
sua	 residência	na	 Itália	e	que	 igualmente	 reclamavam	a	herança	
das	 legiões	e	das	províncias.	Essa	perigosa	novidade	debilitava	o	
vigor	e	 fomentava	os	vícios	de	um	duplo	reinado;	multiplicaram-
se	os	 instrumentos	de	um	sistema	opressivo	e	arbitrário;	 e	uma	
fátua	emulação	de	luxo,	não	de	mérito,	iniciou-se	e	se	manteve	en-
tre	os	degenerados	 sucessores	de	Teodósio.	A	extrema	angústia,	
que	unifica	as	virtudes	de	um	povo	 livre,	exacerba	as	 facções	de	
uma	monarquia	em	declínio.	Os	favoritos	antagônicos	de	Arcádio	
e	de	Honório	traíram	a	república	e	seus	inimigos	comuns,	e	a	corte	
bizantina	assistiu	com	indiferença,	talvez	com	prazer,	à	desonra	de	
Roma,	aos	infortúnios	da	Itália	e	à	perda	do	Ocidente	[...]	A	funda-
ção	de	Constantinopla	contribui	mais	decisivamente	para	a	preser-
vação	do	Oriente	do	que	para	a	ruína	do	Ocidente.
Como	a	felicidade	de	uma	vida	futura	é	o	grande	objetivo	da	religião,	
quiçá	não	nos	cause	surpresa	ou	escândalo	saber	que	a	introdução,	
ou	pelo	menos	o	abuso,	do	cristianismo	teve	alguma	influência	no	
declínio	e	na	queda	do	império	romano.	O	clero	pregava	com	êxito	
as	doutrinas	da	paciência	e	da	pusilanimidade;	as	virtudes	ativas	da	
sociedade	eram	desencorajadas,	e	os	últimos	vestígios	do	espírito	
militar	foram	sepultados	nos	claustros.	Grande	parte	da	riqueza	pú-
blica	e	privada	se	consagrou	às	especiosas	exigências	da	caridade	e	
da	devoção,	e	a	soldada	era	esbanjada	com	turbas	inúteis	de	ambos	
os	sexos	que	só	podiam	alegar	os	méritos	da	abstinência	e	da	casti-
dade.	A	fé,	o	ardor,	a	curiosidade	e	as	paixões	terrenas	da	maldade	
e	da	ambição	acenderam	a	chama	da	discórdia	teológica;	a	Igreja	e	
mesmo	o	estado	foram	divididos	por	facções	religiosas	cujos	confli-
tos	se	demonstravam	por	vezes	sangrentos	e	sempre	implacáveis;	
a	atenção	ao	imperador	se	desviou	dos	acampamentos	para	os	sí-
nodos;	uma	nova	tirania	oprimia	o	mundo	romano,	e	as	seitas	per-
seguidas	se	tornaram	inimigas	secretas	de	seu	país	[...]	Se	o	declínio	
do	império	romano	foi	apressado	pela	conversão	de	Constantino,	
sua	religião	vitoriosa	amorteceu	a	violência	da	queda	e	abrandou	a	
índole	violenta	dos	conquistadores	(1989,	p.	442-444).
© História da Igreja Antiga e Medieval188
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Evangelização dos povos germânicos e eslavos
Os	povos	que	chegaram	às	fronteiras	do	 império	eram	nô-
mades,	jovens,	com	grande	vitalidade	e	não	tinham	nada	a	perder.	
Atraídos,	 porém,	 pela	 cultura	 romana	 e	 por	 suas	 riquezas,	 após	
chegarem	aos	domínios	do	 Im	pério	Romano,	 foram	se	tornando	
sedentários,	deixando	de	lado	o	estilo	de	vida	nômade.	Observe	
que	a	maior	parte	desses	povos	se	integrou	à	cultura	romana,	ao	
passo	que	outra	 foi	derrotada	e	dominada,	como	foi	o	caso	dos	
vândalos.	Entre	os	povos	germânicos	que	migraram	para	o	impé-
rio,	destacamos:
1)	 Francos:	viviam	na	foz	do	rio	Reno,	na	Alemanha	e	Fran-
ça.	Em	496,	eles	se	tornaram	cristãos	por	meio	do	batis-
mo	do	rei	Clóvis.	Este	povo	foi	importante	para	a	expan-
são	e	crescimento	da	Igreja,	pois	dominou	outros	povos	
e	se	tornou	uma	potência,	restaurando	com	Carlos	Mag-
no,	o	Império	Romano,	chamado	na	época	de	Sagrado	e	
Germânico.
2)	 Lombardos:	vindos	do	Rio	Danúbio,	fixaram-se	ao	norte	
da	Itália	e	maltrataram	os	cristãos	até	a	con	versão	do	rei	
Authasis,	no	ano	585.
3)	 Burgúndios:	ocupavam	a	 região	do	mar	Báltico,	migra-
ram	para	a	França	e		tornaram-se	cristãos	no	ano	524.
4)	 Ostrogodos:	vindos	do	norte,	fixaram-se	no	norte	da	Itá-
lia	e	seu	chefe,	Odoacro,	destronou	o	último	imperador	
romano	do	Ocidente,	Rômulo	Augústulo.	Na	metade	do	
século	6º,	foram	dominados	pelo	Imperador	do	Oriente,	
Justiniano.
5)	 Ostrogodos:	 vindos	do	norte	da	Europa,	 fixaram-se	na	
Espanha.	Tornaram-se	cristãos	 com	a	conversão	do	 rei	
Recaredo,	em	589,	por	obra	de	São	Leandro	de	Sevilha.	
Estavam	ligados	à	Igreja	e	o	reino	deste	povo	terminou	
com	a	invasão	muçulmana	ocorrida	a	partir	do	ano	711.
6)	 Vândalos:	um	dos	povos	mais	violentos,	passando	pela	
Espanha,	 chegou	 ao	norte	 da	África	 e	 tomou	Cartago.	
Dali	 invadiu	 Roma	 e	 maltratou	 os	 cristãos,	 pois	 eram	
adeptos	da	heresia	ariana.	Foi	dominado	na	metade	do	
século	6º	pelo	Imperador	Justiniano.
189© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
7)	 Anglo-saxões:	os	povos	das	Ilhas	Britânicas	(irlandeses,	
ingleses,	escoceses	e	píctos,	provenientes	da	Noruega),	
desde	o	século	2º,	já	conheciam	o	Cristianismo,	que	en-
trou	em	crise	com	a	retirada	das	tropas	romanas	no	sé-
culo	5º.	Os	pa	pas,	porém,	enviaram	vários	missionários	
para	reevangelizar	estas	regiões.	Por	essa	razão,	 foram	
fundados	vários	mosteiros	dos	quais	saíram	dezenas	de	
mon	ges	que	evangelizaram	os	povos	germânicos	na	Eu-
ropa	Continental.	
Gibbon,	após	falar	da	força	militar	romana	e	suas	conquistas,	
aprofunda	a	questão	da	queda	de	Roma,	ao	tratar		das	ameaças	
dos	bárbaros:
Os	romanos	ignoravam	a	extensão	dos	perigos	e	o	número	dos	ini-
migos	que	os	ameaçavam.	Além	do	Danúbio	e	do	Reno,	os	países	
setentrionais	da	Europa	e	da	Ásia	estavam	cheios	de	inúmeras	tri-
bos	de	caçadores	e	pastores	pobres,	vorazes	e	turbulentos,	auda-
zes	nas	armas	e	sôfregos	de	arrebatar	os	frutos	da	operosidade.	O	
mundo	bárbaro	foi	agitado	pelo	rápido	impulso	da	guerra,	e	a	paz	
da	Gália	ou	da	Itália	sacudida	pelas	distantes	revoluções	da	China.	
Os	hunos,	que	fugiam	de	um	inimigo	vitorioso,	orientaram	sua	mar-
cha	para	o	Ocidente;	e	a	torrente	cresceu	com	a	gradual	incorpora-
ção	de	cativos	e	aliados.	As	tribos	em	fuga	que	cederam	aos	hunos	
assumiram,	por	sua	vez,	o	espírito	de	conquista;	as	infindas	colunas	
bárbaras	pressionaram	o	império	romano	com	peso	multiplicado,	
e	 se	a	vanguarda	era	aniquilada,	nossos	assaltantes	ocupavam	o	
espaço	vago.	Tais	formidáveis	emigrações	não	mais	provinham	do	
norte;	e	o	longo	período	de	tranqüilidade,	atribuído	ao	decréscimo	
populacional,	é	a	ditosa	conseqüência	do	progresso	das	artes	e	da	
agricultura	[...].		Mas	essa	aparente	segurança	não	nos	deve	levar	a	
esquecer	que	novos	inimigos	e	perigos	ignorados	podem	possivel-
mente surgir	de	algum	povo	obscuro,	mal	visível	ainda	no	mapa	do	
mundo.	Os	árabes	ou	os	sarracenos	que	disseminaram	suas	con-
quistas	desde	a	Índia	até	a	Espanha,	haviam	enlanguescido	na	po-
breza	e	na	desonra	até	Maomé	infundir	naqueles	mesmos	corpos	o	
sopro	do	entusiasmo.	O	império	de	Roma	se	firmou	pela	singular	e	
perfeita	coalizão	dos	seus	membros.	As	nações	vassalas,	renuncian-
do	à	esperança	e	mesmo	ao	desejo	de	independência,	aceitaram	a	
condição	de	cidadãs	romanas,	e	as	províncias	do	Ocidente	foram	
com	relutância	arrancadas	do	seio	da	mãe-pátria.	Mas	essa	união	
custou	a	perda	da	liberdade	nacional	e	do	espírito	militar,	e	as	pro-
víncias	servis,	destituídas	de	vida	e	de	ação,	esperavam	ter	sua	se-
gurança	garantida	pelas	tropas	mercenárias	e	pelos	governadores	
que	recebiam	ordens	de	uma	corte	distante.	A	felicidade	de	cente-
© História da Igreja Antiga e Medieval190
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
nas	de	milhões	dependia	do	mérito	pessoal	de	um	ou	dois	homens,	
talvez	crianças,	cuja	mente	havia	sido	corrompida	pela	educação,	
pelo	 luxoe	pelo	poder	despótico.	Os	 ferimentos	mais	profundos	
foram	infligidos	ao	império	durante	a	minoridade	dos	filhos	e	netos	
de	Teodósio;	depois	de	terem	atingido	a	idade	viril,	esses	príncipes	
incapazes	deixaram	a	Igreja	entregue	aos	bispos,	o	Estado	aos	eu-
nucos,	e	as	províncias	aos	bárbaros	(1989,	p.	445-446).
Islamismo
Igualmente	 importante,	 é	 ressaltar	 neste	 momento	 o	 sur-
gimento	do	 Islamismo	 (nome	que	significa	 "submetido	à	vontade	
divina"),	com	Maomé.	Após	uma	vida	de	comerciante,	Maomé	foi	
aos	poucos	articulando	a	nova	religião	surgida	na	Península	Arábi-
ca,	 com	uma	profissão	de	 fé	 simples:	 fé	e	adoração	só	em	Alá,	o	
Deus	único;	obediência	ao	Corão	como	livro	sagrado;	e	o	respeito	e	
obediência	a	Maomé,	o	profeta.	A	partir	do	ano	622,	começou-se	a	
sua	expansão	religiosa	e	militar,	fenômeno	conhecido	como	"Égira	
muçulmana".	Nos	séculos	7º	e	8º,	os	muçulmanos	conquistaram	o	
Oriente	Médio,	chegaram	às	portas	de	Constantinopla	em	718	e	to-
maram	todo	o	norte	africano,	de	onde	chegaram	na	Espanha	no	ano	
711,	sendo	barrados	na	França,	na	famosa	batalha	de	Poitiers,	pelo	
franco	Carlos	Martelo.	
Posteriormente, quando abordarmos as Cruzadas, voltaremos a 
tratar do Islamismo. 
Cristianismo diante dos povos bárbaros
Outro	aspecto	 importante	 foi	o	processo	de	evan	ge	lização	
dos	povos	bárbaros.	 Inicialmente,	os	cristãos,	como	os	romanos,	
tiveram	dificuldades	em	aceitar	a	presença	e	a	 convivência	 com	
esses	 povos,	 considerados	 'bárbaros',	 invasores	 e	 sem	 cul	tura.	
Aos	poucos,	porém,	os	cris	tãos	perceberam	que	eles	deveriam	ser	
evange	lizados,	pois	eram	possuidores	de	um	potencial	muito	gran-
de	para	assimilar	as	verdades	cristãs.	A	partir	desta	constatação,	
191© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
surgiu	um	grande	número	de	missionários,	monges	na	sua	grande	
maioria,	que	se	dedicaram	a	evangelizar	os	povos	que	chegaram	às	
fron	teiras	do	império.	É	importante	notar,	também,	que	a	ação	dos	
mis	sionários	teve	um	grande	apoio	dos	papas	e	dos	reis	que,	ao	se	
converterem,	exigiam	dos	seus	súditos	a	conversão	ao	Cristianis-
mo.	Muitos	deles	fundaram	mosteiros,	fundaram	cidades	e	leva-
ram	novas	técnicas	agrícolas,	bem	como	a	cultura	romana	para	as	
regiões	povoadas	pelos	povos	bárbaros.
Destacamos	 vários	 missionários	 que	 se	 dedicaram	 à	 obra	
evangelizadora	desses	povos,	muitos	inclusive	martirizados:	
1)	 São	Bo	nifácio,	que	trabalhou	na	Alemanha	e	em	vários	
países	vizinhos.
2)	 São	Columbano,	que	trabalhou	na	Itália,	na	Suíça	e	em	
outras	regiões.
3)	 São	Gallo,	que	trabalhou	na	Suíça.	
4)	 São	Ruperto,	que	trabalhou	na	Ale	manha.
5)	 São	Severino,	que	tra	balhou	na	Baviera	e	na	Áustria.	
6)	 Santo	Oscar,	que	trabalhou	na	Dina	marca	e	na	Suécia.	
7)	 Santos	Willibordo	e	Wilfrido,	que	trabalharam	na	Dina-
marca.
8)	 Santos	Metódio	e	Cirilo,	que	trabalharam	na	Morávia	e	
na	Bulgária.	
9)	 Santos	Remígio,	Avito	e	Casário	de	Arles,	que	trabalha-
ram	na	evangelização	dos	francos.	
10)	São	Bibiano,	que	trabalhou	na	Escócia.	
11)	Santo	Agostinho,	que	 trabalhou	na	 Inglaterra	 e	 conse-
guiu	a	conversão	do	rei	Etelberto	em	597.
12)	São	Patrí	cio,	um	dos	maiores	mis	sionários	deste	perío-
do,	que	trabalhou	na	Irlanda	etc.
O	trabalho	de	tais		missionários	foi	extraordinário	e,	graças	
a	eles,	a	Igreja	pôde	se	expandir	e	se	fazer	presente	junto	a	vários	
povos	que	não	conheciam	o	Evangelho	de	Jesus	Cristo.	
© História da Igreja Antiga e Medieval192
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
7. ASCENSÃO DA IGREJA, CRIAÇÃO DO ESTADO 
PONTIFÍCIO E FEUDALISMO
Formação do Estado Pontifício
Após	a	queda	do	lmpério	Romano	do	Ocidente,	ocorrida	no	ano	
476,	foi	se	tornando	cada	vez	mais	forte	a	influência	do	papado	nos	
assuntos	internos	da	Igreja	e,	de	modo	especial,	nos	assuntos	admi-
nistrativos	e	políticos	do	antigo	Império	Romano.	Além	dos	pedidos	
de	ajuda	dirigidos	ao	papa,	o	povo	dirigia	seus	pedidos,	também,	para	
os	bispos,	pois	a	grande	maioria	deles	se	distinguia	pela	santidade,	
pela	sabedoria	e	ciência,	e	pelas	benfeitorias	em	favor	do	povo.
Com	o	crescimento	das	invasões	bárbaras,	a	crueldade	e	a	cor-
rupção	dos	príncipes	e	governantes,	os	bispos	e	os	papas	tornaram-se	
os	defensores	do	povo,	construtores	de	hospitais,	asilos,	locais	de	ajuda	
aos	pobres	etc.	O	povo	reconheceu	e,	apreciando	a	dedicação	das	au-
toridades	eclesiais,	passou	a	fazer	doações	para	a	Igreja.	Tais	doações	
cresceram	e,	pouco	a	pouco,	os	bispos	passaram	a	ter	terras	e	bens	
imóveis.	O	bispo	de	Roma	já	aparece,	no	início	do	século	7º,	como	o	so-
berano	do	Ducado	Romano.	O	termo	"papa",	inicialmente,	era	utilizado	
pelos	clérigos,	mas	depois	ficou	restrito	aos	bispos	e,	na	Idade	Média,	
exclusivamente	ao	bispo	de	Roma,	"pai	de	toda	a	Cristandade".	
Nesse	 período,	 o	 papa	 continuou	 sendo	 submisso	 ao	 im-
perador	do	Oriente,	que	morava	em	Constantinopla.	Mas,	com	o	
tempo,	foi	se	tornando	independente,	passando	a	fazer	alianças	e	
acordos	com	os	dirigentes	do	Ocidente.	Como	afirma	Del	Roio:	
A	luta	do	bispo	de	Roma	pela	supremacia	processou-se	longa	e	tor-
tuosamente.	Iniciou-se	com	Damaso	I	(366-384),	que	reivindicava	a	
condição	de	sucessor	direto	de	Pedro	apóstolo,	martirizado	no	ano	
64	e,	segundo	a	tradição,	primeiro	bispo	daquela	cidade.	A	reivindi-
cação	de	primazia	baseava-se	nestas	palavras	de	Jesus,	transcritas	
no	Novo	Testamento:	"Pedro,	 tu	és	pedra,	sobre	a	qual	construi-
rei	a	minha	Igreja.	E	nem	a	potência	da	morte	poderá	destruí-la"	
(Mt,	16,18).	A	promoção	da	Igreja	romana,	agora	sede	apostólica,	
constituiu-se	 num	 acontecimento	 fundamental	 para	 a	 conquis-
ta	seguinte:	a	elevação	do	cristianismo	a	religião	de	Estado,	pelo	
193© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
imperador	Teodósio	I.	Outra	personalidade	marcante	seria	Leão	I,	
Magno	(440-461).	Homem	culto	e	experimentado	no	exercício	do	
governo,	ele	codificou	a	ortodoxia,	combatendo	com	dureza	as	he-
resias.	Reafirmou	as	teses	de	Damaso	I	mas,	sobretudo,	reformou	
a	estrutura	da	Igreja,	que	de	uma	espécie	de	federação	de	bispos	
assumiu	a	forma	de	uma	estrutura	verticalizada.	Saudado	como	"vi-
cário	de	Cristo",	Gelásio	I	(492-496)	destacou-se	como	outra	figura	
proeminente	desse	período	histórico.	Era	dele	a	teoria	segundo	a	
qual	dois	poderes		governariam	o	mundo:	a	autoridade	consagrada	
dos	bispos	e	o	poder	real,	uma	centralizada	em	Roma,	o	outro,	no	
imperador.	A	primeira,	superior,	porque	delegada	por	Deus	(sumus	
et	verus	imperator)	para	tratar	dos	assuntos	espirituais,	com	poder	
de	submissão	sobre	o	próprio	imperador	(1997,	p.	22-23).
Contemporaneamente,	aumentava	a	influência	e	o	poderio	
do	povo	franco	em	todo	o	Ocidente.	O	papa	Estevão	II	(752-757),	
então,	faz	um	acordo	com	o	rei	Pepino,	o	Breve,	que,	se	vencesse	
a	guerra	contra	os	lombardos,	ofereceria	os	territórios	reconquis-
tados	ao	papa.	Carlos	Magno,	filho	de	Pepino,	fortaleceu	a	aliança	
com	o	papa	e	lhe	doou	mais	cidades.	
Assim,	no	ano	800,	o	papa	Leão	III	(795-816)	coroou	Carlos	
Magno,	que	fundou	a	dinastia	carolíngia	e	restaurou	o	antigo	Im-
pério	Romano,	que,	a	partir	de	então,	se	chamaria	Sagrado	Impé-
rio	Ro	mano	-	Germânico.	Inicia-se	um	processo	de	alianças	entre	o	
poder	temporal	e	o	espiritual:	
•	 ao	imperador	competia	a	jurisdição	suprema,	o	controle	
do	governo	papal,	a	proteção	da	Igreja	e	ser	coroado	pelo	
Sumo	Pontífice;	
•	 ao	papa	competia	o	zelo	da	Igreja	e	o	exercício	dos	pode-
res	administrativo	e	judiciário.	Com	Carlos	Magno	e	seu	
filho	Ludo	vico,	o	Pio,	esse	sistema	funcionou	bem,	porém,	
partindo	de	seus	netos,	a	relação	foi	se	deteriorando.
Após	falar	das	relações	iniciais	entre	o	Cristianismo	e	o	povo	
franco,	Del	Roio	aprofunda	a	questão	sobre	Carlos	Magno:
A	ascensão	de	Carlos,	que	será	intitulado	Magno,	filho	de	Pepino,	
ao	trono	(768-814)	dará	continuidade	e	reforçará	a	aliança	franco-
romana.	Quem	sofrerá	as	conseqüências	serão	os	lombardos:	em	
virtude	de	invasão	à	sua	capital,	Pavia,	por	Carlos,todo	o	reino	será	
© História da Igreja Antiga e Medieval194
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
anexado.	Durante	seu	longo	reinado,	Carlos	promoveu	numerosas	
guerras,	estendendo	seu	reino	por	toda	a	Gália,	terras	germânicas	e	
parte	da	Itália.	Deparou-se	com	barreiras	intransponíveis	na	Ibéria,	
onde	os	muçulmanos	o	bloquearam,	e	nos	reinos	dos	povos	nórdi-
cos.	Rapidamente	Carlos	organizou	o	Estado,	onde	fundiu	a	tradi-
ção	clássica	com	os	costumes	e	energia	dos	povos	bárbaros,	cimen-
tado	com	o	 ideal	cristão.	Sentia-se	responsável	diretamente	pela	
propagação	e	pureza	da	fé,	criando	um	sistema	que	ficou	conhe-
cido	como	o	"agostinismo	político".	Daí	nasciam	suas	 freqüentes	
divergências	com	o	papado,	retratadas	nos	livros	"carolíngios",	que	
fez	escrever	[...].	No	ano	800	Carlos	encontrava-se	em	Roma	para	
defender	o	papa	Leão	III	(795-816)	de	uma	sublevação	de	patrícios	
romanos.	Durante	a	missa	de	Natal,	diante	da	tumba	que	seria	de	
Pedro	apóstolo,	o	papa	colocou	sobre	sua	cabeça	a	coroa	imperial,	
e	o	público	presente	o	aclamou	como	imperador	do	Ocidente.	Logo	
depois	Leão	III	ajoelhou-se	diante	de	Carlos	Magno	como	sinal	de	
respeito	e	de	submissão.	Seria	a	última	vez	na	história	que	um	papa	
se	curvaria	diante	de	um	imperador		(1997,	p.	30-31).
Essa	aliança	 fez	com	que,	muitas	vezes,	os	 imperadores	se	
intrometessem	 nos	 assuntos	 eclesiásticos	 (cesaropapismo)	 e	 os	
ecle	siásticos,	 por	 sua	 vez,	 nos	 assuntos	 políticos.	 Essa	 situação	
provocou	muitos	desvios	na	hierarquia	eclesial,	muitas	vezes	vol-
tada	para	os	bens	deste	mundo	e	deixando-se	corromper.	
Com	isso,	aprendemos	que	o	poder	eclesial	não	deve	se	aliar	
aos	poderes	deste	mundo,	pois	o	Evangelho	e	a	prática	de	Jesus	
não	podem	aceitar	o	pacto	com	o	poder	dominador,	opressor,	ex-
cludente	e	discriminador.	
É	necessário,	portanto,	que	a	 Igreja	 testemunhe	o	Evange-
lho,	pactuando	sempre	com	a	justiça,	a	igualdade,	a	fraternidade	
e	a	solidariedade.	A	sua	autoridade	no	mundo	deve	ser	respeitada	
pelo	compromisso	com	o	amor	e	a	verdade.
Século de ferro
Com	a	morte	do	 Imperador	Carlos	Magno,	 seus	 filhos	não	
conseguiram	dar	 continuidade	 à	 ótima	 administração	 articulada	
por	ele.	Em	814,	o	 império	é	dividido	entre	seus	três	netos,	que	
lutaram	entre	si,	enfraqueceram	o	poder	 imperial	e	provocaram	
o	fortalecimento	do	poder	eclesial.	Em	Roma,	após	o	assassinato	
195© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
do	papa	João	VI,	iniciou-se	o	"século	de	ferro",	período	em	que	o	
pa	pa	do	se	converteu	praticamente	em	objeto	de	interesses	e	lutas	
de	algumas	inescrupulosas	famílias	romanas.	
Del	Roio	assim	descreve	este	momento	lamentável	do	Cris-
tianismo,	a	partir	do	papado	de	Nicolau	I	(papa	de	858-867):
Nicolau	proclamava	o	seu	poder,	mas	de	fato	a	estrutura	eclesiásti-
ca	estava	em	processo	de	dissolução,	por	conta	principalmente	da	
simonia.	A	fórmula	que	determinava	a	eleição	dos	bispos	pelo	clero	
e	pelos	fiéis	se	constituía	numa	afirmação	vazia,	já	que	quem	preen-
chia	esses	cargos,	de	forma	cada	vez	mais	decisiva,	eram	os	grandes	
senhores	feudais	ou	os	reis.	Em	geral	eles	nomeavam	seus	próprios	
parentes,	com	o	objetivo	de	se	apossarem	dos	bens	da	 Igreja.	O	
bispado,	com	as	suas	terras,	 foi	se	transformando	em	proprieda-
de	familiar	transmitida	hereditariamente,	hierárquica	do	clero.	Os	
próprios	templos,	construídos	pelos	poderosos,	eram	convertidos	
em	propriedade	pessoal,	devendo	os	sacerdotes	que	ministravam	
serviço	prestar	reverência	a	seus	patrões.	Era	difícil	falar	em	voca-
ção	em	se	tratando	de	homens	que	entravam	para	as	estruturas	da	
Igreja	somente	por	interesse	econômico	e	que	sonhavam	com	uma	
vida	dissoluta.	A	 lama	chegou	até	o	trono	pontifical.	Nas	últimas	
décadas	do	século	IX,	a	escolha	dos	papas	passou	a	se	dar	como	
resultante	das	lutas	internas	ao	patriciado	romano.	Fatos	terríveis	
viriam	a	ocorrer.	Recordemos,	a	título	de	exemplo,	o	caso	do	papa	
Formoso	(891-896):	seu	sucessor,	Estéfano	VI	(896-897),	originário	
das	fileiras	de	seus	inimigos,	exumou	o	corpo	de	Formoso	e,	depois	
de	um	processo	com	todas	as	pompas,	condenou-o	à	pena	de	corte	
de	três	dedos	de	seu	cadáver	e	a	ter	seus	restos	mortais	jogados	ao	
rio.	Nos	primeiros	lustros	do	século	X,	quem	praticamente	coman-
dou	o	Vaticano	foi	uma	rica	patrícia,	Marózia,	que	fazia	e	desfazia	
dos	papas	como	bem	desejasse.	Não	foram	poucos	os	pontífices	
assassinados	durante	o	período	(1997,	p.	33-34).
Esse	é	um	período	 lamentável,	pois	vários	papas	serão	as-
sassinados,	depostos	e	colocados	no	trono	pontifício	por	seus	fa-
miliares.	Muitos	desses	papas	ou	seus	parentes	não	eram	dignos	e	
cometeram	atos	arbitrários.	Note,	também,	que	é	grande	a	influ-
ência	de	algumas	mulheres	ambiciosas	da	nobreza	romana,	como	
é	o	 caso	de	Teo	dora	e	 suas	 filhas	Marózia	 e	 Teodora	 Jovem,	da	
família	dos	Teofilato.	É	nesse	contexto	que	surge	a	lenda	da	"pa-
pisa	Joana",	que	teria	governado	a	Igreja	durante	dois	anos	e	sete	
meses,	em	meados	do	século	9º.
© História da Igreja Antiga e Medieval196
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Surgiram	alguns	papas	que	tentaram	conduzir	a	Igreja	com	
seriedade	e	queriam	reformá-la.	Mas,	é	difícil	administrá-la	nessas	
condições.	A	crise	só	seria	superada	com	o	fortalecimento	do	tro-
no	imperial	alemão,	que,	com	o	Imperador	Oto	I	(936-973),	alcan-
çou	um	novo	vigor.	
O	imperador	intervém	nos	assuntos	da	Igreja,	foi	várias	vezes	
a	Roma	e	tentou	colocar	ordem	na	Igreja,	cuja	atividade	apresen-
tou	sucesso	relativo,	pois,	com	a	morte	de	seus	filhos	(Oto	II	e	Oto	
III),	o	papado	cai	novamente	nas	mãos	da	ambiciosa	e	interesseira	
nobreza	 romana,	 a	 partir	 do	 ano	1002.	 Foi	 com	o	papa	 Leão	 IX	
(1049-1054)	que	se	iniciou	um	período	de	reforma	na	Igreja,	que	
teve	o	seu	ápice	na	pessoa	e	ação	do	papa	Gregório	VII.
Essa	fase	vivida	pela	Igreja	no	"século	de	ferro"	confirma	a	
ideia	de	que	a	Igreja	não	deve	fundamentar	suas	forças	nos	pode-
res	deste	mundo.	Todo	ministério	eclesial	é	um	"dom	de	Deus",	um	
"carisma",	isto	é,	é	um	presente	gratuito	de	Deus.	Portanto,	nada	
na	Igreja	pode	ser	conseguido	por	dinheiro	ou	con	chavos	com	os	
esquemas.	Ela	deve	ser	livre	para	poder,	com	liberdade,	anunciar	
as	verdades	evangélicas,	questionando	todas	as	estruturas	de	pe-
cado	deste	mundo.
8. ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
A	 Idade	Média	marca	o	 ro	bustecimento	da	espiritualidade	
cristã,	o	qual,	com	as	bases	na	antiguidade	cristã	e	com	os	novos	
dogmas,	adquiriu	estabilidade.	Nesse	período,	destacamos	os	se-
guintes	aspectos:
1)	 Cresceu	a	piedade	eucarística	e	a	instituição	da	festa	de	
Corpus Christi,	em	1264.
2)	 Desenvolveu	 as	 imagens	 de	 Cristo:	 ícones,	 vitrais,	 pinturas	
etc.	
3)	 Criou-se	a	Via-Sacra,	a	partir	do	ano	1150.	
4)	 Verificou-se	 o	 aumento	 da	 devoção	mariana:	 orações,	
dedicação	de	 Igrejas	a	Maria.	O	sábado	 torna-se	o	dia	
197© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
mariano	e	formula-se	a	Ave	Maria	(a	saudação	do	anjo	
e	a	exclamação	de	 Isabel	 já	se	encontram	em	textos	e	
inscrições	do	século	5º;	no	ano	1000	se	ajuntam	"Jesus	
e	Amém";	a	forma	"Santa	Maria,	Mãe	de	Deus,	roga	por	
nós	pecadores"	já	se	encontra	no	século	14;	e	"agora	e	
na	hora	de	nossa	morte",	no	século	16.	
5)	 Cresceu	o	culto	dos	mártires	junto	às	tumbas	e	às	suas	
relíquias,	apesar	do	crescente	tráfico	destas	e	de	objetos	
sacros.	
6)	 Aumentou	a	devoção	à	Terra	Santa	com	muitas	peregri-
nações.	
Como	você	pôde	verificar,	na	Idade	Média,	a	Igreja	se	forta-
leceu	e	encontra	uma	consistência	maior.	
Aos	poucos,	os	cristãos	e	os	neocon	vertidos	ao	Cristianismo	
foram	assimilando	as	verdades	de	fé	e	expressando-as	na	liturgia	
e	na	espiritualidade.	O	importante	é	que	os	cristãos	conseguiam,	
sempre,	ex	primir	a	sua	relação	com	o	sagrado.	
A	vida	eclesial	e	religiosa	precisavam	se	basear	numa	espi-
ritualidade	consistente	e	sadia,	que	manifestasse	a	união	do	fiel	
cristão	com	o	Deus	de	Jesus	Cristo.	
No	final	do	primeiro	milênio,quando	surgiram	tantas	espi-
ritualidades,	 os	 cristãos	precisavam	 ser	 autênticos	 e	profes	sar	 a	
sua	fé	em	Deus.	
Dos	 séculos	 6º	 ao	8º,	 os	mosteiros	 ocuparam	o	 centro	da	
vida	litúrgica	e	da	educação	cultural	do	ocidente	cristão.	A	espiri-
tualidade	tornou-se	muito	individual	e	a	relação	com	o	divino	um	
vínculo	de	fidelidade	mútua	e	as	orações	eram	dirigidas	a	Cristo.	
Já	nos	séculos	9º	e	10,	há	um	grande	florescimento	espiritual	
seguido	de	uma	grave	crise.	Dos	séculos	11	ao	14,	verifica-se	uma	
tentativa	de	superar	a	crise	do	século	10:	o	ideal	era:	"Remodelar	
a	criação,	desfigurada	pelo	pecado,	à	imagem	e	segundo	a	visão	de	
Deus,	e	de	instaurar	desde	já	o	reino	de	Cristo"	(MONDONI,	2000,	
p.	46-57).
© História da Igreja Antiga e Medieval198
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
9. VIDA MONÁSTICA
O	desenvolvimento	e	a	expansão	do	Cristianismo,	nos	primei-
ros	séculos,	foram	muito	enriquecidos	com	o	testemunho	de	muitos	
de	seus	seguidores,	com	especial	destaque	para	os	mártires.	Um	dos	
grupos	que	mais	se	desenvolveu	e	ajudou	na	sua	consolidação	foi	a	
vida	monástica.	Já	nos	primeiros	séculos,	surgiram	ascetas,	anacore-
tas	e	virgens,	homens	e	mulheres	que	se	consagravam	ao	seguimento	
de	Jesus	Cristo	e	abandonavam	tudo	para	viver	o	 ideal	do	deserto.	
Com	o	tempo,	este	estilo	de	vida	foi	se	organizando	e	deu	origem	à	
vida	comum	ou	cenobitismo,	com	o	surgimento	de	várias	regras	mo-
násticas	(Pacômio,	Agostinho,	Basílio,	 Isidoro	de	Sevilha	etc.)	e	com	
a	 construção	 de	 grandes	mosteiros	 no	Oriente	 e	 no	Ocidente.	 No	
Ocidente,	uma	figura	de	grande	destaque	foi	São	Bento	de	Núrsia,	a	
partir	do	início	do	século	6º,	considerado	o	pai	do	monacato	do	Oci-
dente:	a	partir	de	Subíaco	e	Montecassino	(mosteiro	fundado	no	ano	
529),	seus	monges	percorreram	toda	a	Europa,	fundando	mosteiros,	
convertendo	povos	bárbaros	e	romanos,	construindo	cidades	e	con-
servando	a	ciência.	Com	o	tempo,	os	mosteiros	tornaram-se	muito	
ricos	e	fontes	de	grande	poder,	também	eles	nas	mãos	dos	senho-
res	feudais	e	reis.	Houve	um	processo	de	grande	decadência	que	só	
foi	superado	com	as	reformas	monásticas	medievais,	com	destaque	
para	a	de	São	Bento	de	Aniane,	no	início	do	século	9º		e	a	reforma	de	
Cluny,	a	partir	do	ano	909,	na	Borgonha	francesa.	Este	mosteiro	tinha	
vínculos	com	Roma	e	ficou	livre	da	ingerência	das	autoridades	locais	
e	também	dos	bispos;	com	abades	íntegros	e	firmes,	foram	fundados	
centenas	de	mosteiros	reformados	que	conduziram	o	Cristianismo	a	
viver	uma	das	suas	maiores	reformas	até	a	sua	consolidação	medieval	
com	o	apogeu	da	Cristandade,	representada	especialmente	por	um	
papa	saído	do	movimento	reformístico	de	Cluny:	papa	Gregório	VII	
(1073-1085).	Sobre	Cluny,	Del	Roio	assim	escreve:
Uma	inovação	que	teria	inúmeras	conseqüências	se	daria	com	a	mu-
dança	da	antiga	regra	beneditina	do	ora	et	labora.	O	trabalho	manual	
seria	 reservado	aos	 leigos,	para	que	os	monges	se	concentrassem	
plenamente	na	oração.	Esta	deveria	ser	vista	não	mais	como	súplica	
para	alcançar	graças,	mas	como	glorificação	de	Deus,	através	da	qual	
199© Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo
os	cluniacenses	se	proporiam	a	representar	toda	a	comunidade	cris-
tã.	Se	a	oração	devia	tornar-se	glória,	gloriosa	deveria	ser	a	liturgia,	
com	gestos	 lentos	e	misteriosos,	envolvidos	por	cantos	profundos	
e	elaborados.	Com	paramentos	recobertos	de	cores	e	metáforas	e	
templos	grandiosos,	ricos	de	esculturas	e	afrescos.	Ao	participar	do	
culto,	o	fiel	deveria	sentir-se	na	ante-sala	do	paraíso.	Com	toda	a	ale-
gria	e	temor	que	o	evento	poderia	despertar.	O	servo	do	Senhor	–	o	
clero	e,	acima	de	todos,	aqueles	que	se	intitula	o	‘servo	dos	servos’,	
o	bispo	de	Roma	-	deveriam	afastar-se	da	carne	e	do	mundo,	para	o	
melhor	serviço	da	Igreja.	Construir	uma	hierarquia	rígida,	combater	a	
simonia	e	o	concubinato	clerical	e	suprimir	a	tradição	de	intervenção	
laical	nos	assuntos	internos	da	Igreja	tornaram-se	os	parâmetros	bá-
sicos	do	movimento	reformista	(	1997,	p.	41).
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 	Quais	são	as	características	do	ambiente	cristão	na	Idade	Média?
2)	 Quais	foram	as	principais	causas	da	queda	de	Roma	e	como	você	interpreta	
o	papel	do	Cristianismo	diante	da	queda	de	Roma?
3)	 Como	você	vê	a	espiritualidade	cristã	medieval	e	a	vida	monástica?
4)	 Como	você	analisa	a	posição	cristã	diante	da	invasão	dos	povos	germânicos	
e	eslavos?
5)	 Qual	a	importância	deste	estudo	para	minha	vida	acadêmica	e	profissional?
11. CONSIDERAÇÕES 
Nesta	unidade,	você	teve	a	oportunidade	de	compreender	a	
terminologia	e	as	características	do	mundo	medieval,	bem	como	
a	queda	de	Roma	(476)	e	as	particularidades	dos	povos	germâni-
cos	e	eslavos	 (bárbaros).	Com	esses	conhecimentos,	 foi	possível	
analisar	a	ascensão	da	Igreja,	o	Estado	Pontifício,	o		feudalismo	e	a	
organização	eclesial	na	Idade	Média.
Na	Unidade	5,	vamos	estudar	o	Cisma	do	Oriente	(1054),		as	
Igrejas	ortodoxas,	o	Islamismo	e	as	Cruzadas.	
© História da Igreja Antiga e Medieval200
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12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
DEL	ROIO,	J.	L.	Igreja medieval:	a	cristandade	latina.	São	Paulo:	Ática,	1997.
FRÖHLICH,	R.	Curso básico de história da igreja.	São	Paulo:	Paulinas,	1987.
GIBBON,	E.	Declínio e queda do império romano.	São	Paulo:	Cia.	Letras,	1989.
LE	GOFF,	J.	Por amor às cidades.	São	Paulo:	Editora	Unesp,	1997
LE	GOFF,	J.	A civilização do ocidente medieval.	Bauru:	Edusc,	2005.
______.;	SCHMITT,	J-C.	Dicionário temático do ocidente medieval.	Bauru:	Edusc,	2002.
MONDONI,	D.	Teologia da espiritualidade cristã.	São	Paulo:	Loyola,	2000.	
PIERINI,	F.	A idade média.	São	Paulo:	Paulus,	1998.
SOUTHERN,	R.	W.	A igreja medieval.	Lisboa:	Ulisséia,	1970.

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