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EA D A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 5 1. OBJETIVOS • Interpretar a presença da Igreja nos regimes populistas. • Compreender a relação existente entre o Estado e a Igreja do Brasil no governo de Getúlio Vargas. • Demonstrar a importância do papel dos leigos na Igreja e em sua evolução. • Analisar como a Igreja se tornou populista e como lidou com as massas. • Interpretar a importância do Concílio Plenário Brasileiro. • Compreender os novos rumos que a Igreja tomou a partir de 1950. 2. CONTEÚDOS • A Igreja nos regimes populistas. • A Igreja no governo de Getúlio Vargas. © História da Igreja na América Latina e no Brasil154 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO • As manifestações católicas. • A Igreja e o ensino religioso. • A Liga Eleitoral Católica. • A Ação Católica. • O Estado Novo e a Igreja. • O Concílio Plenário Brasileiro. • A reorganização da Igreja a partir de 1950. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Ao estudar esta unidade, você deve ter como pano de fundo a conjuntura mundial daquele período: o fascis- mo, o comunismo e o nazismo; a Segunda Guerra Mun- dial e a Guerra Fria após 1945; a Revolução Cubana em 1959; a conjuntura eclesial romana e os papas do perí- odo: Pio XI (1922-1939), Pio XII (1939-1958), João XXIII (1958-1963). No Brasil, nesse período, a Igreja terá medo do comunismo, do protestantismo e do espiritismo. Re- visite a história da Igreja contemporânea, pois isto irá lhe auxiliar em sua leitura. 2) Na América Latina, os modelos de governos populistas que mais se destacaram foram os de: Getúlio Vargas (1930-1945/1951-1954), no Brasil; José Maria Velas- co Ibarra (1934-1935), no Equador; Lázaro Cárdenas del Rio (1934-1940), no México; Juan Domingo Perón (1946-1955), na Argentina; Angel Victor Paz Estenssoro (1952-1956), Hernán Siles Zuazo (1956-1960), na Bolí- via; Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957), na Colômbia. 3) A Ação Católica foi criada pelo papa Pio XII em 1925. 4) Cisma na Igreja do Brasil. D. Carlos Duarte da Costa foi ordenado bispo em 1924, no Rio de Janeiro, pelo carde- al Leme. Em 1925, assumiu a diocese de Botucatu. Em 1937, foi obrigado a renunciar o episcopado. Em 1945 155© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 fundou a ICAB – Igreja Católica Apostólica Brasileira. Em 1946, foi excomungado da Igreja Católica Romana. 5) Em 1952, a Igreja contava com 20 províncias eclesiásti- cas, com seus arcebispos e metropolitas, e com 115 dio- ceses e prelazias. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade, vamos estudar a situação da Igreja nos regi- mes populistas. O ano 1930 marcou a crise dos governos liberais e republicanos. No Brasil, é o fim da República Velha e a ascensão de Getúlio Vargas, que vai comandar o país por quase 20 anos, con- siderando-se os dois mandatos. O ano 1960 também é um marco importante para o Brasil, porque o regime populista apresenta sin- tomas de crise e mal se arrasta até 1964, quando recebe o golpe final dos militares. Em termos eclesiais, a restauração católica continua, pelo menos, até o Concílio Plenário Brasileiro. Alguns historiadores par- tilham da opinião de que a restauração chega até às vésperas do Concílio Vaticano II. Seguindo nossa proposta inicial, vamos enfatizar a Igreja do Brasil em razão da importância que ela foi ganhando frente ao Es- tado e, especialmente, em relação à sua própria organização. É importante que você não se desligue do movimento de re- forma iniciado pelos bispos em meados do século 19, porque, no que se refere à colegialidade episcopal, boa parte de seus anseios vão se concretizar no Concílio Plenário Brasileiro e na fundação da CNBB. 5. A IGREJA NOS REGIMES POPULISTAS O populismo foi um modelo de governo que vigorou na Amé- rica Latina entre 1930 e 1960. Sua característica principal é buscar © História da Igreja na América Latina e no Brasil156 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO seu apoio político na massa popular e na maioria desfavorecida. O objetivo do governante populista é mobilizar as massas por meio de um discurso simples e do apelo aos interesses nacionais, pro- metendo resolver todos os problemas do povo. São governos que se utilizam do povo para se sustentarem no poder com uma pro- posta de renovação do capitalismo e do Estado. O líder populista é, também, carismático e demagogo. O populismo é consequência da crise de 1929, que resultou na queda da bolsa de valores de Nova York, que, por sua vez, pro- vocou uma queda violenta na economia mundial. A consequência política na América Latina será a queda dos governos oligárquicos e o fim das alianças com as elites mandatárias conservadoras. Nes- se período, a América Latina passa por uma fase de desenvolvi- mento econômico, de passagem da economia agrária para a indus- trial, de urbanização crescente, de rearticulação das classes sociais e de crescimento do operariado. Esse ambiente será propício para o surgimento e a ascensão dos regimes populistas. O populismo é gerado em meio à falência das elites oligárquicas. É conhecido, também, como o "governo dos caudilhos". De maneira análoga ao Estado, a Igreja também vai adotar uma política populista e trabalhar com a massa católica por meio da realização de congressos, encontros e grandes concentrações. Assim como os governos populistas, a Igreja também procura apoio na massa, não para se sustentar politicamente, mas para mostrar o seu poder de aglutinação e a força da fé católica na sociedade. Nesse sentido, patriotismo, nacionalismo e fé católica serão ingre- dientes importantes aos discursos da hierarquia e dos intelectuais. Dussel (1989, p. 13-14) fala que, no período de 1930 a 1960, a Igreja latino- americana passou por duas fases bem distintas: 1) A primeira (1930-1945) é a mais populista no aspecto político e econômico. Com exceção do México, por causa do anticleri- calismo da Revolução de 1910, de modo geral a Igreja apoia, mas também impõe-se com a promoção de congressos e gran- des encontros das massas cristãs. De certa forma, nessa fase recupera-se o poder perdido durante as "perseguições" liberais. 157© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 2) A segunda fase (1945-1959) é marcada pela guerra fria e a Igre- ja continua apoiando os populismo contra o comunismo, mas depois desconfia, suspeitando que há infiltração comunista e aos poucos se afasta de tais governos. No final de 1950, ela já está reorganizada em nível latino-americano e em nível nacio- nal em cada país. É nessa década, em 1955, no Rio de Janeiro, que se realiza a I Conferência do Episcopado latino americano. Nesta conferência, é fundado o Conselho Episcopal Latino Ame- ricano – CELAM. Como a Igreja se impôs diante dos regimes populistas? De quatro maneiras, responde Dussel (1989, p. 14-17): A primeira foi através da Ação Católica que reunia a pequena bur- guesia em torno do apostolado leigo na Igreja sob a direção da hie- rarquia. A segunda foi a realização de grandes congressos de massas. Era uma "onda" a realização de congressos eucarísticos. Estas con- centrações de milhares de católicos impressionavam os governos populistas e deram força política à Igreja nas negociações e reivin- dicações. A terceira é a Ação Social no setor trabalhista, operário e corporati- vista. Essa ação era inspirada na Encíclica Quadragésimo Ano (1931) de Pio XII. E por fim, a quarta maneira é o anticomunismo. Influen- ciada pela política americana da guerra fria, a Igreja se posiciona contra o comunismo e se apresenta propensa a apoiar as ditaduras, a essas alturas cada vez menos populistas e mais autoritárias. É necessário destacar, ainda, que é nesse período que se produz uma renovação e uma modernização da Igreja nas esferas intelectual, pastoral e organizacional. A renovação na esfera inte- lectual foi marcada pela organização dos intelectuais leigos, pelo surgimentode revistas filosóficas e teológicas e pela fundação das universidades católicas. A renovação pastoral aconteceu por meio da fundação de centros e institutos de promoção dos estudos nes- sa área. A renovação e a modernização organizacional nacional e latino-americana caracterizaram-se pelo surgimento das Confe- rências Episcopais Nacionais, a partir de 1952, pelo CELAM e por uma dezena de organizações, confederações e movimentos. Dessa maneira, podemos ver que o populismo favoreceu a superação dos resquícios do liberalismo republicano e criou uma © História da Igreja na América Latina e no Brasil158 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO situação propícia para se iniciar uma renovação na Igreja latino- -americana. Tendo colocado essa visão geral de como a Igreja se movimenta nos regimes populistas latino-americanos, passemos a direcionar nosso estudo para a Igreja do Brasil, para ver como ela se organiza e projeta sua caminhada. 6. A IGREJA NO GOVERNO DE GETÚLIO VARGAS Getúlio Vargas foi presidente do Brasil por duas vezes. Na primeira vez, de 1930 a 1945. Na segunda, de 1951 a 1954. Na primeira vez, seu governo caracterizou-se por três fases distintas: 1) governo provisório (1930-1934); 2) governo constitucional, eleito pelo Congresso Nacional (1934-1937); 3) Estado Novo (1937-1945). É um período complexo para a sociedade brasileira e, também, para a Igreja, porque ela vai, a todo custo, manter-se ao lado do Estado, apoian- do-o e fazendo suas reivindicações, mas nem sempre sendo atendida. Vargas chegou ao poder após a derrubada de Washington Luiz da presidência, e tudo o que ele podia significar, em termos de República Velha e de política entre paulistas e mineiros – ou, como se convencionou chamar, "política café-com-leite". Apesar de Vargas ter chegado ao poder por meio de uma revolução, para a Igreja, este foi o momento propício para se aproximar, defini- tivamente, do Estado e para refazer as relações que haviam sido destruídas com a Proclamação da República. Foi o momento que ela aproveitou para se rearticular na sociedade e para redefinir sua ação diante do Estado. A Revolução de Outubro Você deve estar se perguntando: qual foi a atitude da Igre- ja, ou melhor, dos bispos, diante da Revolução? Não houve uma atitude uniforme do episcopado perante os acontecimentos da re- 159© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 volução. D. Duarte Leopoldo e Silva (1907-1938), arcebispo de São Paulo, opôs-se à Revolução manifestando seu apoio a Washington Luis. Não poderia ser diferente, pois a Igreja paulista estava aliada à oligarquia cafeeira, que era o centro da crise. Em Minas Gerais, o episcopado não apoia abertamente, mas também não é contra, exercendo, assim, importante papel de pacificação e dando a entender, porém, que eram favoráveis às mudanças na Presidência da República, até porque Minas Gerais fora prejudicada politicamente. A situação da Igreja mineira estava sendo favorecida por causa da presença no governo do Estado de um governador católico: Antônio Carlos Ribeiro de Andrade. Um caso atípico foi o do Rio Grande do Sul, onde D. João Becker, arcebispo de Porto Alegre, declara, abertamente, apoio a Getúlio Vargas, desde sua campanha até a presidência. Quando estoura a Revolução, a Igreja do Rio Grande do Sul mobiliza-se: são suspendidas as férias dos padres, recrutados padres para serem capelães e organizadas coletas para comprar materiais litúrgicos e religiosos necessários ao acompanhamento das tropas. Confir- mada a vitória da Revolução no dia 1º de novembro, D. Becker convoca o povo gaúcho para a oração solene do Te Deum em ação de graças, em Porto Alegre. Reuniram-se mais de 20 mil pessoas. Posteriormente, serão estreitas as relações com o governo Vargas. No Rio de Janeiro, para onde havia desembocado a Revolu- ção, dada a gravidade da situação, a atitude de D. Leme foi caute- losa, neutra e diplomática. Ele não tomou partido nem se envolveu com os conflitos, mas tentou negociar uma saída pacífica para a crise. Não conseguindo, tentou salvar, pelo menos, a vida do pre- sidente, encurralado no Palácio da Guanabara. Acompanhado por D. Leme, o presidente saiu do Palácio e foi conduzido, prisioneiro, até o Forte de Copacabana, na tarde de 24 de outubro. A respeito desse fato, Beozzo faz uma observação interes- sante e acertada: © História da Igreja na América Latina e no Brasil160 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO A primeira República, que iniciara sua história estabelecendo a separação entre a Igreja e o Estado e excluindo a Igreja da nova ordem liberal positivista, sai paradoxalmente de cena, 40 anos de- pois, pelas mãos de um membro da hierarquia da Igreja. Ingressa o presidente deposto na mesma fortaleza, de onde a 5 de julho de 1922 saíram os primeiros jovens oficiais, os tenentes, para comba- ter a República oligárquica (1995, p. 290). A Revolução abriu uma nova conjuntura política, social e eco- nômica. Getúlio Vargas direcionou sua política ao povo, para usá- -lo como estratégia política para sustentar-se no poder. A Igreja, por sua vez, agora alinhada ao Estado, nos próximos quatro anos, vai criar suas estratégias de mobilização do povo não para suprir os interesses deste, mas para atingir seus propósitos e sustentar o aparato eclesiástico. 7. AS MANIFESTAÇÕES CATÓLICAS A partir de 1931, a Igreja organiza grandes concentrações católicas na capital federal e em outras cidades brasileiras para mostrar a força e a pujança da fé católica na sociedade. Entre as manifestações, destacamos: a) Visita de Nossa Senhora Aparecida ao Rio de Janeiro: em 1930, a 16 de julho, a pedido do episcopado brasi- leiro, o papa Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida a padroeira do Brasil. Em 1931, de 24 a 31 de maio, sob a regência do cardeal Leme, realizou-se a semana da pa- droeira no Rio de Janeiro. Era importante que Nossa Se- nhora Aparecida visitasse a capital federal naquele mo- mento crucial da história do país. b) Inauguração do monumento do Cristo Redentor: no iní- cio de outubro de 1931, o cardeal Leme programou uma semana em honra de Cristo Rei, que culminou com a inauguração da estátua do Cristo Redentor, no Corcova- do, no dia 12 de outubro. Esse fato teve um grande peso simbólico associado, diretamente, à presença do Reden- tor na vida política do Brasil. Em seu discurso, D. Leme 161© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 enfatizava a importância da presença do Cristo Redentor na capital federal. Brasil! Brasil! Ó pátria! Ajoelha-te aos pés do Redentor. Junto à sua cruz nascestes grande e imenso; grande e imenso crescestes. Con- tinua de joelhos aos pés da Cruz, ó pátria, porque só assim poderás continuar de pé diante dos povos civilizados, ostentando a fronte erguida, falando uma só língua, professando uma só religião, ado- rando um só Cristo, desfraldando uma só bandeira (AZZI, 1978, p. 65). c) Cruzada de oração pela pátria (25 de março de 1932): a cruzada foi organizada em um momento político extre- mamente delicado e difícil. Havia rumores de que uma nova revolução estava prestes a acontecer, e tal fato se consumou (de 9 de julho a 4 de outubro) com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, que tinha por objetivo derrubar Vargas. Em março desse ano, o carde- al Leme promoveu uma cruzada de orações pela pátria, cujo tema era "O Brasil precisa de Deus em suas leis e seus homens". d) Congresso Eucarístico Nacional: em julho de 1933, o cardeal Leme dirigia um convite a todos os católicos do Brasil, para participarem do primeiro Congresso Eucarís- tico Nacional, que iria se realizar em Salvador, entre os dias 3 e 10 de setembro. Na ocasião, escrevia: "para os católicos brasileiros, o Congresso Eucarístico Nacional assume caráter de um compromisso de honra, em que estão empenhados o nosso patriotismo e a nossa fé" (AZZI, 1978, p. 69).É a partir de 1933 que se iniciaram os Congressos Eucarísti- cos Nacionais. Eles se tornaram instrumento de afirmação da fé ca- tólica e da presença da Igreja na sociedade e apregoavam a união entre religião e pátria. D. Álvaro da Silva, primaz da Bahia, assim se expressou: "Pátria, estremecida, tu estás saldando assim toda a sua dívida, que talvez tenhas contraído em teu passado para com Deus de tua nacionalidade. O momento presente resgata de sobra as tuas infidelidades de antanho. Salve Brasil eucarístico!" (AZZI, 1978, p. 70). © História da Igreja na América Latina e no Brasil162 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Os congressos eucarísticos foram uma estratégia de renova- ção e de modernização da fé católica, assinalando a fé eucarística como uma característica da devoção popular. Historicamente, isto não é verdade, porque o povo sempre foi mais ligado aos santos e do que à vivência sacramental. Congressos Eucarísticos Nacionais 1º) 1933 – Salvador (BA) – 3 a 10 de outubro. Lema: "Vinde, adoremos ao santíssimo sacramento". 2º) 1936 – Belo Horizonte (MG) – 3 a 7 de setembro. Lema: "Luz e vida". 3º) 1939 – Recife (PE) – 4 a 7 de setembro. Lema: "A Eucaristia e a vida cristã". 4º) 1942 – São Paulo (SP) – 4 a 7 de setembro. Lema: "Vinde todos a mim". 5º) 1948 – Porto Alegre (RS) – 28 a 31 de agosto. Lema: "Ação social". 6º) 1953 – Belém (PA) – 12 a 16 de agosto. Lema: "A Sagrada eucaristia, sacramento de unidade e de comunidade". 7º) 1960 – Curitiba (PR) – 5 a 8 de maio. Lema: "Eucaristia, luz e vida do mundo". 8º) 1970 – Brasília (DF) – 27 a 31 de maio. Lema: "A mesa do Senhor". 9º) 1975 – Manaus (AM) – 16 a 21 de julho. Lema: "Repartir o pão". 10º) 1980 – Fortaleza (CE) – 9 a 13 de julho. Lema: "Para onde vais?". 11º) 1985 – Aparecida (SP) – 16 a 21 de julho. Tema: "Magnificat". Lema: "Pão para quem tem fome". 12º) 1991 – Natal (RN) – 6 a 13 de outubro. Lema: "E a palavra se fez carne". 13º) 1996 – Vitória (ES) – 7 a 14 de julho. Lema: "Eucaristia, vida para a Igreja". 14º) 2001 – Campinas (SP) – 19 a 22 de julho. Tema: "Eucaristia, fonte da missão e vida solidária". Lema: "Venham para a ceia do Senhor". 15º) 2006 – Florianópolis (SC) – 18 a 27 de maio. Lema: "Vinde e vede! Ele está no meio de nós!". 16º) 2010 – Brasília (DF) – 13 a 16 de maio. Tema: "Eucaristia, pão da unidade dos discípulos Missionários". Lema: "Fica conosco, Senhor!". 8. A IGREJA E O ENSINO RELIGIOSO A Constituição Republicana de 1891 separa o Estado da reli- gião, sacramentando o princípio laicista do Estado em matéria re- 163© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 ligiosa, especialmente no campo da Educação, substituindo o en- sino tradicional, ancorado em premissas religiosas católicas, pelo ensino moderno, laico e público. O Concílio Plenário Latino-Americano de 1899 exortou aos bispos que implantassem escolas católicas para fazer frente ao ensino laico promovido pelos Estados liberais. Em 1900, D. José de Camargo Barros, bispo de Curitiba, lamentava que a República houvesse expulsado o padre e a religião das escolas públicas. Dian- te dessa situação, não restava outra coisa a fazer senão "meter mão corajosa na grande Obra das escolas católicas" (CARTA PAS- TORAL, 1900, p. 28). Entretanto, foi nos anos 1930, com os novos projetos e com as novas políticas educacionais do governo Vargas, tendo em vista a democratização do ensino, que o ensino religioso se tornou obje- to de grandes debates. O grupo de educadores reunidos em torno da Escola Nova era favorável ao ensino público laico, opondo-se aos católicos que defendiam o ensino religioso obrigatório, inclu- sive nas escolas públicas. Entre os defensores católicos do ensino religioso, estava o padre Leonel Franca, Alceu Amoroso Lima e o grupo do Centro D. Vital, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, es- tava o padre Álvaro Negromonte. Em Curitiba, o ensino religioso foi amplamente discutido pelos católicos agrupados em torno do Círculo de Estudos Bandeirantes. Em abril de 1931, a Igreja obteve uma vitória, ainda que par- cial, significativa em relação ao ensino religioso. No dia 30 de abril, o presidente Getúlio Vargas assinou um decreto permitindo o en- sino da religião nas escolas públicas. A Igreja reivindicava o ensino religioso obrigatório no horário escolar e o decreto concedia o en- sino religioso facultativo fora do horário escolar. Em 1934, por meio das pressões exercidas pela Igreja na Constituinte, o artigo 153 da nova Constituição confirmava os avanços e as conquistas de 1931. © História da Igreja na América Latina e no Brasil164 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO O ensino religioso será de frequência facultativa, e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifes- tada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais (apud BEOZZO, 1995, p. 300). A alegria da Igreja não durou muito tempo. Três anos depois, em 1937, a Constituição do Estado Novo, outorgada por Vargas e longe das pressões da Igreja, no artigo 133, delimitava as conquis- tas anteriores em matéria de ensino religioso: O ensino religioso poderá ser contemplado como matéria de curso ordinário das escolas [...] não poderá, porém, constituir objeto de obrigação dos mestres ou professores, nem de frequência compul- sória por parte dos alunos (apud BEOZZO, 1995, p. 300-301). Preste atenção no poderá e no não poderá, expressões essas que frustram as conquistas anteriores e as expectativas da Igreja. Portanto, o debate entre Estado e Igreja sobre o ensino religioso na escola pública passou por muitas idas e vindas e continua mar- cando presença na pauta das discussões. É um debate sempre atual e que merece ser aprofundado se você estiver envolvido com a educação pública. Para você refletir, lan- çamos a seguinte pergunta: por que a Igreja lutava com tanta vee- mência pelo ensino religioso na escola pública? 9. LIGA ELEITORAL CATÓLICA (LEC) Em 1932 e 1933, no calor das manifestações católicas e das agitações políticas, tendo em vista as eleições, a Igreja organizou um grupo de pressão para forçar a Assembleia Constituinte àqui- lo que era de seu interesse. A LEC, fundada por D. Leme, foi uma estratégia eleitoral e política que a Igreja usou para conseguir, por meio do voto, maior força em suas reivindicações perante o Esta- do. Era, também, um instrumento de pressão diante dos partidos e dos políticos católicos, no sentido de pressioná-los para defen- der os postulados da Igreja. Se os candidatos quisessem o voto dos católicos, deveriam comprometer-se com as causas da Igreja. 165© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 Conforme seus estatutos, a LEC apresentava-se como uma organização com dupla finalidade: 1) instruir, congregar e alistar o eleitorado católico; 2) assegurar aos candidatos dos diferentes partidos sua aprovação pela Igreja – e, portanto, o voto dos fiéis – mediante a aceitação, por parte dos mesmos candida- tos, dos princípios sociais católicos e do compromisso de defendê-los na Assembleia Constituinte. Seu programa resumia-se em dez postulados: 1) Promulgação da Constituição em nome de Deus. 2) Defesa da indissolubilidade do laço matrimonial, com assistên- cia às famílias numerosas e reconhecimentos dos efeitos civis ao casamento religioso. 3) Incorporação legal do ensino religioso, facultativo nos progra- mas das escolas públicas primárias, secundárias e normais da União, do Estado e dos municípios. 4) Regulamentação da assistência religiosa facultativa às classes armadas, prisões, hospitais etc. 5) Liberdade de sindicalização, de modo que os sindicatos católi- cos, legalmente organizados, tenham as mesmas garantias dos sindicatos neutros. 6) Reconhecimento do serviço eclesiástico de assistência espiritu- al às forças armadas e às populações civis como equivalente ao serviço militar. 7) Decretação de legislaçãodo trabalho inspirada nos preceitos da justiça social e nos princípios da ordem cristã. 8) Defesa dos direitos e deveres da propriedade individual. 9) Decretação da lei de garantia da ordem social contra quaisquer atividades subversivas, respeitadas as exigências das legítimas liberdades políticas e civis. 10) Combate a toda e qualquer legislação que contrarie, expressa ou implicitamente, os princípios fundamentais da doutrina ca- tólica (VIANNA apud BEOZZO, 1995, p. 306). A LEC empreendeu um grande movimento de mobilização eleitoral. O objetivo era alistar o maior número de eleitores ca- tólicos e instruí-los sobre a importância do voto e a necessidade de apoiar as reivindicações católicas. Nesse sentido, foram mobi- © História da Igreja na América Latina e no Brasil166 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO lizadas paróquias e associações ligadas à Igreja e promoveram-se congressos, assembleias e reuniões em todos os cantos do país. Outro aspecto importante da LEC no processo de mobiliza- ção eleitoral foi a campanha da luta pelo voto feminino. Até en- tão, nem todas as mulheres votavam. A LEC batalha para estender esse direito a todas as mulheres. Para a Igreja, o voto feminino era importante porque atingia a família e aumentava a força do voto católico. A respeito da atuação e do programa da LEC, Beozzo tem a seguinte argumentação: "O que se pode depreender do programa da LEC é que a Igreja monta uma estratégia de cerco ao Estado, indo direto aos mecanismos mais sensíveis da formação dos valo- res e da representação do mundo, a família e a escola" (1995, p. 306). Passada a eleição de julho de 1933 e a Constituinte de 1934, que resultou na promulgação da nova Constituição do país, a LEC, tendo cumprido seu objetivo, perdeu a razão de existir e esmo- receu. Em 1945, houve tentativa de reavivá-la, mas a ideia não vingou em função do momento político, que era diferente de dez anos atrás. 10. AÇÃO CATÓLICA A Ação Católica foi um dos mais importantes e expressivos movimentos de renovação da Igreja do Brasil no século 20 e durou pouco mais de 30 anos. Sua história é ampla e complexa e envolve um largo leque de questões. Nesse momento, vamos nos limitar a fazer, somente, seu aporte histórico, deixando o aprofundamento para você, em seus estudos posteriores. Com a promulgação da Constituição, em julho de 1934, de certa forma, acaba a razão de mobilização dos leigos por parte da Igreja. A LEC perdeu seu sentido de ser, mas deixou uma experi- ência positiva no âmbito da organização e da ação dos leigos. Era 167© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 necessário aproveitar esse potencial laico para uma ação mais efe- tiva e duradoura na Igreja. Foi assim que foi criada a Ação Católica. No dia 9 de junho de 1935, na solenidade de Pentecostes, D. Leme promulga, oficialmente, a criação da Ação Católica Brasileira (ACB). Adotou-se o modelo italiano, dividindo os leigos em quatro grupos, de acordo com a idade e o sexo. O movimento dissemi- nou-se por todo país. Homens da AC, para os maiores de 30 anos e os casados de qualquer idade; Liga Feminina da AC, para as maiores de 30 anos e as casadas de qualquer idade; Juventude Católica Brasileira, para moços de 14 a 30 anos; Juventude Feminina Católica, para moças de 14 a 30 anos (MATOS, 2003, p. 107).Você deve estar se pergun- tando: em que consistiu a Ação Católica? O que era a Ação Católi- ca? "É a participação dos leigos organizados no apostolado hierár- quico da Igreja, fora e acima dos partidos, para o estabelecimento do reino universal de Cristo" (BEOZZO, 1995, p. 322). Como você pode notar, tratava-se, na verdade, de um grupo formado pela aristocracia do laicato, ou seja, a classe média alta, subordinado à hierarquia eclesiástica, que exerceu um papel fun- damental no sentido de fazer uma ponte entre o mundo secular e a Igreja, "entre a esfera privada e a esfera pública, entre o domínio do sagrado e o do profano" (BEOZZO, 1995, p. 322). Era objetivo da Ação Católica fazer que os católicos marcas- sem presença em todas as esferas da vida social, profissional e pú- blica, como, por exemplo, no mundo dos negócios, nas fábricas, na política e na cultura. Era, na verdade, a tentativa de estabelecer uma nova cristandade e de criar uma nova ordem social, econômi- ca e política sob a influência dos princípios cristãos orientados pela Igreja em um mundo secularizado, liberal e com fortes ameaças comunistas. Enfim, estabelecer uma democracia cristã. Em 1950, a Ação Católica passa por reformulação e mudança de modelo. O modelo italiano é substituído pelo modelo francês, organizado conforme os diferentes meios sociais. Era denominada © História da Igreja na América Latina e no Brasil168 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO "Ação Católica Especializada" e ficou conhecida como "JAC, JEC, JIC, JOC e JUC". a) JAC – Juventude Agrária Católica (meio rural). b) JEC – Juventude Estudantil Católica (meio estudantil se- cundarista). c) JIC – Juventude Independente Católica (independente). d) JOC – Juventude Operária Católica (meio operário). e) JUC – Juventude Universitária Católica (meio universitá- rio). A mudança de modelo trouxe, também, uma mudança de rumo. A partir de 1950, verifica-se um engajamento e uma inser- ção cada vez maior dos meios operário e universitário na política. No final da década, o engajamento do meio universitário na políti- ca foi tornando-se cada vez mais intenso e radical, definindo-se a favor do socialismo. Essa atitude foi criando tensões com as auto- ridades eclesiásticas porque não mais caracterizava uma colabora- ção no apostolado hierárquico da Igreja. No início da década de 1960, a JUC intensifica sua militância política no campo estudantil envolvendo-se com a UNE (União Na- cional dos Estudantes) e, em 1961, com a Ação Popular. Foi uma fase de afrontamento com a hierarquia. Os bispos não viram esses fatos com bons olhos e, daí para frente, a crise agravou-se entre a hierarquia e a JUC. O clima negativo aumentou e no dia 8 de no- vembro de 1966 a CNBB publica a dissolução das equipes da JUC, JEC e JIC. Sem apoio e sem assistência da parte da Igreja e perse- guido pela ditadura, o movimento desapareceu. Apesar da crise que se instalou entre a Ação Católica e a hie- rarquia, qual foi sua contribuição para a Igreja? Na opinião de Faustino Teixeira: A Ação Católica Brasileira teve como principal tarefa preparar o terreno e abrir espaço para uma participação social e política dos cristãos. Foi a partir da prática efetuada pela Ação Católica (em es- pecial da JEC, JOC e JUC) que a idéia de participação dos cristãos no terreno social e político ganhou foro de cidadania. A Ação Católica 169© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 Especializada colocou de fato em prática o método ver, julgar e agir, dinamizando-o no sentido de uma atuação significativamente críti- ca e transformadora [...]. Foi a partir da reflexão e da práxis dos mili- tantes da JUC, JEC e da AP que a relação fé e política foi-se impondo como fundamental para a reflexão e a prática dos cristãos [...]. Não se pode negar a importância do papel desempenhado pela Ação Católica Brasileira na preparação do terreno onde posteriormente iriam desenvolver-se as Comunidades Eclesiais de Base (1988, p. 95-94). É importante que você aprofunde mais esse assunto por meio de leituras das bibliografias indicadas para perceber a evo- lução do laicato na Igreja. Dos anos 1920 a 1950, a Igreja lida com a elite do laicato. A década de 1950 e o início dos anos 1960 re- presentam o esforço de alguns setores do próprio laicato (como, por exemplo, o da JUC) de, por meio de um engajamento político e social, "descer" para o povo. A Ação Católica não conseguiu fazer isto, mas preparou o terreno para que movimentos de base popu- lar surgissem no final de 1960 e da década de 1970 em diante. 11. O ESTADO NOVO E A IGREJA O Estado Novo é um período do governo de GetúlioVargas, entre 1937 e 1945, que ficou conhecido, também, como "dita- dura Vargas". Foi instalado a 10 de novembro de 1937 mediante um golpe de Estado. Havia rumores de que os comunistas esta- vam se preparando para tomar o poder nas eleições de janeiro de 1938. Para apressar os fatos e não dar chances ao "inimigo", Vargas adiantou-se e deu um golpe de Estado em seu próprio go- verno. Fechou o Congresso, instituiu a censura à imprensa, fechou os partidos, proibiu as manifestações políticas, outorgou um nova Constituição e instaurou a ditadura. O Estado tornou-se repressivo e autoritário, e Vargas, ditador. Você deve estar se perguntando: qual foi a reação da Igreja diante da nova situação política? Qual foi a relação que a Igreja manteve com o Estado Novo? Como a política do Estado Novo afe- tou a vida da Igreja? © História da Igreja na América Latina e no Brasil170 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Segundo Beozzo (1995), as relações entre Igreja e Estado Novo podem ser vistas em dois planos: no constitucional e no prá- tico. No plano constitucional, com o golpe de Estado e a dissolu- ção das instituições governamentais, o poder concentrou-se nas mãos do Presidente. A nova Constituição eliminou as conquistas católicas da Constituição de 1934 poupando, somente, o ensino religioso, com ressalvas: além de desaparecer o nome de Deus do preâmbulo, ela não trata da assistência religiosa às Forças Arma- das nem das relações com a Santa Sé. Volta-se ao Estado laico e reinicia-se o princípio da secularização. No plano prático, a situação não foi tão dramática. Às vés- peras do golpe, Vargas teria avisado D. Leme "que em nada se- riam alteradas as cordiais relações entre a Igreja e o Estado" (BE- OZZO, 1995, p. 324). Logo, o cardeal já tivera conhecimento do texto constitucional antes mesmo de 10 de novembro. Diante da situação, o episcopado não reagiu com pronunciamentos e cartas pastorais contra o novo regime – o que deveria ter sido feito, como fizera em 1890 –, mas adapta-se ao novo modelo de Estado e com ele convive pacificamente. Isto significa que o pacto continuava e que não havia a necessidade de uma legislação oficial para regu- lar as relações entre Estado e Igreja. No entanto, essa situação re- presentava certo perigo e certa insegurança jurídica para a Igreja, porque passava a depender do "bom ânimo" ou das concessões arbitrárias de Vargas. Na opinião de Matos (2003, p. 83), "existia um pacto moral entre Igreja e Estado". Se o catolicismo tinha uma posição privilegiada, não era mais por uma garantia da Constitui- ção, mas por uma concessão do próprio Vargas. Se isto era "bom" para a Igreja, para o Estado, era melhor ainda, porque dela se ser- via para se sustentar ideologicamente e para manter seu projeto autoritário. Desse modo, a insegurança que se instala entre Governo e Igreja, de ambas as partes, vai se enfatizar muito nos discursos à cooperação e ao respeito mútuo que deve haver entre as duas ins- tituições, cada uma no exercício e nos limites de sua função. Em 171© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 julho de 1939, por ocasião do Concílio Plenário Brasileiro, o Go- verno oferece um banquete aos bispos conciliares no Palácio do Itamarati. Nessa ocasião, em seus discursos, Vargas afirma: Apesar de separados os campos de atuação do poder político e do poder espiritual, nunca entre eles houve choques de maior impor- tância; respeitam-se, auxiliam-se. O Estado deixando à Igreja ampla liberdade de pregação, assegura-lhe ambiente propício a expandir- -se e a ampliar o seu domínio sobre as almas; os sacerdotes e mis- sionários colaboram com o Estado, timbrando em ser bons cida- dãos, obedientes à Lei Civil, compreendendo que sem ela – sem ordem e sem disciplina, portanto, – os costumes se corrompem, o sentido da dignidade humana se apaga e toda a vida espiritual se estanca. Tão estreita cooperação jamais se interrompeu; afirma-se, de modo auspicioso, nos dias presentes e há de intensificar-se cer- tamente no futuro, mantendo a admirável continuidade de nossa história (VARGAS apud BEOZZO, 1995, p. 324-325). Em nome do episcopado e da Igreja, falou o arcebispo pri- maz da Bahia, D. Augusto Álvaro da Silva, reafirmando os mesmos princípios: Queremos transmitir os nossos agradecimentos e, com eles, a afir- mação e a garantia de que o Governo poderá contar com a nossa colaboração na grande obra de elevação nacional [...]. Repetidas vezes. V. Exª. no seu Governo tem dado provas inequívocas de quanto estima esta cooperação benfazeja e de quanto deseja con- ciliar sempre, numa harmonia leal, os interesses do Estado, com os direitos imprescritíveis da Igreja. Fazemos votos que estas relações se estreitem, certos de que a Pátria comum será a grande benefici- ária (SILVA apud BEOZZO, 1995, p. 325). Apesar dos discursos "românticos" e "inflamados" entre Var- gas e os bispos, na prática, havia sérios entraves e atritos que eram "tapados com peneira", como, por exemplo, no levante dos inte- gralistas contra o governo, em março e em maio de 1938, quando Vargas acusou o envolvimento de padres no movimento. No en- tanto, o entrave maior ficava por conta do nacionalismo, diante do qual a Igreja silenciou. Em 7 de fevereiro de 1938, surgiram leis proibindo a imprensa em língua estrangeira. Logo, em 5 de abril, veio a nacionalização do ensino nos estados do sul. © História da Igreja na América Latina e no Brasil172 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Não vamos aprofundar essa questão, pois você o fará em suas leituras. Entretanto, é preciso dizer que, com essas leis, sobreveio uma perseguição orquestrada em todas as colônias de imigrantes nos estados do sul. A perseguição estendeu-se, também, para as Igrejas: entre os imigrantes, proibiu-se o uso da língua estrangeira na catequese e nas homilias, e o cumprimento da lei era exigido pela hierarquia eclesiástica. Embora os padres "driblassem" a lei e continuassem pregando na língua dos colonos, as tensões per- maneciam e traziam boa dose de incômodos, como, por exemplo, acusações, denúncias, interrogatórios e até prisões. Outro problema eclesial resultante do nacionalismo com o qual a Igreja teve de conviver (e que não conseguiu sanar) foi um cisma interno, que resultou na fundação da Igreja Católica Brasilei- ra por D. Carlos da Costa, em 1945. Vamos encerrar essa seção com um texto de Oscar Beozzo (1985, p. 52) que reflete muito bem a estratégia de Vargas em re- lação à Igreja. Getúlio era bastante inteligente para não romper com a Igreja na- quele momento. Ele mantinha os privilégios da Igreja, mas impu- nha-lhe silêncio. A Igreja mantém exatamente tudo o que vinha da Constituição de 1934, sem ter nada por escrito, e isso explica a profunda acomodação da Igreja diante da ditadura de 1937 a 1945. Não se tocou em nenhum dos privilégios da Igreja e, apesar de haver repressão de sindicalistas, de intelectuais e comunistas irem para a cadeia, de a Ação Católica não poder funcionar satisfa- toriamente, a Igreja calou-se. Aceitou a situação, porque aumentou inclusive seu poder social. Se o Estado Novo eliminava as forças políticas por meio da cassação dos partidos e eliminava a crítica ao governo partindo da cassação da imprensa, mas mantinha a Igreja em uma linha de cooperação e amizade, não seria isto uma esperteza da parte de Vargas para impedir que a Igreja se tornasse uma concorrente po- derosa e obstruísse seus projetos? 173© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 12. CONCÍLIO PLENÁRIO BRASILEIRO Ao contrário da Igreja na América espanhola, a história da Igreja do Brasil é pródiga em Concílios. Durante mais de 400 anos, apenas dois Concílios, considerando o Sínodo da Bahia, foram rea- lizados. É um anacronismo sob o ponto de vista da história eclesi- ástica e, por parte do episcopado, um desejo não realizado. Em 1890, como vimos na unidade anterior, D. Macedo Costa empreendeu grandesesforços para realizar um Concílio que pu- desse definir os rumos da Igreja no regime republicano, mas todo o esforço foi infrutífero. No entanto, tanto a ideia quanto a neces- sidade permaneceram e, nas décadas posteriores, já no século 20, em 1928, novamente elas afloraram, mas sem a força suficiente para vingar; o impasse estava na elaboração de um esquema con- vincente para a aprovação da Santa Sé. A proposta dos bispos era baseada na Pastoral de 1915. Em 1935, o cardeal Leme retoma a ideia, vai a Roma e trata da questão com o papa Pio XI, pedindo que alguém da Cúria acom- panhasse e orientasse os trabalhos. O papa indica o secretário da Sagrada Congregação do Concílio, monsenhor Giuseppe Bruno. Essa mudança de estratégia deu certo. Desse modo, em agosto de 1937, monsenhor Bruno envia ao cardeal Leme o esquema, pedin- do a apreciação dos bispos. Em janeiro de 1938, encerrava-se o prazo para a avaliação dos bispos. Dos 100 bispos que avaliaram, apenas 26 deles responderam, somando, ao todo, 498 observa- ções, que deveriam ser redigidas em latim. D. Leme encarregou-se de enviá-las a Roma. O Concílio foi convocado por Pio XII (porque Pio XI havia falecido) para 2 a 7 de julho de 1939, no Rio de Janeiro. Segundo Matos (2003, p. 85), "participaram 103 padres conciliares (catorze deles por procuração), catorze superiores religiosos (um por procuração) e quinze representantes de doze cabidos de cô- negos". © História da Igreja na América Latina e no Brasil174 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Qual foi o significado do Concílio para a Igreja do Brasil? Quais foram seus avanços e seus limites? Segundo Oscar Beozzo (1995, p. 330-334), o significado do Concílio foi imenso. Os avanços são caracterizados nos seguintes aspectos: a) Colegialidade episcopal. A colegialidade foi o grande sonho e anseio de dom Macedo Costa ainda em meados do século 19 em pleno movimento de reforma da Igreja. Aqui representa uma vitória do episcopado, sobretudo de dom Leme, o grande líder da Igreja desde 1916. Era a primeira vez que o episcopado brasi- leiro se reunia para tratar dos problemas da Igreja, mesmo que dentro dos limites fixados por Roma. b) Maturidade da Igreja do Brasil. Depois de muitos anos de luta, o Concílio representou o reconhecimento da maturidade dos bispos. Os textos pré-conciliares e o oficial renderam elogios da parte de Roma. c) Legislação pastoral única. No campo pastoral, a Igreja ganhava uma orientação única, resultante de um consenso da maioria do episcopado. d) União e convergência do trabalho dos bispos. O Concílio foi a re- alização do sonho de dom Leme no sentido de unir o episcopado cujo esforço pudesse convergir para metas e objetivos comuns. e) Ação conjunta da Igreja em nível nacional. O Concílio proporcio- nou a ação conjunta da Igreja como um corpo nacional. Fala-se em nome da Igreja do Brasil e não em nome de dioceses isola- das. f) Conjunto de prioridades pastorais. O Concílio traçava quais eram as prioridades pastorais da Igreja e que todos os bispos deve- riam empreender esforços para realizá-las. Os limites são caracterizados nos seguintes aspectos: a) Pouco avanço na questão social. A Igreja, adaptada ao Estado Novo, estava mais preocupada com a manutenção da ordem social e do lugar dela na sociedade do que com questões so- ciais. b) Exclusão da contribuição leiga. O Concílio não levou em conta a contribuição dos leigos desde o papel da elite intelectual dos anos 20 até a Ação Católica. A Igreja se concentra em si mesma, na hierarquia e no clero. O Concílio produziu um documento para a Igreja hierárquica e não para a Igreja povo. 175© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 c) Um documento inacessível. O documento final que o Concílio produziu foi redigido todo em latim, língua inacessível até mes- mo para a maioria da elite da Ação Católica como também ao próprio clero. d) Caráter eclesiástico e clerical. O Concílio privilegiou o caráter eclesiástico e clerical enfatizando a necessidade de renovar os costumes do povo. e) Um modelo impessoal, abstrato e jurídico. Seguindo as diretri- zes de Roma, o Concílio interiorizou ao máximo a legislação, o espírito jurídico e abstrato do Código de Direito Canônico de 1917. É claro e próximo das normas jurídicas, mas distante da realidade pastoral brasileira. f) Conformidade com as diretrizes romanas. É o auge da romani- zação. A Igreja do Brasil se conforma com as diretrizes da Santa Sé. O texto oficial e os decretos permaneceram em latim e não se providenciou nenhuma tradução para o português, o que tornou-o inacessível e pouco conhecido. Uma década depois, com as devidas adaptações, reeditou-se a Pastoral de 1915 (BE- OZZO, 1995, p. 330-334). Sobre a dificuldade de adaptação dos decretos do Concílio para a realidade brasileira, Beozzo assim se pronuncia: A preocupação pelos fiéis, a forma popular e acessível da Pastoral de 1915 fazem-na indispensável como complemento ao Concílio Plenário. Abandonada como ultrapassada e inadequada para servir de esquema ao Concílio, é reeditada em 1950, como indispensável para a vida da Igreja enquanto povo fiel (1995, p. 334). Com relação ao Estado Novo, o Concílio representou o po- tencial do qual a Igreja dispunha e sua capacidade de organização, como querendo dizer "nós também temos força e queremos res- peito". Nas palavras de Beozzo (1995, p. 334) "para um Governo forte no Estado Novo emerge também uma Igreja forte e centrali- zada na liderança inconteste do Cardeal Leme". 13. REORGANIZAÇÃO DA IGREJA A PARTIR DE 1950 Como já visto no início desta unidade, a década de 1950 é um marco importante, pois é quando a Igreja se reorganiza em cada país da América Latina, incluindo o Brasil. Em 1955, no Rio © História da Igreja na América Latina e no Brasil176 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO de Janeiro, realizou-se a I Conferência do Episcopado Latino-Ame- ricano. Nessa conferência, é fundado o Conselho Episcopal Latino- -Americano – CELAM. No Brasil, a década de 1950 marcou uma fase de reorganiza- ção e de renovação da Igreja nos campos hierárquico, religioso e leigo. No campo hierárquico, temos a fundação da Conferência Na- cional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952. No campo religioso, a fundação da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), em 1954. No campo laico, a reformulação da Ação Católica e de tudo o que ela significou em termos de abertura para o político e para o social. Desse modo, a Ação Católica teve uma contribuição fundamental na criação e na organização da CNBB. Em termos políticos e econômicos, a década de 1950 foi mar- cada pela ideologia desenvolvimentista. Essa fase marcou muito a Igreja, especialmente no âmbito interno, no sentido de associar a política do Estado em benefício de sua organização interna. Se o Es- tado se moderniza, a Igreja segue a mesma tendência. À medida que o Estado planeja sua ação, a Igreja procura planejar a ação pastoral. O cardeal Leme faleceu a 17 de outubro de 1942. Sucedeu-o D. Jaime de Barros Câmara (1894-1971). Apesar de suas inúmeras qualidades, o cardeal Barros Câmara não teve um carisma de lide- rança comparável ao de seu predecessor. Com a morte do cardeal Leme, cria-se certo vazio de liderança na Igreja. Isto foi positivo, porque, de certa forma, forçou cada um dos bispos a enfrentar a realidade de sua região com suas características e desafios, o que favoreceu o surgimento de lideranças em vários pontos do país. Dessas lideranças espalhadas, alimentou-se a ideia de reu- nir o episcopado em um órgão centralizador de alcance nacional. Assim, em 1952, nasceu a CNBB. É importante lembrar que, no contexto do nascimento da CNBB, novas lideranças despontam; lideranças essas que vão atuar nos próximos 30 anos, como, por exemplo, a de D. Hélder Câmara. 177© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 A respeito do vazio que se crioucom a morte de D. Leme e do surto renovador da Igreja no final da década de 1940 e no início da década de 1950, Ralph Della Cava nos fornece um texto ilustrativo. O colapso de liderança foi bastante concreto. D. Jaime de Barros Câmara, um conhecido professor de História da Igreja e um homem de rara humildade, ocupou inadequadamente a vaga deixada pela morte de Leme, em 1942 [...]. Foi como cardeal arcebispo da capital política da nação que sua liderança deixou mais a desejar. Com o tempo, até mesmo o poderoso movimento, que Leme colocara em ação para centralizar a hierarquia sob o comando dos superiores do Rio de Janeiro, se desmantelou. O poder eclesiástico, como de costume, refluiu para as dioceses isoladas e seus ocupantes. No fim dos anos 40 e início dos 50, essa mudança, é verdade, deu origem a muitos experimentos e ao surgimento de vários bispos de talen- to [...]. Mas nenhuma publicidade favorável poderia dissimular a profunda descentralização da Igreja católica no exato momento em que o sistema político do país caminhava firmemente rumo a acen- tuada centralização (CAVA apud FREITAS, 1997, p. 65-66). É nesse contexto que nasce a CNBB. Portanto, há de se con- siderar que sua criação, como é de se esperar de qualquer empre- endimento, obteve apoio de uns, desconfiança de outros e repro- vação de ainda outros. Entre as tensões daqueles que estavam a favor ou contra, a sessão oficial de fundação realizou-se no Rio de Janeiro, no Palácio São Joaquim, no dia 14 de outubro de 1952, com a presença do Núncio Apostólico. Foi nomeado presidente o cardeal de São Paulo, Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, e se- cretário geral, D. Hélder Câmara, recém-nomeado e sagrado bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Com a criação da CNBB, começa uma nova fase para a Igreja do Brasil. Ela representa o máximo da organização, da centraliza- ção, do planejamento, da colegialidade e da modernidade. Sur- ge uma nova consciência eclesial. A Igreja entra em uma fase de amadurecimento e de planejamento pastoral, de abertura e de compromisso com os problemas do povo brasileiro. Essa fase será marcada por uma estreita cooperação entre o Estado Brasileiro e a CNBB especialmente nos campos social e agrário. © História da Igreja na América Latina e no Brasil178 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 14. TEXTO COMPLEMENTAR Será de grande importância para completar o estudo desta unidade, sabermos que na década de 1940 como foi anos de tran- sição. A década de 1940 como anos de transição ––––––––––––––– Esse período foi em parte a continuidade do legado pastoral, deixado por dom Leme, falecido em outubro de 1942, mas apresentou ao mesmo tempo significativos des- dobramentos, que influiriam poderosamente na primavera de renovação da Igreja, experimentada ao longo da década de 1950. Entre esses desdobramentos pode-se salientar: o vigor de um pensamento católico, liderado por leigos, sobre as questões de maior interesse para as elites brasileiras; a introdução no Brasil de um regime democrático mais moderno, a partir de 1945; o surgimento da figura de padre Hélder, liderando a renovação da catequese, e propiciando o surgimento e expansão da Ação Católica Especializada; a atuação de padre Helder, como emissário do núncio Carlos Chiarlo, nas grandes questões nacionais, de interesse para a Igreja. Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), que sucedera Jackson de Figueiredo – fale- cido em acidente trágico – como presidente do Centro Dom Vital, e a quem dom Leme confiara também a presidência da Ação Católica Brasileira, introduzira no Brasil a filo- sofia política de Jacques Maritain, bem como as idéias e escritos de um grupo seleto de intelectuais católicos franceses daquele tempo, tais como Charles Peguy, Ernesto Psichari, George Barnanos etc. Muitos deles são mencionados e comentados na obra As grandes amizades, da autoria de Raissa Maritain, esposa de Jacques. Este, sobre- tudo em sua obra Humanismo integral, defendia a autonomia relativa da sociedade civil com respeito à Igreja, teses mais tarde adotada pelo Concílio Vaticano II, na sua constituição pastoral Gaudium et Spes. Esta tese, de certa maneira, fundamentava as relações entre Igreja e Estado, vigentes no Brasil desde a proclamação da República, embora as teses desse filósofo francês encontrassem muita resistência em meios católicos mais conservadores. O que é notável, porém, neste período é a pujança de um pensamento de inspiração católica, liderado por leigos engajados, debatendo os mais diversos temas de interesse para a intelectualidade brasileira. A queda do Estado Novo em 1945 e a deposição de Vargas pelos militares, que ha- viam combatido na Itália, integrando as Forças Aliadas contra o Eixo, permitiram que o Brasil introduzisse, após oito anos de governo totalitário, um regime democrático mais moderno, e não apenas a reedição da democracia vigente na Velha República. Este novo regime foi dotado também de uma nova constituição, devidamente atualizada. Os militares, que haviam apoiado Vargas, quando este decretara o Estado Novo em 1937, tinham mudado de posição, em virtude dos contatos que haviam mantido com as Forças Armadas americanas durante a campanha na Itália. Constataram nessa oportunidade que o Brasil podia se tornar também uma grande potência, a exemplo dos Estados Unidos, dentro de um regime democrático. Nesse período de transição surge no panorama da Igreja a figura de padre Helder Câmara, que atuava em duas frentes pastoralmente conectadas. O jovem sacerdote cearense, agora incardinado na arquidiocese do Rio de Janeiro, batalhava por uma renovação da catequese no Brasil, em termos de seu conteúdo, método e pedagogia, e utilizava como instrumento o periódico Revista Catequética, que ele mesmo dirigia e editava. 179© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 Concomitantemente, padre Helder atuava primeiramente como vice-assistente e pos- teriormente como assistente geral da Ação Católica Brasileira – ACB, da qual Alceu Amoroso Lima era o presidente. Sobre a ACB alguns aspectos merecem realce nes- se período. Em primeiro lugar abriam-se novas perspectivas para o reconhecimento como Ação Católica de outros movimentos de apostolado leigo. Em 1927 Pio XI re- conhecia a Juventude Operária Católica – JOC, criada pelo sacerdote belga Joseph Cardijn, como verdadeira Ação Católica. Pio XII tomou a mesma medida com relação às Congregações Marianas, no início de 1948. Em coerência com esta abertura, embora a Igreja no Brasil continuasse a adotar o modelo de Ação Católica Geral nos moldes de sua congênere italiana, movimento de Ação Católica Especializada foram surgindo pouco a pouco em território brasileiro. As experiências com a JOC tiveram início no Brasil, já desde o início da década de 1940. O padre José Távora, um sacerdote que dom Leme trouxera do Nordeste, em 1942, com a missão de dedicar-se à classe trabalhadora da indústria e dos serviços, atuou como assistente nacional da JOC e passou a promover a pastoral operária no Rio de Janeiro, ocupando-se principalmente dos trabalhadores não sindicalizados, pois os Círculos Operários do padre Leopoldo Brentano, já atendiam de alguma maneira os operários integrados no movimento sindical. Padre Távora foi um dos destacados promotores da JOC no Brasil. Na mesma época, tanto na Europa como no Canadá de língua francesa, a experiên- cia e a metodologia de Cardijn foram adaptadas a vários outros segmentos da juven- tude: estudantes secundaristas; estudantes universitários; jovens rurais; e jovens de classe média urbana, sobretudo do sexo feminino, que passaram a ser considerados como jovens independentes, por não se enquadrarem em nenhum dos demais seg- mentos. Suas siglas esgotavam todas as vogais do alfabeto: Juventude Agrária Ca- tólica – JAC; Juventude Estudantil Católica – JEC; Juventude Independente Católica – JIC; Juventude Operária Católica – JOC; Juventude Universitária Católica – JUC. Com respeito à JAC, JEC e JOC, haviaum movimento masculino e outro feminino. Os movimentos correspondentes, voltados para o mundo adulto, só surgiram um pouco depois: Ação Católica Operária – ACO, Ação Católica Independente – ACI e Ação Católica Rural – ACR. As primeiras experiências com a JEC datam também do início da década de 1940, introduzidas em São Paulo por sacerdotes canadenses. A JUC passou a herdar a tradição histórica da Associação Universitária Católica do início da década de 1930. Durante a III Semana Nacional de Ação Católica, realizada em Porto Alegre, em ou- tubro de 1948, antecedendo o V Congresso Eucarístico Nacional, que nesse mesmo mês e ano tinha lugar na capital gaúcha, padre Helder e padre Távora lideraram um amplo debate comparativo entre a Ação Católica Geral, nos moldes italianos, e a Ação Católica Especializada, adotada principalmente pelos países de língua francesa. Aliás, em 1946 realizou-se a I Semana Nacional de Ação Católica, que foi seguida de mais cinco outras Semanas desta natureza e amplitude, constituindo-se sempre em momentos muito marcantes na vida do apostolado leigo no Brasil e da Igreja de um modo geral. Essa primeira Semana lançou um Manifesto do Episcopado Brasileiro sobre a Ação Social, assinado pelos bispos integrantes da Comissão Episcopal da Ação Católica Brasileira, que neste caso particular deixavam claro estar agindo em nome do Episco- pado Nacional. Neste episódio, a Comissão Episcopal da ACB despontava como um embrião do que seria a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. [...] Em 1950 a Comissão Episcopal da ACB decidiu oficializar os movimentos da Ação Católica Especializada – ACE como um novo modelo de Ação Católica no Brasil, em © História da Igreja na América Latina e no Brasil180 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO substituição à Ação Católica Geral, criada no tempo de dom Sebastião Leme. Em conseqüência dessa decisão, os Departamentos vinculados anteriormente à Ação Católica, passaram por algum tempo ligados à Ação Católica Especializada, até que em 1952, foram absorvidos e reformulados pela CNBB, quando de sua criação. Eram ao todo oito Departamentos: Vocações Sacerdotais; Ensino de Religião; Educação e Cultura; Ação Social; Imprensa, Rádio e Informações; Cinema e Teatro; Defesa da Fé e da Moral; Liga Eleitoral Católica. Convém ainda salientar que a história de cada um desses movimentos especializados seguiu rotas diferentes, devido às peculiaridades de cada um dos meios em que eram chamados a atuar. A JAC, por exemplo, embora se espelhando na experiência fran- cesa, recebeu, nos seus primórdios, forte influência da linha extensionista da Confe- deração Católica da Vida Rural dos Estados Unidos. Para proporcionar uma troca sistemática de experiências e o aprofundamento de suas bases comuns, as direções nacionais desses movimentos costumavam encontrar-se periodicamente em reuniões de dois a três dias, denominadas de a-e-i-o-u. Dada a vastidão do território nacional e as marcantes diferenças de uma região para outra, todos eles se organizaram progressivamente não apenas em bases diocesanas, mas também em bases regionais, prenunciando mais uma vez os futuros regionais da CNBB. Foi no interior desses movimentos e no seu raio de atuação, que se plasmou pouco a pouco uma relação fraternalmente evangélica entre militantes, dirigentes, sacerdotes e bispos, pois os membros do ministério hierárquico atuavam antes de tudo como educadores da fé, e recebíamos militantes e dirigentes intuições de inestimável valor sobre a realidade dos meios em que estes estavam inseridos, bem como de suas experiências de evangelização nestes diferentes segmentos sociais (BARROS, 2003, p. 26-30). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 15. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, na sequência, as questões propostas para verificar seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Você compreendeu bem o que significa populismo? Enumere suas caracte- rísticas. 2) Como foi a relação do episcopado brasileiro com Getúlio Vargas durante os seus 15 anos de governo? 3) Quais eram os objetivos das manifestações católicas? 4) Por que o Concílio Plenário Brasileiro realizado em 1939 é um Concílio es- quecido? Dê sua opinião. 181© A Igreja no Brasil entre 1930 e 1960 16. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao término da quinta unidade, na qual estudamos a caminhada que a Igreja do Brasil fez entre os anos 1930 e 1960. É importante você fixar bem como a Igreja se articulou nesse perío- do, como lidou com povo, com as elites. Afinal, o modelo de Igreja ainda é o modelo elitista. Em termos de orientação prática, é interessante você re- ver sua lista cronológica dos bispos reformadores do século 19 e acrescentar os bispos restauradores até a primeira metade do sé- culo 20. Por quê? Porque, até a fundação da CNBB, o poder na Igreja centralizava-se nas lideranças, como, por exemplo, D. Ma- cedo Costa, cardeal Arcoverde e cardeal Leme. Com a criação da CNBB, isto mudou: o poder centraliza-se nela, como representação do colegiado episcopal. Na próxima unidade, você será convidado a refletir sobre a Igreja que resultou do Concílio Vaticano II e das Conferências de Medellín e Aparecida. 17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AZZI, R. O episcopado brasileiro frente a Revolução de 1930. Síntese – Nova Fase, n. 12, v. V, p. 47-78, jan./mar. 1978. ______. A neocristandade: um projeto restaurador. São Paulo: Paulinas, 1994, v. 5. AZZI, R.; GRIJP, K. História da Igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo. t. II/3-2, terceira época – 1930-1964. Petrópolis: Vozes, 2008. BARROS, R. C. Gênese e consolidação da CNBB no contexto de uma Igreja em plena renovação. In: INSTITUTO NACIONAL DE PASTORAL (Org.). Presença pública da Igreja no Brasil (1952-2002): Jubileu de ouro da CNBB. São Paulo: Paulinas, 2003. BEOZZO, J. O. Igreja e Estado no Brasil. In: FLEURI, R, M. Movimento popular, política e religião. 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